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Texto de pré-visualização

DOSSIÊ OMOLU OBALUAÊ SÃO LÁZARO SÃO ROQUE A FÉ A MEDICINA DO POBRE GILDECI DE OLIVEIRA LEITE Xapanã é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas Ele tem também o poder de curar As doenças contagiosas são na realidade Punições aplicadas àqueles que o ofenderam ou conduziramse mal Seu verdadeiro nome é perigoso demais pronunciar Por prudência é preferível chamálo Obaluaê O Rei Senhor da Terra ou Omolu o Filho do Senhor Pierre Verger Resumo para tratar da fé no orixá XapanãOmoluObaluaê patrono das doenças e da cura respeitosamente chamado o Velho é necessário conhecer algunas narrativas mitológicas próprias dessa divindade O conhecimento dessas narrativas é também necessário para entender os recortes de suas características em suas diversidades africanas e afrobrasileiras Tendo em vista essa dimensão qualitativa de diversidade procurouse descrever comparar e analisar narrativas mitológicas envolvendo essa deidade oriundas do continente africano ou da cultura afrobrasileira bem como analisamos depoimentos ambientados na Bahia para mostrar os entrecruzamentos dos caminhos de cura da divindade africanafrobrasileira com as figuras cristãs de São Lázaro e São Roque Apesar de algumas diferenças OmoluObaluaê e São LázaroSão Roque possuem pontos em comum destacados nas religiões afrobrasileiras entre os quais o deburù pipoca chamado de a flor do Velho Palavraschave XapanãOmoluObaluaê São LázaroSão Roque Deburùpipocala flor do Velho Fé Cura Recebido em 06102019 Aprovado em 05122019 Professor de Literatura da UNEB Universidade do Estado da Bahia Doutor em Difusão do Conhecimento UFBA Mestre em Literatura UFBA Especialista em Educação ABEC UNIBA e Licenciado em Letras Vernáculas UFBA Email gildecileitegmailcom Não se deve pronunciar o nome primordial de ObaluaêOmolu Xapanã é um nome perigoso e portanto chamálo de Obaluaê Senhor da Terra ou de Omolu Filho do Senhor são formas de cumprir alguns de seus tabus Negar para Omolu é também afirmar visto que com este orixá o entendimento pode ser pelo seu contrário Médico dos orixás e dos seres humanos é reconhecidamente o guardião da saúde dos pobres e daqueles que nele possuem fé Velho e novo médico e guerreiro por vezes OmoluObaluaê é confundido eou somado a São Lázaro e a São Roque respectivamente Os dois orixás são um só e podem ser dois ao mesmo tempo no imaginário popular baiano por isso também se associa Omolu a São Lázaro e Obaluaê a São Roque Há muitas informações sobre OmoluObaluaê oriundas do imaginário popular baiano brasileiro e de pesquisas mais aprofundadas sobre seus arquétipos no continente africano As narrativas mitológicas dão as notícias necessárias para as interpretações e conhecimento do mito Ressaltese que o sentido de mito aqui utilizado é o de narrativa primordial LEITE 2007 desprezandose as interpretações da mencionada palavra que remetem a cargas semânticas de mentira Outrossim através do estudo comparativo entre narrativas afrobrasileiras e africanas de e sobre OmoluObaluaê evidenciaramse características importantes do s citado s orixá s para entendêlo s em seu s potencial is de cura e de encantamentos Colocamse as possibilidades de singular e plural pois apesar de serem títulos do mesmo orixá Xapanã narrativas do imaginário popular nem sempre dão conta de informações mais específicas e detalhadas da tríade XapanãObaluaêOmolu e suas múltiplas qualidades transmutandose em outros do mesmo grupo Não houve a preocupação de estabelecer prioridades ordinais para colocar Omolu ou Obaluaê no texto ora escrevese primeiro Omolu ora primeiro Obaluaê Devese admitir que a palavra Omolu aparece em maior quantidade talvez por experiências nos candomblés da tradição nagôketu do autor deste texto Explicase quem é OmoluObaluaê velho e novo pobre e rico senhor cheio de ricos colares de pérolas pobre velho pais de filhos que pedem esmolas para realizar suas festividades suas obrigações OmoluObaluaê em suas multiplicidades mantémse senhor das doenças e das curas com suas árvores sagradas em diversos terreiros de candomblé e à frente da igreja de São Lázaro no bairro da Federação na Cidade do Salvador De lá da frente da igreja são anotados milagres em segundasfeiras seu dia da semana no 16 de agosto eou nos rituais para abertura do ano novo Sendo assim além de apresentar descrever analisar discutir os mitos foram utilizadas matérias do soteropolitano jornal A Tarde de diferentes períodos confirmando a fé em ObaluaêOmoluSão RoqueSão Lázaro Os depoimentos de fiéis atestam os poderes curativos de ObaluaêOmoluSão RoqueSão Lázaro Apesar de concordâncias e discordâncias exemplos de alteridade positiva e negativa afirmando entendimentos controversos do mito há ao menos um elemento unificador a pipoca O deburù flor do velho ou a pipoca do velho compõese como elemento unificador da existência da energia sagrada e curativa de ObaluaêOmoluSão RoqueSão Lázaro Para diversos fiéis alguns deles entrevistados por A Tarde a flor do velho cura Vários rituais do candomblé e de outras religiões afrobrasileiras utilizamse do deburù simbolizando a presença de ObaluaêOmolu As pipocas são elementos indispensáveis para limpezas feitas em terreiros de candomblé e na porta da igreja de São Lázaro além de serem utilizadas para caracterizaçőes de performances artísticas afrobrasileiras Apesar de citado em menor quantidade por depoentes de A Tarde comentaramse aspectos das convulsões típicas de Omolu por vezes confundidas com doenças Tudo aqui foi escrito em uma linguagem acessível pensando o mundo de forma qualitativa na descrição análise e comparação próprias da crítica da cultura ATOTÔJÊHOLÚ AINON RESPEITO E SUBMISSÃO AO SENHOR DAS PÉROLAS SENHOR DA TERRA Em narrativa africana a respeito de Obaluaê ou Omolu afirmase a existência deste orixá desde tempos anteriores à idade do ferro Falase em Obaluaê ou Omolu pois genericamente na Bahia e no Brasil podese chamar a mesma entidade com os dois nomes Conforme epígrafe retirada de Pierre Verger 1985 p 61 as duas designações são títulos de Xapanã Obaluaê o Rei Senhor da Terra ou ainda Omolu o Filho do Senhor rejeita a utilização de utensílios de metal em alguns de seus rituais no continente mãe pois admitir a utilização do metal seria submeterse ao território de poder do orixá Ogum que entre outros domínios é o Senhor do ferro patrono da tecnologia A antiguidade dos cultos de Obaluaê e Nanã Buruku frequentemente confundidos em certas partes da África é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhes são feitos Esse ritual é realizado sem o emprego de instrumentos de ferro indicando que essas duas divindades faziam parte de uma civilização anterior à Idade do Ferro e à chegada de Ogum que veio com Odidùduà VERGER 1997 p 212 Em candomblés da tradição nagôketu da Bahia o agadá ou faca é o instrumento com o qual Ogum civiliza o universo LUZ 2000 Como dono do agadá a Ogum devese fazer reverências em todos os rituais de sacrifício de animais Não se verificou de forma aprofundada se na Bahia há o sacrifício de animais a OmoluObaluaê sem a utilização de instrumentos de metais Entre os sacerdotes da Bahia consultados todos da tradição nagôketu confirmouse que a faca é utilizada nos rituais de sacrifícios a Omolu o que não significa a inexistência de ritual similar ao noticiado por Pierre Verger 1997 Entretanto admitese a antiguidade de Obaluaê e Omolu de suas representações como entidades anciãs o mesmo ocorrendo com Naná Omolu e Naná são orixás velhos Ela é reconhecida como a vovó dos orixás uma das esposas de Oxalá Para ele existe uma música em língua portuguesa com a seguinte letra Se encontrar um velho aí Tome a bênção a ele Como é o nome dele É Obaluaê Por conseguinte comprovada ou não a anterioridade da existência de Omolu à chegada de Odudua no mundo ioruba a ancianidade de Obaluaê ou Omolu fica garantida Afinal antiguidade da existência do mito pode coincidir ou não com a ancianidade das personagens da narrativa Um mito pode ter surgido há milhares de anos e seu protagonista ser uma criança Como os personagens dos mitos não envelhecem o mito preserva sua antiguidade e estabiliza as idades dos personagens envolvidos Omolu é associado à ancianidade acolhedora ao pai que cuida dos doentes dos desprotegidos e em Cuba é chamado de Babaluaê pai senhor da terra visto que Babá em iorubá significa pai TAVARES 2000 A ancianidade de Omolu deve ser entendida também como repositório de sabedoria associada ao seu poder sobre a vida e a morte pois Se encontrar um velho aí Tome a bênção a ele Alguns dizem na Bahia que Omolu seria o velho e Obaluaê o jovem não obstante admitese em candomblés mais ortodoxos que há manifestações mais jovens de Omolu ou Obaluaê A aparente confusão pode ser desfeita entendendose que ao informar que determinado iaô ou filho de santo é iniciado para o velho ou filho do velho sabese que o velho a que se refere é ObaluáeOmolu Quando assim se procede a informação ela é propositadamente transmitida de forma genérica sem o preocuparse com os detalhes pertinentes aos iniciados crentes pesquisadores e curiosos mais interessados na cosmogonia nagô baiana Para um leigo é preciso explicar que assim como há Santos Católicos com complementos em seus nomes tornandoos múltiplos há também diversas qualidades de um mesmo orixá Explicase as diferenças e semelhanças da comparação Ainda tomando como exemplo a Bahia podese falar em Santo Amaro de Ipitanga Santo Amaro da Purificação e Santo Amaro do Catu O primeiro tem sua Igreja na cidade de Lauro de Freitas antiga freguesia de Santo Amaro de Ipitanga portanto Santo Amaro da localidade de Ipitanga Fácil entender que os outros dois assim como o primeiro tratamse do mesmo santo contudo em localidades diferentes A cidade de Santo Amaro da Purificação tornouse mais conhecida por conta dos notáveis da família Veloso Caetano Veloso Mabel Veloso Maria Bethânia e a matriarca Dona Canô Não menos importante entretanto não tão conhecida é a localidade de Catu um dos distritos da Cidade de Vera Cruz na Ilha de Itaparica tanto lá quanto na localidade vizinha Jiribatuba Santo Amaro do Catu é o padroeiro até os anos 1980 Jiribatuba era nomeada Santo Amaro do Catu com sua igreja avistada do mar Assim da mesma forma pode haver orixás com toponímias associadas ao nome como por exemplo Ogum Onirê Ogum Senhor da cidade de Irê a diferença é que para as interpretações afrobrazileiras cada qualidade de um orixá é um outro orixá do mesmo grupo linhagem de orixás e não o mesmo homenageado de formas diferentes como acontece com os santos católicos Desta forma Ildásio Tavares 2000 p 106 diz que há 13 qualidades de Omolu incluindo o Omolu jovem que é o Jagun considerado o jovem guerreiro de Oxalá que faz a ligação do aiê o mundo com o orum espaçao dos orixás Destarte não é difícil entender que apesar de ser carinhosamente chamado de o velho Omolu aparece também como um jovem guerreiro acepção pouco comentada afinal conforme afirmou Edison Carneiro 1991b Obaluáe é o médico dos pobres e também médico dos orixás TAVARES 2000 Edison Carneiro 1991b cientifica que na primeira metade do século XX o povo negro da Cidade do São Salvador não confiava nos tratamentos dados a eles nos hospitais Em casa teriam condições mais dignas humanas distantes das indigentes degradações às quais eram submetidos nos hospitais No leito do lar teriam melhor tratamento e o amparo do velho Omolu inversamente às casas de saúde antes territórios majoritariamente do racismo Imprescindível lembrar que chamar um orixá ou um caboclo de meu velho é uma das maneiras respeitosas de se dirigir à entidade reconhecendo a superioridade do sagrado Mesmo em sua qualidade de guerreiro Omolu se apresenta com o poder sobre as doenças e sobre as curas A varíola com suas marcas indeléveis no corpo não é a única enfermidade que Obaluáe controla ele é o senhor das moléstias e das curas em geral Conta o mito que ao saber da ida de Omolu em direção à terra dos mahis no Daomé para aplacar a ira de Omulu e seu exército o povo preparou oferendas ao guerreiro e com a chegada de Omolu prostrouse diante daquele que poderia espalhar a doença como método beligerante Em reconhecimento às homenagens Omolu poupou o povo e tornouse rei do lugar transformandoo em território próspero e feliz VERGER 1997 Em diversas narrativas mitológicas a ira de Omolu devese à desobediência dos humanos e também à forma pouco respeitosa como foi tratado ora por seres humanos ora por orixás O fato de ter sido preterido diversas vezes também o aproxima dos mais pobres sustentando o título de médico dos pobres além de médico dos orixás Narrase que Olodumaré o ser supremo resolveu dividir seus poderes entre seus filhos A reunião entre os herdeiros aconteceu em um dia que XapanãObaluáeOmolu não estava presente então sobrara para ele o que ninguém queria as FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 675 pestes e as doenças Contudo a exclusão acabou conferindo a Omolu poderes importantíssimos PRANDI 2001 Certo dia uma doença muito contagiosa espalhouse pelo mundo era a varíola Nenhum orixá pôde ajudar o povo Já não havia espaço nos cemitérios para tantos mortos PRANDI 2001 p 210 Após aceitarem a recomendação de Orunmilá para fazerem sacrifícios a Xapanã a epidemia foi extinta Por conta de narrativas como essa e outras que contam façanhas do guerreiro Omolu o pensamento cristão etnocêntrico tende a diabolizar esse orixá esquecendose de que para o mundo cristão Deus Jesus Cristo e os santos católicos têm o poder sobre a vida e a morte A fixidez do estereótipo não permite que o discurso preconceituoso enxergue o quanto as decisões dos mitos sejam eles afrobrasileiros cristãos ou de outros territórios religiosos devem ser respeitadas afinal se a ira de Omolu ou de outro orixá pode ser considerada malévola também são malévolas as iras do mundo judaicocristão e de outros territórios de fé A ambivalência entre o medo e a admiração permeia a fé cristã e a fé afrobrasileira Omolu associado a São Lázaro ou Obaluáê a São Roque TAVARES 2000 são admirados e temidos são confundidos com orixás pobres por preferirem roupas mais simples menos atrativas terem o corpo coberto da simplicidade da palha da costa Edison Carneiro 1991b comenta o depoimento de um sacerdote a respeito da rejeição de Omolu a roupas luxuosas De acordo com Carneiro 1991b p 170 O paidesanto Paim do Alto do Abacaxi em quem Omolu desce para abençoar os seus filhos nos confessou a mim e ao prof Donald Pierson da Universidade de Chicago ter perdido um tempo enorme confeccionando uma toalha de seda branca bordada a lantejoulas tudo inutilmente porque o santo não a queria de maneira alguma É preciso deixar marcado que há diferenças entre o que seria valorativo para a cultura afrobrasileira e para o cristianismo popular baiano Para Omolu vestirse com suas palhas da cabeça aos pés além de adequarse à sua realidade física deve ser entendido como riqueza uma outra riqueza Talvez exemplo mais óbvio seja com relação às matériasprimas preferidas dos orixás Oxum e Xangô Ela senhora da beleza das águas doces e do ouro Ele senhor da justiça rei da cidade de Oió que tem Oxum como uma de suas três esposas exige que seus utensílios sagrados sejam de pedra ou de madeira materiais nobres para Xangô Apesar de Oxum não exigir que seus paramentos sagrados sejam de ouro sua preferência e representação simbólica na natureza inanimada estão no ouro metal que possui sua cor representativa o amarelo Então nem sempre os valores atribuídos a diversas matériasprimas na interpretação capitalista coincidem com os valores sagrados do Axé Outrossim há valores incalculáveis nas roupas de palha da costa importadas do continente africano que cobrem Omolu da cabeça aos pés deixando seu corpo ou o corpo do iniciado oculto diante dos olhos humanos Não obstante pérolas são escondidas por debaixo das roupaspalhas do rei OMULU GANHA AS PÉROLAS DE IEMANJÁ Omulu foi salvo por Iemanjá Quando sua mãe Naná Burucu ao vêlo doente Coberto de chagas purulento Abandonouo numa gruta perto da praia Iemanjá recolheu Omulu e o lavou com a água do mar O sal da água secou suas feridas 676 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 Omulu tornouse um homem vigoroso Mas ainda carregava as cicatrizes as marcas feias da varíola Iemanjá confeccionou para ele uma roupa toda de ráfia E com ela ele escondia as marcas de suas doenças Andava pelas aldeias e por onde passava Deixava um rastro ora de cura ora de saúde ora de doença Mas continuava sendo um homem pobre Iemanjá não se conformava com a pobreza do filho adotivo Ela pensou Se eu dei a ele a cura a saúde não posso deixar que seja sempre um homem pobre Ficou imaginando quais riquezas poderia dar a ele Iemanjá resolveu então ver suas jóias Mas Iemanjá tinha uma grande riqueza E essa riqueza eram as pérolas Que as ostras fabricavam para ela Iemanjá muito contente com a sua lembrança Chamou Omulu e lhe disse De hoje em diante és tu quem cuidas das pérolas do mar Serás assim chamado de Jeholu o Senhor das Pérolas Por isso as pérolas pertencem a Omulu Por baixo de sua roupa de ráfia Enfeitanto seu corpo marcado de chagas Omulu ostenta colares e mais colares de pérola Belíssimos colares PRANDI 2001 p 215216 O mito em análise confirma que a história de Omolu é marcada por rejeições outros exemplos justificam ainda que as feridas e cicatrizes são os motivos pelos quais suas roupas são extensas inclusive tema de outras narrativas Não é demasiado afirmar o aspecto médico do mito Contudo por debaixo da simplicidade das roupas de ráfia Omolu ostenta colares e mais colares de pérolas belíssimos colares É visível que Omolu não pode ser julgado pelas aparências apesar de trazer também o aspecto capitalista das pérolas A aparência de pobreza esconde a opulência As cicatrizes sinais daquele que foi ou é enfermo podem ser inverossímeis para quem possui os poderes de cura Como para Omolu tudo é ao contrário primeiro fazse a oferenda para depois ter a cura a dádiva Primeiro o banho de pipoca que abre os caminhos para a cura O sim com Omolu pode ser não o não pode ser sim No oráculo jogo de quatro búzios a resposta negativa dita por Omolu pode ser o positivo e o inverso ocorre Pedese a esmola para construir a festa do Senhor das Pérolas Mesmo com significativa diminuição em Salvador o mês de agosto é povoado por filhas e filhos de santo a pé nas ruas com balaios cheios de pipoca pedindo esmolas para a construção das obrigações de Omolu e ofertando a pipoca a quem contribui Há casos nos quais os filhos e filhas de santo são incorporados pelos Ibejis orixás crianças para cumprirem as obrigações das esmolas para o velho FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 677 DEBURÙ PIPOCA A FLOR DO VELHO Reginaldo Prandi 2001 Ildásio Tavares 2000 Edison Carneiro 1991b e tantos outros autores afirmaram que o deburù a pipoca ou a flor do velho está entre as comidas de Omolu Para além das preferências do orixá é com certeza a mais representativa aparecendo seja de forma ritualística ou meramente estética em diversos momentos do cotidiano da Cidade do Salvador As pipocas aparecem desde as comemorações religiosas em momentos de fé e em diversas festividades para garantir a paz os bons fluidos ou simplesmente embelezando cenas e cenários artísticos afim deconferirlhes graus mais verossímeis de afrobrasilidade Portanto as pipocas podem compor cenas sagradas durante as limpezas espirituais por exemplo como podem se restringir a confirmar estéticas que reproduzem a mitologia afrobrasileira Antes da existência das pipoqueiras elétricas a flor do velho era aberta digo preparada torrada em uma panela com areia branca Obrigatoriamente sem gorduras de quaisquer espécies a flor do velho abria com a temperatura correta em meio à límpida areia branca a correta fertilidade para o germinar O cuidado seguinte consistia em deixar a pipoca adequadamente livre da areia para o consumo do orixá e também das pessoas A expertise da cozinheiraera comprovada com o uso adequado de uma grande peneira feita de palha na qual as pipocas eram despejadas Por mãos ágeis o deburù era jogado para cima levando consigo parte da areia que se perdia e outra parte era dispensada por entre os poros da peneira Através da correta repetição deste ritual a flor do velho era aparada ficava limpa e ainda hoje deve ser servida sem sal A pipoqueira elétrica facilita o trabalho e não retira o Axé a energia sagrada embora haja quem prefira preservar o jeito tradicional de torrar a flor do velho Para servir ao orixá devese acrescentar tiras de coco seco O pular das pipocas na panela e depois nas peneiras traz uma imagem bem propícia de Obaluaê Ainda pode ser vista mesmo com a opressão etnocêntrica de alguns vieses do cristianismo conforme explicitado em ruas da Cidade da Baía de Todos os Santos por ocasião de algum festejo afrobrasileiro flores do velho sendo coreograficamente lançadas nas ruas numa evidente simbologia de desejos para abrir os caminhos retirar as energias negativas tornando a caminhada positiva Cenas parecidas de uma coreografia sem planejamentos acontecem em outros rituais de limpeza espiritual destinados a curar doenças ou a fazer com que os médicos consigam ver melhor a enfermidade e ofereçam o tratamento adequado Em uma anamnese coletada em uma matéria feita pelo soteropolitano jornal A Tarde publicada em 17 de agosto de 2008 o bancário André Fernandes na época com 36 anos de idade informou que há 29 anos seguia o ritual do banho de pipoca Ele conta que virou devoto de São Lázaro depois que ficou curado das crises de convulsões que nenhum médico soube diagnosticar BRITO 2008 p13 Fui em vários médicos e nenhum deles resolveu o meu problema Um médico espírita indicou a minha mãe que me trouxesse aqui para tomar um banho de pipoca e eu fiquei curado FERNANDES 2008 p 13 complementa o depoente Apesar do ritual realizado pertencer a Omolu e a religiões afrobrasileiras a indicação para a cura foi de um médico espírita confirmando a tese candomblecista de que às vezes é preciso fazer um ebó para os médicos verem a doença e a cura Não é sabido se o médico era kardecista de outra linha do espiritismo ou se realmente era espírita muitas vezespara evitar constrangimentos racistas não se admite a vinculação afrobrasileira As convulsões que afetavam o depoente possuíam outra carga semântica quando comparadas a uma das formas de incorporação de ObaluaêOmolu Ao manifestarse em um de seus filhos ObaluaêOmolu em determinados momentos gesticula com os braços ora dobrados ora não e com as mãos tortuosas 678 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 e trêmulas lembrando convulsões típicas de epilépticos Diversas narrativas do povo de axé dão conta de pessoas não iniciadas por vezes de famílias pertencentes a outras tradições religiosas que por desconhecimento entenderam as manifestações ou incorporações espirituais de Omolu como ataques epilécticos Há situações nas quais as pessoas são equivocadamente tratadas com remédios da farmacologia tradicional para conter as convulsões sem sucesso até que sejam indicadas para a realização de procedimentos no candomblé ou em outra religião afrobrasileira necessitando em alguns casos da iniciação completa tornandose um membro da religião afrobrasileira A fixidez do estereótipo determina que sendo de origem negra passa a ser malévolo todo e qualquer significado Destarte preferir a orientação espiritual de um médico ou substituir o nome de Omolu e Obaluaê por São Lázaro ou São Roque não consegue eliminar o conteúdo afrobrasileiro os rituais de limpeza com o deburù Para marcar bem sua posição desprossuído de alteridade positiva quando o direito à diferença seria respeitado sem segregações CHAUÍ 1993 um entrevistado também em A Tarde 17 de agosto de 1979 declarou que não iria chamar São Roque pelo apelido de Obaluaê O entrevistado disse que frequentava a igreja e o candomblé mas que a preferência por chamar de São Roque deviase ao fato de o Santo ter sido um servo de Deus Resta saber se a cura com elementos próprios do candomblé a exemplo do deburù seria dádiva do que ele acredita ser o substantivo próprio e legítimo com letra maiúscula ou do que ele diz ser um apelido A hierarquização da fé coloca a representação cristã como superior prioritária Essa preferência pelo discurso e pela nominação referente à cultura nãonegra é fruto da naturalização do racismo David Brookshaw 1983 discute o quanto é mais confortável para negros considerados esteticamente mulatos assumirem seus arquétipos mais aproximados ao branco como uma maneira de amenizar o sofrimento proporcionado pelo racismo e facilitar possibilidades de ascensão social Exemplo parecido traz Júlio Braga 1995 ao discutir em Gamela do Feitiço o imbróglioentre Jorge Amado e o sacerdote Severiano Resumidamente a confusão se deu por Severiano Manoel de Abreu ter se sentido ofendido por terem associado seu caboclo Jubiabá ao personagem Jubiabá do romance homônimo Severiano era o líder espiritual de uma casa religiosa que tinha características negras ameríndias e cristãs Certamente uma forma diferente de crença mas a expressão viva do redimensionamento da religião africana na Bahia Com eles e através deles elementos do espiritismo popular da linha Alan Kardeck e outras oriundos das culturas indígenas contactadas se intercruzam com os de origem africana para produzirem a expressão mais abrasileirada dos candomblés o denominado candomblé de caboclo BRAGA 1995 p 90 A partir da análise do conceituado antropólogo Júlio Braga podese entender que os discursos dos depoentes de A Tarde ora carregados do exercício da alteridade positiva quando o direito à diferença é exercido sem segregar o outro ora por alteridade negativa denunciam formas abrasileiradas de cultuar Omolu em um misto de aceitação e rejeição Fruto da opressão racista o negarse negro total ou parcialmente inclui a assunção de outras formas religiosas diferentes do candomblé e de demais religiões afrobrasileiras com melhores aceitações sociais Abremse parênteses para a umbanda com seu viés assumidamente branco kardecista e judaicocristão sem se aprofundar na questão Entretanto aliados são conseguidos seja o médico que indicou ao bancário o banho de pipoca ou o que compunha as sessões mediúnicas na casa de Severiano Manoel de Abreu FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 679 Se a pipoca é um dos alimentos ofertados ao médico dos pobres e dos orixás portanto alimentando sua energia sagrada ela é também uma espécie de esponja espiritual tal seu dono Omolu Tavares 2000 chama atenção para os poderes curativos de Omolu atraindo para si as energias negativas e livrando o enfermo dos males independente de pertencimento social e identitário A forma como Omolu cura lembra o devir ativo nietzscheano transmutando energias negativas em energias positivas NIETZSCHE 1999 Os rituais de limpeza espiritual também são chamados de rituais de descarrego e podem ser realizados com diversos elementos representativos dos orixás inclusive com a pipoca Dentre os procedimentos ritualísticos para curas espirituais conhecidos e praticados livremente sem orientações sacerdotais por não iniciados eou apenas curiosos o banho de pipoca ocupa lugar de destaque como se vê na indicação do médico espírita Nem todos sabem da exigência de torrar o milho para transformar em pipoca sem a gordura e hoje aos que sabem da exigência oferecese a facilidade da pipoqueira elétrica a tradição se transforma e mantém sua energia sagrada Até mesmo nas manifestações do sincretismo religioso a devoção do catolicismo popular baiano a São Lázaro e a São Roque inclui a pipoca como forma de homenagem e purificação Diante da Igreja de São Lázaro na capital baiana as pipocas de Omolu são também pipocas de São Lázaro e de São Roque ritualisticamente passadas nos corpos dos fiéis por iniciadas no candomblé e outras religiões afrobrasileiras às segundasfeiras O dia da semana dedicado a Omolu é o mesmo dedicado a Exu aos ancestrais e no Ilê Axé Opô Afonjá a Ogum que recebe as homenagens da semana às terçasfeiras em outros terreiros de candomblé Mesmo os rituais de purificação sendo feitos na porta da igreja pela inexistência de permissão para realizar dentro da igreja é representativo que aconteça na rua afinal Omolu assim como Exu e Ogum é orixá que reina nos caminhos nas ruas Omolu ainda menino viveu por muito tempo a dormir nas ruas e nas matas PRANDI 2001 até ficar habilitado para realizar curas Os processos de descarrego com a flor no velho incluem a conexão com uma árvore sagrada na porta da igreja Os iniciados no candomblé utilizam a árvore como uma espécie de repositório energético na qual são depositadas pipocas já utilizadas para as limpezas Em 03 de janeiro de 1984 A Tarde informou que Muitas pessoas fizeram uma trilha jogando pipoca desde a entrada de São Lázaro onde tem uma árvore sagrada até a igreja onde de joelhos agradeciam a graça alcançada Outras levavam flores colocavam no altar e rezavam contritas como Mariana Assunção que mesmo não querendo dizer quanto gastou deixou clara a devoção que tem por São Lázaro que lhe concedeu uma graça especial A relação de Omolu com as árvores é muito conhecida pois demonstra a ligação com a terra Todas as pessoas iniciadas em ObaluaêOmolu possuem em seu nome iniciático a palavra Iji que significa árvore as vezes pronunciado apenas ji A inclusão da árvore no ritual de cura na porta da igreja de São Lázaro referenda mais a existência da fé e da cura através de Omolu Apesar das formas disfarçadas do racismo religioso a fé em OmoluObaluaê e nos santos católicos parecem conviver com alguma tolerância Entretanto em 17 de agosto de 1979 o padre da igreja de São Lázaro falou ao Jornal A Tarde sua contrariedade em relação ao sincretismo religioso e declarou proibição das pipocas dentro do templo católico Posição contrária ou de melhor aproximação foi tomada por outro pároco da mesma igreja em 2008 inserindo atabaques na missão e congregando músicas católicas com a percussão sagrada 680 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 afrobrasileira Na entrevista dada ao citado veículo de comunicação em 17 de agosto de 2008 o pároco Rosivaldo Mota 2008 afirma Fizemos uma pesquisa e constatamos que 99 dos devotos eram a favor da mudança Estamos na Bahia e é importante aderir às duas culturas É uma união mais que justa já que foram os escravos adeptos do candomblé que construíram essa igreja Mesmo tendo o 16 de agosto como dia maior de homenagens a São LázaroOmoluObaluaê costumase na Bahia lotar a igreja do mencionado santo na última e na primeira segundafeira do ano Na oportunidade as flores do velho são utilizadas para garantir aos que se submetem aos rituais de purificação um ano com energias positivas Percebese então mais uma vez a oferenda feita antes da dádiva CONCLUSÃO As narrativas a respeito de XapanãOmoluObaluaê comprovam os poderes sobre as doenças e para as curas que possui o orixá Algumas histórias podem diferir entre o que se narra no continente africano e na afrobrasilidade Também há características conflitantes na própria afrobrasilidade sem deixar de existir o conteúdo relacionado ao poder de cura São Lázaro e São Roque possuem seus territórios associados a OmoluObaluaê Através do catolicismo popular eles aparecem rituais típicos de OmoluObaluaê As misturas e as diversidades de representações e interpretações dos personagens mitológicos XapanãOmoluObaluaê e São Lázaro São Roque guardam aspectos divergentes e semelhantes Entre as semelhanças narradas pertinentes aos rituais de cura e purificação a existência do deburù ou flor do velho ou pipoca do velho garante um fio condutor que unifica a fé em XapanãOmoluObaluaê e São LázaroSão Roque para a purificação espiritual e cura das doenças XapanãOmoluObaluaê é múltiplo diverso uno protagoniza a linha tênue entre a vida e a morte por ele controladas Desta forma acreditase ter contribuído para elucidar aspectos da cultura afrobrasileira que relacionam fé e cura de forma inclusiva respeitando e admitindo interseções entre a fé negrobaiana e o catolicismo popular baiano OMOLUOBALUAÊ SAINT LAZARUSSAINT ROQUE THE FAITH AND THE MEDICINE OF POOR PEOPLE Abstract to treat about the faith in the orixá Xapanã OmoluObaluaê the patron of diseases and healing respectfully called the Old Man its necessary to consider the knowledge of some mythological narratives proper to this deity This knowledge is also necessary to understand the cuts of his characteristics in his African and AfroBrazilian diversity Since this qualitative dimension of diversity we describe compare and analyze mythological narratives from the African continent or from AfroBrazilian culture involving that deity as well as we analyze testimonies set in Bahia to understand the intersection of the paths of healing of the AfricanAfroBrazilian divinity to the Christian figures of Saint Lazarus and Saint Roque Despite some differences OmoluObaluaê and Saint Lazarus Saint Roque have points in common highlighted in AfroBrazilian religions including the deburù popcorn called the Old Flower Keywords XapanãOmoluObaluaê Saint LazarusSaint Roque Deburù popcorn the Old Mans flower Faith Healing FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 681 Notas 1 Será adota a grafia Obaluaê conforme dicionário de língua portuguesa Michaelis 2019 2 Será adotada a grafia Omolu conforme dicionário de língua portuguesa Michaelis 2019 3 Um dos orixás primordiais criador do mundo Há narrativas que explicam ser Odudua a parte feminina de Oxalá portanto seria Oxalá a junção de Odudua e Obatalá o senhor do pano branco 4 Dizse nagô baiana assumindose as peculiaridades das tradições afrobaianas com suas transformações e seus diversos genitores 5 Entidade que em vida fora um índio com alguma formação católica e que incorpora em iniciados dos candomblés e de outra religiões afrobrasileiras como a umbanda Há também caboclas 6 O Deus supremo na mitologia Iorubá 7 Orixá senhor da adivinhação e do conhecimento patronato dividido com Exu Orunmilá também é dono do oráculo chamado Ifá 8 Ráfia do dendezeiro usada na confecção de adornos rituais de Nanã e de Omolu CASTRO 313 2001 9 Despacho oferenda 10 Preferese utilizar a expressão povo de axé ou povo do axé ao invés de povo de santo Apesar da palavra axé ser apenas de origem ioruba denota um pertencimento negro partilhado visto que dentre outros aspectos há a utilização de termos de várias origens africanas em diferenciadas nações de candomblé Como exemplo citase o termo candomblé que é de origem banto para designar a religião afrobaiana dos orixás inquices e voduns portanto alicerçada em diversas heranças africanas 11 Terreiro de candomblé fundado em 1910 da tradição nagôketu localizado no bairro São Gonçalo na Cidade do Salvador cujo patrono é Xangô Afonjá 12 Instrumentos percussivos sagrados Referências AMADO Jorge Jubiabá São Paulo Companhia das Letras 2008 BHABHA Homi K O local da cultura Belo horizonte Editora da UFMG 2005 BRAGA Julio Na gamela do feitiço repressão e resistência nos candomblés da Bahia Salvador EDUF BA 1995 BRITO Cilene Roque e Obaluaê A Tarde Salvador 17 ago 2008 p 13 BROOKSHAW David Raça cor na Literatura Brasiliëra Tradução de Marta Kirst Porto Alegre Mercado Aberto 1983 CARNEIRO Edison Candomblés da Bahia Ediouro Rio de Janeiro 1948 CARNEIRO Edison Religiões Negras Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1991a CARNEIRO Edison Negros Bantos Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1991b CASTRO Yeda Pessoa de Falares Africanos na Bahia um vocabulário afrobrasileiro 2 ed Topbooks 2005 CHAUÍ Marilena Cultura e racismo aula inaugural na FFLCH USP em 10031993 Revista Princípios São Paulo n 29 p1016 junjul 1993 FERNANDES André Roque e Obaluaê Entrevista concedida a Cilene Brito Roque e Obaluaê A Tarde Salvador 17 ago 2008 p 13 LEITE Gildeci de Oliveira Literatura e Mitologia afrobaiana encantos e percalços In GODI NHO Luís Flávio R SANTOS Josué S Santos org Recôncavo da Bahia educação cultura e sociedade Amargosa Bahia CIAN 2007 p 95100 LUZ Marco Aurélio Agadá dinâmica da civilização africanobrasileira 2 ed Salvador EDUFBA 2000 682 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 MICHAELIS Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Disponível em httpmichaelisuol combrmodernoportuguesindexphp Acesso em 03 out 2019 MOTA Rosivaldo Roque e Obaluaê Entrevista concedida a Cilene Brito Roque e Obaluaê A Tarde Salvador 17 ago 2008 p13 NIETZSCHE Friedrich Genealogia da moral uma polêmica Tradução de Paulo César de Souza São Paulo Companhia das Letras 1999 PRANDI Reginaldo Deuses africanos no Brasil In PRANDI Reginaldo Herdeiras do axé São Paulo Hucitec 1997 p 150 PRANDI Reginaldo Mitologia dos Orixás São Paulo Companhia das Letras 2001 SEM AUTOR Obaluaê ou São Roque homenageado com missa e sem pipoca na igreja A Tarde Salvador 17 ago 1979 p02 SEM AUTOR São Lázaro já mostrou a força do sincretismo A Tarde Salvador 03 jan 1984 p 2 TAVARES Ildásio Candomblés na Bahia Salvador Palmares 2000 VERGER Pierre Fatumbi Lendas Africanas dos Orixás Salvador Corrupio 1985 VERGER Pierre Orixás Deuses Iorubas na África e no Novo Mundo 5 ed Salvador Corrupio 1997 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 683 WLANSSID GUEST Internet BYDJ Accesspoint Windfeldstrasse 28 WLANSicherheit WPA2PSK WPAVerschlüsselung AES Netzwerkschlüssel 4778024501 IPAdresse 192168280 Subnetzmaske 2552552550 Standardgateway 1921682200 DNSServer 1921682200 1921682211 Jetzt Start simulieren Jetzt Start simulieren 190 Confirmed Use Keyboard ID Unknown Type 0 Crossfire Receiver Range Single W O L F B OX Firmware Version 242 Copyright 2021 All rights reserved 100 Voltage RSSI GPS SAT HD WOK FW XXXXX 11000 71 20 3 OK OK fuel GPS Heli Camera Internal Battery Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok 94C 36C 00A 121V 040 V 15000 W 000040 Armed OK Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok 94C 36C 00A 121V 040 V 15000 W 000040 Armedવ

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Texto de pré-visualização

DOSSIÊ OMOLU OBALUAÊ SÃO LÁZARO SÃO ROQUE A FÉ A MEDICINA DO POBRE GILDECI DE OLIVEIRA LEITE Xapanã é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas Ele tem também o poder de curar As doenças contagiosas são na realidade Punições aplicadas àqueles que o ofenderam ou conduziramse mal Seu verdadeiro nome é perigoso demais pronunciar Por prudência é preferível chamálo Obaluaê O Rei Senhor da Terra ou Omolu o Filho do Senhor Pierre Verger Resumo para tratar da fé no orixá XapanãOmoluObaluaê patrono das doenças e da cura respeitosamente chamado o Velho é necessário conhecer algunas narrativas mitológicas próprias dessa divindade O conhecimento dessas narrativas é também necessário para entender os recortes de suas características em suas diversidades africanas e afrobrasileiras Tendo em vista essa dimensão qualitativa de diversidade procurouse descrever comparar e analisar narrativas mitológicas envolvendo essa deidade oriundas do continente africano ou da cultura afrobrasileira bem como analisamos depoimentos ambientados na Bahia para mostrar os entrecruzamentos dos caminhos de cura da divindade africanafrobrasileira com as figuras cristãs de São Lázaro e São Roque Apesar de algumas diferenças OmoluObaluaê e São LázaroSão Roque possuem pontos em comum destacados nas religiões afrobrasileiras entre os quais o deburù pipoca chamado de a flor do Velho Palavraschave XapanãOmoluObaluaê São LázaroSão Roque Deburùpipocala flor do Velho Fé Cura Recebido em 06102019 Aprovado em 05122019 Professor de Literatura da UNEB Universidade do Estado da Bahia Doutor em Difusão do Conhecimento UFBA Mestre em Literatura UFBA Especialista em Educação ABEC UNIBA e Licenciado em Letras Vernáculas UFBA Email gildecileitegmailcom Não se deve pronunciar o nome primordial de ObaluaêOmolu Xapanã é um nome perigoso e portanto chamálo de Obaluaê Senhor da Terra ou de Omolu Filho do Senhor são formas de cumprir alguns de seus tabus Negar para Omolu é também afirmar visto que com este orixá o entendimento pode ser pelo seu contrário Médico dos orixás e dos seres humanos é reconhecidamente o guardião da saúde dos pobres e daqueles que nele possuem fé Velho e novo médico e guerreiro por vezes OmoluObaluaê é confundido eou somado a São Lázaro e a São Roque respectivamente Os dois orixás são um só e podem ser dois ao mesmo tempo no imaginário popular baiano por isso também se associa Omolu a São Lázaro e Obaluaê a São Roque Há muitas informações sobre OmoluObaluaê oriundas do imaginário popular baiano brasileiro e de pesquisas mais aprofundadas sobre seus arquétipos no continente africano As narrativas mitológicas dão as notícias necessárias para as interpretações e conhecimento do mito Ressaltese que o sentido de mito aqui utilizado é o de narrativa primordial LEITE 2007 desprezandose as interpretações da mencionada palavra que remetem a cargas semânticas de mentira Outrossim através do estudo comparativo entre narrativas afrobrasileiras e africanas de e sobre OmoluObaluaê evidenciaramse características importantes do s citado s orixá s para entendêlo s em seu s potencial is de cura e de encantamentos Colocamse as possibilidades de singular e plural pois apesar de serem títulos do mesmo orixá Xapanã narrativas do imaginário popular nem sempre dão conta de informações mais específicas e detalhadas da tríade XapanãObaluaêOmolu e suas múltiplas qualidades transmutandose em outros do mesmo grupo Não houve a preocupação de estabelecer prioridades ordinais para colocar Omolu ou Obaluaê no texto ora escrevese primeiro Omolu ora primeiro Obaluaê Devese admitir que a palavra Omolu aparece em maior quantidade talvez por experiências nos candomblés da tradição nagôketu do autor deste texto Explicase quem é OmoluObaluaê velho e novo pobre e rico senhor cheio de ricos colares de pérolas pobre velho pais de filhos que pedem esmolas para realizar suas festividades suas obrigações OmoluObaluaê em suas multiplicidades mantémse senhor das doenças e das curas com suas árvores sagradas em diversos terreiros de candomblé e à frente da igreja de São Lázaro no bairro da Federação na Cidade do Salvador De lá da frente da igreja são anotados milagres em segundasfeiras seu dia da semana no 16 de agosto eou nos rituais para abertura do ano novo Sendo assim além de apresentar descrever analisar discutir os mitos foram utilizadas matérias do soteropolitano jornal A Tarde de diferentes períodos confirmando a fé em ObaluaêOmoluSão RoqueSão Lázaro Os depoimentos de fiéis atestam os poderes curativos de ObaluaêOmoluSão RoqueSão Lázaro Apesar de concordâncias e discordâncias exemplos de alteridade positiva e negativa afirmando entendimentos controversos do mito há ao menos um elemento unificador a pipoca O deburù flor do velho ou a pipoca do velho compõese como elemento unificador da existência da energia sagrada e curativa de ObaluaêOmoluSão RoqueSão Lázaro Para diversos fiéis alguns deles entrevistados por A Tarde a flor do velho cura Vários rituais do candomblé e de outras religiões afrobrasileiras utilizamse do deburù simbolizando a presença de ObaluaêOmolu As pipocas são elementos indispensáveis para limpezas feitas em terreiros de candomblé e na porta da igreja de São Lázaro além de serem utilizadas para caracterizaçőes de performances artísticas afrobrasileiras Apesar de citado em menor quantidade por depoentes de A Tarde comentaramse aspectos das convulsões típicas de Omolu por vezes confundidas com doenças Tudo aqui foi escrito em uma linguagem acessível pensando o mundo de forma qualitativa na descrição análise e comparação próprias da crítica da cultura ATOTÔJÊHOLÚ AINON RESPEITO E SUBMISSÃO AO SENHOR DAS PÉROLAS SENHOR DA TERRA Em narrativa africana a respeito de Obaluaê ou Omolu afirmase a existência deste orixá desde tempos anteriores à idade do ferro Falase em Obaluaê ou Omolu pois genericamente na Bahia e no Brasil podese chamar a mesma entidade com os dois nomes Conforme epígrafe retirada de Pierre Verger 1985 p 61 as duas designações são títulos de Xapanã Obaluaê o Rei Senhor da Terra ou ainda Omolu o Filho do Senhor rejeita a utilização de utensílios de metal em alguns de seus rituais no continente mãe pois admitir a utilização do metal seria submeterse ao território de poder do orixá Ogum que entre outros domínios é o Senhor do ferro patrono da tecnologia A antiguidade dos cultos de Obaluaê e Nanã Buruku frequentemente confundidos em certas partes da África é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhes são feitos Esse ritual é realizado sem o emprego de instrumentos de ferro indicando que essas duas divindades faziam parte de uma civilização anterior à Idade do Ferro e à chegada de Ogum que veio com Odidùduà VERGER 1997 p 212 Em candomblés da tradição nagôketu da Bahia o agadá ou faca é o instrumento com o qual Ogum civiliza o universo LUZ 2000 Como dono do agadá a Ogum devese fazer reverências em todos os rituais de sacrifício de animais Não se verificou de forma aprofundada se na Bahia há o sacrifício de animais a OmoluObaluaê sem a utilização de instrumentos de metais Entre os sacerdotes da Bahia consultados todos da tradição nagôketu confirmouse que a faca é utilizada nos rituais de sacrifícios a Omolu o que não significa a inexistência de ritual similar ao noticiado por Pierre Verger 1997 Entretanto admitese a antiguidade de Obaluaê e Omolu de suas representações como entidades anciãs o mesmo ocorrendo com Naná Omolu e Naná são orixás velhos Ela é reconhecida como a vovó dos orixás uma das esposas de Oxalá Para ele existe uma música em língua portuguesa com a seguinte letra Se encontrar um velho aí Tome a bênção a ele Como é o nome dele É Obaluaê Por conseguinte comprovada ou não a anterioridade da existência de Omolu à chegada de Odudua no mundo ioruba a ancianidade de Obaluaê ou Omolu fica garantida Afinal antiguidade da existência do mito pode coincidir ou não com a ancianidade das personagens da narrativa Um mito pode ter surgido há milhares de anos e seu protagonista ser uma criança Como os personagens dos mitos não envelhecem o mito preserva sua antiguidade e estabiliza as idades dos personagens envolvidos Omolu é associado à ancianidade acolhedora ao pai que cuida dos doentes dos desprotegidos e em Cuba é chamado de Babaluaê pai senhor da terra visto que Babá em iorubá significa pai TAVARES 2000 A ancianidade de Omolu deve ser entendida também como repositório de sabedoria associada ao seu poder sobre a vida e a morte pois Se encontrar um velho aí Tome a bênção a ele Alguns dizem na Bahia que Omolu seria o velho e Obaluaê o jovem não obstante admitese em candomblés mais ortodoxos que há manifestações mais jovens de Omolu ou Obaluaê A aparente confusão pode ser desfeita entendendose que ao informar que determinado iaô ou filho de santo é iniciado para o velho ou filho do velho sabese que o velho a que se refere é ObaluáeOmolu Quando assim se procede a informação ela é propositadamente transmitida de forma genérica sem o preocuparse com os detalhes pertinentes aos iniciados crentes pesquisadores e curiosos mais interessados na cosmogonia nagô baiana Para um leigo é preciso explicar que assim como há Santos Católicos com complementos em seus nomes tornandoos múltiplos há também diversas qualidades de um mesmo orixá Explicase as diferenças e semelhanças da comparação Ainda tomando como exemplo a Bahia podese falar em Santo Amaro de Ipitanga Santo Amaro da Purificação e Santo Amaro do Catu O primeiro tem sua Igreja na cidade de Lauro de Freitas antiga freguesia de Santo Amaro de Ipitanga portanto Santo Amaro da localidade de Ipitanga Fácil entender que os outros dois assim como o primeiro tratamse do mesmo santo contudo em localidades diferentes A cidade de Santo Amaro da Purificação tornouse mais conhecida por conta dos notáveis da família Veloso Caetano Veloso Mabel Veloso Maria Bethânia e a matriarca Dona Canô Não menos importante entretanto não tão conhecida é a localidade de Catu um dos distritos da Cidade de Vera Cruz na Ilha de Itaparica tanto lá quanto na localidade vizinha Jiribatuba Santo Amaro do Catu é o padroeiro até os anos 1980 Jiribatuba era nomeada Santo Amaro do Catu com sua igreja avistada do mar Assim da mesma forma pode haver orixás com toponímias associadas ao nome como por exemplo Ogum Onirê Ogum Senhor da cidade de Irê a diferença é que para as interpretações afrobrazileiras cada qualidade de um orixá é um outro orixá do mesmo grupo linhagem de orixás e não o mesmo homenageado de formas diferentes como acontece com os santos católicos Desta forma Ildásio Tavares 2000 p 106 diz que há 13 qualidades de Omolu incluindo o Omolu jovem que é o Jagun considerado o jovem guerreiro de Oxalá que faz a ligação do aiê o mundo com o orum espaçao dos orixás Destarte não é difícil entender que apesar de ser carinhosamente chamado de o velho Omolu aparece também como um jovem guerreiro acepção pouco comentada afinal conforme afirmou Edison Carneiro 1991b Obaluáe é o médico dos pobres e também médico dos orixás TAVARES 2000 Edison Carneiro 1991b cientifica que na primeira metade do século XX o povo negro da Cidade do São Salvador não confiava nos tratamentos dados a eles nos hospitais Em casa teriam condições mais dignas humanas distantes das indigentes degradações às quais eram submetidos nos hospitais No leito do lar teriam melhor tratamento e o amparo do velho Omolu inversamente às casas de saúde antes territórios majoritariamente do racismo Imprescindível lembrar que chamar um orixá ou um caboclo de meu velho é uma das maneiras respeitosas de se dirigir à entidade reconhecendo a superioridade do sagrado Mesmo em sua qualidade de guerreiro Omolu se apresenta com o poder sobre as doenças e sobre as curas A varíola com suas marcas indeléveis no corpo não é a única enfermidade que Obaluáe controla ele é o senhor das moléstias e das curas em geral Conta o mito que ao saber da ida de Omolu em direção à terra dos mahis no Daomé para aplacar a ira de Omulu e seu exército o povo preparou oferendas ao guerreiro e com a chegada de Omolu prostrouse diante daquele que poderia espalhar a doença como método beligerante Em reconhecimento às homenagens Omolu poupou o povo e tornouse rei do lugar transformandoo em território próspero e feliz VERGER 1997 Em diversas narrativas mitológicas a ira de Omolu devese à desobediência dos humanos e também à forma pouco respeitosa como foi tratado ora por seres humanos ora por orixás O fato de ter sido preterido diversas vezes também o aproxima dos mais pobres sustentando o título de médico dos pobres além de médico dos orixás Narrase que Olodumaré o ser supremo resolveu dividir seus poderes entre seus filhos A reunião entre os herdeiros aconteceu em um dia que XapanãObaluáeOmolu não estava presente então sobrara para ele o que ninguém queria as FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 675 pestes e as doenças Contudo a exclusão acabou conferindo a Omolu poderes importantíssimos PRANDI 2001 Certo dia uma doença muito contagiosa espalhouse pelo mundo era a varíola Nenhum orixá pôde ajudar o povo Já não havia espaço nos cemitérios para tantos mortos PRANDI 2001 p 210 Após aceitarem a recomendação de Orunmilá para fazerem sacrifícios a Xapanã a epidemia foi extinta Por conta de narrativas como essa e outras que contam façanhas do guerreiro Omolu o pensamento cristão etnocêntrico tende a diabolizar esse orixá esquecendose de que para o mundo cristão Deus Jesus Cristo e os santos católicos têm o poder sobre a vida e a morte A fixidez do estereótipo não permite que o discurso preconceituoso enxergue o quanto as decisões dos mitos sejam eles afrobrasileiros cristãos ou de outros territórios religiosos devem ser respeitadas afinal se a ira de Omolu ou de outro orixá pode ser considerada malévola também são malévolas as iras do mundo judaicocristão e de outros territórios de fé A ambivalência entre o medo e a admiração permeia a fé cristã e a fé afrobrasileira Omolu associado a São Lázaro ou Obaluáê a São Roque TAVARES 2000 são admirados e temidos são confundidos com orixás pobres por preferirem roupas mais simples menos atrativas terem o corpo coberto da simplicidade da palha da costa Edison Carneiro 1991b comenta o depoimento de um sacerdote a respeito da rejeição de Omolu a roupas luxuosas De acordo com Carneiro 1991b p 170 O paidesanto Paim do Alto do Abacaxi em quem Omolu desce para abençoar os seus filhos nos confessou a mim e ao prof Donald Pierson da Universidade de Chicago ter perdido um tempo enorme confeccionando uma toalha de seda branca bordada a lantejoulas tudo inutilmente porque o santo não a queria de maneira alguma É preciso deixar marcado que há diferenças entre o que seria valorativo para a cultura afrobrasileira e para o cristianismo popular baiano Para Omolu vestirse com suas palhas da cabeça aos pés além de adequarse à sua realidade física deve ser entendido como riqueza uma outra riqueza Talvez exemplo mais óbvio seja com relação às matériasprimas preferidas dos orixás Oxum e Xangô Ela senhora da beleza das águas doces e do ouro Ele senhor da justiça rei da cidade de Oió que tem Oxum como uma de suas três esposas exige que seus utensílios sagrados sejam de pedra ou de madeira materiais nobres para Xangô Apesar de Oxum não exigir que seus paramentos sagrados sejam de ouro sua preferência e representação simbólica na natureza inanimada estão no ouro metal que possui sua cor representativa o amarelo Então nem sempre os valores atribuídos a diversas matériasprimas na interpretação capitalista coincidem com os valores sagrados do Axé Outrossim há valores incalculáveis nas roupas de palha da costa importadas do continente africano que cobrem Omolu da cabeça aos pés deixando seu corpo ou o corpo do iniciado oculto diante dos olhos humanos Não obstante pérolas são escondidas por debaixo das roupaspalhas do rei OMULU GANHA AS PÉROLAS DE IEMANJÁ Omulu foi salvo por Iemanjá Quando sua mãe Naná Burucu ao vêlo doente Coberto de chagas purulento Abandonouo numa gruta perto da praia Iemanjá recolheu Omulu e o lavou com a água do mar O sal da água secou suas feridas 676 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 Omulu tornouse um homem vigoroso Mas ainda carregava as cicatrizes as marcas feias da varíola Iemanjá confeccionou para ele uma roupa toda de ráfia E com ela ele escondia as marcas de suas doenças Andava pelas aldeias e por onde passava Deixava um rastro ora de cura ora de saúde ora de doença Mas continuava sendo um homem pobre Iemanjá não se conformava com a pobreza do filho adotivo Ela pensou Se eu dei a ele a cura a saúde não posso deixar que seja sempre um homem pobre Ficou imaginando quais riquezas poderia dar a ele Iemanjá resolveu então ver suas jóias Mas Iemanjá tinha uma grande riqueza E essa riqueza eram as pérolas Que as ostras fabricavam para ela Iemanjá muito contente com a sua lembrança Chamou Omulu e lhe disse De hoje em diante és tu quem cuidas das pérolas do mar Serás assim chamado de Jeholu o Senhor das Pérolas Por isso as pérolas pertencem a Omulu Por baixo de sua roupa de ráfia Enfeitanto seu corpo marcado de chagas Omulu ostenta colares e mais colares de pérola Belíssimos colares PRANDI 2001 p 215216 O mito em análise confirma que a história de Omolu é marcada por rejeições outros exemplos justificam ainda que as feridas e cicatrizes são os motivos pelos quais suas roupas são extensas inclusive tema de outras narrativas Não é demasiado afirmar o aspecto médico do mito Contudo por debaixo da simplicidade das roupas de ráfia Omolu ostenta colares e mais colares de pérolas belíssimos colares É visível que Omolu não pode ser julgado pelas aparências apesar de trazer também o aspecto capitalista das pérolas A aparência de pobreza esconde a opulência As cicatrizes sinais daquele que foi ou é enfermo podem ser inverossímeis para quem possui os poderes de cura Como para Omolu tudo é ao contrário primeiro fazse a oferenda para depois ter a cura a dádiva Primeiro o banho de pipoca que abre os caminhos para a cura O sim com Omolu pode ser não o não pode ser sim No oráculo jogo de quatro búzios a resposta negativa dita por Omolu pode ser o positivo e o inverso ocorre Pedese a esmola para construir a festa do Senhor das Pérolas Mesmo com significativa diminuição em Salvador o mês de agosto é povoado por filhas e filhos de santo a pé nas ruas com balaios cheios de pipoca pedindo esmolas para a construção das obrigações de Omolu e ofertando a pipoca a quem contribui Há casos nos quais os filhos e filhas de santo são incorporados pelos Ibejis orixás crianças para cumprirem as obrigações das esmolas para o velho FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 677 DEBURÙ PIPOCA A FLOR DO VELHO Reginaldo Prandi 2001 Ildásio Tavares 2000 Edison Carneiro 1991b e tantos outros autores afirmaram que o deburù a pipoca ou a flor do velho está entre as comidas de Omolu Para além das preferências do orixá é com certeza a mais representativa aparecendo seja de forma ritualística ou meramente estética em diversos momentos do cotidiano da Cidade do Salvador As pipocas aparecem desde as comemorações religiosas em momentos de fé e em diversas festividades para garantir a paz os bons fluidos ou simplesmente embelezando cenas e cenários artísticos afim deconferirlhes graus mais verossímeis de afrobrasilidade Portanto as pipocas podem compor cenas sagradas durante as limpezas espirituais por exemplo como podem se restringir a confirmar estéticas que reproduzem a mitologia afrobrasileira Antes da existência das pipoqueiras elétricas a flor do velho era aberta digo preparada torrada em uma panela com areia branca Obrigatoriamente sem gorduras de quaisquer espécies a flor do velho abria com a temperatura correta em meio à límpida areia branca a correta fertilidade para o germinar O cuidado seguinte consistia em deixar a pipoca adequadamente livre da areia para o consumo do orixá e também das pessoas A expertise da cozinheiraera comprovada com o uso adequado de uma grande peneira feita de palha na qual as pipocas eram despejadas Por mãos ágeis o deburù era jogado para cima levando consigo parte da areia que se perdia e outra parte era dispensada por entre os poros da peneira Através da correta repetição deste ritual a flor do velho era aparada ficava limpa e ainda hoje deve ser servida sem sal A pipoqueira elétrica facilita o trabalho e não retira o Axé a energia sagrada embora haja quem prefira preservar o jeito tradicional de torrar a flor do velho Para servir ao orixá devese acrescentar tiras de coco seco O pular das pipocas na panela e depois nas peneiras traz uma imagem bem propícia de Obaluaê Ainda pode ser vista mesmo com a opressão etnocêntrica de alguns vieses do cristianismo conforme explicitado em ruas da Cidade da Baía de Todos os Santos por ocasião de algum festejo afrobrasileiro flores do velho sendo coreograficamente lançadas nas ruas numa evidente simbologia de desejos para abrir os caminhos retirar as energias negativas tornando a caminhada positiva Cenas parecidas de uma coreografia sem planejamentos acontecem em outros rituais de limpeza espiritual destinados a curar doenças ou a fazer com que os médicos consigam ver melhor a enfermidade e ofereçam o tratamento adequado Em uma anamnese coletada em uma matéria feita pelo soteropolitano jornal A Tarde publicada em 17 de agosto de 2008 o bancário André Fernandes na época com 36 anos de idade informou que há 29 anos seguia o ritual do banho de pipoca Ele conta que virou devoto de São Lázaro depois que ficou curado das crises de convulsões que nenhum médico soube diagnosticar BRITO 2008 p13 Fui em vários médicos e nenhum deles resolveu o meu problema Um médico espírita indicou a minha mãe que me trouxesse aqui para tomar um banho de pipoca e eu fiquei curado FERNANDES 2008 p 13 complementa o depoente Apesar do ritual realizado pertencer a Omolu e a religiões afrobrasileiras a indicação para a cura foi de um médico espírita confirmando a tese candomblecista de que às vezes é preciso fazer um ebó para os médicos verem a doença e a cura Não é sabido se o médico era kardecista de outra linha do espiritismo ou se realmente era espírita muitas vezespara evitar constrangimentos racistas não se admite a vinculação afrobrasileira As convulsões que afetavam o depoente possuíam outra carga semântica quando comparadas a uma das formas de incorporação de ObaluaêOmolu Ao manifestarse em um de seus filhos ObaluaêOmolu em determinados momentos gesticula com os braços ora dobrados ora não e com as mãos tortuosas 678 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 e trêmulas lembrando convulsões típicas de epilépticos Diversas narrativas do povo de axé dão conta de pessoas não iniciadas por vezes de famílias pertencentes a outras tradições religiosas que por desconhecimento entenderam as manifestações ou incorporações espirituais de Omolu como ataques epilécticos Há situações nas quais as pessoas são equivocadamente tratadas com remédios da farmacologia tradicional para conter as convulsões sem sucesso até que sejam indicadas para a realização de procedimentos no candomblé ou em outra religião afrobrasileira necessitando em alguns casos da iniciação completa tornandose um membro da religião afrobrasileira A fixidez do estereótipo determina que sendo de origem negra passa a ser malévolo todo e qualquer significado Destarte preferir a orientação espiritual de um médico ou substituir o nome de Omolu e Obaluaê por São Lázaro ou São Roque não consegue eliminar o conteúdo afrobrasileiro os rituais de limpeza com o deburù Para marcar bem sua posição desprossuído de alteridade positiva quando o direito à diferença seria respeitado sem segregações CHAUÍ 1993 um entrevistado também em A Tarde 17 de agosto de 1979 declarou que não iria chamar São Roque pelo apelido de Obaluaê O entrevistado disse que frequentava a igreja e o candomblé mas que a preferência por chamar de São Roque deviase ao fato de o Santo ter sido um servo de Deus Resta saber se a cura com elementos próprios do candomblé a exemplo do deburù seria dádiva do que ele acredita ser o substantivo próprio e legítimo com letra maiúscula ou do que ele diz ser um apelido A hierarquização da fé coloca a representação cristã como superior prioritária Essa preferência pelo discurso e pela nominação referente à cultura nãonegra é fruto da naturalização do racismo David Brookshaw 1983 discute o quanto é mais confortável para negros considerados esteticamente mulatos assumirem seus arquétipos mais aproximados ao branco como uma maneira de amenizar o sofrimento proporcionado pelo racismo e facilitar possibilidades de ascensão social Exemplo parecido traz Júlio Braga 1995 ao discutir em Gamela do Feitiço o imbróglioentre Jorge Amado e o sacerdote Severiano Resumidamente a confusão se deu por Severiano Manoel de Abreu ter se sentido ofendido por terem associado seu caboclo Jubiabá ao personagem Jubiabá do romance homônimo Severiano era o líder espiritual de uma casa religiosa que tinha características negras ameríndias e cristãs Certamente uma forma diferente de crença mas a expressão viva do redimensionamento da religião africana na Bahia Com eles e através deles elementos do espiritismo popular da linha Alan Kardeck e outras oriundos das culturas indígenas contactadas se intercruzam com os de origem africana para produzirem a expressão mais abrasileirada dos candomblés o denominado candomblé de caboclo BRAGA 1995 p 90 A partir da análise do conceituado antropólogo Júlio Braga podese entender que os discursos dos depoentes de A Tarde ora carregados do exercício da alteridade positiva quando o direito à diferença é exercido sem segregar o outro ora por alteridade negativa denunciam formas abrasileiradas de cultuar Omolu em um misto de aceitação e rejeição Fruto da opressão racista o negarse negro total ou parcialmente inclui a assunção de outras formas religiosas diferentes do candomblé e de demais religiões afrobrasileiras com melhores aceitações sociais Abremse parênteses para a umbanda com seu viés assumidamente branco kardecista e judaicocristão sem se aprofundar na questão Entretanto aliados são conseguidos seja o médico que indicou ao bancário o banho de pipoca ou o que compunha as sessões mediúnicas na casa de Severiano Manoel de Abreu FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 679 Se a pipoca é um dos alimentos ofertados ao médico dos pobres e dos orixás portanto alimentando sua energia sagrada ela é também uma espécie de esponja espiritual tal seu dono Omolu Tavares 2000 chama atenção para os poderes curativos de Omolu atraindo para si as energias negativas e livrando o enfermo dos males independente de pertencimento social e identitário A forma como Omolu cura lembra o devir ativo nietzscheano transmutando energias negativas em energias positivas NIETZSCHE 1999 Os rituais de limpeza espiritual também são chamados de rituais de descarrego e podem ser realizados com diversos elementos representativos dos orixás inclusive com a pipoca Dentre os procedimentos ritualísticos para curas espirituais conhecidos e praticados livremente sem orientações sacerdotais por não iniciados eou apenas curiosos o banho de pipoca ocupa lugar de destaque como se vê na indicação do médico espírita Nem todos sabem da exigência de torrar o milho para transformar em pipoca sem a gordura e hoje aos que sabem da exigência oferecese a facilidade da pipoqueira elétrica a tradição se transforma e mantém sua energia sagrada Até mesmo nas manifestações do sincretismo religioso a devoção do catolicismo popular baiano a São Lázaro e a São Roque inclui a pipoca como forma de homenagem e purificação Diante da Igreja de São Lázaro na capital baiana as pipocas de Omolu são também pipocas de São Lázaro e de São Roque ritualisticamente passadas nos corpos dos fiéis por iniciadas no candomblé e outras religiões afrobrasileiras às segundasfeiras O dia da semana dedicado a Omolu é o mesmo dedicado a Exu aos ancestrais e no Ilê Axé Opô Afonjá a Ogum que recebe as homenagens da semana às terçasfeiras em outros terreiros de candomblé Mesmo os rituais de purificação sendo feitos na porta da igreja pela inexistência de permissão para realizar dentro da igreja é representativo que aconteça na rua afinal Omolu assim como Exu e Ogum é orixá que reina nos caminhos nas ruas Omolu ainda menino viveu por muito tempo a dormir nas ruas e nas matas PRANDI 2001 até ficar habilitado para realizar curas Os processos de descarrego com a flor no velho incluem a conexão com uma árvore sagrada na porta da igreja Os iniciados no candomblé utilizam a árvore como uma espécie de repositório energético na qual são depositadas pipocas já utilizadas para as limpezas Em 03 de janeiro de 1984 A Tarde informou que Muitas pessoas fizeram uma trilha jogando pipoca desde a entrada de São Lázaro onde tem uma árvore sagrada até a igreja onde de joelhos agradeciam a graça alcançada Outras levavam flores colocavam no altar e rezavam contritas como Mariana Assunção que mesmo não querendo dizer quanto gastou deixou clara a devoção que tem por São Lázaro que lhe concedeu uma graça especial A relação de Omolu com as árvores é muito conhecida pois demonstra a ligação com a terra Todas as pessoas iniciadas em ObaluaêOmolu possuem em seu nome iniciático a palavra Iji que significa árvore as vezes pronunciado apenas ji A inclusão da árvore no ritual de cura na porta da igreja de São Lázaro referenda mais a existência da fé e da cura através de Omolu Apesar das formas disfarçadas do racismo religioso a fé em OmoluObaluaê e nos santos católicos parecem conviver com alguma tolerância Entretanto em 17 de agosto de 1979 o padre da igreja de São Lázaro falou ao Jornal A Tarde sua contrariedade em relação ao sincretismo religioso e declarou proibição das pipocas dentro do templo católico Posição contrária ou de melhor aproximação foi tomada por outro pároco da mesma igreja em 2008 inserindo atabaques na missão e congregando músicas católicas com a percussão sagrada 680 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 afrobrasileira Na entrevista dada ao citado veículo de comunicação em 17 de agosto de 2008 o pároco Rosivaldo Mota 2008 afirma Fizemos uma pesquisa e constatamos que 99 dos devotos eram a favor da mudança Estamos na Bahia e é importante aderir às duas culturas É uma união mais que justa já que foram os escravos adeptos do candomblé que construíram essa igreja Mesmo tendo o 16 de agosto como dia maior de homenagens a São LázaroOmoluObaluaê costumase na Bahia lotar a igreja do mencionado santo na última e na primeira segundafeira do ano Na oportunidade as flores do velho são utilizadas para garantir aos que se submetem aos rituais de purificação um ano com energias positivas Percebese então mais uma vez a oferenda feita antes da dádiva CONCLUSÃO As narrativas a respeito de XapanãOmoluObaluaê comprovam os poderes sobre as doenças e para as curas que possui o orixá Algumas histórias podem diferir entre o que se narra no continente africano e na afrobrasilidade Também há características conflitantes na própria afrobrasilidade sem deixar de existir o conteúdo relacionado ao poder de cura São Lázaro e São Roque possuem seus territórios associados a OmoluObaluaê Através do catolicismo popular eles aparecem rituais típicos de OmoluObaluaê As misturas e as diversidades de representações e interpretações dos personagens mitológicos XapanãOmoluObaluaê e São Lázaro São Roque guardam aspectos divergentes e semelhantes Entre as semelhanças narradas pertinentes aos rituais de cura e purificação a existência do deburù ou flor do velho ou pipoca do velho garante um fio condutor que unifica a fé em XapanãOmoluObaluaê e São LázaroSão Roque para a purificação espiritual e cura das doenças XapanãOmoluObaluaê é múltiplo diverso uno protagoniza a linha tênue entre a vida e a morte por ele controladas Desta forma acreditase ter contribuído para elucidar aspectos da cultura afrobrasileira que relacionam fé e cura de forma inclusiva respeitando e admitindo interseções entre a fé negrobaiana e o catolicismo popular baiano OMOLUOBALUAÊ SAINT LAZARUSSAINT ROQUE THE FAITH AND THE MEDICINE OF POOR PEOPLE Abstract to treat about the faith in the orixá Xapanã OmoluObaluaê the patron of diseases and healing respectfully called the Old Man its necessary to consider the knowledge of some mythological narratives proper to this deity This knowledge is also necessary to understand the cuts of his characteristics in his African and AfroBrazilian diversity Since this qualitative dimension of diversity we describe compare and analyze mythological narratives from the African continent or from AfroBrazilian culture involving that deity as well as we analyze testimonies set in Bahia to understand the intersection of the paths of healing of the AfricanAfroBrazilian divinity to the Christian figures of Saint Lazarus and Saint Roque Despite some differences OmoluObaluaê and Saint Lazarus Saint Roque have points in common highlighted in AfroBrazilian religions including the deburù popcorn called the Old Flower Keywords XapanãOmoluObaluaê Saint LazarusSaint Roque Deburù popcorn the Old Mans flower Faith Healing FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 681 Notas 1 Será adota a grafia Obaluaê conforme dicionário de língua portuguesa Michaelis 2019 2 Será adotada a grafia Omolu conforme dicionário de língua portuguesa Michaelis 2019 3 Um dos orixás primordiais criador do mundo Há narrativas que explicam ser Odudua a parte feminina de Oxalá portanto seria Oxalá a junção de Odudua e Obatalá o senhor do pano branco 4 Dizse nagô baiana assumindose as peculiaridades das tradições afrobaianas com suas transformações e seus diversos genitores 5 Entidade que em vida fora um índio com alguma formação católica e que incorpora em iniciados dos candomblés e de outra religiões afrobrasileiras como a umbanda Há também caboclas 6 O Deus supremo na mitologia Iorubá 7 Orixá senhor da adivinhação e do conhecimento patronato dividido com Exu Orunmilá também é dono do oráculo chamado Ifá 8 Ráfia do dendezeiro usada na confecção de adornos rituais de Nanã e de Omolu CASTRO 313 2001 9 Despacho oferenda 10 Preferese utilizar a expressão povo de axé ou povo do axé ao invés de povo de santo Apesar da palavra axé ser apenas de origem ioruba denota um pertencimento negro partilhado visto que dentre outros aspectos há a utilização de termos de várias origens africanas em diferenciadas nações de candomblé Como exemplo citase o termo candomblé que é de origem banto para designar a religião afrobaiana dos orixás inquices e voduns portanto alicerçada em diversas heranças africanas 11 Terreiro de candomblé fundado em 1910 da tradição nagôketu localizado no bairro São Gonçalo na Cidade do Salvador cujo patrono é Xangô Afonjá 12 Instrumentos percussivos sagrados Referências AMADO Jorge Jubiabá São Paulo Companhia das Letras 2008 BHABHA Homi K O local da cultura Belo horizonte Editora da UFMG 2005 BRAGA Julio Na gamela do feitiço repressão e resistência nos candomblés da Bahia Salvador EDUF BA 1995 BRITO Cilene Roque e Obaluaê A Tarde Salvador 17 ago 2008 p 13 BROOKSHAW David Raça cor na Literatura Brasiliëra Tradução de Marta Kirst Porto Alegre Mercado Aberto 1983 CARNEIRO Edison Candomblés da Bahia Ediouro Rio de Janeiro 1948 CARNEIRO Edison Religiões Negras Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1991a CARNEIRO Edison Negros Bantos Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1991b CASTRO Yeda Pessoa de Falares Africanos na Bahia um vocabulário afrobrasileiro 2 ed Topbooks 2005 CHAUÍ Marilena Cultura e racismo aula inaugural na FFLCH USP em 10031993 Revista Princípios São Paulo n 29 p1016 junjul 1993 FERNANDES André Roque e Obaluaê Entrevista concedida a Cilene Brito Roque e Obaluaê A Tarde Salvador 17 ago 2008 p 13 LEITE Gildeci de Oliveira Literatura e Mitologia afrobaiana encantos e percalços In GODI NHO Luís Flávio R SANTOS Josué S Santos org Recôncavo da Bahia educação cultura e sociedade Amargosa Bahia CIAN 2007 p 95100 LUZ Marco Aurélio Agadá dinâmica da civilização africanobrasileira 2 ed Salvador EDUFBA 2000 682 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 MICHAELIS Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Disponível em httpmichaelisuol combrmodernoportuguesindexphp Acesso em 03 out 2019 MOTA Rosivaldo Roque e Obaluaê Entrevista concedida a Cilene Brito Roque e Obaluaê A Tarde Salvador 17 ago 2008 p13 NIETZSCHE Friedrich Genealogia da moral uma polêmica Tradução de Paulo César de Souza São Paulo Companhia das Letras 1999 PRANDI Reginaldo Deuses africanos no Brasil In PRANDI Reginaldo Herdeiras do axé São Paulo Hucitec 1997 p 150 PRANDI Reginaldo Mitologia dos Orixás São Paulo Companhia das Letras 2001 SEM AUTOR Obaluaê ou São Roque homenageado com missa e sem pipoca na igreja A Tarde Salvador 17 ago 1979 p02 SEM AUTOR São Lázaro já mostrou a força do sincretismo A Tarde Salvador 03 jan 1984 p 2 TAVARES Ildásio Candomblés na Bahia Salvador Palmares 2000 VERGER Pierre Fatumbi Lendas Africanas dos Orixás Salvador Corrupio 1985 VERGER Pierre Orixás Deuses Iorubas na África e no Novo Mundo 5 ed Salvador Corrupio 1997 FRAGMENTOS DE CULTURA Goiânia v 29 n 4 p 672683 2019 683 WLANSSID GUEST Internet BYDJ Accesspoint Windfeldstrasse 28 WLANSicherheit WPA2PSK WPAVerschlüsselung AES Netzwerkschlüssel 4778024501 IPAdresse 192168280 Subnetzmaske 2552552550 Standardgateway 1921682200 DNSServer 1921682200 1921682211 Jetzt Start simulieren Jetzt Start simulieren 190 Confirmed Use Keyboard ID Unknown Type 0 Crossfire Receiver Range Single W O L F B OX Firmware Version 242 Copyright 2021 All rights reserved 100 Voltage RSSI GPS SAT HD WOK FW XXXXX 11000 71 20 3 OK OK fuel GPS Heli Camera Internal Battery Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok 94C 36C 00A 121V 040 V 15000 W 000040 Armed OK Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok Ok 94C 36C 00A 121V 040 V 15000 W 000040 Armedવ

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