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Cristina Costa Moderna Sociologia a criação do campo do saber 8 Capítulo 10 Pobreza e exclusão 128 1 Utopia e realidade 128 2 Desigualdade e pobreza 128 3 Estado de carência múltipla 132 4 Urbanização e criminalidade 134 5 O estigma da pobreza 135 6 Um exercício de reserva 137 Aprofundando conteúdos Pobreza no Brasil 138 Atividades 140 Sugestões 143 Capítulo 18 Cultura de massa 238 1 A imprensa renascentista 238 2 O grande público 239 3 O estudo da massa 241 4 Cultura de massa e homogeneização da sociedade 243 5 Cultura de massa poder político e poder econômico 244 Atividades 246 Capítulo 29 Do Homo faber ao homem como força motriz 382 1 Paus pedrasossos e sacolas 382 2 Fabricar instrumentos não é uma especificidade do ser humano 383 3 A aceleração do desenvolvimento tecnológico 385 4 A transformação do homem em força motriz 387 5 Consequências sociais do emprego da tecnologia 389 Atividades 390 Sociologia a criação do campo do saber O conceito de natureza O conceito de natureza é hoje determinado em larga medida pela forma e pela significação sociais que as ciências da natureza lhe conferem Mas essas ciências interessamse apenas por um setor limitado do universo Se quisermos compreender isso o que se chama natureza entretanto será preciso levarmos em conta o fato de que os seres humanos surgiram do universo físico Numa palavra teremos de incluir no conceito de natureza a capacidade que ela tem de produzir no curso de processos cegos não apenas reatores de hélio ou de outros lunares mas também seres humanos CAPÍTULO 1 Da era précientífica ao Renascimento 1 O conhecimento como característica da humanidade Ao observarmos animais de diferentes espécies percebemos a existência de regularidades comportamentais que caracterizam a vida de cada grupo eles se reúnem convivem competem e se acasalam de forma ordenada reproduzindo um certo modelo que varia em função do ambiente em que vivem A preservação das espécies animais e sua adaptação parecem ser como afirmou Darwin na teoria sobre a evolução das espécies o objetivo desses hábitos de vida da forma de convivência e da sociabilidade Assim os animais desenvolvem esses comportamentos que lhes permitem a reprodução e sobrevivência Esperamos ajudar os leitores a entender melhor o mundo que os cerca e a tornálos mais sensíveis em relação à sua participação como membros da espécie humana que é tão peculiar 2 A sociologia um conhecimento de todos Palavras e expressões como contexto social classe estrato camada movimento e conflito social são hoje muito veiculadas pelos meios de comunicação de massa e aparecem nos discursos políticos na publicidade e no dia a dia das pessoas Há referências por exemplo às classes sociais elites e pressões sociais como se fossem termos que fazem parte de um vocabulário conhecido por todos como se políticos eleitores e eleitores soubessem exatamente o que elas significam Cada vez mais pesquisas para os mais diversos fins veiculam os resultados do público em geral demonstram entender os procedimentos atitudes emoções e sentimentos de suas características sociais Assim como certas regularidades de grupo exposto às mesmas circunstâncias determinam a existência de particularidades em nossa forma de interagir nacionalizando assim modos de agir e pensar de acordo com classe social ou etnia Não se constroem mais cidades não se desenvolvem campanhas políticas nem se declaram guerras sem levar em consideração as pessoas envolvidas suas crenças seus interesses suas ideologias e tradições enfim tudo aquilo que motiva sua ação e guia sua conduta A sociedade tem características que precisam ser conhecidas para que aqueles que nela atuam atinjam seus objetivos Isso significa que nenhum setor da vida social prescinde dos conhecimentos sociológicos pois a ação consciente é programada exige pesquisa planejamento e método figura 3 É por isso que a sociologia faz parte dos programas básicos dos cursos universitários que preparam os mais diversos profissionais dentistas a artistas de engenheiros a jornalistas e por isso também o sociólogo integra equipes nos mais diversos setores da vida social Desafios da sociologia hoje Sistematizados com o desenvolvimento das cidades e da indústria as teorias sociológicas orientam os demais cientistas na compreensão da vida social e do comportamento coletivo O diálogo estabelecido com as diversas áreas do saber garantiu à sociologia uma dimensão interdisciplinar ao mesmo tempo que enriquece os diversos campos científicos Além dessa abrangência e interdisciplinaridade conquistada pelo conhecimento sociológico as teorias desenvolvidas têm tido especial aplicação na elucidação do comportamento dos cidadãos em relação à sociedade em que vivem Dessa forma a sociologia tem sido importante na educação política e na prática da cidadania Finalmente a sociologia é particularmente necessária em épocas de crise e mudanças como a que vivenciamos quando as instituições se transformam quando as relações sociais se afrouxam quando padrões éticos são abandonados ou ainda quando novas ideologias se difundem é hora de pensar a vida social de modo sistemático e consequente É em razão desses fatores e especialmente da complexidade da vida contemporânea e das transformações que estão em processo que a sociologia se torna indispensável à formação dos jovens dos profissionais e dos cidadãos A emergência do pensamento científico Pensar cientificamente o ser humano e a vida social resultou de um lento processo pelo qual a ciência em geral e as ciências humanas em particular foram ganhando espaço e legitimidade Além disso embora o pensamento abstrato seja uma das principais características da humanidade os modelos de conhecimento que o homem desenvolveu não foram sempre os mesmos Os povos desenvolveram diferentes formas de explicação a respeito da vida da natureza e da sociedade em que vivem dependendo dos fatores sociais da tradição da influência de outros grupos da maior ou menor resistência cultural No mundo antigo tal qual o entendido hoje predominou o pensamento mítico e religioso que concebida o mundo como uma obra divina submetida aos designs do criador Para os egípcios como para os babilônios a eficiência do pensar limitavase ao pragmatismo à necessidade de solucionar problemas particulares que se apresentavam como obstáculos ao transcurso da existência O pensar como um exercício voltado para si mesmo capaz de se desenvolver sem aplicabilidade imediata independentemente das crenças religiosas e do pensamento mítico teve suas raízes históricas na civilização grega O pensamento especulativo grego Entre os séculos VI e V aC os gregos romperam com o senso comum criando um vínculo com o pensamento mítico Com essa mudança desenvolveram uma reflexão laica e independente própria do pensamento especulativo que se debruçava sobre o mundo procurando entendêlo em sua objetividade Em consequência acabaram por criar a filosofia e muitos dos campos do saber até hoje conhecidos como a geometria e a astronomia figura 4 Alguns historiadores dão o nome de milagre grego a esse salto qualitativo do conhecimento humano sobre si e a natureza em que se abandonaram a explicação mítica e o princípio da interferência dos fatores sobrenaturais nos destinos do homem para dirigirse à obtenção do saber por meio da razão comandada pela razão A ideia de milagre porém por um lado das primeiras repercussões associadas à vida do período da época e de períodos posteriores e por outro da falsa impressão de ser um fenômeno autêntico vinda de nada e corrida rapidamente A ciência individual emancipadase à medida que o homem ganhou constância externa ao resultado da ação humana e não da vontade dos deuses e do respeito aos rituais sagrados Crescia nela a percepção de um indivíduo dotado de força capaz de alterar a natureza às regras inspiradas por ela Apesar do grande avanço no conhecimento das características da realidade proporcionado pelos gregos eles não conseguiram em seu tempo vislumbrar muitas das dimensões que o universo da ciência afirmaria só se tornar predominante nos séculos mais tarde a partir do Renascimento séculos XIVXVI O crescimento das cidades e do comércio as viagens marítimas o contato com outros povos desafiavam os homens a pensar a sua realidade próxima e a comparar diferentes culturas Descobertas de riquezas de terras de regiões alimentavam a imaginação do homem renascentista que passou a valorizar o novo e a considerálo sinônimo de maravilhoso Estimulados por ele muitos rompiam com o passado e buscavam novas explicações para um cenário diferente que se descortinava e para o qual as antigas crenças não serviam mais O desenvolvimento tecnológico que se tornou cada vez mais acentuado promoveu novas maneiras de olhar o mundo provocando mudanças nas relações humanas e na produção material da vida Ao criar a prensa de tipos móveis Johannes Gutenberg deu à Europa o instrumento que faltava para saciar a ávida necessidade da comunidade leigapensante de ler os clássicos realizar pesquisas empíricas elaborar hipóteses e tornálas conhecidas Iniciouse então um processo acelerado de divulgação do conhecimento e de hegemonia da cultura letrada aspectos importantes para o desenvolvimento da ciência e do conhecimento As pessoas passaram a buscar a coerência dos textos trabalho indispensável para esclarecer a legitimidade das ideias ali expostas A reflexão A reflexão e a argumentação começaram a dispensar a noção de verdade revelada O Renascimento se caracterizara por uma nova postura do homem ocidental diante da natureza e do conhecimento Hegemônico Termo que designa a posição da dominância de uma pessoa grupo social ou instância da vida social sobre uma totalidade que é múltipla e diversificada Dessa forma a hegemonia implica diferentes graus de imposição de uma parte sobre o todo As utopias criadas por Thomas Morus e Tommaso Campanella eram um exercício literário e sociológico no qual os autores reinventavam o pensamento social inventavam instituições políticas não autoritárias mecanismos de controle justos e formas igualitárias de produção e distribuição de bens Essas obras demonstravam que seus autores já eram capazes de pensar criticamente a sociedade e procuravam soluções que dependiam essencialmente da vontade humana A sociedade deixava de ser mero cenário para desenvolver da vida e tornavase parte da cena e da ação do homem Niccolau Maquiavel 14691527 Nasceu em Florença mas fez sua carreira diplomática em diversos países da Europa De 1502 a 1512 esteve a serviço de Soderini um dos mais poderosos estadistas de Florença Ajudouo nas decisões políticas escrevendolhe a dificuldade em exercer florentino Foi exilado e afastado da vida pública quando Soderini foi removido do governo por Lourenço o Médici A partir daí tentou convencerse a ensinar e a escrever sobre a arte de governar e a ação política É considerado o fundador da ciência política e segundo alguns jamais foi superado nesse campo Suas principais obras são O príncipe e Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio A visão laica da sociedade e do poder É em obras de Thomas Morus e de Maquiavel que percebemos como as relações sociais passam a constituir objeto de estudo dotado de atributos próprios e a paz social deixa de ser como no passado consequência da ação divina ou da obediência dos homens às escritura Nelas a sociedade já aparece como resultado das condições econômicas e políticas e não da providência divina ou seja uma visão laica da sociedade Além disso esses filósofos expressam os novos valores da época ao colar os destinos da sociedade e de sua boa organização nas mãos de um governante que se distingue por suas características individuais A monarquia proposta no Renascimento não se assenta apenas na legitimidade dada segundo uma linhagem na herança ou na tradição mas também na capacidade pessoal do soberano e em sua sabedoria O cientificismo A valorização das trocas comerciais e as novas possibilidades de lucro que se abriram ao comerciante burguês acabaram por repercutir na produção estimulandoa Tornouse urgente produzir mais e em condições capazes de responder à demanda que se tornava cada vez mais insistente Racionalidade e planejamento começaram a ser exigidos dos produtores e tornouse necessário o desenvolvimento de tecnologia para a produção em larga escala O estímulo à invenção de tecnologia para a produção em larga escala A tecnologia ajudava também na conquista de terras e na guerra entre povos uns procurando sobrepujar os outros estabelecendo diferentes formas de poder bélico comercial e político Essas condições incentivouse a pesquisa científica e se disseminaram atitudes de planejamento e racionalidade que aos poucos se inseriram na produção e no restante da vida cotidiana buscouse conhecer os mecanismos que regulam o mundo circundante procurando entender a vida e a natureza Atividades Compreensão do texto Interpretação e problematização Questões de vestibular e do Enem 13 Udesc O termo Renascimento é comummente aplicado ao movimento de mudanças culturais que atingiu as camadas urbanas da Europa Ocidental entre os séculos XV e XVI Sobre as características que ajudam a definir esse movimento assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as afirmativas falsas Uma das características mais marcantes do Renascimento foi seu racionalismo convicção de que tudo pode ser explicado pela razão do homem e pela ciência As bases desse movimento eram proporcionadas por uma corrente filosófica o Humanismo que valorizava o homem e a natureza em oposição ao divino e ao sobrenatural conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade Média Há retomada dos valores da cultura grecoromana ou seja da cultura clássica O Universalismo foi uma das principais características do Renascimento considerava que o homem deve desenvolver todas as áreas do saber Leonardo da Vinci é o principal modelo desse homem universal Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo a V V F F b V V V V c V V F V d F V V V e F V F F 14 UFGGO Um príncipe desejoso de conservarse no poder tem de aprender os meios de não ser bom MAQUIAVEL N O príncipe In WEFFORT Francisco Os clássicos da política São Paulo Ática 1993 p 37 Com Nicolau Maquiavel constituise um novo pensamento político crítico em relação aos critérios que fundamentavam a legitimidade do príncipe medieval Explique por que o pensamento político moderno excluiu a bondade como critério legitimador do poder do príncipe CAPÍTULO 2 Da ilustração ao nascimento das ciências sociais 1 Iluminismo a sociedade inteligível A Ilustração movimento filosófico que sucedeu o Renascimento baseavase na firme convicção da razão como fonte de conhecimento na crítica a toda adesão obscurantista e toda crença sem fundamentos racionais e também na incessante busca pela realização humana Em relação à vida social os filósofos da Ilustração procuraram entender a sociedade como um organismo vivo ou seja composto de partes interdependentes Desse exercício de discernimento resultou também a compreensão de diferentes instâncias da vida social as relações políticas jurídicas e sociais figura 1 Das relações entre as partes e as instâncias constituintes depende o funcionamento de todo no qual se fundamenta o conhecimento de que um conjunto organizado de relações interdependentes o homem enquanto ser social marca dá lugar à noção de uma coletividade organizada e contratual representada por sistemas legais políticos e administrativos convenientes O poder passa a ser entendido como uma construção lógica e jurídica independentemente de quem o ocupa de forma temporária e representativa Em busca da razão prática Nos séculos XVII e XVIII o fortalecimento de um poderoso mercado internacional praticamente de âmbito mundial o avanço da produção em massa início da Revolução Industrial na Inglaterra no século XVIII e a consolidação do lucro como atividade desejável e eticamente aceitável foram fatores que estimularam a intelectualidade burguesa a avançar para a elaboração de um pensamento próprio A sociedade apresentava necessidades urgentes que desafiavam os cientistas De um lado melhores condições de vida De outro o desenvolvimento tecnológico capaz de baratear os produtos aumentando a produtividade e a armazenação de mercadorias a transporte e a produção de bens A sociedade apresentava para a indústria a cultura de massa Mas planejar e projetar o futuro exigia o aperfeiçoamento do conceito de Estado nacional A nação deveria se orientar por uma política que favorecesse a prosperidade e a acumulação de riqueza e que visse no indivíduo sua mola mestra Um indivíduo pleno de desejos e expectativas de realização pessoal e de liberdade para agir movimentarse consumir gerir negócios e lucrar Novos valores guiando a vida social para sua modernização produziam num clima confiante em relação ao futuro do homem o que levou a esse surto de ideias conhecido pelo nome Ilustração Um movimento que propunha uma atitude curiosa e livre que se estendia tanto à elaboração teórica como à sistematização observação empírica Que acreditava ser o conhecimento fonte de saber de realização e satisfação para a humanidade Que acreditava na evolução do ser humano figura 2 As ideias iluministas de progresso contudo conviviam com uma mentalidade menos otimista que admitia a exploração a escravidão e até mesmo o genocídio Nas cidades o desenvolvimento urbano fazia surgir áreas degradadas e miseráveis Mas também esses aspectos da industrialização e do colonialismo se apresentavam como problemas e estímulos ao saber científico Liberalismo a filosofia social dos séculos XVII e XVIII A Ilustração além de manter uma postura racionalista diante do conhecimento também desenvolveu o liberalismo movimento filosófico em defesa da liberdade nos mais diversos campos da ação humana político religioso econômico e social O liberalismo correspondeu ao interesse burguês em emanciparse das amarras da monarquia e da defesa dos privilégios da nobreza Tendo por base a ideia de que a sociedade era regida por leis naturais semelhantes em seu determinismo àquelas que regem a natureza os filósofos da Ilustração rejeitavam toda forma de controle político que intervisse sobre essa racionalidade natural e física Assim o mercado era concebido como o espaço da livre ação das leis que regulam a oferta a procura e o preço rejeitandose toda forma de controle não natural realizado pelo Estado O conhecimento dessas leis e da forma como atuavam era o objetivo principal do pensamento ilustrado O princípio de liberdade admitia que livre de coibições obstáculos e jugos o homem seria capaz de exercer sua soberania escolhendo corretamente entre os fins e os objetivos propostos As leis naturais regulariam as relações econômicas e as sociedades seriam construídas com base na vontade livre nas relações contratuais firmadas entre os homens John Locke pensador inglês defendia a ideia da sociedade resultante da livre associação entre indivíduos dotados de razão e que também teria uma base contratual que regulasse o poder e as garantias da liberdade individual Entre os direitos individuais Locke reconhecia o respeito à propriedade Recomendava que tais princípios direitos e liberdades estivessem expressos e garantidos por uma constituição JeanJacques Rousseau nascido na Suíça mas cuja atuação se deu principalmente na França foi um dos mais ardorosos defensores desta ideia Em sua obra Contrato social afirmou que a base da vida social estava no interesse comum e no consentimento unânime dos homens em renunciar às suas vontades particulares em favor da coletividade Mas pessimista que outros filósofos da sua época Rousseau antes da publicação das ideias evolucionistas de Darwin no século XIX rejeitava a ideia de evolução natural da sociedade e buscava desvendar a origem das desigualdades sociais identificando no aparecimento da propriedade privada a fonte de toda injustiça social Tornouse assim partidário de uma sociedade que defendesse princípios igualitários e cuja organização tivesse uma base livre contratual principiando as Revoluções Francesas que se avizinhava Esses filósofos davam início a uma forma de pensar que levaria à descoberta das bases materiais das relações sociais Legitimidade e liberalismo A ideia de Estado como uma entidade cuja legitimidade se baseia na pretensa representação da sociedade é um avanço em relação à ideia de monarquia absoluta Não se trata mais de uma pessoa que governa por direito de herança e sangue mas de uma instituição abstrata que administra um território a partir de pactos estabelecidos pela coletividade A filosofia social da Ilustração concebía também a ideia de nação como o gerenciamento e a administração de leis riquezas e poder Nesse processo pressupõese a noção de conflito de interesses e o confronto social As ideias de Locke e Montesquieu outro importante pensador da Ilustração foram a base para a Constituição dos Estados Unidos de 1787 e o modelo republicano existente até hoje Desenvolvendo a ideia abordada por Locke Montesquieu pregou a divisão do Estado em três poderes autônomos o Executivo o Legislativo e o Judiciário que seriam exercidos por diferentes pessoas recurso necessário para garantir a distribuição da autoridade em uma nação Adam Smith o nascimento da ciência econômica Adam Smith foi considerado o fundador da ciência econômica e demonstrou que a análise científica podia ir além do que era expresso manifestamente nos vontades individuais Na busca por entender a origem da riqueza das nações Smith identificou no trabalho ou seja na produtividade a grande fonte de produção de valor Não somente a agricultura como queriam uns na indústria como queriam outros mas principalmente o trabalho capaz de transformar matéria bruta em mercadoria era responsável pela riqueza das nações Nesse esforço por compreender as relações econômicas Adam Smith não pensava a sociedade como um conjunto de indivíduos dotados de vontade e liberdade tal como havia feito Locke Sensível à verdadeira natureza da vida social Adam Smith percebia que a coletividade era muito mais do que a soma dos indivíduos que a compõem definindo a sociedade como um conjunto de seres cujo comportamento obedece a regras diferentes das que regem a ação individual figura 3 A Revolução Industrial estava em pleno andamento e seus frutos se anunciavam O milagre da ciência A filosofia da Ilustração preparou o terreno para o surgimento das ciências sociais no século XIX lançando as bases para a sistematização do pensamento científico e espalhando otimismo em relação a ele As ideias de progresso racionalismo e cientificismo exerceram todo um encanto sobre a mentalidade da época figura 4 Preparavase o caminho para o amplo progresso científico que iria afloroar no final do século XIX Se esse pensamento racional e científico parecia válido para explicar a natureza intervir sobre ela e transformála ele poderia também explicar a sociedade entendendo então como parte da natureza Assim por associação a sociedade poderia também ser conhecida e transformada submetendoa ao domínio do conhecimento humano As questões de método O filósofo da Ilustração preocupouse não só com o conhecimento da natureza mas também com o desenvolvimento de método mais adequado para esse fim Desse interesse derivaram diferentes modelos de pesquisa e de maneiras de se fazer ciência figuras 5 e 6 O primeiro foi a indução método que combina o conhecimento como resultado da experimentação contínua e do aprofundamento da manipulação empírica defendido por Bacon desde o alvorecer do Renascimento O segundo de Descartes foi o método dedutivo que propunha uma forma de conhecimento baseada no encadeamento lógico de hipóteses elaboradas a partir da razão A ciência se fundava portanto como um conjunto de ideias que diziam respeito à natureza dos fatos e aos métodos para compreendêlos Por isso as primeiras questões que os sociólogos do século XIX tentam responder são relativas à identificação e à definição dos fatos sociais e ao método mais apropriado de investigação O anticlericalismo teve importância especial para o desenvolvimento científico e de uma postura especulativa diante da natureza e da sociedade Era professado por inúmeros filósofos dessa época entre os quais se destacava o francês Voltaire Ferrenho questionador da religião e da Igreja Católica chegou a mover ações judiciais para revisão de antigos processos de inquisição Conseguindo comprovar a injustiça de alguns veredictos eclesiásticos e até obteve indenizações para as famílias dos condenados A Igreja foi questionada como fonte de poder secular político e econômico visto que se imiscuiu em questões cíveis e de Estado Tal questionamento levou à descrença na doutrina e na infalibilidade eclesiástica bem como ao repúdio da atuação do clero na vida secular Esse processo denominado por alguns historiadores laicização da sociedade e por outros descristianização atingiu seu apogeu no século XIX quando se desenvolveu o materialismo e quando a própria religião se viu transformada em objeto de estudo pelos cientistas sociais Esse outro laço e especulativo sobre a doutrina religiosa impulsionou o desenvolvimento das ciências humanas em particular das ciências sociais ao passo que a sociedade deixou de ser vista como criação divina e as dificuldades humanas deixaram de ser pensadas como castigo A ciência já não parecia mais uma forma particular de saber mas a única capaz de explicar o fato abolir e suplantar as crenças religiosas e até mesmo as discussões éticas Eduardo Friere foi um dos historiadores que registraram a penetração do pensamento iluminista no Brasil estudando os Autos da devassas especialmente os documentos referentes ao inconfiável cônego Luís Vieira da Silva Entre outros fatores o cônego foi condenado por possuir uma biblioteca importante com títulos de autores franceses que pregavam o pensamento anticlerical crítico e liberal Voltaire e Montesquieu foram alguns dos autores proibidos cujas obras enviavam aos brasileiros que a sociedade resultava daquilo que seus membros desejavam dela Outra obra que testemunha a penetração do Iluminismo no Brasil é Cartas chilenas atribuída a Tomás Antônio Gonzaga na qual o autor critica o autoritarismo e os desmandos do governo De notório e metafórico critica a política colonial e para evitar represálias o autor usou o pseudônimo de Crítico e situou sua obra num país estrangeiro o Chile Por seu envolvimento na Inconfidência Mineira figura 7 Gonzaga foi condenado ao degredo em Moçambique O positivismo foi o primeiro a definir precisamente o objeto a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação e a definir a especificidade do estudo científico da sociedade Conseguiu distinguilo de outras áreas do conhecimento instituindo um espaço próprio à ciência das sociedades Seu principal representante e sistematizador foi o pensador francês Auguste Comte O nome positivismo tem sua origem no adjetivo positivo que significa certo seguro definitivo Como escola filosófica derivou do científico isto é a crença no poder dominante e absoluto da razão humana em colocar a realidade e traduzila sob a forma de leis que serviriam de base à regulamentação da vida do homem da natureza e do próprio universo O positivismo reconhecia os princípios reguladores do mundo físico e do mundo social diferenciavam quant à sua essência os primeiros diziam respeito a acontecimentos exteriores aos homens os outros a questões humanas Entretanto a crença na origem natural de ambos teve o poder de aproximálos Além disso a rápida evolução dos conhecimentos das ciências naturais física química biologia e o sucesso de suas descobertas atraíram os primeiros cientistas sociais para o seu método de investigação O próprio Comte antes de criar o termo sociologia chamou suas análises da sociedade de física social A filosofia social positivista se inspirava no método de investigação das ciências da natureza assim como procurava identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais os cientistas explicavam a vida natural figura 8 na página seguinte A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente segundo um modelo físico ou mecânico Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo A maioria dos primeiros pensadores sociais positivistas permaneceu presa a uma reflexão de natureza filosófica sobre a história e a ação humanas Procedimentos de natureza científica análises sociológicas baseadas em fatos observados com maior sistematização teórica e metodologia de pesquisa só seriam introduzidos por Émile Durkheim e seu grupo que estudaremos no próximo capítulo Como resultado de forças biológicas e naturais a luta pela sobrevivência e o sucesso das espécies vencedoras nesse embate tornaramse justificáveis por uma visão desenvolvimentista e evolucionista algo nunca pensado por Darwin Transposto para a análise da sociedade esse princípio resultou no chamado darwinismo social segundo o qual as sociedades se modificam e se desenvolvem passando de um estágio inferior para outro superior tornando o organismo social mais evoluído mais adaptado e mais complexo Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos sociedades e indivíduos mais fortes e mais evoluídos Por isso os cientistas sociais estudaram as sociedades tradicionais encontradas na África na Ásia na América e na Oceania como exemplos de estágios anteriores primitivos do passado da humanidade Assim as sociedades mais simples e de tecnologia menos avançada deveriam evoluir em direção a níveis de maior complexidade até atingir o estágio mais avançado o capitalismo europeu Uma visão crítica do darwinismo social ontem e hoje A transposição de conceitos físicos e biológicos para o estudo das sociedades e do comportamento humano promoveu diversas interpretações graves que legitimaram ações guiadas por preconceito e interesses particulares Um desses desvios ocorreu com a aplicação do conceito de espécie de Darwin para o estudo das diferentes sociedades e etnias Se o homem constitui biologicamente uma única espécie o mesmo não se pode dizer das diferentes culturas que ele desenvolveu O caráter cultural imprime na vida humana princípios diferentes daqueles existentes na natureza Os princípios da seleção natural só aplicáveis àquelas espécies incapazes de transformar o ambiente em favor da sua adaptação e sobrevivência Hoje percebese que a complexidade da cultura humana tem limitado a ação da lei de seleção natural A adaptabilidade do homem e a capacidade de controlar e de moldar o seu entorno de maneira especial e relativa Mesmo assim continua prevalecendo a ideia de que as leis de evolução explicadas pelo homem admitem que o entendimento dos dois movimentos elegiam o progresso como princípio das transformações sociais em direção à evolução das sociedades à ordem o princípio regulador do ajustamento e da integração em torno a um objetivo comum Pressupõese que a competitividade seja o princípio natural que assegura a sobrevivência do melhor do mais forte e do mais adaptado É preciso lembrar que o mercado como outros elementos da cultura humana obedece a formas de organização social essencialmente humanas resultantes do desenvolvimento das relações entre os homens e entre as sociedades Formas portanto mutáveis e relativas E embora essas ideias tenham sido criticadas por diversos autores na sociologia a crença de que o sucesso depende de princípios de seleção natural permanece vigente nos dias atuais Ordem e progresso O darwinismo social além de justificar o colonialismo da Europa no restante do mundo reflete o grande otimismo com que o progresso material da industrialização era percebido pelo europeu Apesar desse otimismo em relação ao caráter apto e evoluído da sociedade europeia o desenvolvimento industrial gerava a todo momento novos conflitos sociais Os empobrecidos e explorados camponeses e operários organizavamse exigindo mudanças políticas e econômicas Admitiamse então dois tipos diferentes de movimento na sociedade Um levaria à evolução social segundo a lei universal as sociedades mais simples se tornariam mais complexas e as sociedades menos avançadas se tornariam mais evoluídas Outro procuraria ajustar todos os indivíduos às condições estabelecidas garantindo o melhor funcionamento da sociedade o bem comum e os anseios da população Esses dois movimentos elegiam o progresso como princípio das transformações sociais em direção à evolução das sociedades à ordem o princípio regulador do ajustamento e da integração em torno de um objetivo comum Darwinismo social Herbert Spencer foi o primeiro a aplicar os princípios evolucionistas na sociologia mas o termo só foi popularizado pelo historiador e intelectual norteamericano Richard Hofstadter Em sua mais conhecida obra Social darwinism in America thought 18601915 o autor criticou o capitalismo norteamericano por sua competitividade em relação às diferentes sociedades e culturas O darwinismo social como fluxo conhecido buscou explicar a transformação das sociedades a revolução tecnológica e a industrialização e justificar as diferenças entre as culturas e as relações interétnicas e internacionais Essa corrente aplica às diferentes sociedades as leis de evolução das espécies biológicas propostas por Charles Darwin No século XIX o capitalismo buscava ultrapassar os limites do continente europeu O colonialismo foi a saída para a sua expansão dominando terras e populações e submetendoas aos seus interesses Para isso povos foram dizimados culturas originais foram reprimidas e o capitalismo espalhouse pelo mundo Nas colônias os europeus tiveram de lidar com civilizações organizadas sob princípios diferentes dos seus Tornavase necessário organizar essas colônias sob novos moldes societários submetendoas aos princípios que regiam o capitalismo Transformar esse mundo conquistado em colônias que se submetessem aos valores capitalistas requeria uma empresa de grande envergadura Dessa forma a conquista europeia revestiuse de uma aparência humanitária que ocultava a violência da ação colonizadora Era a missão civilizadora que países como Inglaterra França Holanda Alemanha e Itália implantavam em diversas regiões do mundo tentando moldálos para se assemelharem à sociedade capitalista industrial europeia do século XIX Também Portugal e Bélgica forjaram colônias em território africano Essa forma de pensar baseavase na interpretação deturpada das ideias do biólogo Charles Darwin em sua obra A origem das espécies na qual propunha que as variações das espécies inclusive o homem eram resultado da seleção natural e da adaptação ao meio em que vivem Tal hipótese entretanto resultou numa visão equivocada e evolucionista que explica as transformações ao longo do tempo como sobrevivências de espécies mais complexas aptas e desenvolvidas Figura 11 Família iraquiana passa por soldados norteamericanos em Bagdá 2003 O ataque injustificado dos Estados Unidos ao Iraque em 2003 foi batizado como Operação Iraque Livre cujo apregoado objetivo era livrar o mundo de um ditador terrível Saddam Hussein apoiado pelos próprios Estados Unidos décadas atrás Auguste Comte foi um dos autores que defendeu a existência des dois movimentos vitais chamou de dinâmico o que representa a passagem por formas mais complexas de existência como a industrialização e de estático o responsável pela preservação dos elementos permanentes do tecido organizacional social A família a religião a propriedade a linguagem e o direito seriam as instituições responsáveis por esse movimento estático de coesão social Por esse motivo os movimentos reivindicatórios os conflitos e as revoltas deveriam ser contidos sempre que pusessem em risco a ordem estabelecida ou o funcionamento da sociedade ou ainda quando inibissem o progresso Justificavase desse modo a intervenção na sociedade sempre que fosse necessário assegurar a ordem ou promover o progresso A existência da sociedade burguesa industrial era defendida tanto em face dos movimentos reivindicatórios que aconteciam em seu próprio interior quanto em face da resistência das colônias em aceitar o modelo industrial e urbano Essas ideias tiveram plena aceitação no século XIX época de expansão e exploração europeia sobre o mundo mas permanecem vivas e atuais ainda hoje Os Estados Unidos e a União Soviética que disputavam a hegemonia sobre o planeta durante a Guerra Fria 19451991 também justificavam as intervenções que fizeram nos outros países como bens nós mesmos argumentos civilizatórios do passado As intervenções dos Estados Unidos no Afeganistão 2001 e no Iraque 1992 e 2003 vêm coroadas de princípios humanitários e libertários que ainda explicam as diferenças sociais e culturais como diferenças de grau es desenvolvimentos e evolução figura 11 Atividades Compreensão do texto 1 Faça uma síntese dos principais avanços conceituais realizados pelos humanistas e encerclopedistas na ilustração acerca da política do poder e do governo 2 Adam Smith foi o criador de uma das mais importantes contribuições às ciências sociais ao desmistificar a origem da riqueza Qual foi essa desmistificação 3 Quais foram as primeiras e fundamentais questões que os sociólogos pioneiros do século XIX tiveram que enfrentar e por quê 4 Qual foi a influência da teoria de Charles Darwin no pensamento sociológico positivista 5 Como a ideia evolucionista da biologia transposta para as ciências sociais condicionou a visão dos europeus sobre as sociedades não europeias durante o imperialismo 6 Quais os dois movimentos que Comte distinguia na sociedade Como ele os relacionava Interpretação e problematização 7 Uma vez que homem nenhum possui uma autoridade natural sobre seu semelhante e que a força não produz nenhum direito restam pois as convenções como base de toda autoridade legítima entre os homens ROUSSEAU JeanJacques O contrato social e outros escritos São Paulo Cultrix 1980 p 25 Nesse trecho Rousseau a considera natural a autoridade de um homem sobre outro Por quê b legitima a autoridade de uma pessoa sobre outra 8 René Descartes afirmou em seu Discurso sobre o método Porque os nossos sentidos nos enganam às vezes quis supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos fazem imaginar De que maneira essa frase representa sua postura diante do conhecimento 9 No capítulo procuramos explicar as diferenças entre dois métodos de conhecimento o dedutivo e o indutivo um baseado na lógica e o outro na experiência Dê dois exemplos de pesquisa nos quais você perceba a aplicação dessas metodologias 10 Com base nas características do pensamento positivista analise este texto de Comte Nossa exploração histórica deverá ficar quase unicamente reduzida à seleção ou à vanguarda da humanidade compreendendo a maior parte da raça branca ou as nações europeias e até limitandonos para maior precisão sobre todos os tempos modernos aos povos da Europa Central Curso de filosofia positiva In AYALA Francisco História da sociologia Buenos Aires Losada 1947 p 77 Cinema O homem aranha II de Sam Raimi EUA 2004 127 min O herói das histórias em quadrinhos aparece em uma série de filmes Parker é o protagonista que ao ser picado por uma aranha durante uma experiência científica adquire poderes extraordinários Esse filme mostra a ambiguidade da ciência que tanto pode levar ao bem como ao mal A sociologia é a ciência que estuda a sociedade humana e cujo desenvolvimento se deu a partir da necessidade de compreensão do homem e de sua vida em grupo figura 1 Augus Para Durkheim os fatos sociais distinguemse dos fatos orgânicos ou psicológicos por se imporem ao indivíduo como uma poderosa força coercitiva e obrigatória se submeter Além da coerção e da exterioridade é possível distinguir fatos sociais porque eles não se apresentam como fatos isolados Eles são dotados de generalidade envolvem mu A ciência só aparece quando o espírito fazendo abstração de toda preocupação prática aborda as coisas como o único fim de representálas Da mesma maneira que nas ciências naturais o cientista social deve aprender a realidade que o cerca sem distorcêla de acordo com seus desejos e interesses particulares Deveria deixar de lado seus preconceitos isto é valores e sentimentos pessoais em relação aquilo que está sendo estudado pois tudo que nos mobiliza nossas simpatias paixões e opiniões dificulta o conhecimento verdadeiro fazendonos confundir o que vemos com aquilo que queremos ver Levando às últimas consequências esse distanciamento que o cientista deve manter em relação a seu objeto de estudo Durkheim aconselha o sociólogo a encarar os fatos sociais como coisas isto é objetos que ele deve observar descrever e analisarlos por meio de ins o sociológico deve também se manter neutro diante da opinião dos próprios envolvidos nas situações analisadas pois elas representam juízos de valor individuais aos quais Durkheim propõe o exerc a necessidade de o cientista inquirir sobre a veracidade e objetividade dos fatos estudados procurando anular sempre a influência de seus desejos interesses e preconceitos Suicídio Em 2003 cerca de 900 mil pessoas cometeram suicídio no mundo inteiro Em 2004 aproximadamente 8 mil brasileiros a própria vida Embora a taxa média no Brasil não seja considerada alta Com o auxílio de estatísticas mostra em seguida Durkheim que o suicídio é com certeza um fato social na medida em que em todos os países a taxa de suicídios se mantém constante de um ano para outro A longo prazo ainda por cima a evolução dos suicídios se inscreve em curvas que têm formas similares para todos os países da Europa Os diversos entre regiões e países são igualmente constantes LALLEMENT Michael História das ideias sociológicas Petrópolis Vozes 2003 p 218 2 Normalidade e patologia nos fatos sociais Para Durkheim a sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade como também encontrar soluções para problemas da vida social A sociedade como todo organismo apresenta estados que podem ser considerados normais ou patológicos isto é saudáveis ou doentios Podese considerar um fato social como normal quando se encontra generalizado pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua adaptação ou evolução Assim por exemplo ele afirma que o crime é normal não apenas por ser encontrado em toda e qualquer sociedade em todos os tempos mas também por representar um fato social que o crime tem portanto uma importante função social Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os fatos sociais têm existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular Embora todos tenham sua consciência individual seu modo próprio de se comportar e interpretar a vida podemse notar no interior de qualquer grupo ou sociedade formas padronizadas de conduta e pensamento Essa constatação está na base do que Durkheim chamou de consciência coletiva A consciência coletiva não se baseia na consciência de indivíduos singulares ou de grupos específicos mas está disseminada por toda a sociedade Ela revelaria segundo Durkheim o tipo psíquico da sociedade que não seria apenas o produto das consciências individuais mas algo diferente que se importaria mais é considerada imoral reprovável ou criminosa 4 Morfologia social as espécies sociais Durkheim também considerava como um dos objetivos do sociolo economistas e no mesmo lugar em que a produção era socialmente organizada Divisão social do trabalho Entendese por divisão social do trabalho a organização da sociedade em diferentes funções exercidas pelos indivíduos ou grupos de indivíduos Nas sociedades mais simples predomina a divisão social do trabalho baseada principalmente em critérios biológicos de sexo e idade Em sociedades mais complexas como a industrial surge uma divisão social mais complexa com a criação de uma imensa gama de funções e atribuições diferenciadas Compreensão do texto 1 O que é fato social conforme a teoria desenvolvida por Durkheim 2 Na versão de Durkheim quais são as três características básicas que distinguem os fatos sociais dos fatos orgânicos ou psicológicos Explique 3 Quais são os passos que um cientista social deve seguir para garantir a sua neutralidade na análise dos fatos sociais 4 Que lei geral Durkheim estabelece para a evolução das espécies sociais 5 O que é solidariedade orgânica 6 Por que o suicídio e o crime podem ser considerados fatos sociais normais na perspectiva durkheimiana Para os bons resultados desse trabalho de constituição de uma morfologia social Durkheim orienta os sociólogos a se valerem de apurada observação empírica Foi por meio dela que pode identificar dois tipos diferentes de solidariedade entre os homens provenientes da divisão social do trabalho a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica figura 5 A passagem de um tipo para outro constituía uma metamorfose de um estágio inferior de vida social a outro superior Durkheim considerava a generalidade elemento essencial do fato social Procure em jornais e periódicos fatos sociais segundo esse critério Durkheim afirma que a sociedade exerce sobre nós pressões para agirmos em conformidade com as regras sociais e também para desenvolvermos sentimentos e juízos de valor A imagem abaixo nos indica formas de sentir de julgar e de se comportar Quais são elas UELPR Émile Durkheim analisando a organização da sociedade e o papel dos indivíduos em relação à criminalidade e ao direito afirma que supondo que a pena possa realmente servir para protegernos no futuro estimamos que deva ser antes de tudo uma expiação do passado O que prova são as precauções minuciosas que tomamos para proporcionála tão exatamente quanto possível à gravidade do crime elas seriam inexplicáveis se acreditássemos que o culpado deve sofrer porque fez o mal e na mesma medida Podemos dizer pois que a pena consiste em uma reação passional de intensidade graduada Mas de onde emana esta reação Do indivíduo ou da sociedade Há portanto um forte contraste entre o positivismo durkheimiano e o idealismo alemão que se expressa entre outros elementos nas maneiras diferentes como cada uma dessas correntes encara a história Para o positivismo a história é o processo universal de evolução da humanidade de cujos estágios o cientista pode perceber pelo método comparativo capaz de aproximar sociedades humanas de todos os tempos e lugares A história particular de cada sociedade desaparece diluindo nessa lei geral que os pensadores positivistas tentaram reconstruir figure 5 Essa forma de pensar torna insignificantes as particularidades históricas as individualidades que são dissolvidas em meio a forças positivistas Max Weber pensador dominante na sociologia alemã compreendia a pesquisa como histórico e é essencial para a compreensão das sociedades Essa pesquisa baseada na coleta de documentos e no esforço interpretativo das fontes permite o entendimento das diferenças sociais contradições sociais que serviam para Weber de gênero de formação e não de estágios de evolução Portanto segundo a perspectiva de Weber o caráter particular e específico de cada formação social deve ser respeitado O conhecimento histórico entendendo como a busca de evidências tornase um poderoso instrumento para o cientista social Com essa perspectiva Weber consegue combinar duas abordagens a história que resgata as particularidades de cada sociedade e a sociologia que ressalta os elementos mais gerais de cada fase do processo histórico Weber descartava em suas análises históricas todo determinismo e a ideia de uma sucessão necessária de estágios pelos quais passariam todas as sociedades Do mesmo modo rejeitava princípios idealistas que avaliavam a vida social por razões de valor e não da análise empírica Reconhecia entretanto que aquilo que se obtém dos estudos históricos e da análise de documentos são dados esparsos que podem ser interpretados pelo cientista social resultando em uma compreensão lógica dos acontecimentos Essa lógica não deixava de emprestar todavia um caráter geral à elucidação da vida social Assim partindo da indução raciocínio que se serve de indícios para chegar a uma causa por eles tornada evidente e da análise empírica admitia a possibilidade de construções teóricas mais abrangentes Weber buscou na escola neokantiana que surgiu na Alemanha em meados do século XIX origens do idealismo alemão as bases para seu método de análise sociológica que também ficou conhecido como método compreensivo Entre os neokantianos ganhou destaque Wilhelm Dilthey que na tentativa de separar a ciência da humanidade da ciência natural estabeleceu a diferença entre os modos explicativo e compreensivo O modo explicativo era a característica essencial das ciências naturais que buscavam determinar o fator causal dos fenômenos ou seja buscavam explicar as causas que davam existência aos fenômenos naturais figure 6 A compreensão seria o modo típico das ciências humanas que não devia explicar os fatos em si determinandoos às suas causas imediatas mas compreender os processos da ação humana e seu significado Consequentemente o ponto de partida da sociologia de Weber não estava nas entidades coletivas grupos ou instituições Seu objeto de investigação era a ação social a conduta humana dotada de sentido ou seja que se justifica subjetivamente elaborada Na teoria weberiana ao se estabelecer a conexão entre motivo e ação o homem enquanto agente social ganha sentido e relevância Na obra Economia e sociedade Weber identifica três diferentes tipos de ação social de acordo com suas diversas motivações Ação tradicional orientada pelo costume tradição ou hábitos familiares Ação afetiva resultante das pulsões e paixões Ação racional guiada por um valor de ordem ética estética ou religiosa Por exemplo o motivo que leva uma pessoa a um duelo ou a arriscar a vida por uma ideia Se para a sociologia positivista a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles para Weber ao contrário não existe oposição absoluta entre indivíduo e sociedade as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação O motivo que transparece na ação social permite desvendar o seu sentido pode ser expresso pelo agente ou estar implícito em sua atitude ou comportamento Esse motivo individual e subjetivo é também social na medida em que cada um age levando em conta a resposta ou a reação dos outros Ao cientista compete compreender o sentido das diferentes ações sociais e prever as suas consequências muitas das quais imperceptíveis para os próprios agentes É possível decompor a ação social em diferentes etapas desvendando suas conexões O simples ato de enviar uma correspondência ou email é composto de uma série de ações sociais escrever enviar e receber que terminam por realizar um objetivo Por outro lado muitos agentes ou atores estão relacionados a essa ação social o atendente o carteiro o técnico o provedor etc Essa interdependência entre os sentidos das diversas ações mesmo que orientadas por motivos diversos é que dá a esse conjunto de ações seu caráter social O cientista social identificando essa motivação desvenda diferentes instâncias da vida social política econômica ou religiosa Esse esforço de compreensão todavia não está relacionado com a análise psicológica Por mais individual que seja a intenção de um agente por um impulso interno e pessoal sua ação envolve a ação de outros e a teia de ações interdependentes que caracteriza a vida social manifestase figure 7 Por outro lado Weber distingue ação social de relação social Para que se estabeleça uma relação social é preciso que o sentido seja compartilhado Por exemplo um sujeito que pede uma informação a outro estabelece uma ação social ele tem um motivo e age em relação a uma relação social Numa sala de aula este um objetivo da ação de vários sujeitos e compartilhado existe uma relação social Pela frequência com que certas ações sociais se manifestam o cientista pode conceber suas tendências e levar os indivíduos em dada sociedade a agir de determinado modo Weber no desenvolvimento de sua teoria como vimos rejeita as propostas positivistas ou a crença de que sociedades reproduzem um mesmo modelo de transformação histórica que as leva de estágios de organização inferiores ou mais simples para outros mais elevados ou complexos Weber também descarta como elemento central para explicar a emergência dos fatos sociais a oposição durkheimiana entre indivíduo e sociedade que no entendimento de como o indivíduo atua e integra a vida social quer no papel que desempenha o cientista em seus estudos das sociedades As atitudes e as motivações tanto do indivíduo como do cientista dão sentido às ações sociais e colocam o sociólogo em condições de interpretar tais ações percebendolhes o significado e a direção Embora Weber não exija do sociólogo a neutralidade defendida pelos positivistas diante da realidade ele não considera que o objetivo da sociologia seja a transformação social como preconiza Durkheim Assim as pesquisas de Weber mesmo sendo importantes para a sua atuação não estabeleçam uma análise profunda e objetiva da realidade nem do estudo da realidade Conforme a citação aponta o tipo ideal reúne características gerais que definem a forma como dado fenômeno se manifesta embora tais aspectos não precisem estar sempre presentes na sua totalidade nem da mesma maneira É importante lembrar no entanto que o tipo ideal não tem relação com as espécies sociais de Durkheim que pretendiam ser exemplos de sociedades observadas em diferentes graus de complexidade num continuum evolutivo Weber desenvolveu estudos sobre a história o direito e as religiões o que permitiu que suas análises interessassem a diferentes setores como o direito a política e as ciências sociais Unindo essas diversas visões procurava compor um cenário que permitisse compreender a sociedade de seu tempo envolvendose entre as tradições e as inovações Weber identificou como características predominantes do capitalismo industrial a racionalidade a busca contínua por fins cuja trajetória não estivesse marcada pelas tradições nem pelos costumes Constituída por tipos ideais essa classificação é apenas abstrata mas permite entender as diferenças e identificar os tipos de autoridade existentes Cabe ao cientista social reconhecêlos na realidade e estudar suas graus de variância A ética protestante e o espírito do capitalismo Um dos trabalhos mais conhecidos e importantes de Weber é A ética protestante e o espírito do capitalismo no qual ele estuda a relação entre racionalidade e crença religiosa tendo por objeto o protestantismo e o comportamento capitalista ocidental moderno Weber partiu de dados estatísticos que lhe mostraram a proeminência de adeptos da Reforma Protestante entre os grandes homens de negócios empresários bemsucedidos e trabalhadores qualificados A partir daí procurou estabelecer conexões entre a doutrina e a pregação protestantes e seus efeitos no comportamento dos indivíduos e no desenvolvimento do capitalismo res materiais o protestante puritano se adapta facilmente ao mercado de trabalho acumula capital e reinveste produtivamente figura 10 A importância de Weber para a sociologia Weber deu uma contribuição importantíssima para o desenvolvimento da sociologia Em meio a uma tradição filosófica peculiar a alemã e vivendo os problemas próprios de seu país diversos dos EUA França e da Inglaterra na mesma época pôde desenvolver pressupostos não influenciados pelo racionalismo positivista de origem anglofrancesa Sua contribuição para a sociologia tornouse referência obrigatória Mostrou em seus estudos a fecundidade da análise histórica e da compreensão qualitativa dos processos históricos e sociais Sabendo que Weber pressupõe certa parcialidade do cientista em relação ao objeto de estudo isto é um interesse próprio quanto à motivação por que mesmo assim ele considera suas conclusões científicas A imagem a seguir corresponde a um jogo para computador cujo objetivo é fazer de você o fundador e administrador de uma cidade Observe a imagem e a partir das suas observações explique por que um jogo como esse torna o jogador um sociólogo na prática Cite exemplos com base nessa imagem Quando um espaço contendo muitos objetos é iluminado por luzes de diversas cores vindas de várias fontes obtemos diferentes imagens cada uma colocando em destaque certos contornos e formas De maneira análoga é isso que acontece com o campo científico os pressupostos teóricos iluminam de modo peculiar a realidade resultando diferentes níveis de abordagem e modelos teóricos particulares O pensamento marxista foi sintetizador de diferentes preocupações filosóficas políticas e científicas de sua época Dialética A noção moderna de dialética define como a contraposição de forças de oposição em dado momento histórico cujo confronto provoca a transformação social Foi com Karl Marx que o termo se tornou recorrente no campo das ciências sociais Para entender o capitalismo e explicar a natureza da organização econômica humana Marx desenvolveu uma teoria abrangente e universal que procura dar conta de toda e qualquer forma produtiva criada pelo homem Os princípios básicos dessa teoria estão expressos em seu método de análise o materialismo histórico Marx parte do princípio de que a estrutura de uma sociedade qualquer reflete a forma como os homens se organizam para a produção social de bens que engloba dois fatores fundamentais as forças produtivas e as relações de produção Materialismo histórico O conceito referese à metodologia elaborada por Karl Marx para explicar o desenvolvimento histórico da sociedade humana desde sua origem Segundo seus pressupostos o social tem origem nas bases materiais da vida social ou seja na sua infraestrutura Figuras 4 e 5 A esquerda camponeses tosquiando ovelhas Horas da Virgem c 1515 À direita nobres durante banquete comemorativo do AnoNovo Livro das ricas horas do duque de Berry século XV Segundo Meuri na época feudal as relações de produção eram Outro conceito fundamental do marxismo é o de classes sociais Para Marx liberdade e justiça direitos inalienáveis e considerados naturais pelo liberalismo não resistem às evidências da desigualdade sociais promovidas pelas relações de produção que dividem os homens em proprietários e não proprietários dos meios de produção Dessa divisão originase as classes sociais os proletários trabalhadores despojados dos meios de produção que vendem sua força de trabalho em troca de salário e os burgueses que possuindo meios de produção sob a forma legal da propriedade privada apropriamse do produto do trabalho de seus operários em troca do salário do qual eles dependem para sobreviver As classes sociais formadas no capitalismo industrial burgueses e proletários estabeleceram desigualdades intraprovinciais entre os homens e relações que são de antagonsimo e exploração O antagonismo e a exploração derivam dos interesses inconciliáveis entre as classes O capitalista procura preservar seu direito à propriedade dos meios de produção e dos produtos O trabalhador por sua vez luta contra a exploração A produção artesanal europeia da Idade Média e do Renascimento quando o trabalhador era dono de sua oficina e dos instrumentos de produção foi aos poucos substituída por oficinas organizadas pelos comerciantes enriquecidos A generalização desses galpões originou em meados do século XVIII na Inglaterra a Revolução Industrial que levou os artesãos individuais à falência As máquinas e tudo mais necessário ao processo produtivo força motriz instalações matériasprimas ficaram acessíveis somente aos empresários capitalistas com os quais os artesãos isolados já não podiam competir A maior parte desses artesãos destituída da produção individual se converteram em trabalhadores livres isto é sem meios de produção Empregaramse nas indústrias como operários formando junto aos trabalhadores vindos do campo uma nova classe social O capitalista pode lucrar simplesmente aumentando o preço de venda do produto por exemplo cobrando 200 unidades de moeda pelo par de sapatos Mas o simples aumento de preços é um recurso transitório e com o tempo traz problemas De um lado uma mercadoria qualquer pode provocar elevação generalizada nos demais produtos Isso pode ocorrer durante algum tempo mas se a disputa se prolongar poderá levar o sistema econômico à desorganização De acordo com a análise de Marx não é no âmbito da compra e da venda que as mercadorias se encontram às bases estáveis para o lucro dos capitalistas individuais nem para a manutenção do sistema capitalista Ao final da jornada de trabalho o operário recebe 30 unidades de moeda ainda que seu trabalho tenha rendido o dobro ao capitalista 20 unidades de moeda por par de sapatos produzido 150 130 totalizando 60 unidades de moeda 20 x 3 Esse valor é mas não retorna ao operário é apropriado pelo capitalista figura 10 Visualizase portanto que uma coisa é o valor da força de trabalho isto é o salário e outra é o quanto esse trabalho rende ao capitalista Esse valor excedente produzido pelo operário é o que Marx chama de maisvalia O capitalista pode obter maisvalia procurando aumentar constantemente a jornada de trabalho tal como no nosso exemplo segundo Marx é a maisvalia absoluta Porém não é possível estender indefinidamente a jornada de trabalho A outra forma de obter maisvalia é melhorando a tecnologia de produção A tecnologia aplicada faz aumentar a produtividade isto é as mesmas horas de trabalho agora produzem um número maior de mercadorias A mecanização também faz com que a qualidade dos produtos dependam menos da habilidade e do conhecimento técnico do trabalhador individual Numa situação dessas portanto a força de trabalho vale cada vez menos e ao mesmo tempo graças à maquinaria desenvolvida produz cada vez mais Esse é em essência o processo de obtenção daquilo que Marx denomina maisvalia relativa O processo descrito esclarece a dependência do capitalismo em relação ao desenvolvimento das tecnologias de produção Mostra ainda como o trabalho sob o capital perde todo o atrativo e faz do operário mero apêndice da máquina As relações políticas Após essa análise detalhada do modo de produção capitalista Marx passa ao estudo das formas políticas construídas no seu interior Ele constata que as diferenças entre as classes sociais não se reduzem a diversas quantidades de riquezas mas expressam uma diferença de existência material Os indivíduos de uma mesma classe social partilham uma situação de classe que lhes é comum incluindo valores comportamentos regras de convivência e interesses A essas diferenças econômicas e sociais seguese uma desigual distribuição de poder As classes economicamente dominantes desejam apropriarse do aparato de poder e dos planos econômicos e políticos Cada forma assumida pelo Estado no seio da burguesia seja sob o regime feudal monárquico constitucional ou ditatorial representa rendimentos mineiros pelas quais se transforma num comitê para gerir os negócios comuns da burguesia figura 11 A amplitude da contribuição de Marx A teoria marxista repercutiu de maneira decisiva não só na Europa objeto primordial de seus estudos como nas colônias europeias e em movimentos de independência Incentivou os operários a organizar partidos marxistas e sindicatos revolucionários levou intelectuais à crítica da realidade e influenciou as atividades científicas de modo geral e as ciências humanas em particular Por outro lado cada sociedade representava para Marx uma totalidade isto é um conjunto único e integrado das diversas formas de organização humana nas suas mais diversas instâncias Entretanto apesar de considerar as sociedades da sua época e do passado como totalidades e como situações históricas concretas Marx conseguiu pela profundidade de suas análises extrair conclusões de caráter geral e aplicáveis a formas sociais diferentes O materialismo histórico e a ciência O sucesso e a penetração do materialismo histórico no campo da ciência ciências política econômica e social e na organização política devemse ao universalismo de seus princípios e ao caráter totalitário que Marx imprime às suas ideias Devemse também ao caráter militante das ideias propostas voltadas para a ação prática e para a prática revolucionária Ao ser disseminado pelo mundo e vulgarizado o marxismo começou a ser identificado como todo movimento revolucionário que propunha combater as desigualdades sociais entre homens e mulheres entre diferentes grupos nacionais étnicos e religiosos Todos eles passaram a ser considerados movimentos de esquerda figura 12 Nessa perspectiva objetividade não é uma questão de método mas de como o pensamento científico se insere no contexto das relações de produção e na história A ideia de uma sociedade doente ou normal preocupações dos cientistas sociais positivistas desaparecem em Marx Para ele a sociedade é constituída de relações de conflito e é essa dinâmica que surge a mudança social Fenômenos como luta contradição revolução e exploração são constituintes dos diversos momentos históricos e não disjunções sociais Não é preciso afirmar a contribuição da teoria marxista para o desenvolvimento das ciências sociais A abordagem do conflito da dinâmica histórica da relação entre consciência e realidade inserem o homem e de sua práxis no contexto social com tantas abandonadas pelos sociólogos Isso sem contar a habilidade com que o método marxista possibilita o constante deslocamento do geral para o particular das macrossociais para suas manifestações históricas do movimento estrutural da sociedade para a ação humana individual e coletiva A teoria marxista teve ampla aceitação teórica e metodológica quanto à política e revolucionária Em 1917 uma revolução inspirada nas ideias marxistas a Revolução Bolchevique na Rússia criou no mundo o primeiro Estado operário Essa revolução impulsionou a teoria marxista em todo o mundo Na sociologia chinesa mesmo dominar várias gerações de sociólogos O fim da União Soviética 69 anos após o seu surgimento não significou o fim da história ou da sociologia em osgontamento do marxismo como postura teórica das mais amplas e fecundas com um poder de explicação não alcançado pelas análises posteriores figura 13 O que é materialismo histórico Quais são os elementos constitutivos das forças produtivas O que é modo de produção Qual é a importância desse conceito para a análise que Marx faz das sociedades Que relação Marx estabelece entre trabalho e valor Como podemos definir maisvalia O que Marx entende por história Como o marxismo influencia a sociologia Essa influência terminou nos dias de hoje Leia o texto e responda às questões A história de todas as sociedades existentes até hoje tem sido a história das lutas de classes Homem livre e escravo patrício e plebeu barão e servo mestre de corporação e companheiro numa palavra opressores e oprimidos têm permanecido em constante oposição uns aos outros envolvidos numa guerra interrompida ora disfarçada ora aberta que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das duas classes em luta a Que classes sociais Marx identifica ao longo da história b Como são as relações entre elas c Como se dão segundo Marx as transformações em uma sociedade de classes Os homens fazem sua própria história mas não a fazem como querem não a fazem sob circunstâncias da sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente legadas e transmitidas pelo passado Aplicando os conceitos de maisvalia absoluta e de maisvalia relativa de que modo podemos julgar o avanço tecnológico da indústria para os trabalhadores
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Cristina Costa Moderna Sociologia a criação do campo do saber 8 Capítulo 10 Pobreza e exclusão 128 1 Utopia e realidade 128 2 Desigualdade e pobreza 128 3 Estado de carência múltipla 132 4 Urbanização e criminalidade 134 5 O estigma da pobreza 135 6 Um exercício de reserva 137 Aprofundando conteúdos Pobreza no Brasil 138 Atividades 140 Sugestões 143 Capítulo 18 Cultura de massa 238 1 A imprensa renascentista 238 2 O grande público 239 3 O estudo da massa 241 4 Cultura de massa e homogeneização da sociedade 243 5 Cultura de massa poder político e poder econômico 244 Atividades 246 Capítulo 29 Do Homo faber ao homem como força motriz 382 1 Paus pedrasossos e sacolas 382 2 Fabricar instrumentos não é uma especificidade do ser humano 383 3 A aceleração do desenvolvimento tecnológico 385 4 A transformação do homem em força motriz 387 5 Consequências sociais do emprego da tecnologia 389 Atividades 390 Sociologia a criação do campo do saber O conceito de natureza O conceito de natureza é hoje determinado em larga medida pela forma e pela significação sociais que as ciências da natureza lhe conferem Mas essas ciências interessamse apenas por um setor limitado do universo Se quisermos compreender isso o que se chama natureza entretanto será preciso levarmos em conta o fato de que os seres humanos surgiram do universo físico Numa palavra teremos de incluir no conceito de natureza a capacidade que ela tem de produzir no curso de processos cegos não apenas reatores de hélio ou de outros lunares mas também seres humanos CAPÍTULO 1 Da era précientífica ao Renascimento 1 O conhecimento como característica da humanidade Ao observarmos animais de diferentes espécies percebemos a existência de regularidades comportamentais que caracterizam a vida de cada grupo eles se reúnem convivem competem e se acasalam de forma ordenada reproduzindo um certo modelo que varia em função do ambiente em que vivem A preservação das espécies animais e sua adaptação parecem ser como afirmou Darwin na teoria sobre a evolução das espécies o objetivo desses hábitos de vida da forma de convivência e da sociabilidade Assim os animais desenvolvem esses comportamentos que lhes permitem a reprodução e sobrevivência Esperamos ajudar os leitores a entender melhor o mundo que os cerca e a tornálos mais sensíveis em relação à sua participação como membros da espécie humana que é tão peculiar 2 A sociologia um conhecimento de todos Palavras e expressões como contexto social classe estrato camada movimento e conflito social são hoje muito veiculadas pelos meios de comunicação de massa e aparecem nos discursos políticos na publicidade e no dia a dia das pessoas Há referências por exemplo às classes sociais elites e pressões sociais como se fossem termos que fazem parte de um vocabulário conhecido por todos como se políticos eleitores e eleitores soubessem exatamente o que elas significam Cada vez mais pesquisas para os mais diversos fins veiculam os resultados do público em geral demonstram entender os procedimentos atitudes emoções e sentimentos de suas características sociais Assim como certas regularidades de grupo exposto às mesmas circunstâncias determinam a existência de particularidades em nossa forma de interagir nacionalizando assim modos de agir e pensar de acordo com classe social ou etnia Não se constroem mais cidades não se desenvolvem campanhas políticas nem se declaram guerras sem levar em consideração as pessoas envolvidas suas crenças seus interesses suas ideologias e tradições enfim tudo aquilo que motiva sua ação e guia sua conduta A sociedade tem características que precisam ser conhecidas para que aqueles que nela atuam atinjam seus objetivos Isso significa que nenhum setor da vida social prescinde dos conhecimentos sociológicos pois a ação consciente é programada exige pesquisa planejamento e método figura 3 É por isso que a sociologia faz parte dos programas básicos dos cursos universitários que preparam os mais diversos profissionais dentistas a artistas de engenheiros a jornalistas e por isso também o sociólogo integra equipes nos mais diversos setores da vida social Desafios da sociologia hoje Sistematizados com o desenvolvimento das cidades e da indústria as teorias sociológicas orientam os demais cientistas na compreensão da vida social e do comportamento coletivo O diálogo estabelecido com as diversas áreas do saber garantiu à sociologia uma dimensão interdisciplinar ao mesmo tempo que enriquece os diversos campos científicos Além dessa abrangência e interdisciplinaridade conquistada pelo conhecimento sociológico as teorias desenvolvidas têm tido especial aplicação na elucidação do comportamento dos cidadãos em relação à sociedade em que vivem Dessa forma a sociologia tem sido importante na educação política e na prática da cidadania Finalmente a sociologia é particularmente necessária em épocas de crise e mudanças como a que vivenciamos quando as instituições se transformam quando as relações sociais se afrouxam quando padrões éticos são abandonados ou ainda quando novas ideologias se difundem é hora de pensar a vida social de modo sistemático e consequente É em razão desses fatores e especialmente da complexidade da vida contemporânea e das transformações que estão em processo que a sociologia se torna indispensável à formação dos jovens dos profissionais e dos cidadãos A emergência do pensamento científico Pensar cientificamente o ser humano e a vida social resultou de um lento processo pelo qual a ciência em geral e as ciências humanas em particular foram ganhando espaço e legitimidade Além disso embora o pensamento abstrato seja uma das principais características da humanidade os modelos de conhecimento que o homem desenvolveu não foram sempre os mesmos Os povos desenvolveram diferentes formas de explicação a respeito da vida da natureza e da sociedade em que vivem dependendo dos fatores sociais da tradição da influência de outros grupos da maior ou menor resistência cultural No mundo antigo tal qual o entendido hoje predominou o pensamento mítico e religioso que concebida o mundo como uma obra divina submetida aos designs do criador Para os egípcios como para os babilônios a eficiência do pensar limitavase ao pragmatismo à necessidade de solucionar problemas particulares que se apresentavam como obstáculos ao transcurso da existência O pensar como um exercício voltado para si mesmo capaz de se desenvolver sem aplicabilidade imediata independentemente das crenças religiosas e do pensamento mítico teve suas raízes históricas na civilização grega O pensamento especulativo grego Entre os séculos VI e V aC os gregos romperam com o senso comum criando um vínculo com o pensamento mítico Com essa mudança desenvolveram uma reflexão laica e independente própria do pensamento especulativo que se debruçava sobre o mundo procurando entendêlo em sua objetividade Em consequência acabaram por criar a filosofia e muitos dos campos do saber até hoje conhecidos como a geometria e a astronomia figura 4 Alguns historiadores dão o nome de milagre grego a esse salto qualitativo do conhecimento humano sobre si e a natureza em que se abandonaram a explicação mítica e o princípio da interferência dos fatores sobrenaturais nos destinos do homem para dirigirse à obtenção do saber por meio da razão comandada pela razão A ideia de milagre porém por um lado das primeiras repercussões associadas à vida do período da época e de períodos posteriores e por outro da falsa impressão de ser um fenômeno autêntico vinda de nada e corrida rapidamente A ciência individual emancipadase à medida que o homem ganhou constância externa ao resultado da ação humana e não da vontade dos deuses e do respeito aos rituais sagrados Crescia nela a percepção de um indivíduo dotado de força capaz de alterar a natureza às regras inspiradas por ela Apesar do grande avanço no conhecimento das características da realidade proporcionado pelos gregos eles não conseguiram em seu tempo vislumbrar muitas das dimensões que o universo da ciência afirmaria só se tornar predominante nos séculos mais tarde a partir do Renascimento séculos XIVXVI O crescimento das cidades e do comércio as viagens marítimas o contato com outros povos desafiavam os homens a pensar a sua realidade próxima e a comparar diferentes culturas Descobertas de riquezas de terras de regiões alimentavam a imaginação do homem renascentista que passou a valorizar o novo e a considerálo sinônimo de maravilhoso Estimulados por ele muitos rompiam com o passado e buscavam novas explicações para um cenário diferente que se descortinava e para o qual as antigas crenças não serviam mais O desenvolvimento tecnológico que se tornou cada vez mais acentuado promoveu novas maneiras de olhar o mundo provocando mudanças nas relações humanas e na produção material da vida Ao criar a prensa de tipos móveis Johannes Gutenberg deu à Europa o instrumento que faltava para saciar a ávida necessidade da comunidade leigapensante de ler os clássicos realizar pesquisas empíricas elaborar hipóteses e tornálas conhecidas Iniciouse então um processo acelerado de divulgação do conhecimento e de hegemonia da cultura letrada aspectos importantes para o desenvolvimento da ciência e do conhecimento As pessoas passaram a buscar a coerência dos textos trabalho indispensável para esclarecer a legitimidade das ideias ali expostas A reflexão A reflexão e a argumentação começaram a dispensar a noção de verdade revelada O Renascimento se caracterizara por uma nova postura do homem ocidental diante da natureza e do conhecimento Hegemônico Termo que designa a posição da dominância de uma pessoa grupo social ou instância da vida social sobre uma totalidade que é múltipla e diversificada Dessa forma a hegemonia implica diferentes graus de imposição de uma parte sobre o todo As utopias criadas por Thomas Morus e Tommaso Campanella eram um exercício literário e sociológico no qual os autores reinventavam o pensamento social inventavam instituições políticas não autoritárias mecanismos de controle justos e formas igualitárias de produção e distribuição de bens Essas obras demonstravam que seus autores já eram capazes de pensar criticamente a sociedade e procuravam soluções que dependiam essencialmente da vontade humana A sociedade deixava de ser mero cenário para desenvolver da vida e tornavase parte da cena e da ação do homem Niccolau Maquiavel 14691527 Nasceu em Florença mas fez sua carreira diplomática em diversos países da Europa De 1502 a 1512 esteve a serviço de Soderini um dos mais poderosos estadistas de Florença Ajudouo nas decisões políticas escrevendolhe a dificuldade em exercer florentino Foi exilado e afastado da vida pública quando Soderini foi removido do governo por Lourenço o Médici A partir daí tentou convencerse a ensinar e a escrever sobre a arte de governar e a ação política É considerado o fundador da ciência política e segundo alguns jamais foi superado nesse campo Suas principais obras são O príncipe e Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio A visão laica da sociedade e do poder É em obras de Thomas Morus e de Maquiavel que percebemos como as relações sociais passam a constituir objeto de estudo dotado de atributos próprios e a paz social deixa de ser como no passado consequência da ação divina ou da obediência dos homens às escritura Nelas a sociedade já aparece como resultado das condições econômicas e políticas e não da providência divina ou seja uma visão laica da sociedade Além disso esses filósofos expressam os novos valores da época ao colar os destinos da sociedade e de sua boa organização nas mãos de um governante que se distingue por suas características individuais A monarquia proposta no Renascimento não se assenta apenas na legitimidade dada segundo uma linhagem na herança ou na tradição mas também na capacidade pessoal do soberano e em sua sabedoria O cientificismo A valorização das trocas comerciais e as novas possibilidades de lucro que se abriram ao comerciante burguês acabaram por repercutir na produção estimulandoa Tornouse urgente produzir mais e em condições capazes de responder à demanda que se tornava cada vez mais insistente Racionalidade e planejamento começaram a ser exigidos dos produtores e tornouse necessário o desenvolvimento de tecnologia para a produção em larga escala O estímulo à invenção de tecnologia para a produção em larga escala A tecnologia ajudava também na conquista de terras e na guerra entre povos uns procurando sobrepujar os outros estabelecendo diferentes formas de poder bélico comercial e político Essas condições incentivouse a pesquisa científica e se disseminaram atitudes de planejamento e racionalidade que aos poucos se inseriram na produção e no restante da vida cotidiana buscouse conhecer os mecanismos que regulam o mundo circundante procurando entender a vida e a natureza Atividades Compreensão do texto Interpretação e problematização Questões de vestibular e do Enem 13 Udesc O termo Renascimento é comummente aplicado ao movimento de mudanças culturais que atingiu as camadas urbanas da Europa Ocidental entre os séculos XV e XVI Sobre as características que ajudam a definir esse movimento assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as afirmativas falsas Uma das características mais marcantes do Renascimento foi seu racionalismo convicção de que tudo pode ser explicado pela razão do homem e pela ciência As bases desse movimento eram proporcionadas por uma corrente filosófica o Humanismo que valorizava o homem e a natureza em oposição ao divino e ao sobrenatural conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade Média Há retomada dos valores da cultura grecoromana ou seja da cultura clássica O Universalismo foi uma das principais características do Renascimento considerava que o homem deve desenvolver todas as áreas do saber Leonardo da Vinci é o principal modelo desse homem universal Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo a V V F F b V V V V c V V F V d F V V V e F V F F 14 UFGGO Um príncipe desejoso de conservarse no poder tem de aprender os meios de não ser bom MAQUIAVEL N O príncipe In WEFFORT Francisco Os clássicos da política São Paulo Ática 1993 p 37 Com Nicolau Maquiavel constituise um novo pensamento político crítico em relação aos critérios que fundamentavam a legitimidade do príncipe medieval Explique por que o pensamento político moderno excluiu a bondade como critério legitimador do poder do príncipe CAPÍTULO 2 Da ilustração ao nascimento das ciências sociais 1 Iluminismo a sociedade inteligível A Ilustração movimento filosófico que sucedeu o Renascimento baseavase na firme convicção da razão como fonte de conhecimento na crítica a toda adesão obscurantista e toda crença sem fundamentos racionais e também na incessante busca pela realização humana Em relação à vida social os filósofos da Ilustração procuraram entender a sociedade como um organismo vivo ou seja composto de partes interdependentes Desse exercício de discernimento resultou também a compreensão de diferentes instâncias da vida social as relações políticas jurídicas e sociais figura 1 Das relações entre as partes e as instâncias constituintes depende o funcionamento de todo no qual se fundamenta o conhecimento de que um conjunto organizado de relações interdependentes o homem enquanto ser social marca dá lugar à noção de uma coletividade organizada e contratual representada por sistemas legais políticos e administrativos convenientes O poder passa a ser entendido como uma construção lógica e jurídica independentemente de quem o ocupa de forma temporária e representativa Em busca da razão prática Nos séculos XVII e XVIII o fortalecimento de um poderoso mercado internacional praticamente de âmbito mundial o avanço da produção em massa início da Revolução Industrial na Inglaterra no século XVIII e a consolidação do lucro como atividade desejável e eticamente aceitável foram fatores que estimularam a intelectualidade burguesa a avançar para a elaboração de um pensamento próprio A sociedade apresentava necessidades urgentes que desafiavam os cientistas De um lado melhores condições de vida De outro o desenvolvimento tecnológico capaz de baratear os produtos aumentando a produtividade e a armazenação de mercadorias a transporte e a produção de bens A sociedade apresentava para a indústria a cultura de massa Mas planejar e projetar o futuro exigia o aperfeiçoamento do conceito de Estado nacional A nação deveria se orientar por uma política que favorecesse a prosperidade e a acumulação de riqueza e que visse no indivíduo sua mola mestra Um indivíduo pleno de desejos e expectativas de realização pessoal e de liberdade para agir movimentarse consumir gerir negócios e lucrar Novos valores guiando a vida social para sua modernização produziam num clima confiante em relação ao futuro do homem o que levou a esse surto de ideias conhecido pelo nome Ilustração Um movimento que propunha uma atitude curiosa e livre que se estendia tanto à elaboração teórica como à sistematização observação empírica Que acreditava ser o conhecimento fonte de saber de realização e satisfação para a humanidade Que acreditava na evolução do ser humano figura 2 As ideias iluministas de progresso contudo conviviam com uma mentalidade menos otimista que admitia a exploração a escravidão e até mesmo o genocídio Nas cidades o desenvolvimento urbano fazia surgir áreas degradadas e miseráveis Mas também esses aspectos da industrialização e do colonialismo se apresentavam como problemas e estímulos ao saber científico Liberalismo a filosofia social dos séculos XVII e XVIII A Ilustração além de manter uma postura racionalista diante do conhecimento também desenvolveu o liberalismo movimento filosófico em defesa da liberdade nos mais diversos campos da ação humana político religioso econômico e social O liberalismo correspondeu ao interesse burguês em emanciparse das amarras da monarquia e da defesa dos privilégios da nobreza Tendo por base a ideia de que a sociedade era regida por leis naturais semelhantes em seu determinismo àquelas que regem a natureza os filósofos da Ilustração rejeitavam toda forma de controle político que intervisse sobre essa racionalidade natural e física Assim o mercado era concebido como o espaço da livre ação das leis que regulam a oferta a procura e o preço rejeitandose toda forma de controle não natural realizado pelo Estado O conhecimento dessas leis e da forma como atuavam era o objetivo principal do pensamento ilustrado O princípio de liberdade admitia que livre de coibições obstáculos e jugos o homem seria capaz de exercer sua soberania escolhendo corretamente entre os fins e os objetivos propostos As leis naturais regulariam as relações econômicas e as sociedades seriam construídas com base na vontade livre nas relações contratuais firmadas entre os homens John Locke pensador inglês defendia a ideia da sociedade resultante da livre associação entre indivíduos dotados de razão e que também teria uma base contratual que regulasse o poder e as garantias da liberdade individual Entre os direitos individuais Locke reconhecia o respeito à propriedade Recomendava que tais princípios direitos e liberdades estivessem expressos e garantidos por uma constituição JeanJacques Rousseau nascido na Suíça mas cuja atuação se deu principalmente na França foi um dos mais ardorosos defensores desta ideia Em sua obra Contrato social afirmou que a base da vida social estava no interesse comum e no consentimento unânime dos homens em renunciar às suas vontades particulares em favor da coletividade Mas pessimista que outros filósofos da sua época Rousseau antes da publicação das ideias evolucionistas de Darwin no século XIX rejeitava a ideia de evolução natural da sociedade e buscava desvendar a origem das desigualdades sociais identificando no aparecimento da propriedade privada a fonte de toda injustiça social Tornouse assim partidário de uma sociedade que defendesse princípios igualitários e cuja organização tivesse uma base livre contratual principiando as Revoluções Francesas que se avizinhava Esses filósofos davam início a uma forma de pensar que levaria à descoberta das bases materiais das relações sociais Legitimidade e liberalismo A ideia de Estado como uma entidade cuja legitimidade se baseia na pretensa representação da sociedade é um avanço em relação à ideia de monarquia absoluta Não se trata mais de uma pessoa que governa por direito de herança e sangue mas de uma instituição abstrata que administra um território a partir de pactos estabelecidos pela coletividade A filosofia social da Ilustração concebía também a ideia de nação como o gerenciamento e a administração de leis riquezas e poder Nesse processo pressupõese a noção de conflito de interesses e o confronto social As ideias de Locke e Montesquieu outro importante pensador da Ilustração foram a base para a Constituição dos Estados Unidos de 1787 e o modelo republicano existente até hoje Desenvolvendo a ideia abordada por Locke Montesquieu pregou a divisão do Estado em três poderes autônomos o Executivo o Legislativo e o Judiciário que seriam exercidos por diferentes pessoas recurso necessário para garantir a distribuição da autoridade em uma nação Adam Smith o nascimento da ciência econômica Adam Smith foi considerado o fundador da ciência econômica e demonstrou que a análise científica podia ir além do que era expresso manifestamente nos vontades individuais Na busca por entender a origem da riqueza das nações Smith identificou no trabalho ou seja na produtividade a grande fonte de produção de valor Não somente a agricultura como queriam uns na indústria como queriam outros mas principalmente o trabalho capaz de transformar matéria bruta em mercadoria era responsável pela riqueza das nações Nesse esforço por compreender as relações econômicas Adam Smith não pensava a sociedade como um conjunto de indivíduos dotados de vontade e liberdade tal como havia feito Locke Sensível à verdadeira natureza da vida social Adam Smith percebia que a coletividade era muito mais do que a soma dos indivíduos que a compõem definindo a sociedade como um conjunto de seres cujo comportamento obedece a regras diferentes das que regem a ação individual figura 3 A Revolução Industrial estava em pleno andamento e seus frutos se anunciavam O milagre da ciência A filosofia da Ilustração preparou o terreno para o surgimento das ciências sociais no século XIX lançando as bases para a sistematização do pensamento científico e espalhando otimismo em relação a ele As ideias de progresso racionalismo e cientificismo exerceram todo um encanto sobre a mentalidade da época figura 4 Preparavase o caminho para o amplo progresso científico que iria afloroar no final do século XIX Se esse pensamento racional e científico parecia válido para explicar a natureza intervir sobre ela e transformála ele poderia também explicar a sociedade entendendo então como parte da natureza Assim por associação a sociedade poderia também ser conhecida e transformada submetendoa ao domínio do conhecimento humano As questões de método O filósofo da Ilustração preocupouse não só com o conhecimento da natureza mas também com o desenvolvimento de método mais adequado para esse fim Desse interesse derivaram diferentes modelos de pesquisa e de maneiras de se fazer ciência figuras 5 e 6 O primeiro foi a indução método que combina o conhecimento como resultado da experimentação contínua e do aprofundamento da manipulação empírica defendido por Bacon desde o alvorecer do Renascimento O segundo de Descartes foi o método dedutivo que propunha uma forma de conhecimento baseada no encadeamento lógico de hipóteses elaboradas a partir da razão A ciência se fundava portanto como um conjunto de ideias que diziam respeito à natureza dos fatos e aos métodos para compreendêlos Por isso as primeiras questões que os sociólogos do século XIX tentam responder são relativas à identificação e à definição dos fatos sociais e ao método mais apropriado de investigação O anticlericalismo teve importância especial para o desenvolvimento científico e de uma postura especulativa diante da natureza e da sociedade Era professado por inúmeros filósofos dessa época entre os quais se destacava o francês Voltaire Ferrenho questionador da religião e da Igreja Católica chegou a mover ações judiciais para revisão de antigos processos de inquisição Conseguindo comprovar a injustiça de alguns veredictos eclesiásticos e até obteve indenizações para as famílias dos condenados A Igreja foi questionada como fonte de poder secular político e econômico visto que se imiscuiu em questões cíveis e de Estado Tal questionamento levou à descrença na doutrina e na infalibilidade eclesiástica bem como ao repúdio da atuação do clero na vida secular Esse processo denominado por alguns historiadores laicização da sociedade e por outros descristianização atingiu seu apogeu no século XIX quando se desenvolveu o materialismo e quando a própria religião se viu transformada em objeto de estudo pelos cientistas sociais Esse outro laço e especulativo sobre a doutrina religiosa impulsionou o desenvolvimento das ciências humanas em particular das ciências sociais ao passo que a sociedade deixou de ser vista como criação divina e as dificuldades humanas deixaram de ser pensadas como castigo A ciência já não parecia mais uma forma particular de saber mas a única capaz de explicar o fato abolir e suplantar as crenças religiosas e até mesmo as discussões éticas Eduardo Friere foi um dos historiadores que registraram a penetração do pensamento iluminista no Brasil estudando os Autos da devassas especialmente os documentos referentes ao inconfiável cônego Luís Vieira da Silva Entre outros fatores o cônego foi condenado por possuir uma biblioteca importante com títulos de autores franceses que pregavam o pensamento anticlerical crítico e liberal Voltaire e Montesquieu foram alguns dos autores proibidos cujas obras enviavam aos brasileiros que a sociedade resultava daquilo que seus membros desejavam dela Outra obra que testemunha a penetração do Iluminismo no Brasil é Cartas chilenas atribuída a Tomás Antônio Gonzaga na qual o autor critica o autoritarismo e os desmandos do governo De notório e metafórico critica a política colonial e para evitar represálias o autor usou o pseudônimo de Crítico e situou sua obra num país estrangeiro o Chile Por seu envolvimento na Inconfidência Mineira figura 7 Gonzaga foi condenado ao degredo em Moçambique O positivismo foi o primeiro a definir precisamente o objeto a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação e a definir a especificidade do estudo científico da sociedade Conseguiu distinguilo de outras áreas do conhecimento instituindo um espaço próprio à ciência das sociedades Seu principal representante e sistematizador foi o pensador francês Auguste Comte O nome positivismo tem sua origem no adjetivo positivo que significa certo seguro definitivo Como escola filosófica derivou do científico isto é a crença no poder dominante e absoluto da razão humana em colocar a realidade e traduzila sob a forma de leis que serviriam de base à regulamentação da vida do homem da natureza e do próprio universo O positivismo reconhecia os princípios reguladores do mundo físico e do mundo social diferenciavam quant à sua essência os primeiros diziam respeito a acontecimentos exteriores aos homens os outros a questões humanas Entretanto a crença na origem natural de ambos teve o poder de aproximálos Além disso a rápida evolução dos conhecimentos das ciências naturais física química biologia e o sucesso de suas descobertas atraíram os primeiros cientistas sociais para o seu método de investigação O próprio Comte antes de criar o termo sociologia chamou suas análises da sociedade de física social A filosofia social positivista se inspirava no método de investigação das ciências da natureza assim como procurava identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais os cientistas explicavam a vida natural figura 8 na página seguinte A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente segundo um modelo físico ou mecânico Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo A maioria dos primeiros pensadores sociais positivistas permaneceu presa a uma reflexão de natureza filosófica sobre a história e a ação humanas Procedimentos de natureza científica análises sociológicas baseadas em fatos observados com maior sistematização teórica e metodologia de pesquisa só seriam introduzidos por Émile Durkheim e seu grupo que estudaremos no próximo capítulo Como resultado de forças biológicas e naturais a luta pela sobrevivência e o sucesso das espécies vencedoras nesse embate tornaramse justificáveis por uma visão desenvolvimentista e evolucionista algo nunca pensado por Darwin Transposto para a análise da sociedade esse princípio resultou no chamado darwinismo social segundo o qual as sociedades se modificam e se desenvolvem passando de um estágio inferior para outro superior tornando o organismo social mais evoluído mais adaptado e mais complexo Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos sociedades e indivíduos mais fortes e mais evoluídos Por isso os cientistas sociais estudaram as sociedades tradicionais encontradas na África na Ásia na América e na Oceania como exemplos de estágios anteriores primitivos do passado da humanidade Assim as sociedades mais simples e de tecnologia menos avançada deveriam evoluir em direção a níveis de maior complexidade até atingir o estágio mais avançado o capitalismo europeu Uma visão crítica do darwinismo social ontem e hoje A transposição de conceitos físicos e biológicos para o estudo das sociedades e do comportamento humano promoveu diversas interpretações graves que legitimaram ações guiadas por preconceito e interesses particulares Um desses desvios ocorreu com a aplicação do conceito de espécie de Darwin para o estudo das diferentes sociedades e etnias Se o homem constitui biologicamente uma única espécie o mesmo não se pode dizer das diferentes culturas que ele desenvolveu O caráter cultural imprime na vida humana princípios diferentes daqueles existentes na natureza Os princípios da seleção natural só aplicáveis àquelas espécies incapazes de transformar o ambiente em favor da sua adaptação e sobrevivência Hoje percebese que a complexidade da cultura humana tem limitado a ação da lei de seleção natural A adaptabilidade do homem e a capacidade de controlar e de moldar o seu entorno de maneira especial e relativa Mesmo assim continua prevalecendo a ideia de que as leis de evolução explicadas pelo homem admitem que o entendimento dos dois movimentos elegiam o progresso como princípio das transformações sociais em direção à evolução das sociedades à ordem o princípio regulador do ajustamento e da integração em torno a um objetivo comum Pressupõese que a competitividade seja o princípio natural que assegura a sobrevivência do melhor do mais forte e do mais adaptado É preciso lembrar que o mercado como outros elementos da cultura humana obedece a formas de organização social essencialmente humanas resultantes do desenvolvimento das relações entre os homens e entre as sociedades Formas portanto mutáveis e relativas E embora essas ideias tenham sido criticadas por diversos autores na sociologia a crença de que o sucesso depende de princípios de seleção natural permanece vigente nos dias atuais Ordem e progresso O darwinismo social além de justificar o colonialismo da Europa no restante do mundo reflete o grande otimismo com que o progresso material da industrialização era percebido pelo europeu Apesar desse otimismo em relação ao caráter apto e evoluído da sociedade europeia o desenvolvimento industrial gerava a todo momento novos conflitos sociais Os empobrecidos e explorados camponeses e operários organizavamse exigindo mudanças políticas e econômicas Admitiamse então dois tipos diferentes de movimento na sociedade Um levaria à evolução social segundo a lei universal as sociedades mais simples se tornariam mais complexas e as sociedades menos avançadas se tornariam mais evoluídas Outro procuraria ajustar todos os indivíduos às condições estabelecidas garantindo o melhor funcionamento da sociedade o bem comum e os anseios da população Esses dois movimentos elegiam o progresso como princípio das transformações sociais em direção à evolução das sociedades à ordem o princípio regulador do ajustamento e da integração em torno de um objetivo comum Darwinismo social Herbert Spencer foi o primeiro a aplicar os princípios evolucionistas na sociologia mas o termo só foi popularizado pelo historiador e intelectual norteamericano Richard Hofstadter Em sua mais conhecida obra Social darwinism in America thought 18601915 o autor criticou o capitalismo norteamericano por sua competitividade em relação às diferentes sociedades e culturas O darwinismo social como fluxo conhecido buscou explicar a transformação das sociedades a revolução tecnológica e a industrialização e justificar as diferenças entre as culturas e as relações interétnicas e internacionais Essa corrente aplica às diferentes sociedades as leis de evolução das espécies biológicas propostas por Charles Darwin No século XIX o capitalismo buscava ultrapassar os limites do continente europeu O colonialismo foi a saída para a sua expansão dominando terras e populações e submetendoas aos seus interesses Para isso povos foram dizimados culturas originais foram reprimidas e o capitalismo espalhouse pelo mundo Nas colônias os europeus tiveram de lidar com civilizações organizadas sob princípios diferentes dos seus Tornavase necessário organizar essas colônias sob novos moldes societários submetendoas aos princípios que regiam o capitalismo Transformar esse mundo conquistado em colônias que se submetessem aos valores capitalistas requeria uma empresa de grande envergadura Dessa forma a conquista europeia revestiuse de uma aparência humanitária que ocultava a violência da ação colonizadora Era a missão civilizadora que países como Inglaterra França Holanda Alemanha e Itália implantavam em diversas regiões do mundo tentando moldálos para se assemelharem à sociedade capitalista industrial europeia do século XIX Também Portugal e Bélgica forjaram colônias em território africano Essa forma de pensar baseavase na interpretação deturpada das ideias do biólogo Charles Darwin em sua obra A origem das espécies na qual propunha que as variações das espécies inclusive o homem eram resultado da seleção natural e da adaptação ao meio em que vivem Tal hipótese entretanto resultou numa visão equivocada e evolucionista que explica as transformações ao longo do tempo como sobrevivências de espécies mais complexas aptas e desenvolvidas Figura 11 Família iraquiana passa por soldados norteamericanos em Bagdá 2003 O ataque injustificado dos Estados Unidos ao Iraque em 2003 foi batizado como Operação Iraque Livre cujo apregoado objetivo era livrar o mundo de um ditador terrível Saddam Hussein apoiado pelos próprios Estados Unidos décadas atrás Auguste Comte foi um dos autores que defendeu a existência des dois movimentos vitais chamou de dinâmico o que representa a passagem por formas mais complexas de existência como a industrialização e de estático o responsável pela preservação dos elementos permanentes do tecido organizacional social A família a religião a propriedade a linguagem e o direito seriam as instituições responsáveis por esse movimento estático de coesão social Por esse motivo os movimentos reivindicatórios os conflitos e as revoltas deveriam ser contidos sempre que pusessem em risco a ordem estabelecida ou o funcionamento da sociedade ou ainda quando inibissem o progresso Justificavase desse modo a intervenção na sociedade sempre que fosse necessário assegurar a ordem ou promover o progresso A existência da sociedade burguesa industrial era defendida tanto em face dos movimentos reivindicatórios que aconteciam em seu próprio interior quanto em face da resistência das colônias em aceitar o modelo industrial e urbano Essas ideias tiveram plena aceitação no século XIX época de expansão e exploração europeia sobre o mundo mas permanecem vivas e atuais ainda hoje Os Estados Unidos e a União Soviética que disputavam a hegemonia sobre o planeta durante a Guerra Fria 19451991 também justificavam as intervenções que fizeram nos outros países como bens nós mesmos argumentos civilizatórios do passado As intervenções dos Estados Unidos no Afeganistão 2001 e no Iraque 1992 e 2003 vêm coroadas de princípios humanitários e libertários que ainda explicam as diferenças sociais e culturais como diferenças de grau es desenvolvimentos e evolução figura 11 Atividades Compreensão do texto 1 Faça uma síntese dos principais avanços conceituais realizados pelos humanistas e encerclopedistas na ilustração acerca da política do poder e do governo 2 Adam Smith foi o criador de uma das mais importantes contribuições às ciências sociais ao desmistificar a origem da riqueza Qual foi essa desmistificação 3 Quais foram as primeiras e fundamentais questões que os sociólogos pioneiros do século XIX tiveram que enfrentar e por quê 4 Qual foi a influência da teoria de Charles Darwin no pensamento sociológico positivista 5 Como a ideia evolucionista da biologia transposta para as ciências sociais condicionou a visão dos europeus sobre as sociedades não europeias durante o imperialismo 6 Quais os dois movimentos que Comte distinguia na sociedade Como ele os relacionava Interpretação e problematização 7 Uma vez que homem nenhum possui uma autoridade natural sobre seu semelhante e que a força não produz nenhum direito restam pois as convenções como base de toda autoridade legítima entre os homens ROUSSEAU JeanJacques O contrato social e outros escritos São Paulo Cultrix 1980 p 25 Nesse trecho Rousseau a considera natural a autoridade de um homem sobre outro Por quê b legitima a autoridade de uma pessoa sobre outra 8 René Descartes afirmou em seu Discurso sobre o método Porque os nossos sentidos nos enganam às vezes quis supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos fazem imaginar De que maneira essa frase representa sua postura diante do conhecimento 9 No capítulo procuramos explicar as diferenças entre dois métodos de conhecimento o dedutivo e o indutivo um baseado na lógica e o outro na experiência Dê dois exemplos de pesquisa nos quais você perceba a aplicação dessas metodologias 10 Com base nas características do pensamento positivista analise este texto de Comte Nossa exploração histórica deverá ficar quase unicamente reduzida à seleção ou à vanguarda da humanidade compreendendo a maior parte da raça branca ou as nações europeias e até limitandonos para maior precisão sobre todos os tempos modernos aos povos da Europa Central Curso de filosofia positiva In AYALA Francisco História da sociologia Buenos Aires Losada 1947 p 77 Cinema O homem aranha II de Sam Raimi EUA 2004 127 min O herói das histórias em quadrinhos aparece em uma série de filmes Parker é o protagonista que ao ser picado por uma aranha durante uma experiência científica adquire poderes extraordinários Esse filme mostra a ambiguidade da ciência que tanto pode levar ao bem como ao mal A sociologia é a ciência que estuda a sociedade humana e cujo desenvolvimento se deu a partir da necessidade de compreensão do homem e de sua vida em grupo figura 1 Augus Para Durkheim os fatos sociais distinguemse dos fatos orgânicos ou psicológicos por se imporem ao indivíduo como uma poderosa força coercitiva e obrigatória se submeter Além da coerção e da exterioridade é possível distinguir fatos sociais porque eles não se apresentam como fatos isolados Eles são dotados de generalidade envolvem mu A ciência só aparece quando o espírito fazendo abstração de toda preocupação prática aborda as coisas como o único fim de representálas Da mesma maneira que nas ciências naturais o cientista social deve aprender a realidade que o cerca sem distorcêla de acordo com seus desejos e interesses particulares Deveria deixar de lado seus preconceitos isto é valores e sentimentos pessoais em relação aquilo que está sendo estudado pois tudo que nos mobiliza nossas simpatias paixões e opiniões dificulta o conhecimento verdadeiro fazendonos confundir o que vemos com aquilo que queremos ver Levando às últimas consequências esse distanciamento que o cientista deve manter em relação a seu objeto de estudo Durkheim aconselha o sociólogo a encarar os fatos sociais como coisas isto é objetos que ele deve observar descrever e analisarlos por meio de ins o sociológico deve também se manter neutro diante da opinião dos próprios envolvidos nas situações analisadas pois elas representam juízos de valor individuais aos quais Durkheim propõe o exerc a necessidade de o cientista inquirir sobre a veracidade e objetividade dos fatos estudados procurando anular sempre a influência de seus desejos interesses e preconceitos Suicídio Em 2003 cerca de 900 mil pessoas cometeram suicídio no mundo inteiro Em 2004 aproximadamente 8 mil brasileiros a própria vida Embora a taxa média no Brasil não seja considerada alta Com o auxílio de estatísticas mostra em seguida Durkheim que o suicídio é com certeza um fato social na medida em que em todos os países a taxa de suicídios se mantém constante de um ano para outro A longo prazo ainda por cima a evolução dos suicídios se inscreve em curvas que têm formas similares para todos os países da Europa Os diversos entre regiões e países são igualmente constantes LALLEMENT Michael História das ideias sociológicas Petrópolis Vozes 2003 p 218 2 Normalidade e patologia nos fatos sociais Para Durkheim a sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade como também encontrar soluções para problemas da vida social A sociedade como todo organismo apresenta estados que podem ser considerados normais ou patológicos isto é saudáveis ou doentios Podese considerar um fato social como normal quando se encontra generalizado pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua adaptação ou evolução Assim por exemplo ele afirma que o crime é normal não apenas por ser encontrado em toda e qualquer sociedade em todos os tempos mas também por representar um fato social que o crime tem portanto uma importante função social Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os fatos sociais têm existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular Embora todos tenham sua consciência individual seu modo próprio de se comportar e interpretar a vida podemse notar no interior de qualquer grupo ou sociedade formas padronizadas de conduta e pensamento Essa constatação está na base do que Durkheim chamou de consciência coletiva A consciência coletiva não se baseia na consciência de indivíduos singulares ou de grupos específicos mas está disseminada por toda a sociedade Ela revelaria segundo Durkheim o tipo psíquico da sociedade que não seria apenas o produto das consciências individuais mas algo diferente que se importaria mais é considerada imoral reprovável ou criminosa 4 Morfologia social as espécies sociais Durkheim também considerava como um dos objetivos do sociolo economistas e no mesmo lugar em que a produção era socialmente organizada Divisão social do trabalho Entendese por divisão social do trabalho a organização da sociedade em diferentes funções exercidas pelos indivíduos ou grupos de indivíduos Nas sociedades mais simples predomina a divisão social do trabalho baseada principalmente em critérios biológicos de sexo e idade Em sociedades mais complexas como a industrial surge uma divisão social mais complexa com a criação de uma imensa gama de funções e atribuições diferenciadas Compreensão do texto 1 O que é fato social conforme a teoria desenvolvida por Durkheim 2 Na versão de Durkheim quais são as três características básicas que distinguem os fatos sociais dos fatos orgânicos ou psicológicos Explique 3 Quais são os passos que um cientista social deve seguir para garantir a sua neutralidade na análise dos fatos sociais 4 Que lei geral Durkheim estabelece para a evolução das espécies sociais 5 O que é solidariedade orgânica 6 Por que o suicídio e o crime podem ser considerados fatos sociais normais na perspectiva durkheimiana Para os bons resultados desse trabalho de constituição de uma morfologia social Durkheim orienta os sociólogos a se valerem de apurada observação empírica Foi por meio dela que pode identificar dois tipos diferentes de solidariedade entre os homens provenientes da divisão social do trabalho a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica figura 5 A passagem de um tipo para outro constituía uma metamorfose de um estágio inferior de vida social a outro superior Durkheim considerava a generalidade elemento essencial do fato social Procure em jornais e periódicos fatos sociais segundo esse critério Durkheim afirma que a sociedade exerce sobre nós pressões para agirmos em conformidade com as regras sociais e também para desenvolvermos sentimentos e juízos de valor A imagem abaixo nos indica formas de sentir de julgar e de se comportar Quais são elas UELPR Émile Durkheim analisando a organização da sociedade e o papel dos indivíduos em relação à criminalidade e ao direito afirma que supondo que a pena possa realmente servir para protegernos no futuro estimamos que deva ser antes de tudo uma expiação do passado O que prova são as precauções minuciosas que tomamos para proporcionála tão exatamente quanto possível à gravidade do crime elas seriam inexplicáveis se acreditássemos que o culpado deve sofrer porque fez o mal e na mesma medida Podemos dizer pois que a pena consiste em uma reação passional de intensidade graduada Mas de onde emana esta reação Do indivíduo ou da sociedade Há portanto um forte contraste entre o positivismo durkheimiano e o idealismo alemão que se expressa entre outros elementos nas maneiras diferentes como cada uma dessas correntes encara a história Para o positivismo a história é o processo universal de evolução da humanidade de cujos estágios o cientista pode perceber pelo método comparativo capaz de aproximar sociedades humanas de todos os tempos e lugares A história particular de cada sociedade desaparece diluindo nessa lei geral que os pensadores positivistas tentaram reconstruir figure 5 Essa forma de pensar torna insignificantes as particularidades históricas as individualidades que são dissolvidas em meio a forças positivistas Max Weber pensador dominante na sociologia alemã compreendia a pesquisa como histórico e é essencial para a compreensão das sociedades Essa pesquisa baseada na coleta de documentos e no esforço interpretativo das fontes permite o entendimento das diferenças sociais contradições sociais que serviam para Weber de gênero de formação e não de estágios de evolução Portanto segundo a perspectiva de Weber o caráter particular e específico de cada formação social deve ser respeitado O conhecimento histórico entendendo como a busca de evidências tornase um poderoso instrumento para o cientista social Com essa perspectiva Weber consegue combinar duas abordagens a história que resgata as particularidades de cada sociedade e a sociologia que ressalta os elementos mais gerais de cada fase do processo histórico Weber descartava em suas análises históricas todo determinismo e a ideia de uma sucessão necessária de estágios pelos quais passariam todas as sociedades Do mesmo modo rejeitava princípios idealistas que avaliavam a vida social por razões de valor e não da análise empírica Reconhecia entretanto que aquilo que se obtém dos estudos históricos e da análise de documentos são dados esparsos que podem ser interpretados pelo cientista social resultando em uma compreensão lógica dos acontecimentos Essa lógica não deixava de emprestar todavia um caráter geral à elucidação da vida social Assim partindo da indução raciocínio que se serve de indícios para chegar a uma causa por eles tornada evidente e da análise empírica admitia a possibilidade de construções teóricas mais abrangentes Weber buscou na escola neokantiana que surgiu na Alemanha em meados do século XIX origens do idealismo alemão as bases para seu método de análise sociológica que também ficou conhecido como método compreensivo Entre os neokantianos ganhou destaque Wilhelm Dilthey que na tentativa de separar a ciência da humanidade da ciência natural estabeleceu a diferença entre os modos explicativo e compreensivo O modo explicativo era a característica essencial das ciências naturais que buscavam determinar o fator causal dos fenômenos ou seja buscavam explicar as causas que davam existência aos fenômenos naturais figure 6 A compreensão seria o modo típico das ciências humanas que não devia explicar os fatos em si determinandoos às suas causas imediatas mas compreender os processos da ação humana e seu significado Consequentemente o ponto de partida da sociologia de Weber não estava nas entidades coletivas grupos ou instituições Seu objeto de investigação era a ação social a conduta humana dotada de sentido ou seja que se justifica subjetivamente elaborada Na teoria weberiana ao se estabelecer a conexão entre motivo e ação o homem enquanto agente social ganha sentido e relevância Na obra Economia e sociedade Weber identifica três diferentes tipos de ação social de acordo com suas diversas motivações Ação tradicional orientada pelo costume tradição ou hábitos familiares Ação afetiva resultante das pulsões e paixões Ação racional guiada por um valor de ordem ética estética ou religiosa Por exemplo o motivo que leva uma pessoa a um duelo ou a arriscar a vida por uma ideia Se para a sociologia positivista a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles para Weber ao contrário não existe oposição absoluta entre indivíduo e sociedade as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação O motivo que transparece na ação social permite desvendar o seu sentido pode ser expresso pelo agente ou estar implícito em sua atitude ou comportamento Esse motivo individual e subjetivo é também social na medida em que cada um age levando em conta a resposta ou a reação dos outros Ao cientista compete compreender o sentido das diferentes ações sociais e prever as suas consequências muitas das quais imperceptíveis para os próprios agentes É possível decompor a ação social em diferentes etapas desvendando suas conexões O simples ato de enviar uma correspondência ou email é composto de uma série de ações sociais escrever enviar e receber que terminam por realizar um objetivo Por outro lado muitos agentes ou atores estão relacionados a essa ação social o atendente o carteiro o técnico o provedor etc Essa interdependência entre os sentidos das diversas ações mesmo que orientadas por motivos diversos é que dá a esse conjunto de ações seu caráter social O cientista social identificando essa motivação desvenda diferentes instâncias da vida social política econômica ou religiosa Esse esforço de compreensão todavia não está relacionado com a análise psicológica Por mais individual que seja a intenção de um agente por um impulso interno e pessoal sua ação envolve a ação de outros e a teia de ações interdependentes que caracteriza a vida social manifestase figure 7 Por outro lado Weber distingue ação social de relação social Para que se estabeleça uma relação social é preciso que o sentido seja compartilhado Por exemplo um sujeito que pede uma informação a outro estabelece uma ação social ele tem um motivo e age em relação a uma relação social Numa sala de aula este um objetivo da ação de vários sujeitos e compartilhado existe uma relação social Pela frequência com que certas ações sociais se manifestam o cientista pode conceber suas tendências e levar os indivíduos em dada sociedade a agir de determinado modo Weber no desenvolvimento de sua teoria como vimos rejeita as propostas positivistas ou a crença de que sociedades reproduzem um mesmo modelo de transformação histórica que as leva de estágios de organização inferiores ou mais simples para outros mais elevados ou complexos Weber também descarta como elemento central para explicar a emergência dos fatos sociais a oposição durkheimiana entre indivíduo e sociedade que no entendimento de como o indivíduo atua e integra a vida social quer no papel que desempenha o cientista em seus estudos das sociedades As atitudes e as motivações tanto do indivíduo como do cientista dão sentido às ações sociais e colocam o sociólogo em condições de interpretar tais ações percebendolhes o significado e a direção Embora Weber não exija do sociólogo a neutralidade defendida pelos positivistas diante da realidade ele não considera que o objetivo da sociologia seja a transformação social como preconiza Durkheim Assim as pesquisas de Weber mesmo sendo importantes para a sua atuação não estabeleçam uma análise profunda e objetiva da realidade nem do estudo da realidade Conforme a citação aponta o tipo ideal reúne características gerais que definem a forma como dado fenômeno se manifesta embora tais aspectos não precisem estar sempre presentes na sua totalidade nem da mesma maneira É importante lembrar no entanto que o tipo ideal não tem relação com as espécies sociais de Durkheim que pretendiam ser exemplos de sociedades observadas em diferentes graus de complexidade num continuum evolutivo Weber desenvolveu estudos sobre a história o direito e as religiões o que permitiu que suas análises interessassem a diferentes setores como o direito a política e as ciências sociais Unindo essas diversas visões procurava compor um cenário que permitisse compreender a sociedade de seu tempo envolvendose entre as tradições e as inovações Weber identificou como características predominantes do capitalismo industrial a racionalidade a busca contínua por fins cuja trajetória não estivesse marcada pelas tradições nem pelos costumes Constituída por tipos ideais essa classificação é apenas abstrata mas permite entender as diferenças e identificar os tipos de autoridade existentes Cabe ao cientista social reconhecêlos na realidade e estudar suas graus de variância A ética protestante e o espírito do capitalismo Um dos trabalhos mais conhecidos e importantes de Weber é A ética protestante e o espírito do capitalismo no qual ele estuda a relação entre racionalidade e crença religiosa tendo por objeto o protestantismo e o comportamento capitalista ocidental moderno Weber partiu de dados estatísticos que lhe mostraram a proeminência de adeptos da Reforma Protestante entre os grandes homens de negócios empresários bemsucedidos e trabalhadores qualificados A partir daí procurou estabelecer conexões entre a doutrina e a pregação protestantes e seus efeitos no comportamento dos indivíduos e no desenvolvimento do capitalismo res materiais o protestante puritano se adapta facilmente ao mercado de trabalho acumula capital e reinveste produtivamente figura 10 A importância de Weber para a sociologia Weber deu uma contribuição importantíssima para o desenvolvimento da sociologia Em meio a uma tradição filosófica peculiar a alemã e vivendo os problemas próprios de seu país diversos dos EUA França e da Inglaterra na mesma época pôde desenvolver pressupostos não influenciados pelo racionalismo positivista de origem anglofrancesa Sua contribuição para a sociologia tornouse referência obrigatória Mostrou em seus estudos a fecundidade da análise histórica e da compreensão qualitativa dos processos históricos e sociais Sabendo que Weber pressupõe certa parcialidade do cientista em relação ao objeto de estudo isto é um interesse próprio quanto à motivação por que mesmo assim ele considera suas conclusões científicas A imagem a seguir corresponde a um jogo para computador cujo objetivo é fazer de você o fundador e administrador de uma cidade Observe a imagem e a partir das suas observações explique por que um jogo como esse torna o jogador um sociólogo na prática Cite exemplos com base nessa imagem Quando um espaço contendo muitos objetos é iluminado por luzes de diversas cores vindas de várias fontes obtemos diferentes imagens cada uma colocando em destaque certos contornos e formas De maneira análoga é isso que acontece com o campo científico os pressupostos teóricos iluminam de modo peculiar a realidade resultando diferentes níveis de abordagem e modelos teóricos particulares O pensamento marxista foi sintetizador de diferentes preocupações filosóficas políticas e científicas de sua época Dialética A noção moderna de dialética define como a contraposição de forças de oposição em dado momento histórico cujo confronto provoca a transformação social Foi com Karl Marx que o termo se tornou recorrente no campo das ciências sociais Para entender o capitalismo e explicar a natureza da organização econômica humana Marx desenvolveu uma teoria abrangente e universal que procura dar conta de toda e qualquer forma produtiva criada pelo homem Os princípios básicos dessa teoria estão expressos em seu método de análise o materialismo histórico Marx parte do princípio de que a estrutura de uma sociedade qualquer reflete a forma como os homens se organizam para a produção social de bens que engloba dois fatores fundamentais as forças produtivas e as relações de produção Materialismo histórico O conceito referese à metodologia elaborada por Karl Marx para explicar o desenvolvimento histórico da sociedade humana desde sua origem Segundo seus pressupostos o social tem origem nas bases materiais da vida social ou seja na sua infraestrutura Figuras 4 e 5 A esquerda camponeses tosquiando ovelhas Horas da Virgem c 1515 À direita nobres durante banquete comemorativo do AnoNovo Livro das ricas horas do duque de Berry século XV Segundo Meuri na época feudal as relações de produção eram Outro conceito fundamental do marxismo é o de classes sociais Para Marx liberdade e justiça direitos inalienáveis e considerados naturais pelo liberalismo não resistem às evidências da desigualdade sociais promovidas pelas relações de produção que dividem os homens em proprietários e não proprietários dos meios de produção Dessa divisão originase as classes sociais os proletários trabalhadores despojados dos meios de produção que vendem sua força de trabalho em troca de salário e os burgueses que possuindo meios de produção sob a forma legal da propriedade privada apropriamse do produto do trabalho de seus operários em troca do salário do qual eles dependem para sobreviver As classes sociais formadas no capitalismo industrial burgueses e proletários estabeleceram desigualdades intraprovinciais entre os homens e relações que são de antagonsimo e exploração O antagonismo e a exploração derivam dos interesses inconciliáveis entre as classes O capitalista procura preservar seu direito à propriedade dos meios de produção e dos produtos O trabalhador por sua vez luta contra a exploração A produção artesanal europeia da Idade Média e do Renascimento quando o trabalhador era dono de sua oficina e dos instrumentos de produção foi aos poucos substituída por oficinas organizadas pelos comerciantes enriquecidos A generalização desses galpões originou em meados do século XVIII na Inglaterra a Revolução Industrial que levou os artesãos individuais à falência As máquinas e tudo mais necessário ao processo produtivo força motriz instalações matériasprimas ficaram acessíveis somente aos empresários capitalistas com os quais os artesãos isolados já não podiam competir A maior parte desses artesãos destituída da produção individual se converteram em trabalhadores livres isto é sem meios de produção Empregaramse nas indústrias como operários formando junto aos trabalhadores vindos do campo uma nova classe social O capitalista pode lucrar simplesmente aumentando o preço de venda do produto por exemplo cobrando 200 unidades de moeda pelo par de sapatos Mas o simples aumento de preços é um recurso transitório e com o tempo traz problemas De um lado uma mercadoria qualquer pode provocar elevação generalizada nos demais produtos Isso pode ocorrer durante algum tempo mas se a disputa se prolongar poderá levar o sistema econômico à desorganização De acordo com a análise de Marx não é no âmbito da compra e da venda que as mercadorias se encontram às bases estáveis para o lucro dos capitalistas individuais nem para a manutenção do sistema capitalista Ao final da jornada de trabalho o operário recebe 30 unidades de moeda ainda que seu trabalho tenha rendido o dobro ao capitalista 20 unidades de moeda por par de sapatos produzido 150 130 totalizando 60 unidades de moeda 20 x 3 Esse valor é mas não retorna ao operário é apropriado pelo capitalista figura 10 Visualizase portanto que uma coisa é o valor da força de trabalho isto é o salário e outra é o quanto esse trabalho rende ao capitalista Esse valor excedente produzido pelo operário é o que Marx chama de maisvalia O capitalista pode obter maisvalia procurando aumentar constantemente a jornada de trabalho tal como no nosso exemplo segundo Marx é a maisvalia absoluta Porém não é possível estender indefinidamente a jornada de trabalho A outra forma de obter maisvalia é melhorando a tecnologia de produção A tecnologia aplicada faz aumentar a produtividade isto é as mesmas horas de trabalho agora produzem um número maior de mercadorias A mecanização também faz com que a qualidade dos produtos dependam menos da habilidade e do conhecimento técnico do trabalhador individual Numa situação dessas portanto a força de trabalho vale cada vez menos e ao mesmo tempo graças à maquinaria desenvolvida produz cada vez mais Esse é em essência o processo de obtenção daquilo que Marx denomina maisvalia relativa O processo descrito esclarece a dependência do capitalismo em relação ao desenvolvimento das tecnologias de produção Mostra ainda como o trabalho sob o capital perde todo o atrativo e faz do operário mero apêndice da máquina As relações políticas Após essa análise detalhada do modo de produção capitalista Marx passa ao estudo das formas políticas construídas no seu interior Ele constata que as diferenças entre as classes sociais não se reduzem a diversas quantidades de riquezas mas expressam uma diferença de existência material Os indivíduos de uma mesma classe social partilham uma situação de classe que lhes é comum incluindo valores comportamentos regras de convivência e interesses A essas diferenças econômicas e sociais seguese uma desigual distribuição de poder As classes economicamente dominantes desejam apropriarse do aparato de poder e dos planos econômicos e políticos Cada forma assumida pelo Estado no seio da burguesia seja sob o regime feudal monárquico constitucional ou ditatorial representa rendimentos mineiros pelas quais se transforma num comitê para gerir os negócios comuns da burguesia figura 11 A amplitude da contribuição de Marx A teoria marxista repercutiu de maneira decisiva não só na Europa objeto primordial de seus estudos como nas colônias europeias e em movimentos de independência Incentivou os operários a organizar partidos marxistas e sindicatos revolucionários levou intelectuais à crítica da realidade e influenciou as atividades científicas de modo geral e as ciências humanas em particular Por outro lado cada sociedade representava para Marx uma totalidade isto é um conjunto único e integrado das diversas formas de organização humana nas suas mais diversas instâncias Entretanto apesar de considerar as sociedades da sua época e do passado como totalidades e como situações históricas concretas Marx conseguiu pela profundidade de suas análises extrair conclusões de caráter geral e aplicáveis a formas sociais diferentes O materialismo histórico e a ciência O sucesso e a penetração do materialismo histórico no campo da ciência ciências política econômica e social e na organização política devemse ao universalismo de seus princípios e ao caráter totalitário que Marx imprime às suas ideias Devemse também ao caráter militante das ideias propostas voltadas para a ação prática e para a prática revolucionária Ao ser disseminado pelo mundo e vulgarizado o marxismo começou a ser identificado como todo movimento revolucionário que propunha combater as desigualdades sociais entre homens e mulheres entre diferentes grupos nacionais étnicos e religiosos Todos eles passaram a ser considerados movimentos de esquerda figura 12 Nessa perspectiva objetividade não é uma questão de método mas de como o pensamento científico se insere no contexto das relações de produção e na história A ideia de uma sociedade doente ou normal preocupações dos cientistas sociais positivistas desaparecem em Marx Para ele a sociedade é constituída de relações de conflito e é essa dinâmica que surge a mudança social Fenômenos como luta contradição revolução e exploração são constituintes dos diversos momentos históricos e não disjunções sociais Não é preciso afirmar a contribuição da teoria marxista para o desenvolvimento das ciências sociais A abordagem do conflito da dinâmica histórica da relação entre consciência e realidade inserem o homem e de sua práxis no contexto social com tantas abandonadas pelos sociólogos Isso sem contar a habilidade com que o método marxista possibilita o constante deslocamento do geral para o particular das macrossociais para suas manifestações históricas do movimento estrutural da sociedade para a ação humana individual e coletiva A teoria marxista teve ampla aceitação teórica e metodológica quanto à política e revolucionária Em 1917 uma revolução inspirada nas ideias marxistas a Revolução Bolchevique na Rússia criou no mundo o primeiro Estado operário Essa revolução impulsionou a teoria marxista em todo o mundo Na sociologia chinesa mesmo dominar várias gerações de sociólogos O fim da União Soviética 69 anos após o seu surgimento não significou o fim da história ou da sociologia em osgontamento do marxismo como postura teórica das mais amplas e fecundas com um poder de explicação não alcançado pelas análises posteriores figura 13 O que é materialismo histórico Quais são os elementos constitutivos das forças produtivas O que é modo de produção Qual é a importância desse conceito para a análise que Marx faz das sociedades Que relação Marx estabelece entre trabalho e valor Como podemos definir maisvalia O que Marx entende por história Como o marxismo influencia a sociologia Essa influência terminou nos dias de hoje Leia o texto e responda às questões A história de todas as sociedades existentes até hoje tem sido a história das lutas de classes Homem livre e escravo patrício e plebeu barão e servo mestre de corporação e companheiro numa palavra opressores e oprimidos têm permanecido em constante oposição uns aos outros envolvidos numa guerra interrompida ora disfarçada ora aberta que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das duas classes em luta a Que classes sociais Marx identifica ao longo da história b Como são as relações entre elas c Como se dão segundo Marx as transformações em uma sociedade de classes Os homens fazem sua própria história mas não a fazem como querem não a fazem sob circunstâncias da sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente legadas e transmitidas pelo passado Aplicando os conceitos de maisvalia absoluta e de maisvalia relativa de que modo podemos julgar o avanço tecnológico da indústria para os trabalhadores