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A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO SÉCULO 20 Taylorismo Fordismo e Toyotismo A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO SÉCULO 20 Taylorismo Fordismo e Toyotismo 1ª Edição EDITORA EXPRESSÃO POPULAR São Paulo 2007 SUMÁRIO 1 Introdução 7 2 Origens da expressão organização do trabalho 13 3 O sistema de Taylor 21 4 O sistema de Ford 29 5 A reestruturação produtiva 37 6 A obsolescência do taylorismofordismo 47 7 O sistema de Ohno ou toyotista 55 8 Coação e consentimento sob a organização flexível 65 9 Considerações finais 73 Referências 75 1 INTRODUÇÃO Mesmo tempo tão alterada e tão deliberadamente desrespeitada como provam entre os principais países poluidores os EUA A ampliação das fontes e canais informativos entre agentes de decisão seguiuse desastrosamente uma imensa concentração de poder e seu uso unilateral por interesses governamentais bélicos atendendo além disso a sanha de grupos anônimos de especuladores financeiros cuja capacidade de manipulação de capital lhes permite alterar o destino de nações O trabalho é mais do que o ato de trabalhar ou de vender sua força de trabalho em busca de remuneração Ele também uma remuneração social pelo trabalho ou seja o trabalho como fator de integração a determinado grupo com certos direitos sociais O trabalho tem ainda uma função psíquica é um dos grandes alicerces de constituição do sujeito e de sua rede de significados Processos como reconhecimento gratificação mobilização da inteligência mais do que relacionados à realização do trabalho estão ligados à constituição da identidade e da subjetividade sistemas de organização do trabalho utilizados ao longo do século 20 No decorrer deste análise buscamos expor em suas linhas principais os objetivos visados pelas agências empresariais e as reações dos trabalhadores na implementação desses sistemas além das consequências que vêm sendo verificadas no plano mais geral da organização política da classe trabalhadora Esse processo de luta se dividiu em fases distintas Tomandose a indústria como plano de análise enquanto os primeiros capitalistas não haviam adentrado os ambientes de produção ou seja enquanto eram apenas fornecedores de matériasprimas e colotores do resultado da transformação destes trabalhadores ao final de um dado período entregandoos como produtos acabados aos comerciantes ou consumidores até então não lhes interessava pelo menos primordialmente em sua posição socioeconômica à medida que as situações que estavam sujeitas às atividades de trabalho colocavam no ar cabia a essas atividades o desenvolvimento de condições de habilidades e competências presentes nas diversas fases do trabalho que ocupavam A grande proliferação de estratégias cada vez mais agressivas visando aumentar as escalas de produção padronizar a qualidade dos produtos diminuir os custos de produção e transporte etc consolidou e levou ao mais cruel estado o controle sobre o trabalho humano empregado na produção tudo cada vez mais pelo que os processos de trabalho passaram a ser tratados diretamente entre os agentes executores da produção não mais como indivíduos detentores de conhecimentos e responsabilidades específicas mas como sujeitos do trabalho no espaço fabril para o qual se voltará nosso interesse aqui sobre conhecimento aqui considerando pai da administração científica hoje constituída como matéria do conhecimento levada a cabo em situações que tratam da organização de quaisquer atividades de trabalho desde a industrial passando pela agrícola financeira comercial governamental etc É justo aludir aqui o curso das gerações de custos já que não temos administradores eram proprietários das empresas o que tornou tal luta ainda mais caótica pois que em condição de assalariados enfrentavam também esses administradores e a subordinação ao desempenho Em termos claros o problema era fazer que o trabalhador empegasse todo o seu engenho sua criatividade seus conhecimentos técnicos suas competências profissionais assinaladas nos ofícios que exerceu suas habilidades pessoais adquiridas com as situações que enfrentou neste seu amor esforçado psicológico intelectual e físico toda a sua capacidade de concentração e destreza para a realização das tarefas que lhe competiam tudo com o menor desgaste de suas energias e principalmente dentro do menor tempo possível Nenhum incentivo no entendimento de Taylor lograria colocar os trabalhadores continuamente nessa situação de subordinação absoluta aos empregadores Sua solução para o caso seria a estabelecimentode uma divisão de responsabilidades e de tarefas na qual aos executores de um determinado trabalho fossem delegadas apenas as atividades estritamente necessárias à execução desse trabalho dentro de moldes extremamente rígidos no plano dos gestos físicos das operações intelectuais e de conduta pessoal cujo estabelecimento previu através de um estudo de um planejamento e de uma definição formal ficariam a cargo de outros trabalhadores dedicados a tarefas também previamente analisadas planejadas e definidas por outros mais assim em diante nesse sentido desde as atividades operacionais até as gerenciais da empresa Essa era a sua proposta básica e designouo como administração científica Nada mais sintético e claro como essa definição das novas estratégias a serem empregadas pela gerência segundo suas palavras Sob o sistema antigo de administração o bom êxito depende quase inteiramente de obter a iniciativa do operário e raramente essa iniciativa é alcançada Na administração científica a iniciativa do trabalhador que se lhe oferece sob sua vontade seu engenho obtémse com absoluta uniformidade e carreira é em nada maior do que é possível sob o antigo sistema em acrescento a essa vantagem referente ao homem os gerentes assumem novos encargos e responsabilidades jamais imaginados no passado Além desse conjunto de novas funções da gerência na administração científica contraposto ao sistema antigo da administração por iniciativa e inovação como chamou em seu livro Taylor esclareceu ainda os elementos práticos que deveriam ser aplicados para que todas as condições previstas vivessem a ser satisfeitas Dentre esses elementos cabenos aludir aqui aos principais a estudo do tempo b chefia numerosa e funcional em contraposição ao velho sistema de contrameses único e padronização dos instrumentos e materiais utilizados como também de todos os movimentos dos trabalhadores para cada tipo de serviço d necessidade de uma seqüência ao sala de planejamento e plano de instrução para os trabalhadores f idéia de tarefa na administração associada à ação prévia com para gratificação diferencial Taylor 1970 pp 117118 A idéia fundamental desse sistema de organização dos seus precedentes é o fato de que toda essa complexa análise e planejamento que envolve fato após sua implementação a cargo da administração da empresa e somente dela Toda a experiência todas as técnicas relativas às atividades realizadas nas várias instâncias da empresa são repassadas para trabalhadores especializados em análises com base em métodos experimentais através dos quais são padronizadas com vista a redução da quantidade de operações desnecessárias do tempo de execução das demais dos gastos de energia física e mental dos trabalhadores ao ociosidade dos equipamentos dos intervalos entre uma operação e outra entre outros objetivos A escolha por parte dos trabalhadores de cada um desses elementos encerrase a partir do momento em que é implementado o sistema tudo lhes será passado na forma de ordens através das fichas de instrução nas quais estarão contidas as quantidades os meios e os resultados passíveis de serem esperados pela administração junto a um treinamento sobre como cumprir tais ordens Assim se apropriação do conhecimento dos trabalhadores temo de como fim desenvolvêlo para elevar e regularizar a produtividade e a qualidade foi apontada por Taylor como suas motivações principais na formulação desse sistema Henry Ford 18621947 também estadunidense ainda muito jovem demonstrou inclinação para a mecânica aos 16 anos começou a trabalhar numa oficina em sua cidade e após ter sidoBem sucedido em várias invenções foi contratado pela companhia Westinghouse fabricante de veículos automotores movidos a vapor Em 1885 munido de novos conhecimentos foi para as oficinas da Eagle Motor Works em Detroit para consertar e estudar em profundidade motores a explosão Montello 1995 Seu ideal era desenvolver um motor revolucionário e durante anos esteve montando e testando motores de combustão a alta pressão tempo no qual chegou a manter contato dentre outras pessoas com Thomas Edison Construíra seu primeiro calhambeque em 1894 e sua primeira fábrica de carros em 1896 em sociedade com outros construtores os quais abandonou posteriormente Continuou suas pesquisas praticamentesozinho num galpão alugado em Detroit do qual saíram dois carros de corridas o primeiro derrotado o segundo vencedor de um famoso campeonato em 1903 que lhe garantiu por um período o que seria a primeira planta da Ford Motor Company por muito tempo a maior fabricante mundial de veículos Montello 1995 Tendo se tornado diretorgeral e proprietário majoritário da sua companhia passou a trabalhar como se avisados com administradores da sua época adquirindo experiências na gerência da empresa e tornandose na medida em que se ria reputado homem de negócios Todavia nunca deixou de buscar os desejos dos veículos que fabricava A conjugação dessas duas áreas de conhecimento que atualmente poderíamos designar como Engenharia de Produto e Engenharia de Processos possibilitou a Henry Ford ampliar uma série de inovações tecnológicas e organizacionais já em curso no início do século 20 dentre as quais o taylorianismo em franca expansão na gestão do trabalho em empresas metalúrgicas de grande porte nessa época Cumpre esclarecer entretanto que sua principal genialidade consistiu sobretudo em ter imaginado a possibilidade de incurtir nos seus contemporâneos a postura de consumidores de massa de produtos padronizados A ideia básica era a seguinte padronizando os produtos e fabricandoos numa escala imensa na ordem de centenas ou milhares por dia certamente os custos de produção seriam reduzidos e contrabalançados pelo aumento do consumo proporcionando por sua vez a elevação da renda em vista dos melhores salários que poderiam ser pagos em função do aumento das vendas portanto dos lucros empresariais O nível de simplificação impede qualquer abstração conceitual sobre o trabalho e isso vale dizer é uma finalidade do sistema que as qualidades individuais de cada trabalhador suas competências profissionais e educacionais suas habilidades pessoais toda sua experiência sua criatividade etc sua própria iniciativa como diz Taylor são praticamente dispensáveis no sistema taylorskistafordista 5 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA O sistema tayloristafordista de organização expandiuse nas economias capitalistas centrais durante as duas guerras mundiais após o que foi difundido internacionalmente no longo ciclo de crescimento econômico fundado na produção e no consumo de massa que se seguiu Nos países capitalistas centrais e periféricos o sistema de produção em larga escala de produtos padronizados fordista articulouse aos Estados de bemestar social e à constituição dos grandes sindicatos de trabalhadores O equilíbrio dessa articulação mantémse até meados dos anos de 1970 quando sofreu o impacto de transformações de várias ordens Cabe analisálas buscando considerar o caráter de sistematização desse processo isto é o fato de que as transformações políticas e econômicas aqui expostas são interdependentes e assim caminham não se estabelecendo em relação unidirecional entre as redes sociais capitalistas como um todo Começando pela esfera da economia no plano macroeconômico as condições externas da maioria dos países foram altamente desequilibradas em meio aos choques ocasionados pelo súbito aumento geral dos preços do petróleo pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo Opep em 1973 e em 1979 bem como devido a sucessivas valorizações e desvalorizações do dólar praticamente impostas pelos EUA a partir de então como em 1978 e em 1985 Como decorrência desse quadro iniciaramse as primeiras grandes variações nas taxas de câmbio das economias nacionais acentuando a internacionalização e o já crescente volume de investimentos em capitais financeiros que por meio da tecnologia microeletrônica aplicada à informação passaram a especular sobre essas flutuações cambiais Harvey 1992 pp 149152 Tavares 1992 pp 2446 Dedecca 1998 pp 164167 Tal instabilidade macroeconômica gerou grande cautela nos investimentos produtivos industriais que desde então vinham se afetando nos países capitalistas centrais a par do crescimento das atividades nos setores de serviços que agregam desde comércio finanças saúde etc além novas atividades relacionadas a entretenimentos Na concorrência imposta pelo deslocamento do consumo a esses novos segmentos acirrada pelo baixo crescimento se comparado aos índices do pós1945 até final dos anos de 1960 a indústria redirecionou suas estratégias de padronização em larga escala para a crescente agregação tecnológica maior qualidade e personalização de seus produtos A consequência desses objetivos exigia porém os seguintes requisitos 1 alta flexibilidade de produção ou capacidade de produzir diferentes modelos de produtos num curto período de tempo mantendose ou a larga escala 2 altos índices de qualidade nos produtos o que reduziria inclusive os custos de produção em vista do baixo volume de retrabalho 3 baixos preços finais o que poderia ser obtido não apenas pela redução do detrabalho e pela flexibilidade produtiva mas também através da manutenção de uma fábrica mínima operando sempre com baixos volumes e capacidade ociosa tanto em termos de equipamentos quanto de efetivos de trabalhadores Ah que se considerar que essas qualidades adequavamse perfeitamente aos objetivos colocados pela conjuntura macroeconômica demais exposta e uma vez que se promoveu uma flexibilidade das formas de produção em vista de um par dos anos de 1980 à difusão do sistema toyotista foi relativamente rápida nas indústrias de bens duráveis dos principais países capitalistas tendo à frente a automobilística mesmo porque as maiores mercados automotivos do mundo o estendiamse e o europeu já haviam sido invadidos nessa época pelos veículos japoneses Rachid 1994 p 16 A partir desse conjunto de transformações macro e microeconômicas entrou em vigor um novo regime de acumulação de capital com nível internacional a acumulação flexível denominada o Harvey 1992 que traz a tona o principal objetivo dessa nova ordem a flexibilização dos mercados de trabalho das relações de trabalho dos mercados de consumo das barreiras comerciais do controle da iniciativa privada pelo Estado e nesse ponto devemos atentar ao das transformações ocorridas na esfera da política Esse conjunto de ações estatais estatais flexibilizadoras teve como base ajustes estruturais nas contas nacionais afetando desde as políticas sociais a a continuação do investimento estatal dentro nos setores produtivos e financeiros submetendo a alocação dos recursos e dos resultados econômicos ao movimento do livre mercado No que tange aos trabalhadores passouse a eliminar sistematicamente as regulamentações protetoras de direitos básicos responsabilizandoas pelo engessamento dos mercados de trabalho pela elevação dos custos de produção e subtraindo da competitividade empresarial Buscouse acelerar sua mobilidade e flexibilidade entre setores regiões empresas e postos de trabalho conduzidos os processos empresariais e eliminando a rigidez das atividades singulares esse grupo embora necessário às novas estratégias de produção certamente se sobredotado nas grandes empresas líderes na maioria dos casos dependendo do tamanho da empresa e do segmento em que atua nos círculos operacionais que gerenciais mais importantes bem como em alguns dos principais países capitalistas como Japão na Terceira Itália Suécia região de Kalmar onde se tem força de trabalho ao Alto nível de formação técnicoescolar gerado não poucas vezes por instituições de ensino público de boa qualidade garantias de emprego com baixos níveis de rotatividade pequenas diferenças salariais bem como flexibilidade nos postos de trabalho organização do trabalho em equipe contratações coletivas efetivas caso da Itália e da Suécia e negociação sindical quanto a processo de trabalho e inovação tecnológica Mattoso 1994 No outro grupo estão os trabalhadores contratados temporariamente ou por tempo parcial os subcontratados como terceiros os vinculados à economia informal dentre outras tantas formas predatórias de trabalho existentes Esse grupo numericamente muito maior que o primeiro congregando diversas categorias de trabalhadores dispersos por vários países e setores econômicos sofre a precariedade do emprego e da remuneração a desregulamentação negociada ou não das condições de seu trabalho em relação às normas legais e consequentemente vê regredir constantemente seus direitos sociais em meio a uma crescente ausência de proteção e expressão sindical Ressaltese que está cada vez mais presente o trabalho feminino não apenas em setores tradicionais como o têxtil mas também em ramos como a indústria microeletrônica e o setor de serviços Antunes 1995 6 A OBSOLESCÊNCIA DO TAYLORISMOFORDISMO Não obstante o malestar gerado na classe trabalhadora na época de seu surgimento e implementação maciça tanto o sistema taylrista quanto o seu descendente o fordista germinaram e expandiramse em períodos de crescimento da economia assim como nos períodos de guerra pois foram desenvolvidos especificamente para produzir grandes quantidades de produtos com pouquíssimos níveis de diferenciação Como vimos na seção anterior o baixo crescimento e a instabilidade dos mercados surgidos a partir do contexto dos anos de 1970 elevando os níveis da concorrência internacional pautada pela diferenciação dos produtos em termos de qualidade etc impuseram entraves à expansão do sistema tayloristafordista de organização O velho problema de conquistar a iniciativa dos trabalhadores persistia Nos anos de 1940 toda uma série de estudos de caráter empírico foi levada a cabo em empresas e delas emergiram novas teorias visando esclarecer esse assunto com sua maioria amparadas em aspectos psicológicos dos trabalhadores Dentro dessas correntes dedicadas a estudar as consequências da organização do trabalho sobre a personalidade dos trabalhadores podem ser destacadas teorias como a da hierarquia das necessidades de Maslow2 ou a da organização e personalidade de Argyris3 a qual foi a seu turno corroborada por Herzberg para quem os fatores principais da motivação para o trabalho estavam nos elementos da organização que propiciavam ou não o crescimento psicológico das pessoas nelas envolvidas ou seja no reconhecimento pelas realizações nas responsabilidades delegadas nas promoções concedidas dentre outros Como se vê a imprevisibilidade de mensuração da maisvalia ou seja o fato de que não é dado às empresas saberem de antemão qual é a taxa de rendimento exata que trará cada trabalhador individualmente sempre foi o centro de toda a problemática da organização capitalista do trabalho Frente a cada forma de organização e controle implementada pelo empresariado desenvolveramse resistências individuais ou coletivas por parte dos trabalhadores como por exemplo as constatações aos sistemas calculados nos princípios tayloristas levados a cabo por amplos setores da luta sindical A necessidade permanente de quebrar essas resistências obrigou o empresariado a estudar sempre novas estratégias que lograssem obter maior controle sobre os trabalhadores através de mecanismos que têm variado entre a coerção e o consentimento O desenvolvimento e a difusão do sistema tayloristafordista transferindo o arcabouço de conhecimento sobre os processos de trabalho às gerências empresariais portanto aos proprietários dos meios de produção aprofundou ainda mais o fosso dessa divisão social tornando as diferentes categorias de trabalhadores gerenciais ou operacionais mais dependentes de seus empregadores e ao mesmo tempo mais fragmentados como classe social na defesa de seus interesses A própria formação profissional especializada evoluiu dentro e fora do ambiente de trabalho mais a diferenciação entre os trabalhadores segundo suas qualificações do que a uma identificação de sua condição comum de subalternidade O SISTEMA DE OHNO OU TOYOTISTA O sistema de organização do trabalho toyotista surgiu num contexto muito diverso ao do sistema tayloristafordista Ao passo em que o último germinou dentro de uma economia em crescimento e portanto contando com um mercado consumidor tanto interno quanto externo em expansão o toyotismo surgiu num contexto de crescimento econômico lento em meio a um mercado interno que se por um lado visava o consumo de praticamente todos os tipos de bens e serviços mostrandose diversificado por outro se caracterizava pela pequena expansão da demanda Desde 1947 a Toyota vinha implantando em suas fábricas de automóveis um dos elementos fundamentais desse sistema a chamada autonomação um mecanismo originalmente desenvolvido no âmbito da divisão têxtil dessa companhia japonesa por Kiichiro Toyoda seu fundador Autonomação é um neologismo criado a partir da junção das palavras autonomia e automação pois se trata de um processo pelo qual é acoplado às máquinas um mecanismo de parada automática em caso de detectarse algum defeito no transcorrer da fabricação permitindoas assim a funcionar autonomamente independente da supervisão humana direta sem que se produzissem peças defeituosas O sistema kanban tal como a autonomação teve um papel essencial na reagrupação das diferentes funções em poucos postos de trabalho Por um lado o kanban permitiu descentralizar uma parcela das atividades relativas ao controle das encomendas e das fabricações confiandoas aos chefes das equipes de trabalhadores sendo que até então estavam concentradas num departamento especializado no sistema tayloristafordista Por outro lado essa descentralização permitiu integrar as atividades de controle da qualidade dos produtos à própria esfera da produção direta Foi então reformulado o espaço de produção pela celularização que consistiu em organizar os postos de trabalho em grandes conjuntos abertos e não fechados como departamentos de modo a concentrarem em uma mesma etapa definida do processo produtivo Por exemplo na fabricação de automóveis um conjunto de postos responsáveis pela montagem dos eixos outro pelo acoplamento do sistema de suspensão o seguinte pelos freios e assim por diante se estabeleceu uma filosofia de atendimento ao mercado que nas suas palavras ao departamentos de vendas o papel de determinadores do processo produtivo só é produzido algo se for pedido por vendas A ideia de produzir e empurrar para os revendedores foi retirada completamente A esse regime de encomendaprodução entrega precisas chamouse justintime A tradução literal dessa expressão seria no tempo certo Todavia seu significado é mais abrangente organizarse sob o regime justintime significa produzir somente o que é necessário seguindo exatamente as especificações do cliente na quantidade necessária nem mais pois se deve abolir o estoque nem menos e no momento necessário nem antes o que significa ter um estoque na forma de capacidade produtiva ociosa nem depois 8 COAÇÃO E CONSENTIMENTO SOB A ORGANIZAÇÃO FLEXÍVEL Entre todas as características arroladas na seção anterior é preciso notar que a implementação dos sistemas de organização flexível em especial o toyotista gerou não apenas aumento da produtividade mas também possibilitou às empresas adquirir maior flexibilidade no uso de suas instalações e no consumo da força de trabalho permitindoas portanto elevar com rapidez até então inaudita sua disposição de atendimento à demanda sem ter de aumentar para isso o número de trabalhadores ao contrário o efetivo de trabalho tem sido reduzido drasticamente Gerouse um sistema de gerência pelo estresse Cada célula é responsabilizada pelo cumprimento de metas estabelecidas pela gerência decidindo como isso combinar as metas de trabalho interinamente entre os membros Contrariamente ao sistema tayloristafordista a ideia é fazer que cada trabalhador conceba e compreenda tanto quanto possível o funcionamento dos postos e de toda a célula e se necessário também de outras células que nesse caso a soma das operações recompostas pelo enriquecimento não constituiu uma nova especialização um novo ofício uma nova profissão O encadeamento dos gestos e implicitamente ditado pelo fogo pode pressionar o motor que o trabalhador deve montar As ferramentas tampouco dependiam da escolha do trabalhador Uma vez que o cenário tem se tornado cada vez mais adverso à classe trabalhadora na falta dos mecanismos socioculturais de incentivo japoneses as empresas ocidentais têm tentado introduzir junto ao sistema toyotista uma nova mentalidade no corpo de funcionários Estabeleceuse um tipo ideal de trabalhador do qual se exige iniciativa equilíbrio acessibilidade e facilidade no trabalho em equipe raciocínio ágil sobretudo responsabilidade para com os compromissos da empresa dentre outros aspectos que vêm se conformando dentro do ambiente de trabalho O que impõe a ação de tais medidas em negociações é sem dúvida o crescente desemprego que atinge atualmente até mesmo os estratos mais qualificados da população trabalhadora com forte impacto sobre jovens mulheres e os que estão acima de 50 anos dependente da experiência que acumularam no trabalho Pochmann 2001 As dificuldades de adaptação são distintas nas duas situações enquanto para alguns jovens ainda resta a possibilidade de adiar sua entrada no mercado de trabalho aos mais velhos cabe não apenas se defrontar com as inabilidades de requalificarse em tempo hábil como ademais também enfrentar fortes estigmas tanto dentro quanto fora do âmbito do trabalho inclusive na economia familiar e nas relações com os grupos que frequentam O desemprego serve ainda a outros dois propósitos Além de garantir a manutenção de baixos salários viabiliza o intenso uso de trabalhadores contratados temporariamente os quais num período de crescimento da economia são exauridos em longas jornadas para atender a níveis altíssimos de produtividade para num momento de recessão voltarem à condição de desempregados por representarem capacidade produtiva ociosa Ou seja o desemprego é um dos fatores que garante as jornadas flexíveis de trabalho elemento vital no acolhimento da escala de produção à demanda dos mercados de consumo proposta central do toyotismo Portanto dizer que os trabalhadores estariam sendo requalificados através da exigência de polivalência e pela sua organização em equipes ou que estariam sendo diminuídas as jornadas de trabalho com aumento do tempo livre são afirmações insustentáveis quando não contrárias à perceptivel intensificação de sua exploração a par da sutileza do controle das atitudes pessoais e profissionais a que estão cada vez mais submetidos numa gigantesca fragmentação de sua subjetividade numa atividade social o trabalho que por excêlcencia é coletiva estando porém ainda subordinada aos ditames da acumulação de capital REFERÊNCIAS ANTUNES Ricardo Adeus ao trabalho Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho Campinas SP Cortez Ed da UNICAMP 1995 BETTELHEIM Charles As lautas de classe na União Soviética primeiro período 19171923 Tradução Bolivar Costa Rio de Janeiro Paz e Terra 1976 v1 CATTANI Antonio David Trabalho e tecnologia dicionário crítico 2 ed Petrópolis RJ Vozes Ed da UFRGS 1999 Coriat Benjamin Pensar pelo avesso o modelo japonês de trabalho e organização Tradução de Emerson S da Silva Rio de Janeiro Revan Ed da UFRJ 1994 CURRY James The flexibility fetish a review essay on flexible specialisation In Capital Class n 50 summer 1993 DEDECCA Cláudio Salvador Reestruturação produtiva e tendências de emprego In OLIVEIRA Marco Antônio Org Economia e Trabalho textos básicos Campinas SP CESTIE Ed da UNICAMP 1998 pp 169173 DEJOURS Christophe Avanços para a edição brasileira In LANCMAN Selma SZENLAW Lacret Idal Orgs Christophe Dejours a psicopatologia e a psicodinâmica do trabalho Rio de Janeiro Editora Fiocruz Brasília Paralelo 15 2004 ENGENLS Friedrich A situação do estado trabalhador em Inglaterra Tradução de Anália C Torres Porto Portugal Afrontamento 1975 O saco de lacre 10 Fleury Afonso e Vargas Nilton Aspectos conceituais In Fleury Afonso Vargas Nilton Coord Organização do trabalho uma abordagem interdisciplinar sete estudos sobre a realidade brasileira São Paulo Atlas 1983 pp 1737 FORD Henry Minha vida e minha obra In FORD Henry Henry Ford por ele mesmo Sumaré SP Martin Claret 1995 pp 107159 GOUNET Thomas Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel São Paulo Boitempo Editorial 1999 GRAMSCI Antonio Americanismo e 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