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57 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 httpsperiodicosufscbrindexphppesquisarindex ISSN 23591870 Jonny Morais Morais Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Geociências Florianópolis SC Brasil jonnymorais90gmailcom httpsorcidorg0000000330745444 Lindberg Nascimento Junior Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Geociências Florianópolis SC Brasil lindbergjuniorufscbr httpsorcidorg0000000302762933 Recebido em 10102019 Aprovado em 30052020 CONCEITO DE REGIÃO E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO AFRICANO1 Jonny Morais Morais2 Lindberg Nascimento Junior3 Resumo O presente artigo busca explicar o conceito geográfico de região como um momento na produção do espaço africano Esse critério parte da cartografiahistórica que articula espaçotempo para o entendimento da história de África e combina representações cartográficas a períodos geográficos O momento da produção espaço do continente africano como região serve para compreender parte do desenvolvimento desigual e combinado a partir das funcionalidades no sistema colonial que colocou a África como grande fator de formação socioespacial de novos estadosnacionais e crescimento econômico das metrópoles coloniais Neste sentido a periodização do continente africano se faz importante para a desconstrução de estereótipos de visões hegemônicas e de históricas únicas e auxilia professoresas e estudantes no trabalho docente sobre a África de forma que valorize a cultura e história afro brasileira e africana Palavraschave Continente Africano Ensino de geografia África Cartografia Histórica Lei Federal 1063903 1 Artigo aprovado pela Comissão Científica e apresentado na seção Espaços de Diálogos Práticas do Seminário de Licenciatura em Geografia abordagens múltiplas SELIGeo realizado no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina campus Florianópolis SC de 5 a 7 de nov de 2019 2 Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Geografia NEPEGeo Professor da Educação Quilombola no Estado de Santa Catarina e no Projeto de Educação Comunitária INTEGRAR 3 Graduado em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina Mestre e Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Professor da Universidade Federal de Santa Catarina Integrante do Laboratório de Climatologia Aplicada LabClima do Observatório de Áreas Protegidas OBSERVA do Grupo de Pesquisa Alteritas Diferença Arte e Educação do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Geografia NEPEGeo e da Rede de Geógrafosas Negrosas Coordenador do projeto de extensão Cartografia Histórica da África Recursos didáticos disseminação e formação docente para educação afrobrasileira e africana 58 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 CONCEPTO REGIONAL Y PRODUCCIÓN DE ESPACIO AFRICANO Resumen El concepto de región se utiliza como momento de producción del espacio geográfico africano Explicamos el espaciotiempo para comprender la historia de África y combinamos representaciones cartográficas con eventos geográficos en una cartografía histórica La región como un momento de producción del espacio africano sirve para comprender una parte del desarrollo desigual y combinado en escalas globales y regionales Este aspecto se basó en las funcionalidades del sistema colonial que ubicaron a África como un factor importante de formación socioespacial de nuevos estados nacionales y el crecimiento económico de las metrópolis coloniales En este sentido la periodización es importante para la deconstrucción de estereotipos visiones históricas hegemónicas y únicas y ayuda a maestros y estudiantes a enseñar sobre África de una manera que valora la cultura e historia afrobrasileña y africana Palabras clave Continente Africano Enseñanza de Geografía África Cartografía Histórica Ley Federal 1063903 CONCEPT OF REGION AND PRODUCTION OF AFRICAN SPACE Abstract The concept of region is utilized as a moment of production of African geographical space We explain the spacetime for understanding the history of Africa and combines cartographic representations with geographical periods with a historical cartography approach The region as a moment of space production on the African serves to understand a part of the uneven and combined development This aspect based on the functionalities in the colonial system which placed Africa as a major factor in the sociospatial formation of new national states and the economic growth of colonial metropolises In this sense the periodization is important for the deconstruction of stereotypes hegemonic and unique historical views and helps teachers and students in teaching work on Africa in a way that values AfroBrazilian culture and history and African Keywords African Continent Geography Teaching Africa Historical Cartography Federal Law 1063903 59 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 Introdução Começamos esse texto pelo seguinte questionamento por que estudar história de África a partir da geografia Podemos começar pelo que deveria ser uma informação facilmente concebida primeiro definindo que a África é um continente e não um país Essa afirmação por mais simples que pareça ser ainda se apresenta com muitas confusões no cotidiano e mostra a evidente ausência de conhecimento geográfico por parte da população brasileira acerca do continente africano Em segundo que esse desconhecimento se manifesta acompanhado de uma persistência estereotipada e preconceituosa acerca da população negra A essa perspectiva podemos associar o fato que temos desde o Censo Demográfico de 2010 IBGE 2010 a população de pardos e pretos como a maior do país e mesmo assim há uma exclusão de uma parcela dessa população dos seus plenos direitos como cidadãos Destacamos do conjunto dos direitos sobretudo os sociais e da educação pública gratuita e de qualidade BRASIL 1988 A partir disso ferramentas vêm sendo apresentadas para que possamos fugir de narrativas únicas e eurocentradas para assim estudar uma história afrocentrada de África do Brasil e da humanidade A principal ferramenta que destacamos é a Lei Federal 1063903 BRASIL 2003 instrumento legal construído pelo Movimento Negro na luta por uma educação para a igualdade racial Com o intuito de contribuir com a ampliação desse processo e legitimação dos princípios legais e sociais da Lei Federal buscamos nesse trabalho apresentar uma perspectiva de partir da história de África utilizando a abordagem da cartografiahistórica Entendemos que os mapas são ferramentas extremamente didáticas para o ensino de Geografia e por isso nosso interesse é que a proposta possa auxiliar professoresas e estudantes de geografia no trato com conteúdos que valorizem e reconheçam cultura e a história afrobrasileira partindo do conhecimento geográfico de base crítica sobre o continente africano Primeiro apresentaremos a importância da geografia para o ensino de história de África e para as relações raciais no Brasil Em seguida apresentaremos elementos geográficos e pensaremos possibilidades de inserção de conteúdos da geografia escolar na história de África Na teceria parte apresentamos partir da proposta teóricometodológico acerca da produção do espaço africano em períodos relativos conforme as categorias paisagem lugar região e território MORAIS et al 2019 Entraremos efetivamente em como se dá a produção do espaço africano no momento em que ele pode ser discutido como região 60 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 1 As relações raciais no Brasil e a importância da Geografia para o ensino de História de África Tendo em vista que após mais de uma década da promulgação da Lei 1063903 ainda se faz necessário movimentos de lutas para a sua efetiva implementação nas instituições de ensino brasileiras Vale destacar que a criação e aprovação da Lei Federal é fruto de um processo de luta pela superação do racismo na sociedade brasileira e tem desde a década de 70 o movimento negro como ator principal desses processos de lutas pela construção de uma educação para igualdade racial De acordo com Santos 2010 p 142 a Lei é transformada pelo movimento social em instrumento para fortalecimento da luta e isto lhe coloca novas pautas articulação e capacitação de secretarias escolas e professores produção de materiais de referências pesquisa e produção de conhecimento revisões de currículos advocacy frente ao não cumprimento da lei entre tantas outras No entanto ainda persiste uma falta de entendimento da Lei que acaba por fazer que ela tenha um maior impacto apenas nas disciplinas de história educação artística e na literatura como se história e cultura não fosse assunto relevante às demais disciplinas O sentido é de que o cumprimento da Lei vai além de um ou outro conteúdo em uma disciplina específica O reconhecimento das raízes africanas tem relação direta com afirmação e valorização da identidade negra na sociedade brasileira Nesse ponto a prática de uma Geografia antirracista é fundamental para promover a igualdade das relações étnicoraciais A partir disso se entende que a Lei é um instrumento que busca realocar o negro na educação brasileira Segundo Santos 2007 História e Cultura Afrobrasileira compreendendo História da África a cultura negra etc são na verdade ferramentas para a construção de outros sentidos de mundo além de uma história única e eurocêntrica buscamos assim construções plurais e de uma interpretação que coloque o continente africano no centro do debate e não apenas como um conteúdo extra ou necessário em datas comemorativas como 20 de novembro eou 13 de maio Entendemos também que aplicar a Lei não orienta inserir novos conteúdos nos currículos mas ao contrário tratase de fazer releituras dos conteúdos já ministrados modificando a forma de como se tem feito a leitura do mundo passado e atual Neste escopo a história tem sentidos e direções diversas e seu rumo se dá sempre a um futuro aberto e cheio de possibilidades de transformação Ela rebate frontalmente com concepções previamente concebidas por valores ocidentais e brancos que relativas à sinônimos de progresso desenvolvimento revolução modernização crescimento e globalização reduzem qualquer trajetória história à uma única universalidade e finalidade 61 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 Essa leitura rompe com a concepção tradicional e linear de tempo que indica que a trajetória histórica não deve ser concebida sob uma espaçotemporalidade que universal presente e única ao mesmo tempo que é também absoluta imutável estática e fixa Em outras palavras é necessário superar a noção que apaga a ideia de que houve diferentes vivências culturas e organizações políticassociais atuando de forma simultânea e mantém a lógica sucessiva e hierarquizada da produção do espaço É importante debater o enfoque dado ao tema África em sala de aula sob esse viés uma vez que sua história se encontra diretamente ligada à história da população negra no Brasil e do desenvolvimento mundial da humanidade Afirmamos que reescrever a história de África é uma importante ferramenta para a valorização e ressignificação de toda uma identidade que foi inferiorizada ao longo da construção do Brasil das Américas e do mundo No campo da geografia cabe o questionamento como atuamos para romper com esta história única de África e construir uma geografia que seja de fato antirracista e multicultural A geografia tem como um de seus objetivos oferecer à humanidade o entendimento das dinâmicas e de processos espaciais que devem auxiliar no raciocínio geográfico e nas práticas do ser humano em todas suas dimensões Sua importância reside exatamente nas contribuições de que esse conhecimento auxilia a direcionar e orientar como os processos de transformação ocupação e produção da sociedade acontecem espacialmente Diante disso é comumente dado que a geografia contribui para a formação humana referenciando os sujeitos acerca de seu lugar no mundo possibilitando a participação nos processos de construção da sociedade Para Santos 2010 os conceitos estruturantes do saber geográfico espaço território região escala urbano agrário centro periferia etc são na verdade referenciais isto é estruturas analíticas que constroem para cada indivíduo a sua leitura de totalidademundo Além desses conceitos e categorias a geografia possui nos mapas uma poderosa ferramenta de construção dos sentidos de mundo Santos 2010 coloca que o mapa pode ser usado para evidenciar ou construir critérios de existências e não existências Neste caso mapear representar evidenciar e mostrar ou não um determinado grupo é uma estratégia política eficaz de identidade A título de exemplificação a partir da leitura e análise espacial das relações raciais postas em um mapa é possível compreender que as relações hierárquicas e assimétricas de poder servem para manter a população negra majoritariamente representada nas páginas policiais e minoritariamente nas universidades Sobre esse aspecto Anjos 2015 nos mostra que em nível de estado brasileiro há uma manutenção da desinformação da população em geral a assuntos referentes ao continente africano esse desconhecimento atua como importante obstáculo para se estabelecer uma real democracia racial no país Podemos destacar inclusive a precariedade da educação 62 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 geográficocartográfica em relação à representação do continente africano como ferramenta de inferiorização e invisibilidade dessa população Percebemos assim que cabe a geografia debater as estruturas espaciais construídas a partir das relações raciais e como as mesmas impactam nossas vivências Afinal como nos diz Santos 2007 é preciso tencionar possibilidades analíticas da geografia para assim abordar o espaço geográfico não somente como objeto de reflexão mas pensar esse espaço geográfico como um instrumento de reflexão sobre as próprias relações raciais através do desvendamento das espacialidades das práticas do racismo por exemplo Cabe à geografia como uma ciência que serve para os sujeitos se posicionarem no mundo SANTOS 2007 oferecer processos de compreensão das expressões espaciais nas mais diversas escalas e que tem pode ser um instrumento de reprodução e difusão de narrativas únicas Devemos então nos atentar para que a partir da educação geográfica possamos desconstruir narrativas dessa ordem e construir uma geografia antirracista e multicultural Uma estratégia de desenvolvimento dessa proposta pode ser visualizada a seguir em que buscamos apresentar formas de colocar a geografia como elemento central para o ensino de história da África 2 Possibilidades de inserção de conteúdos da Geografia escolar na história de África Vivemos em um país de sociedade classista racista e sexista cuja população negra que integra a maior parcela demográfica mesmo depois de mais 100 anos de abolição oficial da escravidão continua como subalterna com cidadanias mutiladas SANTOS 1996 uma vez que o acesso a direitos sociais básicos e dignos de seres humanos ainda é uma questão estrutural O Movimento Negro por meio de lutas tem denunciado as desigualdades raciais no Brasil e buscando desconstruir mito da democracia racial colocando a educação como pauta principal uma vez que essa se mostra repleta de práticas racistas além de ser uma ferramenta de difusão de ideologias que negativam a parte da população não branca da sociedade Apesar das recentes conquistas a Lei Federal 1063903 que prevê a obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana ainda está passível de real efetiva implementação que sejam observadas por ações concretas no cotidiano e na mudança de comportamentos É fato que os campos da História e da Pedagogia principalmente assumiram um papel primordial para a implementação da Lei no ensino básico As alterações nesses campos se deram primeiramente na dimensão objetiva a partir da produção de materiais didáticos em especial o livro didático e na dimensão formativa por meio da revisão da grade curricular dos cursos de graduação com inclusão de disciplinas específicas e especiais SANTOS 2010 63 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 Apesar de tudo que já foi colocado aqui acerca da importância e da potência da ciência geográfica houve certo atraso em se cumprir a lei Hoje no entanto podemos afirmar que geografia tem avançado no debate acerca da temática tem se colocado como uma ferramenta de suma importância para romper com estigmatizações que constitui papéis sociais restritos e explicitar a diversidade de ocupações e funções que são e podem ser exercidas na sociedade pela população negra O primeiro passo para desenvolver essa geografia está em buscar a desconstrução das narrativas dominantes que tem uma leitura eurocêntrica da história mundo Para isso é necessário reescrever essas narrativas e mais que isso é importante inserir novos enredos e personagens Santos 2010 2007 apresenta algumas possibilidades para descolonização do ensino da geografia apresentando um temário Destacamos aqui alguns desses temas O debate raça e modernidade que coloca a questão racial no cerne das relações sociais para a afirmação do capitalismo no séc XIX O processo de branqueamento da população e branqueamento do território cujo interesse pode abordar a composição racial da população brasileira buscando problematizar as relações raciais e a democracia racial com projeto de construção de uma nação As comunidades remanescentes de Quilombos estudar a história dos quilombos é estudar a história de resistência dos negros a escravidão portanto é estudar as marcas espaciais que atualizam o passado e não se esquecer da importância dele para compreender o espaço do tempo presente ToponímiaMarcas históricas da presença negra definição dos nomes dos lugares afloram sentimentos de pertencimento e as toponímias indígenas e negras possuem marcas históricas apagadas eou invisibilizadas da construção e formação do nosso território é preciso valorizar e contar a história desses lugares Para o ensino sobre o continente africano é necessário desconstruir narrativas eurocêntricas que estabelecem que a história da África se dá a partir do contato com o Europeu e reconstruir essa narrativa a partir de marcos africanos que coloquem o continente como centro da sua própria história Ratts 2015 aponta que os conteúdos de história e cultura afrobrasileira e africana podem ser desenvolvidos no ensino da geografia a partir das diversas interações políticas e culturais seja pela articulação das diferentes escalas geográficas local regional nacional e global na triangulação África Europa e América Observase que as estratégias de ensino e pesquisas geográficas sobre relações étnico raciais cultura africana e afrobrasileira negritude e africanidades apresentam alternativas para a descolonização da geografia e dos conteúdos trabalhados no saber geográfico 64 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 Oferecemos como mais uma contribuição esse debate a partir da teoria da produção do espaço ema uma alternativa sistematizada e qualificada que promove a releitura geográfica da história da África 3 A produção do espaço como proposta metodológica Apresentaremos aqui uma estratégia didática para se compreender a história do continente africano a partir de uma proposta que combina a abordagem da cartografia histórica à produção do espaço Entendemos a cartografiahistórica como uma abordagem geográfica que tem como princípio o estabelecimento do desenvolvimento histórico da dinâmica das paisagens naturais e da configuração dos territórios por meio de representações espaciais e sequência temporal eventual periodizada cronológica etc e se faz como uma possibilidade de reescrita e inserção de outras histórias ou melhor de outras geografias do continente africano De acordo com Morais et al 2019 a proposta teóricometodológica serve ao ensino e estudo geográfico dos lugares sendo dimensionado pela articulação entre sociedade natureza e espaço tempo que formam os planos analíticos de base ontológica e epistemológica da produção do espaço geográfico Juntos e dialeticamente relacionados eles oferecem as componentes importantes do entendimento de como o desenvolvimento geográfico acontece nos lugares Por isso a produção do espaço é a teoria mais adequada e a categoria chave para entender a história do continente africano dentro da geografia A partir de levantamento e da reunião de diversos mapas temáticos acerca do continente africano buscamos organizálos dentro de uma linha temporal em espiral dividida em períodos relativos conforme as categorias paisagem lugar região e território A partir dos quatro momentos geográficos buscase sempre a relação e integração entre eventos e processo que unem história natural e social A construção da linha do tempo em forma de espiral é proposital figura 1 pois acreditamos que para se entender a produção do espaço de um determinado lugar não podemos pensar linearmente como se tudo acontecesse de forma sequencial e hierarquizada um evento após e sobre o outro Tal lógica é base para a constituição narrativa pretensamente universal da história mas cuja referência é o eurocentramento espaço temporal do mundo SANTOS 2010 p 146 Na linha do tempo em espiral é possível conceber a história como seta e ciclo e que a produção do espaço geográfico se dá no sentido de formação e origem que se organiza enquanto funcionalidade e projetase como múltipla determinação ou como possibilidade de transformação SUERTEGARAY 2001 Neste contexto o espaço geográfico é a coexistência das formas herdadas de uma outra funcionalidade reconstruídas sob uma nova organização com formas novas em 65 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 construção ou seja é a coexistência do passado e do presente ou de um passado reconstituído no presente SUERTEGARAY 2001 p 1 Na síntese a produção do espaço pode representada graficamente em uma espiral combina na leitura dos avanços seta dos retornos ciclo e dos progressosretrocessos seta ciclo Juntos essas grafias evidenciam como as permanências as continuidades as mudanças e as transformações indicam parte do processo de construção geográfica dos lugares A periodização em momentos geográficos é uma maneira de evidenciar como os processos mais abrangentes e gerais se realizam e por isso podem ser organizados a partir de categorias e conceitos geográficos Figura 1 A produção do espaço geográfico africano em uma espiral Fonte Elaboração dos autores 2019 Neste trabalho apresentase como a produção do espaço africano é entendido como região que indica a origem da dominação europeia da subalternização da raça e das resistências Cabe destacar que ao pensarmos o conceito geográfico de região na produção do espaço africano evitamos o uso restrito do conceito avançamos deste modo no seu caráter múltiplo de gestão territorial e partir disso refletir sobre suas aplicabilidades e funcionalidades O momento do continente africano como região destaca a África como um espaço funcional ao processo colonial O conceito de região oferece a possibilidade de reconhecer o continente enquanto resultado da seletividade espacial MOREIRA 2001 com base em 66 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 critérios objetivos que se dá inicialmente na busca pelas riquezas naturais e mão de obra negra a ser escravizada indicando limites e fronteiras abstratamente estabelecidas e politicamente definidas GOMES 1995 MOREIRA 1997 O sentido é de que a produção do espaço africano retoma os primórdios do conceito de região que surge como a relação entre a centralização do poder em um local e a extensão dele sobre uma área de grande diversidade social cultural e espacial GOMES 1995 p 51 que tem início no período das grandes navegações e finaliza com a Partilha da África figura 1 Buscaremos entender então quais são os fatos e eventos que compõe um dos momentos mais críticos do continente africano que inclusive reorienta o movimento espiral da linha temporal em outra direção figura 1 destacando fundamentalmente as origens do processo de dominação europeia e seus marcos históricos 4 O Continente Africano como Região origem da dominação europeia da subalternização racial e das resistências Geralmente repetimos o erro de pensar o processo de escravidão partindo da chegada de 10 a 11 milhões de africanos e seus impactos na formação do continente americano e na dinâmica colonial Priorizamos apenas do sistema econômico construído sobre os sujeitos escravizados iniciando a desconstrução da história pela dominação europeia e negligenciamos os aspectos políticos e ideológicos que fundamentaram esse período Por isso indicamos que é a Partilha da África que se dá a partir da conferência de Berlim 18841885 que melhor evidencia e ápice da dominação europeia na África como região São os agentes hegemônicos europeus que colocam seus protagonismos e interesses coloniais sobre o continente africano desencadeando processos cujas consequências são observadas até os dias atuais Entendemos a conferência como o grande marco desse momento e que ele também tem sua história uma vez que os europeus chegaram à África aos poucos e não por uma invasão homogeneizante como muitos pensam Os europeus já tinham relações com a África desde muitos séculos antes da colonização mas essas relações eram estritamente comerciais em contatos de compra e venda muito comuns O processo de expansão europeia sobre o continente deste modo se inicia por volta de 1430 com a chegada dos portugueses HERNANDEZ 2005 e já no século XV os europeus passaram a desejar a conquista das áreas litorâneas do continente primeiramente em busca de trigo e cereais para abastecimento dos reinos e consequentemente pela busca de metais preciosos figura 2 67 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 Figura 2 Mapa representando as grandes navegações nos séculos XVXVI Fonte Arruda e Piletti 2007 Esse processo se dá quando as rotas marítimas se tornaram o principal caminho comercial para os europeus principalmente após os turcos otomanos realizarem o bloqueio da rota terrestre que passava pelo mediterrâneo DORIGO MARONE 1991 SERRANO WALDMAN 2008 Durante os primeiros quatro séculos do século XV a metade do XIX de contato dos navegantes europeus com o Continente Negro a África foi vista como somente como uma grande reserva de mão de obra escrava extremamente especializada já que os grandes impérios africanos já possuíam um vasto conhecimento em trabalhar com materiais metálicos como cobre e ouro Além disso os povos africanos já tinham desenvolvido técnicas agrícolas adaptadas ao mundo tropical ou seja diferente do que se tem pejorativamente mostrado já existia em África um alto nível de sofisticação técnica e desenvolvimento cultural É só a partir dessa apropriação que a mão de obra escrava se torna a principal mercadoria para o desenvolvimento das metrópoles europeias figura 3 68 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 Figura 3 Mapa representando Diáspora Africana entre 15001900 Fonte Eltis e Richardson 2010 Esse processo se dá de forma desigual e combinada Ao passo que ele enriquece as elites e as metrópoles europeias ele também auxilia na formação do continente americano Mas cabe à África o ônus desse grande desenvolvimento mundial observado nas grandes chagas do processo Apesar do grande empenho e interesse das metrópoles europeias pelo tráfico atlântico a diminuição do trabalho escravo no mundo sobretudo nas Américas é que intensifica a expansão europeia continente adentro Dessa vez são as expedições missionárias e científicas que permitiram o conhecimento do interior do continente elas se deram basicamente pela evangelização cristã com a entrada de missionários na África e por expedições que se apropriaram do conhecimento dos povos adentrando o continente pelos setores costeiros e pelos canais fluviais dos principais rios Rio Nilo Egito e Sudão Rio Níger Guiné Serra Leoa Mali Nigéria e Níger Rio Zambeze Zâmbia Zimbábue e Moçambique e o rio Congo República Democrática do Congo e Congo O resultado por convergências de interesse econômico e políticos acerca do continente africano acabou levando as potências coloniais a se reunirem entre 1884 e 1885 para decidirem com seria feita a partilha da África 69 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 A partilha deu início à conquista processo por meio do qual se acelerou a violência geográfica com a exploração generalizada dos diversos espaços geopolíticos do continente africano A essa fase inicial de perda da soberania dos africanos seguiuo o período da estruturação do sistema colonial HERNANDEZ 2005 p 91 O processo que consolida o domínio europeu regionaliza o continente de forma homogênea independentemente de sua diversidade étnica e cultural figura 4 De diversos e múltiplos antes lugar dos povos e de passagem de estrangeiros a África é transformada em colcha de retalhos possibilitada pelo uso e funcionalidade do conceito de região Neste momento são mais de 90 da área continental sob domínio dos povos europeus que resultou em um processo colonizatório de exploração predatória DORIGO MARONE 1991 Figura 4 Mapa representando a partilha da África Fonte Vichessi e Giuffrida 2010 A África dividida regionalmente como um produto intelectual é um espaço geográfico chave para uma nova fase de produção capitalista acontecer ou seja são necessárias nações independentes e livres para que a exploração e o comércio mundial continuassem em outro patamar de acumulação e produção da riqueza É necessário compreender que nesse momento há uma forte atuação de processos exógenos imperialismo colonialismo e 70 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 escravismo e que suas manifestações políticas e culturais se dão majoritariamente de forma violenta e deixam rugosidades que se perpetuam nas suas estruturas espaciais até hoje principalmente a partir da Partilha Aliado a essa questão grupos e movimentos que lutavam em busca da independência política começaram a dispersar discursos de libertação e descolonização por todo o continente DORIGO e MARONE 1991 Mas este caráter deve inaugurar um novo processo de produção do espaço africano no qual a região deve ser usada sob outro critério e um novo objetivo A África dividida regionalmente como um produto intelectual é um espaço geográfico chave para uma nova fase de produção capitalista acontecer ou seja são necessárias nações independentes e livres para que a exploração e o comércio mundial continuassem em outro patamar de acumulação e produção da riqueza Aliado a essa questão grupos e movimentos que lutavam em busca da independência política começaram a dispersar discursos de libertação e descolonização por todo o continente DORIGO e MARONE 1991 Mas este caráter deve inaugurar um novo processo de produção do espaço africano no qual a região deve ser usada sob outro critério e um novo objetivo Por fim se faz necessário entender que a atuação da Europa sobre o continente africano destacase o processo de produção do espaço africano marcado pelo imperialismo pelo colonialismo e pela escravização sendo a partilha o evento que inaugura um processo abrangente e violento de regionalização O resultado é que o conceito de região evidencia as marcas de miséria das desigualdades e dos conflitos que estão presentes no continente até os dias de hoje Todavia é necessário um sentido histórico que seja afrocentrado que ressalte a heterogeneidade a complexidade e o dinamismo sociocultural com características próprias do espaço africano nesse momento negado a pacificidade atribuída ao continente e destacando as mudanças e o potencial revolucionário HERNANDEZ 2005 Uma vez que todo processo de regionalização se desenvolve por conflitos de inclusão e exclusão da diferença A regionalização do continente potencializou a arbitrariedade e opressão presente nas relações estabelecidas entre ocidentais e africanos e também oferecem pistas para o questionamento de ideias preconceituosas por vezes revestidas de humanismo assistencialista que apresentam o continente africano como incapaz de conduzir a si próprio reduzindoo a um lugar de miséria dor e sofrimento HERNANDEZ 2005 Considerações Finais A geografia demonstra ser uma excelente ferramenta para partir da história de África na perspectiva afrocentrada e antirracista Ela oferece tantas possibilidades para que a 71 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 história do continente seja reescrita quanto uma forma de colocar a África como centro de narrativa seja do ponto de vista do conteúdo escolar quanto da história do mundo A proposta metodológica que combina abordagem da cartografiahistórica e a produção do espaço em uma linha temporal de eventos da história natural e social de África integra um recurso didático que auxilie professoresas no debate geográfico sobre a história da África e ao mesmo tempo romper com uma concepção sequencial e linear das narrativas eurocêntricas da história Colocase no desenvolvimento espiralado da história a África enquanto fio condutor e o espaço africano o produtoprodutor de ritmos e lugares próprios internos e imediatos e remotos próximos e distantes Neste artigo priorizouse por um momento desta linha no qual a produção do espaço africano pode ser concebida a partir do conceito de Região Cabe aos geógrafos atuar sobre a desconstrução dessa narrativa colonial utilizando de ferramentas como a metodologias e abordagens críticas e antirracistas Referências Bibliográficas ANJOS Rafael Sanzio A dos As geografias oficial e invisível do Brasil algumas referências GEOUSP Espaço e Tempo Online São Paulo v 19 n 2 p 374390 3 nov 2015 Disponível em httpwwwrevistasuspbrgeousparticleview102810 Acesso em 3 jul 2019 ARRUDA José Jobson de PILETTI Nelson Atlas Histórico Toda a História Geral e História do Brasil V único 13 ed São Paulo Ática 2007 p XVII BRASIL Constituição 1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 Brasília DF Presidência da República 1988 Disponível em httpwwwmpgompbrportalwebhp10docsconstituicaofederalde1988 daeducacaopdf Acesso em 23 jun 2019 BRASIL Lei 10639 de 9 de janeiro de 2003 Estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afrobrasileira Diário Oficial da União 2003 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03leis2003l10639htm Acesso em 23 jun 2019 DORIGO Gianpaolo MARONE Gilberto Tibério História Geral I São Paulo Anglo 1990 1991 ELTIS David RICHARDSON David Atlas of the Transatlantic Slave Trade African Diaspora Archaeology Newsletter s l v 13 n 4 p 17 2010 Disponível em httpsscholarworksumasseduadanvol13iss417 Acesso em 25 jun 2019 GOMES Paulo C da C O conceito de região e sua discussão In CASTRO Iná E de GOMES Paulo C da C CORRÊA Roberto L org Geografia conceitos e temas Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1995 p 4976 72 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 HERNANDEZ Leila Maria Gonçalves A África na sala de aula visita à história contemporânea São Paulo Selo Negro 2005 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística XII Censo Demográfico 2010 Disponível em httpscenso2010ibgegovbrresultadosresumohtml Acesso em 23 jun 2019 MORAIS Jonny A et al A produção do espaço como proposta de ensino da história de África In ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICAS E ENSINO DE GEOGRAFIA 2019 Campinas SP Anais Campinas SP Unicamp2019 Disponível em httpsocsigeunicampbrojsanais14enpegarticleview2888 Acesso em 18 jul 2019 MOREIRA Ruy As categorias espaciais da construção geográfica das sociedades GEOgraphia Rio de Janeiro v 3 n 5 p 1532 2001 MOREIRA Ruy Da região à rede e ao lugar a nova realidade e o novo olhar geográfico sobre o mundo Bauru Ciência Geográfica n 6 p 111 1997 Disponível emhttpwww2fctunespbrdocentesgeoraulcartografiaensinoGeografia2016racioc EDnio20geogrE1fico2020ruy20moreirapdf Acesso em 25 ago 2019 RATTS Alex Geografia relações étnicoraciais e educação a dimensão espacial das políticas de ações afirmativas no ensino Terra Livre São Paulo v 1 n 34 p 125140 2015 Disponível emhttpswwwagborgbrpublicacoesindexphpterralivrearticleview314 Acesso em 10 set 2019 SANTOS Milton As cidadanias mutiladas O Preconceito São Paulo IMESP v 1997 p 133 144 1996 SANTOS Renato Emerson dos org Diversidade espaço e relações étnicoraciais o negro na geografia do Brasil Belo Horizonte Autêntica 2007 SANTOS Renato Emerson dos Ensino de Geografia e Currículo questões a partir da Lei 10639 Terra Livre São Paulo n 34 p 141160 2010 Disponível em httpswwwagborgbrpublicacoesindexphpterralivrearticleview315 Acesso em 9 set 2019 SERRANO Carlos WALDMAN Maurício Memória dÁfrica a temática africana em sala de aula São Paulo Cortez 2008 SUERTEGARAY Dirce M Espaço geográfico uno e múltiplo Scripta Nova revista electrónica de geografía y ciencias sociales Barcelona v 5 n 93 p 79104 15 jul 2001 Disponível em httpwwwubedugeocritsn93htm Acesso em 13 out 2019 73 Pesquisar Florianópolis v 7 n 13 Ed especial SELIGeo p 5773 jun 2020 VICHESSI Beatriz GIUFFRIDA Patrícia Quais foram os colonizadores da África Portal Geledés 2010 Disponível em httpswwwgeledesorgbrquaisforamoscolonizadores daafrica Acesso em 8 ago 2019 Resumo do artigo Conceito de Região e a Produção do Espaço Africano O artigo começa questionando a importância de estudar a história da África a partir da geografia destacando a necessidade de superar a visão eurocêntrica que muitas vezes predominou no ensino da história africana O autor enfatiza que a África deve ser compreendida como um continente e não como um país o que é uma base fundamental para combater estereótipos e preconceitos existentes na sociedade brasileira O desconhecimento geográfico e cultural sobre a África contribui para a exclusão de parte significativa da população negra de seus plenos direitos sociais e educacionais 1 Importância da Geografia no Ensino da História da África A Lei Federal 1063903 que exige a inclusão de História e Cultura Afrobrasileira e Africana nos currículos escolares é mencionada como uma ferramenta crucial para a promoção da igualdade racial No entanto o artigo aponta que sua implementação efetiva ainda enfrenta desafios O texto argumenta que a geografia pode desempenhar um papel fundamental na superação de narrativas eurocêntricas e na valorização da cultura e história afrobrasileira e africana A importância da geografia é destacada não apenas como uma disciplina que oferece uma compreensão dos processos espaciais mas também como uma ferramenta para a construção e desconstrução de identidades e narrativas históricas 2 Possibilidades de Inserção dos Conteúdos de Geografia na História da África O artigo sugere que a geografia pode contribuir para uma abordagem mais crítica e inclusiva da história africana através da desconstrução das narrativas dominantes e da inserção de novas perspectivas O texto propõe diversas maneiras de integrar conteúdos geográficos na história da África 1 O Debate Racial e Modernidade Explorar como a questão racial esteve no cerne das relações sociais e do capitalismo no século XIX 2 Branqueamento da População e do Território Analisar a composição racial da população brasileira e as implicações para a democracia racial 3 Comunidades Remanescentes de Quilombos Estudar a história dos quilombos como um exemplo de resistência e suas marcas espaciais no presente 4 Toponímia e Marcas Históricas da Presença Negra Examinar a definição dos nomes de lugares e suas conexões com a presença negra e indígena 3 A Produção do Espaço como Proposta Metodológica Para abordar a história do continente africano propomos uma estratégia didática que integra a cartografiahistórica com a noção de produção do espaço A cartografiahistórica é uma abordagem geográfica que examina o desenvolvimento histórico das paisagens e territórios por meio de representações espaciais e temporais Essa metodologia oferece a possibilidade de reescrever e reavaliar a história geográfica do continente africano considerando perspectivas alternativas e menos eurocêntricas A cartografiahistórica serve para entender a dinâmica dos espaços naturais e construídos ao longo do tempo através da análise de mapas que ilustram transformações geográficas e históricas Conforme Morais et al 2019 essa abordagem integra os conceitos de sociedade natureza espaço e tempo permitindo um entendimento mais abrangente da evolução dos lugares A produção do espaço é a teoria que melhor se adequa para compreender a história africana dentro da geografia Ela considera o espaço geográfico como um resultado de processos históricos e sociais que se desenvolvem de maneira não linear mas sim como um ciclo contínuo de formação transformação e reconfiguração SUERTEGARAY 2001 Propomos uma linha do tempo em espiral para representar a produção do espaço no continente africano Ao contrário da abordagem linear tradicional a espiral permite visualizar a história como um processo dinâmico e não sequencial Essa metodologia reflete a complexidade e a multiplicidade de fatores que moldam o espaço geográfico africano considerando a coexistência de passado e presente e a interação contínua entre diversos eventos e processos SUERTEGARAY 2001 A linha do tempo espiral é dividida em quatro momentos geográficos paisagem lugar região e território Cada um desses momentos oferece uma perspectiva diferente sobre o desenvolvimento do espaço africano evidenciando como a história natural e social interagem para formar o ambiente geográfico atual 4 O Continente Africano como Região Origem da Dominação Europeia Subalternização Racial e Resistências A análise da história africana frequentemente foca na chegada de africanos escravizados às Américas e seus impactos mas é crucial examinar o processo de dominação europeia no próprio continente africano A Conferência de Berlim 18841885 que formalizou a partilha da África é um marco fundamental desse processo A partir dessa conferência as potências europeias estabeleceram fronteiras arbitrárias que desconsideravam as realidades sociais e culturais africanas iniciando um processo de colonização e exploração que perdura até hoje A expansão europeia na África começou com os portugueses no século XV seguidos por outras potências europeias que buscavam riquezas e recursos O bloqueio da rota terrestre pelo Império Otomano impulsionou a navegação marítima aumentando o interesse europeu no continente africano Embora as primeiras relações tenham sido comerciais o desejo de explorar recursos naturais e mão de obra escravizada levou à exploração e ao controle colonial HERNANDEZ 2005 A partilha da África dividiu o continente em colônias europeias desconsiderando a diversidade étnica e cultural local O processo foi caracterizado por violência e exploração com mais de 90 da área continental sob controle europeu e teve um impacto profundo nas estruturas sociais e econômicas africanas DORIGO MARONE 1991 O processo de descolonização começou com movimentos de independência que questionavam e desafiavam o domínio europeu Esses movimentos procuraram restaurar a autonomia e a identidade cultural africanas mas o legado da colonização ainda se faz sentir nas desigualdades e conflitos atuais DORIGO e MARONE 1991 Considerações Finais A geografia ao integrar a cartografiahistórica e a produção do espaço oferece uma ferramenta valiosa para reescrever a história africana a partir de uma perspectiva afrocentrada e antirracista A metodologia da linha do tempo espiral permite uma compreensão mais dinâmica e complexa da evolução do continente africano destacando a interconexão entre passado e presente e promovendo uma visão mais justa e abrangente da história Essa abordagem metodológica desafia a narrativa eurocêntrica e destaca a importância de considerar as múltiplas dimensões da história e da geografia africanas promovendo uma compreensão mais profunda e crítica das relações históricas e geográficas que moldaram o continente A atuação crítica dos geógrafos é essencial para desconstruir narrativas coloniais e promover uma visão mais equitativa e representativa da África Fichamento do Texto A Produção do Espaço como Proposta Metodológica 1 Introdução à Metodologia Objetivo O texto visa compreender a história do continente africano utilizando uma combinação da cartografiahistórica com a teoria da produção do espaço Essa abordagem busca superar as visões lineares e estáticas da história promovendo uma compreensão integrada das dimensões espaciais e temporais Definição de CartografiaHistórica A cartografiahistórica é uma metodologia que analisa o desenvolvimento das paisagens e a configuração dos territórios ao longo do tempo através de representações espaciais e sequenciais Segundo Morais et al 2019 a cartografiahistórica examina a evolução dos espaços geográficos por meio de mapas temáticos refletindo as mudanças e continuidades nos territórios 2 CartografiaHistórica e Produção do Espaço CartografiaHistórica Utiliza mapas temáticos para criar uma linha temporal espiral dividida em períodos como paisagem lugar região e território Esta abordagem permite a integração de eventos históricos e processos naturais e sociais proporcionando uma visão mais dinâmica da evolução espacial Teoria da Produção do Espaço Proposta por Suertegaray 2001 esta teoria é crucial para entender como o espaço é produzido e transformado ao longo do tempo A linha temporal espiral ilustra a coexistência e transformação dos espaços revelando como os processos históricos e espaciais interagem e se influenciam mutuamente 3 Linha Temporal Espiral Conceito A linha do tempo em espiral foi escolhida para evitar uma visão linear da história destacando a complexidade dos processos históricos e espaciais A espiral combina avanço seta retorno ciclo e progressosretrocessos setaciclo evidenciando as permanências e mudanças na construção geográfica dos lugares Representação Gráfica Esta representação gráfica ilustra a interatividade e as mudanças contínuas ao longo do tempo permitindo uma análise mais abrangente das dinâmicas espaciais e históricas A espiral não só representa a progressão dos eventos históricos mas também os ciclos de retorno e transformação mostrando como os espaços evoluem e se reconfiguram 4 Produção do Espaço Africano como Região Definição de Região No contexto africano a noção de região é usada para entender a dominação europeia e suas consequências explorando como as práticas coloniais moldaram os espaços africanos A definição de região vai além da simples delimitação territorial refletindo as dinâmicas de poder e resistência que moldaram o espaço africano Dominação Europeia A noção de região também reflete a dominação colonial e a subalternização racial além da resistência africana Esta abordagem ajuda a analisar como a colonização reconfigurou o espaço e impactou profundamente as sociedades africanas 5 O Processo de Dominação Europeia História da Dominação A dominação europeia da África começou por volta de 1430 com a chegada dos portugueses e se expandiu nos séculos XV e XVI Inicialmente voltada para o comércio e exploração costeira a dominação evoluiu para a exploração interna do continente A Conferência de Berlim 18841885 marcou a formalização da partilha da África onde as potências europeias dividiram o continente sem considerar as realidades locais Conferência de Berlim 18841885 Este evento foi um marco na partilha formal da África estabelecendo fronteiras artificiais que desconsideravam a diversidade étnica e cultural existente A partilha foi feita de maneira homogênea ignorando as complexas realidades sociais e culturais do continente 6 Consequências da Partilha Conquista e Violência A partilha levou a uma violência geográfica generalizada e à exploração predatória dos recursos africanos A divisão do continente resultou em conflitos e imposição de novas fronteiras que alteraram profundamente a configuração territorial e social da África Regionalização Forçada A divisão homogênea do continente desconsiderou a diversidade étnica e cultural resultando em uma regionalização forçada que impactou negativamente as sociedades africanas A regionalização imposta pelos colonizadores ignorou as realidades locais criando divisões que ainda afetam a África 7 Impactos e Resistências Resistência e Descolonização Movimentos de independência e discursos de descolonização surgiram como respostas à dominação europeia propondo uma nova forma de produção do espaço africano Esses movimentos buscaram reverter os danos causados pela colonização e promover uma nova forma de organização territorial e social Legado O imperialismo e a escravização deixaram marcas duradouras na estrutura espacial e nas relações sociais do continente O legado colonial perpetua desigualdades e conflitos que ainda influenciam a África contemporânea 8 Considerações Finais Abordagem Afrocentrada Adotar uma perspectiva afrocentrada é fundamental para reescrever a história da África de forma mais justa e representativa Essa abordagem destaca a complexidade e o dinamismo sociocultural do continente proporcionando uma visão mais equilibrada e verdadeira da história africana Desconstrução da Narrativa Colonial É essencial utilizar uma metodologia crítica para questionar e superar narrativas coloniais promovendo uma compreensão mais justa da história A desconstrução das narrativas coloniais e a valorização das perspectivas locais são fundamentais para uma compreensão mais representativa da África