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Filosofia ·

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87 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Unidade II 5 A SOCIEDADE E A CULTURA A FORÇA E A AUTORIDADE O poder exercido sobre um homem ou grupo humano por outro homem ou grupo humano é chamado de autoridade A autoridade não se refere somente ao poder político Além da autoridade do Estado existe a autoridade da Igreja da ciência etc A autoridade é qualquer poder de controle das opiniões e dos comportamentos individuais ou coletivos O problema filosófico da autoridade diz respeito à sua justificação Em qual fundamento podemos apoiar a validade da autoridade Você certamente já fez isso dizendo a seguinte frase Você não manda em mim Podemos distinguir as diferentes doutrinas que tentam justificar a autoridade Numa o fundamento da autoridade é a natureza Noutra o fundamento da autoridade é a divindade Numa terceira o fundamento da autoridade são os homens isto é o consenso daqueles mesmos sobre os quais ela é exercida A teoria segundo a qual a autoridade foi estabelecida pela natureza é comum a Platão e Aristóteles Segundo eles a autoridade deve pertencer aos melhores e é a natureza quem se incumbe de decidir quem são os melhores Platão divide os homens em duas classes os que são capazes de se tornar filósofos e os que não são Os primeiros são movidos naturalmente por uma tendência irresistível à verdade Os segundos são naturezas vis e liberais que nada têm em comum com a Filosofia Essa divisão entre os que estão destinados a possuir e a exercer a autoridade e os que estão destinados a obedecer é portanto feita pela natureza Essa desigualdade radical dos homens como fundamento natural da autoridade também é descrita por Aristóteles A própria natureza ofereceu um critério discriminativo fazendo que dentro de um mesmo gênero de pessoas se estabelecessem as diferenças entre os jovens e os velhos e entre estes a uns incumbe obedecer a outros mandar Mas a diferença entre jovens e velhos é temporária os jovens ficarão velhos e por sua vez comandarão A diferença substancial e fundamental é entre o pequeno número de cidadãos dotados de virtudes políticas sendo portanto justo que se alternem no governo e a maioria dos cidadãos comuns desprovidos daquelas virtudes e destinados a obedecer ARISTÓTELES 2012 p 1336 A ideia nessa concepção filosófica de autoridade é a divisão natural dos cidadãos em duas classes das quais só uma possui como direito natural o exercício da autoridade Como é feita esta distinção entre as duas classes tem pouca importância o importante é a distinção 88 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Toda ideia de aristocracia ou seja do governo dos nobres tem em comum essa concepção de autoridade a encontramos no racismo e em toda forma de pensamento não democrático A segunda teoria é que a autoridade se baseia na divindade Essa é a doutrina exposta no capítulo XIII da epístola aos Romanos de São Paulo Toda alma esteja sujeita às potestades superiores porque não há potestade que não venha de Deus e as potestades que há foram ordenadas por Deus Por isso quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação Porque os magistrados não são terror para as boas obras mas para as más Queres tu pois não temer a potestade Fazei o bem e terás o seu louvor Porque ela é ministra de Deus para teu bem Mas se fizeres o mal teme porque ela não traz em vão a espada Pois é ministra de Deus vingadora para o castigo daquele que pratica o mal Por isso é necessário que lhe estejais sujeitos não somente por causa do castigo mas também por obrigação de consciência SÃO PAULO 1984 Esse texto foi fundamental para a concepção cristã de autoridade que foi defendida por Santo Agostinho Ele insistiu no caráter sagrado do poder dos reis e nobres a ponto de considerar o soberano como representante de Deus na Terra Essa mesma tese foi adotada por São Tomás de Aquino De Deus como do primeiro dominante deriva todo domínio ABBAGNANO 2007 p 99 Essa ideia de autoridade divina coincide com o conceito de autoridade da natureza de uma forma negativa pois nenhuma das duas quer saber da opinião de quem é obrigado a obedecer A diferença entre estes dois tipos de autoridade é que a autoridade divina justifica que toda autoridade seja exercida de fato porque vem de Deus A autoridade da natureza não exige que a classe destinada a mandar mande sempre mas a autoridade da divindade sugere que toda autoridade que de fato é exercida foi estabelecida por Deus e é sempre plenamente legítima A terceira ideia de autoridade é construída contra esta ideia de São Paulo e da Igreja Católica Segunda ela a autoridade não é a posse de uma força mas um direito em exercer a autoridade Tal direito nasce do consenso das pessoas sobre as quais a autoridade é exercida Essa doutrina nasceu com os estoicos Seu pressuposto fundamental é a negação da desigualdade entre os homens Todos os homens receberam da natureza a razão Só a razão comanda retamente e por isso todos são livres e iguais por natureza Só a razão comanda retamente e por isso todos são livres e iguais por natureza Segundo Abbagnano Cícero acreditava que nada há de melhor de mais livre e de mais feliz quando os povos mantêm íntegro o seu direito através das leis dos juízos da guerra da paz dos tratados da vida e do patrimônio de cada um ABBAGNANO 2007 Cícero pensava que só um Estado assim pode ser chamado legitimamente de república isto é coisa do povo O reconhecimento que nasce da aceitação do povo fundamenta toda autoridade mas as formas e os limites institucionais desse reconhecimento podem ser muito diferentes em cada país 89 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 51 A diferença entre o exercício da força e o da autoridade A força é toda técnica que pretende garantir infalivelmente um efeito ou que pretende garantir que este efeito continue Em outras palavras força é tudo aquilo que força uma situação Kant escreveu que há quatro espécies de combinações da força com a liberdade e a lei A lei e a liberdade sem força é igual a anarquia A lei e a força sem liberdade equivalem ao despotismo A força sem liberdade e sem lei significa barbárie A força com liberdade e com lei é a república A noção de força em Filosofia é diferente da noção de força da Física A noção de força também deve ser distinguida da noção de energia elétrica por exemplo A ideia de força para a ciência nasceu com o pensador austríaco Johannes Kepler que considerou a força uma virtude à qual se devem os movimentos gravitacionais Essa virtude estaria sujeita a todas as necessidades matemáticas e Kepler não entendeu que esta força pudesse ser identificada com a alma A definição de Descartes segundo Abbagnano diz que A força com que um corpo age contra outro corpo ou resiste à sua ação consiste apenas em que toda a coisa persiste enquanto pode no mesmo estado em que se encontra de acordo com a primeira lei já exposta ABBAGNANO 2007 p 466 Isto já prenunciava as ideias de Newton Foi Newton quem generalizou a noção de força criando uma expressão matemática para descrevela O segundo princípio da dinâmica ou seja a proporcionalidade entre força e aceleração imprimida F md faz da força uma relação entre duas grandezas sem nenhuma referência às essências ou qualidades ocultas Newton não viu nenhum sentido em pensar a força como parte da alma ou de um espírito e escreveu Pretendo dar somente uma noção matemática das forças sem considerar suas causas ou suas sedes físicas ABBAGNANO 2007 p 466 Do ponto de vista da Filosofia ou da ciência a força diz respeito sempre a alguma coisa que movimenta outra coisa por causa de sua existência Assim a força em si não tem nenhuma semelhança com a autoridade mas quando combinada com outros princípios como Kant notou bem tem consequências na condução do Estado 511 Toda autoridade usa a força Como vimos na explicação de Kant na política e na condução do Estado sempre existe a possibilidade de uso da força Mas existem autoridades religiosas escolares científicas etc e elas não costumam utilizar a força para serem exercidas 90 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II A autoridade que apenas conduz as ideias e não tem compromisso com o comportamento das pessoas não utiliza a força Num passado recente as autoridades escolares faziam uso da força para controlar os alunos mas depois se percebeu que isso é inútil pois quando os alunos não aprendem a partir do entendimento e da razão eles simplesmente não adquirem os conhecimentos 512 Quais são os fundamentos da desobediência O fundamento da desobediência é a razão Quando alguma regra ou lei não é provida de razão há motivos para a desobediência mas esta desobediência não pode ser apenas o resultado de uma revolta que surge por um sentimento precisa ser debatida para que o conflito se esclareça Portanto a desobediência é considerada uma falta de observância da ética vigente numa sociedade Lembrete O único uso legítimo da força é para a autodefesa Em todos os outros casos não há motivo suficiente para atuar com a força 513 A autoridade é necessária A autoridade necessária é aquela que surge do consenso Quando todos os consultados conferem autoridade a uma pessoa seja ela política científica ou de qualquer outro tipo as pessoas aceitam de bom grado que esta autoridade seja exercida O caso mais famoso é a eleição do Papa pelos cardeais Os cardeais são os padres mais importantes da Igreja Católica e eles votam num outro cardeal para que este se torne Papa Uma vez Papa todos os demais cardeais se submetem aos seus conselhos e às suas determinações A necessidade de autoridade diz respeito à necessidade humana de organizar toda a sociedade conferindo uma hierarquia que exibe os valores que aquela sociedade adota para se organizar 6 A LEI E A JUSTIÇA 61 O interesse e o bem comum Na medida em que uma sociedade precisa se organizar para que as relações sociais facilitem a convivência das pessoas surge o interesse em regular as relações humanas a partir da lei O bem comum pode ser entendido como a manutenção do bemestar de todos mas também pode ser compreendido como as coisas públicas tais como as ruas o sistema de água e esgoto e a iluminação pública Há interesse em preservar o bem comum para que as pessoas se sintam tranquilizadas para exercer suas atividades e conviver Para isso existe a lei e o direito 91 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 62 Qual a diferença entre lei e direito O direito é a técnica de facilitar a coexistência humana para isso o direito se organiza a partir das leis que são as regras que devem ser observadas por todos os participantes de uma sociedade Na história do pensamento filosófico e jurídico existem quatro noções fundamentais que sustentam a validade do direito Primeira considera que o direito positivo baseiase em um direito natural eterno imutável e necessário O direito positivo é o conjunto dos direitos que as sociedades humanas reconhecem Segunda considera que o direito é fundado na moral e o direito seria uma forma imperfeita de moralidade Terceira reduz o direito à força ou seja a uma realidade histórica politicamente organizada Quarta considera o direito como uma técnica social O direito natural é pensado como o fundamento ou o princípio de todo direito positivo possível ou seja como condição de sua validade O direito natural é a tentativa de acreditar que existem normas perfeitamente racionais Adequar essas normas deveria garantir a possibilidade da coexistência das pessoas Os direitos positivos são as realizações imperfeitas dessa perfeição Esse ideia imperou por mais de dois mil anos na história do direito Platão definiu o direito ao estabelecer a justiça como aquilo que possibilita que um grupo qualquer de pessoas mesmo que sejam bandidos ou ladrões convivam e ajam para que a sociedade alcance uma meta comum Dessa maneira o direito seria uma técnica de regular a convivência a partir de uma função formal isto é uma técnica com regras idealizadas Mas Aristóteles qualifica o direito pensando numa coexistência justa e racionalmente perfeita O direito diz ele é o que pode criar e conservar no todo ou em parte a felicidade da comunidade política Aristóteles pensa que o encontro com a felicidade é o motivo principal do ser humano Seria a realização de uma atividade que apenas o ser humano poderia alcançar com a razão Escreve ele A sanção do direito é a ordem da comunidade política e a sanção do direito é a determinação do que é justo Mas um direito assim entendido é só o direito natural que é o melhor e em toda parte o mesmo O direito fundado na convenção e na utilidade é análogo às unidades de medida que variam de um lugar para outro o direito natural ao contrário é aquilo que tem a mesma força em toda parte e independe da diversidade das opiniões ARISTÓTELES 2009 p 1135 Segundo os estoicos que foram os primeiros a organizar a doutrina do direito natural a participação dos seres vivos na ordem universal se dá por meio do instinto nos animais e por meio da razão nos homens Tal ação vem de Deus 92 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Hoje em dia pensamos que o direito natural é a disciplina racional indispensável às relações humanas mas independe da ordem cósmica e de Deus Segundo Abbagnano os céticos pensavam que os homens sancionaram o direito para seu próprio proveito já que ele é mudado de acordo com os costumes e dentro de uma mesma sociedade de acordo com os tempos logo não existe direito natural algum todos sejam homens sejam outros seres vivos são guiados pelo proveito próprio sob a direção da natureza consequentemente ou a justiça não existe em absoluto ou se existe de algum modo é o cúmulo da estultice porque ao defender as vantagens alheias estaria agindo em seu próprio prejuízo ABBAGNANO 2007 p 279 Os padres da Igreja Católica seguiram a tradição do direito romano Segundo esta escola ou doutrina a lei natural está escrita no coração dos homens como uma espécie de força inata ou instinto Como Abbagnano afirma que escreveu Santo Agostinho O direito natural não foi gerado por uma opinião mas inserido em nós por uma força inata do mesmo modo como na religião estão a piedade a graça a observância a verdade ABBAGNANO 2007 p 280 Segundo São Tomás de Aquiano há uma lei eterna uma razão que governa todo o universo e que existe na mente divina a lei natural que está nos homens é reflexo ou participação dessa lei eterna Além dessa lei eterna que para o homem é natural há duas outras espécies de leis a inventada pelos homens e segundo a qual se dispõe de determinado modo das coisas a que a lei natural já se refere e a lei divina necessária para encaminhar o homem ao seu fim sobrenatural Segundo ele as leis feitas pelos homens repetem a doutrina tradicional de que não se faz uma lei que não é justa e portanto qualquer lei humana deve derivar da lei natural que é a primeira regra da razão STO TOMÁS DANTE 1988 p 104 Durante toda a Antiguidade e a Idade Média o direito natural conservou a função de fundamento e às vezes platonicamente de modelo de todo direito positivo A noção de direito natural constituiu um limite para disciplinar toda forma de autoridade estatal ou política servindo ao mesmo tempo para justificála Mas para manter sua validade a teoria do direito natural devia sofrer uma transformação radical essa função coube ao jusnaturalismo moderno Para este o direito natural não era o caminho através do qual as comunidades humanas podem participar da ordem cósmica e passa a ser uma técnica racional de convivência A teoria do direito natural foi desenvolvida por Grócio para se organizar da mesma forma racional que a Matemática Descartes também quis transformar a Filosofia e todas as outras pesquisas científicas em ciências iguais à Matemática No século XVII Grócio pensou que a razão assim como a razão matemática conteria as verdades da ciência Segundo ele a matriz do direito natural é a própria natureza humana Isso levaria os seres humanos às relações sociais mesmo que eles não tivessem necessidade uns dos outros Por isso o direito fundado na natureza humana teria lugar mesmo que se admitisse aquilo que não pode 93 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR ser admitido sem cometer um delito que Deus não existe ou que não se preocupa com as coisas humanas ABBAGNANO 2007 p 281 Pensando dessa forma Grócio desenvolveu a doutrina do direito natural com uma formulação mais madura e perfeita de sua história Naquele tempo a técnica racional era a geometria Nela uma afirmação só se justifica quando pode derivar através da dedução de um ou mais princípios evidentes Isso levou Grócio a demonstrar que as normas do direito natural podem ser deduzidas da exigência de existência de uma sociedade organizada O jusnaturalismo moderno avançou com as ideias de Hobbes que eliminou da noção de direito natural alguns dogmas que ainda persistiam na doutrina de Grócio Para Hobbes a lei natural é uma obrigação imposta pela reta razão Para ele a razão é a razão humana falível Por reta razão no estado natural da humanidade entendo ao contrário da maior parte dos escritores que a consideram uma faculdade infalível o ato de raciocinar o raciocínio próprio de cada indivíduo verdadeiro em termos de ações que podem gerar vantagens ou prejuízos aos outros homens Digo própria de cada indivíduo porque ainda que no Estado a razão ou seja a lei civil do Estado deva ser observada por todos os cidadãos fora do Estado porém onde ninguém pode distinguir a razão correta da falsa a não ser confrontandoa com sua própria razão cada um deve considerar sua própria razão não só como regra de suas ações realizadas por sua conta e risco mas também como medida das razões alheias em relação às coisas Digo verdadeiro ou seja derivado de princípios verdadeiros corretamente elaborados porque toda violação das leis naturais resumese na falsidade dos raciocínios na estupidez dos homens que não julgam necessário à sua própria conservação cumprir seu dever para com os outros HOBBES 2003 A razão própria de cada indivíduo ou seja a razão de cada um de nós é o tribunal que julga a legitimidade ou naturalidade de uma lei Nós fazemos este julgamento quando conseguimos inferir ou deduzir os princípios verdadeiros da lei quando acreditamos que devese buscar a paz sempre que ela for possível quando não é preciso buscar socorro para a guerra HOBBES 2003 O caráter utilitário e eficiente das regras que regem todos os tipos de relações humanas para possibilitar essas relações é exemplificado por Hume com as normas de tráfego da sua época As regras são necessárias sempre que entre os homens haja uma relação qualquer Sem elas nem mesmo podem passar uns ao lado dos outros na rua Os carreteiros os cocheiros os postilhões obedecem a princípios para dar passagem e esses princípios baseiamse principalmente na comodidade e na conveniência recíprocas Algumas vezes são arbitrários ou pelo menos dependentes de alguma espécie de analogia caprichosa assim como muitos raciocínios dos advogados HUME 2004 p 687 94 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Hume não acreditava que existia uma racionalidade necessária que Grócio atribuía às normas que regulam as relações humanas mas concordava com a noção fundamental do jusnaturalismo moderno de que as normas constituem uma técnica razoável mesmo que nem sempre racionais das relações humanas A segunda concepção de direito é baseada na moral Nas doutrinas do direito natural a questão entre a moral e o direito nem é levada em consideração O direito natural é identificado com o que é bom ou justo na ordem das relações humanas Isto seria a verdadeira moralidade Contudo existe uma diferença entre o que é justo e bom em si mesmo verdadeiramente moral e o que é justo ou bom só por participação Isto quer dizer que às vezes pode não ser justo nem bom Até agora todos os que pensaram no direito natural pensavam na moral Na verdade eles não faziam distinção entre direito natural e moral mas quando Leibniz tentou fazer o direito natural derivar da moral descobriu uma diferença entre as duas coisas Leibniz entendeu que o direito é uma potência moral e que a obrigação é uma necessidade moral Por moral ele entendia a ideia de amor ao próximo Então escreveu Dessa fonte flui o direito natural que tem três graus o direito estrito que é a justiça comutativa a equidade ou caridade que é a justiça distributiva a piedade ou a probidade que é a justiça universal Esses graus correspondem aos três preceitos seguintes não prejudicar ninguém atribuir a cada um o que lhe é devido e viver honestamente ou piamente ABBAGNANO 2007 p 284 Com isso Leibniz queria dizer que a esfera da moral originava o direito natural Kant escreveu quase a mesma coisa mas do seu jeito Ele afirmou que a esfera moral era a base do direito mas que fundamentada na moral a teoria do direito natural tornavase útil em outras palavras a base do direito era a moral e o próprio direito era entendido como uma forma imperfeita de moralidade Um dos pontos básicos da doutrina de Kant é a distinção entre legalidade e moralidade A pura concordância e discordância de uma ação com a lei sem considerar o móvel da ação chamase legalidade conformidade com a lei ao passo que se tem a moralidade quando a ideia do dever derivada da lei é ao mesmo tempo móvel da ação doutrina moral Os deveres impostos pela legislação jurídica podem ser apenas deveres externos porque essa legislação não exige que a ideia do dever que é totalmente interna seja de per si motivo determinante da vontade do agente e como tem necessidade de móveis apropriados às suas leis só pode admitir móveis externos A legislação moral ao contrário embora erija em deveres também ações internas nem por isso exclui as ações externas mas referese em geral a tudo o que é dever KANT 2013 Assim para Kant o direito é o conjunto de condições por meio das quais o arbítrio de um pode ajustarse ao arbítrio de outro segundo uma lei universal da liberdade KANT 2013 podendo ser representado como uma coação geral e recíproca KANT 2013 de tal modo que direito e faculdade 95 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR de coagir significam a mesma coisa KANT 2013 Com esse pensamento ele eliminou a diferença entre direito natural e o direito positivo que só seriam diferentes na medida em que o direito natural trabalha com princípios a priori e o direito positivo nasce da vontade do legislador Nessa doutrina de Kant há três pontos importantes o caráter primário e fundamental da norma moral que é a única lei racional e dá origem à norma de direito O caráter externo e imperfeito da norma de direito confere à ação legal uma imperfeição em relação à ação moral ou seja nunca uma lei conseguirá prever todas as possibilidades morais da sociedade Por último o caráter coercitivo do direito isto é todo direito obriga determinados deveres Esses três pontos tiveram grande importância no desenvolvimento do direito contemporâneo Primeiro Kant negou a validade do direito natural Depois demonstrou que a noção de direito está ligada ao uso da força para fazer cumprir as leis A força deve garantir a realização da norma e portanto o direito como força é o direito que pode ser realizado O direito se organiza como aquilo que torna possível o cumprimento da lei na realidade Quando comentou esta ideia Hegel observou A citada definição de direito contém a opinião corrente sobretudo depois de Rousseau segundo a qual o querer deve ser fundamento substancial e primeiro princípio não enquanto racional em si e para si não enquanto espírito e espírito verdadeiro mas enquanto individualidade particular enquanto vontade do indivíduo em seu arbítrio particular Uma vez acolhido esse princípio o racional certamente só pode aparecer como limitador dessa liberdade logo não como racionalidade imanente mas só como universal externo formal Esse ponto de vista é desprovido de qualquer pensamento especulativo e é rejeitado pelo conceito filosófico visto ter produzido nas mentes e na realidade fenômenos cuja horribilidade só tem paralelo na superficialidade do pensamento em que se fundavam HEGEL 2010 p 29 Isso tudo para deixar claro que Hegel pensava que o direito é uma coisa sagrada por ser a existência do conceito absoluto da liberdade autoconsciente HEGEL 2010 p 29 e que um direito real subordina um direito abstrato Para ele a esfera do direito abstrato subordinase à da moralidade e as duas coisas se subordinam à eticidade que é a própria liberdade transformada em mundo existente A eticidade forma o Estado que é a mais elevada e a verdadeira realização do direito O ingresso de Deus no mundo é o Estado seu fundamento é a potência da razão que se realiza como vontade Como ideia de Estado não se deve ter em mente estados particulares instituições particulares mas considerar a ideia por si esse Deus real HEGEL 2010 p 29 Hegel acreditava que todos os Estados são encarnações do espírito do povo a autoconsciência que um povo tem de sua própria verdade e de seu ser ou a cultura de uma nação O direito serviria para a realização da liberdade no Estado e só tem existência na forma da lei Assim a liberdade significa obediência às leis do Estado O indivíduo obedece às leis e sabe que nessa obediência está a sua liberdade 96 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Hoje em dia a Filosofia do Direito não acredita mais na noção de justiça pois esta depende da esfera política e moral O único direito legítimo é o direito positivo mas o direito positivo não é perfeito é uma ferramenta para garantir uma ordem na sociedade humana Esta concepção demonstra que muitas ideias do passado principalmente a ideia do direito como utilidade formam a ideia central do jusnaturalismo moderno o direito é a racionalidade das relações humanas Tudo isso para chegarmos à conclusão que o Direito não tem relação direta com a moral mas com a ética possível de uma sociedade ou seja com uma técnica de conduta possível de uma sociedade 63 A lei reprime os indivíduos Quando verificamos que o cumprimento da lei precisa recorrer à força podemos entender que a lei reprime os indivíduos mas quando entendemos que a liberdade só pode ser vivida dentro de certos parâmetros da sociedade chegamos à conclusão que a lei liberta os indivíduos 64 A lei é contrária aos interesses e aos desejos Na medida em que as leis são promulgadas dentro do Estado e que o Estado é a expressão máxima de uma sociedade a lei de alguma forma espelha tanto os interesses quanto os desejos das pessoas que participam desta sociedade Então a lei porque é escrita a partir de um consenso serve aos interesses sociais Mas cada Estado ou cada País têm interesses diferentes e as leis não são iguais justamente porque as sociedades não são iguais 65 É legítimo oporse à lei É legítima uma ação que acontece dentro da legalidade A legalidade é a conformidade de um comportamento à lei Kant distinguiu a legalidade da moralidade A conformidade ou desconformidade pura de uma ação em relação à lei sem referência ao móbil da ação denominase legalidade conformidade à lei quando porém a ideia do dever derivada da lei é ao mesmo tempo móbil da ação temse a moralidade doutrina moral KANT 2013 Então na medida em que a lei significa a forma de organizar a sociedade oporse à lei não é legítimo O único motivo em Filosofia que permite ser contra a lei é quando a lei não tem racionalidade ou seja quando a lei não está de acordo com a razão Isso faz com que a lei seja contrária aos interesses da sociedade Neste caso é legítimo oporse à falta de racionalidade e portanto à lei 66 Os diferentes conceitos de justiça Existem duas formas de entender a justiça a justiça como um comportamento ajustado a uma regra ou norma ou a justiça como a eficiência de um sistema de normas Aqui no caso eficiência é a capacidade de possibilitar as relações humanas 97 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR De acordo com o primeiro significado a justiça é usada para julgar o comportamento de uma pessoa No segundo significado a justiça é usada para julgar as normas que regulam o próprio comportamento Com o primeiro significado a justiça é a aceitação do comportamento de uma pessoa a uma regra Aqui só se pode discutir se o motivo que fez surgir esta regra é correto ou não Para Aristóteles Uma vez que o transgressor da lei é injusto enquanto é justo quem se conforma à lei é evidente que tudo aquilo que se conforma a lei é de alguma forma justo de fato as coisas estabelecidas pelo poder legislativo conformamse à lei e dizemos que cada uma delas é justa ARISTÓTELES 2009 Segundo Aristóteles a justiça pode ser distributiva ou corretiva e serve para organizar a igualdade entre as vantagens e as desvantagens de cada um No segundo conceito a justiça não se refere ao comportamento da pessoa mas à norma Assim a justiça deve examinar se a norma possibilita harmonizar as relações humanas Platão foi o primeiro a dizer que a justiça é uma ferramenta Segundo ele na obra A República livro VI de Platão Sócrates perguntou a Trasímaco Acreditas por acaso que uma cidade um exército um grupo de bandidos ou de ladrões ou qualquer outro amontoado de pessoas que se ponha de acordo para fazer algo de injusto poderia chegar a fazer alguma coisa se os seus integrantes cometessem injustiça uns para com os outros Não de certo respondeu Trasímaco E se não cometessem injustiça não seria melhor Seguramente A razão disto Trasímaco é que a injustiça dá origem a ódios e lutas entre os homens enquanto a justiça produz acordo e amizade Platão explica que a justiça é a condição para possibilitar a convivência e a ação conjunta dos homens em qualquer comunidade humana até mesmo para um grupo de bandidos Ele escreveu que enquanto os homens não aprenderam a fazer política que é o respeito mútuo e justiça não puderam se organizar nas cidades e foram perseguidos pelas feras De acordo com Platão em A República livro VI Apesar de ajudálos a obter alimento a arte mecânica não lhes era suficiente para combater as feras porque eles não possuíam a arte política de que faz parte a arte da guerra PLATÃO A República livro VI 98 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Aristóteles escreveu que As leis promulgadas sobre qualquer coisa visam à utilidade comum a todos ou à utilidade de quem se destaca pela virtude ou por outra forma desse modo com uma só expressão definimos como justas as coisas que propiciam ou mantêm a felicidade ou parte dela na comunidade política ARISTÓTELES 2009 p 1129 67 A justiça e a liberdade são incompatíveis A justiça é compatível com a liberdade na medida em que os comportamentos justos são aqueles que mantêm o bemestar entre as pessoas A pessoa que se comporta de forma a manter a harmonia da sociedade e promove a felicidade geral é livre Nesse sentido a justiça só entra em ação quando alguém se comporta fora das regras estabelecidas pela sociedade em que vive 68 Justiça é tratar todo mundo igualmente Não justiça é tratar todo mundo de forma igual perante a lei mas a lei nem sempre estará de acordo com as ideias de todos e é possível que algumas pessoas se sintam injustiçadas ou seja longe do abrigo da justiça É por isso que toda lei tem sempre aquelas pessoas que a opinam e outras que a combatem As leis nem sempre agradam a todos por igual e por isso nem sempre todos se comportam dentro da lei Neste momento a justiça vai tratar as pessoas da forma que elas se comportarem em relação ao que está estabelecido pela lei 69 A legitimidade e o poder Nem todo poder é legítimo Vimos que há o poder derivado da força ou seja quando apenas a força garante o exercício da autoridade Embora seja necessária a força para poder fazer cumprir a lei nem sempre a própria lei respeita a sociedade que ela deve servir Na medida em que a sociedade não respeita as leis impostas por um ditador ou por um partido que só se mantém no poder de uma forma corrupta e através da força não existe legitimidade nas leis que são contra a sociedade 610 Como diferenciar legitimidade e legalidade A lei é uma regra que torna impossível que uma coisa aconteça de forma diferente do que a prevista A lei pode ser entendida como uma força que garante a realização de uma regra A legalidade é a destinação entre a regra e a norma A regra nem sempre faz alguma coisa acontecer como ela tinha sido prevista e por isso a norma é uma regra que diz respeito apenas às ações humanas não é coercitiva como a lei jurídica 99 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Kant distinguiu a legalidade da moralidade pois a legalidade é agir conforme a lei A moralidade deriva da lei e institui na sociedade uma doutrina moral Para essa doutrina moral ser legítima ela deve nascer do consenso de toda a sociedade Este consenso deve apoiar a formulação das técnicas de comportamento daquela sociedade Quando isso acontece existe legitimidade na lei e legalidade Quando porém as leis são feitas apenas para beneficiar uma parte da sociedade às custas de todos então não existe o consenso de que aquelas leis são corretas para regular o comportamento de todos Neste momento a lei deixa de ser legítima pois beneficia apenas os interesse de poucos contra o da maioria 611 É possível viver sem lei Na medida em que uma sociedade pretende encontrar o melhor caminho para regular a convivência de todos os seus participantes é quase impossível vivermos sem lei pois a lei é a expressão da escolha ética que esta sociedade faz É a partir da lei que se organizam os impedimentos sociais ou seja as coisas que não podem acontecer naquela sociedade É com a lei que podemos organizar a força policial que atua para garantir a própria lei Se todos os seres humanos fossem sábios ou se pelo menos todos os seres humanos de uma comunidade fossem sábios então nessa comunidade não haveria a necessidade da lei pois a simples ideia moral do que é certo e do que é errado serviria para organizar a vida das pessoas Mas isso não existe e é necessário que se mantenham as leis para que elas determinem as regras e as normas aceitas pela maioria 612 Existe uma justiça divina A justiça divina é um conceito pertinente a Deus Ela não ocorre no mundo dos homens A justiça divina atua naqueles que acreditam que Deus os julgará no dia do Juízo Final Para os que não acreditam não existe nenhum efeito da justiça divina 613 Todas as leis são justas Tecnicamente todas as leis são justas quando não entram em contradição com as outras leis Como a lei é a expressão da organização da ética da sociedade em princípio ela sempre é justa isto é sempre está de acordo com as técnicas de comportamento daquela sociedade Quando porém uma lei é promulgada contra o interesse da sociedade ela deixa de ser justa Mas isso deve ser examinado sempre pois dificilmente uma sociedade faz leis que não atendam pelo menos aos interesses de uma parte da sociedade Em determinadas sociedades sua forma de governo permite que as leis sejam decididas por um pequeno grupo de pessoas e que com o auxílio da força obriguem a todos os demais a seguirem Isso diminui a justeza da lei e pode sugerir um espaço para a desobediência civil que começa com reclamações públicas na forma de greves e manifestações Quando a desobediência faz com que as pessoas reajam de forma violenta podemos ter uma revolta ou até mesmo uma revolução 100 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II 614 Existe um exercício legítimo da força e da dominação Quando uma parte da sociedade se comporta de forma a ameaçar os demais entendese que a força é legítima no cumprimento da lei isto é no uso da força para que todos sejam obrigados a cumprir a lei Isso partindo do princípio que a lei nasce do consenso da sociedade e determina a pacífica convivência para facilitar a cooperação de todos Mas a dominação de uma sociedade a partir da força não é legítima é apenas uma forma disfarçada de escravidão 615 Como compreender as diferentes formas de política na sociedade humana As diferentes formas de poder na sociedade humana são determinadas pela política Mas à política foram designadas várias coisas diferentes Primeiro a doutrina do direito e da moral Poder também pode significar a teoria do Estado Pode ser também a arte de governar mas política também pode ser simplesmente a forma de as pessoas se comportarem em relação às outras O primeiro conceito está na Ética de Aristóteles Segundo Aristóteles existe uma ciência que organiza a doutrina moral Essa ciência parece ser a política Com efeito ela determina quais são as ciências necessárias nas cidades quais as que cada cidadão deve aprender e até que ponto ARISTÓTELES 2009 Este conceito de política também é encontrado em Hobbes A política e a ética ou seja a ciência do justo e do injusto do equânime e do iníquo podem ser demonstradas a priori visto que nós mesmos fizemos os princípios pelos quais se pode julgar o que é justo e equânime ou seus contrários vale dizer as causas da justiça que são as leis ou as convenções HOBBES 2003 O segundo significado do termo foi exposto também por Aristóteles Está claro que existe uma ciência à qual cabe indagar qual deve ser a melhor constituição qual a mais apta a satisfazer nossos ideais sempre que não haja impedimentos externos e qual a que se adapta às diversas condições em que possa ser posta em prática Como é quase impossível que muitas pessoas possam realizar a melhor forma de governo o bom legislador e o bom político devem saber qual é a melhor forma de governo em sentido absoluto e qual é a melhor forma de governo em determinadas condições ARISTÓTELES 2009 Assim segundo Aristóteles a política tem a função de descrever a forma com que o Estado será governado e determinar a melhor maneira possível para o funcionamento do Estado Nesse sentido a política sempre tentou descrever o que seria o Estado perfeito sem injustiças e bom para todos ou em outras palavras a arte de governar 101 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Mas como os seres humanos não são perfeitos Maquiavel percebeu isso e disse E muitos imaginaram repúblicas e principados que nunca foram vistos nem conhecidos como existentes Porque é tanta a diferença entre como se vive e como se deveria viver que quem deixa o que faz pelo que deveria fazer aprende mais a arruinarse do que a preservarse pois o homem que em tudo queira professarse bom é forçoso que se arruíne em meio a tantos que não são bons Donde ser necessário ao príncipe que desejando conservarse aprenda a poder ser não bom e a usar disso ou não usar segundo a necessidade MAQUIAVEL 2006 Já a forma de comportamento das pessoas umas com as outras foi observada por Augusto Comte Ele deu o nome de Sistema de Política Positiva 18511854 ao seu livro mais famoso de Sociologia Para ele os fenômenos políticos seriam decorrentes de leis invariáveis que acabam por influenciar a própria política Hoje já sabemos que não há formas de prever todas as regras e variações da política porque existe uma ideia de casuísmo ou seja de ajustar o comportamento social caso a caso o que depende de uma grande quantidade de variáveis que nós não conseguimos prever Mas a ideia de que os comportamentos sociais são políticos ainda perdura e por isso é que falamos de política da educação política de abastecimento política de saúde etc 616 A sociedade pode determinar o que o indivíduo deve fazer Sim dentro de uma sociedade organizada o indivíduo precisa se submeter às regras e leis Não há como o indivíduo viver em sociedade sem respeitar as normas dela Então quando o indivíduo resolve descumprir as leis prejudicando os demais a lei atua com o auxílio da força para restringir a liberdade de ação deste indivíduo 617 O Estado existe para garantir a liberdade do indivíduo O Estado é uma organização jurídica coercitiva da sociedade Coercitiva significa que obriga a certos comportamentos O uso da palavra Estado no sentido que usamos hoje foi proposto primeiro por Maquiavel Existem três concepções de Estado Concepção orgânica acredita que o Estado é independente dos indivíduos e mesmo anterior a eles Concepção contratualista pensa que o Estado é uma criação dos indivíduos Concepção formalista julga que o Estado é uma formação jurídica O Estado seria um homem em grandes dimensões e por isso suas partes ou membros não podem ser separados da totalidade Esta era a ideia básica de Platão sobre o Estado Assim como no ser humano o corpo não pode ser desmembrado o Estado também não pode 102 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Aristóteles acreditava que O Estado existe por natureza e é anterior ao indivíduo porque se o indivíduo de per si não é autossuficiente estará em relação ao todo na mesma relação em que estão as outras partes Por isso quem não pode fazer parte de uma comunidade ou quem não tem necessidade de nada porquanto se basta a si mesmo não é membro de um Estado mas fera ou Deus ARISTÓTELES 2009 Na concepção contratualista o Estado é obra do ser humano Não tem nenhuma característica que não tenha sido conferida pelos indivíduos que o criaram Os estoicos consideravam o Estado como uma coisa do povo Como escreveu Cícero O Estado enquanto república é coisa do povo e o povo não é qualquer aglomerado de homens reunido de uma forma qualquer mas uma reunião de pessoas associadas pelo acordo em observar a justiça e por comunidade de interesses ABBAGNANO 2007 Essas antigas concepções de Estado conferem a ele um aspecto de realidade social O Estado é antes de mais nada uma comunidade residente em determinado território Essa concepção fundamenta a descrição de Estado formulada por juristas e filósofos do século XIX de todas as correntes filosóficas que viram no Estado três propriedades a soberania o povo e o território Na concepção formalista o Estado é uma sociedade politicamente organizada porque é uma comunidade constituída por uma ordenação coercitiva e essa ordenação coercitiva é o direito Esta fórmula foi primeiro escrita pelo filósofo e jurista austríaco Hans Kelsen 618 A política é sempre uma luta pelo poder Não a política é uma forma de decidirmos como vamos fazer as coisas dentro do Estado A luta pelo poder é uma forma de tentar impor aos demais uma determinada forma de fazermos as coisas Por isso que os partidos políticos existem para determinar comportamentos de uma certa maneira Quem domina a forma do Estado se comportar controla os mecanismos de coerção estes sim exercem o poder 619 A política deve levar em conta a moral Na medida em que a moral escolhe quais são os comportamentos bons e quais os maus numa sociedade a política deve construir a técnica de conduta isto é a forma de comportamento da sociedade Isso é feito através das leis Quando as leis não exibem uma moralidade aceita pela maioria da sociedade é porque a política escolhida está sendo recusada pela sociedade Como a sociedade está sempre mudando pois estamos sempre nos adaptando ao convívio uns dos outros também as políticas devem mudar Essas novas propostas políticas devem levar em conta a moral atual da sociedade para reescreverem a ética dos comportamentos 103 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR A felicidade é a satisfação de estar no mundo mas Platão não acreditava que a felicidade vinha do prazer e a relacionava com a virtude pois dizia que os felizes são felizes por possuírem a justiça e a temperança os infelizes são infelizes por possuírem a maldade Para ele a felicidade seria a capacidade de o ser humano se comportar da melhor maneira As pessoas segundo Aristóteles alcançam a felicidade e Cada qual merece a felicidade na medida da virtude do tino e da capacidade de bem agir que possui podendo se tomar como exemplo a divindade que é feliz e bemaventurada não graças aos bens exteriores mas por si mesma por aquilo que ela é por natureza ARISTÓTELES 2009 Por isso a felicidade seria mais acessível ao ser humano sábio pois este se basta a si mesmo Sêneca também concordou que no estado de natureza se encontra a felicidade Por essa teoria antes de serem criadas as instituições pela sociedade existiu uma época em que os homens viveram sem lei unicamente à mercê da inocência da natureza original Viviam felizes fruindo sua convivência Não eram virtuosos porque a sua inocência era feita mais de ignorância ao passo que a virtude é própria da alma doutrinada e experiente Mas a ordem em que viviam era a melhor possível porque ditada pela própria natureza nela até os chefes se inspiravam em sua sabedoria Esse mito da idade de ouro sugeriu o direito natural do ser humano Plotino não concordou com a ideia aristotélica de felicidade Segundo ele se a felicidade fosse aquilo não só os homens mas também todos os animais e as plantas seriam felizes Para Plotino a felicidade também não podia ser independente das coisas do mundo Para ele a felicidade seria a própria vida A partir do humanismo a noção de felicidade começa a se ligar apenas ao prazer Locke escreveu que a felicidade é o maior prazer de que somos capazes e a infelicidade o maior sofrimento o grau ínfimo daquilo que pode ser chamado de felicidade é estar tão livre de sofrimentos e ter tanto prazer presente que não é possível contentarse com menos LOCKE 2006 Lembrete Felicidade é a satisfação de estar no mundo Kant julgava que era impossível considerar a felicidade como fundamento da vida moral Para ele A felicidade é a condição do ser racional no mundo para quem ao longo da vida tudo acontece de acordo com seu desejo e vontade A felicidade é impossível no mundo natural sendo transferida para um mundo inteligível que é o reino da graça ou seja num lugar junto a Deus KANT 2013 104 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II A ideia que usamos hoje de felicidade foi desenvolvida por Hegel e está associada ao conceito de satisfação absoluta e total A felicidade seria o ideal do Estado mas Hegel sabia que seria quase impossível que o Estado viesse a proporcionar felicidade a todos os cidadãos 7 VERDADE E VALIDADE Primeiro vamos investigar a ideia de validade para poder comparála com a ideia de verdade A validade é uma universalidade subjetiva Isso significa que nós vemos o Sol todos os dias porém cada indivíduo enxerga o Sol de uma forma diferente Nesse sentido é válido tudo aquilo que é ou deveria ser considerado verdadeiro Portanto verdadeiro seria também sinônimo de bom e de belo De alguma forma podemos pensar que a validade é aquilo que tem significado universal e que é válido para todos os seres racionais Dessa maneira validade e universalidade seriam equivalentes Todos os seres racionais conseguiriam ter uma percepção muito parecida e equivalente à de todos Todos os seres humanos saberiam descrever as qualidades do Sol Isso poderia atribuir ao Sol uma série de juízos de valor Nesse caso seriam mais do que um juízo Todos nós entendemos que o Sol emite calor e luz Isso significa que todos nós percebemos e julgamos o Sol como uma fonte de calor e de luz A validade pode ser considerada a ideia que pode ser compartilhada e que serve de predicado para uma determinada coisa Mas uma coisa que é válida nem sempre é verdadeira A verdade é muito mais complicada do que a validade A verdade é um tipo muito específico de validade Nesse sentido existem cinco tipos diferentes de verdade como uma revelação uma correspondência uma conformidade uma expressão coerente e uma utilidade da língua Platão foi o primeiro a pensar a verdade como correspondência Aristóteles pensava de forma parecida mas o pensamento dele era mais avançado Ele dizia que a verdade estava no pensamento e na linguagem e não no ser ou na coisa Com isso ele queria dizer que uma coisa é branca não porque ela é branca mas porque nós afirmamos que ela é branca porque é Essa verdade aristotélica ainda está presente no senso comum Na maior parte das vezes também acreditamos que alguma coisa é verdade porque todos afirmam simplesmente que é Santo Agostinho acreditava na verdade como revelação Para ele a verdade é o que aparece Outra forma de revelação seria aquilo que se revela ou se manifesta por si mesmo Assim ele identificou a verdade com Deus Para ele não poderia existir nada mais verdadeiro do que a existência de Deus Mas para São Tomás de Aquino deveria existir certa adequação entre o intelecto e a coisa Contudo para ele Deus era a primeira e suprema verdade não havendo verdade nas coisas que se afastam de Deus Hoje em dia apenas do ponto de vista religioso podemos considerar a verdade como uma revelação mas a ideia da correspondência ainda é aceita e muito defendida Podemos discutir o que uma coisa é mas devemos aceitar que ela é correspondente àquilo que nós pensamos que a coisa é A filosofia escolástica pensou a verdade como conformidade A verdade neste caso a ideia de Deus deveria ser a coisa que é apreendida pelo intelecto e com a qual ele deve se conformar Hoje em dia 105 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR pensamos quase da mesma maneira porém com uma diferença fundamental não nos conformamos mais apenas com a ideia de Deus porque pensamos também no caráter lógico da vida moderna ao qual devemos nos adequar Então a verdade não está mais em Deus ela está nas ciências que descrevem com fórmulas que utilizam matemática as coisas da maneira que acreditamos que elas são Isto permite que nosso juízo entre em concordância com a coisa que estamos representando Como escreveu Bertrand Russel um enunciado é verdadeiro quando designa um estado de coisa existente A concepção de que a verdade pode ser a conformidade com uma regra ou um conceito também foi elaborada por Platão Para ele ao tomar como fundamento um conceito que se considera sólido tudo o que estiver de acordo com este conceito poderá ser considerado como verdadeiro A diferença entre esta ideia de verdade e as anteriores é que neste caso primeiro formulamos uma concepção na qual conseguimos verdadeiramente acreditar para depois de verificarmos se existem objetos que estão de acordo com essa ideia que tivemos Uma boa prova desta concepção de verdade é que nós podemos pensar num conceito de cavalo com asas mas até hoje ninguém conseguiu ver um cavalo que tenha asas verdadeiras Portanto podemos pensar em alguma coisa mas nem sempre vamos encontrar essa ideia representada na realidade No século XIX o pensamento idealista acreditou que era necessário não haver contradição entre as coisas que acreditamos serem verdadeiras Segundo Bradley existem graus de verdade que determinam maior ou menor coerência dos fatos reais com as coisas que pensamos Os graus de verdade seriam os valores dos juízos que fazemos sobre as coisas Essa forma de pensar a verdade como coerência permite que pensemos que a verdade não é única e absoluta mas uma forma aproximada de descrever os fatos de uma maneira melhor ou pior A definição de verdade como utilidade foi primeiro formulada por Nietzsche Verdadeiro em geral significa apenas o que é apropriado à conservação da humanidade O que me faz parecer quando lhe dou fé não é verdade para mim é uma relação arbitrária e ilegítima do meu ser com as coisas externas NIETZSCHE 2007 O pragmatismo difundiu esta noção através de William James Em 1903 Schiller estendeu a noção de que uma proposição é verdadeira para qualquer tipo de conhecimento na medida em que permite aumentar o domínio do homem sobre a natureza Levando esta ideia um pouco mais longe Dewey entendeu que a verdade poderia ser instrumentalizada Na verdade poderíamos utilizar a ideia de verdade para distinguir efetivamente aquilo que temos certeza que é válido Assim verdade e validade poderiam ser consideradas na prática a mesma coisa 71 A emergência da Filosofia A emergência da qual falamos aqui diz respeito ao caráter criativo da evolução do pensamento Platão pensava que a Filosofia era o uso do saber em proveito do homem Combinando as duas ideias podemos dizer que a Filosofia é a evolução do pensamento para benefício de todos nós Ainda segundo Platão não tinha sentido sabermos transformar pedra em ouro e não saber o que fazer com o ouro Também de nada adiantaria descobrir a imortalidade sem saber o que fazer com ela A Filosofia serve para saber utilizar o que é feito Em Filosofia buscamos o conhecimento mais válido possível Para Descartes a Filosofia significa o estudo da sabedoria A sabedoria seria necessária para um perfeito conhecimento de todas as coisas que 106 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II o homem pode conhecer tanto para a conduta de sua vida quanto para a conservação de sua saúde e a invenção de todas as artes Para Kant a filosofia seria a ciência da relação do conhecimento e a finalidade essencial da razão humana Para poder chegar nisso o filósofo alemão Wilhelm Dilthey propôs organizar a fundamentação a justificação e a conexão da ciência para podermos fazer uma reflexão a respeito do ser do fundamento das ideias do seu valor e da sua finalidade com as interconexões na intuição do mundo Para as filosofias orientais o conceito de Filosofia significa a contemplação com o objetivo de salvar o ser humano Mas nosso conceito de Filosofia não é oriental Segundo Cícero o próprio Pitágoras comparava a vida com os grandes Jogos Olímpicos Enquanto alguns iam a negócios outros iam participar das competições e a maioria ia apenas para se divertir uns poucos iam apenas para ver o que acontece e esses seriam os filósofos Mesmo que Pitágoras pensasse na contemplação que os filósofos fariam durante os Jogos Olímpicos para ele estava claro que os filósofos estavam lá para entender melhor as coisas do ser humano Portanto a nossa filosofia ocidental sempre quis se meter entre o mundo das ideias e a realidade do homem Seguindo os ensinamentos de Platão a filosofia ocidental sempre foi uma forma de educação e de política Para o filósofo é mais importante termos uma ideia antes de vermos seu resultado na prática Por esse motivo hoje em dia nos Estados Unidos e na Inglaterra quando alguém estuda para ser doutor num determinado ramo da ciência escreve uma tese filosófica de pesquisa científica 72 A filosofia e os outros saberes Na cultura ocidental a filosofia é a forma mais antiga de pensarmos sobre o ser humano e a natureza Seguindo a tradição filosófica a sabedoria significa não só o conhecimento científico mas também o saber prático Portanto existem várias outras formas de conhecimento e de ciências que nasceram da Filosofia Somente a Matemática tem vida mais longa do que a Filosofia Podemos dizer que ciências como a Sociologia a Antropologia a Psicologia e a Economia nasceram da filosofia Também boa parte da Medicina e da Física nasceram da Filosofia A Matemática esteve sempre presente proporcionando as formas lógicas de pensar as questões da natureza Dessa maneira a geometria em muito ajudou a Filosofia no desenvolvimento da Física Por outro lado a Filosofia analítica com o auxílio da Matemática fez surgir a Química moderna De alguma forma percebemos que no mundo ocidental todos os saberes derivam de alguma maneira da Filosofia ou da Matemática São uma combinação entre uma coisa e a outra mas com um interesse muito específico 73 O que é raciocinar O raciocínio é uma atividade do pensamento Quando fazemos um encadeamento de ideias tentando descobrir a verdade ou a falsidade de alguma coisa estamos todos procedendo de forma racional portanto estamos raciocinando Esse tipo de raciocínio tenta buscar comprovações para hipóteses Existem dois tipos de raciocínio o dedutivo e o indutivo 107 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR O raciocínio indutivo é aquele que utilizamos quando fazemos uma série de experimentos que visam comprovar um conhecimento Então num laboratório um cientista quase sempre está utilizando um raciocínio indutivo Por outro lado quando pensamos logicamente a respeito de um problema estamos utilizando o raciocínio dedutivo Hoje em dia esse tipo de raciocínio é comum quando escrevemos programas de computador A Filosofia analítica é a corrente de pensamento que inclui filósofos como o alemão Friedrich Ludwig Gottlob Frege o inglês Bertand Russell e o austríaco Ludwig Wittgenstein Nessa filosofia encontramos a lógica e a teoria do significado como responsáveis pela percepção e pelo entendimento da realidade ou seja a realidade é raciocinada Desde os gregos que os filósofos acreditam que a capacidade de raciocinar é uma qualidade do ser humano Hoje em dia pensamos que eventualmente a capacidade de raciocinar seja um aprendizado cultural do ser humano Ainda não sabemos qual definição é verdadeira Ficamos com a ideia de Weber que acreditava que a racionalidade seria uma adequação entre uma coisa que podemos explicar logicamente e uma realidade que conseguimos observar na natureza 74 Qual a diferença entre validade e verdade A forma mais simples de relacionarmos as duas coisas é explicando que a verdade é composta por diferentes graus de validade Em outras palavras a verdade é formada das possibilidades gradativas de entendermos a validade do conceito que ela expressa Se tomamos por exemplo a ideia de mesa não temos como dizer que uma cadeira é uma mesa Por outro lado existem mesas que são mais práticas do que as outras Seja porque elas efetivamente são retas e nós podemos apoiar objetos nelas ou porque elas são grandes permitindo caber muitas pessoas Cada uma dessas qualidades que uma mesa pode exibir diz respeito à possibilidade de olharmos para uma mesa e imediatamente reconhecermos que é aquele objeto é uma mesa Isto porque a verdade pode ser definida como a adequação entre aquilo que a mente acredita que uma coisa é com aquilo que a coisa realmente é Então podemos dizer que a verdade precisa ser validada Muitas pessoas vão precisar concordar com uma mesma opinião sobre determinado fato para que esta validade consensual venha assumir o valor de verdade Você pode perceber portanto que a validade faz parte da ideia de verdade 75 Um raciocínio coerente é necessariamente verdadeiro Nem sempre a lógica filosófica consegue levar um raciocínio coerente à verdade Foram muitos os raciocínios coerentes que ao longo dos séculos comprovaram a existência de Deus mas até hoje ninguém sabe realmente quem ou o que é Deus Se ele existe é porque temos fé Portanto num discurso lógico nem sempre as conclusões são necessariamente verdadeiras Quando os raciocínios são verdadeiros chegase a uma conclusão que pode ser comprovada por qualquer um de nós Isso permite afirmar que é possível fazermos raciocínios coerentes sem alcançar a verdade 108 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II No mundo moderno apenas os raciocínios servem para comprovar a validade de determinados experimentos científicos Também o raciocínio necessário para se escrever programas de computador tem um resultado na vida prática que nos obriga a acreditar que são completamente verdadeiros Isso porque não importa quem faça aquele experimento científico sempre alcança o mesmo resultado Da mesma maneira com os computadores se fazemos as mesmas contas ou se fazemos as mesmas operações lógicas vamos acabar tendo o mesmo resultado que qualquer outra pessoa em qualquer lugar do planeta Mas algumas explicações que parecem muito coerentes a respeito das coisas nem sempre são verdadeiras Um exemplo interessante são os comentaristas de futebol Depois de um jogo todas as jogadas são explicadas a partir da capacidade de argumentar de forma coerente Sempre aparece um comentarista a favor e outro contra o time que ganhou Podemos perceber que embora os dois comentaristas argumentem de forma coerente com um raciocínio lógico na realidade um time jogou melhor do que o outro que portanto não ganhou a partida O resultado do jogo espelha a verdade enquanto as argumentações coerentes e lógicas apenas dão uma explicação parcial daquilo que realmente aconteceu 76 Os instrumentos do conhecimento Há uma ideia segundo a qual as teorias científicas são apenas instrumentos para o tratamento de um determinado fenômeno da realidade Nesse sentido a teoria científica não seria uma tentativa de chegar ao conhecimento da realidade em si mesma De acordo com os resultados de uma teoria científica poderíamos chegar a determinadas conclusões coerentes as quais eventualmente poderiam ser falsas O filósofo americano John Dewey sugeriu que o pragmatismo seria um instrumento para tratar o modo de agir sobre as coisas a fim de organizar o nosso conhecimento Da mesma forma a Escola de Frankfurt apresentou através do filósofo alemão Jurgen Habermas a ideia de que a razão é um instrumento para investigar a realidade e o mundo natural como o objeto do conhecimento pela ciência Isso teria como finalidade a dominação através das técnicas dos processos naturais para que tudo pudesse ser organizado no planeta e também serviria para aumentar a produção industrial Além da lógica nas suas modalidades dedutiva e indutiva temos a própria verdade e a noção de realidade como instrumentos do conhecimento filosófico 77 A lógica A primeira vez que a lógica foi chamada de ciência foi quando Aristóteles escreveu o seu trabalho conhecido como Analíticos Ele chamou essa ciência de ciência da demonstração e do saber demonstrativo A lógica clássica é composta de uma proposição e dos seus termos que sujeito predicado e silogismo No texto Aristóteles distingue dois tipos de discurso o dialético e o demonstrativo Existe uma diferença entre os dois tipos de discurso O dialético começa com aquilo que é problemático e provável 109 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR mas termina obrigatoriamente com ideias prováveis O demonstrativo parte sempre do que é verdadeiro e termina também com o verdadeiro Mas Aristóteles advertiu que em princípio formalmente os dois discursos são idênticos Como ele estava interessado em desenvolver a sua filosofia não se preocupou em dar nome a essa a matéria Já os estoicos entendiam que existiam textos retóricos e dialéticos Para eles os textos dialéticos eram aqueles que continham o discurso demonstrativo e eram escritos de uma forma lógica Assim o termo dialético acabou sendo considerado um sinônimo de lógica Na Idade Média a lógica estudava os predicados ou seja o gênero a espécie as diferenças o que é próprio do sujeito e do objeto e os acidentes Também estudava as categorias dividindo o mundo em substâncias quantidade qualidade de relação lugar tempo posição posse ação e paixão A lógica investigava também as proposições e as regras de conversação Também faziam parte do estudo da lógica medieval a doutrina do silogismo categórico do silogismo hipotético e a dialética Aqui havia uma divisão entre a dialética tópica e a doutrina dos sofismas ou falácias Como havia a dúvida se a lógica deveria se ocupar com entidades reais pensamentos ou formas do discurso surgiu uma discussão que durou séculos Chamouse de universais as categorias os gêneros e as espécie que parecem constituir os elementos do discurso lógico A questão aqui era saber se essas coisas são reais ou não Um filósofo francês de nome Pedro Abelardo sugeriu na Idade Média que os termos da lógica são palavras e discursos com uma intenção significativa o que quer dizer que estão destinados a significar as qualidades das coisas que são percebidas com a experiência Um exemplo simples é o dia é claro Isso é uma coisa significativa percebida pela sua experiência Foi este tipo de lógica que acabou prevalecendo até a Idade Moderna Mesmo assim ainda havia uma discussão para saber se a lógica tratava de atos mentais ou seja de coisas que nós imaginávamos ou da constituição de conteúdos semânticos Para explicar melhor o que isso significa podemos pensar na palavra carro Quando dizemos carro podemos estar pensando apenas na ideia de um carro que pode ser tanto uma carroça quanto pode ser um automóvel Isso é o resultado de um ato mental Por outro lado quando dizemos um carro com quatro rodas puxado por um cavalo construímos automaticamente um conceito semântico e específico para a palavra carro Havia uma vontade de organizar a lógica como se fosse uma ciência a partir de uma concepção pragmática e metodológica Quem conseguiu fazer isso no século XVII foi o filósofo inglês Francis Bacon Ele escreveu um livro chamado Novum Organum e organizou a lógica como uma metodologia científica geral A lógica passou a ser um instrumento de investigação científica A partir de Descartes e de seu contemporâneo também francês Blaise Pascal a lógica se apropriou de elementos da geometria e da matemática Isto permitiu que Hobbes sugerisse que o raciocínio é um cálculo lógico com a combinação e a transformação dos símbolos segundo certas regras Assim surgiu a lógica moderna organizada como uma disciplina das estruturas formais de um discurso rigoroso segundo determinados modelos linguísticos idealizados 110 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Isso significa que quando estamos escrevendo um discurso lógico as palavras não têm o mesmo significado que têm na nossa linguagem comum As palavras se tornam conceitos operantes ou seja conceitos que significam alguma coisa com a qual podemos fazer outras coisas O melhor exemplo disso é que todas as linguagens de programação de computador são escritas de forma lógica usando palavras Essa forma lógica possibilita que o computador interprete a palavra como um objeto permitindo que este objeto se transforme por exemplo nas imagens que vemos no computador Esse tipo de lógica foi desenvolvido por Leibniz que organizou a forma do discurso com os símbolos operadores da Matemática Ele previu que a lógica poderia ser a arquitetura do pensamento Ele tinha razão pois os computadores atuais funcionam com programas que seguem esta ideia básica 78 A lógica é uma ciência A lógica moderna é mais uma forma de expressão de uma linguagem ideal ou perfeita pois está completamente ligada às disciplinas da Matemática Nesse sentido a lógica Matemática criada no final do século XIX e início do século XX por Gottlob Frege pelo italiano Giuseppe Peano e por Bertrand Russel reorganizou a lógica como um cálculo proposicional das operações de negação de junção ou confirmação alternativas e o cálculo das funções cujos enunciados possuem variáveis A lógica é a forma de pensar que permite que investiguemos se uma coisa é verdadeira ou falsa Nesse sentido a lógica atual é muito mais uma linguagem matemática do que uma forma de pensamento Justamente essa linguagem matemática é que permite as operações de uma forma correta As operações verificam se aquilo a que estamos nos referindo é verdadeiro ou falso depois que foram examinados seus atributos ou seja depois que examinamos uma coisa com as suas qualidades ou adjetivos Por exemplo o Sol existe ou não existe Se existe verdadeiro se não existe falso Uma vez realizada esta primeira operação de comparação as coisas sobre as quais nós estamos nos referindo são comparadas a outras coisas Por exemplo a Terra existe Dependendo do resultado das comparações O Sol existe a Terra existe descobrimos que as coisas sobre as quais estamos falando são iguais ou diferentes O Sol é uma estrela é diferente de a Terra é um planeta Depois verificamos as duas coisas que são mais ou menos importantes para nós O Sol é tão importante quanto a Terra para a sua vida Dessa maneira com a lógica rapidamente podemos perceber se aquilo que nós estamos descrevendo é exatamente a mesma coisa sobre a qual nós estamos pensando As linguagens de computação são consideradas parte da ciência da computação Todas se utilizam de formas lógicas para fazer com que o computador funcione Mas para cada tipo de programa de computador precisamos de uma linguagem e sua lógica deve se ajustar com o resultado que queremos alcançar Assim um programa para edição de textos é feito a partir de uma linguagem cuja lógica permite que a gente escreva textos Um programa para o desenvolvimento de videogames tem uma linguagem lógica que facilita todos os comandos e as imagens que compõem o videogame 111 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR A mesma coisa acontece na Física moderna na Química na Astronomia e até mesmo na Biologia Apesar de a lógica não ser uma ciência todas as ciências exatas até mesmo as ciências biológicas se utilizam cada vez mais da lógica 79 A proposição e o juízo Para funcionar a lógica precisa se organizar a partir de alguma coisa que é dita Em linguagem filosófica dita significa enunciada Hoje em dia aceitamos a distinção feita pelo alemão Rudolf Carnap em 1941 que sugere que uma proposição é uma expressão verbal de uma operação mental que chamamos de juízo Mas a proposição também pode ser uma entidade objetiva de um valor de verdade de um enunciado Vamos tentar entender a diferença entre as duas coisas Desde Aristóteles que se imaginava que a proposição é a expressão verbal de uma operação mental Se dizemos que o dia está bonito fazemos a operação mental de perceber a qualidade do dia e dizemos isso a partir da linguagem Segundo Aristóteles para conseguirmos dizer que o dia está bonito precisamos primeiro distinguir entre as coisas que são verdadeiras e as que são falsas Se estamos falando de dia como o período em que a luz do Sol aparece então podemos entender que dia é quando a luz do Sol aparece e acreditamos que ela ilumina as coisas fazendo com que apreciemos aquelas horas belas No entanto Descartes considerava uma proposição a mesma coisa que um juízo Para ele uma ideia que nós expressamos através de uma proposição necessariamente tem um valor Portanto se alguma coisa tem um valor é porque nós fizemos um julgamento dessa coisa e isso equivale a fazermos um juízo Mesmo Bertrand Russel que no início do século XX reestruturou a lógica entendia que uma proposição é um evento criado na mente Por ser um evento criado na mente uma proposição pode ser falsa ou verdadeira Isso significa que uma proposição será sempre a expressão de um juízo Por outro lado podemos imaginar que uma proposição não diz respeito diretamente a uma coisa que nós pensamos ou que vivemos mas simplesmente ao uso das palavras para a construção de um determinado conceito Nessa forma de pensar a proposição verificamos que ela pode ser entendida como uma situação objetiva e como um objeto Podemos determinar que é uma coisa em si Nesse sentido se eu escrevo que o dia está bonito não estou falando de nenhum dia que eu vivi mas apenas da ideia abstrata de que existe um dia e o valor dele é ser bonito Assim esta ideia não diz respeito a nenhum dia verdadeiro mas apenas à organização das palavras sobre o papel Pode parecer estranho que nós possamos ler as palavras sem criar uma relação delas com a realidade que nós percebemos mas quando fazemos isso com a Matemática parece muito fácil o entendimento Então se dizemos que 112 não estamos falando de nenhum 1 específico Nós não estamos falando de 1 carro ou de 1 homem Estamos apenas utilizando a ideia abstrata do conceito 1 Quando dizemos que 112 estamos criando um enunciado com determinados signos que de alguma maneira podem se referir a uma quantidade muito grande de coisas 112 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II A vantagem de a proposição ser pensada como uma construção abstrata é que se a proposição é verdadeira ela passa a valer para uma grande quantidade de situações que existem na realidade Assim a proposição deixa de ser a expressão de um juízo e passa a ser apenas uma parte de uma operação lógica 710 Todo pensamento é necessariamente lógico Os estoicos pensavam que fazemos um enunciado toda vez que falamos a respeito de uma condição ou de um estado de coisas Para eles quando se diz é dia acreditase que é dia Se olharmos para fora e vemos que está de dia então esse enunciado é verdadeiro O fato de um enunciado ser verdadeiro não significa que ele é necessariamente lógico Por isso podemos dizer frases que são lógicas mas que não são verdadeiras Por exemplo se dizemos que o SuperHomem voa entendemos que o SuperHomem tem a qualidade de voar e isso é lógico mas como não existe o SuperHomem na vida real apesar de a frase ser lógica ela não é verdadeira Portanto uma frase pode fazer sentido mas seu significado não é verdadeiro É isso que possibilita a construção do mundo virtual Um computador exibe objetos virtuais Se vemos uma árvore na tela de um computador entendemos que aquela imagem é uma árvore mas na medida em que ela é virtual não é uma árvore de verdade é apenas a representação de uma árvore Sabemos que há pensamentos que são verdadeiros mas não são lógicos e expressões lógicas que não são verdadeiras 711 O raciocínio e o argumento Uma maneira de entendermos que um argumento é uma coisa certa é que conforme Cícero o argumento são as razões que dão fé a uma coisa duvidosa Segundo São Tomás de Aquino o argumento é o que convence a mente a concordar com alguma coisa Locke acreditava que existem argumentos que são provas capazes de fazer uma proposição passar por verdadeira ou ser aceita como verdadeira Já Hume dividia os argumentos em demonstrações conceituais que eram diferentes de provas empíricas ou das probabilidades Segundo ele alguns argumentos eram apenas formas da linguagem que podiam ser aceitas por todos e as chamava de demonstrações conceituais Outros argumentos são o resultado de experimentos científicos que servem para entender alguma coisa Quando usamos a palavra argumento no seu sentido lógico e matemático estamos falando dos valores e das variáveis independentes de uma função Então quando dizemos que a função de x é seu quadrado fxx2 x não é bom nem mau nem alto nem baixo Estamos apenas dizendo que x terá um valor que será expresso pelo seu quadrado naquela função Nesse momento o argumento é o que vai significar o valor de x Isto quer dizer que quando construímos uma função podemos modificar o valor de x conforme o argumento utilizado Assim na linguagem matemática não expressamos nenhum juízo O raciocínio é uma atividade do pensamento com a qual se organiza o juízo Para estabelecer a verdade temos que organizar todo tipo de argumentos É preciso um raciocínio para ser estabelecido um argumento mas isso não quer dizer que mesmo através do raciocínio o argumento seja verdadeiro O argumento só será verdadeiro se for utilizado para a possibilidade de dar valor à variável independentemente de uma função 113 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Exemplo de aplicação Organize cinco lápis de diferentes tamanhos Agora organize os mesmos lápis de acordo com o que você gosta mais No primeiro exercício você organizou os lápis pelo juízo do comprimento e no segundo pelo juízo da afeição Verifique agora com um colega peça para ele fazer a mesma coisa Analise se ele organizou os lápis por afeição da mesma forma que você fez Os juízos podem demonstrar valores diferentes para cada pessoa 712 Indução e dedução A indução e a dedução são as formas de organizar o pensamento para produzir ciência A indução é aquilo que permite uma conclusão a partir de uma série de experiências Ela é a forma preferida para comprovar alguma coisa empiricamente Isso funciona quando examinamos uma coisa e verificamos uma determinada característica dessa coisa Descobrimos por exemplo que muitos animais que alimentam suas crias com leite têm esta característica em comum Verificamos que o ser humano alimenta seus filhos com leite que as vacas alimentam seus bezerros com leite que as baleias alimentam seus filhotes com leite Assim podemos colocar todos esses seres vivos dentro de uma mesma categoria que chamamos de mamíferos Este é o raciocínio organizado pela indução A dedução por outro lado funciona a partir de uma ideia que generaliza uma condição para muitas coisas Na dedução primeiro temos uma ideia abstrata podemos dizer que todos os seres vivos que alimentam seus filhos com leite são mamíferos A partir daí verificamos cada categoria de ser vivo e examinamos se a sua condição se encaixa dentro da ideia A forma de deduzirmos alguma coisa é através de um silogismo Os silogismos são uma forma de pensar que permite a comprovação de uma ideia simples Neste caso o silogismo dedutivo seria Todos os mamíferos produzem leite O ser humano produz leite O ser humano é mamífero Ou então Todos os mamíferos produzem leite A vaca produz leite A vaca é um mamífero 114 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Com a dedução nós conseguimos primeiro descobrir uma regra geral que vale para uma grande quantidade de coisas Depois verificamos se essas coisas de fato cumprem a necessidade dessa regra geral Assim chegamos mais rapidamente às conclusões daquilo que é verdadeiro ou falso Por exemplo Todos os mamíferos produzem leite A abelha não produz leite A abelha não é mamífero 713 A diferença entre os argumentos dedutivos e indutivos Os argumentos dedutivos são uma forma de raciocínio que parte de uma pretensa verdade universal e chega a uma verdade particular ou singular Essa forma de raciocinar é válida quando suas premissas são verdadeiras e fornecem provas evidentes para sua conclusão A principal característica de um argumento dedutivo é a necessidade já que nós admitimos necessariamente como verdadeiras as premissas para que o raciocínio chegue a uma conclusão verdadeira Isso porque uma conclusão está sempre de acordo com as suas premissas Num argumento dedutivo este sempre está de acordo com a conclusão e viceversa Por isso o argumento deve ser considerado válido Geralmente os argumentos dedutivos não apresentam nenhum tipo de conhecimento novo Isso quer dizer que não podemos utilizar uma hipótese a respeito de alguma coisa que não conhecemos para formar um argumento dedutivo Dessa maneira não podemos dizer que a luz tem gosto doce pois não temos como provar que a luz tem sabor Nesse sentido toda a conclusão de um argumento dedutivo está limitado pela validade das suas premissas A ciência moderna não usa muito a dedução pois prefere pesquisar antes Apenas a Matemática sugere ainda argumentos dedutivos que posteriormente tentam ser comprovados No argumento indutivo as premissas sugerem alguma evidência da conclusão Um bom argumento indutivo terá uma conclusão provável Nesse caso esta conclusão provável poderá ser válida Mas no argumento indutivo as premissas podem ser falsas ou verdadeiras porque nesse tipo de raciocínio as conclusões podem ser consideradas válidas ou não válidas Isso funciona porque na lógica indutiva devese investigar primeiro os casos individuais para depois tentamos encontrar uma generalização Isso se consegue através da pesquisa Por isso que o argumento indutivo hoje em dia é mais utilizado do que o argumento dedutivo Quando um cientista está pesquisando uma determinada doença ele pode constatar que aquela doença ataca as células do sangue num determinado paciente Com essa verificação ele formula o argumento de que eventualmente pode ser provável que aquela doença ataque as células do sangue de todos os pacientes Para que essa probabilidade seja validada e considerada verdade é necessário que seja feita uma pesquisa com muitos pacientes e que em todos os casos fique comprovado que as células de todos os pacientes também foram atacadas pela doença Dessa forma é possível dizer que o argumento indutivo se torna verdadeiro 115 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 714 As verdades empíricas são mais fáceis de refutar Aqui estamos chamando de verdades empíricas aquilo que é conhecido a partir de experimentos Não existe de fato uma verdade empírica o que existe são resultados dos experimentos Todo experimento acontece dentro de uma determinada condição que costuma ser controlada Quando as condições mudam os resultados provavelmente também mudam Para podermos comprovar um determinado resultado que foi conseguido através dos experimentos precisamos verificar não apenas como o experimento foi realizado mas também qual a hipótese que foi utilizada para realizar este experimento Quando verificamos a validade de um resultado empírico precisamos repetir a experiência que sugeriu este resultado Nesse sentido se um experimento não apresentar o mesmo resultado em dois laboratórios diferentes é porque o seu resultado não é válido e a sua verdade será refutada Por outro lado ao refutar a verdade dos resultados automaticamente refutamos também sua hipótese 715 A indução é fundamentada logicamente Inferir significa ter um pensamento que é decorrente de outro pensamento Então um pensamento que nós temos que foi causado ou sugerido por outro pensamento é uma inferência Também chamamos este fenômeno de ilação No senso comum costumamos dizer que uma ideia leva a outra Esta é a forma mais simples de entendermos a inferência ou ilação Segundo John Dewey a inferência seria uma relação entre o signo e a coisa significada Inferimos que o signo 2 tem o significado de dois Isso seria diferente da relação da implicação que seria uma relação entre os significados que constituem uma proposição ou seja a implicação considera que dois é a soma de um mais um A questão aqui é sabermos quando num raciocínio indutivo podemos efetivamente deduzir uma coisa da outra coisa Em outras palavras quando podemos fazer uma inferência de um caso particular para um caso universal Sócrates pensava que existiam raciocínios indutivos mas Aristóteles explicou a diferença Num silogismo dedutivo o termo médio é a substância ou a razão de ser da conexão necessária entre os dois extremos Veja por exemplo este silogismo dedutivo Todos os homens são animais Todos os animais são mortais Logo todos os homens são mortais O termo médio animal é a substância ou a razão de ser da conexão necessária entre a ideia de que os homens são mortais porque são substancialmente animais Nesse caso a inferência é verdadeira 116 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Num raciocínio indutivo o termo médio aparece na conclusão o que significa que ele não é substancial para fornecer uma razão de ser mas apenas um simples fato veja a seguir O homem o cavalo e o burro vivem muito O homem o cavalo e o burro não têm asas Logo animais que não têm asas vivem muito O termo médio não têm asas não indica a razão substancial de ser nem do homem nem do cavalo e nem do burro É apenas um fato Isso não resolve a validade desse raciocínio Por esse motivo para uma ideia indutiva ser comprovada é necessário fazer experiências Somente a experiência vai comprovar a validade e a verdade das ideias induzidas a partir de uma inferência Em Filosofia o sinônimo de fazer experiências é chamado de empirismo o qual sugere que nós verifiquemos através das experiências se todos os animais que não têm asas vivem muito Para isso basta olhar para os animais A seguir outro exemplo de silogismo indutivo O cavalo é um ser vivo O burro é um ser vivo O homem é um ser vivo Logo todos os mamíferos são seres vivos E também A abelha voa e tem asas O mosquito voa e tem asas A barata voa e tem asas O morcego voa e tem asas O passarinho voa e tem asas Logo todo ser vivo que voa tem asas 117 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 716 Como identificar se uma inferência é válida No século XVII Hume levantou uma dúvida a respeito da indução Para ele as inferências que são feitas a partir da experiência supõem como fundamento que o futuro será parecido com o passado e que as coisas terão uma qualidade sensível semelhante no futuro Mas se por acaso a natureza mudar e o passado não servir de regra para o futuro toda a experiência será inútil e não poderá dar origem a nenhuma inferência ou a nenhuma conclusão Seria impossível que os argumentos conseguidos através da experiência pudessem provar alguma semelhança entre passado e futuro pois os argumentos que servem para comprovar a validade da experiência partem da suposição de que as coisas sempre existem da mesma forma na natureza Para solucionar essa dúvida foram sugeridas três formas de resolver o problema da indução e de suas diferenças A primeira forma é uma solução objetivista a segunda uma solução subjetivista e a terceira é uma solução pragmática A solução objetivista considera que a existência da natureza é uniforme Como a natureza é uniforme ela admite a generalização decorrente das experiências uniformes Uma inferência indutiva seria entender que como um homem é mortal todos os outros homens que não conhecemos também são mortais A natureza é igual para todas as coisas e para todos os seres humanos Como disse o filósofo inglês John Stuart Mill chegamos a uma lei geral através da generalização de muitas leis de generalidades inferior Então na medida em que descobrimos uma uniformidade na natureza que se pode generalizar nos pequenos detalhes automaticamente procuramos a próxima generalização para criar uma lei para explicar os elementos que contêm esses detalhes A ideia é a seguinte sabemos que todo ângulo é formado por duas retas Esta seria a generalização do detalhe A partir daí podemos também analisar que todo o triângulo precisa ter três ângulos Quando encontramos quatro ângulos numa figura sabemos que ela não pertence mais à categoria dos triângulos Foi Kant quem propôs a solução subjetivista Para ele nosso intelecto consegue perceber a natureza a partir de categorias Para cada categoria nós acabamos percebendo as leis que organizam essa categoria Mas para examinarmos casos particulares temos de fazer uma experiência a fim de verificar se aquilo que estamos examinando realmente cabe na categoria que o intelecto já tinha percebido que existe Então na prática o resultado da solução subjetivista é o mesmo da solução objetivista precisamos fazer uma experiência para saber se há alguma coisa que se encaixa numa determinada regra Apenas no século XX é que o filósofo americano William Kneale sugeriu uma solução pragmática a qual tem uma interpretação da probabilidade da indução depois que observamos um certo número de coisas é que descobrimos a frequência das qualidades dessas coisas Então existe uma probabilidade de que essa frequência comprove a existência das coisas do jeito que percebemos Dessa maneira a inferência na indução nasce no momento em que comprovamos a possibilidade daquela coisa existir da maneira que estamos recorrentemente verificando esta possibilidade através da experiência Neste caso a inferência pode ser comprovada a partir da estatística Assim pode ser provável que a coisa que nós estamos investigando através da experiência pode ser verdadeira 118 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II É justamente esse tipo de inferência que é utilizada em pesquisas estatísticas para saber se um candidato tem alguma chance numa eleição Não se pergunta a todos os eleitores em quem eles vão votar mas apenas para uma quantidade amostral de eleitores Suas respostas induzem a um determinado resultado A partir desse resultado é feita uma inferência que sugere como todos os eleitores devam votar 8 OS TIPOS DE CONHECIMENTO Na Filosofia os conceitos não são iguais aos conceitos da nossa linguagem comum Isso porque na Filosofia as palavras devem exprimir uma maior exatidão sobre as coisas que acontecem Na linguagem comum conhecimento significa aquilo que a gente sabe Para a Filosofia o conhecimento é uma técnica para verificação de alguma coisa Essa técnica de verificação é o procedimento que permite a descrição de um cálculo ou a previsão controlável daquilo que estamos observando Por outro lado quando falamos de técnica isso significa para nós alguma coisa feita principalmente com as mãos quando construímos ou consertamos um objeto Na Filosofia todos os sentidos a visão audição olfato tato e o paladar podem atuar para desenvolver técnicas É importante saber que um procedimento técnico permite uma verificação controlável Para podermos controlar alguma coisa é necessário que a técnica de controle possa ser repetida Dessa maneira é possível organizar os procedimentos de verificação que conferem validade ao conhecimento Quando uma técnica é feita apenas com o auxílio do raciocínio ela deve conter os procedimentos operacionais que permitam a cognição que é o encadeamento de ideias racionais Dessa forma conseguimos refazer as operações que permitem entender as regras da gramática e as regras da Matemática Quando estudamos Filosofia na base de tudo encontramos sempre um sujeito uma pessoa que consegue conhecer e que se encontra diante de um objeto que deve ser conhecido Este objeto conhecido pode ser qualquer coisa que existe no mundo A Filosofia distingue o conhecimento da crença Crer é acreditar em alguma coisa como se ela fosse verdade No conhecimento a verdade aparece na medida em que conseguimos reproduzir a técnica com que essa verdade foi comprovada O conhecimento nasce a partir da comparação imediata entre duas coisas Se o homem das cavernas comparava um leão com o tigre ele percebia uma série de semelhanças Se comparava uma vaca com uma cabra verificava outras semelhanças Foi justamente identificando as semelhanças e as diferenças das coisas que existem no mundo com o auxílio da linguagem que os seres humanos conseguiram entender e organizar o que eles viam e sentiam no mundo Essa organização acontece em nossa mente e pode ser transmitida de um ser humano para outro através da linguagem A operação de repartir o conhecimento entre os seres humanos é a base da formação da cultura Num primeiro momento das civilizações o conhecimento era considerado uma espécie de imagem das coisas que eram vistas e ouvidas A ideia de conhecimento era como uma coleção de fotografias na mente das pessoas Com o tempo percebeuse que o conhecimento é mais parecido com um mapa que representa 119 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR uma paisagem Em outras palavras o conhecimento não é exatamente uma fotografia da realidade mas um gráfico que a nossa mente constrói a partir do uso da linguagem daquilo que acreditamos ser a realidade É quase como um arquivo de vídeo de computador é um código que reconstrói virtualmente tudo o que sabemos sobre aquela realidade E é melhor do que um arquivo de computador pois traz também informações sobre o cheiro tato e paladar daquilo que se apresenta na nossa frente Por isso que lembramos não apenas das informações técnicas como por exemplo João tem 2 metros de altura mas também informações especializadas como João usou perfume na casa da mãe dele ontem Por esse motivo é que podemos usar qualquer língua humana para descrever qualquer objeto Se o conhecimento fosse uma espécie de fotografia da realidade só existiria uma língua e uma técnica para descrever as coisas Como o conhecimento funciona como um mapeamento da realidade toda língua serve para mapear aquilo que é percebido de tal forma que podemos traduzir o conhecimento de uma língua para outra e continuamos entendendo a realidade sobre a qual aquele conhecimento se refere Neste momento é que percebemos a diferença entre as diferentes línguas faladas pelo ser humano As expressões mais simples tais como mãe e pai guardam uma certa semelhança entre si e são muito fáceis de aprender em qualquer língua Outras palavras que expressam uma ideia complexa podem ser adotadas por muitas línguas diferentes Um exemplo é a palavra táxi que serve para designar a mesma coisa que nós entendemos quando dizemos táxi na maioria das línguas Por outro lado existem muitas palavras diferentes para descrever a primeira refeição matinal o café da manhã é chamado de a peça cedo em alemão em francês é denominado pequenoalmoço e em outras línguas é chamado simplesmente de primeira refeição Se o conhecimento fosse uma fotografia da realidade nós estaríamos o tempo todo dando os mesmos nomes para as mesmas coisas Mas com a ajuda do conhecimento nós conseguimos dar um nome a uma coisa para indicar a forma como ela é feita Cada povo utiliza sua língua para explicar como as coisas acontecem entre eles Era isso que Aristóteles queria dizer quando explicava que o conhecimento era produzido pela ciência em ato na sua aproximação com o objeto Para os estoicos os objetos se dividiam entre os objetos evidentes e obscuros Os evidentes são os que nós podíamos conhecer diretamente com os sentidos Os obscuros eram aqueles que precisavam ser pesquisados para entender como funcionavam No tempo deles existiam várias coisas que não podiam ser entendidas com o conhecimento que dispunham Santo Agostinho acreditava que o conhecimento nasce da percepção da pessoa que tenta aprender o objeto que ela estuda Em outras palavras quanto mais se aprende sobre uma coisa que você estuda mais você adquire conhecimento sobre ela Durante a Idade Média surgiu a ideia de que o conhecimento era gravado pela alma da mesma maneira que nós hoje em dia podemos fotografar ou filmar as coisas Com o início da Filosofia Moderna por volta do século XVI o conhecimento passou a ser entendido como uma operação de identificação de uma coisa Para isso é necessário que uma pessoa pense a respeito de um objeto tenha consciência do que ela pensou e que faça uma descrição dessa coisa através de uma linguagem que pode ser uma língua natural ou da linguagem matemática ou lógica Para Kant a ordem objetiva das coisas tem como modelo as condições do conhecimento Segundo ele toda vez que olhamos alguma coisa precisamos pensar nela e para pensarmos numa coisa é necessário conhecermos antes as regras de como organizar o pensamento 120 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Para Hume o conhecimento era formado a partir da ligação racional de uma ideia com outra ideia Já Hegel pensava que o conhecimento era alcançado através da ideia Quando temos uma ideia a respeito de alguma coisa percebemos uma unidade entre esta coisa e aquilo que pensamos dela O conhecimento seria uma união entre o mundo subjetivo quer dizer o mundo interno de uma pessoa e o mundo objetivo que é o mundo que todas as pessoas percebem Foi Heidegger já no século XX quem propôs a forma moderna de entendimento do conhecimento Segundo ele uma vez que percebemos alguma coisa determinamos a forma como essa coisa pode ser descrita por uma proposição Essa forma de entender o conhecimento permite explicar por que acreditamos por exemplo que quando falamos da substância água podemos dizer que água H2O H2O é uma proposição da descrição das moléculas que compõem a substância água 81 O surgimento da Filosofia Antes de o ser humano começar a pensar de uma forma lógica ele começou a pensar de uma forma mitológica Na medida em que os seres humanos começaram a construir suas cidades e posteriormente suas civilizações era necessário explicar como o mundo funcionava Todas as coisas da natureza existiam por algum motivo e a explicação desse motivo precisava existir Sem a explicação do mundo os seres humanos se sentiam angustiados e ameaçados As primeiras explicações que os seres humanos inventaram para poder entender as coisas que aconteciam os chamados fenômenos foram os mitos A criação do mito considera que a explicação para um determinado fenômeno pode ser estendida a outros fenômenos Por esse motivo é que as mitologias costumam conter histórias e narrativas a respeito de deuses Geralmente os deuses nascem de uma única linha genealógica uma única família fundadora Um casal original dá origem a vários filhos e cada um desses filhos acaba constituindo sua própria família Muitas vezes os deuses casam com animais ou até mesmo com entidades fantasmas para poderem constituir suas famílias Depois como acontece até hoje na vida das famílias cada filho ou filha vai se especializar num determinado trabalho Assim nasceram os deuses específicos para cada atividade ou fenômeno As mitologias demonstram que existem deuses da agricultura deuses da guerra deuses do amor enfim um deus para cada coisa diferente Toda coisa seja fenômeno ou objeto que precisava ser descrita acabava ganhando de presente um deus Isso acontece até hoje na Índia pois a religião hindu permite sempre a criação de um deus conforme a necessidade Todos os povos da Antiguidade desenvolveram mitologias Em todas as civilizações anteriores à Grécia vamos encontrar uma quantidade grande de escritos a respeito da influência dos deuses na vida das pessoas com raras exceções como por exemplo a religião judaica que em cinco mil anos sempre acreditou num único Deus onipotente que criou todas as coisas As outras civilizações tinham deuses específicos para cada fenômeno ou ato da natureza A Filosofia nasceu na Grécia no momento em que os homens perceberam que havia um saber que derivava da razão e não da mitologia Isso quer dizer que é o raciocínio a respeito das coisas do mundo que promove o saber Os gregos simplesmente não estavam mais contentes com as explicações 121 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR mitológicas O motivo é muito simples uma explicação mitológica apenas explica as coisas depois que elas aconteceram Não dá para prever quando um deus vai ficar contente e assim proporcionar uma dádiva aos homens ou quando um deus vai ficar zangado e assim lançar um castigo Na medida em que os deuses sempre foram descritos como pessoas com todas essas características humanas eles assim como as pessoas eram imprevisíveis Todas as mitologias davam uma explicação do mundo e do universo a partir das ideias mitológicas e isso é chamado de cosmogonia Por causa desse descontentamento procurouse construir um conhecimento para diminuir a imprevisibilidade das coisas Será que chove é diferente de Será que o deus quer fazer chover Perguntas como Será que faz calor quando deus quer que fique quente precisavam ser substituídas por Será que faz calor quando é verão e chove toda vez que as nuvens ficam carregadas O raciocínio passou a perceber que existem coisas na natureza que se repetem Quando alguma coisa se repete existe um motivo ou uma causa para isso Foram justamente essas causas que passaram a ser pesquisadas pelos gregos Então eles construíram então uma explicação racional das características do universo e isto é chamado de cosmologia Num primeiro momento os filósofos tentaram descobrir as causas para os fenômenos da natureza Surgiram várias ideias interessantes a respeito do funcionamento do mundo Algumas dessas ideias são válidas até hoje 82 Os filósofos présocráticos Esses primeiros pensadores gregos ficaram conhecidos na Filosofia como os présocráticos Eles são chamados assim porque viveram antes de Sócrates O primeiro filósofo famoso foi Tales de Mileto Mileto era uma cidade que ficava no mar Mediterrâneo onde hoje em dia temos a Costa da Turquia Esta cidade fazia parte da Grécia e seus habitantes eram gregos e falavam grego Na verdade é nesta cidade que nasceram os três primeiros pensadores da história ocidental e são considerados os primeiros filósofos São eles Tales Anaximandro e Anaxímenes Tales foi um astrônomo que conseguiu perceber as fases da Lua e do Sol de tal maneira que em 585 aC conseguiu prever um eclipse solar Ele também era um bom geômetra e foi o primeiro a calcular que em todo triângulo a soma de seus ângulos internos é igual a 180 Ele buscava um elemento físico que fosse constante para todas as coisas e que pudesse servir de origem para todos os seres Concluiu então que água é a primeira substância origem de todas as coisas porque a água permanece basicamente a mesma em todas as transformações apesar de assumir diferentes estados o sólido o líquido e o gasoso Anaximandro estudou também a origem das coisas mas acreditava que com tantos elementos presentes na natureza tal como a água o fogo e a luz não era possível acreditar que apenas uma coisa era responsável por todas as outras Por isso ele teve a ideia de que existia um motivo indeterminado e infinito que gerava todas as coisas do universo Anaxímenes que sucedeu Anaximandro como o principal pensador de Mileto não acreditava que pudesse existir alguma coisa fora dos limites da observação e da experiência sensível que fosse o causadora de todas as coisas Pensando de uma forma parecida com Tales ele concluiu que o ar era o princípio de todas as coisas porque era o elemento invisível mais observável que interage com todas coisas do mundo 122 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Numa ilha no mar Mediterrâneo próxima a Mileto chamada Samos nasceu Pitágoras Para Pitágoras a essência de todas as coisas eram os números Essa ideia pode ser de alguma forma entendida até hoje Com o uso da Matemática os computadores podem descrever fórmulas lógicas das coisas minerais vegetais e animais Mas foi Pitágoras quem pela primeira vez percebeu que todas as coisas que existem seguem um determinado padrão Pitágoras também descobriu a relação matemática que existe nas notas musicais Por esse motivo até hoje quando falamos de música nos referimos às oitavas e terças que equivalem a frações do número 1 Ele também desenvolveu um famoso teorema que leva seu nome A importância desse teorema é que ele demonstra que 500 anos antes de Cristo já se conhecia o cálculo de ângulos e também da raiz quadrada Numa outra cidade perto de Mileto chamada Éfeso viveu um filósofo de nome Heráclito aproximadamente na mesma época que Pitágoras Heráclito entendia que o mundo é uma coisa dinâmica em permanente transformação O que promovia esta transformação eram forças contrárias que o tempo todo tentavam desequilibrar a outra o bem e o mal o belo e o feio a justiça e a injustiça a alegria e a tristeza enfim todas as coisas tinham o seu contrário Essas forças brigavam para conseguir um lugar no universo Segundo Heráclito não é possível tomar banho duas vezes no meio do mesmo rio No momento em que saímos do rio a água passa e a nova água no rio não é igual a água que já passou Foi com estes pensadores que nasceu a lógica que é o estudo sobre a forma de conhecer e a ontologia que são os estudos sobre o ser humano Um outro grego este nascido no litoral do território que hoje chamamos Itália foi Parmênides Ele foi o primeiro a perceber que nós vivemos no mundo das aparências e das sensações Por causa disso devemos procurar a razão por trás das aparências e das sensações Foi ele quem primeiro percebeu a essência das coisas Ele fez isso pensando que o ser existe e não podemos acreditar que nós não existimos Sua fórmula famosa é O ser é o que é o não ser não é Com isso ele estabeleceu a base para pensar o ser ideal no plano lógico Em outras palavras quando dizemos a expressão o ser não estamos pensando em ninguém em especial mas em todo e qualquer ser humano Demócrito foi o pensador mais ousado da Grécia no que diz respeito à Filosofia natural isto é a Filosofia que pensa a natureza Para ele todas as coisas que existem na realidade seriam compostas de partículas invisíveis e indivisíveis Para essas partículas ele deu o nome de átomo Demócrito chegou a formular a ideia de que os átomos formavam figuras geométricas diferentes para constituir as coisas Os átomos construíam essas figuras a partir de uma ordem e de uma posição diferente Essa ideia foi abandonada durante mais de dois milênios até que finalmente no final do século XIX descobriuse que o átomo existia Para Demócrito era o acaso ou a necessidade que permitia a aglomeração dos átomos O acaso seria o encadeamento imprevisível das causas e a necessidade seria o encadeamento previsível Apesar desta não ser a forma verdadeira do motivo dos átomos se juntarem em moléculas esse tipo de pensamento é chamado hoje em dia de concepção mecanicista ou seja acredita que tudo tem uma causa Até hoje os cientistas pensam dessa maneira 123 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 83 Os sofistas Na Grécia naquela época havia homens que tinham como ofício ser professores que viajavam Eles eram pagos para ensinar o conhecimento Eram chamados de sofistas Trabalhavam auxiliando comerciantes e políticos Quando havia um julgamento atuavam argumentando a favor de quem os pagava melhor Eram portanto também uma espécie de advogados da Antiguidade Como precisavam mudar de opinião de acordo com a defesa de cada causa desenvolviam concepções relativistas sobre as coisas Essa concepção relativista significava que tudo era relativo à aquela pessoa apenas naquele momento e ao conjunto de fatores e circunstâncias que eles percebiam na hora que precisavam argumentar Protágoras é considerado como o primeiro e mais importante sofista Sua ideia básica era que o homem é a medida de todas as coisas daquelas que são enquanto são e daquelas que não são enquanto não são Essa foi a primeira concepção subjetivista do conhecimento O que Protágoras dizia era que toda visão do mundo nasce dentro do ser Observação Platão não gostava dos sofistas pois acreditava que eles não se interessavam pela verdade apenas pelos seus pontos de vista 84 O início da Filosofia Sócrates é considerado o primeiro o filósofo Sua frase mais famosa é Eu sei que nada sei Sócrates parecia um sofista mas sua grande diferença é que ele não vendia seu conhecimento e ensinava de graça nas praças e nas ruas de Atenas Ele foi o primeiro a deixar de lado a preocupação de conhecer e entender a natureza Para ele o mais importante era conhecer o ser humano Para isso ele propunha perguntas simples sobre as quais discutia com as pessoas A cada resposta propunha uma nova questão Esta técnica de diálogo é chamada de dialética Sócrates perguntava por exemplo o que era o bem a virtude e a justiça Pensava que a essência do homem era sua alma Para ele a alma era o lugar da razão que incluía as consciências intelectual e moral Isso distingue o ser humano dos outros animais Depois de ensinar seus alunos a pensar fazendo perguntas como ele fazia Sócrates os estimulava a conceberem suas próprias ideias e fazerem suas próprias perguntas Ele chamava de maiêutica essa técnica de ensino de pensar Sócrates não era respeitado apenas por seu conhecimento Ele tinha lutado com bravura em duas guerras Portanto as pessoas tinham muito respeito por ele Contudo elas detestavam que ele tratasse os ricos e os pobres homens livres e escravos como iguais Na verdade ele estava pesquisando como as diversas pessoas pensam o mundo Essa atividade acabou incomodando os poderosos de Atenas Por causa disso Sócrates foi acusado de promover a corrupção da juventude Condenado por um tribunal ele morreu na prisão obrigado a tomar veneno 124 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Seu aluno Platão escreveu suas ideias e também desenvolveu suas próprias Neste momento nasceu a Filosofia a partir dos livros que Platão escreveu Assim a Filosofia se afastou definitivamente dos mitos tentando entender a razão das coisas 85 Há uma lógica do mito Como vimos o mito é uma explicação que tenta dar sentido às coisas que não conhecemos Os primeiros mitos organizaram as primeiras religiões O problema do mito é que apesar de algumas explicações serem ideias muito bem encadeadas elas não têm como serem comprovado Por isso que o mito é diferente da Filosofia Por mais que suas explicações sejam muito convincentes elas não resistem a uma investigação principalmente uma investigação científica 86 Há uma ruptura ou uma continuidade entre o mito e a Filosofia Como vimos houve uma passagem entre a Mitologia e a Filosofia Quando tentamos explicar uma coisa a partir de uma ideia formulada que chamamos simplesmente de fórmula vemos que o mito e a filosofia se equivalem Isso porque na prática tanto faz se dizemos que um deus vai fazer o sol se levantar de manhã ou se dizemos que o sol nasce porque a Terra gira em volta dele Nos dois casos o sol vai aparecer Mas quando nos perguntamos se o sol vai se levantar daqui a três anos não sabemos qual será a vontade do deus do sol daqui a três anos Ele vai poder estar de bom humor de mau humor ou até mesmo desistir de fazer o sol aparecer e ir fazer outra coisa Por outro lado quando sabemos que a Terra gira em torno do sol sabemos que ela vai continuar a fazer isso independentemente da vontade de alguém O motivo da Terra continuar a girar em torno do Sol é a força da gravidade que é um fenômeno físico que não depende da vontade de ninguém Portanto no mito a explicação sempre é válida depois que a coisa aconteceu Na Filosofia principalmente depois que a Filosofia desenvolveu a ciência moderna sabemos que as explicações corretas independem do tempo para serem válidas Mas os fenômenos da natureza e mesmo aqueles promovidos pelo ser humano podem sempre ser explicados através da Filosofia e principalmente da ciência A passagem do mito para a filosofia pode ser entendida como uma ruptura Ruptura significa quebra e realmente houve uma quebra na forma de pensar mitológica para a forma de pensar filosófica Na forma mitológica as explicações precisavam convencer as pessoas já na forma filosófica as explicações passaram a obedecer à lógica mas a continuidade que podemos observar é que a lógica veio para explicar as mesmas coisas que antes eram apenas explicadas pelos mitos 125 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 87 Os mitos ainda estão presentes na sociedade contemporânea Os mitos ainda existem entre nós Podemos verificar os mitos quando vemos as histórias em quadrinhos e na televisão os superheróis Os superheróis como o SuperHomem o HomemAranha ou o Batman realmente não existem Simplesmente porque não existem na Terra seres que consigam de fato ter nenhuma das habilidades destes heróis Além do mais se alguém pudesse intervir no mundo com todas as superhabilidades logo nós estaríamos fazendo leis para que seus comportamentos fossem regulamentados Muitas vezes também resolvemos considerar alguns atletas como superpoderosos Então acreditamos que este ou aquele jogador de futebol pode mudar o resultado de um jogo Quando fazemos isso queremos acreditar que a presença de uma pessoa num jogo de futebol pode determinar o curso da partida Mas quantas vezes nos decepcionamos quando um excelente jogador não consegue marcar um gol Portanto quando pensamos de uma maneira mágica ou seja conforme nosso desejo de acontecer um milagre não nos decepcionamos com o resultado Nem por isso deixamos de acreditar nas possibilidades mágicas Quantas vezes não sonhamos em ganhar na loteria Quantas pessoas não penduram amuletos nos seus carros para se proteger de um acidente Quantas vezes não queremos acreditar que um político pode mudar a vida de um país Toda vez que isso acontece estamos pensando de forma mitológica Alguns estudiosos da comunicação chegam a afirmar que até mesmo os anúncios publicitários são mitos Segundo eles os comerciais são feitos de maneira com que acreditemos que ao dirigir um carro ou usar um perfume esses atos mudam a nossa aparência exterior no mundo e a nossa capacidade de ser mas como isso não acontece de fato Aparentemente os comerciais também poderiam ser considerados como uma fabricação de mitos 88 Filosofar é uma experiência existencial Quando fazemos Filosofia estamos em princípio tentando compreender as coisas que nos afetam Em outras palavras estamos tentando dar uma explicação racional para tudo aquilo que apreendemos com os sentidos Toda vez que compreendemos como um sentimento nos afeta temos uma experiência de transcendência Essas experiências transcendentais permitem que nós nos distanciemos dos sentimentos e assim consigamos entender por que nos comportamos dessa ou daquela forma Isso significa que quando alcançamos um resultado em Filosofia isso permite que nós tenhamos uma experiência existencial quer dizer uma experiência em nossa vida Segundo a Filosofia existencialista é o sentimento de angústia que nos revela emocionalmente a situação humana no mundo Segundo essa filosofia é a angústia que possibilita ao homem transformar a necessidade em virtude Em outras palavras toda vez que sentimos angústias teríamos a capacidade de compreender que o que acontece na nossa vida é uma situação de fato Um bom exemplo disso é quando você estuda para uma prova Se sentimos angústia antes dela é porque não temos certeza de que vamos conseguir dar conta dela Isso nos obriga a estudar mais para sentirmos segurança em relação ao nosso conhecimento 126 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Uma experiência existencial famosa da Filosofia foi quando Descartes descobriu que era um sujeito pensante Ele percebeu que na medida em que o ser humano pensa ele pode ter certeza de que existe Em Filosofia isso é chamado de descoberta do cogito Segundo Heidegger até mesmo a nossa percepção das coisas é uma experiência existencial ou seja percebemos as coisas porque existimos no mundo e a nossa subjetividade percebe que outras coisas também existem A própria ideia de consciência também é uma percepção existencial Esta é a forma com que Sartre relaciona a consciência à nossa existência Com isso a nossa noção de existência acaba sendo determinada pelo próprio modo de ser do ser humano Quando pensamos sobre a nossa forma de ser no mundo estamos fazendo uma análise das situações mais comuns e mesmo das mais importantes da nossa vida Neste momento podemos escolher o pensamento mágico ou a razão para chegarmos a alguma conclusão Quando pensamos na nossa vida a partir da razão estamos filosofando sobre nossa existência 89 O que são os saberes Entendemos como saber qualquer técnica considerada capaz de fornecer informações sobre um objeto O conjunto das técnicas de informações é denominado saberes Existe diferença entre conhecer uma coisa pessoa ou objeto e saber alguma coisa a respeito dessa coisa dessa pessoa ou desse objeto A diferença é que quando sabemos alguma coisa temos uma noção muito grande a respeito dela Quando conhecemos uma coisa sabemos exatamente aquilo que ela é Por isso na linguagem comum entendemos rapidamente a diferença entre dizer eu sei que ele existe e eu conheço ele Russel identificou que o saber é a experiência imediata que temos sobre alguma coisa Nem sempre aquilo que sabemos a respeito de uma coisa é organizado de forma sistêmica Podemos ter um acúmulo de saberes a respeito de alguma coisa e mesmo assim não conhecêla bem Um exemplo simples é quando falamos sobre um pedaço de chocolate Podemos gostar muito de comer chocolate conhecer inclusive vários tipos diferentes de chocolate mas eventualmente desconhecemos completamente a composição das substâncias que formam aquele pedaço de chocolate Possuímos também saberes cotidianos que são subjetivos pois contêm determinadas noções que variam de pessoa para pessoa Se olho uma pedra posso dizer que ela é grande ou pequena de cor mais clara ou mais escura Por outro lado se um geólogo vê a mesma pedra vai saber que tipo de pedra ela é qual sua composição química dizendo por exemplo que a pedra é granito e não mármore Até mesmo adivinhos e curandeiros exibem seus saberes De alguma forma os adivinhos conhecem uma maneira de tentar entender o futuro e os curandeiros sabem como tentar curar as pessoas Um sacerdote sabe por exemplo a forma de se dirigir a Deus Portanto os saberes não são obrigatoriamente uma forma de ciência Existe também a forma de entender o saber como sinônimo de ciência A obra de Aristóteles reuniu todo o saber acumulado pelos gregos naquele tempo Nesse sentido o próprio Aristóteles considerava a totalidade de saberes como a própria Filosofia Isso porque ele pensava que a ciência era todo tipo 127 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR de conhecimento que se podia demonstrar e isso naquela época era um patrimônio exclusivo da Filosofia Hoje em dia fazemos distinção entre aquilo que apenas sabemos daquilo que conhecemos profundamente Nesse sentido a palavra saberes inclui também a ideia de ciência A ciência é um conhecimento que utilizando uma determinada forma de pensar e de medir garante a sua própria validade É com a ciência que chegamos mais próximo da verdade Enquanto os saberes permitem que nós tenhamos uma opinião a ciência permite que alcancemos um grau máximo de certeza a respeito da validade de alguma coisa 810 O que é ciência Como vimos ciência é a forma de organizar o conhecimento a partir de raciocínios lógicos para validar alguma coisa que conhecemos A ciência é uma forma especial de saber pois consegue provar a garantia da validade das suas proposições O primeiro que tentou fazer ciência da forma que conhecemos hoje em dia foi Euclides Ele viveu no Egito por volta de 300 anos aC Escreveu um livro chamado Elementos no qual quis provar que a Matemática é uma ciência dedutiva em que não havia motivo para nenhuma experiência nem mesmo para uma indução Segundo Euclides o conhecimento era validado a partir do próprio raciocínio Isso levou os estoicos a dizer que a ciência é a compreensão segura certa e imutável fundada na razão Durante a Idade Média Duns Scot acreditava que a ciência se comprovava de tal maneira que não era necessário ter fé nela mas apenas conhecêla Na Idade Moderna começou a surgir a necessidade de pesquisar as coisas a partir da indução Isso significou que as primeiras experiências começaram a ser repetidas para poderem comprovar as ideias dedutivas a respeito da realidade das coisas Kant foi o primeiro a dizer que era um sistema que separava o conhecimento de uma ciência Para ele toda ciência deve ser sistematizada Em outras palavras a ciência deve conter uma regra para organizar muitos conhecimentos a partir de uma única ideia Hegel chegou a afirmar que a única forma na qual a verdade existe só pode ser o sistema científico que a comprova Apesar de Hegel acreditar que a única ciência válida era a Filosofia os cientistas que investigavam a natureza perceberam que o conceito de sistema permitia o conhecimento de uma forma geral Assim foram se desenvolvendo sistemas para explicar as coisas da natureza do mundo Surgiram então as ciências modernas como a Química a Biologia a Geologia e muitas outras Também os antigos saberes tais como a Física e a Medicina foram reorganizados na forma de um sistema O avanço das ciências aconteceu no momento em que se percebeu que nem todo o sistema pode oferecer uma unidade de pensamentos Um sistema deve ser composto de proposições que sejam compatíveis entre si A partir dessa ideia foi possível estudar determinados fenômenos da natureza que depois de entendidos passaram a ser interligados a outras ideias previamente conhecidas formando assim um sistema A ciência evoluiu mais ainda com uma ideia de Newton ele distinguia a análise da síntese A análise é a investigação a respeito de um fenômeno e a síntese é a sua conclusão A análise é a forma de investigar as hipóteses formuladas pelas proposições Essa ideia de ciência perdura até hoje Ela é limitada à observação dos fatos que junto com a Matemática comprova a realidade desta observação e as inferências que podem ser feitas a partir dos resultados obtidos e validados 128 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II No século XIX a filosofia positivista considerou que todos os fenômenos estavam sujeitos a leis invariáveis que precisavam ser descobertas Na medida em que as ciências foram capazes de fazer previsões sobre os dados observados a partir do conhecimento sistematizado foi possível fazer previsões sobre um futuro provável Mas assim como na filosofia é sempre necessário raciocinar a respeito dos resultados obtidos e fazer uma reflexão Nesse momento aparece a maior qualidade da ciência que é sua capacidade de autocorreção Repetindo sempre as experiências descritas os cientistas refletem se as conclusões tiradas por outros cientistas são efetivamente aquelas de maior validade Caso percebam que uma reflexão foi equivocada eles corrigem a forma de interpretar o resultado das experiências Nesse sentido o procedimento básico que promove a construção da ciência é a sua metodologia 811 O que é religião De alguma forma todos nós sabemos o que é religião Ela é o sistema de crenças que nos permite acreditar em alguma coisa que existe para além de nós A religião lida com a possibilidade de vida sobrenatural Você pode acreditar em Deus ou em vários deuses Pode inclusive aceitar determinadas mágicas ou rituais Todas essas formas de crer sugerem elementos que não podemos conhecer na realidade nem podemos comprovar que existem Na religião católica a maior comprovação da santidade é o milagre O Espírito Santo é um ente que consegue realizar feitos que não são explicados pela ciência A religião também sugere que a vida natural cotidiana e a existência sobrenatural não têm uma relação direta Por exemplo quando uma pessoa morre admitese que ela vai para o céu mas se olharmos para o céu mesmo com o mais potente telescópio não vamos encontrar ninguém lá em cima Portanto o céu da religião não tem nada a ver com o céu da natureza A religião se propõe a conhecer as verdades fundamentais a respeito do ser humano De alguma forma toda religião tem explicação para qualquer sentimento sensação ou escolha que um ser humano faz Isso significa que a religião se diferencia da Filosofia na medida em que não é necessário para a religião comprovar nenhum dos seus conhecimentos Basta ter fé Nesse sentido a religião se aproxima bastante da mitologia Sabemos inclusive que as religiões da Antiguidade eram um conjunto de mitos A reflexão religiosa não busca a verdade como a reflexão na Filosofia Na religião a reflexão é apenas uma forma de se convencer melhor daquilo em que se acredita 812 O que é arte De uma forma geral arte é o talento de saber fazer alguma coisa Por isso é que dizemos que quando alguém faz muito bem aquilo que pretendeu fazer como por exemplo uma pintura uma música uma escultura mas também a Engenharia a Arquitetura ou a Medicina dizemos que a pessoa é um artista A arte é um conjunto de procedimentos técnicos que visam a um determinado resultado prático Aqui se deve fazer uma diferença entre o artista e o artesão O artista seria aquele que não apenas alcança um resultado excelente mas principalmente aquele que inventa novas técnicas O artesão seria o profissional que sabe repetir essas técnicas sem no entanto inventálas 129 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Para Aristóteles essa invenção estaria sempre limitada à produção de um objeto possível de ser feito e nisto consistiria a arte A atividade cultural deve produzir coisas que são percebidas como belas por um grupo ou por uma cultura Nesse sentido a arte deve sempre procurar ser estética Ou seja ela deve recorrer a determinados procedimentos que de uma maneira correta criam a sensação de beleza 813 Qual a relação entre Filosofia e religião A maior diferença entre a Filosofia e a religião é que a religião em princípio acredita que os poderes sobrenaturais estão fora do alcance das ações humanas Por isso é impossível aos seres humanos efetivamente promoverem a salvação das suas vidas e das suas almas Sabemos que a crença na existência de Deus é uma questão de fé mas para a Filosofia existe a necessidade de demonstrar a existência de Deus e determinar sua função em relação ao homem e ao mundo Isso é uma coisa que a religião não se incomoda em fazer A salvação que a religião pretende garantir não se refere necessariamente a um mal específico que existe no mundo Na religião as formas de atuação são as práticas de culto de oração de serviço divino ou de serviço social Existem religiões que exigem até mesmo rituais e sacrifícios de animais A religiosidade de cada um não pode ser um objeto de pesquisa pois ela se manifesta de forma subjetiva Só podemos investigar aquilo que se manifesta de forma objetiva Dessa forma surge a questão de como comprovar a validade da religião Nesse sentido há uma grande discussão da origem da religião Uns acreditam que a religião seria uma primeira forma de organização política enquanto outros acreditam na origem divina da religião Do ponto de vista da Filosofia o reconhecimento da origem divina da religião sugere que ela se dá através da revelação Essa revelação é alguma coisa dada por Deus A filosofia também pensou que a religião é uma forma política para controlar as ações humanas Caso os seres humanos ofendessem os deuses seriam punidos por suas más ações Isso seria necessário porque apesar de conhecerem as leis os homens continuam a cometer atos indignos como por exemplo a violência de forma escondida Mas temendo a Deus eles procurariam se comportar no caminho do bem Isto é o que os estoicos pensavam a respeito da religião Na Idade Moderna Hobbes pensou que a principal causa da existência da religião é a incerteza com o futuro A religião poderia fornecer garantias para a sobrevivência Essa também é a opinião de Hume Uma boa percepção filosófica do que é a religião foi escrita pelo pensador francês Voltaire É natural que um povo assustado com outro aflingido pela perda de suas colheitas maltratado pelo povo vizinho sentindo todos os dias a sua fraqueza sentindo por todos os lados um poder invisível tenha finalmente dito há algum ser superior a nós que nos faz bem e mal VOLTAIRE 2008 p 32 130 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II A Filosofia considera a religião como uma forma de concepção do mundo um tanto quanto simples mas que fornece alguma coerência Nesse sentido a religião seria uma forma de entender metafisicamente a natureza Seria uma maneira de explicar o mundo a partir de determinados princípios de entendimento A religião não estaria preocupada com uma mágica que pudesse modificar imediatamente a realidade mas principalmente com os poderes superiores que dominam a natureza O médico alemão Sigmund Freud sugeriu que a religião é a crença de que existe um pai sobrenatural que protege os seres humanos dos perigos compensando ou punindoos conforme o caso Assim a relação entre os seres humanos e Deus seria uma analogia da relação entre pais e filhos A religião poderia oferecer a verdade tal como um pai ensina coisas que sabe e que acredita aos filhos O pai também fornece os valores para que os filhos consigam julgar o que é bom e o que é mau Nasce assim um terceiro valor da religião que é a libertação do mal Esta libertação foi entendida em muitas religiões como a promessa de felicidade e bemestar após a morte Como a religião também se propõe a fornecer a verdade absoluta da mesma maneira que a Filosofia Hegel e escreveu que a Filosofia tem o mesmo objeto da religião porque ambas têm como objeto a verdade no sentido superior da palavra porquanto Deus e somente Deus é a verdade HEGEL 1989 Mas ele percebeu que a religião não pretende expressar a verdade na forma de conceitos mas na forma de representação do sentimento enquanto a filosofia busca a verdade a partir da razão Saiba mais Leia mais sobre o assunto visto anteriormente em HEGEL G W F Enciclopédia das ciências filosóficas filosofia da natureza Lisboa Edições 70 1989 v II A diferença maior entre Filosofia e religião é que em Filosofia devese utilizar a dúvida como um instrumento de conhecimento enquanto na religião a dúvida não deve ser levantada contra Deus nem contra os seus preceitos e novamente chegamos à ideia da fé 814 Qual a relação entre Filosofia e arte Kant escreveu Quando conformandose ao conhecimento de um objeto possível a arte cumpre somente as operações necessárias para realizálo dizse que ela é arte de mecânica se porém tem por fim imediato o sentimento do prazer a arte é estética Esta arte aprazível ou bela arte é aprazível quando a sua finalidade é fazer que o prazer acompanhe as representações enquanto 131 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR simples sensações é bela quando o seu fim é conjugar o prazer às representações como formas de conhecimento KANT 2008 p 44 A beleza produzida foi pensada desde Platão Para ele o belo era a manifestação evidente dos valores e a arte de seria a imitação das coisas sensíveis e dos acontecimentos do mundo De alguma forma a arte não ultrapassaria a aparência sensível da realidade Aristóteles entendia que a arte consistia na ordem e na simetria que podem ser facilmente percebidas pela visão em seu conjunto Saiba mais Complete seus estudos com a leitura da obra KANT I Crítica da faculdade do juízo São Paulo Forense Universitária 2008 A partir do século XVII Hume demonstrou que a noção de arte e do belo estariam unidas na ideia de gosto Nesse sentido Kant concordava que a arte somente pode ser chamada de bela quando nós conscientes daquilo que é arte a consideramos como natureza Ele também afirmou que a natureza é bela quando tem a aparência de arte Mas a noção de belo tanto no uso comum da linguagem quanto no uso erudito dos filósofos é muito ampla e pode ser atribuída a qualquer obra de arte bem realizada Para a Filosofia o estudo da arte é o estudo da estética Segundo Hegel a estética seria a demonstração da ética que usamos para a realização dos nossos artefatos Porém a própria ideia de estética sugere uma grande possibilidade de definições da arte e do belo Por exemplo a definição de arte como imitação referese à relação entre arte e a natureza Nesse sentido a arte do belo é a capacidade que temos de copiar todas as coisas da natureza inclusive a nossa imagem de ser humano de uma maneira perfeita Por outro lado se falamos que a definição de arte deve sugerir uma experiência prazerosa estamos dizendo que a estética se refere à relação entre a arte e as sensações humanas A partir dessas duas posições podese discutir a própria função da arte para o ser humano Para Abbagnano foi pensando nisso que Hegel escreveu que A arte por ocuparse do verdadeiro como objeto absoluto da consciência pertence à esfera absoluta do espírito e graças a seu conteúdo situase no mesmo plano da religião e da filosofia ABBAGNANO 2007 p 81 Nesse sentido a arte pode ser considerada conhecimento atividade prática e sensibilidade A ideia de arte como sensibilidade é originalmente uma tese de Platão mas ele acreditava que a sensibilidade da arte ficava sempre reduzida à aparência sensível ou seja àquilo que nós podemos ver e ouvir A ideia de gosto demonstrou que a sensibilidade da arte poderia permitir que ela proporcionasse sentimentos profundos principalmente ao alcançar a beleza Segundo o filósofo espanhol George Santayana a beleza é um prazer considerado como a qualidade de uma coisa e por isso é uma emoção da nossa natureza valorativa A função da arte seria instrumento da educação e a da expressão humana Aristóteles já afirmava que a música pode servir para a educação e a catarse ao repouso e ao prazer da alma Em princípio a catarse 132 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II significa a purificação Para Aristóteles essa purificação seria proporcionada através de uma descarga emocional que faria com que o ser humano conseguisse encontrar as suas mais puras emoções Assim a função da arte seria uma forma de aperfeiçoamento moral Para Hegel o aperfeiçoamento moral viria no momento em que a revelação da verdade se desse através da representação pela arte 815 Qual a relação entre religião e arte A relação que existe entre religião e arte é de educação moral Através da literatura da pintura ou da música a religião se utiliza da arte para facilitar que as pessoas sintam as sensações corretas quando estão em diante da presença do divino Essa relação entre religião e arte se dá em praticamente todas as crenças Cada religião elege a sua forma predileta de arte Algumas preferem as figuras na forma de quadros ou de esculturas Quando isso acontece é porque a religião pretende facilitar a compreensão da divindade para o ser humano Por esse motivo os deuses gregos eram representados sempre na forma humana pois pareciam humanos Também na religião católica e em toda a cristandade há pelo menos a representação de Jesus Cristo como um homem Por outro lado o Espírito Santo e Deus são representados de várias formas Para os católicos o Espírito Santo é muitas vezes simbolizado por uma pomba Por vezes como uma luz e outras como um homem em idade avançada Há religiões como o judaísmo e o islamismo que proíbem a forma humana na representação de Deus Nestas religiões a literatura é a arte predileta mas os cânticos religiosos existem em praticamente todas as religiões ou práticas religiosas Tudo isso é feito para facilitar a catarse A religião pretende que seus fiéis alcancem a pureza de seus sentimentos na presença de Deus A música serve para facilitar o sentimento de comunhão entre todos que participam do culto e assim de viverem a experiência de estarem mais perto de Deus Com a religião a arte é extremamente educativa visando inclusive a educação moral prevista pela Filosofia 816 Qual a relação entre religião e ciência Não existe uma relação direta entre religião e ciência Na medida em que a religião precisa da fé e a ciência precisa da razão elas são duas coisas completamente diferentes Durante séculos no mundo ocidental a religião controlou o desenvolvimento da ciência Isso aconteceu porque no início bastava a religião para organizar a cultura e a civilização O conhecimento que a cultura grega e a cultura romana tinham deixado tanto para a Filosofia quanto para as artes práticas parecia suficiente na Europa da Idade Média para manter o curso da história Na medida em que a razão tomou conta dos filósofos estes passaram a se perguntar cada vez mais como era de fato o funcionamento dos seres vivos das plantas e de toda natureza Para a Igreja Católica era conveniente que as pessoas pensassem que a Terra era o centro do universo Quando Nicolau Copérnico percebeu que o Sol era o centro do universo a Igreja Católica condenou essa descoberta De alguma forma as religiões até hoje têm uma posição de prudência em relação à ciência Isso porque para uma pessoa religiosa basta uma educação moral para se viver bem no mundo Mas por exemplo 133 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR a Medicina é uma ciência que precisa estar sendo continuamente estudada e praticada Quando não sabemos as causas das doenças as pessoas morrem Para os religiosos ortodoxos ou fundamentalistas morrer por causa de uma doença é um desejo de Deus Então se a pessoa contraiu ou desenvolveu uma doença é porque Deus assim o quis Nem sempre é fácil aceitar que uma pessoa amada morra por conta de uma doença Por causa disso há séculos que temos uma grande tensão entre a religião e a ciência Como a razão não aceita limites para o conhecimento os cientistas seguem pesquisando os fenômenos naturais Cada vez mais tentamos entender como o organismo é composto Hoje já conhecemos o DNA e até mesmo fazemos algumas modificações genéticas nos animais e nas plantas Também sabemos cada vez mais a respeito do universo e do que acontece fora do sistema solar Algumas religiões acabam se adaptando ao conhecimento novo pois entendem que aquilo que é afeito ao ser humano não diz respeito a Deus Outras religiões ou mesmo seitas dentro das religiões acreditam que a ciência está o tempo todo sendo sacrílega ou seja atentando contra a divindade de Deus A maior acusação da religião contra ciência é que os seres humanos desejariam ter o poder onipotente de Deus mas muitos pesquisadores e cientistas declaram abertamente que podem continuar pesquisando e mesmo assim acreditando em Deus praticando uma religião Para eles Deus é maior do que as regras morais das religiões 817 Qual a relação entre arte e ciência Você leu anteriormente que até mesmo conhecimentos como a medicina ou engenharia podem ser considerados arte Nesse sentido a arte sempre utilizou descobertas e novas técnicas incorporandoas para continuar o seu ofício Todo conhecimento científico seja ele físico químico ou matemático acabou sendo inserido numa forma de fazer arte Pensamos aqui no cinema na televisão e na música O cinema por exemplo passou por várias fases Na primeira descobriuse que a forma de capturar o movimento é fazendo uma sequência de fotografias Mas esse cinema era mudo e não tinha cores As imagens em branco e preto eram feitas a partir da utilização da prata na forma de um sal que uma vez exposta à luz podia registrar imagens que eram parecidas com os desenhos feitos a lápis ou a carvão Podemos dizer que o cinema originouse da utilização da ótica que é um ramo da física e da química Mais tarde o cinema se beneficiou da eletricidade e assim permitiu a reprodução do som Com a evolução da química o cinema se tornou colorido Ele permaneceu dessa forma por muitos anos hoje em dia o cinema digital realizado a partir de imagens processadas por chips eletrônicos tornou a qualidade de som e imagem mais perfeita na captação e também na reprodução A televisão evoluiu a partir dos conhecimentos eletrônicos do início do século XX Cada vez mais o ser humano aprendeu como controlar a luz através da eletrônica e transformou sinais eletrônicos em ondas eletromagnéticas transmitidas através do ar Isso primeiro permitiu a construção dos rádios e em seguida da televisão As ondas eletromagnéticas transmitem até hoje os sinais de televisão 134 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II A música já tinha sido percebida por Pitágoras como uma organização de frações matemáticas do número 1 Ela evoluiu junto com as técnicas artesanais Tanto os instrumentos de cordas quanto os instrumentos de sopro e até mesmo os de percussão foram sendo construídos com materiais cada vez mais maleáveis e resistentes O desenvolvimento desses materiais bem como a forma de construção dos instrumentos foi sendo descoberta a partir da evolução da ciência Hoje em dia os computadores conseguem imitar com muito boa qualidade todos os instrumentos musicais Muitos artistas se apresentam cantando acompanhados apenas por um computador Uma vez programado corretamente o computador consegue reproduzir todos os sons que seriam gerados pelos instrumentos das orquestras Todas as novidades que aconteceram na arte desde os gregos até hoje de alguma forma estiveram diretamente ligadas ao desenvolvimento do conhecimento racional e da ciência A diferença é que na arte os conhecimentos são utilizados para produzir sons e imagens e na literatura e na poesia é possível produzir apenas ideias que de alguma forma visam estimular os sentidos do ser humano A partir do estímulo dos sentidos a arte não pretende produzir conhecimento racional mas promover a catarse Observação Segundo Aristóteles a catarse referese à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama É assim até hoje Se rimos ou se choramos no final de um filme ou uma novela alcançamos uma catarse isto é nos sentimos alegres felizes ou contentes com o fim da história porque sentimos que essa era a sua conclusão mais apropriada 818 Qual a relação entre Filosofia e ciência Diferentemente da arte a Filosofia não deve procurar suscitar emoções no ser humano Seus instrumentos são a racionalidade e o raciocínio A Filosofia deve procurar explicações para os sentidos do ser humano Descartes inaugurou um método que pressupõe duvidar verificar analisar e sistematizar aquilo que tinha sido analisado e a ciência moderna deriva exatamente deste método para investigar as coisas da natureza Desde Sócrates que a filosofia natural perdeu terreno para as questões do ser humano Até hoje a filosofia investiga as formas de ser e de agir que os humanos experimentam Isso significa que cabe à ciência investigar a partir de métodos científicos as verdades das coisas da natureza Da Idade Moderna até a Idade Contemporânea coube À ciência metodicamente descobrir o funcionamento tanto dos seres vivos quanto das forças naturais Hoje a pesquisa das coisas naturais percebe que o átomo não era como Demócrito imaginava Mesmo um átomo ainda tem muitas outras partículas que o compõem Ao descobrir cada vez mais como o átomo funciona percebemos melhor como todas as forças da natureza se organizam Fazemos coisas que no passado eram impensáveis Enviamos naves espaciais para além do sistema solar e também 135 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR podemos medir a temperatura do Sol e a distância das outras estrelas Descobrimos que existem buracos negros e que o próprio universo exibe uma espécie de vida Recentemente descobrimos até mesmo outros planetas em outros sistemas solares que são parecidos com o planeta Terra Na Medicina já conseguimos pensar como investigar todas as doenças do ser humano Neste momento a ciência está tentando desvendar o último órgão do ser humano que ainda não é completamente conhecido o cérebro No momento em que a ciência descobrir completamente como o cérebro funciona vamos entender do ponto de vista biológico como as sensações e os sentimentos acontecem no organismo Mas intuise que mesmo depois de mapeado o cérebro ainda vamos precisar da Filosofia para entender por que os seres humanos exibem tamanha variedade de comportamentos Sabemos que as emoções são fundamentais para o comportamento de todo ser humano Ainda assim mesmo descobrindo como o cérebro funciona em conjunto com todo o corpo humano as variáveis de comportamento de cada um de nós ainda estarão longe de ser previstas individualmente Portanto podemos prever que a Filosofia ainda será necessária para o ser humano no sentido de entendermos os motivos dos diversos comportamentos exibidos Quanto mais a ciência avança mais a forma de filosofar se modifica A Filosofia não resiste aos avanços da ciência e tenta entendêlos e descobrir os nexos que existem entre as descobertas e os comportamentos humanos 819 O que distingue a Filosofia dos outros saberes Nem todos os saberes são baseados na racionalidade e na razão Desde Platão que a Filosofia é baseada no princípio de conhecimento da verdade Portanto há saberes que de alguma forma são apenas um conhecimento aproximado da realidade Essas maestrias não são necessariamente ruins Também devemos considerar todos os ramos da ciência como saberes Então percebemos que temos saberes que não se baseiam na racionalidade e aqueles que se fundamentam no uso racional da lógica e dos métodos De alguma forma todos os tipos de saberes são importantes para caracterizar a experiência humana A possibilidade de decidirmos entre o que é certo e errado vem da percepção combinada dos saberes cada vez que precisamos fazer uma determinada escolha Nem sempre as escolhas que fazemos na vida são escolhas morais Se temos de escolher entre a uma camiseta branca e uma amarela estamos apenas fazendo uma escolha de gosto É o mesmo tipo de escolha que fazemos se preferimos comer arroz do que comer batata Outras escolhas certamente não vão precisar do auxílio da moral Todas as escolhas referentes à intervenção do conhecimento humano no organismo são escolhas morais Uma simples decisão de uma pessoa a respeito do transplante de órgãos é uma escolha moral Devemos doar nossos órgãos para outras pessoas sobreviverem Devemos aceitar os órgãos de uma pessoa condenada pela justiça Todas essas questões acabam sendo questões morais 136 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II Para facilitar as nossas decisões precisamos recorrer a procedimentos que organizam o nosso comportamento o qual é denominado conduta As condutas são organizadas a partir de raciocínios Toda conduta acaba revelando uma forma de se comportar que é chamada de ética Como a ética é pensada pela Filosofia ela acaba facilitando a forma com que fazemos escolhas A Filosofia não apenas permite que nós pensemos de forma racional mas principalmente que forneça uma justa medida para que as consequências das nossas escolhas sejam de alguma maneira previsíveis Sabemos hoje que existe um infinito número de variáveis que estão à disposição dos seres humanos no que diz respeito ao seu comportamento É difícil determinar com extrema certeza o resultado daquilo que nós escolhemos a partir da reflexão Mas uma escolha feita com o auxílio da reflexão permite delimitar os efeitos que são consequência das nossas escolhas 820 A Filosofia é um tipo de literatura Muitos livros de Filosofia foram um sucesso entre os leitores Os livros que até hoje são traduzidos e editados como por exemplo os livros de Platão e Aristóteles de alguma forma fazem parte da literatura universal Vários livros filosóficos alcançaram sucesso entre os leitores comuns mas a Filosofia não deve ser considerada simplesmente um gênero da literatura Na medida em que a Filosofia procura o conhecimento os livros não são de fácil leitura Eles não são feitos nem para entreter nem muito menos para divertir as pessoas Nesse sentido a Filosofia é um conhecimento que será mais facilmente apreendido por aqueles que estudam as formas de pensamento e as ideias do que por um simples leitor à procura de distração Mesmo que vários dos conhecimentos filosóficos sejam transmitidos às pessoas através de muitos livros esses saberes nascem da construção de discursos narrativos que pressupõem um certo conhecimento prévio para serem bem entendidos Por outro lado a literatura é uma arte que serve para transmitir principalmente as ideias que vão estimular as emoções Quando se lê um livro esperase acompanhar o desenrolar da história de forma com que a mente consiga perceber as emoções que o autor quer proporcionar Se a literatura propuser um livro de mistério devemos sentir curiosidade Se for um romance podemos sentir ternura paixão amor e piedade Caso o livro fale sobre uma tragédia a ideia é que o leitor sinta tristeza e melancolia Nenhum desses sentimentos é previsto no texto filosófico Podemos sentir raiva por não entendermos aquilo que o livro de Filosofia está tentando explicar de forma racional ou então contrariedade quando entendemos o raciocínio de um livro de Filosofia e não concordamos com ele Mas de uma forma geral como Kant dizia o principal sentimento que um livro de Filosofia deve inspirar é o respeito pois este é o único sentimento que de alguma forma honra o ser humano Portanto a Filosofia é a busca do conhecimento já a literatura é uma forma de arte 137 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Resumo Esta unidade começa com a descrição dos limites que os seres humanos se impõem para conseguirem viver em sociedade Discutimos se a autoridade vem da força ou se ela se impõe por uma questão moral As questões morais são em princípio reguladas pelas sociedades na forma das leis mas será que todas as leis são justas Será legítimo se opor às leis quando elas não legitimam a justiça e a liberdade Chegamos então à função do Estado moderno e seu monopólio do uso da força Verificamos então que a política é uma forma menos violenta que as pessoas utilizam para negociar sua existência e bemestar numa sociedade Mas para podermos existir em sociedade verificamos que tudo o que sabemos depende do uso da lógica e a partir dela conseguimos pensar a técnica e a ciência A partir de raciocínios coerentes formamos juízos que nada mais são do que valores que conferimos às ideias Uma vez percebidos os juízos podemos determinar aqueles que são verdadeiros Revisitamos a história da Filosofia para verificar como foram construídos os tipos de conhecimento Hoje verificamos que não descartamos as ideias antigas e as substituímos por novas mas vamos escolhendo nas antigas aquelas que ainda nos servem bem até hoje Nesse sentido percebemos as diferenças entre filosofia religião e ciência que são as três grandes áreas com que lidamos com o conhecimento no cotidiano Exercícios Questão 1 Kant escreveu que há quatro espécies de combinações da força com a liberdade e a lei a A lei e a liberdade sem força é igual a anarquia b A lei e a força sem liberdade equivale ao despotismo c A força sem liberdade e sem lei significa a barbárie d A força com liberdade e com lei é a república As ditaduras militares foram muito comuns na América Latina durante as décadas de 1960 e 1970 Em países como Brasil Argentina Chile e Uruguai por exemplo eram marcadas pelo uso da força e pela ausência de liberdade em especial a de expressão porém em alguns lugares foi preservado o direito de escolha de líderes políticos com eleições para o Executivo e o Legislativo Nesse caso podemos afirmar que se trata de um modelo kantiano de 138 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade II A Anarquia B Despotismo C Barbárie D República E Nenhuma dessas categorias de Kant define corretamente as ditaduras militares ocorridas na América Latina Resposta correta alternativa B Análise das alternativas A Alternativa incorreta Justificativa durante as ditaduras militares na América Latina existiam leis aprovadas pelos próprios militares e o uso institucional da força portanto não se tratava de anarquia B Alternativa correta Justificativa o poder era exercido de forma despótica porque havia lei e força porém sem liberdade O próprio exercício do direito de voto não era livre porque somente havia escolha por meio de voto para os cargos que o poder permitia Durante mais de vinte anos não houve eleição para a escolha do presidente da República embora em algumas cidades fosse possível votar para escolha do prefeito e dos vereadores Assim a força subtraiu a liberdade de escolha para alguns cargos e permitiu para outros que ela própria designou quais seriam o que é característica do despotismo C Alternativa incorreta Justificativa a força era aplicada com base na lei ainda que essas leis fossem criadas quase sempre pelos próprios militares que representavam a força A existência de leis não permite caracterizar esse momento histórico como barbárie D Alternativa incorreta Justificativa aquele período histórico não pode ser caracterizado como República porque não havia liberdade de voto e nem de expressão República esses países tiveram a partir do fim do período da ditadura militar o que ocorreu nas décadas de 1980 e 1990 E Alternativa incorreta Justificativa o despotismo é uma das hipóteses de classificação de Kant que pode ser aplicada a esse caso concreto ocorrido em alguns países da América Latina no período histórico mencionado 139 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Questão 2 Figura 3 Assinale a alternativa correta I O conhecimento científico deve avançar constantemente com o uso de todas as técnicas disponíveis e de todos os recursos de pesquisa porque só assim haverá progresso e bemestar para a humanidade II A ciência avança a partir do raciocínio e da reflexão em especial sobre o uso ético do conhecimento e das formas de obtêlo A Somente I está correta B Somente II está correta C I e II estão corretas D II está correta e é consequência de I E Nenhuma das alternativas está correta Resolução desta questão na plataforma 140 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 PEÑAESCRITAFUENCALIENTE28CIUDADREAL29JPG Disponível em httpsupload wikimediaorgwikipediacommons99aPeñaEscritaFuencaliente28CiudadReal29jpg Acesso em 31 jul 2018 Figura 2 1024PXCRACOLÂNDIAMUDADELUGARPELAQUARTAVEZ283677349929229JPG Disponível em httpsuploadwikimediaorgwikipediacommonsthumb337Cracolândiamuda delugarpelaquartavez283677349929229jpg1024pxCracolândiamudadelugarpela quartavez283677349929229jpg Acesso em 31 jul 2018 Figura 3 PRIVACIDADEJPG Disponível em http1bpblogspotcommHghTKkn1ATAwR4BZu2VI AAAAAAAAABEUVNkvw6qFgs1600PRIVACIDADEjpg Acesso em 31 jul 2018 REFERÊNCIAS ABBAGNANO N Dicionário de filosofia São Paulo Martins Fontes 2007 AQUINO T de Suma teológica São Paulo Edições Loyola 2001 v III Verdade e conhecimento Tradução de Luiz Jean Lauand e Mario Bruno Sproviero 2 ed São Paulo Martins Fontes 2011 ARISTÓTELES Ética a Nicômaco Tradução de Antonio de Castro Caieiro São Paulo Atlas 2009 A política 6 ed São Paulo Lafonte 2012 ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS Declaração Universal dos Direitos Humanos Biblioteca Virtual de Direitos Humanos sd Disponível em httpwwwdireitoshumanosuspbrindexphp DeclaraC3A7C3A3oUniversaldosDireitosHumanosdeclaracaouniversaldosdireitos humanoshtml Acesso em 11 jul 2018 BRASIL Presidência da República Casa Civil Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990 Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências Brasília 1996 Disponível em http wwwplanaltogovbrccivil03leisl9394htm Acesso em 30 jul 2018 CHAUI M Convite à filosofia São Paulo Ática 2000 141 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data DEWEY J Experiência e natureza São Paulo Abril 1980 Coleção Os Pensadores HEGEL G W F Enciclopédia das ciências filosóficas filosofia da natureza Lisboa Edições 70 1989 v II Filosofia do direito São Paulo Loyola 2010 HOBBES T Os elementos da lei natural e política Tradução de Fernando Dias Andrade São Paulo Ícone 2003 Leviatã ou matéria forma e poder de um estado eclesiástico e civil 2ed São Paulo Martin Claret 2008 HUME D Ensaios morais políticos e literários Rio de Janeiro Topbooks 2004 KANT I Crítica da faculdade do juízo São Paulo Forense Universitária 2008 Crítica da razão pura sd Disponível em httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtexto cv000016pdf Acesso em 21 ago 2018 Metafisica dos costumes Petrópolis Vozes 2013 LOCKE J Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos 4 ed Petrópolis Vozes 2006 Coleção dos Clássicos do Pensamento Político MAQUIAVEL O príncipe São Paulo Escala 2006 NIETZSCHE F A genealogia da moral São Paulo Escala 2007 PLOTINO Eneada Rio de Janeiro Vozes 2016 SANTO AGOSTINHO O livrearbítrio São Paulo Paulus São Paulo 1995 SÃO PAULO Epístola aos romanos São Paulo Ediouro 1984 SARTRE J P O ser e o nada ensaio de ontologia fenomenológica Tradução de Paulo Perdigão 15 ed Petrópolis Vozes 2007 SPINOZA B de Ética Tradução de Tomaz Tadeu Belo Horizonte Autêntica 2009 STO Tomás e Dante Tradução Luiz João Baraúna et al São Paulo Nova Cultural 1988 Coleção Os Pensadores VOLTAIRE Tratado sobre a tolerância São Paulo LPM Editores 2008 142 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 143 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 144 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 145 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 146 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 147 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 148 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Informações wwwsepiunipbr ou 0800 010 9000