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Autor Prof Renato Bulcão Colaboradora Profa Angélica Carlini Filosofia Interdisciplinar Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Professor conteudista Renato Bulcão Renato Bulcão é formado em Filosofia mestre em Comunicação ambos pela Universidade de São Paulo USP e doutor em Educação e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie Coordena o curso de licenciatura em Filosofia da Universidade Paulista UNIP Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP B933p Bulcão Renato Filosofia Interdisciplinar Renato Bulcão São Paulo Editora Sol 2018 148 p il Nota este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP Série Didática ano XXIV n 208418 ISSN 15179230 1 Natureza e cultura 2 Indivíduo e comunidade 3 Lei e justiça I Título CDU 1 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Prof Dr João Carlos Di Genio Reitor Prof Fábio Romeu de Carvalho ViceReitor de Planejamento Administração e Finanças Profa Melânia Dalla Torre ViceReitora de Unidades Universitárias Prof Dr Yugo Okida ViceReitor de PósGraduação e Pesquisa Profa Dra Marília AnconaLopez ViceReitora de Graduação Unip Interativa EaD Profa Elisabete Brihy Prof Marcelo Souza Prof Dr Luiz Felipe Scabar Prof Ivan Daliberto Frugoli Material Didático EaD Comissão editorial Dra Angélica L Carlini UNIP Dra Divane Alves da Silva UNIP Dr Ivan Dias da Motta CESUMAR Dra Kátia Mosorov Alonso UFMT Dra Valéria de Carvalho UNIP Apoio Profa Cláudia Regina Baptista EaD Profa Betisa Malaman Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico Prof Alexandre Ponzetto Revisão Fabrícia Carpinelli Elaine Pires Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Sumário Filosofia Interdisciplinar APRESENTAÇÃO 9 INTRODUÇÃO 9 Unidade I 1 O SER HUMANO NATUREZA E CULTURA 13 11 O que é natureza e o que é cultura 13 12 Quando nascemos não sabemos qual a diferença entre natureza e cultura 13 13 O que faz do ser humano um animal como os outros 14 14 O que distingue o ser humano dos outros animais 16 15 O desenvolvimento da linguagem é a maior diferença entre o ser humano e os outros animais 17 16 Quantos significados tem a palavra cultura 19 17 É possível distinguir em nós o que é natural do que é cultural 20 18 O ser humano é frágil ou é forte diante da natureza 22 19 A cultura é essencial para a definição do ser humano 23 110 As concepções filosóficas sobre a constituição do ser humano 24 111 O corpo e a alma 24 112 O dualismo e o monismo 27 113 As relações entre a racionalidade e o desejo 28 114 O que comanda o ser humano sua razão ou seus desejos 29 115 Por que a consciência é um aspecto fundamental do ser humano 29 116 Qual a relação entre a mente e o cérebro 31 117 Como o ser humano relaciona as características biológicas da natureza com os dados culturais 32 118 O ser humano é dual 33 119 O psiquismo é separado do corpo 34 120 O conhecimento é uma modalidade de desejo 36 121 Somos senhores de nossos desejos e sentimentos 37 122 O que significa ser e estar consciente 37 123 É mais fácil conhecer a si mesmo do que as coisas ou as outras pessoas 38 124 A consciência nos engana 38 125 É possível conhecerse a si mesmo sem se enganar 39 126 O que significa dizer que pensamos com nosso cérebro 39 127 A arte e a técnica 40 128 O trabalho e a alienação 42 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 129 O tempo e a transcendência 44 2 QUERER PODER E AGIR 46 21 Os valores 46 211 Ser e dever ser 46 212 O fato e o valor 48 213 Por que nós agimos de maneira valorativa 49 214 Qual a diferença entre dizer que algo é assim e que algo deve ser assim 49 215 As convenções humanas são um prolongamento ou uma ruptura com a natureza 50 216 Juízos de fato e juízos de valor 50 217 A esfera da moral é o lugar das ações e das escolhas humanas das suas normas e dos seus valores 51 218 Seguir a natureza pode ser uma regra moral 52 219 A moral é uma questão de sentimento 52 2110 Alguns exemplos das diversas posições filosóficas a respeito do bem e do mal 53 22 A universalidade e a relatividade dos valores 55 221 Universalismo 55 222 O que é diversidade cultural 55 223 As noções de certo e errado são universais ou relativas aos costumes 55 224 O que é o etnocentrismo 56 225 O que é relativismo cultural 57 226 Quais são as diferenças entre as posições universalistas e as relativistas em relação aos valores 58 227 Devemos falar em cultura ou em culturas 58 228 Há culturas superiores às outras 59 23 O bem e o mal59 231 O bem e o mal dependem da perspectiva de quem os define 61 232 É possível querer o mal 62 233 O belo e o feio 63 3 A LIBERDADE E O DETERMINISMO 64 31 Por que fazemos as coisas que fazemos da forma que fazemos 69 32 Somos livres ou somos determinados por fatores como a genética o ambiente e o tempo 70 33 A liberdade é a ausência de ameaças e limites 70 34 O que determina a liberdade humana 70 35 Liberdade é a ausência de lei 71 36 Uma pessoa que não é livre pode ser responsabilizada por seus atos 71 37 Os desejos e as paixões limitam nossa liberdade 73 38 Quem obedece a si mesmo é livre 74 39 Podemos ser ao mesmo tempo livres e apaixonados 74 310 O agir ético é indissociável da relação consigo mesmo e com os outros 74 311 O sentimento da liberdade garante sua existência 75 312 Somos livres mesmo dentro de uma prisão 75 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 4 O INDIVÍDUO E A COMUNIDADE O CONFLITO 75 41 O que levou os homens a viverem em comunidade 76 42 A violência 76 43 O homem é um animal violento 76 44 O que significa dizer que o ser humano é um animal político 77 45 O que são as esferas do indivíduo do social e do político 77 46 Qual o sentido do conflito nas relações humanas 78 47 O fenômeno da violência é diferente do conflito 78 48 O conflito é necessariamente ruim 79 49 É possível viver sem conflito79 410 A violência é anterior à vida em sociedade 79 411 A política é o espaço público da expressão e da articulação de conflito 80 412 O que é o consenso 80 413 É possível lutar por direitos sem enfrentar o conflito de interesses 81 Unidade II 5 A SOCIEDADE E A CULTURA A FORÇA E A AUTORIDADE 87 51 A diferença entre o exercício da força e o da autoridade 89 511 Toda autoridade usa a força 89 512 Quais são os fundamentos da desobediência 90 513 A autoridade é necessária 90 6 A LEI E A JUSTIÇA 90 61 O interesse e o bem comum 90 62 Qual a diferença entre lei e direito 91 63 A lei reprime os indivíduos 96 64 A lei é contrária aos interesses e aos desejos 96 65 É legítimo oporse à lei 96 66 Os diferentes conceitos de justiça 96 67 A justiça e a liberdade são incompatíveis 98 68 Justiça é tratar todo mundo igualmente 98 69 A legitimidade e o poder 98 610 Como diferenciar legitimidade e legalidade 98 611 É possível viver sem lei 99 612 Existe uma justiça divina 99 613 Todas as leis são justas 99 614 Existe um exercício legítimo da força e da dominação 100 615 Como compreender as diferentes formas de política na sociedade humana 100 616 A sociedade pode determinar o que o indivíduo deve fazer 101 617 O Estado existe para garantir a liberdade do indivíduo 101 618 A política é sempre uma luta pelo poder 102 619 A política deve levar em conta a moral 102 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 7 VERDADE E VALIDADE 104 71 A emergência da Filosofia 105 72 A filosofia e os outros saberes106 73 O que é raciocinar 106 74 Qual a diferença entre validade e verdade 107 75 Um raciocínio coerente é necessariamente verdadeiro107 76 Os instrumentos do conhecimento 108 77 A lógica 108 78 A lógica é uma ciência 110 79 A proposição e o juízo 111 710 Todo pensamento é necessariamente lógico 112 711 O raciocínio e o argumento 112 712 Indução e dedução 113 713 A diferença entre os argumentos dedutivos e indutivos 114 714 As verdades empíricas são mais fáceis de refutar 115 715 A indução é fundamentada logicamente 115 716 Como identificar se uma inferência é válida117 8 OS TIPOS DE CONHECIMENTO 118 81 O surgimento da Filosofia 120 82 Os filósofos présocráticos 121 83 Os sofistas 123 84 O início da Filosofia 123 85 Há uma lógica do mito 124 86 Há uma ruptura ou uma continuidade entre o mito e a Filosofia 124 87 Os mitos ainda estão presentes na sociedade contemporânea 125 88 Filosofar é uma experiência existencial 125 89 O que são os saberes 126 810 O que é ciência 127 811 O que é religião 128 812 O que é arte 128 813 Qual a relação entre Filosofia e religião 129 814 Qual a relação entre Filosofia e arte 130 815 Qual a relação entre religião e arte 132 816 Qual a relação entre religião e ciência 132 817 Qual a relação entre arte e ciência 133 818 Qual a relação entre Filosofia e ciência 134 819 O que distingue a Filosofia dos outros saberes 135 820 A Filosofia é um tipo de literatura 136 9 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data APRESENTAÇÃO A proposta da filosofia interdisciplinar vem ao encontro das leituras e do ensino transversal das disciplinas do ensino médio A ideia de fundo é fazer com que os professores traduzam a realidade percebida para as salas de aulas Nem sempre isso é evidente Podemos utilizar a linguagem matemática para explicar as demais formas de apreensão da natureza como também a Geografia a Física a Química e até mesmo a Biologia Podemos utilizar a língua portuguesa para demonstrar como cada disciplina constrói um vocabulário próprio Também podemos juntar a Química com a Geografia ou a Física com a História As percepções da Química ajudaram a entender a camada de ozônio e o aquecimento global e a Física permitiu as grandes navegações a mecanização a Revolução Industrial entre outras coisas Mas a maioria das pessoas não teve aula de Filosofia de maneira que o conhecimento filosófico que constrói suas crenças habilidades e competências surgem em sala de aula como do nada Sempre foi assim e deverá ser assim sempre Isso não é verdade Houve um tempo em que ser republicano era pior do que ser herege Pensar em democracia era contra o poder vigente e propor uma constituição era uma afronta punida com tortura seguida de morte Portanto as coisas mudam Isso só é possível porque o pensamento humano também evolui Na sociedade há sempre um movimento que propõe a mudança e outro que briga para que as coisas se mantenham como estão O papel da Filosofia é examinar as diversas propostas de pensamento para que da mesma forma que entendemos melhor hoje o espaço e as estrelas possamos entender melhor as propostas de convivência entre seres humanos Todos os ismos criados nos séculos XIX e XX o positivismo o comunismo o liberalismo o socialismo o feminismo e também o terrorismo são simples formas de entendimento do mundo Do mundo como ele é ou de como ele deveria ser Esta disciplina visa auxiliar o futuro professor de filosofia a dar respostas convincentes e rápidas aos seus alunos tirando todas as dúvidas que costumam surgir entre os adolescentes mas não somente neles São muitas as questões que surgem no cotidiano Conseguimos trazer respostas da evolução do pensamento humano nas propostas de vários filósofos Não há uma única resposta válida na medida em que não acreditamos mais que a verdade assim como a justiça exista em si mas oferecemos subsídios para elaborar respostas e compreensões de determinadas situações humanas Afinal é para isso que serve a Filosofia INTRODUÇÃO Mesmo quando dizemos que vivemos a pósmodernidade ainda estamos muito imbuídos das ideias e ideais da modernidade No Brasil cultivamos o humanismo e suas propostas como se elas nunca fossem envelhecer quando na verdade as ideias humanistas estão rapidamente chegando aos seus limites Se o governo democrático foi um dia um sonho atualmente convivemos com problemas que eram impensados antes da democracia ser a norma de governo 10 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data É importante que você perceba que tudo passa E mesmo aquilo que parece ser a mesma coisa que no passado na prática sofreu alguma transformação pela simples ação do tempo O século XX preparou para nós duas surpresas o rompimento da noção de aqui e agora e a possibilidade de um envelhecimento superior a cem anos O aqui e agora foi transformado na medida em que posso pedir para meu pai de 92 anos conversar pelo aplicativo de áudio e vídeo ao vivo com minha filha e meu neto Meu pai está no Rio de Janeiro minha filha e meu neto estão em Londres O que é aqui Rio de Janeiro ou Londres O que é agora O horário de Brasília ou o GMT Grenwich Mean Time Tempo Médio de Grenwich em português Se meu pai está com 92 anos e viu serem inventados o avião a jato o cinema falado e a cores os antibióticos a televisão a pílula anticoncepcional os foguetes o satélite o fax o computador o ultrassom e a ressonância magnética a internet e o telefone celular apenas para ficarmos nas coisas mais populares o que será que meu neto de três meses poderá ver Impressoras de comida Teletransporte Cidades no espaço Refletindo sobre tantas novidades durante quatro gerações pergunto você viu um aparelho de fax funcionando Para os que nunca viram era um aparelho que funcionava como uma máquina de fotocópias através do telefone Você punha uma folha de papel A4 de um lado e saía sua cópia do outro lado O fax certamente não acabou com o sonho comunista da União Soviética que era como a Rússia se chamava entre 1917 e 1991 mas foi com a ajuda desse aparelho que pela primeira vez os russos puderam enviar e receber notícias para fora do país sem serem censurados pela polícia política A própria ideia de polícia política tão comum a partir de 1848 na Europa que aqui no Brasil existiu até 1985 é desconhecida para muitos Pode alguém ser preso e torturado às vezes até mesmo morto numa cela de cadeia apenas porque acredita em ideais políticos diferentes dos governantes Pois é exatamente esse tipo de intolerância que até hoje mata pessoas de religiões diferentes Há cem anos mesmo nos países democráticos era proibido que pessoas de religiões diferentes pudessem se casar No Brasil por exemplo apesar de o Estado ser laico e separado da Igreja Católica desde a Proclamação da República a religião oficial do país era a católica fato que só mudou com a Constituição de 1988 Todos nasciam católicos e depois assumiam outras crenças isso faz sentido hoje em dia Então é importante que você perceba que as ideias mudam Não que existam tantas formas de pensar e narrar o mundo que sempre se pode inventar uma novidade mas velhas formas de pensar precisam ser recicladas para poderem incluir as invenções técnicas e o novo conhecimento sobre o mundo Na medida em que as ideias mudam mudam também os hábitos Durante milênios as mulheres grávidas desenvolveram formas imprecisas de tentar adivinhar o sexo de seus filhos Com a invenção do ultrassom houve um período de transição que permitiu que as grávidas escolhessem ou não saber o sexo dos bebês Hoje em dia a maioria das mulheres quer saber o sexo da criança para se preparar melhor Nenhuma das posturas é errada São formas de escolher como queremos viver nossas vidas A técnica e sua filha a tecnologia permitem novos comportamentos que seriam impensáveis em décadas anteriores como por exemplo meu pai falando e vendo seu bisneto na tela de um 11 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data celular Mas isso não significa que todos nós tenhamos qualquer obrigação de ter um telefone celular para vermos e falarmos com alguém só porque a possibilidade é dada A única responsabilidade comum que temos cada vez mais clara na vivência humana é continuarmos a reproduzir para a manutenção da nossa espécie E como descobriram os países que dispõem em seu arsenal de armas atômicas se alguém resolver destruir o planeta todos perdem Por isso a ecologia e o cuidado com o meio ambiente ganharam força nas nossas conversas Cuidar da natureza é necessário para cuidarmos da nossa sobrevivência Assim podemos perceber que a filosofia do século XX não pode ser uma mera continuidade da filosofia dos séculos anteriores por mais que precise dessa continuidade como base para desenvolver novas ideias Nos últimos anos o maior desafio que surgiu para a filosofia foram os programas de computador No momento em que começamos a escrever comandos em linguagens alfanuméricas que fizeram as máquinas interagir conosco mudamos pela primeira vez o patamar do que é humano Não que mudanças de patamar não tenham acontecido no passado por exemplo com a descoberta da agricultura a domesticação dos animais o desenvolvimento da matemática e das primeiras máquinas o desenvolvimento da física e as primeiras máquinas a motor tudo isso mudou a cultura e a civilização Isso sem contar com os avanços da química e da medicina Mas no século XXI finalmente nos demos conta de que desde o século XIX alguns filósofos como por exemplo Charles Sanders Peirce já vinham pensando em soluções para problemas que nem mesmo eram compreendidos pelas pessoas Hoje em dia podemos explicar todas as propostas filosóficas de todos os tempos como sugestões de narrativas que se compreendidas e seguidas permitem entendimentos diversos das coisas e dos fatos Como consequência dos entendimentos diversos as pessoas vão assumir comportamentos diferenciados Se a frase anterior parece difícil de entender vou propor um exemplo para explicar por analogia Se estamos usando um aplicativo de mensagens no celular e escrevemos Olá meu amigo quem receber a mensagem vai se sentir de uma determinada forma Se eu resolver mandar uma foto ou uma ilustração de duas pessoas se abraçando quem receber pode interpretar essa imagem de mil maneiras diferentes e uma delas será talvez Ah ele está dizendo que é meu amigo Se por outro lado eu gravar uma mensagem de voz dizendo Olá meu amigo quem ouvir vai buscar a intenção da minha fala na entonação das palavras Por fim se eu resolver gravar um vídeo dizendo a mesma coisa além de a pessoa poder pensar que eu gosto dela vai poder também me examinar para saber se eu pareço estar bem Todas as atitudes de quem receber a mensagem vão depender sempre do que a pessoa estiver vivendo no momento em que receber a mensagem Esse momento específico recebe o nome genérico de contexto Quando um texto narrado seja ele escrito desenhado falado ou interpretado provoca reações diferentes nas pessoas podemos entender que a ideia narrada era complexa A atitude das pessoas também vai depender do contexto em que elas estão inseridas Se você entendeu isso é porque refletiu sobre o que eu narrei Ou seja entender o texto que estou escrevendo não é simples pois não faz parte do seu cotidiano Mas não é difícil entender se estiver explicado de uma forma que faça sentido 12 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Por outro lado posso escrever esse texto com um computador e até mesmo fazer com que a máquina leia o que eu acabei de escrever com uma voz que parece humana Mas o computador ainda não consegue ler o que eu escrevi e tomar uma atitude qualquer Estamos justamente desenvolvendo a inteligência artificial para que um dia a máquina venha a ter essa capacidade humana Mas quando jogamos um game vemos que a máquina já interage conosco e isso sinaliza a mudança de patamar do que antes era exclusivamente humano Futuramente talvez seja difícil distinguir entre o que deve ser considerado humano e não humano mas até lá vamos poder distinguir entre as formas de pensar e narrar que são exclusivamente humanas e as que são traduzidas em comportamentos e atitudes É disso que tratamos nesta disciplina de pensamentos que viram narrativas que provocam comportamentos Você vai perceber que muito do que você pensa foi proposto há muitos anos talvez séculos atrás mas são pensamentos que como ferramentas da mente servem para promover nosso estar no mundo aqui e agora 13 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Unidade I 1 O SER HUMANO NATUREZA E CULTURA 11 O que é natureza e o que é cultura Quando nascemos não conseguimos verificar qual é a diferença entre natureza e cultura Para todos nós tudo aquilo que nos envolve enquanto somos um bebê faz parte da nossa natureza À medida que crescemos assistimos televisão e conversamos com nossos pais e avós vamos percebendo que o mundo é muito maior do que nós imaginávamos No início não fazemos a menor diferença entre o sol uma árvore uma geladeira ou os aviões que passam Como tudo isso já existia desde antes da nossa própria existência a impressão que temos é que todas as coisas que existem no mundo sempre existiram Com o tempo vamos percebendo que existem coisas que foram inventadas e outras que não foram feitas pelo ser humano Descobrimos que água terra fogo e ar existiam muito antes que a nossa espécie humana tivesse evoluído 12 Quando nascemos não sabemos qual a diferença entre natureza e cultura Desde muito pequenos somos ensinados que tudo aquilo que o homem não inventou faz parte da natureza Aprendemos então que todos animais árvores plantas montanhas rios mares planetas e todo o resto do universo existiam antes que o ser humano soubesse o que eles são do que são feitos e como funcionam Vamos aprendendo explicações cada vez mais detalhadas a respeito das coisas que existem Descobrimos que algumas respostas que assimilamos quando éramos bem criancinhas na verdade são apenas fundamentos simplificados A partir do momento em que aprendemos a falar e a escrever a nossa língua vamos nos preparando para entender cada vez melhor o funcionamento das coisas A primeira distinção que nossos professores nos ensinam é que existem coisas que são próprias da natureza e todas as outras não Também aprendemos os cinco sentidos tato olfato audição visão e paladar A primeira grande invenção humana foi o desenvolvimento das línguas A partir da capacidade de comunicação entre os seres criamos também a aptidão da interpretação das coisas que vemos e sentimos Essa capacidade de descrever as coisas e organizálas de forma a facilitar o entendimento é o que chamamos de cultura Observação Cultura é o conjunto de descrições e de explicações que damos para as coisas que podemos perceber na natureza e nas nossas vidas 14 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Na préhistória os primeiros homens precisaram organizar a sua rotina de hábitos e de trabalho para facilitar a vida na natureza gerando uma quantidade muito grande de conhecimentos Com o tempo tal ação permitiu que os seres humanos desenvolvessem ferramentas roupas e casas para facilitar a vida no meio ambiente Duas dessas invenções foram as armas para facilitar a caça e as ferramentas para ajudar na agricultura Com a organização da caça da pesca e da agricultura os seres humanos perceberam que havia uma rotina que era repetida de tempos em tempos Essa rotina diz respeito ao momento de semear uma planta para podermos fazer a colheita depois e também ao momento certo de caçar ou pescar determinados animais Assim ao perceber que a rotina das ações facilitava sua existência na Terra os mais velhos passaram a contar para os mais novos quais eram essas práticas Ao observar a agricultura e a organização da caça o ser humano inventou a história a religião a própria sociedade e portanto a cultura Lembrete As ferramentas foram inventadas para facilitar a caça e a agricultura Assim podemos resumir que a relação que existe entre cultura e natureza é que a cultura serve principalmente para explicar para os seres humanos como funciona a natureza Quanto melhor entendemos a natureza mais desenvolvemos a cultura 13 O que faz do ser humano um animal como os outros Durante milhares de anos o ser humano imaginou que era um ser diferente dos outros animais Isso porque a raça humana não conseguiu perceber nos outros animais nenhuma forma de cultura Alguns animais tinham até uma maneira organizada de cuidar da sua espécie mas nenhum animal parece se adaptar à natureza e às suas mudanças tão rapidamente quanto o ser humano Por outro lado os seres humanos têm semelhanças com todas as espécies vivas Platão que foi o primeiro filósofo grego cujos pensamentos respeitamos até hoje sugeriu que é a alma humana que cria em nós a grande diferença para os animais mas o primeiro a perceber que era necessário fazer uma classificação dos seres vivos foi outro filósofo grego Aristóteles Ele classificou os organismos vivos que eram conhecidos na sua época em plantas e animais Os animais eram por sua vez divididos de acordo com o meio em que se moviam Então Aristóteles classificouos como animais da terra da água e do ar Essa classificação perdurou por muito tempo e em Filosofia é chamada de Taxonomia Para Aristóteles todos os seres vivos tinham alma 15 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Observação Platão nasceu no período clássico da Grécia Antiga Foi autor de muitos livros contendo diálogos filosóficos e fundador da Academia de Atenas a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental Juntamente com seu professor Sócrates e seu aluno Aristóteles Platão ajudou a construir a base da filosofia natural da ciência e da filosofia ocidental Exemplo de aplicação Aos 16 anos Aristóteles foi para Atenas estudar na Academia de Platão Lá ficou por vinte anos até a morte do professor No ano de 343 aC foi contratado por Felipe da Macedônia para ser tutor do seu filho Alexandre e lá ficou até Alexandre se tornar rei Neste ano voltou para Atenas e fundou o Liceu no qual eram estudadas as Ciências Naturais a Metafísica a Lógica a Ética a Política a Biologia a Zoologia e a Medicina No Liceu também foi desenvolvida a base da metodologia científica Pesquise em sites de busca e verifique as citações de uma pessoa que viveu há mais de 2000 anos e ainda merece destaque hoje em dia Sabemos que existem grandes ligações entre todos os seres vivos Para começar nenhum ser vivo existe sem conter dentro dele moléculas dos minerais que formam o próprio planeta Terra A maioria desses minerais que compõem as rochas da Terra estão presentes em maior ou menor escala na formação de todos os seres vivos A grande diferença que existe entre um ser vivo e um ser inanimado é que o primeiro combina diversos elementos da natureza para constituir um organismo Os organismos diferem dos elementos básicos da natureza porque crescem e se reproduzem A capacidade de reprodução é que dá a uma coisa a qualidade de organismo e de ser vivo Nesse sentido não há muita diferença entre os diferentes seres vivos na medida em que o sentido da vida para todos eles é perpetuar a espécie Em outras palavras é fazer com que a sua espécie continue existindo para sempre Observação Entre os seres humanos é necessário um homem e uma mulher para a reprodução Aparentemente a maioria dos seres vivos também precisa de um membro do gênero masculino e outro feminino para conseguirem reproduzir Hoje sabemos que a divisão de gêneros atinge até mesmo o reino vegetal Apenas os microorganismos e animais muito simples conseguem ter a capacidade de se reproduzir sem a necessidade de um macho e de uma fêmea 16 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Foram necessários mais de 2000 anos para que os seres humanos notassem que existem muitas semelhanças entre os seres vivos Na verdade até há pouco tempo a ignorância e o desconhecimento faziam com que até mesmo os grandes cientistas acreditassem que existiam grandes diferenças entre as raças humanas Há 120 anos admitiam que todos os seres humanos os asiáticos os africanos os europeus os índios nativos do Novo Mundo eram seres diferentes uns dos outros e quase não pertenciam a mesma espécie Hoje em dia sabemos que as diferenças de cor da pele forma dos olhos pigmentação e aparência dos cabelos nada disso é suficiente para distinguir um ser humano de outro ser humano Sabemos também que a construção de todos os mamíferos é muito parecida Portanto verificamos semelhanças entre os animais que aparentemente são muito diferentes entre si como por exemplo entre o elefante e o rato Com o tempo percebemos que mesmo os animais de classes muito diferentes como as cobras e os pássaros têm uma série de coisas em comum Tanto a maioria das cobras quanto a maioria dos pássaros têm olhos têm ossos e têm órgãos que servem para funções biológicas muito semelhantes Fomos percebendo que todos os seres vivos compartilham entre si várias características em comum Mesmo que os pássaros disponham de asas os peixes possuam escamas e a capacidade de respirar embaixo de água os répteis tenham o sangue frio e os mamíferos produzam leite todos os seres vivos incluindo aí também as plantas possuem um DNA que determina o crescimento de suas células e dessa maneira a formação do próprio ser Percebemos que é com a construção das células que os seres vivos são constituídos sempre a partir do mesmo princípio Assim o ser humano não tem como fugir da sua origem natural e mais especificamente da sua origem animal Muitos de seus comportamentos são regidos conforme a construção biológica do seu organismo Nesse sentido por mais que a utilizemos a cultura e as invenções da ciência e conseguimos ter um índice de sobrevivência superior e até mesmo mais confortável do que a maioria dos outros animais as mães protegem os seus filhotes e os pais a segurança do grupo da mesma maneira que fazem os tigres as baleias e os macacos Hoje em dia sabemos que o que distingue o ser humano dos outros animais não é a sua aparência 14 O que distingue o ser humano dos outros animais A capacidade do ser humano em desenvolver a linguagem e as línguas faz com que ele seja um animal diferente de todos os outros Mas sabemos que os sentimentos não são exclusivos dos seres humanos Nossos animais de estimação também se mostram felizes tristes amedrontados ou famintos Na verdade a maioria dos mamíferos é capaz de demonstrar claramente quais são os seus sentimentos Eventualmente muito desses animais são capazes também de emitir sons para demonstrar sentimentos e sensações Mas nenhum animal além do ser humano conseguiu efetivamente construir uma língua que permite o desenvolvimento de uma linguagem Mesmo que tenhamos conhecimento da existência de milhares de línguas que são faladas pelos seres humanos sabemos também que podemos fazer a tradução da maioria das palavras e das expressões de uma língua para outra É por isso que nós conseguimos assistir a um filme que foi originalmente falado em inglês na sua tradução dublada para o português É por esse motivo também que podemos entender um desenho animado japonês na sua versão em português Em outras palavras mesmo que filmes programas de televisão ou qualquer peça literária seja ela um livro ou um manual de instrução tenha sido escrita originalmente numa língua estrangeira sabemos que a sua tradução para o português é suficiente para que nós consigamos entender o seu sentido 17 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR A capacidade que seres humanos têm de descrever a natureza além dos nossos próprios sentimentos e sensações com uma riqueza de detalhes é única e promove a nossa grande e fundamental diferença para todos os outros seres vivos Por mais que alguns animais como as formigas e as abelhas possam exibir um comportamento social parecido com aquele que nós seres humanos às vezes promovemos nunca ninguém encontrou um livro escrito por formigas ou abelhas Também não temos notícia de nenhuma tentativa de comunicação entre as abelhas de diferentes espécies Portanto essa capacidade de organizar a linguagem e a partir dela falarmos sobre as coisas da natureza dos homens de uma maneira estruturada para que todo mundo entenda é que distingue o ser humano de todos os outros animais 15 O desenvolvimento da linguagem é a maior diferença entre o ser humano e os outros animais Os serem humanos inventaram palavras para designar as coisas que pertencem ao seu ambiente Hoje em dia sabemos que os diferentes grupos de seres humanos migraram da África local onde a nossa espécie surgiu para os demais continentes do planeta Em cada lugar eles desenvolveram uma língua para facilitar a transmissão dos conhecimentos permitindo ao grupo conviver de uma forma mais fácil com a natureza que os cercava isto é o seu meio ambiente Então a língua das pessoas que moravam em montanhas nevadas acabava contendo um número maior de detalhes a respeito do que acontecia naquele determinado lugar como por exemplo a palavra avalanche que é o deslizamento de uma geleira Essa palavra não existia na língua das pessoas que moravam no deserto pois lá não acontecia nenhuma avalanche nem nenhuma montanha com neve Por outro lado o calor do deserto e a areia também acabaram por criar palavras específicas as quais não eram conhecidas pelo povo que residia nas montanhas nevadas Um exemplo é a palavra oásis Um povo que vive basicamente da pesca desenvolve nomes para designar cada tipo de peixe já que acaba conhecendo uma variedade muito maior do que os habitantes de um local que fica a centenas de quilômetros do mar Mesmo que existam peixes no rio que cruza aquela terra longe do mar onde as pessoas vivem da agricultura e do pastoreio a quantidade de peixes deste rio não apenas é menor do que no mar mas certamente suas espécies são diferentes Assim as sociedades passaram a desenvolver as palavras de acordo com a vivência que elas tinham naquelas localidades específicas que habitavam Tais expressões ajudavam os seres humanos a se adaptarem ao seu ambiente Com o passar dos tempos as pessoas passaram a viajar de um lugar para outro e a fazer contato com tribos que viviam em lugares diferentes Dessa maneira as narrativas da forma de viver de um lugar foram levadas para outro pelos viajantes Da mesma maneira com que determinadas histórias viajavam algumas palavras novas também Foi dessa maneira que os moradores do deserto ficaram sabendo da existência da neve nas montanhas O desenvolvimento original das culturas nada mais era do que a preservação dos hábitos e dos costumes que facilitavam a vida de grupos de seres humanos nas localidades específicas em que viviam Por esse motivo ao longo da história do ser humano sempre houve o medo de viajar para um lugar desconhecido pois isso tornaria o homem indefeso na medida em que não tinha o conhecimento necessário para sobreviver em outro meio ambiente 18 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Ao olhar para montanhas campos e florestas cobertos com uma vegetação que ele não conhecia desde criança o viajante se sentia perdido por não saber distinguir a planta que era comestível daquela que era venenosa Ele não conhecia os animais selvagens que habitavam em outros lugares e portanto poderia ser atacado por eles Essa adaptação dos seres humanos ao local em que nasceram e cresceram com o tempo passou a ser desenhada e depois escrita para gerações futuras No início a transmissão de conhecimento era feita com a ajuda de desenhos e de rituais que funcionavam como peças de teatro Esses desenhos e rituais deram origem não apenas ao início da literatura mas principalmente ao início da religião Com o tempo os seres humanos foram percebendo que podiam usar sistemas para descrever os seus hábitos e costumes e com a invenção da escrita a literatura serviu para ensinar às gerações futuras o que elas deveriam fazer para facilitar a sua sobrevivência que era principalmente se comportar como seus pais e avós Junto com a invenção da escrita nasceram também os primeiros números os quais serviram para ajudar a contar o resultado da agricultura Na medida em que foram desenvolvidos sistemas para medir a quantidade comida produzida pela agricultura também foram criados sistemas para anotar as trocas que as pessoas faziam entre si das coisas que produziam Assim a invenção da escrita permitiu não apenas a organização da forma de viver mas também a disposição das quantidades dos alimentos e demais objetos necessários para a manutenção da vida Com o tempo foi ficando claro que cada grupo de seres humanos devia se organizar como uma família Quando esta se tornava muito grande ela virava um bando e quando os bandos se estabeleceram em definitivo em determinados lugares viravam uma tribo Isso acabou facilitando a vida de tal forma que as tribos conseguiram se aproximar e casar seus filhos se tornando parentes umas das outras Mais tarde as tribos se organizaram em nações Com o avanço da linguagem e com uma qualidade cada vez maior de descrição dos fatos que aconteciam e das atitudes que as pessoas tinham em relação aos acontecimentos os povos começaram a escrever as suas histórias As sociedades que por algum motivo até hoje desconhecido por nós não tiveram a capacidade de desenvolver a escrita ficaram condenadas a transmitir sua história e suas tradições na forma oral de pai para filho A tradição oral ficou sempre sujeita à memória e às eventuais modificações que eram feitas nas narrativas de uma geração para outra Com a escrita os fatos foram gravados e puderam ser rememorados da mesma forma com que tinham sido descritos Isso permitiu que a experiência de gerações passadas pudesse ser avaliada pelas gerações futuras Os atos que tinham sido realizados pelos antepassados podiam ser conferidos e reavaliados para que as pessoas percebessem se aquela forma de se comportar perante uma determinada situação deveria ou não ser repetida Essa capacidade de gravar um determinado comportamento através de sua descrição e depois de um determinado tempo reler o que foi escrito e reavaliar se aquele comportamento ainda era pertinente ou mesmo correto criou a sustentação para o desenvolvimento das culturas A diferença entre uma sociedade com cultura escrita e uma sociedade sem é que na 19 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR sociedade sem escrita os adultos dizem que fazem uma coisa de determinada maneira porque sempre foi assim Já na sociedade com cultura escrita quando as pessoas fazem uma coisa que seus avós também faziam elas conseguem dar um determinado valor àquilo que estão fazendo no momento Em outras palavras enquanto nas sociedades sem escrita as pessoas resolvem não comer um determinado animal porque em algum momento do passado seu bisavô comeu um animal dessa espécie e morreu numa sociedade com escrita narrase um fato por exemplo que há 50 anos seu avô depois de comer a carne de determinado animal passou mal e morreu Mas podemos ler que aquele animal tinha sido encontrado morto na floresta Ninguém sabia há quanto tempo ele estava lá nem do que tinha morrido Assim o neto desse homem ao ler esse relato podia refletir a respeito do fato Será que seu avô morreu porque comeu aquele tipo de animal Será que só morreu porque comeu um animal que morreu na floresta A partir destas reflexões é que o ser humano pode testar cada uma dessas possibilidades A filosofia chama essas possibilidades de hipóteses Dessa maneira com a experimentação e o registro dela é que os seres humanos acabam desenvolvendo o conhecimento E o conjunto dos conhecimentos acabaram determinando as culturas Nesse sentido nenhum outro animal mesmo que transmita algum conhecimento de pai para filho acaba desenvolvendo uma cultura 16 Quantos significados tem a palavra cultura Hoje em dia a palavra cultura significa comumente todo conhecimento todas as crenças a arte a moral a lei os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade Mas nem sempre foi assim Os gregos acreditavam que cultura era o que eles chamavam de paideia um conhecimento superior que os homens instruídos tinham a respeito do mundo Os romanos também tinham uma noção parecida com a dos gregos e chamavam este conhecimento de humanitas Para eles a cultura só poderia ser adquirida por uma pessoa que estivesse com vontade de instruir o seu espírito O simples fato de pertencer a uma sociedade inserida dentro de uma civilização não era suficiente para participar de uma cultura Essa ideia de que a cultura é uma coisa específica das pessoas muito instruídas tem a ver com o fato de que ao longo dos séculos foi possível para alguns poucos estudar tanto que de alguma forma todo conhecimento acumulado pela humanidade pudesse ser conhecido Lembrete Durante muitos séculos aqueles que tinham cultura eram as pessoas que sabiam ao menos um pouco a respeito de todas as coisas 20 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Com o desenvolvimento da ciência a partir do século XIX a especialização em cada campo do conhecimento foi tornando cada vez mais impossível que uma pessoa soubesse de tudo ou mesmo que conhecesse muita coisa a respeito de todo o conhecimento acumulado pela humanidade Assim um médico pode ter uma enorme cultura médica sem conhecer muito a respeito da Matemática Por outro lado um matemático pode exibir uma enorme e profunda cultura Matemática sem conhecer muita coisa a respeito de Biologia Assim a palavra cultura passou a identificar as pessoas inseridas dentro de uma sociedade pois conhecem o suficiente para participar dela Hoje em dia quando falamos de cultura estamos discorrendo sobre as artes principalmente as clássicas como a pintura a literatura e a música Mas efetivamente todas as pessoas que participam de uma determinada sociedade de uma civilização têm conhecimentos comuns que servem para que elas convivam bem dentro daquela civilização Quando pensamos na cultura brasileira pensamos também nas diferentes formas de alimentação que são possíveis no Brasil Conhecemos as variações de sotaques que exibimos ao falarmos a língua portuguesa e reconhecemos todas as coisas que dizem respeito aos nossos hábitos e costumes brasileiros Mesmo assim sabemos que existem grandes diferenças entre os gaúchos e os amazonenses e os índios do Mato Grosso e os paulistas Observação Hoje em dia cultura significa a forma de um povo transmitir seus conhecimentos Mesmo que muitas vezes ainda façamos referência a pessoas muito instruídas como pessoas cultas na verdade todos nós de alguma forma participamos de uma cultura e portanto também exibimos um determinado grau de cultura Cultura no fundo é tudo aquilo que organiza e que rege a forma de nos comportarmos dentro de uma sociedade E é exatamente o aprendizado dessa forma de comportamento que nem sempre depende da instrução formal Até uma pessoa que estudou muito pouco conhece as regras de comportamento e cooperação da sociedade em que vive 17 É possível distinguir em nós o que é natural do que é cultural É comum ouvirmos uma pessoa dizer que um determinado comportamento é natural Porém quando dizemos que alguma coisa é natural muitas vezes estamos querendo dizer que esta coisa é usual Então por exemplo se uma pessoa diz que é natural que toda criança goste de chocolate ela esquece que chocolate é um produto fabricado pelo homem E o chocolate que comemos hoje é muito diferente daquele que existia na vida dos nossos antepassados No passado o chocolate era uma bebida parecida com o café As amêndoas do cacau eram moídas e torradas assim como os grãos de café além de misturadas com água quente para ser bebida Essa bebida foi encontrada pelos conquistadores espanhóis no império asteca Lentamente o hábito de beber chocolate foi importado para a Europa e apenas no século XVIII é que o chocolate 21 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR passou a fazer parte da fabricação de biscoitos e de bolos E só há aproximadamente 150 anos é que se misturou o chocolate com leite condensado criando assim o chocolate moderno que todos nós conhecemos Na verdade resta perguntar como pode ser natural uma coisa que há 200 anos nem existia na cultura humana O hábito de consumir chocolate foi introduzido lentamente na nossa cultura e sugere um eco da cultura asteca Ao longo dos séculos fomos transformando a forma de consumir chocolate Mesmo assim foram poucos séculos e aqui lembramos que a humanidade existe há pelo 150 mil anos De onde vem então a possibilidade de dizermos que uma coisa que evoluiu através da cultura e com a ciência moderna está na nossa vida de uma forma natural Ora as coisas verdadeiramente naturais são aquelas que nos acompanham desde os nossos primórdios e que dizem respeito à nossa vida biológica Respirar é natural Ter filhos é natural Mas coisas tais como se vestir trabalhar cooperar em sociedade e escolher determinados alimentos em detrimento de outros são atos da cultura Portanto todos esses hábitos que desenvolvemos à medida que evoluímos na nossa cultura e civilização são efetivamente hábitos culturais Hoje em dia agregamos muito mais atos culturais aos nossos comportamentos diários do que hábitos naturais Lembrete As coisas naturais são aquelas que fazem parte da nossa natureza tais como comer beber respirar chorar ou sorrir Os outros comportamentos foram aprendidos e são culturais Mas por que então fazemos essa relação entre hábitos que são claramente culturais e alguns que são evidentemente naturais O motivo é muito simples Desde a época em que não havia muita diferença entre o homem e os outros animais sabemos que é muito mais saudável comer uma fruta madura do que uma fruta verde As frutas verdes podem provocar doenças ou malestar Vários animais que comem frutas sabem através do sentido do paladar que o sabor doce das frutas avisa que elas estão prontas para serem comidas Assim aprendemos quando ainda éramos também animais que um alimento doce é uma comida própria para o consumo Isso é um conhecimento natural Quando comemos chocolate estamos de fato exibindo um comportamento cultural mas ao mesmo tempo fazemos uma analogia ao antigo comportamento natural Por isso é que muitas vezes falamos sobre comportamentos culturais como se fossem comportamentos naturais Os comportamentos naturais são aqueles que dizem respeito às nossas questões biológicas primárias tais como respirar comer sentir medo e ter alegria Os comportamentos culturais são todos aqueles aprendidos dentro do âmbito de uma determinada cultura Assim aprendemos a comer determinadas comidas de certas maneiras e em definidos momentos Na cultura brasileira costumamos comer abacate como sobremesa misturado com açúcar ou na forma de doce Na cultura mexicana comese abacate antes da refeição principal na forma de 22 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I salada misturada com alho ou pimenta É o mesmo abacate mas cada cultura prefere consumilo de maneira diferente Nenhuma delas é errada Elas apenas exibem comportamentos culturais diferentes Não podemos dizer que é natural para ninguém comer abacate de uma ou de outra forma por isso os comportamentos desenvolvidos são culturais A distinção entre o que é natural e o que é cultural nasceu no momento em que as tribos precisaram organizar uma forma de viver No início os seres humanos resolviam as coisas a partir das suas qualidades físicas O homem mais forte mandava no mais fraco Todas as discussões eram resolvidas com um combate pessoal e quem ganhava o bateboca era quem matava a outra pessoa O exemplo mais famoso disso está na Bíblia quando a guerra entre dois povos permitiu o confronto do jovem Davi contra o gigante Golias Na medida em que a solução última de todos os julgamentos terminava com a morte e consequentemente com um distúrbio da paz na sociedade as civilizações passaram a adotar um conjunto de leis que permitiu que os conflitos pessoais pudessem ser resolvidos a partir de um consenso social Dessa maneira o nosso comportamento natural cada vez mais foi se moldando na forma de comportamento cultural Todos nós passamos a respeitar os princípios e as regras que permitem a vida em comunidade e sociedade Todos esses princípios e regras não podem ser assumidos como naturais Observação A maior parte de nosso comportamento é efetivamente cultural 18 O ser humano é frágil ou é forte diante da natureza Quando olhamos para o nosso planeta Terra nos perguntamos se o ser humano é frágil ou forte diante da natureza Com tanta discussão a respeito do aquecimento global e das interferências humanas na natureza temos a impressão que o ser humano é muito forte Mas à medida que nós pensamos em cada um de nós sabemos que as grandes manifestações da natureza tais como tempestades e desabamento de morros terremotos avalanches tsunamis enchentes nevascas e mesmo a seca extrema podem causar a morte imediata de qualquer pessoa Perante essas forças da natureza verificamos que somos impotentes e extremamente frágeis Então se somos tão impotentes e frágeis de onde vêm as ideias de que o ser humano é forte diante da natureza Lembrete Perante as forças da natureza somos frágeis Recentemente na história do ser humano mais exatamente o século XIX acreditávamos que estávamos sempre à mercê de Deus e da natureza Na verdade enxergávamos a natureza como parte integrante do Reino de Deus Só depois que a ciência se desenvolveu efetivamente é que conseguimos construir máquinas que passaram a interferir muito fortemente na natureza Então percebemos que podemos causar interferências profundas no próprio planeta 23 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Há 200 anos a humanidade imaginava que podíamos usar todo o carvão todo o petróleo e toda a madeira do mundo que de alguma forma a natureza sempre teria o suficiente para nos abastecer Mas hoje sabemos que não é bem assim A natureza tem recursos limitados e sua capacidade de reciclagem também é limitada Temos a noção de que sujar a atmosfera com gases tóxicos vai acabar provocando uma série grande de doenças Temos conhecimento de que mesmo que seja possível inventar um pesticida para eliminar certos parasitas que ameaçam as plantações e portanto a própria alimentação humana estamos interferindo não apenas no sistema do campo mas também comendo uma quantidade grande de veneno que era destinado apenas para matar os insetos Dessa maneira vários benefícios trazidos pela ciência se utilizados de uma forma irresponsável acabam provocando uma destruição irreversível da natureza Esse aniquilamento impede que a gente continue vivendo bem no planeta Assim várias construções humanas acabam interferindo na natureza de tal maneira que quebram a harmonia com que a vida se estabeleceu na Terra Daí chegamos a duas conclusões a primeira é que individualmente somos frágeis perante a natureza a segunda é que coletivamente ao exibirmos uma conduta social irresponsável utilizando demais as máquinas a química e o conhecimento modernos acabamos por danificar o equilíbrio entre os elementos e os seres vivos do planeta Apenas o comportamento responsável das pessoas pode tornar possível o equilíbrio entre o planeta e o futuro da ciência Nesse sentido podemos dizer que independentemente de Deus nós somos responsáveis pelo planeta que habitamos 19 A cultura é essencial para a definição do ser humano Existem duas concepções básicas do que é a cultura A primeira acredita que cultura é a formação intelectual do ser humano A segunda pensa a cultura como forma de um povo agir numa determinada região geográfica construindo uma civilização Desde os gregos que a formação do ser humano vem sendo pensada como uma preparação para que ele aprenda determinados valores morais e um conhecimento prático que permita sua convivência com as outras pessoas Assim a palavra cultura acabou sendo sinônimo da quantidade de conhecimento que cada um consegue aprender Este tipo de cultura sempre foi considerado como uma capacidade de promover a diferença entre as pessoas Aqueles que aprendem muitos conhecimentos são considerados pessoas cultas Os outros que não conseguem aprender muito são considerados pessoas ignorantes portanto sem cultura Na segunda forma de pensar a cultura todos os seres humanos exibem algum grau de cultura na medida em que todos nós fazemos parte de uma civilização Aprendemos os elementos necessários para conviver em sociedade dentro de uma determinada região geográfica Assim mesmo o índio que não aprendeu Matemática tem a sua cultura própria Portanto seja da forma elitista que acredita que cultura é a acumulação de uma grande quantidade de conhecimentos ou da forma mais sociológica que crê que todo ser humano participa de uma cultura a cultura é a forma com que todos os seres humanos se diferenciam dos animais 24 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 110 As concepções filosóficas sobre a constituição do ser humano Ao longo dos séculos os filósofos tiveram ideias diferentes do que é o ser humano Na busca incessante por entender quem somos nós a Filosofia desenvolveu uma série de pensamentos muitas vezes antagônicos isto é pensamentos que combatiam uns aos outros para tentar definir o que constitui o ser humano Para a sabedoria popular um ser humano é simplesmente uma pessoa mas muitas vezes a Filosofia criou diferenças entre as pessoas Aristóteles por exemplo acreditava que os escravos não eram efetivamente seres humanos Vamos conhecer algumas das ideias oferecidas pelos filósofos a respeito do que é e como se constitui um ser humano 111 O corpo e a alma Toda vez que ouvimos a palavra alma imaginamos saber o que ela quer dizer Da mesma maneira sempre que nos referimos à palavra corpo imediatamente sabemos que temos um corpo Desde muito pequenos aprendemos o que é corpo e o que é alma Basta olharmos no espelho para vermos o nosso corpo contudo até hoje nenhum ser humano conseguiu ver a sua própria alma Acreditamos que a alma exista mas nunca ninguém foi capaz de vêla ou fotografála Por causa disso a Filosofia se preocupa há muitos séculos em dar uma explicação para o que é alma Muitos fundamentos descreveram a alma como uma substância Nesse sentido a alma seria alguma coisa parecida com a luz ou com a água Uma das característica da alma da forma que entendemos esta palavra e a utilizamos no dia a dia é que ela existe independentemente do corpo A maioria das filosofias tradicionais sempre pensou que a alma era o lugar onde as atividades espirituais do ser humano estavam fixadas Os nossos valores morais estariam de alguma maneira ligados à nossa alma Até hoje com toda a ciência ainda não conseguimos descobrir o que é a alma do ser humano Na Antiguidade diversos filósofos descreveram a alma de modos diferentes Anaxímenes acreditava que a alma é feita de ar Isso porque ele acreditava assim como um outro filósofo chamado Diógenes de Apolônia que o ar era o princípio de todas as coisas Para os seguidores de Pitágoras a alma era uma harmonia que podia ser construída a partir de números Por outro lado um filósofo chamado Heráclito que acreditava que o fogo era a origem de todas as coisas também julgava que a alma era feita de fogo Outra interessante teoria sobre a alma era a do filósofo Demócrito que supunha que a alma era feita de átomos que podiam entrar no corpo e assim movimentálo Foi Platão quem primeiro criou o conceito de alma que até hoje é aceito todo o corpo cujo movimento é imprimido fora inanimado todo corpo que se move por si a partir do seu interior é animado Essa é precisamente a natureza da alma Segundo ele a alma é a causa da vida e por isso é imortal já que constitui a sua própria essência Essa explicação que Platão deu da alma serviu de base para todos os demais filósofos Explicando melhor o que Platão falou a alma existe simplesmente por que ela dá vida a todos os seres vivos Ainda segundo Platão a alma não pode morrer porque ela só serve para fazer viver 25 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Aristóteles desenvolveu então uma teoria mais sofisticada a respeito da alma Segundo ele a alma é a substância do corpo Ela serve para fazer viver um corpo orgânico Isso porque o organismo enquanto instrumento tem a função de viver e de pensar e o que faz essa função é a alma Para ele a alma não é separável do corpo porque as atividades da alma não podem ser separadas das atividades do corpo Mas Aristóteles acreditava que existia uma parte da alma para além do próprio corpo Essa parte da alma permitia o funcionamento da mente Aristóteles também acreditava que a alma não podia existir fora do corpo e quando o corpo morria a alma também falecia Plotino um filósofo grego que morou em Roma acreditava que a alma era uma coisa divina e que não podia ser corrompida Assim para entender a alma era necessário fazer uma reflexão a respeito do que acontecia dentro do ser humano Dessa maneira Plotino sugeriu que existia dentro de nós a possibilidade de saber o que era certo e o que era errado criando portanto a noção de consciência Santo Agostinho que foi muito influenciado pelo pensamento de Platão ensinou aos cristãos que com o reconhecimento da espiritualidade podíamos ter acesso à nossa própria alma Quando refletimos a respeito de nós mesmos e confessamos para nós as nossas qualidades e também os nossos defeitos conseguimos entrar em contato com a nossa alma Isso que Santo Agostinho descreveu chamamos hoje em dia de consciência Para Santo Agostinho nada mais é importante do que conhecer a Deus e a alma Isso porque Deus estaria na alma de todos os homens Observação Santo Agostinho foi o primeiro grande filósofo da cristandade Nascido em uma família muito rica até os trinta anos ele gozou uma vida de prazeres Depois tornouse cristão por influência da mãe e se mudou para a Itália Lá estudou teologia com os grandes mestres da sua época em Roma e em Milão Depois voltou à sua terra onde escreveu sua obra filosófica de grande importância para a religião católica Porém durante a Idade Média os teóricos cristãos preferiram a noção de alma que Aristóteles tinha proposto mas eles mudaram uma coisa na ideia de Aristóteles consideraram que a alma é imortal e não morre com o corpo São Tomás de Aquino insistiu que alma é independente do corpo e por isso consegue sobreviver depois que o corpo morre O filósofo cristão denominado Ockham sugeriu que as experiências espirituais que nós temos decorrem de uma experiência interna que nós hoje em dia chamamos de reflexão Para o filósofo francês René Descartes essa experiência interna fazia com que o homem fosse uma coisa que pensa A substância dessa coisa é a alma Por outro lado a via de acesso para alma é o pensamento através da consciência Com esse modo de pensar Descartes mudou o entendimento humano a respeito da alma que deixou de ser uma substância corpórea e passou a ser uma percepção subjetiva da existência do ser humano 26 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Descartes revolucionou toda a Filosofia quando descobriu a forma filosófica de organizar o método científico Através da reflexão e análise sem preconceitos das partes mais simples de uma coisa ele percebeu que era possível examinar todas as partes e formular hipóteses racionais para o seu funcionamento Com base neste método Descartes estudou a Geometria a Biologia e a Medicina e seu método ainda é utilizado pelos pesquisadores modernos A partir de Descartes o conceito de consciência passou a superar o conceito de alma Para ele e também para o filósofo alemão Leibniz a forma da alma conhecer as coisas é revelada e testemunhada pela consciência Para o filósofo inglês Locke considerado o pai do liberalismo a reflexão é a mesma coisa que a experiência interna Assim a reflexão é uma das fontes do conhecimento o que permite o entendimento que o nosso espírito faz das ideias que recebe do exterior Segundo ele os atos do espírito são o pensamento a percepção a dúvida o conhecimento e a vontade Outro filósofo Hume escocês e empirista acreditava que todo o conhecimento do ser humano era constituído por impressões e por ideias Para o filósofo alemão Immanuel Kant o conhecimento só seria possível quando conseguíssemos perceber todas as qualidades e categorias que existem num objeto Assim é impossível que a consciência seja parte da alma Isso porque é impossível que o pensamento se torne parte de uma substância que seria a alma Dessa forma percebeuse que a alma estaria limitada à própria consciência A partir daí cada vez mais os filósofos preferiram substituir o termo alma pela a ideia de mente Hoje em dia continuamos a usar o termo alma e a noção de alma apenas quando estamos falando de religião Até hoje as religiões acreditam que os seres humanos existem porque Deus nos deu uma alma Ainda vaise acreditar por muito tempo na ideia alma enquanto ninguém descobrir qual a origem da vida Por outro lado toda a percepção dos seres vivos diz respeito ao conhecimento de seus corpos Para Aristóteles tudo o que pertence à natureza é constituído por corpos e grandezas Segundo ele corpo é o que tem extensão em qualquer direção e que é divisível em qualquer direção Aristóteles entendia qualquer direção como a altura a largura e a profundidade e sabia que todo corpo existe em três dimensões Essa definição de corpo foi aceita por muitos séculos Vários filósofos importantes como São Tomás de Aquino Descartes Espinosa e Hobbes apenas confirmaram de forma diferente a ideia original de Aristóteles Leibniz foi o primeiro a inovar o conceito de corpo Para ele existia o corpo matemático e o corpo físico O corpo físico é a matéria e tem a capacidade de agir e de sofrer uma ação Essa ideia evoluiu nas filosofias existencialista e instrumentalista ao ponto de considerarem que o corpo equivale a uma coisa Esta coisa é aquilo que os seres humanos utilizam para estar no mundo A concepção mais antiga do corpo é que ele é a prisão da alma Esse conceito original é de Platão e foi aceito por muitos séculos Segundo Platão o corpo poderia de alguma maneira demonstrar uma queda ou em outras palavras deixar de se comportar como um ser humano e passar a agir como um animal Para Aristóteles o corpo é um instrumento natural da alma São Tomás de Aquino acreditava que a finalidade do corpo humano é ter alma racional para suas operações A matéria do corpo existiria para permitir ao ser humano que ele executasse as ações necessárias para viver 27 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Para Descartes todo o calor e todos os movimentos que existem em nós pertencem ao corpo e não dependem absolutamente do pensamento Foi ele quem primeiro demonstrou que o corpo pode ser visto como uma máquina que se move por si Segundo ele o corpo podia ser entendido da mesma forma que um relógio Quando não estava em movimento o relógio continuava sendo um relógio Da mesma forma quando não tinha mais vida um corpo continuava sendo um corpo Foi essa visão cartesiana que permitiu os avanços da ciência principalmente da Medicina em relação ao conhecimento do corpo Se o corpo é uma espécie de máquina orgânica nada mais justo do que estudálo por partes Assim os médicos começaram a estudar o funcionamento do corpo a partir dos órgãos do seu interior Começouse a buscar as causas para os sintomas das doenças que o corpo apresentava Assim foi possível examinar o corpo sem se preocupar com a alma Observação Quando Descartes demonstrou que o corpo existia enquanto máquina orgânica completamente separado da alma é que a Igreja passou a permitir que se estudasse seu funcionamento A partir daí a Medicina deu um salto pois os conhecimentos adquiridos ao examinarse um corpo se tornaram ciência 112 O dualismo e o monismo A primeira vez que o termo dualismo foi utilizado serviu para descrever a doutrina de Zaratustra um filósofo persa que viveu 600 anos aC Segundo sua doutrina os dois princípios da vida o bem e o mal vivem numa luta constante entre si Mas o termo acabou ganhando um novo sentido na Filosofia para descrever uma ideia de Descartes Ele dividiu o nosso corpo em duas substâncias diferentes a corpórea e a espiritual Com o tempo a palavra dualismo também foi usada para indicar outras oposições que são percebidas pelo ser humano a primeira oposição foi proposta por Aristóteles que pensava que a matéria se opõe à forma Mas há também uma oposição entre a essência e a existência pensada pelos filósofos medievais e até hoje verificamos a oposição que existe entre a aparência e a realidade o que vemos na televisão e na internet não é a realidade O contrário do dualismo é o monismo Quem é a favor do monismo em princípio não acredita que o nosso corpo tenha duas substâncias diferentes Para os monistas não existe diferença entre a substância corpórea e a espiritual Ou seja não existe diferença entre o corpo e a mente Tudo é uma única coisa Os filósofos que acreditam no monismo podem ser tanto materialistas quanto idealistas Com o tempo os filósofos materialistas acabaram por monopolizar o termo monista assim outras formas de monismo recebem hoje em dia alguns adjetivos para indicar a sua forma de monismo Vários monistas acreditam não apenas na unidade da substância mas também numa qualidade especial da substância Então falamos de monismo idealista monismo da felicidade eudemonismo etc 28 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I E o que significa isso tudo Basicamente que existem duas maneiras de acreditar na forma em que o ser humano é composto e está no mundo Quando se pensa de uma forma dualista indicase uma qualidade para o corpo e outra para a mente Quando se pensa de forma monista acreditase que o corpo e a mente sempre trabalham como se fossem uma única unidade O dualista pode afirmar que se você está triste pode ficar doente O monista acredita que quando você está doente é porque tanto o seu corpo quanto a sua mente estão doentes ao mesmo tempo pelo mesmo motivo e pela mesma razão Observação Zaratustra fundou uma religião chamada masdeísmo ou parsismo que está baseada no dualismo Segundo ela o primeiro princípio é a oposição do bem contra o mal Todas as outras coisas que o homem faz são uma variação do bem ou do mal 113 As relações entre a racionalidade e o desejo Independentemente de acreditar que o ser humano é constituído de forma dualista ou monista a discussão do que é mais importante para as suas ações é se ele se comporta a partir do desejo ou da racionalidade A diferença aqui é saber se a gente faz as coisas porque pensa no que faz ou porque sentiu necessidade de fazer Os filósofos romanos admitiam que a filosofia racional era o que organizava a vida dos homens a partir do pensamento provido de razão Santo Agostinho acreditava que aquilo que era vivido com a razão era racional Por exemplo ele julgava que tomar banho era uma coisa racional Nesse sentido as coisas que fazemos para preservar a nossa saúde tais como escovar os dentes ou comer três refeições por dia são coisas racionais Por outro lado quem prefere o desejo acaba fazendo escolhas que são inteiramente emocionais Então por exemplo quem em vez de fazer três refeições por dia resolve passar o dia inteiro comendo balas doces e chocolates em lugar de se alimentar corretamente está se alimentando de acordo com seu desejo Para a Filosofia um sinônimo de desejo é o apetite Aristóteles acreditava que o desejo é o apetite do que é agradável Em outras palavras o desejo é a vontade de ter sempre mais daquilo que nos deixa contentes Por volta de 1800 anos depois de Aristóteles o filósofo Descartes sugeriu que o desejo é a agitação da alma causada pelos espíritos Os espíritos fazem a alma querer no futuro as coisas que ela acredita que são convenientes No fundo a explicação de Descartes é muito parecida com a de Aristóteles apenas um pouco mais complicada Já no século XX o filósofo alemão Heidegger sugeriu que o desejo é a vontade da possibilidade de alguma coisa acontecer Mas para ele tanto faz que essa coisa aconteça ou não porque de qualquer maneira nós sentimos o desejo de que ela aconteça 29 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Exemplo de aplicação A discussão entre a racionalidade e o desejo é importante porque em princípio toda a ação do homem depende da sua vontade mas a vontade acontece por causa da razão ou em função do desejo Sabemos que nada fazemos sem que alguma coisa nos estimule a fazer aquilo Muitas vezes não temos vontade de escovar os dentes Quando somos pequenos nossos pais nos obrigam a escovar os dentes e portanto a nossa vontade é estimulada por uma outra pessoa Isso em Filosofia é explicado como uma causa externa que estimula a nossa vontade Por outro lado se sentimos vontade de tomar sorvete ou de dar um mergulho na piscina fazemos isso porque queremos e não porque alguém nos obrigou Esse outro tipo de vontade é estimulado por uma causa interna Até hoje se discute qual o motivo de termos vontade Temos vontade de fazer alguma coisa porque sabemos que é a coisa certa a fazer ou simplesmente porque vamos ficar felizes 114 O que comanda o ser humano sua razão ou seus desejos Os filósofos sempre se perguntaram o que comanda as nossas decisões A questão é se as nossas decisões são determinadas por nós mesmos ou se fazemos escolhas obrigados por outras pessoas ou até mesmo por imposição da natureza Então os filósofos sempre trataram a questão das decisões como uma questão da escolha que fazemos entre uma coisa e outra Aristóteles acreditava que ao fazermos uma escolha estamos tratando de uma ação que só depende de nós mesmos Por outro lado o filósofo Espinosa acreditava que as escolhas partem sempre de uma determinação do corpo Já no século XX o filósofo Heidegger sugeriu que quando fazemos escolhas de alguma maneira pensamos naquilo que será o resultado da escolha que fizemos Portanto o resultado das nossas escolhas de alguma forma pode ser mais ou menos previsível Quando fazemos uma escolha utilizando a razão pensamos mais nas consequências das nossas escolhas Quando escolhemos alguma coisa por desejo pensamos apenas no prazer ou na felicidade que essa escolha vai nos proporcionar Segundo a Filosofia as escolhas feitas com a razão são ações com sabedoria Por outro lado as escolhas feitas a partir do desejo são escolhas individuais e podem ser egoístas 115 Por que a consciência é um aspecto fundamental do ser humano Em Filosofia existem duas formas completamente diferentes de pensar a consciência A primeira delas é a que Platão e Aristóteles utilizaram É praticamente a mesma coisa que todos nós entendemos por consciência Consciência é a possibilidade de dar atenção às nossas próprias ações e ao nosso modo de ser Exprimimos a nossa consciência através da linguagem Por outro lado existe uma outra ideia de consciência que até hoje tem validade no pensamento filosófico Ela seria a capacidade que nós temos de entender o que acontece dentro de nós na nossa 30 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I alma ou mente Nesse sentido a consciência seria uma atitude espiritual que estaria de acordo com o ensinamento de Sócrates conhecete a si mesmo Assim a consciência seria a maneira de descobrirmos dentro de nós os princípios e os valores morais De qualquer forma a consciência para toda filosofia é sempre expressa a partir da linguagem Mas apenas as filosofias dualistas que insistem numa diferença entre a vida interior e a vida exterior das pessoas é que conseguem determinar a necessidade da existência de uma consciência A única exceção filosófica de caráter monista é aquela proposta pelo materialismo na forma de consciência de classe Nesse caso o materialismo propõe que não existe uma consciência do indivíduo mas sim uma consciência social das pessoas que pertencem à mesma classe Plotino notou que havia duas operações diferentes a que damos o mesmo nome consciência A primeira é a percepção daquilo que acontece dentro de nós se estamos tristes por algum motivo se estamos alegres por outro motivo se sentimos saudade raiva etc A segunda operação é quando nos damos conta de alguma coisa que fizemos e que a nossa ação causou um dano a outra pessoa ou interferiu numa determinada situação Então quando uma criança bate em outra e percebe que esta chora a criança que bateu tem consciência do seu ato agressivo Por esse segundo motivo é que acreditamos a partir do pensamento de São Tomás de Aquino que ter consciência é conhecer o princípio moral dos nossos atos De uma forma geral foi Descartes quem formulou a ideia de que a consciência é a forma com que a pessoa acredita no seu próprio eu A consciência portanto é aquilo que permite o nosso entendimento do mundo a partir do entendimento de nós mesmos A forma moderna de entender a consciência foi elaborada por Kant ele afirmou que Tenho somente consciência imediata do que está em mim isto é a da minha representação das coisas externas e como ainda é preciso demonstrar que há ou não há algo de correspondente fora de mim preciso ter consciência da minha representação e também ter consciência empírica da minha existência KANT sd Esta formulação de Kant significa que ter consciência é uma operação que em primeiro lugar nos dá certeza de que existimos Em segundo lugar se fizermos um exame através dos nossos sentidos para saber se as outras coisas também existem conseguimos perceber essas coisas de uma determinada forma através da nossa consciência Como até hoje não descobrimos como o cérebro funciona acreditamos que a grande diferença entre nós e os animais é que por mais que os animais também tenham alguma consciência de estar no mundo eles não conseguem fazer julgamentos morais É por isso que muitas vezes a vida animal nos parece cruel Ainda acreditamos que a nossa grande diferença para os animais é que nós conseguimos distinguir o bem e o mal a partir da nossa consciência 31 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 116 Qual a relação entre a mente e o cérebro A discussão entre a relação da mente com o cérebro tomou diversas formas na história da Filosofia Em primeiro lugar a palavra mente não foi usada por todos os filósofos A maioria deles pensava que o cérebro era conduzido pelo intelecto ou pelo espírito Só de 300 anos para cá é que as pessoas acreditam que o espírito domina o corpo passando a chamar esse espírito de mente Isto aconteceu porque havia uma confusão entre os filósofos seria o espírito a mesma coisa que a alma ou não Platão e Aristóteles acreditavam que a faculdade de pensar vinha do intelecto Para eles o intelecto opera a atividade que nos faz pensar e portanto é aquilo que nos faz entender a ordem os limites e a medida das coisas Para Aristóteles inclusive o intelecto é o que permitia à alma raciocinar e entender o mundo Para Plotino o intelecto era aquilo que permitia o ser humano pensar Para São Tomás de Aquino o intelecto era aquilo que permitia conhecer a essência das coisas que era diferente do conhecimento que nós temos quando sentimos as coisas O filósofo Locke acreditava que intelecto é diferente de vontade Para ele a simples capacidade do ser humano pensar pode ser chamada de intelecto e a capacidade do ser humano de querer pode ser denominada vontade Ele acreditava que a capacidade de ter vontade e a capacidade de querer eram duas qualidades distintas da alma Para o filósofo alemão Leibniz o intelecto é a capacidade de distinguir as coisas e de refletir sobre elas Já Kant acreditava também que o intelecto é a capacidade de pensar Os filósofos alemães continuaram discutindo o que é o intelecto até que Hegel formulou a ideia de que o intelecto é a capacidade que temos de determinar o que é uma coisa e por que ela é diferente de outra coisa Segundo ele essa capacidade acontece através do pensamento Com o pensamento conseguimos determinar o que são as coisas Por causa disso hoje em dia acreditamos que o intelecto é a nossa capacidade de pensar com a razão Mesmo assim há quem considere três tipos diferentes de pensamento o pensamento a partir da intuição o pensamento a partir da necessidade das operações que precisamos fazer para que nosso corpo esteja bem no mundo e convivermos com as outras pessoas e o pensamento que se organiza na forma de intelecto que permite para nós o acesso à inteligência e ao entendimento Uma outra maneira de entender o intelecto é que ele permite o entendimento além da compreensão e do aprendizado Então começa a discussão se efetivamente é o intelecto que faz com que o nosso cérebro pense Durante muito tempo acreditouse que o pensamento era uma faculdade da alma Depois alma e espírito passaram a ser considerados a mesma coisa Então durante séculos discutiuse quais as qualidades do espírito que nos faziam entender as coisas Aristóteles imaginou que o intelecto ativo era a demonstração da existência de Deus Ele sugeriu que deveria haver um intelecto potencial que pertencia à alma humana e que permitia ao ser humano o aprendizado e a compreensão das coisas Com Plotino nasceu a ideia de que alma se servia do cérebro para manifestar a sua existência Foi Descartes quem primeiro sugeriu que os nervos do corpo humano enviavam as informações dos cinco sentidos visão audição olfato paladar e tato para o cérebro Este seria capaz de perceber os sentidos pois era dotado de um intelecto material 32 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Seguindo esta ideia de Descartes sugeriuse que estes conceitos que incluíam tanto o pensamento racional quanto as fantasias proporcionadas pelos sonhos e pela imaginação aconteciam no cérebro Por muito tempo imaginouse que o lugar de onde vinha a vontade do ser humano era o coração Por isso que até hoje se diz que quando alguém age sem pensar está agindo com o coração Só no século XX é que tivemos certeza de que o cérebro é o órgão do corpo humano que tem a capacidade de produzir o pensamento Como até hoje ninguém explicou de forma convincente o que é a alma acreditase que todo o pensamento é exclusivamente produzido pelo cérebro Assim percebeuse finalmente que a mente e a consciência são fenômenos que acontecem porque o cérebro tem a capacidade de pensar e refletir Hoje ainda estamos pesquisando a maneira com que o cérebro é capaz de pensar Depois de muito discutir a filosofia e a ciência chegaram a um acordo o cérebro é um órgão do corpo humano com o qual percebemos a existência da mente Nossa mente tem pensamentos e sonhos além de memória 117 Como o ser humano relaciona as características biológicas da natureza com os dados culturais Platão acreditava que era necessário organizar as opiniões que temos a respeito das coisas da natureza Se conseguíssemos organizar as opiniões a partir de um raciocínio que verificasse a relação causal entre as coisas estaríamos construindo a ciência Seguindo este mesmo conceito de ciência Aristóteles evoluiu para a ideia de que ciência é o conhecimento demonstrativo Para ele era necessário saber por que alguma coisa não pode ser diferente do que é Assim que Aristóteles percebeu que era preciso descobrir a essência das coisas ele ensinou que a melhor forma de fazermos isto é separando o que queremos conhecer em categorias Estas categorias são conjuntos de coisas semelhantes que podem ser relacionadas os peixes os insetos os répteis etc Um filósofo romano estoico chamado Sexto Empírico percebeu que a ciência é a compreensão segura certa e imutável de alguma coisa e é fundada na razão O filósofo medieval cristão chamado Dun Scot acreditava que também era necessário para a ciência demonstrar que ela funcionava na vida prática sem nenhuma necessidade da fé Noutras palavras o conhecimento científico devia ser comprovado através de demonstrações racionais no mundo dos homens Para Kant o conhecimento sistemático do mundo permitia entender o conhecimento múltiplo das coisas que existem a partir de uma única ideia Hegel evoluiu o pensamento de Kant na medida em que afirmou que a verdade só existe se for demonstrada por um sistema científico Dessa maneira primeiro através da divisão em categorias depois com a sistematização do conhecimento percebido a partir das categorias em que construiuse a noção moderna de ciências A partir do Renascimento as pesquisas biológicas principalmente com a dissecação do corpo humano passaram a fornecer cada vez mais evidências a respeito do funcionamento real dos seres vivos Foi necessário adaptar o pensamento filosófico para que se pudesse entender detalhadamente cada sistema descoberto na natureza 33 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Antigamente quando se estudava os seres vivos aquilo que não podia ser explicado era considerado uma qualidade da alma ou às vezes um motivo da alma Mas isso gerava muita discussão Ninguém sabia de fato se as plantas e os seres vivos tinham uma alma E caso tivessem uma esta era parecida com a alma humana Ao longo dos séculos fomos desenvolvendo maneiras de lidar com o que não conseguíamos entender Quando finalmente conseguimos elaborar a física moderna principalmente a partir do pensamento de Descartes e do físico inglês Isaac Newton passamos a separar cada vez mais as coisas que dizem respeito à natureza e as coisas que dizem respeito ao que acontece na mente humana Dessa forma as explicações míticas que existiam sobre a origem das coisas foram dando lugar às descobertas científicas do mundo moderno Aristóteles por exemplo acreditava que a origem das aves eram os pântanos pois neles existiam os fluidos necessários para criar aqueles organismos Depois eles se transformariam em aves Hoje em dia sabemos que todos os animais nascem a partir de células fecundadas que se dividem até formar um ser vivo Sabemos também que o que faz cada célula se especializar na feitura das partes do corpo de um ser vivo está indicado no DNA Mas este conhecimento é muito recente Há 200 anos acreditavase que a única grande ciência da humanidade era a Filosofia Hoje em dia o sabemos que precisamos entender a natureza do jeito que ela é e não da maneira que gostaríamos de pensar que ela fosse 118 O ser humano é dual No que diz respeito ao ser humano a maior questão do dualismo era saber se existe uma separação entre a subjetividade e a objetividade Essa questão dizia respeito a uma dúvida filosófica existe uma separação entre a sensação e o pensamento racional Tal dúvida aparecia cada vez que um filósofo pensava a respeito da condição humana Havia uma série de sentidos diferentes que o filósofo examinava por exemplo a sensação de tristeza e o estado de melancolia são a mesma coisa Tristeza e melancolia acabavam sendo interpretados como duas coisas diferentes que podiam atingir o corpo humano A rigor ninguém imaginava que todas as formas de sentimentos que criam diferentes sensações no corpo humano podiam ter origem no cérebro por causa do funcionamento da mente O que confundia os filósofos era a questão da origem da vida Na medida em que ninguém sabia como ela se formava durante séculos a Filosofia enganouse acreditando que a alma era a substância que permitia a vida existir A ideia da teoria da evolução formulada pelo cientista inglês Charles Darwin só aconteceria no século XIX Até mesmo o filósofo que permitiu o início do pensamento científico Descartes imaginava que havia um dualismo entre a substância pensante e a substância extensa ou seja o nosso corpo Ele acreditava que a liberdade é a lei que regia a substância espiritual e o mecanismo era a lei que regia a substância extensa Mas esse conceito a respeito do dualismo do corpo humano que separava a alma do corpo como duas substâncias diferentes acabou por facilitar a independência do corpo em relação à alma Isso foi muito importante porque ao tentar entender o corpo não estávamos mais tentando esclarecer o que era a alma Hoje pesquisadores do corpo humano podem estudálo melhor e desenvolver a ciência que conhecemos como Medicina Com essa separação entre corpo e alma o corpo humano pôde ser visto como uma 34 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I máquina biológica mas nem todo mundo concordou com Descartes Leibniz por exemplo desenvolveu a ideia de que o corpo vivo é um conjunto de mônadas as quais seriam substâncias espirituais agrupadas em torno da alma Outra solução foi proposta pelos filósofos de um movimento chamado romantismo uma corrente filosófica derivada do idealismo Hegel que foi um dos maiores filósofos românticos e idealistas recuperou uma antiga ideia de Platão e sugeriu que a alma era completamente formada e constituída como um sujeito singular O corpo seria então apenas a demonstração da existência de uma alma Muito antes de Hegel o filósofo Espinosa sugeriu que o corpo exprime a essência de Deus na forma de uma coisa extensa Portanto alma e corpo eram duas manifestações da mesma substância cuja origem era atribuída a Deus Essa concepção ainda é importante para nós pois de alguma maneira ela permite que acreditemos que a mente faz parte do corpo e as duas coisas funcionam a partir da mesma substância Ela permite também que acreditemos que podemos tratar as duas manifestações alma e corpo separadamente Assim essa ideia permitiu o nascimento dos estudos da psicologia Outra forma de pensar o que é a existência do ser humano e para o que ele foi desenvolvido foi pensada por um outro filósofo alemão chamado Husserl Ele acreditava que o corpo era uma manifestação da individualidade da mente toda vez que eu pensar que eu estou no mundo Em outras palavras o meu estar no mundo é que me dá certeza de que eu sou eu Isso é percebido e manifestado de uma forma individual para as outras pessoas e também para mim mesmo através da existência do meu corpo Por mais complicado que este raciocínio possa parecer isso permitiu que se percebesse a alma o espírito e o corpo como três instâncias de possibilidades diferentes do comportamento humano Hoje em dia dizemos que o corpo é um organismo biológico que de alguma maneira consegue pensar e formular diversos tipos de linguagem Em vez de separarmos a alma do espírito acreditamos que as duas coisas funcionam a partir da mente humana Assim podemos tratar do corpo separadamente da mente Mas também sabemos que uma série grande de doenças do corpo sofre a interferência da mente a qual está de alguma maneira envolvida na existência do próprio corpo A grande diferença da concepção moderna do dualismo entre mente e corpo é que hoje acreditamos que quando não há equilíbrio no corpo não deve haver equilíbrio na mente e viceversa De alguma maneira ainda não conseguimos integrar o funcionamento da mente ao funcionamento do corpo Sabemos tratar as doenças a partir de estudos da Química e da Biologia mas até hoje ainda não conseguimos tratar os problemas da mente de uma forma convincente com o que sabemos de Química e de Biologia 119 O psiquismo é separado do corpo Quando pensamos no psiquismo ou seja no funcionamento da mente muitas vezes acreditamos que o que acontece na mente não tem nada a ver com o que acontece no corpo Há milênios que os filósofos perceberam que existe uma ligação forte entre as duas coisas Percebemos essa união forte entre a mente e o corpo no momento em que sentimos emoções Uma das definições de emoção é a percepção da importância que determinada situação tem para sua vida para as suas necessidades ou mesmo para os seus interesses Em outras palavras uma emoção é quando eu percebo que amo alguém Outra é saber que nosso time ganhou o campeonato Também é emocionante quando comemos uma sobremesa deliciosa Enfim tudo isso são emoções 35 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Aristóteles dizia que emoção é toda a manifestação da alma acompanhada pelo prazer ou pela dor Dessa maneira as emoções podem ser consideradas reações imediatas de qualquer ser vivo a toda situação vivida no seu meio ambiente Um peixe fugiu de outro peixe maior e vivenciou uma emoção Uma égua acabou de dar à luz e experimentou uma emoção Nesse sentido qualquer ser vivo até mesmo uma planta consegue dar sinais de medo ou de coragem em relação ao ambiente em que vive Isso acaba influindo na maneira com que o ser vivo se comporta Para Platão todo ser vivo sente dor quando de alguma forma se sente ameaçado A dor é a manifestação da falta de harmonia do ser vivo com seu ambiente Por outro lado o prazer é simplesmente a sensação de harmonia com o ambiente Tanto para Platão quanto para Aristóteles as emoções acabavam servindo para demonstrar a dificuldade ou a facilidade com que as pessoas convivem no mundo A corrente filosófica estoica acreditava que as emoções não têm significado nem nenhuma função para o ser humano Para ela a própria natureza construiu todos os seres vivos de forma que eles consigam se preservar Isto é a natureza dotou os seres para se manterem vivos enquanto os animais utilizam o instinto para isso o homem usa a razão Os estoicos ainda acreditavam que só existiam quatro emoções fundamentais Havia o desejo de bens futuros e a alegria dos bens presentes O contrário disso portanto uma situação dualista era o temor dos males futuros e a aflição pelos males presentes Todas as outras emoções eram de alguma maneira derivadas dessas quatro emoções básicas Esse pensamento é importante porque até hoje os psicólogos examinam seus pacientes tentando descobrir qual dessas quatro emoções está causando uma manifestação de malestar De alguma maneira o sentimento errado decorrente de cada uma dessas emoções é considerado hoje em dia uma doença psicológica Se uma pessoa não deseja o bem futuro ela pode ser considerada depressiva Caso ela não tenha alegria pelos bens presentes pode estar em pânico Se não sente temor pelos males futuros pode ser considerada maníaca Caso não sinta aflição pelos males presentes é considerada esquizofrênica E se por acaso uma pessoa alterna muito na percepção errada das emoções é considerada bipolar Kant acreditava que todos os problemas que seres humanos tinham com as emoções podiam ser considerados doenças da alma Ele percebeu que as doenças da alma afetavam de alguma maneira o corpo humano Para ele antes que um ser humano consiga realmente ser governado pela razão ele é atormentado pelas emoções que promovem estímulos patológicos Isso quer dizer que as emoções promovem estímulos sensíveis mas o corpo não consegue conviver bem com as emoções que não consegue controlar A partir da descoberta da evolução por Darwin em 1855 outro filósofo cientista chamado Spencer escreveu um livro chamado Princípios da Psicologia Ele percebeu que todas as experiências vividas se dividem em duas classes as sensações que são produzidas pelos estímulos que nos chegam através dos sentidos e as emoções que são produzidas por um estímulo central na mente Segundo 36 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Spencer tanto as sensações quanto as emoções são na verdade mecanismos de adaptação ou de resposta da mente às coisas que nós vivenciamos no meio ambiente Nós enquanto seres vivos sempre respondemos àquilo que nos interessa e a àquilo que nos causa repúdio Então por exemplo se vemos uma pessoa que gostamos e somos estimulados por ela através da nossa visão e da audição da sua voz acabamos sentindo uma sensação de prazer que nos deixa feliz Por outro lado se vemos um animal que nos ameaça como um tigre mesmo que ele não tenha nos visto sabemos que aquele animal nos causa medo Esse temor faz com que tomemos uma atitude como por exemplo nos escondermos fugirmos ou até mesmo o ataquemos Então existe sempre um relacionamento conexo entre as coisas psíquicas e o nosso corpo De alguma maneira sabemos que precisamos de um corpo são para mantermos uma mente sã e viceversa 120 O conhecimento é uma modalidade de desejo Hoje em dia acreditamos que o conhecimento é uma técnica para verificarmos como sabemos que uma coisa existe Essa técnica permite a descrição o cálculo ou a previsão da coisa em questão Na verdade quando falamos de uma coisa falamos de qualquer coisa que de alguma maneira sabemos que existe Essa técnica também pressupõe que possamos repetir a experiência ou o cálculo que acaba descrevendo a tal coisa a partir de determinadas regras estabelecidas Por exemplo quando pensamos na largura no comprimento e na profundidade de uma parede podemos saber que além de conseguimos descrevêla ou desenhála podemos até mesmo construir outra parede a partir dos mesmos dados Esse tipo de pensamento é basicamente um pensamento científico extremamente moderno Há 200 anos ninguém tinha certeza absoluta de que o conhecimento era uma técnica As pessoas acreditavam nos mais diversos motivos que proporcionam o conhecimento ao ser humano O primeiro a declarar o seu amor ao conhecimento foi Platão Quando Platão sugeriu que a maioria dos homens são como prisioneiros acorrentados dentro de uma caverna que conseguem apenas ver as sombras projetadas das pessoas que passam pela entrada da caverna na parede do fundo o que ele dizia é que a ignorância é a falta do conhecimento real das coisas Então apenas quando um desses prisioneiros conseguisse se libertar das correntes saísse da caverna pela porta de entrada e visse finalmente como as coisas que antes eram apenas sombras agora eram objetos completos é que ele chegaria ao conhecimento real Conhecer alguma coisa equivalia a se libertar das correntes e da situação de prisioneiro da ignorância E como ninguém gosta de ser um prisioneiro acorrentado conhecer acaba sendo uma forma de se libertar e um desejo do ser humano Hoje em dia sabemos que é com a educação que aprendemos a técnica de tornar a aquisição de conhecimento uma ação sistematizada Sistematizar o aprendizado é o que facilita a nossa compreensão e o nosso estar no mundo O conhecimento é menos um desejo e mais efetivamente um esforço no sentido de percebermos a realidade do mundo o como ela é 37 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 121 Somos senhores de nossos desejos e sentimentos Quando Platão pensou seu projeto de psicologia ele na verdade decidiu que a alma tinha três partes a primeira era uma parte racional a segunda concupiscível e a terceira irascível Isso quer dizer que a alma fora dividida por Platão numa parte que pensa racionalmente outra que sente a partir das emoções e a terceira que funciona a partir dos instintos Quando Aristóteles pensou seu projeto de psicologia acreditava que na nossa alma havia três princípios o vegetativo o sensitivo e o intelectivo Para nós hoje em dia não faz muito sentido pensarmos com essas categorias aristotélicas É interessante verificar que nem Platão nem Aristóteles acreditavam que as nossas emoções surgem na mente Cada desejo e cada sentimento nasciam em partes diferentes da alma e até mesmo poderiam ser manifestação de duas ou três partes da alma combinadas Esses dois grandes pensadores já tinham percebido que os nossos desejos e sentimentos nem sempre são controlados pela nossa parcela racional Os seres humanos sempre tiveram a impressão de que alguns dos nossos desejos e sentimentos conseguem nos dominar de alguma forma Assim alguma das vontades que sentimos como por exemplo uma paixão incontrolada não conseguem ser dominadas pela nossa razão Kant foi o primeiro filósofo a perceber que os sentimentos do prazer e da dor e o poder de desejar organizam o ser humano A isso Kant chamou de faculdade de juízo De acordo com ele os sentimentos de dor e o poder de desejar conferem ao ser humano uma razão prática A partir dessa ideia de Kant o filósofo francês Augusto Comte fundou uma corrente filosófica denominada positivismo a qual acreditava que as mulheres conseguem perceber melhor os elementos afetivos do gênero humano Portanto a moral estaria mais baseada nos sentimentos do que na razão Comte julgava que as mulheres conseguem demonstrar o altruísmo que é a capacidade que nós temos de fazer o bem sem pensar a quem Nesse sentido prevalece até hoje no nosso senso a ideia do filósofo Pascal que disse O coração tem razões que a razão desconhece CHAUÍ 2000 p 70 O que ele estava querendo dizer é que as regras dos sentimentos independem das regras da razão Portanto a filosofia reconheceu há muito tempo que os valores decorrentes de sentimentos e dos desejos nascem de forma diferente dos valores decorrentes da razão 122 O que significa ser e estar consciente Costumamos usar as concepções de Platão e também de Aristóteles para entendermos o que é ser e estar consciente Estar consciente é perceber se estamos acordados ou se estamos dormindo se estamos bem ou se estamos mal se estamos sentindo alguma coisa se estamos tendo ideias ou simplesmente se estamos prestando atenção em alguma coisa Mas para filosofia estar consciente é uma forma de se ter acesso à espiritualidade do ser humano Essa é a forma de termos a capacidade de nos conhecermos e de fazermos um julgamento moral a respeito de nós mesmo 38 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 123 É mais fácil conhecer a si mesmo do que as coisas ou as outras pessoas Quem primeiro propôs que devemos conhecer a nós mesmos antes de tentarmos conhecer as coisas ou as pessoas foi Sócrates o professor de Platão Isso porque a capacidade que temos de julgar os nossos próprios atos e pensamentos deve ser exercitada antes que nós tenhamos algum tipo de juízo de valor sobre os atos e os pensamentos das outras pessoas Isso não quer dizer que seja fácil para nos conhecermos a nós mesmos Essa atitude de autoavaliação é basicamente um retorno para a possibilidade que existe para nós de investigarmos se o que estamos fazendo causa o bem ou causa o mal E precisamos também distinguir se estamos causando o bem ou o mal só para nós mesmos ou também aos outros Segundo Santo Agostinho nós temos memória inteligência e vontade Por causa disso a coisa mais acessível que nós conseguimos alcançar é a nossa própria mente com todas as suas capacidades e qualidades Assim na medida em que é possível conhecermos a nós mesmos seria mais fácil entendermos como as outras pessoas funcionam Por outro lado os estoicos acreditavam que isso só seria possível com o exercício da razão Apenas examinando a nós mesmos e as outras pessoas a partir de princípios racionais é que nós conseguiríamos conhecer a nós mesmos e as outras pessoas 124 A consciência nos engana O primeiro filósofo que realmente demonstrou que a consciência pode nos enganar foi Descartes Para ele o pensamento era todas as coisas que aconteciam dentro de nós das quais temos consciência Dessa maneira para Descartes pensar equivalia também a sentir a entender a querer e a imaginar Mas ele percebia também que se a gente diz Estou vendo aquela árvore ou Estão andando naquela rua em princípio isso não nos dá a certeza de que estamos acordados pois podemos estar sonhando Então mesmo a que gente queime o dedo no fogão ou que acredite que está se afogando nem sempre nós estamos realmente queimando o dedo no fogão ou nos afogando podemos estar tendo um pesadelo Mas se temos a consciência de estar pensando e por saber que estou pensando tenho a certeza de que estou vendo uma árvore ou estou andando numa rua neste momento tenho consciência de que penso e portanto que existo Enquanto estamos atentos à nossa existência como um sujeito pensante podemos ter certeza de que temos consciência Na medida em que temos essa certeza a partir daí podemos ter a convicção de que o mundo existe e nos cerca Portanto a consciência só pode nos enganar quando não temos certeza de que estamos pensando a respeito daquilo que estamos vivendo Isso acontece por exemplo quando consumimos bebida alcoólica em excesso pois perdemos a capacidade de pensar claramente Nesse momento é bem provável que sem o domínio claro do pensamento a nossa consciência possa nos enganar 39 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 125 É possível conhecerse a si mesmo sem se enganar Quem melhor avançou nessa ideia foi Kant Para tentar explicar a relação do homem comum através da consciência ele sugeriu que nós temos apenas consciência imediata do que está em nós e da nossa representação das coisas externas que estamos vendo e ouvindo imediatamente Nós ainda temos de demonstrar que existem coisas fora de nós Para tanto temos de ter uma consciência empírica da existência Em outras palavras temos de ter uma consciência a partir dos sentidos e da nossa existência Isso só pode ser determinado em relação a alguma coisa que mesmo estando ligada à minha existência está fora de mim Parece tudo muito complicado mas o que Kant estava querendo dizer é que temos através do tato e da visão o conhecimento de um sapato Na medida em que calçamos os sapatos percebemos que estamos colocando alguma coisa num corpo que eu acredito que é o meu corpo Então na medida em que sei que posso calçar um sapato que é exatamente do tamanho do meu pé percebo automaticamente que o meu pé existe e que está ligado no corpo Por fim sei que meu corpo está ligado à minha mente Portanto sei que eu posso me conhecer com a ajuda dos sentidos e ter consciência disso Por outro lado esta explicação pode eventualmente nos fazer acreditar que as coisas que estão longe de nós afastadas dos nossos sentidos também estariam afastadas da consciência Poderíamos eventualmente não acreditar que certas coisas que nos ameaçam ou até que nos fazem bem só vão começar a existir daqui a algum tempo Se isso fosse verdade seria impossível termos esperança em alguma coisa ou sentirmos fé Não há nada mais difícil que ser confrontado e obrigado a fazer uma escolha Sabemos que mesmo acreditando que nós nos conheçamos muito bem temos conhecimento de que podemos fazer escolhas erradas Por exemplo só depois que percebemos que por algum motivo nós escolhemos comer peixe no lugar de carne e em seguida nos damos conta de que estávamos com vontade de comer carne em vez de peixe Assim verificamos que a nossa escolha pode ter sido feita a partir de uma série de estímulos que num primeiro momento parecia correta Mas em seguida percebemos que os nossos sentidos nos enganaram e que de alguma maneira a nossa razão concordou com o engano dos sentidos Nessa hora quando os pequenos enganos das nossas escolhas nos deixam chateados com nós mesmos é que verificamos que por mais que acreditemos que conhecemos a nós mesmos ainda assim conseguimos nos enganar Mesmo quando prestamos muita atenção os nossos sentidos podem nos enganar Pensamos que vimos mas não vimos nada que ouvimos mas imaginamos que ouvimos Isso acontece com frequência 126 O que significa dizer que pensamos com nosso cérebro Hobbes escreveu um livro famoso chamado Leviatã Ele concluiu que a razão não é mais do que o cálculo isto é a razão é igual a adição e a subtração das percepções que temos das coisas que exprimimos através de nossos pensamentos De alguma maneira este pensamento de Hobbes até hoje é valido quando verificamos que um computador faz exatamente isso tanto para escrever como para exibir imagens e som É por isso que o nome antigo computador é cérebro eletrônico 40 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Sabemos que os computadores não são capazes de pensar por si próprios mas também sabemos que o nosso cérebro dispõe de uma série de circuitos elétricos que de alguma maneira consegue fazer com que nós consigamos refletir a respeito das coisas Além de refletir nós temos também a capacidade de ter novas ideias Então apesar de não sabermos ainda como o cérebro consegue pensar sabemos que o nosso pensamento nasce dentro do cérebro Sabemos também que muitas das ideias e pensamentos que nós temos nascem das informações que todo nosso corpo recebe do contato que faz com o meio ambiente Portanto mesmo quando usamos a razão e acreditamos que de alguma maneira estamos fazendo operações lógicas sabemos que o cérebro tem muito mais capacidade para perceber emoções e sentimentos e que são todas essas coisas em conjunto que acabam formando o pensamento Ninguém acredita mais que as ações sentimentais nascem do coração Também não encontramos nenhum outro órgão além do cérebro que nos faz pensar 127 A arte e a técnica Para Platão todo tipo de conhecimento devia ser considerado arte Para ele não existia uma distinção entre arte e ciência Poesia política e guerra eram artes A medicina era arte o respeito e a justiça eram artes Enfim tudo era dividido entre a arte judicativa e a arte imperativa A arte judicativa era simplesmente conhecer alguma coisa enquanto a arte imperativa era exercer uma atividade baseada no conhecimento Portanto para Platão tudo o que o ser humano fazia podia ser considerado arte Para Aristóteles a arte não podia ser equivalente à ciência A ciência segundo ele dizia respeito ao conhecimento que é necessário para entendermos alguma coisa quando esta coisa não pode ser diferente do que é Aristóteles pensava que a arte é aquilo que podia ser feito com uma ação e que resultava numa produção Então para ele a arquitetura era arte fazer poesia era arte mas a lógica não era arte A medicina também era arte mas a Física e a Matemática não eram Plotino por sua vez distinguiu as artes entre aquelas cuja finalidade é a fabricação de um objeto como por exemplo a Arquitetura e aquelas que ajudam a natureza como a medicina e agricultura Ele também acreditava que existiam artes práticas como a música São Tomás de Aquino estabeleceu uma distinção entre as artes liberais e as serviçais Segundo ele as artes liberais eram exercidas com a razão enquanto a servil designava os trabalhos exercidos com o corpo Estes trabalhos seriam servis porque o corpo é subordinado à mente e portanto serve a mente A palavra arte designava não apenas as artes liberais mas também as artes mecânicas ou em outras palavras os ofícios É por esse motivo que ainda chamamos as pessoas que lidam com os ofícios manuais de artesãos Os marceneiros e as costureiras são artesãos Quando Kant estudou as artes distinguiu de um lado a mecânica e de outro a estética A arte mecânica em princípio realizava as operações necessárias para a construção de um objeto como fabricar uma mesa A arte estética é a bela arte e tem como finalidade a representação da realidade Quanto mais benfeita a representação da realidade a beleza deve estimular a sensação de prazer 41 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Por outro lado depois que Kant definiu a arte desta maneira passamos a nos referir à arte mecânica como a técnica A técnica em princípio são todos os procedimentos que seguem uma norma e que regulam os comportamentos em todas as atividades Interessante é perceber que a palavra técnica hoje em dia significa aquilo que Platão chamava originalmente de arte Por outro lado as questões relativas às técnicas da arte hoje em dia são chamadas de estética Aristóteles acreditava que um modelo de uma coisa era resultado da simetria Até hoje percebemos que ele tinha razão Quanto mais simétrico é um objeto mais acreditamos que ele é belo O motivo disso é que quanto mais belo é um objeto mais facilmente e rapidamente conseguimos entender as suas formas É por isso que a beleza está ligada à ideia de simetria Nesse sentido a arte sempre será um ato de imitação da natureza Pitágoras já tinha percebido que as notas musicais equivalem a frações de números inteiros Quanto mais essas frações estão em harmonia quer dizer organizadas numa simetria bem calculada mais a música será bela A mesma coisa acaba funcionando para todos os outros sentidos Então tanto para o tato quanto para o paladar e o olfato tudo aquilo que gostamos é também aquilo que temos facilidade de compreender através dos sentidos As artes nada mais são do que a imitação da natureza a partir das técnicas de organizar as simetrias Pitágoras descobriu que as notas musicais são proporções matemáticas Ele esticou três arames numa tábua de madeira e percebeu que apertando cada arame numa posição determinada através do cálculo das frações isso produzia sons O violão funciona exatamente de acordo com a descoberta de Pitágoras De uma forma geral pensamos que a técnica permite a organização da civilização Cada civilização se organiza a partir da sua própria cultura com as técnicas importantes para sua existência Está claro que a cultura de uma civilização organiza as formas simbólicas e as linguagens que conferem o seu sentido Isso quer dizer que cada país elege um hino nacional e uma bandeira e diz tudo isso numa língua própria Assim podemos designar as pessoas que vivem neste país como cidadãos nacionais Na mistura entre a técnica e a cultura cada povo organiza o seu sistema educacional seu sistema político e a sua ciência Podemos também incluir aí as instituições econômicas e jurídicas O próprio conhecimento nada mais é do que uma técnica de verificação que possibilita a descrição o cálculo ou a previsão de qualquer coisa O direito ou seja o estudo das leis é uma técnica que permite a coexistência humana a partir do estabelecimento de um conjunto de regras A técnica permite a organização dos ofícios que possibilitam construir as coisas É a técnica que organiza o conhecimento prático Nesse sentido a própria ética pode ser entendida como uma técnica de conduta do ser humano Também a experiência é a técnica de verificação do funcionamento de alguma coisa A lógica é uma maneira de organizar o pensamento parecida com a Matemática Portanto a técnica e sua utilização acabam organizando as normas e as regras Quando lemos na nossa bandeira nacional as palavras Ordem e Progresso basicamente estamos lendo os pressupostos do positivismo para a organização da técnica Em outras palavras toda técnica para ser bemsucedida precisa da ordem E toda ordem técnica acaba tendo como resultado um aperfeiçoamento e esse aperfeiçoamento é 42 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I o progresso O próprio saber é uma técnica capaz de fornecer informações sobre um conjunto de coisas organizadas por categorias Então quando falamos no saber da Química dizemos sobre um conjunto de técnicas capazes de nos fazer entender o funcionamento dos elementos e de todas as substâncias que conhecemos Assim o saber só é possível a partir de técnicas de investigação e a análise nos dá respostas que podem ser comprovadas O próprio sentido da linguagem nada mais é do que uma técnica de expressar significados através de determinados signos Por exemplo expressamos as palavras a partir da técnica de organização das letras as quais por sua vez são uma técnica de indicar como devemos reproduzir os fonemas Podemos ver que existem técnicas que são simbólicas e permitem a cognição estética Por outro lado também existem modos do comportamento que organizam a moral com a política e a economia com a produção humana Segundo o filósofo inglês Francis Drake que viveu no começo do século XVII qualquer grupo humano que pretenda sobreviver precisa desenvolver um certo grau de técnicas para garantir o bemestar Foi com a técnica que o ser humano acabou agredindo a natureza e em alguns casos exaurindo os recursos naturais da Terra Por isso que hoje em dia estamos mais atentos aos problemas que as técnicas podem nos trazer Sabemos que não podemos usar as técnicas sem pensar nas consequências que elas trazem 128 O trabalho e a alienação Para a Filosofia o trabalho é a atividade humana que modifica as coisas da natureza e o meio ambiente para satisfazer as necessidades Basicamente o trabalho implica numa dependência do homem em relação à natureza tanto no que se refere à sua vida quanto aos seus interesses Todo trabalho humano depende sempre da utilização dos sentidos A leitura por exemplo requer a utilização da visão e do tato Cozinhar requer a utilização da visão do olfato do paladar e do tato para mexer a colher Todas as coisas da natureza incluindo aí seus elementos mais básicos são de alguma forma transformadas através do trabalho Estas outras coisas são chamadas de artificiais porque são fruto da transformação pela arte humana Hoje sabemos também que todo trabalho é fruto de um esforço que pode proporcionar sofrimento ou cansaço e isso pode ser uma representação do custo humano do trabalho No Velho Testamento no livro de Gênesis o trabalho é considerado uma maldição divina e decorrente do pecado original Para quem não se lembra o pecado original foi quando Adão e Eva comeram a maçã o que tinha sido proibido por Deus Por outro lado São Paulo escreveu quem não quer trabalhar não coma ABBAGNANO 2007 p 964 O sentido disso era que ninguém devia onerar os outros com o cansaço e o sofrimento do trabalho para conseguir sobreviver Tanto Santo Agostinho quanto São Tomás de Aquino acreditavam que o trabalho era uma obrigação imposta pela religiosidade A Utopia livro escrito pelo filósofo inglês Thomas More em 1516 também sugeria que todos os membros da cidade ideal tivessem a mesma obrigação de trabalhar Na obra Utopia é um lugar perfeito onde todos vivem em harmonia uns com os outros e com a natureza 43 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Saiba mais Para se aprofundar no conteúdo leia a obra ABBAGNANO N Dicionário de filosofia São Paulo Martins Fontes 2007 O pesquisador italiano Galileo Galilei reconhecia que era através das observações feitas pelos artesãos que faziam os trabalhos manuais que podíamos encontrar uma grande quantidade de observações científicas O filósofo suíço Rousseau quando escreveu sobre a educação pensou que o trabalho manual permitiria maior solidariedade social se fosse executado por todos nós Para os filósofos idealistas como por exemplo Fichte há uma relação entre o trabalho e a natureza do homem Segundo ele mesmo a ocupação mais simples e insignificante se estiver ligada à conservação e à livre atividade dos seres humanos deveria ser santificada O também alemão Hegel acreditava que o trabalho é a mediação entre o homem e seu mundo Ele pensou isso porque percebeu que o homem não consome de imediato o produto natural da Terra mas o elabora através da maneira de cozinhar Ele percebeu também que a satisfação das necessidades humanas só acontece através do trabalho O trabalho não apenas necessita de uma educação teórica mas também de uma educação prática É por causa desse pensamento de Hegel que acreditamos que o homem civilizado é educado e tem necessidade de trabalhar Hegel também pensou que através do trabalho o egoísmo de cada homem acaba se convertendo na satisfação das necessidades de todos os outros Ele também percebeu que como a nossa população aumenta crescem também as suas necessidades Por isso é muito importante a divisão do trabalho e a relevância da distinção de classes baseadas na divisão do trabalho Já naquela época ele percebia que a divisão do trabalho leva à substituição do homem pela máquina porque a máquina facilita muito o trabalho humano Por outro lado também a partir da utilização da máquina o trabalho do ser humano acaba ficando limitado à sua operação Hegel acreditava que a relação do trabalho com os homens era de ordem espiritual Quem percebeu que apesar de Hegel ter razão nas suas observações a relação do trabalho com o homem é na verdade natural ou material Quem disse isso foi Marx um filósofo alemão que viveu na Inglaterra Segundo ele os homens começaram a se distinguir dos animais quando produziram seus próprios meios de subsistência Esse progresso foi condicionado pela organização da sociedade humana Produzindo os seus meios de subsistência o ser humano produz diretamente a sua vida material Para entendermos melhor o que você acabou de ler vamos a um exemplo bem simples Marx percebeu que os seres humanos na Antiguidade resolveram beber leite O leite vinha dos outros animais mamíferos que tinham sido domesticados tais como a vaca e a cabra Mas toda vez que uma tribo precisava viajar ou quando chegava o inverno a produção de leite diminuía muito Com o tempo a forma de conservar o leite foi descoberta a partir de uma série de técnicas as quais pressupunham que a pessoa trabalhasse Portanto a fabricação do queijo nada mais era do que as técnicas de trabalho da conservação do leite Isso permitiu que nossos antepassados pudessem ter acesso ao leite transformado na forma de queijo Dessa maneira os seres humanos 44 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I produzem diretamente para sua vida material Para Marx a fabricação do queijo não pode ser entendida como fruto da vida espiritual como pensava Hegel Partindo da sua nova concepção do trabalho Marx então percebeu que o trabalho não é apenas um meio com que os homens promovem a sua subsistência Na verdade a constituição do ser humano depende do trabalho pois além de pensar e falar se não fosse o trabalho o ser humano não teria sobrevivido na natureza Portanto a noção de que o trabalho é uma condenação estava errada Para Marx o trabalho faz parte da própria natureza do ser humano Ele faz com que os indivíduos entrem em contato com as outras pessoas tanto para trocarem o fruto de seu trabalho como para colaborarem em novos trabalhos Portanto o trabalho é a base das relações entre as pessoas constituindo a estrutura mais autêntica da história e da sociedade Para ele existem duas qualidades diferentes no trabalho do ser humano o trabalho não alienado e o alienado Alienar significa dar ao outro Então o trabalho pode ser dado a outra pessoa ou mantido em poder próprio Em outras palavras uma família que fabrica queijos os mantêm em casa para consumo próprio Eventualmente os queijos podem ser vendidos ou trocados por outros alimentos para aquela família Caso uma pessoa dessa família vá trabalhar numa fábrica de queijos os queijos que ela fabricar não são para o consumo próprio da família O trabalho que a pessoa faz para a fábrica é trocado por dinheiro Muitas vezes a quantidade de dinheiro que esse trabalhador recebe do dono da fábrica não é suficiente para que a sua própria família tenha dinheiro para comprar o queijo que acabou de fabricar Em outras palavras o que acontece é que o trabalho desse trabalhador é dado para outra pessoa o patrão Marx chamou de alienação do trabalho o fato de o patrão não pagar ao trabalhador a quantidade de dinheiro suficiente para que ele compre queijo para sua família 129 O tempo e a transcendência Como tudo mais na Filosofia o tempo é entendido de forma diferente do conhecimento comum A primeira maneira da filosofia compreender o tempo é muito parecida com a nossa forma de entendêlo O tempo é uma forma de medir o movimento Nesse sentido tanto faz se é o movimento de uma pessoa ao subir uma escada ou o de um cavalo viajando entre uma cidade e outra Também pode ser o movimento da Terra girando em torno do sol Aquilo que permite a comparação de todos esses movimentos é a medida do tempo Uma segunda maneira de pensar no tempo foi proposta pelo filósofo Locke Ele percebeu que os pensamentos e as ideias não apenas determinam um tempo mas também acontecem de tempos em tempos Essa concepção de tempo foi descrita pelo filósofo Berkeley da seguinte maneira se eu tentar entender o tempo sem perceber que as minhas ideias são encadeadas por uma determinada ordem que é compartilhada por todos os seres não conseguirei nem entender nem explicar o que é o tempo Ele queria dizer que o tempo das ideias e dos pensamentos é diferente do tempo real do relógio O físico inglês Isaac Newton entendeu essa definição de tempo e com ela distinguiu o que é o tempo absoluto e o relativo O tempo absoluto é aquele que pode ser definido matematicamente e que podemos chamar de duração Já o relativo é a medida do movimento em relação a determinado ponto de observação 45 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Kant por sua vez acrescentou que o tempo organiza a causalidade O que ele queria dizer é que existe uma sucessão de coisas que acontecem ao longo do tempo e todas essas elas geram consequências Na prática isso significa que se esquentamos a água por algum tempo o resultado é que ela vai se transformar em vapor Por causa disso é que podemos medir o tempo porque ele propõe para nós uma realidade que não podemos negar e que experimentamos com os sentidos A isso Kant denominou realidade empírica Hegel percebeu que temos na nossa consciência uma ideia de tempo que é expressa a partir do nosso eu Isso significa que não apenas podemos medir o tempo mas também podemos ter uma intuição de quanto tempo leva para determinadas coisas acontecerem Essa outra ideia de tempo permite para nós o planejamento O prazo pode ser curto médio ou longo Em outras palavras estimamos quanto tempo pode levar um determinado acontecimento ou um determinado trabalho para começar e acabar Essas concepções de tempo estão fundamentadas na nossa percepção do tempo presente Se sentarmos na hora do almoço para comer e pensamos na hora que acordamos imediatamente pensamos no passado Se na hora do almoço pensamos na hora que vamos dormir instantaneamente pensamos no tempo futuro a partir do tempo presente que estamos vivendo Mas existe outra forma de pensar o tempo proposta por Heidegger no seu livro O Ser e o Tempo de 1927 O tempo é sempre uma coisa que acontece simultaneamente entre o movimento e a nossa vivência imediata Isso significa que o tempo sempre acontece agora Mas sempre que pensamos no tempo ou em alguma coisa que vai se realizar ao longo do tempo estamos pensando no futuro num tempo que ainda não existiu Isso só é possível porque quando pensamos numa coisa que irá acontecer daqui a dois dias temos a certeza de que neste momento sabemos que nós somos e existimos e portanto pensamos que daqui a dois dias ainda seremos e existiremos Nesse sentido vivemos sempre o presente porque somos e estamos sempre no tempo presente Como não podemos voltar ao passado toda vez que falamos de alguma coisa que já passou na verdade estamos falando de alguma coisa que pensamos agora Essa forma de pensar o tempo que Heidegger propôs demonstra que mesmo o tempo relativo não determina a sempre a ordem das coisas Se vemos passar um carro de bombeiro sabemos que há um incêndio mas não sabemos quando esse incêndio começou nem a sua proporção A única coisa que conhecemos é que há um incêndio e por causa disso os bombeiros estão indo na sua direção O tempo que o carro de bombeiros vai levar para chegar ao incêndio independe do tempo que levou para o fogo consumir o material que está queimando Apesar de as duas coisas estarem de alguma maneira conectadas cada uma delas tem o seu tempo próprio O carro de bombeiros tem a sua velocidade e o incêndio acontece também com uma velocidade própria Apesar de aparentemente as duas coisas acontecerem ao mesmo tempo cada uma tem um tempo em si Os dois tempos estão no presente o carro se move e o fogo queima Sempre que o bombeiro pensar no fogo este vai estar no futuro Depois que o bombeiro apagar o fogo caso ele volte a pensar no fogo ele estará no presente do bombeiro esteve sempre no presente e nunca no passado Essa forma de pensar no tempo é utilizada pelos computadores Quando ligamos um computador ele está sempre no presente Toda a informação guardada no computador está disponível no presente 46 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Mesmo que tenha sido feita há uma semana ela continua disponível no tempo presente enquanto tempo presente apesar da indicação de ter sido criada há sete dias atrás Para o computador não existe passado apenas o tempo presente organizado a partir de uma numeração Platão tinha sugerido que o bem enquanto princípio supremo de tudo é comparável ao sol que dá vida às coisas e as torna visíveis O bem não teria tempo de começar nem tempo de acabar Ele existe simplesmente Foi essa ideia de existir sempre de estar além do tempo além do ser e além da mente que permitiu o desenvolvimento da ideia de um deus onipresente Onipresente quer dizer o que sempre existiu e que sempre existirá Portanto alguma coisa que é onipresente transcende ou em outras palavras ultrapassa qualquer medida de tempo Por outro lado existe uma outra percepção da ideia de transcendência É a possibilidade de alguma coisa ser para além da existência Isso é o que pode permitir a ideia de que a alma é imortal Depois que o corpo morre a alma transcende para outro estado Nas religiões cristãs a alma iria para o paraíso ou para o inferno Nas religiões espíritas a alma continua existindo e vai para outro corpo Santo Agostinho usava a palavra transcendência e dizia que ela tinha também um outro sentido Para ele caso você não estivesse satisfeito com a sua própria forma de ser deveria transcender ou seja ultrapassar a sua forma de se comportar e de pensar para conseguir alcançar uma nova maneira de se comportar e de pensar Isso seria um movimento de transcender a si próprio Explicado de uma outra forma esse movimento de transcendência é que permitiria ao homem não apenas ter certeza de que ele está no mundo mas principalmente dele perceber o mundo através de uma nova forma de reflexão O ser humano é a verdade ao pensar na sua própria existência no mundo SANTO AGOSTINHO 1995 p 272 Esta segunda forma de transcendência não é portanto um movimento que ultrapassa o tempo mas principalmente uma ação que o modifica para permitir a percepção do ser humano em relação ao seu mundo Foi proposta por Heidegger e o filósofo existencialista francês Sartre não apenas concordou com essa explicação como ainda sugeriu que é através da consciência que o ser humano consegue perceber o seu estar no mundo Quando ele consegue perceber como está no mundo é porque realizou uma interpretação transcendente ao seu ser isto é sua consciência pensou em si mesmo e na forma como a sua própria pessoa se comporta no mundo É um tempo interno que reflete o tempo externo 2 QUERER PODER E AGIR 21 Os valores 211 Ser e dever ser O que primeiro devemos investigar é o que estamos significando quando usamos a palavra ser Ser pode ser usado como um predicativo quando dizemos que Sócrates é homem Mas ser também pode ser usado no sentido existencial quando dizemos simplesmente que Sócrates é Isto equivale a dizer que Sócrates existe São Tomás de Aquino dá um exemplo muito interessante desta distinção Ser tem dois significados num modo significa o ato de ser Sócrates é no outro significa a composição da proposição que o homem encontra ao juntar o predicado ao sujeito Sócrates é homem AQUINO 2011 47 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Quando pensamos neste significado predicativo na filosofia descobrimos que existem três diferentes possibilidades de entendimento a partir da inferência da identidade ou suposição e da relação Inerir significa pertencer Segundo a doutrina da inerência quando dizemos que Sócrates é homem queremos dizer que pertence à essência de Sócrates ser homem Em outras palavras este Sócrates ao qual nos referimos não poderia ser uma mulher A forma de entender a qualidade essencial de Sócrates segue o pensamento de Aristóteles quando ele determina que haja sempre uma relação necessária entre uma substância aqui no caso Sócrates e sua essência necessária neste caso ser homem Por outro lado quando dizemos que Sócrates é branco o que na verdade estamos significando é que existe um homem que se chama Sócrates e que este mesmo homem é branco É uma questão de confirmação da identidade Nesse caso podemos dizer que essa frase pode ser dividida em duas outras este homem é chamado Sócrates este homem é branco Isso quer dizer que em algum lugar existe um homem que é branco e ao mesmo tempo se chama Sócrates Neste momento estamos fazendo uma suposição que investiga a identidade de uma substância um homem que nós acreditamos que tenha a identidade de ser homem e de ser branco Com esse entendimento a partir dessa relação que foi defendida por Descartes no momento em que falo que Sócrates é homem faço uma relação entre aquilo que penso que Sócrates é com a qualidade que ele demonstra ter Em outras palavras antes mesmo de ter certeza que Sócrates é homem o meu juízo me indicou que eu acredito que Sócrates é um homem Sobre esse tipo de entendimento do ser Kant escreveu que Entendo por síntese no sentido mais amplo dessa palavra o ato de unir diversas representações com a sua multiplicidade num só conhecimento KANT 2013 O que Kant quis dizer é que no entendimento a partir da relação não é possível separar as diferentes qualidades que estou atribuindo a uma mesma substância É importante sabermos que nem mesmo uma coisa simples como ser é entendida pela Filosofia como uma única coisa Isso acontece porque ao examinar as diversas possibilidades de comportamento do ser humano os filósofos se deparam com uma grande quantidade de variações e por conta disso tentam utilizar as palavras de forma a entender melhor os motivos dessas variações de comportamento Por causa dessas diferentes concepções de ser Hegel sugeriu o conceito de dever ser Segundo ele poderia ser significa um determinado juízo neste caso uma determinada opinião que funciona como uma norma ideal a respeito do comportamento Portanto o comportamento deveria ser é resultado de um pensamento racional que organiza cada uma das nossas ações no mundo Mas até mesmo esse tipo simples de concepção de um pensamento é discutido na Filosofia Por um lado imaginase que o dever ser tem uma característica absoluta Isso quer dizer que não há nenhuma restrição nem limitação para que se chegue à ideia absoluta ou em outras palavras a uma conclusão daquilo que deve ser sem nenhuma possibilidade de que existam condições que modifiquem este entendimento Por exemplo quando dizemos que a água é líquida queremos falar que caso a substância H2O não estiver em estado líquido não é água 48 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I mais pode ser gelo ou pode ser vapor Por outro lado há também o entendimento de que o dever ser é apenas uma aproximação daquilo que queremos falar a respeito da realidade Nesse sentido dever ser é entendido como uma das possibilidades de uma coisa existir Portanto nesse caso o gelo deve ser água em estado sólido e o vapor deve ser água em estado gasoso Aquilo que parece ser um simples jogo de palavras acaba tendo consequências muito profundas na realidade Se formos pensar de uma maneira absoluta atribuímos a cada coisa uma determinada qualidade que ela deveria ter sempre Na segunda forma de pensar admitimos a possibilidade de que uma coisa possa existir de diversas maneiras As coisas que acontecem e que nós percebemos como por exemplo o Sol fornecer calor ou então o vento soprar forte são fatos aos quais nós atribuímos uma determinada qualificação que em Filosofia chamamos de valor Os valores na Matemática são expressos por números Sabemos que o número 100 tem um valor maior do que o número 1 Mas na Filosofia não podemos simplesmente montar uma tabela dizendo que a amizade tem maior valor do que a tristeza Não existe maneira de atribuirmos valores aos sentimentos e às sensações que sentimos de forma que sejam aceitos por todos por igual Então se dizemos que aquela árvore fica muito longe daqui para uma criança esta árvore pode parecer de fato longe Mas para um atleta a árvore pode estar a alguns segundos de distância e pode parecer para ele que a árvore está perto Por isso que em Filosofia discutimos o dever ser confrontando os fatos e os valores 212 O fato e o valor Quando dizemos que alguma coisa é um fato de filosofia queremos dizer que esta coisa existe na realidade Essa forma de entender os fatos foi expressa por Hume Em Filosofia a ideia de fato muitas vezes se aproxima da ideia de fenômeno Assim podemos dizer que a luz é um fato A luz é um fenômeno que existe na realidade Outra maneira de entendermos o fato é acreditando que todo fato é dado Quando pensamos num computador e dizemos que os computadores processam os dados estamos querendo dizer que o computador processa coisas que existem Então chegamos à conclusão que os dados são um fato ou numa linguagem mais simples que os dados existem de fato Mas a Filosofia positivista sugere que um fato só pode ser compreendido através da razão Nesse sentido quando eu digo que amo a minha família não estou falando de um fato porque neste caso estou falando a respeito de um sentimento Os filósofos modernos como Wittgenstein e Carnap acreditavam que os fatos são aquelas proposições lógicas que são verdadeiras Nesse sentido as imagens que vemos no computador e no telefone celular são fatos pois elas são decorrência de operações lógicas efetuadas através de uma programação A programação de um computador nada mais é do que uma extensa organização de proposições lógicas Os filósofos estoicos foram os primeiros que entenderam o valor como uma qualidade da ética Ética nada mais é do que uma técnica de escolha dos valores que devem conduzir o nosso comportamento Portanto os valores devem indicar as escolhas morais que fazemos 49 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Foi o filósofo Hobbes quem primeiro descreveu o valor da mesma forma que entendemos hoje em dia Para ele o valor de um homem assim como o de todas as coisas não é absoluto mas depende da necessidade e do juízo de outra pessoa Quando Nietzsche estudou a origem da moral ele percebeu que os valores e os juízos que as pessoas têm a respeito dos comportamentos das outras pessoas é que organizam a moral Então podemos dizer que os valores equivalem às regras nas quais acreditamos que os fatos devem ser Em outras palavras que os valores determinam a maneira com que as coisas devem existir na realidade Assim toda Filosofia se organiza a partir de uma série de regras que dizem como as coisas são de fato Cada filósofo acabou por desenvolver suas próprias ideias de como os fatos devem ser 213 Por que nós agimos de maneira valorativa Agimos de maneira valorativa porque nós julgamos os fatos de mesma espécie de forma diferente Quando sentimos que o clima nos é agradável como por exemplo num belo dia de sol acreditamos que esse dia é melhor do que um dia nublado e chuvoso que nos impede de sair para passear Então estamos julgando os dias de acordo com a nossa facilidade ou com a nossa dificuldade de passear Todas as coisas que nós percebemos através dos cinco sentidos acabam sendo valoradas de alguma maneira Geralmente acreditamos que as coisas mais agradáveis são melhores e as desagradáveis são piores Para a Filosofia isso cria um vício tudo que parece agradável aos sentidos é bom enquanto tudo que parece desagradável é mau Porém quando examinamos as coisas a partir da razão utilizando o raciocínio verificamos que algumas coisas agradáveis não são necessariamente ligadas ao bem Quando comemos demais isso pode parecer muito agradável mas não faz bem Por causa dessa diferença entre aquilo que parece bom mas não faz bem e as coisas que parecem más mas fazem o bem é que a Filosofia se preocupou em demonstrar a diferença das escolhas que fazemos com a razão e das escolhas que fazemos a partir das sensações e dos sentimentos 214 Qual a diferença entre dizer que algo é assim e que algo deve ser assim Por muito tempo se acreditou que os valores eram absolutos Pensavase que os valores eram imutáveis para a espécie humana Recentemente percebeuse que os valores são relativos à época em que vivemos Quando os homens viviam nas cavernas matar os animais era considerado uma coisa boa Hoje em dia acreditamos que não devemos matar os animais sem motivo justificado Atualmente sabemos que os valores de uma época não podem ser transpostos para outra época A maneira que percebemos os valores numa determinada cultura não é obrigatoriamente a mesma numa outra cultura Quando dizemos que uma coisa acontece mas deveria ocorrer de outra maneira estamos utilizando uma escala de valor que diz respeito às escolhas morais que fazemos para nós mesmos Pode ser que a nossa escolha moral seja compartilhada por toda a sociedade na qual vivemos Mas eventualmente pode ser que outras pessoas pensem de forma diferente do que nós pensamos 50 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Cada vez que ouvimos de alguém que alguma coisa deveria ser assim nós comparamos aquilo que a pessoa disse com aquilo que nós pensamos Muitas vezes é inútil debatermos com os outros a nossa maneira de ver as coisas Isso porque para nós uma coisa pode ser um fato mas para outra pessoa a percepção do mesmo fato é completamente diferente Os valores de uma sociedade ou de uma época são combinados pelas pessoas que vivem nesta sociedade ou época A isso se dá o nome de convenção 215 As convenções humanas são um prolongamento ou uma ruptura com a natureza Durante muito tempo se discutiu se a natureza se confundia com Deus ou se a natureza era uma coisa que existia em si Desde Platão existe a ideia de que um deus supremo criou todas as coisas Então durante toda a Idade Média a Filosofia escolástica entendeu que as coisas que não existiam na natureza não poderiam ser boas pois elas não derivavam de Deus Por muito tempo isso impediu o avanço da ciência pois a ciência era considerada contra a existência de Deus pois pretendia produzir alguma coisa que era artificial Artificial quer dizer o que é feito a partir de uma arte ou de uma técnica Por esse motivo é que na Idade Média a ciência quase não avançou No passado a maioria das sociedades se organizava a partir de uma religião com diferentes compreensões do mundo As religiões acabavam por fazer com que os homens brigassem entre si Todas as religiões sempre se acreditaram mais verdadeiras do que as outras Portanto tudo aquilo que era convencionado pelas regras de uma religião acabava sendo contra a convenção de outra religião Assim não foi possível desenvolver valores que organizassem de uma forma igual todos os juízos que os homens tinham a respeito dos fatos No passado os seres humanos não percebiam que toda forma de organizar a vida humana em sociedade é uma maneira de romper com a ordem da natureza pois as organizações culturais são humanas não naturais mas culturais Se os homens ainda vivessem no estado de natureza seriam apenas mais um tipo de animal Todas as filosofias que defenderam a ideia de que o comportamento humano é uma extensão de Deus e portanto da natureza cometeram o equívoco de acreditar que a cultura é uma coisa natural Na verdade a cultura foi construída pelos seres humanos Sabemos hoje que não existe uma só cultura mas diversas culturas e todas elas têm o seu motivo de existir 216 Juízos de fato e juízos de valor O primeiro a definir o que é juízo foi Aristóteles Ele acreditava que o juízo é uma das faculdades da alma dos animais que é produzido pelo pensamento e pelas sensações Ele acreditava que tínhamos a capacidade de julgar as qualidades sensíveis das coisas e atribuir a elas determinado valor Essa concepção de juízo ainda é a mesma que usamos hoje em dia Fazemos uma distinção entre os juízos de fato e juízos de valor O juízo de fato apenas descreve o fato Então se dizemos É dia estamos apenas afirmando que não é noite Isso é um juízo de fato 51 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Por outro lado se dizemos O dia está bonito estamos fazendo um julgamento a respeito da qualidade do dia e isso é um juízo de valor Para a Filosofia é muito importante fazermos essa distinção por uma questão lógica Se perguntamos para alguém se está de noite esperamos que a resposta seja apenas o juízo de fato Cabem aqui duas respostas Sim é noite ou Não é dia Mas quando uma pessoa responde para gente que Sim já está muito tarde ela está emitindo um juízo de valor Está comparando aquilo que é cedo e com aquilo que é tarde Mas para cada um de nós cedo ou tarde depende da hora que acordamos Então chegamos à conclusão de que os juízos de fato são aqueles em que não cabe uma posição subjetiva pessoal a respeito da compreensão do fato Por outro lado o juízo de valor será sempre questionado caso não concorde com a opinião de julgamento da outra pessoa Os juízos de fato são constatações de um fato Os juízos de valor são aquilo que pensamos sobre um fato 217 A esfera da moral é o lugar das ações e das escolhas humanas das suas normas e dos seus valores Quando falamos da esfera da moral nos referimos ao conjunto dos juízos de valores que adotamos para nossa vida Nesse sentido todos nós acreditamos que determinadas escolhas são boas e outras são más Portanto adotamos normas que de alguma forma determinam a regra pela qual julgamos as nossas ações e de todas as outras pessoas Essas regras costumam ser aprendidas por todos nós durante a infância Aprendemos com a nossa família a considerar determinadas coisas corretas e outras incorretas Como a nossa família participa de uma sociedade e como cada sociedade exibe uma determinada cultura os valores de nossa família costumam espelhar os valores da cultura da nossa sociedade Dessa maneira a esfera moral contém juízos de valor que são compartilhados pela nossa sociedade Mas em determinadas situações podemos eventualmente fazer julgamentos morais que fogem aos valores da nossa sociedade Isso acontece quando somos obrigados a fazer escolhas em situações inusitadas isto é situações que não acontecem no dia a dia Nessas situações que às vezes são chamadas de situaçõeslimite em muitas circunstâncias não conseguimos usar a razão e respondemos diretamente com os sentimentos com as emoções Por exemplo se estamos dentro de um apartamento que está pegando fogo devemos fugir para nos salvar ou devemos tentar salvar as outras pessoas que estão dentro dele A maioria das pessoas deve responder que depende da possibilidade de termos sucesso de salvarmos as outras pessoas Se houver uma possibilidade de salvarmos a nós mesmos e a mais alguém devemos então tentar salvar essa pessoa também Mas se eventualmente o salvamento da outra pessoa pode nos levar à morte certa é provável que tentemos nos salvar sozinhos Toda vez que a dúvida entre o que é certo e o que é errado surge de forma muito forte dentro de nós sentimos culpa Essa culpa decorre da dúvida entre se realmente agimos de acordo com o nosso juízo de valor ou instintivamente como um animal 52 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 218 Seguir a natureza pode ser uma regra moral Há uma grande confusão quando dizemos que devemos seguir a natureza Primeiro porque quando falamos de natureza abordamos uma quantidade grande de coisas ao mesmo tempo A natureza pode ser tudo que existe pode ser a nossa forma de ser ou pode simplesmente utilizar os instintos em determinada situação De acordo com o pensamento de Aristóteles devemos estar sempre em equilíbrio com a natureza Nesse caso ele sugeriu que devemos estar sempre em equilíbrio com tudo que existe Portanto para Aristóteles o equilíbrio com a natureza é encontrar uma justa medida para fazermos as escolhas morais A justa medida não significa o meio do caminho ou meiotermo Quer dizer principalmente raciocinarmos a cada situação para saber se estamos fazendo uma coisa que é boa para nós e para tudo o que existe ou se simplesmente estamos fazendo alguma coisa que é apenas boa para nós mesmos 219 A moral é uma questão de sentimento Agora que sabemos que a esfera moral é o conjunto de juízos de valor de um indivíduo de uma sociedade ou de uma cultura precisamos entender se esses juízos de valor nascem sempre de sentimentos ou de sensações daquilo que é certo e o que é errado Não cabe aqui discutir se são as normas que determinam a regra ou se são as regras que determinam as normas Tudo o que é normativo de alguma forma exibe uma técnica com maior ou menor conteúdo de racionalidade a qual deve ajudar o pensamento a fazer as escolhas Foi o filósofo francês Blaise Pascal quem primeiro separou os sentimentos do raciocínio Segundo ele aqueles que estavam acostumados a julgar com sentimento nada entendiam das coisas do raciocínio uma vez que queriam perceber tudo a partir do olhar e não estavam acostumados a buscar princípios para seus valores Por outro lado aqueles acostumados a raciocinar por princípios e valores nada entendiam das coisas do sentimento e certamente não é possível desenvolver princípios e valores apenas com o olhar Mas o filósofo suíço JeanJacques Rousseau sugeriu que a volta à natureza seria capaz de libertar os homens dos males produzidos pelos artificialismos sociais e de reconduzilos à bondade original Segundo ele isso seria uma volta ao primitivo sentimento natural que é o instinto que conduziria o homem para o bem Kant organizou a ideia de sentimento comum dos poderes ou faculdades da alma Para ele a alma tinha a possibilidade de raciocinar de exprimir o sentimento de prazer e dor e também o poder de desejar Kant acreditava que o respeito é um tipo de sentimento moral Segundo ele o respeito era o único sentimento produzido apenas pela razão Durante o século XIX aconteceu um movimento filosófico que influenciou as artes o Idealismo O termo idealista significa com um ideal Os idealistas acreditavam que através da experiência mística 53 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR e da fé era possível superar os limites da razão humana Segundo os idealistas o sentimento podia ser considerado a infinidade da consciência Em outras palavras a razão sempre experimentaria até conhecer a verdade mas os sentimentos nos dariam imediatamente a noção de consciência O mundo seria portanto a consciência dos valores Outra escola de Filosofia do século XIX chamada de Pragmatismo acreditava que a racionalidade também é um tipo de sentimento Até mesmo o positivista Augusto Comte acreditava que o maior atributo moral era o altruísmo que é um sentimento Quando as pessoas forem todas altruístas elas de alguma maneira terão maior qualidade de juízo moral do que raciocinando a respeito dos valores Isso porque o altruísmo é o sentimento de querer o bem do outro Durante todo o século XIX acreditouse que o espírito de uma pessoa tem a faculdade do conhecimento do sentimento e da vontade O conhecimento distinguia o que é verdadeiro e o que é falso o sentimento saberia o que belo e o que é feio e a vontade perceberia a diferença entre o bem e o mal Hoje em dia o senso comum costuma seguir as ideais do filósofo alemão Max Scheler Segundo ele o sentimento permite o acesso a um mundo de objetos que são tão reais quanto às coisas ou os fatos mas que não são nem coisas nem fatos e sim valores Então a relação entre o sentimento e o valor seria a mesma observada entre a representação de um objeto e o objeto em si Explicado de outra forma a relação entre um desenho do sol e o sol que vemos no céu permite que saibamos que o desenho é sua representação e a estrela no céu é a coisa em si Também a relação entre sentir a bondade e a bondade de fato é a representação de sermos bons em determinada situação onde deveríamos agir com bondade Heidegger concordou com Scheler e sugeriu que o sentimento é uma manifestação essencial do ser no mundo A partir de uma situação afetiva o homem se abre para perceber as coisas do mundo Essa percepção do mundo a partir do sentimento faria nos comportar com coragem ou com medo em relação à natureza 2110 Alguns exemplos das diversas posições filosóficas a respeito do bem e do mal Para a Filosofia a palavra bem muitas vezes pode ser substituída pela ideia de valor Por isso é que dizemos que um automóvel é um bem que um apartamento é um bem e que dividimos as coisas hoje em dia entre bens móveis e imóveis Um bem também é uma ação virtuosa um comportamento que nós aprovamos O resultado de alguma coisa benfeita é uma coisa boa podendo ser também uma coisa bela O bem é também uma grande meta do comportamento humano Ele é organizado a partir dos costumes que formam o conjunto dos bons juízos de valor os quais chamamos de moral Nesse sentido o bem moral é o objeto da ética Para a teoria metafísica o bem é a realidade perfeita ou suprema que só é encontrada em Deus De acordo com Platão o bem confere verdade aos objetos que podemos conhecer Platão comparou o bem ao sol que dá aos objetos não só a possibilidade de serem vistos como também de serem gerados de crescerem e de se alimentarem O bem seria também a fonte da verdade e do ser 54 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Para Plotino o bem seria a origem da realidade e o próprio Deus É dessa forma que a Filosofia medieval entendia o bem São Tomás de Aquino concorda com Plotino e vai além Para ele o bem permite a constituição daquilo que é perfeito e por ser perfeito também é apetecível e por ser apetecível também é bom Apetecível significa que é bom para os sentidos e desperta o apetite Todas as filosofias idealistas e espiritualistas identificam o bem como a realidade suprema e portanto com Deus O bem enquanto um valor moral seria a realidade espiritual na sua forma ideal Por outro lado para o Aristóteles o bem não é desejado por ser perfeição e realidade mas ao contrário é a perfeição e a realidade que nós desejamos Segundo ele nós desejamos um bem absoluto que é melhor do que um bem para alguém Isso quer dizer que na doutrina de Aristóteles é melhor desejar a justiça que é absoluta do que desejar que um homem seja justo porque isto é apenas um bem particular Seguindo a doutrina de Aristóteles os estoicos consideraram o bem como um objeto de escolha obrigatória Segundo eles o bem é um valor A maior qualidade do bem é ajudar e o bem maior seria a razão pois permitiria fazer as escolhas boas Esse tipo de visão aristotélica retorna na história da filosofia durante o Iluminismo Hobbes no seu livro Leviatã escreveu que O homem chama de bom o objeto de seu apetite ou de seu desejo de mau o objeto de seu ódio ou de sua aversão de vil o objeto de seu desprezo As palavras bom mau vil são sempre entendidas em relação a quem as emprega porque nada há de absoluto e simplesmente tal e não há nenhuma norma comum para o bem e para mal que derive da natureza das coisas HOBBES 2008 Espinosa concordou com Hobbes e escreveu que o bem e o mal não indicam nada positivo ou negativo que esteja nas coisas consideradas em si pois são modos de pensar Para ele as noções que formamos ao confrontar as coisas podem indicar que realmente uma mesma coisa pode ser ao mesmo tempo boa má e até indiferente Locke afirmou que o que chamamos de bem é aquilo que é capaz de produzir prazer em nós e denominamos mal o que é capaz de produzir sofrimento Leibniz sugeriu que o bem se divide em honesto agradável e útil e que no fundo deveria ser agradável por si mesmo Kant concordou com essas observações e acrescentou que o bem é aquilo que por intermédio da razão agrada pelo seu conceito puro Kant foi o primeiro a notar que um alimento agradável para ser considerado bom deveria também agradar a razão ou seja ter como objetivo também a nutrição e a saúde e portanto fazer o bem Para Kant o bem só existe em relação ao ser humano por conta do interesse que este tem por sua sobrevivência Exemplo de aplicação Escreva uma lista com tudo aquilo que você considera do bem Depois troque sua lista com uma colega e peça para elea escrever o mal que corresponde a cada bem Faça a mesma coisa com a lista delea 55 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 22 A universalidade e a relatividade dos valores 221 Universalismo A ideia de universalismo tem na Filosofia dois significados no sentido da religião significa uma doutrina que acredita que Deus quer salvar todos os homens assim sendo contrária à ideia de destino no sentido do universalismo tem sentido ético pois pressupõe uma doutrina contrária ao individualismo Esse tipo de doutrina universalista acredita que um indivíduo está sempre subordinado a uma comunidade seja o Estado a nação ou mesmo a humanidade 222 O que é diversidade cultural Na explicação de Aristóteles a diversidade é uma forma de diferença mas é uma diferença que inclui uma grande quantidade de coisas diferentes Os povos acabaram desenvolvendo formas diferentes de entendimento do mundo Assim também os filósofos de cada nação desenvolveram ideias que muitas vezes estavam influenciadas tanto pela língua que falavam quanto pelo lugar em que viviam A cultura de cada lugar permitiu o desenvolvimento da educação de uma forma diferente E por mais que no mundo ocidental a Igreja Católica tivesse sido a principal fonte de educação seguida mais tarde pelas igrejas protestantes foi apenas durante o Iluminismo que se conseguiu promover a ideia de cultura como um bem de todos A cultura nesse sentido deve ser compartilhada pelas pessoas para que seja possível o desenvolvimento e a formação de competências específicas que visam melhorar o sentido de colaboração numa sociedade Mesmo pequenos grupos dentro de uma sociedade acabam desenvolvendo formas muito próprias de entendimento das coisas e do mundo Pessoas de países diferentes quando conversam umas com as outras acabam demonstrando que este entendimento das coisas e do mundo pode ser muito diferente São essas diferenças de entendimento que nós chamamos de diversidade cultural 223 As noções de certo e errado são universais ou relativas aos costumes A virtude como capacidade de realizar uma determinada tarefa é um conceito platônico Assim como a função dos olhos é ver a possibilidade de ver é a virtude dos olhos A alma teria as suas próprias funções e capacidades e cumprilas seria a virtude da alma Por isso segundo Platão a diversidade das virtudes é determinada pela diversidade das funções que devem ser cumpridas pela alma ou pelo homem Quando a Filosofia discute a consciência fala também sobre o caráter da relação que a mente tem com ela mesma Segundo São Tomás de Aquino Nossa mente conhece a si mesma por si mesma enquanto conhece sua própria existência com efeito enquanto percebe sua própria atividade percebe sua própria existência AQUINO 2011 Este tipo de pensamento leva as pessoas a acreditar que por existir a consciência existe também a certeza do que é certo e do que é errado 56 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Todas as filosofias baseadas no pensamento de Platão e no cristianismo acreditam que existe uma relação do homem com ele mesmo que permite a cada um conhecer a verdade e a certeza Isso significa que todo ser humano teria a capacidade intrínseca de distinguir o que é certo do que é errado Mais recentemente no século XX adotouse a ideia relativista pensada pelo historiador alemão Oswald Spengler Ele verificou que as civilizações acabam construindo formas diferentes de cultura Ele sugeriu que a cultura de determinado povo é que faz surgir uma civilização E toda civilização acaba se esgotando com o tempo tal como um organismo vivo Então ficou bem claro que ao adotar esta ideia de diferentes culturas formando variadas civilizações existe uma diversidade cultural Percebeuse que por mais que o ser humano tenha consciência do que é certo e errado diferentes culturas e civilizações podem desenvolver leis de uma forma que elas consideram mais certas para um ato de conduta das pessoas que participam daquela civilização Mesmo assim todas as nações que participam da Organização das Nações Unidas deveriam respeitar o conceito dos direitos universais do ser humano Saiba mais Para se aprofundar mais no assunto acesse o link ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS Declaração Universal dos Direitos Humanos Biblioteca Virtual de Direitos Humanos sd Disponível em httpwwwdireitoshumanosuspbrindexphp DeclaraC3A7C3A3oUniversaldosDireitosHumanosdeclaracao universaldosdireitoshumanoshtml Acesso em 11 jul 2018 224 O que é o etnocentrismo Etnocentrismo é um conceito antropológico Antropológico faz referência ao estudo do homem da humanidade e de suas civilizações Quando uma pessoa ou um grupo de pessoas têm os mesmos hábitos e formas de se comportar elas costumam acreditar que as pessoas que não têm esses mesmos hábitos são inferiores Esse conceito de achar que a pessoa que faz as coisas de uma forma diferente é uma pessoa inferior é basicamente uma ideia etnocêntrica Claro que todos nós temos a tendência de acreditar que a nossa forma de ver o mundo e a nossa forma de fazer as coisas é a melhor que existe No entanto isso não é verdade Todos os agrupamentos humanos acabam desenvolvendo formas de fazer as coisas e de ver o mundo de acordo com a posição geográfica em que habitam o planeta Não podemos acreditar que um índio no meio da floresta vai ter os mesmos hábitos que um árabe andando de camelo pelo deserto A forma que cada um vai acreditar que é a certa vai depender diretamente do ambiente no qual vive 57 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR É claro que se um índio da floresta for passear no meio do deserto ou se o árabe for se meter no meio da floresta nenhum de seus conhecimentos será suficientemente adequado para eles se saírem bem Essa inadequação serve de base para o etnocentrismo Nós fazemos isso desse jeito e portanto essa maneira é a melhor Desde o século XVIII seguindo as ideais de Kant que esperamos que os homens se comportem a partir da razão Isso significa que precisamos raciocinar para ver se realmente a nossa forma de viver é melhor do que outra qualquer Significa também que devemos usar a razão para avaliar melhor os diferentes costumes de cada ser humano Exemplo de aplicação Quando alguém diz que outro país é melhor do que o Brasil esta pessoa está fazendo um julgamento etnocêntrico Podese condenar um costume de alguma cultura em nome da humanidade Com o Iluminismo nasceu a ideia de que a razão deveria imperar Um dos ideais mais fortes do Iluminismo era a possibilidade do governo do povo para o povo e pelo povo O primeiro país a fazer isso foram os EUA Pouco depois a França também promovia a Revolução Francesa instituindo regras apoiadas na razão Do século XVIII ao final do século XX percebeuse que as formas de relacionamento pessoal entre pais e filhos entre vizinhos entre pessoas do mesmo bairro não deveriam ser tão diferentes se fossem apoiadas na razão e não nos costumes Isso significa que depois da Segunda Guerra Mundial muitos países adotaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos Essa declaração visou reafirmar os princípios de conduta ética e de valores morais para todos os países que voluntariamente decidiram participar da Organização das Nações Unidas ONU 225 O que é relativismo cultural O relativismo cultural é o contrário do etnocentrismo Sua filosofia é respeitar os hábitos e os costumes das diferentes culturas e civilizações mas existe aí um problema devemos aceitar todos os hábitos e costumes das outras pessoas Mesmo alguns países que pertencem à ONU mantiveram alguns costumes e tradições baseados na religião Por exemplo existem países onde as mulheres acusadas de infidelidade são apedrejadas até a morte Em outros cortase a mão do ladrão como punição pelo roubo Há países ainda mais severos em que uma pessoa que cometeu um crime considerado grave é morta por fuzilamento com um tiro e a bala tem de ser paga pela sua família Hoje em dia a tendência é respeitar cada vez mais a Declaração Universal dos Direitos Humanos Por esse motivo que alguns costumes milenares de certos países são questionados por pessoas de culturas diferentes sendo considerados cruéis e desumanos Com a Internet é possível 58 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I fazer reclamações internacionais reunindo pessoas de muitos países para criticar os costumes de determinados lugares Eventualmente isso vem melhorando a situação das pessoas que são cruelmente tratadas nos seus próprios países por causa de tradições e costumes Tudo em nome do respeito ao ser humano 226 Quais são as diferenças entre as posições universalistas e as relativistas em relação aos valores A posição relativista em relação aos valores foi defendida primeiro pelos sofistas os quais eram pessoas com grande conhecimento a respeito da Filosofia e utilizados como uma espécie de advogados para defender as pessoas perante os tribunais Os sofistas não eram considerados filósofos porque eles distorciam o conhecimento e a verdade sempre a favor daqueles que os pagavam Para os sofistas a verdade seria sempre uma aceitação coletiva um consenso de um determinado ponto de vista Aquele que conseguisse explicar melhor a sua verdade conseguiria alcançar a justiça naquele momento Sócrates porém defendeu a que a virtude é que produz o conhecimento A ignorância é que fabrica as faltas morais Na Antropologia relativismo é o contrário de etnocentrismo Se por um lado no etnocentrismo as pessoas acreditam que aquilo que elas fazem é melhor no relativismo exagerase o outro lado acreditando que tudo o que todo mundo faz é muito bom Ora sabemos que existem muitas coisas que são feitas que acabam prejudicando todos os seres humanos Hoje temos conhecimento de que não podemos concordar com o desmatamento Mas durante séculos os povos desmataram as florestas e atualmente sentimos falta das áreas verdes Assim não podemos exagerar em nenhuma direção devemos sempre raciocinar para verificar se todas as pessoas estão sendo beneficiadas ou prejudicadas por uma determinada ação 227 Devemos falar em cultura ou em culturas Hoje em dia compreendemos que existem muitas culturas Não é mais possível pensarmos numa única cultura universal Por outro lado cada vez mais as culturas acabam conversando entre si Com essa troca cultural aprendemos coisas interessantes e inteligentes que nem conhecíamos na nossa cultura Sabemos que as diferenças culturais devem ser respeitadas principalmente se essas diferenças dizem respeito à religião Todas as religiões em princípio rezam a Deus e acreditam que o homem é bom Então devemos fazer diferença entre as coisas que são iguais para todas as culturas e as coisas que são diferentes para determinadas culturas e não devemos menosprezar a cultura de outra pessoa simplesmente porque ela é diferente da nossa 59 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 228 Há culturas superiores às outras As culturas não são propriamente superiores às outras Elas são adaptadas basicamente para resolver os problemas que surgem na região geográfica que habitam Nesse sentido podemos dizer que a cultura do índio é superior dentro da floresta pois ele sabe lidar melhor com a floresta do que nós A cultura do esquimó é superior para lidar melhor com o frio do Alasca do que a nossa cultura que não está acostumada com tanta neve e gelo Não existem realmente culturas superiores às outras Elas são adaptadas aos locais onde as pessoas vivem Por outro lado algumas culturas e civilizações permitem mais rapidamente o progresso da ciência Outras preferem manter as pessoas vivendo da mesma forma que elas viviam há 100 ou 200 anos atrás Há uma diferença do uso da razão nessas culturas A razão é que permite a pesquisa empírica e a divulgação dos resultados das pesquisas para que outras pessoas também possam avançar na busca pelo conhecimento Ainda não conhecemos muitas coisas nem mesmo do corpo humano Não sabemos por exemplo como o cérebro funciona e a origem de determinadas doenças como o câncer As culturas e civilizações que entram em contato com aquelas que fazem pesquisas científicas a partir da razão acabam sendo influenciadas por elas mas é difícil que o contrário aconteça Um exemplo disso é que hoje em dia os índios vão ao hospital e tomam remédios e outros brasileiros não escolhem a medicina indígena para curar os seus males 23 O bem e o mal Quando nos é perguntado qual a diferença entre o bem e o mal a primeira ideia que nos ocorre é extremamente aristotélica o bem e o mal em princípio são duas coisas do mesmo gênero que exibem a maior diferença entre si É parecido com a diferença entre calor e frio ou verdadeiro e falso No sentido mais geral a Filosofia metafísica sugere que o bem é a realidade perfeita ou suprema e é desejado como tal Há também uma teoria subjetivista segundo a qual o bem é o que é desejado ou que agrada Um modelo de todas as teorias metafísicas sobre o bem e o mal vem de Platão Para Platão o bem é o que confere a verdade aos objetos que podemos perceber e também dá ao homem o poder de conhecêlos Então o bem é a fonte de todo ser nos homens e fora dos homens Aqueles que seguiram as ideias de Platão os chamados neoplatônicos consideraram que a existência do mal condiciona a existência do bem Em outras palavras se não houvesse mentira não haveria a verdade Os estoicos pensavam que o mal não é exatamente mau pois é necessário para o equilíbrio do universo Mas esse equilíbrio acaba sendo a base para pensar que o mal equivale ao não ser Isso porque os estoicos imaginavam que tudo que existe é um bem e portanto tudo que é mau em princípio viria do mal e não existiria de fato 60 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Plotino desenvolveu este raciocínio de uma forma ainda mais complicada Segundo ele os seres vivos foram criados por Deus em Deus não existe o mal e nos seres criados por Deus também não existe o mal O mal seria uma qualidade da matéria e a matéria não é viva e portanto um não ser Ele escreveu que O Mal não consiste na deficiência parcial mas na deficiência total o que carece parcialmente de bem não é mau e pode até ser perfeito em seu gênero Mas quando há deficiência total como na matéria temse o verdadeiro Mal que não tem parte alguma de bem A matéria não tem sequer o ser que lhe possibilitaria participar do bem podese dizer que ela é apenas em sentido equívoco na verdade a matéria é o próprio não ser PLOTINO 2016 A identificação do mal como não ser foi adotado pela filosofia cristã Segundo Santo Agostinho nenhuma natureza é má e esse nome indica apenas a privação do bem Assim todas as coisas são boas e o mal não faz parte de nenhuma substância A formulação mais simples e completa a respeito do mal como não ser foi sugerida por São Tomás de Aquino Uma vez que bem é tudo o que é apetecível e uma vez que a cada natureza apetece seu ser e sua perfeição cumpre dizer que o ser e a perfeição de qualquer natureza são essencialmente bem Portanto não pode acontecer que Mal signifique algum ser alguma forma ou natureza concluise pois que significa apenas a ausência do bem AQUINO 2001 A confusão na definição do bem acontecia porque São Tomás de Aquino acreditava que todo o ente enquanto está atuando é perfeito e também perecível seria bom e faria parte do bem Para ele todo o bem de alguma maneira estaria relacionado à possibilidade de ser perecível ou seja de ser conhecido a partir dos sentidos Isso confere a todos os entes a realidade e o bem se configura como realidade suprema Ao longo dos séculos o mal foi entendido como uma não presença e o ser foi sempre entendido como a presença do bem Já na Idade Moderna Hegel sugeriu que o bem fosse equivalente à racionalidade e o mal seria a expressão da falta da vontade de ser racional Em 1909 o filósofo italiano Benedito Croce pensou que o mal quando real só existe no bem e quando se opõe ao bem o vence Portanto o mal não existiria enquanto fato positivo e quando se tornasse positivo já não seria um mal mas sim um bem que conteria a sombra do mal Quando Kant escreveu sobre religião ele sugeriu que a percepção do mal radical está no pecado original Segundo ele o homem teria adquirido o mal pessoal do qual não conseguiria se livrar A malícia seria a motivação das ações do mal enquanto mal A única forma de se livrar do mal seria aceitando os princípios morais A aceitação desses princípios não se opõe à sensibilidade mas muitas vezes levados pela astúcia de Satanás tenderíamos a aceitar a falta de princípios Esta outra maneira de pensar o mal não considera nem realidade nem irrealidade mas o objeto negativo do desejo e dos juízos de valores para ela os únicos objetos da razão prática são o bem e o mal 61 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Ao utilizar a razão prática os seres humanos deveriam perceber que o bem é uma coisa necessária para se desejar e o mal uma coisa necessária para se repelir sempre a partir da racionalidade Ao julgarmos o bem e o mal não haveria como abrir mão das possibilidades do desejo Então o bem e o mal funcionariam como adjetivos de um desejo e não existiriam em si O mal seria apenas um juízo negativo de valor e a expressão do desejo desprovido de racionalidade Eventualmente para Kant poderia existir um mal radical que faria a natureza humana transgredir as normas morais criando assim um desvalor na conduta dos seres humanos De alguma maneira até hoje concordamos com Kant quando falamos sobre o bem e o mal 231 O bem e o mal dependem da perspectiva de quem os define Há uma outra concepção metafísica do mal que o considera como um conflito interno do ser Quando ficamos expostos a uma luta entre os dois princípios de bem e de mal o domínio do ser dividese em dois campos opostos e dominados por princípios antagônicos Esta segunda concepção metafísica do mal o considera um conflito interno Este modelo de pensar nasceu com a concepção religiosa de Zaratustra um filósofo persa Esta solução para o mal resolve o problema de uma forma muito simples Muitos acreditam que o mal funciona exatamente dessa maneira Essa solução tem como consequência a ideia de que o bem e o mal são reais evitando a redução do mal ao nada que é muito pouco convincente aos nossos ouvidos A seita dos maniqueus acreditava nesta distinção pois entendia a dualidade do mundo Mas os cristãos sempre acreditaram que o bem e o mal estavam em Deus e não podiam ser entendidos como duas coisas separadas Isso porque eles não podiam aceitar que existe uma coisa do mesmo tamanho que Deus o Diabo que pudesse ser o causador de coisas opostas a Deus pois nada é do tamanho de Deus Os filósofos cristãos nunca admitiram esta separação dos dois princípios Quando Hegel aceitou essa solução modificoua no sentido de incluir ambos os princípios em Deus considerando o princípio do bem e o do mal unidos em Deus justamente em virtude de seu conflito Mas vários filósofos entre eles São Tomás de Aquino Descartes e Espinosa concordaram que o arrependimento era o reconhecimento angustiado da própria culpa Assim arrependerse de alguma coisa seria um princípio e o reconhecimento de ter agido mal e sem razão Segundo Espinosa toda vez que desejamos e queremos alguma coisa é porque nós a julgamos boa Então para Espinosa o bem e o mal não indicariam nada a respeito das coisas mas simplesmente os modos em que nós pensamos a respeito delas O bem e o mal indicariam a maneira que nós fazemos as nossas escolhas e o modo que pensamos a respeito das ações Nesse sentido qualquer coisa pode ser boa ou má ou até mesmo indiferente depende apenas da maneira que nós pensamos a respeito delas No século XIX o filósofo alemão Nietzsche pensou que um ser humano pode em princípio se relacionar com o mundo sem levar em consideração os princípios do bem e do mal Por causa disso ele percebeu que existe a amoralidade na possibilidade das escolhas pessoais o que tornaria esta pessoa um ser amoral 62 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I O Maniqueísmo foi uma doutrina do sacerdote persa Mani em latim Manichaeus que viveu no século III e proclamouse o Paracleto aquele que devia conduzir a doutrina cristã à perfeição Ela é uma mistura imaginosa de elementos gnósticos cristãos e orientais sobre as bases do dualismo da religião de Zoroastro Para eles existem dois princípios um do bem ou princípio da luz e outro do mal ou princípio das trevas Eles são representados por duas almas a corpórea que é a do mal e a luminosa que é a do bem Podese chegar ao predomínio da alma luminosa através de uma ascese particular que consiste em três comportamentos de abstenção de comer carne e manter conversas impuras da propriedade e do trabalho e com relação ao sexo O Maniqueísmo foi muito difundido no Oriente e no Ocidente e na Europa existiu até o século VII 232 É possível querer o mal Aristóteles foi o primeiro a pensar na possibilidade de fazermos o mal Isso pode acontecer no momento em que pensamos por analogia que é um procedimento que fazemos com o pensamento quando usamos o conhecimento que temos de outra coisa Veja esta frase de Aristóteles A probabilidade também aparece no procedimento por semelhança quando se diz o contrário do contrário por exemplo se é preciso fazer o bem aos amigos podese dizer por semelhança que é preciso fazer o mal aos inimigos ARISTÓTELES 2009 O próprio Aristóteles comentou que fazer um mal é tão diferente de fazer o bem que não há possibilidade de compararmos as duas coisas Portanto a analogia não é válida O primeiro a escrever a respeito de fazer o mal foi o italiano Maquiavel No seu livro O Príncipe Maquiavel sugeriu que para governar é necessário que se faça todo o mal de uma só vez e que o bem se administra aos pouquinhos Essa seria a maneira do príncipe ser querido pelo povo Atribuise a Maquiavel a ideia de que o fim justifica os meios mas Maquiavel nunca escreveu isso É apenas uma simplificação para descrever a sua maneira de pensar Na verdade foi o padre jesuíta Busenbaum na Alemanha quem escreveu sobre a ideia de quando o fim é lícito os meios também são lícitos Já no Idealismo Schelling afirmou que estando o bem e o mal mesmo como princípios inscritos em Deus para Ele não existe esta diferença Mas para os homens existe a separação entre o bem e o mal e isso gera conflito Querer o mal gera um conflito de princípios e portanto a escolha do mal gera a culpa Observação Hermann Busenbaum nasceu na Westfália em 1600 e morreu em Munster em 1668 na Alemanha Foi um jesuíta e teólogo moralista Alcançou fama como um mestre da casuística na Universidade de Colônia e seu nome cresceu em razão de seu célebre livro Medulla theologiae moralis facili ac perspicua methodo resolvens casus conscientiae 1645 Este manual foi muito popular e teve mais de 200 edições até 1776 Busenbaum também escreveu um livro sobre a vida ascética Lilium inter spinas 63 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 233 O belo e o feio Podemos ficar surpresos quando descobrimos que a ideia de belo e de beleza que nós temos hoje em dia só começou a existir a partir do século XVIII quando se começou a pensar na estética Esta surgiu quando se percebeu que nós todos temos um determinado gosto Ou seja apreciamos mais determinadas coisas do que de outras Geralmente isso está ligado a alguma apreensão de sentidos Nós gostamos de ver determinadas coisas de ouvir músicas que nos agradam ou mesmo de comer certos alimentos Mas a descoberta do belo teve um percurso filosófico Inicialmente o belo foi considerado por Platão como uma manifestação do bem e da verdade Aristóteles seguindo uma ideia de Pitágoras pensou que o belo era tudo aquilo que era simétrico A doutrina do belo como simetria significa que o belo é constituído pela ordem e a simetria confere uma grandeza capaz de ser percebida em seu conjunto por um só olhar Essas ideias sugerem também que o belo é tudo aquilo que acreditamos que exibe a qualidade da perfeição Seguindo a ideia de Aristóteles e influenciado pela doutrina cristã Plotino sugeriu que o belo é o bem proporcionado por Deus que dá beleza a todas as coisas O bem em seu estado maior viria de Deus e todas as coisas que Ele criou seriam belas Os estoicos acreditavam que no corpo existia uma harmonia de feições bem proporcionadas unida a um belo colorido denominada beleza Também para a alma a uniformidade e a coerência das opiniões e dos juízos unida à certa firmeza que é consequência da virtude chamase beleza Essa doutrina foi aceita por muito tempo e adotada pelos escolásticos e por muitos escritores e artistas do Iluminismo quando quiseram explicar o que procuravam fazer com a sua arte Kant unificou essas duas definições complementares de belo e insistiu naquilo que até hoje é considerado seu caráter fundamental isto é o desinteresse Consequentemente definia o belo como o que agrada universalmente e sem conceitos ABBAGNANO 2007 p 115 Ele insistiu na independência entre o prazer do belo e qualquer interesse tanto sensível quanto racional Cada um chama de agradável o que o satisfaz de belo o que lhe agrada de bom o que aprecia ou aprova aquilo a que confere um valor objetivo O prazer também vale para os animais irracionais a beleza só para os homens em sua qualidade de seres animais mas racionais e não só por serem racionais mas por serem ao mesmo tempo animais O bom tem valor para todo ser racional em geral KANT 2008 p14 Com a doutrina de Kant o conceito de belo foi reconhecido numa esfera específica e se transformou numa classe de valores fundamentais O belo o verdadeiro e o bem constituíramse no correspondente às três formas de atividade próprias do ser humano intelecto sentimento e vontade Assim Kant uniu a ideia de belo de Aristóteles e de Platão A ideia do belo como manifestação da verdade é forte no Idealismo Para Hegel O belo definese como a aparição sensível da ideia ABBAGNANO 2007 Isso significa que beleza e verdade são a mesma coisa 64 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I e que se distinguem só porque enquanto na verdade a ideia tem manifestação objetiva e universal no belo ela tem manifestação sensível Dessa maneira ele determinou que a estética e a ética se equivalem Em outras palavras quando vemos uma casa sabemos pela sua aparência se ela é boa de morar Quando olhamos uma pessoa sabemos por sua aparência qual o seu caráter 3 A LIBERDADE E O DETERMINISMO A ideia do determinismo nasceu para diferenciar aquilo que nós podemos determinar a partir de uma ação humana da antiga ideia de destino No passado a ideia de destino isto é a ideia de que a nossa vida estaria de alguma maneira já determinada foi aceita por várias crenças e religiões Mas o destino sempre estava atribuído à ideia de um deus Fosse um deus pagão ou o Deus das grandes religiões o destino sempre aparecia como uma forma de predeterminar a nossa vida À medida que os filósofos foram percebendo que a razão é o que permite ao ser humano fazer escolhas a partir de princípios morais foi necessária a adoção de um termo que explicasse as nossas opções pelas boas ações Essa nova forma de pensar chamou de determinismo as ações feitas por uma pessoa determinada a agir em busca do bem e através de princípios morais Kant notou que o determinismo seria na verdade um predeterminismo Isso significa que o motivo para uma ação está no momento em que pensamos como vamos atuar Kant sugeriu que existe uma dimensão universal do princípio de causalidade O que ele quis dizer com isso é que as nossas ações e todos os acontecimentos do mundo causam algum resultado o qual é chamado de efeito Portanto ele percebeu que a ideia do determinismo é a ideia de que tudo tem causa e efeito Um exemplo simples é que se saímos de casa em cima da hora o efeito deverá ser de chegarmos atrasados Alguns filósofos como o inglês Joseph Priestley em 1777 sugeriu que os motivos influenciam a vontade com a mesma certeza que a força da gravidade age sobre uma pedra Quando examinamos um comportamento verificamos que a pessoa só poderia ter agido daquela forma Voltando ao nosso exemplo de chegar atrasado isso quer dizer que ao examinarmos o motivo pelo qual alguém saiu em cima da hora vamos descobrir que havia razões imperiosas para o atraso A filosofia positivista do século XIX traz repetidamente este conceito Para eles havia um princípio absoluto na ciência que obrigava que se pensasse claramente quais os motivos de uma determinada experiência científica a fim de encontrar o resultado esperado Esse conceito está baseado na hipótese de que o funcionamento das coisas só pode ser constatado com pensamentos a priori que possam ser comprovados com as experiências científicas A ideia tanto no século XIX como hoje em dia é que ao reproduzir as mesmas condições em que foi feita uma experiência científica qualquer um possa chegar ao mesmo resultado Assim tanto na ciência experimental como na matemática seria possível alcançar sempre o mesmo resultado uma vez que se tivesse determinado as condições na qual a experiência tiver sido feita Esse tipo de pensamento está fundamentado na ideia de que uma vez controladas as condições de uma experiência é possível chegar sempre ao mesmo resultado No século XX com a descoberta da física 65 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR quântica e com a teoria da relatividade de Einstein percebeuse que em níveis atômicos ou espaciais nem sempre conseguimos observar alguma coisa sem influenciar o resultado Isso acontece porque quando estamos pesquisando o átomo e suas partículas ou a luz e os conceitos do universo cada vez que observamos um fenômeno de alguma maneira participamos desse fenômeno e interferimos nele Mas mesmo as pesquisas avançadas de hoje em dia sugerem que a possibilidade de um determinismo é restrita Podemos predeterminar alguns fatores nos novos campos da ciência mas teremos de deduzir outros fatores que ainda não conhecemos e que não podemos controlar Também quando estudamos as ciências humanas como por exemplo a sociologia e a antropologia não temos como verificar todas as variáveis que acabam determinando o efeito de um fenômeno Isso significa que não temos ainda como controlar as muitas variáveis que compõem um fenômeno social Se vamos estudar o trânsito de uma cidade grande podemos prever que em determinados dias algumas ruas estarão mais engarrafadas do que as outras Sabemos disso porque controlamos as evidências do trânsito mas se em determinados dias não acontecer os engarrafamentos que tínhamos previsto isso também é esperado Usando uma linguagem estatística costumase considerar essas diferenças como margem de erro Imaginavase que iria acontecer um engarrafamento mas a margem de erro mostrou que existem dias que isso não acontece Às vezes surge a confusão de que o determinismo impede a liberdade mas antes de concordar ou discordar dessa opinião vamos investigar o que significa liberdade Existem três concepções diferentes a respeito do significado de liberdade O primeiro significado quer dizer que liberdade é a ausência de condições e de limites O segundo diz respeito à possibilidade de autodeterminação do ser humano O terceiro faz menção à possibilidade de escolhas livres mas dentro de certos parâmetros Todas as discussões filosóficas a respeito de liberdade discutem a validade desses significados Aristóteles afirmou que voluntário é aquilo que é princípio de si mesmo Ele explicou isso dessa maneira Nas coisas em que a ação depende de nós a não ação também depende e nas coisas em que podemos dizer não também podemos dizer sim De tal forma que se realizar uma boa ação depende de nós também dependerá de nós não realizar má ação ARISTÓTELES 2009 p 1113 A conclusão é que o ser humano é o princípio de seus atos ARISTÓTELES 2009 p 1113 O filósofo romano Lucrécio entendeu que Podemos desviar nossos movimentos sem sermos determinados pelo tempo nem pelo lugar mas pelo que inspira nosso espírito pois sem dúvida a vontade é o princípio desses atos e através dela o movimento se expande por todos os membros ABBAGNANO 2007 p 606 Então o que essas frases explicam é que somos nós mesmos quem agimos por vontade própria isto é de modo voluntário e livre A noção de liberdade como autocausalidade ou autodeterminação também é o fundamento do conceito de liberdade como necessidade Os estoicos admitiam que eram livres as ações que têm em si mesmas a causa ou o princípio Só o sábio é livre e todos os malvados são escravos pois liberdade é autodeterminação enquanto escravidão é falta da autodeterminação ABBAGNANO 2007 p 606 66 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Epicteto consequentemente escreveu que eram livres as coisas que estão em nosso poder ou seja os atos do homem que têm princípio no próprio homem Esse conceito foi válido durante toda a Idade Média Orígenes foi o primeiro a defendêlo no mundo cristão Para ele a liberdade consiste não só em ter em si a causa dos próprios movimentos mas também em ser essa causa Esta definição que se aplica a todos os seres vivos privilegia o homem porque a causa dos movimentos humanos é aquilo que o próprio homem escolhe como móbil enquanto juiz e árbitro das circunstâncias externas Também Santo Agostinho concorda com essas definições de liberdade na medida em que declara que a alma se movimenta por si só para quem sente em si a vontade ABBAGNANO 2007 Para São Tomás de Aquino o livrearbítrio é a causa do movimento porque por ele o homem determinase a agir ABBAGNANO 2007 Acrescenta que para existir liberdade não é necessário que o homem seja a primeira causa de si mesmo pois como católico ele acreditava que a primeira causa é Deus mas Deus não impede a autocausalidade do homem isto é suas decisões pessoais Ainda segundo Abbagnano Duns Scot afirmou que a liberdade da nossa vontade consiste em poder decidirse por atos opostos seja depois seja no mesmo instante querendo dizer que podemos a qualquer hora decidir qualquer coisa ABBAGNANO 2007 Já para Leibniz a liberdade se conformaria pois a substância livre determinase por si mesma seguindo o motivo do bem que é percebido pela inteligência que a inclina sem necessitála Leibniz conseguiu resumir todas as condições da liberdade em poucas palavras ABBAGNANO 2007 Bergson afirma que o conceito de liberdade que ele acreditava era alguma coisa entre a noção de liberdade moral isto é da independência da pessoa perante tudo o que não é ela mesma ABBAGNANO 2007 p 609 e a noção de livrearbítrio segundo a qual aquilo que é livre depende de si mesmo assim como um efeito depende da causa que o determina necessariamente ABBAGNANO 2007 p 609 Sartre sugeriu que a liberdade é a escolha que o homem faz de seu próprio ser no mundo Mas exatamente por se tratar de uma escolha na medida em que é feita essa escolha geralmente indica outras tantas como possíveis A possibilidade dessas outras escolhas não é explicitada nem proposta mas é vivida no sentimento de injustificabilidade e expressa na absurdidade da minha escolha consequentemente do meu ser Assim minha liberdade devora a minha liberdade Sendo livre projeto o meu possível total mas com isso proponho que sou livre e que posso aniquilar esse meu primeiro projeto e relegálo ao passado SARTRE 2007 p 359 A doutrina de Sartre leva ao extremo o conceito de liberdade como autocausalidade eu faço o que eu quero como eu quero e na hora que eu quero O equivalente político da concepção de liberdade como autocausalidade é a noção de liberdade como ausência de condições ou de regras e recusa de obrigações Numa palavra anarquia Na maioria das vezes esse conceito é utilizado como instrumento de polêmica para negar a própria liberdade Platão foi o primeiro a fazer isso quando pretendeu demonstrar que da demasiada liberdade encontrada no regime democrático nascem a tirania e a escravidão Segundo ele em A República livro VIII a recusa constante de limites e restrições torna os cidadãos tão suscetíveis que tão logo se lhes proponha algo que pareça ameaçar sua liberdade eles se melindram rebelamse e terminam rindo das leis escritas e não escritas porque não querem de forma alguma submeterse a nenhum comando A liberdade pode ser entendida como a ausência de medida recusa de normas 67 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR O filósofo inglês Robert Filmer no século XVII acreditou estar expressando este significado quando escreveu a liberdade consiste em cada um fazer o que lhe aprouver em viver como quiser sem estar vinculado a lei nenhuma ABBAGNANO 2007 No século XIX foi proposta outra coerente noção de liberdade pelo filósofo alemão Max Stirner que defendia que o indivíduo que não tem causa fora de si é sua própria causa e causa de tudo Mas essa liberdade extrema raramente é defendida pois na maioria das vezes é proposta como polêmica para identificar o que seria a liberdade política A segunda concepção de liberdade a identifica com a necessidade A liberdade não é atribuída à parte mas ao todo Não há liberdade do indivíduo mas sim à ordem cósmica ou divina à substância ao absoluto ao Estado A origem dessa concepção está na explicação de liberdade dos estoicos para quem a liberdade consiste na autodeterminação e portanto só o sábio é livre Mas por que o sábio é livre Porque só ele vive em conformidade com a natureza só ele se conforma com a ordem do mundo e com o destino ABBAGNANO 2007 Essa ideia fica mais clara com a formulação de Espinosa dizse que é livre o que existe só pela necessidade de sua natureza e que é determinado a agir por si só enquanto é necessário ou coagido aquilo que é induzido a existir e a agir por uma outra coisa segundo uma razão exata e determinada SPINOZA 2009 p 7 Nesse sentido só Deus é livre pois só Ele age com base nas leis de sua natureza e sem ser obrigado por ninguém ao passo que o homem como qualquer outra coisa é determinado pela necessidade da natureza divina e pode julgarse livre somente enquanto ignora as causas de suas volições vontades e de seus desejos Contudo poderá tornarse livre se for guiado pela razão se agir e pensar como parte da Substância Infinita e reconhecer em si a necessidade universal dela Em outras palavras o ser humano tornase livre através do amor intelectual por Deus e este amor é idêntico ao amor com que Deus se ama Mas isso é muito abstrato e Hegel percebeu que precisamos comparar o conceito abstrato de liberdade enquanto uma possibilidade com a liberdade concreta A liberdade concreta seria a liberdade real ou como ele escreveu a própria realidade do espírito ou dos homens Essa liberdade real realidade mesma do homem é o Estado que exatamente por isso é considerado Deus real O Estado é a realidade da liberdade concreta Isso significa que é dentro das regras do Estado que é a situação em que o indivíduo tem liberdade e a usufrui Assim o Estado é o centro dos outros aspectos concretos da vida o direito a arte os costumes e o bemestar No Estado a liberdade é objetiva e a vontade universal se realiza por meio dos cidadãos através do sistema de votação Para Hegel as leis a moral e o Estado são a realidade e a satisfação da liberdade O arbítrio do indivíduo não seria a liberdade As duas primeiras concepções de liberdade têm o mesmo conceito inicial Mas a terceira noção de liberdade não entende a liberdade como uma medida de possibilidade de uma escolha motivada ou condicionada A liberdade não seria a autodeterminação absoluta mas uma questão em aberto qual a medida a condição ou a forma de escolha que pode garantir a liberdade É livre nesse sentido mas quem possui determinadas possibilidades Esta ideia também nasceu com Platão quando primeiro percebeu que deveria existir uma justa medida para a liberdade Ele ilustrou esse conceito como mito de Er Segundo esse mito do livro X de A República as almas antes de encarnar são levadas 68 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I a escolher o modelo de vida na qual vão reencarnar Para a virtude anuncia a parca Láquesis não existem padrões cada um terá mais ou menos conforme a honra ou a negligencia Cada um é autor de sua escolha a divindade está fora de questão Essa possibilidade de escolha não pode ser atribuída à divindade e é limitada pelas possibilidades objetivas pelos modelos de vida disponíveis e pela motivação pessoal Platão acreditava que a maior parte das almas escolhe de acordo com os costumes da vida anterior Com este mito Platão sugeriu que a liberdade é finita porque as escolhas são sempre limitadas Elas são limitadas pelas possibilidades objetivas que nunca são muitas Também a liberdade é limitada pela importância dos motivos da escolha e esse conceito de liberdade é uma forma de determinismo Com essa liberdade somos obrigados a admitir que a determinação do ser humano é decorrente das condições da sua vida mesmo sabendo que dentro destas condições as escolhas ainda são livres Isso quer dizer o seguinte se você é um aluno dentro de uma sala de aula de Matemática é livre para aprender fazer perguntas e calcular os resultados Pode até não fazer nada disso mas não pode por exemplo começar a cantar dentro da sala de aula A aula de Matemática predetermina as coisas que você pode escolher fazer e aquelas que você não pode escolher Hobbes colocou isso da seguinte forma não se pode não querer aquilo que se quer ou não seja não se pode não ter fome quando se tem fome ou não ter sede quando se tem sede mas é possível fazer ou não fazer aquilo que se quer fazer por exemplo podemos comer ou não comer quando temos fome Existe uma liberdade de fazer não uma liberdade de querer Também Locke percebeu que a liberdade existe no fato de se estar em condições de agir ou de não agir segundo se escolha ou se queira LOCKE 2006 p12 Locke demonstrou que essa liberdade na política consiste em cada um fazer o que bem entenda dentro das regras da lei natural A liberdade do homem em sociedade consiste em não estar sujeito a outro poder legislativo além do estabelecido por consenso no Estado nem ao domínio de outra vontade ou à limitação de outra lei além da que esse poder legislativo tiver estabelecido de acordo com a confiança nele depositada Portanto como vivemos em sociedade a liberdade de escolha está delimitada pelas leis estabelecidas pelo consenso dos cidadãos Então a liberdade política existe quando respeitamos as normas que limitam as possibilidades de escolha dos cidadãos mas para isso é necessário que os próprios cidadãos fiscalizem o estabelecimento dessas normas Este é o motivo do voto e das eleições numa democracia a manutenção das regras que permitem a manutenção da liberdade Kant utilizou este conceito de liberdade finita para definir a liberdade jurídica e política esta liberdade é a possibilidade de eu não obedecer a outras leis às quais eu possa dar meu consentimento Mas Kant imaginava uma coisa simples quando eu voto nos senadores e nos deputados estou concordando que eles vão garantir uma escolha de leis com a qual eu concordo também Esse tipo de determinismo controlado pelas regras do Estado foi percebido pelo norteamericano Dewey que seguia as ideais do pragmatismo 69 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Às vezes se afirma que se é possível demonstrar que a deliberação determina a escolha e é determinada pelo caráter e pelas condições é porque não existe liberdade É como dizer que uma flor não pode produzir fruto porque provém da raiz e do caule A questão não diz respeito aos antecedentes da deliberação da escolha mas às suas consequências Qual é sua característica Darnos o controle das possibilidades futuras que se abrem para nós Esse controle é o núcleo da nossa liberdade Sem ele somos empurrados de trás Com ele caminhamos na luz DEWEY 1980 p 48 A conclusão é que o conceito de liberdade absoluta defendida por Sartre e o conceito de determinismo como necessidade isto é é livre quem escolhe o caminho individual guiado apenas por suas convicções não funcionam bem na realidade No plano político não podemos concordar com o conceito de liberdade como o poder de fazer o que quiser Também não podemos conferir o poder absoluto ao Estado a um partido a uma raça ou a uma religião Assim como escreveu o filósofo contemporâneo italiano Nicolas Abbagnano a liberdade é uma questão de medida de condições e de limites e isso em qualquer campo desde o metafísico e psicológico até o econômico e político A liberdade humana não é uma escolha mas uma possibilidade de escolha ou seja uma escolha que se feita poderá ser sempre repetida em determinada situação Dessa forma podese dizer que a liberdade está presente em todas as atividades humanas organizadas e eficazes Um comportamento válido é aquele que pode ser empregado por qualquer um nas circunstâncias apropriadas Também as liberdades políticas são as possibilidades de escolha que o Estado assegura aos cidadãos O governo não é livre simplesmente por ter sido escolhido pelos cidadãos mas por permitir que os cidadãos exerçam continuamente a possibilidade de escolha através do voto Isto é por exemplo uma das bases da Constituição Federal do Brasil As chamadas instituições estratégicas da liberdade como a liberdade de pensamento de consciência de imprensa e de reunião têm o objetivo de garantir aos cidadãos possibilidades de escolha Portanto a liberdade no mundo moderno deve ser o resultado dos limites e das condições que numa situação determinada tornam efetiva e eficaz as possibilidades de escolha do ser humano 31 Por que fazemos as coisas que fazemos da forma que fazemos Justamente porque a liberdade pressupõe a possibilidade de escolhas fazemos as coisas que fazemos Temos a possibilidade de escolher o que a nossa vontade determina Quando atuamos desse jeito podemos estar nos comportando com racionalidade ou apenas guiados pelo desejo Mas como nos lembra Platão podemos estar fazendo escolhas apenas guiados pela tradição Quando seguimos a tradição sem pensar nos motivos para tal tradição existir e nos efeitos que esse tipo de conduta pode ocasionar acabamos aprendendo pouco a respeito da realidade do mundo Não que na tradição as escolhas sejam erradas mas se seguimos somente a tradição vamos estar o tempo todo seguindo propostas que não são as nossas e de certa forma estaremos escolhendo sem liberdade 70 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 32 Somos livres ou somos determinados por fatores como a genética o ambiente e o tempo Não podemos dizer que fatores como a genética ou o ambiente determinem a nossa liberdade Esses fenômenos acabam determinando as nossas possibilidades de escolha Porém devemos insistir em fazer escolhas a partir do exercício da razão Assim somos sempre livres para escolher aquilo que pensamos que queremos Mesmo quando as condições externas limitam as nossas escolhas não podemos abrir mão daquilo que julgamos correto de ser feito Por isso que o determinismo das nossas ações é muito relativo Sabemos que somos limitados a muitas coisas desde que nascemos Alguns são bons corredores outros são bons nadadores mas todos os atletas precisam respeitar determinadas regras para competir e muitas delas são iguais Por outro lado outros são bons em Matemática e em Física e outros ainda em Português ou Inglês Nem sempre aqueles que são bons nessas matérias são bons atletas também Então de alguma forma somos determinados a bons resultados em algumas coisas e noutras não Isso porém não impede que uma pessoa decida nadar Ela apenas não será o melhor nadador do mundo Da mesma maneira uma pessoa que nasceu longe da praia pode em determinado momento resolver aprender a surfar Ela vai ter a liberdade de se locomover até a praia e aprender o esporte Caso essa pessoa exerça a vontade de morar na praia ela pode vir a ter a possibilidade de aprender a surfar bem Com isso ela irá cumprir o seu desejo inicial mas tal ação não vai garantir que ela seja o melhor surfista do mundo Apenas com a liberdade de escolhas dentro das condições dadas ela terá a liberdade de realizar o seu desejo através de atos que espelham a sua vontade 33 A liberdade é a ausência de ameaças e limites Como vimos a liberdade não é simplesmente a ausência de ameaças e de limites Mesmo na ausência de ameaças ainda somos obrigados a pensar de forma racional a respeito daquilo que queremos fazer Por outro lado a ausência de limites permite maior variedade de escolhas Devemos abrir mão disso Quando vivemos em sociedade convivemos com limites Para que a liberdade possa existir em sociedade é necessário que todos os participantes dessa sociedade entrem num acordo através de um consenso A partir da forma que todos combinamos cooperar para a manutenção da sociedade são dados os limites nos quais as nossas escolhas e a nossa vontade podem se manifestar Esses limites tomam a forma de leis Numa sociedade democrática temos liberdade para utilizando a racionalidade escolher as pessoas que vão nos representar Dessa maneira temos também responsabilidade pelas escolhas que essas pessoas fazem Caso um senador ou um deputado vote a favor de uma lei que somos contra da próxima vez devemos votar em outra pessoa que faz aquilo que achamos correto 34 O que determina a liberdade humana A liberdade total de fazer qualquer coisa sem respeitar nada nem mesmo a nossa família ainda manteria o homem num estado animal É justamente a construção da sociedade a partir de uma reflexão cultural que permite que o ser humano estabeleça regras para a convivência social 71 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR É dentro da convivência social que podemos encontrar nossa segurança de sobreviver E apenas depois que garantimos essa segurança é que podemos fazer as escolhas pessoais Portanto é a existência da sociedade que permite que façamos escolhas a partir da liberdade de acreditar que algumas coisas são melhores do que as outras 35 Liberdade é a ausência de lei A liberdade enquanto ausência de lei é pensada pelo anarquismo O anarquismo é uma ideia política que acredita que todos os seres humanos são capazes de conviver sem a necessidade do Estado das leis e das regras sociais Na proposta anarquista seria possível a existência da sociedade apenas a partir do convívio entre as pessoas Segundo esses princípios todos nós temos consciência daquilo que é bom para todos e ao mesmo tempo que é bom para si mesmo não havendo necessidade de uma ética social estabelecida pelas leis As escolhas morais seriam suficientes para que todos soubessem conviver bem Mas a liberdade moderna é pensada a partir da ideia de que somos livres para participar das instituições democráticas que estruturam o Estado Nossa liberdade deve ser expressa dentro das regras que facilitam a existência da sociedade em que vivemos Nesse sentido podemos ter liberdade seguindo a lei 36 Uma pessoa que não é livre pode ser responsabilizada por seus atos Na nossa sociedade acreditamos que as pessoas que não são cidadãs não têm capacidade de perceber a importância das suas escolhas nem a relação dessas escolhas com as leis que são a garantia do respeito à ética na sociedade Geralmente acreditamos que até os 18 anos de idade os nossos cidadãos não têm esta capacidade de entendimento e portanto não podem ser responsabilizados por seus atos A mesma ideia de impossibilidade de responsabilidade por seus atos é atribuída àquelas pessoas que por um problema de doença mental ou que eventualmente estão numa idade avançada não conseguem mais pensar com clareza e não devem ser responsabilizadas por seus atos No Brasil isso fica mais claro quando vemos o Estatuto da Criança e do Adolescente e também o Estatuto do Idoso Acreditase que apesar de poderem entender a ideia de liberdade estes indivíduos de fato não são livres porque não participam completamente do conjunto da sociedade Alguns artigos importantes do Estatuto da Criança e do Adolescente Art 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente Art 2º Considerase criança para os efeitos desta Lei a pessoa até doze anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade 72 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Art 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei assegurandoselhes por lei ou por outros meios todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico mental moral espiritual e social em condições de liberdade e de dignidade Art 4º É dever da família da comunidade da sociedade em geral e do poder público assegurar com absoluta prioridade a efetivação dos direitos referentes à vida à saúde à alimentação à educação ao esporte ao lazer à profissionalização à cultura à dignidade ao respeito à liberdade e à convivência familiar e comunitária Art 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência discriminação exploração violência crueldade e opressão punido na forma da lei qualquer atentado por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais Art 6º Na interpretação desta Lei levarseão em conta os fins sociais a que ela se dirige as exigências do bem comum os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento Dos Direitos Fundamentais Do Direito à Vida e à Saúde Art 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso em condições dignas de existência Art 8º É assegurado à gestante através do Sistema Único de Saúde o atendimento pré e perinatal Art 11 É assegurado atendimento médico à criança e ao adolescente através do Sistema Único de Saúde garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção proteção e recuperação da saúde Art 13 Os casos de suspeita ou confirmação de maustratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade sem prejuízo de outras providências legais 73 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Parágrafo único As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude Incluído pela Lei nº 12010 de 2009 Do Direito à Liberdade ao Respeito e à Dignidade Art 15 A criança e o adolescente têm direito à liberdade ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis Art 16 O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos I ir vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários ressalvadas as restrições legais II opinião e expressão III crença e culto religioso IV brincar praticar esportes e divertirse V participar da vida familiar e comunitária sem discriminação VI participar da vida política na forma da lei VII buscar refúgio auxílio e orientação Art 17 O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física psíquica e moral da criança e do adolescente abrangendo a preservação da imagem da identidade da autonomia dos valores ideias e crenças dos espaços e objetos pessoais Art 18 É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente pondoos a salvo de qualquer tratamento desumano violento aterrorizante vexatório ou constrangedor BRASIL 1990 37 Os desejos e as paixões limitam nossa liberdade Os desejos não limitam inteiramente a nossa liberdade porém muitas vezes impedem que nós façamos escolhas racionais Por causa disso a percepção de que podemos raciocinar é efetivamente o momento em que estamos exercendo a liberdade nas nossas escolhas Então percebemos que a Filosofia admite que sob o domínio dos desejos e das paixões ainda podemos fazer uma escolha livre mas esta liberdade estará sempre sob suspeita na medida em que ela não foi pensada racionalmente mas sentida 74 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 38 Quem obedece a si mesmo é livre Se entendermos que a liberdade é fazer o que eu quero do jeito que eu quero e na hora que eu quero sim é livre Mas se entendermos que a liberdade é agirmos conforme determina a lei para que todos os demais tenham também o direito de fazerem as suas próprias escolhas então este tipo de comportamento é nocivo para a liberdade dos outros Seguindo a máxima de Herbert Spencer o filósofo positivista cada um tem a liberdade de fazer tudo o que quer desde que não infrinja a igual liberdade de qualquer outro Em outras palavras minha liberdade termina quando começa a de outra pessoa e essa ideia das liberdades de todos foi descrita por Locke como o direito natural das pessoas 39 Podemos ser ao mesmo tempo livres e apaixonados Podemos sentir paixão por uma pessoa por um time de futebol por uma posição política etc As paixões são sentimentos que nascem com os sentidos como gosto de ver ouvir sentir o tato ou o gosto de alguma coisa ou pessoa Isso demonstra que uma paixão decorre das sensações e não da razão A liberdade porém é fruto da reflexão do pensamento e segundo Kant apenas o respeito era um sentimento diferente pois exige reflexão E a liberdade tem muito a ver com o respeito com a ideia de que para sermos livres precisamos respeitar as demais pessoas Assim elas também vão nos respeitar e alcançaremos a nossa liberdade É por este motivo que existe a expressão preso por uma paixão pois significa que abrimos mão da nossa capacidade de raciocinar para agirmos apenas pelos desejos que nossa paixão nos proporciona 310 O agir ético é indissociável da relação consigo mesmo e com os outros Quando participamos da sociedade não temos a liberdade de fazer o que queremos na hora que queremos e do jeito que queremos Somos obrigados a respeitar as leis da sociedade Toda sociedade se organiza em torno de regras e a forma destas espelha a ética da sociedade Mas mesmo essas regras estão sujeitas ao entendimento moral Então algumas leis podem espelhar a ética da sociedade mas podem ser imorais Por exemplo algumas sociedades são contra a pena de morte outras são a favor Nos dois casos existe uma ética que justifica essas leis São éticas diferentes Mas podemos concordar que uma pessoa seja executada porque pensa de uma forma diferente da ética do Estado Em outras palavras podemos concordar moralmente que uma pessoa morra por causa apenas das suas ideias A maior parte dos países acredita que não que isso seria imoral Mas se por causa das suas ideias uma pessoa sai roubando e matando então as leis vão condenála por causa dos seus atos e das suas escolhas que a partir de uma vontade própria prejudicam as outras pessoas Isso também é imoral e por causa disso as leis preveem a prisão e em alguns países até mesmo a pena de morte Então a maioria das pessoas acaba concordando em se comportar de acordo com a legislação do país pois esta espelha a ética escolhida para reger o comportamento das pessoas dentro daquele Estado 75 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 311 O sentimento da liberdade garante sua existência A garantia da existência de um ser humano nem sempre está ligada à sua liberdade Pense numa pessoa deficiente presa a uma cama por uma doença Essa pessoa pode ter a garantia de vida promovida pelas leis do Estado Assim é o determinismo ditado pela legislação que garante à pessoa o direito à vida 312 Somos livres mesmo dentro de uma prisão Como já vimos com Abbagnano a liberdade é uma questão de medida de condições e de limites Quem descumpriu a lei perde seus direitos dentro da sociedade Mas na medida em que a liberdade humana é uma possibilidade de escolhas mesmo dentro da prisão o ser humano ainda tem a possibilidade de escolher a forma de agir com tais regras Mesmo num ambiente restrito o ser humano ainda tem escolhas e estas conferem às pessoas um grau de liberdade 4 O INDIVÍDUO E A COMUNIDADE O CONFLITO A ideia de comunidade é diferente do conceito de sociedade A sociedade é pública é do mundo enquanto a comunidade são as pessoas a quem estamos ligados desde o nascimento em todas as circunstâncias Na sociedade existe a possibilidade de encontrarmos o bem e o mal mas não faz muito sentido falarmos de uma comunidade má Isso porque na comunidade vivemos todas as circunstâncias que acontecem na vida de acordo com o que ocorre com as pessoas Segundo Kant a ideia de comunidade nasce com uma ação de reciprocidade Nas suas palavras Todas as substâncias na medida em que podem ser percebidas no espaço como simultâneas estão entre si em ação recíproca universal KANT sd p 7 A partir do Idealismo o termo comunidade passou a indicar uma forma de vida social na qual encontramos um vínculo intrínseco e perfeito entre todos os seus membros O problema em Filosofia é que termos como comunidade acabam não tendo uma definição precisa mas à medida que este termo foi sendo utilizado por vários sociólogos o significado de comunidade foi sofrendo transformações Hoje em dia entendemos que uma comunidade se refere ao comportamento das pessoas numa relação social local Aquilo que diz respeito à relação social dentro da grande cidade ou no país é chamado de sociedade Por esse motivo que no Brasil acabamos denominando comunidade também a forma de viver e as relações sociais dos bairros mais pobres que até pouco tempo atrás chamávamos de favelas Já vimos aqui que a palavra indivíduo significa também um coletivo para pessoas de acordo com a definição que vimos em Hegel A comunidade são as relações pessoais dos indivíduos num determinado local e toda a comunidade é composta a partir das relações sociais dos indivíduos O significado disso é que numa comunidade vamos perceber que o espaço que limita o indivíduo não é apenas geográfico mas principalmente a esfera da liberdade que os indivíduos de um determinado local podem exercer para se relacionar uns com os outros Assim existe uma determinada relação direta entre a vontade de um indivíduo com a vontade de todos indivíduos para que possamos efetivamente perceber a formação de uma comunidade 76 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 41 O que levou os homens a viverem em comunidade O que levou os homens a desenvolverem a comunidade foi a evolução da família A primeira forma de comunidade que existiu entre os seres humanos nasceu do reconhecimento de que nós não éramos simplesmente bandos de animais mas sim organizados a partir da colaboração entre um elemento masculino e um elemento feminino da nossa espécie Na medida em que fomos desenvolvendo as relações de família ao mesmo tempo fomos promovendo as regras de convivência entre os pais e filhos irmãos e primos tios e avós Com as regras de relacionamento da família antes mesmo de criarmos uma sociedade criamos o sentido de comunidade A primeira comunidade historicamente reconhecida foi a tribo Só muito mais tarde é que se percebeu que a junção de muitas tribos constituídas por parentes próximos e afastados poderia ser considerado um povo Sabemos hoje em dia que as regras de cooperação a partir das relações de afeto das pessoas de uma comunidade têm grande eficácia 42 A violência A ideia de Aristóteles a respeito da violência é que a violência é o contrário do movimento Segundo ele o movimento na natureza leva as coisas para os seus devidos lugares enquanto a violência deixa as coisas fora de lugar No sentido social violência é basicamente uma ação contra a ordem moral jurídica ou política de uma sociedade Atualmente fazse uma distinção entre o uso da força e a violência O uso da força seria a utilização dos mecanismos de polícia para o controle dos comportamentos A violência seria o uso da força a partir do indivíduo 43 O homem é um animal violento Desde sempre nós percebemos que o homem é um animal violento Esta violência pode ser observada primeiro na tentativa de controle da natureza Desde as primeiras civilizações que homem não se incomodou em agredir a natureza A ideia era que os animais se submetessem à sua vontade e que as florestas dessem lugar aos campos e plantações A grande civilização que dá origem à história ocidental é o Egito Antigo Quando estudamos essa civilização verificamos que não apenas o rio Nilo era desviado e canalizado para irrigar os campos mas que também muito desse trabalho era realizado por escravos A escravidão nada mais é do que uma violência contra a liberdade de autodeterminação do ser humano Nesse sentido percebemos que a violência humana não apenas se volta contra a natureza a fim de modificála mas também se volta contra o próprio ser humano a fim de que ele faça aquilo que em princípio não teria vontade de fazer 77 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR A violência também existe nas relações que são inteiramente controladas pelo desejo Essas relações muitas vezes extrapolam a racionalidade das pessoas É por isso que algumas pessoas matam por ciúmes e outras espancam seus filhos ou netos Há também a chamada violência social Nesse caso é a violência que existe entre as pessoas que possuem alguma coisa e as que nada têm Hoje sabemos que muitas pessoas nada possuem por conta de determinadas regras sociais que as impedem de acumular bens Portanto há então a violência que também impede que alguém tenha o direito de ter uma casa ou de estudar Por outro lado a criminalidade muitas vezes pode ser explicada a partir da violência social Assim as pessoas que são barradas de ter alguma coisa acabam agredindo os indivíduos proprietários de bens como casas automóveis ou dinheiro 44 O que significa dizer que o ser humano é um animal político A ideia que um homem é um animal político nasceu com Aristóteles Para os gregos a cultura permitiria a busca do homem por pensamentos nobres principalmente através da Filosofia O homem só podia se realizar através do conhecimento de si mesmo e de seu mundo portanto mediante a busca da verdade O homem também só podia se realizar na vida em comunidade A República de Platão é a expressão máxima da estreita ligação que os gregos estabeleciam entre a formação dos indivíduos e a vida da comunidade Daí a afirmação de Aristóteles de que o homem é por natureza um animal político que resume este significado ele vive na polis cidade em grego em comunidade na busca da verdade A natureza humana que era idealizada pelos gregos não é um dado mas o esforço de realização daquilo que chamamos de cultura O homem vive em comunidade e neste espaço da cidade ele desenvolve a cultura 45 O que são as esferas do indivíduo do social e do político Quando se fala das esferas falamos de um espaço que é ao mesmo tempo teórico e artificial Isso quer dizer que quando falamos da esfera de uma coisa não estamos nos referindo a um objeto geométrico como uma bola mas sim de um espaço abstrato que pode ser construído pelo pensamento através da racionalidade A esfera do indivíduo é tudo aquilo que diz respeito à pessoa São as relações pessoais que podem ser estimuladas pelos sentidos ou pelo raciocínio as suas relações sociais e mesmo as suas relações políticas A esfera da sociedade em princípio é tudo aquilo que diz respeito às interações sociais que diversos indivíduos têm no âmbito de seu local de moradia e de trabalho Na esfera social vamos encontrar uma variedade muito grande de atividades humanas que permitem aos indivíduos 78 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I um grande espaço de cooperação e colaboração Na esfera social é que são realizadas as ações práticas A maioria das profissões exerce sua atividade colaborando na manutenção e na expansão da esfera social Na esfera política é que construímos as regras para essa colaboração social É nessa esfera que a sociedade de indivíduos constrói a sua ética a partir da escolha da sua forma de governo e da sua lei Na esfera política construímos a noção de justiça e de direito Também nessa esfera limitamos a liberdade de escolha dos indivíduos Hoje a liberdade de escolha dos indivíduos está diretamente ligada à forma com que organizamos a esfera política Por outro lado é na esfera política que uma sociedade constrói a base do seu futuro através das metas que unem a vontade dos indivíduos e a vontade coletiva da sociedade 46 Qual o sentido do conflito nas relações humanas O conflito nada mais é do que duas opiniões diferentes sobre o mesmo fato mas existem vários tipos de conflito a começar pelo conflito interno O conflito interno é quando verificamos duas possibilidades de escolha para que exerçamos a nossa vontade sobre alguma coisa Bebemos água ou bebemos cerveja Isso é um exemplo prático de conflito interno Nesse caso o conflito diz respeito ao apetite Se decidirmos com os sentidos escolhemos apenas aquilo que nos dá mais vontade Se decidirmos com a razão pensamos nas consequências que beber cada um dos líquidos pode trazer O conflito surge justamente porque temos a percepção das consequências Quando não conhecemos as consequências uma escolha entre duas coisas gera uma dúvida mas não um conflito Mas quando sabemos que não podemos beber e dirigir é fácil decidir se bebemos cerveja ou água Quando duas pessoas emitem suas opiniões sobre a mesma coisa como por exemplo sobre um dia de sol muitas opiniões serão dadas a respeito das sensações dos sentidos em relação aquele dia Um pode dizer que detesta dias ensolarados outro pode acreditar que seu humor melhora nestes dias Todo conflito deveria ser mediado pela racionalidade A máxima que rege o conflito foi proposta por Voltaire Discordo completamente do que você diz mas defendo inteiramente seu direito de dizêlo VOLTAIRE 2008 p 94 Isso significa que todo mundo tem direito à opinião e que o direito e a liberdade de opinião devem ser respeitados 47 O fenômeno da violência é diferente do conflito A violência é diferente do conflito pois a violência é sempre decorrente da falta de diálogo O diálogo é a possibilidade de discutir as diferentes opiniões individuais Quanto mais as diferentes posições individuais são discutidas sejam elas derivadas do desejo ou da racionalidade mais possível é chegar a um acordo A incapacidade de discutir um conflito pode levar à violência mas nem sempre a violência é decorrente de um conflito Como já vimos a violência pode nascer simplesmente do indivíduo 79 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR A noção de conflito em Filosofia é diferente da concepção de conflito para o senso comum No senso comum chegamos a falar de conflito armado Ora um conflito armado é sempre uma demonstração de beligerância que é a possibilidade de começarmos uma batalha uma guerra Neste caso percebese que não houve de fato um diálogo As pessoas apenas resolveram brigar por suas opiniões e pontos de vista 48 O conflito é necessariamente ruim Um conflito em si não é nem bom nem ruim Tanto um conflito interno quanto um conflito entre duas pessoas deve servir para que as dúvidas sobre os sentimentos ou a razão sejam examinadas Mas para que um conflito não venha proporcionar a violência é necessário que uma pessoa entenda os motivos que fazem surgir o conflito Todo conflito traz dúvidas e dúvidas nem sempre podem ser esclarecidas pelas pessoas O debate sobre as dúvidas pode proporcionar o diálogo e é sempre bom falarmos sobre as nossas opiniões Às vezes reconhecemos que estávamos errados Outras vezes temos dificuldades em entender o que nos move Em todo caso o conflito que busca o diálogo pode ser utilizado para fazer nascer a razão e o consenso Nesse sentido o conflito é uma coisa boa pois fortalece a nossa capacidade de refletir sobre as nossas escolhas na vida 49 É possível viver sem conflito Na medida em que sabemos que a dúvida sempre vai aparecer no momento de fazermos escolhas podemos também prever que o conflito deverá estar sempre presente na vida Podemos ter conflitos internos toda vez que houver dúvidas a respeito de uma escolha Mas também na esfera social e principalmente na esfera política vamos ter conflitos porque sabemos que as opiniões de cada um dependem não apenas da cultura da pessoa mas principalmente dos interesses futuros dessa pessoa Assim como podemos prever que qualquer pessoa sempre terá conflitos sejam eles conflitos íntimos do indivíduo ou na sua vida social apenas aqueles seres humanos que se isolam completamente da sociedade não teriam conflitos com outras pessoas Mas mesmo essas pessoas isoladas do mundo poderão ter a qualquer momento um conflito pessoal íntimo 410 A violência é anterior à vida em sociedade De acordo com o pensador francês Montesquieu e do suíço Rousseau antes de existir a sociedade não podíamos falar em violência No estado de natureza o homem se comporta com as mesmas regras que os animais Sem a consciência de saber que pode raciocinar o homem no estado de natureza age exatamente de acordo com as leis da sobrevivência 80 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Esse tipo de pensamento traz a ideia de que o homem no estado de natureza assim como os animais segue estritamente as possibilidades dadas por Deus quando criou o mundo Nesse sentido não podemos dizer que o homem era mau Da mesma forma que um tigre mata para se alimentar o homem também matava para se alimentar A ideia de violência só pode acontecer na sociedade organizada pelos homens Em Filosofia não podemos falar que a natureza é violenta pois ela não tem a intenção de ser violenta O vulcão não pensa para começar uma erupção O vento não planeja um furacão A chuva não pensa numa inundação Nenhuma dessas manifestações é realmente fruto da violência Nós sentimos a força da natureza e a chamamos de violenta pois ela interrompe o nosso fluxo de vida mas não acontece de fato contra nós 411 A política é o espaço público da expressão e da articulação de conflito A política é o espaço público em cuja esfera é permitido que o conflito se torne público Nesse sentido o conflito é entendido como diferença de opiniões racionais A própria construção da esfera da política é feita a partir dos debates O debate é construído com ideias que divergem uma das outras e geram o conflito A articulação do conflito nada mais é do que a organização das ideias propostas durante os debates de opiniões diferentes As pessoas que não estão diretamente envolvidas no conflito conseguem perceber melhor os motivos e as justificativas que são expostas através dos conflitos e julgar as ideias pertinentes e impertinentes Isso significa que em princípio o espaço público é o espaço onde todos podem participar Deve sempre haver uma audiência participativa para avaliar os argumentos e a racionalidade dos conflitos Quando observamos duas pessoas expondo suas ideias acreditamos que uma delas tem mais razão do que a outra Essa decisão interna é uma escolha nossa e significa tomar partido Ou seja acreditamos que de alguma forma fazemos parte também daquela opinião Por esse motivo é que nascem os partidos políticos Na verdade partidos políticos devem reunir pessoas que de alguma forma compartilham das mesmas opiniões e portanto pretendem fazer escolhas iguais ou pelo menos muito parecidas na conduta das suas vidas 412 O que é o consenso Aristóteles se refere à opinião de todos como prova ou contraprova da verdade em Ética a Nicômaco diz explicitamente Aquilo em que todos consentem dizemos que assim é já que rejeitar semelhante crença significa renunciar ao que é mais digno de fé ARISTÓTELES 2009 O consenso seria então a opinião de todos Os estoicos insistiram no valor do consenso universal pois o consenso representa as noções comuns compartilhadas por todos naturalmente ou por efeito da educação 81 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Todavia só os ecléticos fizeram do consenso comum o critério da verdade Cícero escreveu que Em todos os assuntos o consenso de todas as gentes deve ser considerado lei natural ABBAGNANO 2007 p 196 A filosofia moderna que tem em Descartes o seu início fez uma crítica radical do saber comum Os filósofos modernos não acreditavam que o consenso comum é garantia de alguma coisa ou tem valor de verdade O recurso ao consenso comum muitas vezes constitui uma prova da existência de Deus Também serviu de fundamento à noção de direito natural Mas esses usos do consenso não modificam a substância da noção que é a tentativa de proteger da crítica os conhecimentos ou preconceitos considerados inteiramente válidos mas cuja efetiva universalidade é muito difícil provar 413 É possível lutar por direitos sem enfrentar o conflito de interesses Todo conflito de interesses nasce de opiniões diferentes e divergentes a respeito do mesmo fato Por isso é muito difícil que pessoas em posições diferentes com pontos de vistas próprios aceitem de forma pacífica outras opiniões Por esse motivo na esfera social e na esfera política muitas vezes as discussões se tornam acirradas quando se discutem os direitos Na medida em que nas assembleias democráticas cada indivíduo pode expressar a sua opinião livremente às vezes é quase impossível se chegar a um consenso Nesse caso surge um impasse De acordo com o grau de cultura e a qualidade da civilização de uma determinada sociedade é possível que o empecilho seja resolvido através de votação ou até mesmo da construção de novas ideias que acabam por contentar a todos Mas se por algum motivo as opiniões continuam muito divergentes pode acontecer que os sentimentos superem a razão e que as pessoas em vez de continuarem a discutir suas posições no conflito simplesmente partam para a agressão física Nesse caso podemos chegar a ter uma luta para a conquista da posição das opiniões através da violência Resumo Vimos nesta primeira unidade a diferença entre o que é natural pois decorre da natureza do que é cultural Do ponto de vista natural não somos muito diferentes dos outros seres vivos Vivemos para reproduzir e para garantir nossa espécie e nos adaptamos à natureza que forma nosso meio ambiente Nossa diferença para os demais seres vivos está na capacidade de desenvolvemos formas de linguagem com as quais conseguimos entender melhor as coisas da natureza Na medida em que entendemos melhor o que acontece e o que aparece na nossa frente conseguimos pensar sobre isso 82 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Pensar várias vezes sobre uma coisa levando em consideração aspectos diferentes é o que se denomina de reflexão Um conjunto de reflexões forma uma filosofia Na medida em que pensamos nosso estar no mundo a partir de uma filosofia tentamos organizar nossa relação com a natureza e com as demais pessoas seguindo essas ideias Mas os seres humanos levaram séculos desenvolvendo filosofias e como consequência criaram a cultura e suas partes mais transformadoras que são a técnica e a ciência Antes mesmo de criarem a ciência conceberam a moral como forma de regular a convivência entre os seres humanos Mas as regras morais não foram disseminadas pelas filosofias mas pelas religiões Religiões são crença e assim como mitos não são feitas para serem questionadas Ou se acredita ou não se acredita Crenças foram a primeira forma de criar narrativas que determinaram formas de comportamento atitudes previsíveis nos seres humanos A previsibilidade sempre foi perseguida pelos seres humanos até para poderem estimar a única coisa certa para qualquer ser vivo que é a morte Quanto mais se conhece sobre si mesmo e sobre a natureza mais e melhor podemos esperar a morte Nesse sentido como hoje em dia conhecemos mais sobre a natureza e sobre o nosso organismo podemos criar aparelhos e remédios que nos fazem viver mais Na medida em que aprendemos mais sobre nós mesmos percebemos que as reflexões permitidas pela filosofia são instrumentos para que possamos compreender as diversas situações de sobrevivência dos seres humanos Assim moral ética liberdade lei comunidade política são alguns dos milhares de conceitos que adotamos para tentar entender por que cada um de nós assume determinados comportamentos Exercícios Questão 1 Conhecida também como gravura ou pintura rupestre a arte rupestre surgiu durante o Paleolítico Superior cerca de 40000 aC e simbolizava as manifestações artísticas dos povos antigos Em 1902 pesquisadores concordaram que esses achados representavam a arte na préhistória Basicamente eram representações gráficas através de desenhos símbolos e sinais em paredes tetos e outras superfícies de cavernas Esse tipo de arte é conhecido como a expressão artística mais antiga da história 83 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Extrato de folhas sangue de animais e fragmentos de rochas eram utilizados para tingir na parede pinturas de seus próprios hábitos como a caça de animais acreditavam que a pintura de uma caça bemsucedida se refletiria na realidade danças lutas corporais e rituais Os costumes e a rotina do homem préhistórico eram reproduzidos nas cavernas de maneira individual ou coletiva até mesmo partos e relações sexuais eram registrados Há estudos que investigam a possibilidade dessa atividade ser dotada de um sentido especial para o homem primitivo pois a produção de arte rupestre se distanciava de suas aldeias A pintura rupestre não se limitava apenas a registros do cotidiano mas abrangia também aspectos religiosos da préhistória Círculos espirais cruzes e outros objetos geométricos eram pintados tornando a interpretação disso mais complexa e misteriosa Isso demonstra o desafio enfrentado por arqueólogos e paleontólogos envolvidos nas pesquisas a respeito Disponível em httphistoriadaarteinfoarte naprehistoriaarterupestrehtml Acesso em 15 jul 2018 Figura 1 Escrita rupestre I A pintura reproduzida na fotografia do enunciado da questão não representa nada para a nossa cultura e no máximo podemos tentar imaginar o que ela significaria para os habitantes daquele período histórico II As representações rupestres são manifestações da cultura de uma época histórica e mesmo que não consigamos entender o que elas exprimem é possível compreender que retratam momentos do cotidiano da vida daqueles grupos embora possam significar também momentos marcantes e especiais 84 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I III Os desenhos reproduzidos na fotografia representam a cultura de uma época e estudos sistematizados daquele período histórico poderão nos revelar mais sobre essa forma de manifestação cultural Isso é importante para a compreensão da história da humanidade IV Cada grupo social expressa seus valores por meio de sua arte e esses valores se restringem aos diferentes grupos não podem ser compreendidos pelos demais Assinale a alternativa correta A I somente B I e II C II e III D I e IV E IV somente Resposta correta alternativa C Análise das alternativas I Afirmativa incorreta Justificativa não é correto afirmar que a manifestação cultural de grupos sociais que viveram muitos anos antes que nós nos primórdios da história da humanidade não sejam relevantes para nós apenas porque ainda não conseguimos entender o que representam São parte do patrimônio cultural de toda a humanidade e exatamente por isso devem ser estudados pesquisados e observados com todo o cuidado para que possamos tentar revelar seu significado II Afirmativa correta Justificativa existe a possibilidade de que a arte rupestre simbolize momentos da vida cotidiana de grupos sociais que as fizeram Mas em razão do fato de serem colocadas em locais distantes das aldeias podem representar também momentos mais especiais em que ocorriam atividades diferentes daqueles normalmente praticadas no cotidiano Embora ainda não seja possível saber exatamente o que representavam essas manifestações culturais têm imenso valor para toda a humanidade porque simbolizam a expressão de seres humanos que viveram há milhares de anos atrás e deram início à história do ser humano no planeta Terra Esses desenhos são parte da cultura da humanidade e possuem enorme valor para toda a humanidade 85 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR III Afirmativa correta Justificativa o estudo sistematizado das diferentes manifestações culturais registradas na história da humanidade nos atualiza com o passado e exatamente por isso nos permite ampliar a compreensão da espécie humana de tudo o que ela tem construído como forma de manifestação cultural ao longo de sua longa trajetória histórica IV Afirmativa incorreta Justificativa todas as manifestações culturais dos diferentes grupos sociais existentes no planeta Terra são importantes porque representam o conjunto de descrições e explicações que cada grupo social dá para as coisas da natureza e para suas relações sociais Esse conhecimento diminui as diferenças entre os grupos sociais permite identificar valores comuns e construir pontes para estreitar laços entre os seres humanos de diferentes culturas e histórias Questão 2 A foto retrata a degradação em que vivem os moradores da chamada Cracolândia em São Paulo local em que dezenas de dependentes químicos vivem exclusivamente para obter drogas para consumo mesmo que para isso tenham que praticar roubos furtos ou prostituição Essa escolha não parece ser racional Para os filósofos Figura 2 Usuários de drogas são deslocados da praça Júlio Prestes para a praça em frente à estação Julio Prestesconhecida como praça do Cachimbo na região da Cracolândia A O resultado de nossas escolhas tem que ser sempre previsível do contrário não há racionalidade nas escolhas feita B Quando escolhemos algo apenas por desejo essa escolha tende a ser individualista egoístas e por isso nem sempre teremos bons resultados 86 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I C Nossas escolhas fazem parte das determinações de nosso corpo como afirmava o filósofo Espinosa e isso é exatamente o que acontece com os dependentes químicos que vivem em condições degradantes na Cracolândia em São Paulo D As decisões que cada pessoa toma para sua vida é uma ação que só depende dela como entendia o filósofo Aristóteles E As escolhas feitas com o uso da razão são sempre fruto de sabedoria ainda que nem sempre tenhamos resultados positivos com elas porque não temos o domínio de todas as variáveis possíveis Resolução desta questão na plataforma
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Autor Prof Renato Bulcão Colaboradora Profa Angélica Carlini Filosofia Interdisciplinar Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Professor conteudista Renato Bulcão Renato Bulcão é formado em Filosofia mestre em Comunicação ambos pela Universidade de São Paulo USP e doutor em Educação e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie Coordena o curso de licenciatura em Filosofia da Universidade Paulista UNIP Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP B933p Bulcão Renato Filosofia Interdisciplinar Renato Bulcão São Paulo Editora Sol 2018 148 p il Nota este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP Série Didática ano XXIV n 208418 ISSN 15179230 1 Natureza e cultura 2 Indivíduo e comunidade 3 Lei e justiça I Título CDU 1 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Prof Dr João Carlos Di Genio Reitor Prof Fábio Romeu de Carvalho ViceReitor de Planejamento Administração e Finanças Profa Melânia Dalla Torre ViceReitora de Unidades Universitárias Prof Dr Yugo Okida ViceReitor de PósGraduação e Pesquisa Profa Dra Marília AnconaLopez ViceReitora de Graduação Unip Interativa EaD Profa Elisabete Brihy Prof Marcelo Souza Prof Dr Luiz Felipe Scabar Prof Ivan Daliberto Frugoli Material Didático EaD Comissão editorial Dra Angélica L Carlini UNIP Dra Divane Alves da Silva UNIP Dr Ivan Dias da Motta CESUMAR Dra Kátia Mosorov Alonso UFMT Dra Valéria de Carvalho UNIP Apoio Profa Cláudia Regina Baptista EaD Profa Betisa Malaman Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico Prof Alexandre Ponzetto Revisão Fabrícia Carpinelli Elaine Pires Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Sumário Filosofia Interdisciplinar APRESENTAÇÃO 9 INTRODUÇÃO 9 Unidade I 1 O SER HUMANO NATUREZA E CULTURA 13 11 O que é natureza e o que é cultura 13 12 Quando nascemos não sabemos qual a diferença entre natureza e cultura 13 13 O que faz do ser humano um animal como os outros 14 14 O que distingue o ser humano dos outros animais 16 15 O desenvolvimento da linguagem é a maior diferença entre o ser humano e os outros animais 17 16 Quantos significados tem a palavra cultura 19 17 É possível distinguir em nós o que é natural do que é cultural 20 18 O ser humano é frágil ou é forte diante da natureza 22 19 A cultura é essencial para a definição do ser humano 23 110 As concepções filosóficas sobre a constituição do ser humano 24 111 O corpo e a alma 24 112 O dualismo e o monismo 27 113 As relações entre a racionalidade e o desejo 28 114 O que comanda o ser humano sua razão ou seus desejos 29 115 Por que a consciência é um aspecto fundamental do ser humano 29 116 Qual a relação entre a mente e o cérebro 31 117 Como o ser humano relaciona as características biológicas da natureza com os dados culturais 32 118 O ser humano é dual 33 119 O psiquismo é separado do corpo 34 120 O conhecimento é uma modalidade de desejo 36 121 Somos senhores de nossos desejos e sentimentos 37 122 O que significa ser e estar consciente 37 123 É mais fácil conhecer a si mesmo do que as coisas ou as outras pessoas 38 124 A consciência nos engana 38 125 É possível conhecerse a si mesmo sem se enganar 39 126 O que significa dizer que pensamos com nosso cérebro 39 127 A arte e a técnica 40 128 O trabalho e a alienação 42 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 129 O tempo e a transcendência 44 2 QUERER PODER E AGIR 46 21 Os valores 46 211 Ser e dever ser 46 212 O fato e o valor 48 213 Por que nós agimos de maneira valorativa 49 214 Qual a diferença entre dizer que algo é assim e que algo deve ser assim 49 215 As convenções humanas são um prolongamento ou uma ruptura com a natureza 50 216 Juízos de fato e juízos de valor 50 217 A esfera da moral é o lugar das ações e das escolhas humanas das suas normas e dos seus valores 51 218 Seguir a natureza pode ser uma regra moral 52 219 A moral é uma questão de sentimento 52 2110 Alguns exemplos das diversas posições filosóficas a respeito do bem e do mal 53 22 A universalidade e a relatividade dos valores 55 221 Universalismo 55 222 O que é diversidade cultural 55 223 As noções de certo e errado são universais ou relativas aos costumes 55 224 O que é o etnocentrismo 56 225 O que é relativismo cultural 57 226 Quais são as diferenças entre as posições universalistas e as relativistas em relação aos valores 58 227 Devemos falar em cultura ou em culturas 58 228 Há culturas superiores às outras 59 23 O bem e o mal59 231 O bem e o mal dependem da perspectiva de quem os define 61 232 É possível querer o mal 62 233 O belo e o feio 63 3 A LIBERDADE E O DETERMINISMO 64 31 Por que fazemos as coisas que fazemos da forma que fazemos 69 32 Somos livres ou somos determinados por fatores como a genética o ambiente e o tempo 70 33 A liberdade é a ausência de ameaças e limites 70 34 O que determina a liberdade humana 70 35 Liberdade é a ausência de lei 71 36 Uma pessoa que não é livre pode ser responsabilizada por seus atos 71 37 Os desejos e as paixões limitam nossa liberdade 73 38 Quem obedece a si mesmo é livre 74 39 Podemos ser ao mesmo tempo livres e apaixonados 74 310 O agir ético é indissociável da relação consigo mesmo e com os outros 74 311 O sentimento da liberdade garante sua existência 75 312 Somos livres mesmo dentro de uma prisão 75 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 4 O INDIVÍDUO E A COMUNIDADE O CONFLITO 75 41 O que levou os homens a viverem em comunidade 76 42 A violência 76 43 O homem é um animal violento 76 44 O que significa dizer que o ser humano é um animal político 77 45 O que são as esferas do indivíduo do social e do político 77 46 Qual o sentido do conflito nas relações humanas 78 47 O fenômeno da violência é diferente do conflito 78 48 O conflito é necessariamente ruim 79 49 É possível viver sem conflito79 410 A violência é anterior à vida em sociedade 79 411 A política é o espaço público da expressão e da articulação de conflito 80 412 O que é o consenso 80 413 É possível lutar por direitos sem enfrentar o conflito de interesses 81 Unidade II 5 A SOCIEDADE E A CULTURA A FORÇA E A AUTORIDADE 87 51 A diferença entre o exercício da força e o da autoridade 89 511 Toda autoridade usa a força 89 512 Quais são os fundamentos da desobediência 90 513 A autoridade é necessária 90 6 A LEI E A JUSTIÇA 90 61 O interesse e o bem comum 90 62 Qual a diferença entre lei e direito 91 63 A lei reprime os indivíduos 96 64 A lei é contrária aos interesses e aos desejos 96 65 É legítimo oporse à lei 96 66 Os diferentes conceitos de justiça 96 67 A justiça e a liberdade são incompatíveis 98 68 Justiça é tratar todo mundo igualmente 98 69 A legitimidade e o poder 98 610 Como diferenciar legitimidade e legalidade 98 611 É possível viver sem lei 99 612 Existe uma justiça divina 99 613 Todas as leis são justas 99 614 Existe um exercício legítimo da força e da dominação 100 615 Como compreender as diferentes formas de política na sociedade humana 100 616 A sociedade pode determinar o que o indivíduo deve fazer 101 617 O Estado existe para garantir a liberdade do indivíduo 101 618 A política é sempre uma luta pelo poder 102 619 A política deve levar em conta a moral 102 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data 7 VERDADE E VALIDADE 104 71 A emergência da Filosofia 105 72 A filosofia e os outros saberes106 73 O que é raciocinar 106 74 Qual a diferença entre validade e verdade 107 75 Um raciocínio coerente é necessariamente verdadeiro107 76 Os instrumentos do conhecimento 108 77 A lógica 108 78 A lógica é uma ciência 110 79 A proposição e o juízo 111 710 Todo pensamento é necessariamente lógico 112 711 O raciocínio e o argumento 112 712 Indução e dedução 113 713 A diferença entre os argumentos dedutivos e indutivos 114 714 As verdades empíricas são mais fáceis de refutar 115 715 A indução é fundamentada logicamente 115 716 Como identificar se uma inferência é válida117 8 OS TIPOS DE CONHECIMENTO 118 81 O surgimento da Filosofia 120 82 Os filósofos présocráticos 121 83 Os sofistas 123 84 O início da Filosofia 123 85 Há uma lógica do mito 124 86 Há uma ruptura ou uma continuidade entre o mito e a Filosofia 124 87 Os mitos ainda estão presentes na sociedade contemporânea 125 88 Filosofar é uma experiência existencial 125 89 O que são os saberes 126 810 O que é ciência 127 811 O que é religião 128 812 O que é arte 128 813 Qual a relação entre Filosofia e religião 129 814 Qual a relação entre Filosofia e arte 130 815 Qual a relação entre religião e arte 132 816 Qual a relação entre religião e ciência 132 817 Qual a relação entre arte e ciência 133 818 Qual a relação entre Filosofia e ciência 134 819 O que distingue a Filosofia dos outros saberes 135 820 A Filosofia é um tipo de literatura 136 9 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data APRESENTAÇÃO A proposta da filosofia interdisciplinar vem ao encontro das leituras e do ensino transversal das disciplinas do ensino médio A ideia de fundo é fazer com que os professores traduzam a realidade percebida para as salas de aulas Nem sempre isso é evidente Podemos utilizar a linguagem matemática para explicar as demais formas de apreensão da natureza como também a Geografia a Física a Química e até mesmo a Biologia Podemos utilizar a língua portuguesa para demonstrar como cada disciplina constrói um vocabulário próprio Também podemos juntar a Química com a Geografia ou a Física com a História As percepções da Química ajudaram a entender a camada de ozônio e o aquecimento global e a Física permitiu as grandes navegações a mecanização a Revolução Industrial entre outras coisas Mas a maioria das pessoas não teve aula de Filosofia de maneira que o conhecimento filosófico que constrói suas crenças habilidades e competências surgem em sala de aula como do nada Sempre foi assim e deverá ser assim sempre Isso não é verdade Houve um tempo em que ser republicano era pior do que ser herege Pensar em democracia era contra o poder vigente e propor uma constituição era uma afronta punida com tortura seguida de morte Portanto as coisas mudam Isso só é possível porque o pensamento humano também evolui Na sociedade há sempre um movimento que propõe a mudança e outro que briga para que as coisas se mantenham como estão O papel da Filosofia é examinar as diversas propostas de pensamento para que da mesma forma que entendemos melhor hoje o espaço e as estrelas possamos entender melhor as propostas de convivência entre seres humanos Todos os ismos criados nos séculos XIX e XX o positivismo o comunismo o liberalismo o socialismo o feminismo e também o terrorismo são simples formas de entendimento do mundo Do mundo como ele é ou de como ele deveria ser Esta disciplina visa auxiliar o futuro professor de filosofia a dar respostas convincentes e rápidas aos seus alunos tirando todas as dúvidas que costumam surgir entre os adolescentes mas não somente neles São muitas as questões que surgem no cotidiano Conseguimos trazer respostas da evolução do pensamento humano nas propostas de vários filósofos Não há uma única resposta válida na medida em que não acreditamos mais que a verdade assim como a justiça exista em si mas oferecemos subsídios para elaborar respostas e compreensões de determinadas situações humanas Afinal é para isso que serve a Filosofia INTRODUÇÃO Mesmo quando dizemos que vivemos a pósmodernidade ainda estamos muito imbuídos das ideias e ideais da modernidade No Brasil cultivamos o humanismo e suas propostas como se elas nunca fossem envelhecer quando na verdade as ideias humanistas estão rapidamente chegando aos seus limites Se o governo democrático foi um dia um sonho atualmente convivemos com problemas que eram impensados antes da democracia ser a norma de governo 10 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data É importante que você perceba que tudo passa E mesmo aquilo que parece ser a mesma coisa que no passado na prática sofreu alguma transformação pela simples ação do tempo O século XX preparou para nós duas surpresas o rompimento da noção de aqui e agora e a possibilidade de um envelhecimento superior a cem anos O aqui e agora foi transformado na medida em que posso pedir para meu pai de 92 anos conversar pelo aplicativo de áudio e vídeo ao vivo com minha filha e meu neto Meu pai está no Rio de Janeiro minha filha e meu neto estão em Londres O que é aqui Rio de Janeiro ou Londres O que é agora O horário de Brasília ou o GMT Grenwich Mean Time Tempo Médio de Grenwich em português Se meu pai está com 92 anos e viu serem inventados o avião a jato o cinema falado e a cores os antibióticos a televisão a pílula anticoncepcional os foguetes o satélite o fax o computador o ultrassom e a ressonância magnética a internet e o telefone celular apenas para ficarmos nas coisas mais populares o que será que meu neto de três meses poderá ver Impressoras de comida Teletransporte Cidades no espaço Refletindo sobre tantas novidades durante quatro gerações pergunto você viu um aparelho de fax funcionando Para os que nunca viram era um aparelho que funcionava como uma máquina de fotocópias através do telefone Você punha uma folha de papel A4 de um lado e saía sua cópia do outro lado O fax certamente não acabou com o sonho comunista da União Soviética que era como a Rússia se chamava entre 1917 e 1991 mas foi com a ajuda desse aparelho que pela primeira vez os russos puderam enviar e receber notícias para fora do país sem serem censurados pela polícia política A própria ideia de polícia política tão comum a partir de 1848 na Europa que aqui no Brasil existiu até 1985 é desconhecida para muitos Pode alguém ser preso e torturado às vezes até mesmo morto numa cela de cadeia apenas porque acredita em ideais políticos diferentes dos governantes Pois é exatamente esse tipo de intolerância que até hoje mata pessoas de religiões diferentes Há cem anos mesmo nos países democráticos era proibido que pessoas de religiões diferentes pudessem se casar No Brasil por exemplo apesar de o Estado ser laico e separado da Igreja Católica desde a Proclamação da República a religião oficial do país era a católica fato que só mudou com a Constituição de 1988 Todos nasciam católicos e depois assumiam outras crenças isso faz sentido hoje em dia Então é importante que você perceba que as ideias mudam Não que existam tantas formas de pensar e narrar o mundo que sempre se pode inventar uma novidade mas velhas formas de pensar precisam ser recicladas para poderem incluir as invenções técnicas e o novo conhecimento sobre o mundo Na medida em que as ideias mudam mudam também os hábitos Durante milênios as mulheres grávidas desenvolveram formas imprecisas de tentar adivinhar o sexo de seus filhos Com a invenção do ultrassom houve um período de transição que permitiu que as grávidas escolhessem ou não saber o sexo dos bebês Hoje em dia a maioria das mulheres quer saber o sexo da criança para se preparar melhor Nenhuma das posturas é errada São formas de escolher como queremos viver nossas vidas A técnica e sua filha a tecnologia permitem novos comportamentos que seriam impensáveis em décadas anteriores como por exemplo meu pai falando e vendo seu bisneto na tela de um 11 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data celular Mas isso não significa que todos nós tenhamos qualquer obrigação de ter um telefone celular para vermos e falarmos com alguém só porque a possibilidade é dada A única responsabilidade comum que temos cada vez mais clara na vivência humana é continuarmos a reproduzir para a manutenção da nossa espécie E como descobriram os países que dispõem em seu arsenal de armas atômicas se alguém resolver destruir o planeta todos perdem Por isso a ecologia e o cuidado com o meio ambiente ganharam força nas nossas conversas Cuidar da natureza é necessário para cuidarmos da nossa sobrevivência Assim podemos perceber que a filosofia do século XX não pode ser uma mera continuidade da filosofia dos séculos anteriores por mais que precise dessa continuidade como base para desenvolver novas ideias Nos últimos anos o maior desafio que surgiu para a filosofia foram os programas de computador No momento em que começamos a escrever comandos em linguagens alfanuméricas que fizeram as máquinas interagir conosco mudamos pela primeira vez o patamar do que é humano Não que mudanças de patamar não tenham acontecido no passado por exemplo com a descoberta da agricultura a domesticação dos animais o desenvolvimento da matemática e das primeiras máquinas o desenvolvimento da física e as primeiras máquinas a motor tudo isso mudou a cultura e a civilização Isso sem contar com os avanços da química e da medicina Mas no século XXI finalmente nos demos conta de que desde o século XIX alguns filósofos como por exemplo Charles Sanders Peirce já vinham pensando em soluções para problemas que nem mesmo eram compreendidos pelas pessoas Hoje em dia podemos explicar todas as propostas filosóficas de todos os tempos como sugestões de narrativas que se compreendidas e seguidas permitem entendimentos diversos das coisas e dos fatos Como consequência dos entendimentos diversos as pessoas vão assumir comportamentos diferenciados Se a frase anterior parece difícil de entender vou propor um exemplo para explicar por analogia Se estamos usando um aplicativo de mensagens no celular e escrevemos Olá meu amigo quem receber a mensagem vai se sentir de uma determinada forma Se eu resolver mandar uma foto ou uma ilustração de duas pessoas se abraçando quem receber pode interpretar essa imagem de mil maneiras diferentes e uma delas será talvez Ah ele está dizendo que é meu amigo Se por outro lado eu gravar uma mensagem de voz dizendo Olá meu amigo quem ouvir vai buscar a intenção da minha fala na entonação das palavras Por fim se eu resolver gravar um vídeo dizendo a mesma coisa além de a pessoa poder pensar que eu gosto dela vai poder também me examinar para saber se eu pareço estar bem Todas as atitudes de quem receber a mensagem vão depender sempre do que a pessoa estiver vivendo no momento em que receber a mensagem Esse momento específico recebe o nome genérico de contexto Quando um texto narrado seja ele escrito desenhado falado ou interpretado provoca reações diferentes nas pessoas podemos entender que a ideia narrada era complexa A atitude das pessoas também vai depender do contexto em que elas estão inseridas Se você entendeu isso é porque refletiu sobre o que eu narrei Ou seja entender o texto que estou escrevendo não é simples pois não faz parte do seu cotidiano Mas não é difícil entender se estiver explicado de uma forma que faça sentido 12 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Por outro lado posso escrever esse texto com um computador e até mesmo fazer com que a máquina leia o que eu acabei de escrever com uma voz que parece humana Mas o computador ainda não consegue ler o que eu escrevi e tomar uma atitude qualquer Estamos justamente desenvolvendo a inteligência artificial para que um dia a máquina venha a ter essa capacidade humana Mas quando jogamos um game vemos que a máquina já interage conosco e isso sinaliza a mudança de patamar do que antes era exclusivamente humano Futuramente talvez seja difícil distinguir entre o que deve ser considerado humano e não humano mas até lá vamos poder distinguir entre as formas de pensar e narrar que são exclusivamente humanas e as que são traduzidas em comportamentos e atitudes É disso que tratamos nesta disciplina de pensamentos que viram narrativas que provocam comportamentos Você vai perceber que muito do que você pensa foi proposto há muitos anos talvez séculos atrás mas são pensamentos que como ferramentas da mente servem para promover nosso estar no mundo aqui e agora 13 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Unidade I 1 O SER HUMANO NATUREZA E CULTURA 11 O que é natureza e o que é cultura Quando nascemos não conseguimos verificar qual é a diferença entre natureza e cultura Para todos nós tudo aquilo que nos envolve enquanto somos um bebê faz parte da nossa natureza À medida que crescemos assistimos televisão e conversamos com nossos pais e avós vamos percebendo que o mundo é muito maior do que nós imaginávamos No início não fazemos a menor diferença entre o sol uma árvore uma geladeira ou os aviões que passam Como tudo isso já existia desde antes da nossa própria existência a impressão que temos é que todas as coisas que existem no mundo sempre existiram Com o tempo vamos percebendo que existem coisas que foram inventadas e outras que não foram feitas pelo ser humano Descobrimos que água terra fogo e ar existiam muito antes que a nossa espécie humana tivesse evoluído 12 Quando nascemos não sabemos qual a diferença entre natureza e cultura Desde muito pequenos somos ensinados que tudo aquilo que o homem não inventou faz parte da natureza Aprendemos então que todos animais árvores plantas montanhas rios mares planetas e todo o resto do universo existiam antes que o ser humano soubesse o que eles são do que são feitos e como funcionam Vamos aprendendo explicações cada vez mais detalhadas a respeito das coisas que existem Descobrimos que algumas respostas que assimilamos quando éramos bem criancinhas na verdade são apenas fundamentos simplificados A partir do momento em que aprendemos a falar e a escrever a nossa língua vamos nos preparando para entender cada vez melhor o funcionamento das coisas A primeira distinção que nossos professores nos ensinam é que existem coisas que são próprias da natureza e todas as outras não Também aprendemos os cinco sentidos tato olfato audição visão e paladar A primeira grande invenção humana foi o desenvolvimento das línguas A partir da capacidade de comunicação entre os seres criamos também a aptidão da interpretação das coisas que vemos e sentimos Essa capacidade de descrever as coisas e organizálas de forma a facilitar o entendimento é o que chamamos de cultura Observação Cultura é o conjunto de descrições e de explicações que damos para as coisas que podemos perceber na natureza e nas nossas vidas 14 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Na préhistória os primeiros homens precisaram organizar a sua rotina de hábitos e de trabalho para facilitar a vida na natureza gerando uma quantidade muito grande de conhecimentos Com o tempo tal ação permitiu que os seres humanos desenvolvessem ferramentas roupas e casas para facilitar a vida no meio ambiente Duas dessas invenções foram as armas para facilitar a caça e as ferramentas para ajudar na agricultura Com a organização da caça da pesca e da agricultura os seres humanos perceberam que havia uma rotina que era repetida de tempos em tempos Essa rotina diz respeito ao momento de semear uma planta para podermos fazer a colheita depois e também ao momento certo de caçar ou pescar determinados animais Assim ao perceber que a rotina das ações facilitava sua existência na Terra os mais velhos passaram a contar para os mais novos quais eram essas práticas Ao observar a agricultura e a organização da caça o ser humano inventou a história a religião a própria sociedade e portanto a cultura Lembrete As ferramentas foram inventadas para facilitar a caça e a agricultura Assim podemos resumir que a relação que existe entre cultura e natureza é que a cultura serve principalmente para explicar para os seres humanos como funciona a natureza Quanto melhor entendemos a natureza mais desenvolvemos a cultura 13 O que faz do ser humano um animal como os outros Durante milhares de anos o ser humano imaginou que era um ser diferente dos outros animais Isso porque a raça humana não conseguiu perceber nos outros animais nenhuma forma de cultura Alguns animais tinham até uma maneira organizada de cuidar da sua espécie mas nenhum animal parece se adaptar à natureza e às suas mudanças tão rapidamente quanto o ser humano Por outro lado os seres humanos têm semelhanças com todas as espécies vivas Platão que foi o primeiro filósofo grego cujos pensamentos respeitamos até hoje sugeriu que é a alma humana que cria em nós a grande diferença para os animais mas o primeiro a perceber que era necessário fazer uma classificação dos seres vivos foi outro filósofo grego Aristóteles Ele classificou os organismos vivos que eram conhecidos na sua época em plantas e animais Os animais eram por sua vez divididos de acordo com o meio em que se moviam Então Aristóteles classificouos como animais da terra da água e do ar Essa classificação perdurou por muito tempo e em Filosofia é chamada de Taxonomia Para Aristóteles todos os seres vivos tinham alma 15 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Observação Platão nasceu no período clássico da Grécia Antiga Foi autor de muitos livros contendo diálogos filosóficos e fundador da Academia de Atenas a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental Juntamente com seu professor Sócrates e seu aluno Aristóteles Platão ajudou a construir a base da filosofia natural da ciência e da filosofia ocidental Exemplo de aplicação Aos 16 anos Aristóteles foi para Atenas estudar na Academia de Platão Lá ficou por vinte anos até a morte do professor No ano de 343 aC foi contratado por Felipe da Macedônia para ser tutor do seu filho Alexandre e lá ficou até Alexandre se tornar rei Neste ano voltou para Atenas e fundou o Liceu no qual eram estudadas as Ciências Naturais a Metafísica a Lógica a Ética a Política a Biologia a Zoologia e a Medicina No Liceu também foi desenvolvida a base da metodologia científica Pesquise em sites de busca e verifique as citações de uma pessoa que viveu há mais de 2000 anos e ainda merece destaque hoje em dia Sabemos que existem grandes ligações entre todos os seres vivos Para começar nenhum ser vivo existe sem conter dentro dele moléculas dos minerais que formam o próprio planeta Terra A maioria desses minerais que compõem as rochas da Terra estão presentes em maior ou menor escala na formação de todos os seres vivos A grande diferença que existe entre um ser vivo e um ser inanimado é que o primeiro combina diversos elementos da natureza para constituir um organismo Os organismos diferem dos elementos básicos da natureza porque crescem e se reproduzem A capacidade de reprodução é que dá a uma coisa a qualidade de organismo e de ser vivo Nesse sentido não há muita diferença entre os diferentes seres vivos na medida em que o sentido da vida para todos eles é perpetuar a espécie Em outras palavras é fazer com que a sua espécie continue existindo para sempre Observação Entre os seres humanos é necessário um homem e uma mulher para a reprodução Aparentemente a maioria dos seres vivos também precisa de um membro do gênero masculino e outro feminino para conseguirem reproduzir Hoje sabemos que a divisão de gêneros atinge até mesmo o reino vegetal Apenas os microorganismos e animais muito simples conseguem ter a capacidade de se reproduzir sem a necessidade de um macho e de uma fêmea 16 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Foram necessários mais de 2000 anos para que os seres humanos notassem que existem muitas semelhanças entre os seres vivos Na verdade até há pouco tempo a ignorância e o desconhecimento faziam com que até mesmo os grandes cientistas acreditassem que existiam grandes diferenças entre as raças humanas Há 120 anos admitiam que todos os seres humanos os asiáticos os africanos os europeus os índios nativos do Novo Mundo eram seres diferentes uns dos outros e quase não pertenciam a mesma espécie Hoje em dia sabemos que as diferenças de cor da pele forma dos olhos pigmentação e aparência dos cabelos nada disso é suficiente para distinguir um ser humano de outro ser humano Sabemos também que a construção de todos os mamíferos é muito parecida Portanto verificamos semelhanças entre os animais que aparentemente são muito diferentes entre si como por exemplo entre o elefante e o rato Com o tempo percebemos que mesmo os animais de classes muito diferentes como as cobras e os pássaros têm uma série de coisas em comum Tanto a maioria das cobras quanto a maioria dos pássaros têm olhos têm ossos e têm órgãos que servem para funções biológicas muito semelhantes Fomos percebendo que todos os seres vivos compartilham entre si várias características em comum Mesmo que os pássaros disponham de asas os peixes possuam escamas e a capacidade de respirar embaixo de água os répteis tenham o sangue frio e os mamíferos produzam leite todos os seres vivos incluindo aí também as plantas possuem um DNA que determina o crescimento de suas células e dessa maneira a formação do próprio ser Percebemos que é com a construção das células que os seres vivos são constituídos sempre a partir do mesmo princípio Assim o ser humano não tem como fugir da sua origem natural e mais especificamente da sua origem animal Muitos de seus comportamentos são regidos conforme a construção biológica do seu organismo Nesse sentido por mais que a utilizemos a cultura e as invenções da ciência e conseguimos ter um índice de sobrevivência superior e até mesmo mais confortável do que a maioria dos outros animais as mães protegem os seus filhotes e os pais a segurança do grupo da mesma maneira que fazem os tigres as baleias e os macacos Hoje em dia sabemos que o que distingue o ser humano dos outros animais não é a sua aparência 14 O que distingue o ser humano dos outros animais A capacidade do ser humano em desenvolver a linguagem e as línguas faz com que ele seja um animal diferente de todos os outros Mas sabemos que os sentimentos não são exclusivos dos seres humanos Nossos animais de estimação também se mostram felizes tristes amedrontados ou famintos Na verdade a maioria dos mamíferos é capaz de demonstrar claramente quais são os seus sentimentos Eventualmente muito desses animais são capazes também de emitir sons para demonstrar sentimentos e sensações Mas nenhum animal além do ser humano conseguiu efetivamente construir uma língua que permite o desenvolvimento de uma linguagem Mesmo que tenhamos conhecimento da existência de milhares de línguas que são faladas pelos seres humanos sabemos também que podemos fazer a tradução da maioria das palavras e das expressões de uma língua para outra É por isso que nós conseguimos assistir a um filme que foi originalmente falado em inglês na sua tradução dublada para o português É por esse motivo também que podemos entender um desenho animado japonês na sua versão em português Em outras palavras mesmo que filmes programas de televisão ou qualquer peça literária seja ela um livro ou um manual de instrução tenha sido escrita originalmente numa língua estrangeira sabemos que a sua tradução para o português é suficiente para que nós consigamos entender o seu sentido 17 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR A capacidade que seres humanos têm de descrever a natureza além dos nossos próprios sentimentos e sensações com uma riqueza de detalhes é única e promove a nossa grande e fundamental diferença para todos os outros seres vivos Por mais que alguns animais como as formigas e as abelhas possam exibir um comportamento social parecido com aquele que nós seres humanos às vezes promovemos nunca ninguém encontrou um livro escrito por formigas ou abelhas Também não temos notícia de nenhuma tentativa de comunicação entre as abelhas de diferentes espécies Portanto essa capacidade de organizar a linguagem e a partir dela falarmos sobre as coisas da natureza dos homens de uma maneira estruturada para que todo mundo entenda é que distingue o ser humano de todos os outros animais 15 O desenvolvimento da linguagem é a maior diferença entre o ser humano e os outros animais Os serem humanos inventaram palavras para designar as coisas que pertencem ao seu ambiente Hoje em dia sabemos que os diferentes grupos de seres humanos migraram da África local onde a nossa espécie surgiu para os demais continentes do planeta Em cada lugar eles desenvolveram uma língua para facilitar a transmissão dos conhecimentos permitindo ao grupo conviver de uma forma mais fácil com a natureza que os cercava isto é o seu meio ambiente Então a língua das pessoas que moravam em montanhas nevadas acabava contendo um número maior de detalhes a respeito do que acontecia naquele determinado lugar como por exemplo a palavra avalanche que é o deslizamento de uma geleira Essa palavra não existia na língua das pessoas que moravam no deserto pois lá não acontecia nenhuma avalanche nem nenhuma montanha com neve Por outro lado o calor do deserto e a areia também acabaram por criar palavras específicas as quais não eram conhecidas pelo povo que residia nas montanhas nevadas Um exemplo é a palavra oásis Um povo que vive basicamente da pesca desenvolve nomes para designar cada tipo de peixe já que acaba conhecendo uma variedade muito maior do que os habitantes de um local que fica a centenas de quilômetros do mar Mesmo que existam peixes no rio que cruza aquela terra longe do mar onde as pessoas vivem da agricultura e do pastoreio a quantidade de peixes deste rio não apenas é menor do que no mar mas certamente suas espécies são diferentes Assim as sociedades passaram a desenvolver as palavras de acordo com a vivência que elas tinham naquelas localidades específicas que habitavam Tais expressões ajudavam os seres humanos a se adaptarem ao seu ambiente Com o passar dos tempos as pessoas passaram a viajar de um lugar para outro e a fazer contato com tribos que viviam em lugares diferentes Dessa maneira as narrativas da forma de viver de um lugar foram levadas para outro pelos viajantes Da mesma maneira com que determinadas histórias viajavam algumas palavras novas também Foi dessa maneira que os moradores do deserto ficaram sabendo da existência da neve nas montanhas O desenvolvimento original das culturas nada mais era do que a preservação dos hábitos e dos costumes que facilitavam a vida de grupos de seres humanos nas localidades específicas em que viviam Por esse motivo ao longo da história do ser humano sempre houve o medo de viajar para um lugar desconhecido pois isso tornaria o homem indefeso na medida em que não tinha o conhecimento necessário para sobreviver em outro meio ambiente 18 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Ao olhar para montanhas campos e florestas cobertos com uma vegetação que ele não conhecia desde criança o viajante se sentia perdido por não saber distinguir a planta que era comestível daquela que era venenosa Ele não conhecia os animais selvagens que habitavam em outros lugares e portanto poderia ser atacado por eles Essa adaptação dos seres humanos ao local em que nasceram e cresceram com o tempo passou a ser desenhada e depois escrita para gerações futuras No início a transmissão de conhecimento era feita com a ajuda de desenhos e de rituais que funcionavam como peças de teatro Esses desenhos e rituais deram origem não apenas ao início da literatura mas principalmente ao início da religião Com o tempo os seres humanos foram percebendo que podiam usar sistemas para descrever os seus hábitos e costumes e com a invenção da escrita a literatura serviu para ensinar às gerações futuras o que elas deveriam fazer para facilitar a sua sobrevivência que era principalmente se comportar como seus pais e avós Junto com a invenção da escrita nasceram também os primeiros números os quais serviram para ajudar a contar o resultado da agricultura Na medida em que foram desenvolvidos sistemas para medir a quantidade comida produzida pela agricultura também foram criados sistemas para anotar as trocas que as pessoas faziam entre si das coisas que produziam Assim a invenção da escrita permitiu não apenas a organização da forma de viver mas também a disposição das quantidades dos alimentos e demais objetos necessários para a manutenção da vida Com o tempo foi ficando claro que cada grupo de seres humanos devia se organizar como uma família Quando esta se tornava muito grande ela virava um bando e quando os bandos se estabeleceram em definitivo em determinados lugares viravam uma tribo Isso acabou facilitando a vida de tal forma que as tribos conseguiram se aproximar e casar seus filhos se tornando parentes umas das outras Mais tarde as tribos se organizaram em nações Com o avanço da linguagem e com uma qualidade cada vez maior de descrição dos fatos que aconteciam e das atitudes que as pessoas tinham em relação aos acontecimentos os povos começaram a escrever as suas histórias As sociedades que por algum motivo até hoje desconhecido por nós não tiveram a capacidade de desenvolver a escrita ficaram condenadas a transmitir sua história e suas tradições na forma oral de pai para filho A tradição oral ficou sempre sujeita à memória e às eventuais modificações que eram feitas nas narrativas de uma geração para outra Com a escrita os fatos foram gravados e puderam ser rememorados da mesma forma com que tinham sido descritos Isso permitiu que a experiência de gerações passadas pudesse ser avaliada pelas gerações futuras Os atos que tinham sido realizados pelos antepassados podiam ser conferidos e reavaliados para que as pessoas percebessem se aquela forma de se comportar perante uma determinada situação deveria ou não ser repetida Essa capacidade de gravar um determinado comportamento através de sua descrição e depois de um determinado tempo reler o que foi escrito e reavaliar se aquele comportamento ainda era pertinente ou mesmo correto criou a sustentação para o desenvolvimento das culturas A diferença entre uma sociedade com cultura escrita e uma sociedade sem é que na 19 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR sociedade sem escrita os adultos dizem que fazem uma coisa de determinada maneira porque sempre foi assim Já na sociedade com cultura escrita quando as pessoas fazem uma coisa que seus avós também faziam elas conseguem dar um determinado valor àquilo que estão fazendo no momento Em outras palavras enquanto nas sociedades sem escrita as pessoas resolvem não comer um determinado animal porque em algum momento do passado seu bisavô comeu um animal dessa espécie e morreu numa sociedade com escrita narrase um fato por exemplo que há 50 anos seu avô depois de comer a carne de determinado animal passou mal e morreu Mas podemos ler que aquele animal tinha sido encontrado morto na floresta Ninguém sabia há quanto tempo ele estava lá nem do que tinha morrido Assim o neto desse homem ao ler esse relato podia refletir a respeito do fato Será que seu avô morreu porque comeu aquele tipo de animal Será que só morreu porque comeu um animal que morreu na floresta A partir destas reflexões é que o ser humano pode testar cada uma dessas possibilidades A filosofia chama essas possibilidades de hipóteses Dessa maneira com a experimentação e o registro dela é que os seres humanos acabam desenvolvendo o conhecimento E o conjunto dos conhecimentos acabaram determinando as culturas Nesse sentido nenhum outro animal mesmo que transmita algum conhecimento de pai para filho acaba desenvolvendo uma cultura 16 Quantos significados tem a palavra cultura Hoje em dia a palavra cultura significa comumente todo conhecimento todas as crenças a arte a moral a lei os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade Mas nem sempre foi assim Os gregos acreditavam que cultura era o que eles chamavam de paideia um conhecimento superior que os homens instruídos tinham a respeito do mundo Os romanos também tinham uma noção parecida com a dos gregos e chamavam este conhecimento de humanitas Para eles a cultura só poderia ser adquirida por uma pessoa que estivesse com vontade de instruir o seu espírito O simples fato de pertencer a uma sociedade inserida dentro de uma civilização não era suficiente para participar de uma cultura Essa ideia de que a cultura é uma coisa específica das pessoas muito instruídas tem a ver com o fato de que ao longo dos séculos foi possível para alguns poucos estudar tanto que de alguma forma todo conhecimento acumulado pela humanidade pudesse ser conhecido Lembrete Durante muitos séculos aqueles que tinham cultura eram as pessoas que sabiam ao menos um pouco a respeito de todas as coisas 20 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Com o desenvolvimento da ciência a partir do século XIX a especialização em cada campo do conhecimento foi tornando cada vez mais impossível que uma pessoa soubesse de tudo ou mesmo que conhecesse muita coisa a respeito de todo o conhecimento acumulado pela humanidade Assim um médico pode ter uma enorme cultura médica sem conhecer muito a respeito da Matemática Por outro lado um matemático pode exibir uma enorme e profunda cultura Matemática sem conhecer muita coisa a respeito de Biologia Assim a palavra cultura passou a identificar as pessoas inseridas dentro de uma sociedade pois conhecem o suficiente para participar dela Hoje em dia quando falamos de cultura estamos discorrendo sobre as artes principalmente as clássicas como a pintura a literatura e a música Mas efetivamente todas as pessoas que participam de uma determinada sociedade de uma civilização têm conhecimentos comuns que servem para que elas convivam bem dentro daquela civilização Quando pensamos na cultura brasileira pensamos também nas diferentes formas de alimentação que são possíveis no Brasil Conhecemos as variações de sotaques que exibimos ao falarmos a língua portuguesa e reconhecemos todas as coisas que dizem respeito aos nossos hábitos e costumes brasileiros Mesmo assim sabemos que existem grandes diferenças entre os gaúchos e os amazonenses e os índios do Mato Grosso e os paulistas Observação Hoje em dia cultura significa a forma de um povo transmitir seus conhecimentos Mesmo que muitas vezes ainda façamos referência a pessoas muito instruídas como pessoas cultas na verdade todos nós de alguma forma participamos de uma cultura e portanto também exibimos um determinado grau de cultura Cultura no fundo é tudo aquilo que organiza e que rege a forma de nos comportarmos dentro de uma sociedade E é exatamente o aprendizado dessa forma de comportamento que nem sempre depende da instrução formal Até uma pessoa que estudou muito pouco conhece as regras de comportamento e cooperação da sociedade em que vive 17 É possível distinguir em nós o que é natural do que é cultural É comum ouvirmos uma pessoa dizer que um determinado comportamento é natural Porém quando dizemos que alguma coisa é natural muitas vezes estamos querendo dizer que esta coisa é usual Então por exemplo se uma pessoa diz que é natural que toda criança goste de chocolate ela esquece que chocolate é um produto fabricado pelo homem E o chocolate que comemos hoje é muito diferente daquele que existia na vida dos nossos antepassados No passado o chocolate era uma bebida parecida com o café As amêndoas do cacau eram moídas e torradas assim como os grãos de café além de misturadas com água quente para ser bebida Essa bebida foi encontrada pelos conquistadores espanhóis no império asteca Lentamente o hábito de beber chocolate foi importado para a Europa e apenas no século XVIII é que o chocolate 21 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR passou a fazer parte da fabricação de biscoitos e de bolos E só há aproximadamente 150 anos é que se misturou o chocolate com leite condensado criando assim o chocolate moderno que todos nós conhecemos Na verdade resta perguntar como pode ser natural uma coisa que há 200 anos nem existia na cultura humana O hábito de consumir chocolate foi introduzido lentamente na nossa cultura e sugere um eco da cultura asteca Ao longo dos séculos fomos transformando a forma de consumir chocolate Mesmo assim foram poucos séculos e aqui lembramos que a humanidade existe há pelo 150 mil anos De onde vem então a possibilidade de dizermos que uma coisa que evoluiu através da cultura e com a ciência moderna está na nossa vida de uma forma natural Ora as coisas verdadeiramente naturais são aquelas que nos acompanham desde os nossos primórdios e que dizem respeito à nossa vida biológica Respirar é natural Ter filhos é natural Mas coisas tais como se vestir trabalhar cooperar em sociedade e escolher determinados alimentos em detrimento de outros são atos da cultura Portanto todos esses hábitos que desenvolvemos à medida que evoluímos na nossa cultura e civilização são efetivamente hábitos culturais Hoje em dia agregamos muito mais atos culturais aos nossos comportamentos diários do que hábitos naturais Lembrete As coisas naturais são aquelas que fazem parte da nossa natureza tais como comer beber respirar chorar ou sorrir Os outros comportamentos foram aprendidos e são culturais Mas por que então fazemos essa relação entre hábitos que são claramente culturais e alguns que são evidentemente naturais O motivo é muito simples Desde a época em que não havia muita diferença entre o homem e os outros animais sabemos que é muito mais saudável comer uma fruta madura do que uma fruta verde As frutas verdes podem provocar doenças ou malestar Vários animais que comem frutas sabem através do sentido do paladar que o sabor doce das frutas avisa que elas estão prontas para serem comidas Assim aprendemos quando ainda éramos também animais que um alimento doce é uma comida própria para o consumo Isso é um conhecimento natural Quando comemos chocolate estamos de fato exibindo um comportamento cultural mas ao mesmo tempo fazemos uma analogia ao antigo comportamento natural Por isso é que muitas vezes falamos sobre comportamentos culturais como se fossem comportamentos naturais Os comportamentos naturais são aqueles que dizem respeito às nossas questões biológicas primárias tais como respirar comer sentir medo e ter alegria Os comportamentos culturais são todos aqueles aprendidos dentro do âmbito de uma determinada cultura Assim aprendemos a comer determinadas comidas de certas maneiras e em definidos momentos Na cultura brasileira costumamos comer abacate como sobremesa misturado com açúcar ou na forma de doce Na cultura mexicana comese abacate antes da refeição principal na forma de 22 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I salada misturada com alho ou pimenta É o mesmo abacate mas cada cultura prefere consumilo de maneira diferente Nenhuma delas é errada Elas apenas exibem comportamentos culturais diferentes Não podemos dizer que é natural para ninguém comer abacate de uma ou de outra forma por isso os comportamentos desenvolvidos são culturais A distinção entre o que é natural e o que é cultural nasceu no momento em que as tribos precisaram organizar uma forma de viver No início os seres humanos resolviam as coisas a partir das suas qualidades físicas O homem mais forte mandava no mais fraco Todas as discussões eram resolvidas com um combate pessoal e quem ganhava o bateboca era quem matava a outra pessoa O exemplo mais famoso disso está na Bíblia quando a guerra entre dois povos permitiu o confronto do jovem Davi contra o gigante Golias Na medida em que a solução última de todos os julgamentos terminava com a morte e consequentemente com um distúrbio da paz na sociedade as civilizações passaram a adotar um conjunto de leis que permitiu que os conflitos pessoais pudessem ser resolvidos a partir de um consenso social Dessa maneira o nosso comportamento natural cada vez mais foi se moldando na forma de comportamento cultural Todos nós passamos a respeitar os princípios e as regras que permitem a vida em comunidade e sociedade Todos esses princípios e regras não podem ser assumidos como naturais Observação A maior parte de nosso comportamento é efetivamente cultural 18 O ser humano é frágil ou é forte diante da natureza Quando olhamos para o nosso planeta Terra nos perguntamos se o ser humano é frágil ou forte diante da natureza Com tanta discussão a respeito do aquecimento global e das interferências humanas na natureza temos a impressão que o ser humano é muito forte Mas à medida que nós pensamos em cada um de nós sabemos que as grandes manifestações da natureza tais como tempestades e desabamento de morros terremotos avalanches tsunamis enchentes nevascas e mesmo a seca extrema podem causar a morte imediata de qualquer pessoa Perante essas forças da natureza verificamos que somos impotentes e extremamente frágeis Então se somos tão impotentes e frágeis de onde vêm as ideias de que o ser humano é forte diante da natureza Lembrete Perante as forças da natureza somos frágeis Recentemente na história do ser humano mais exatamente o século XIX acreditávamos que estávamos sempre à mercê de Deus e da natureza Na verdade enxergávamos a natureza como parte integrante do Reino de Deus Só depois que a ciência se desenvolveu efetivamente é que conseguimos construir máquinas que passaram a interferir muito fortemente na natureza Então percebemos que podemos causar interferências profundas no próprio planeta 23 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Há 200 anos a humanidade imaginava que podíamos usar todo o carvão todo o petróleo e toda a madeira do mundo que de alguma forma a natureza sempre teria o suficiente para nos abastecer Mas hoje sabemos que não é bem assim A natureza tem recursos limitados e sua capacidade de reciclagem também é limitada Temos a noção de que sujar a atmosfera com gases tóxicos vai acabar provocando uma série grande de doenças Temos conhecimento de que mesmo que seja possível inventar um pesticida para eliminar certos parasitas que ameaçam as plantações e portanto a própria alimentação humana estamos interferindo não apenas no sistema do campo mas também comendo uma quantidade grande de veneno que era destinado apenas para matar os insetos Dessa maneira vários benefícios trazidos pela ciência se utilizados de uma forma irresponsável acabam provocando uma destruição irreversível da natureza Esse aniquilamento impede que a gente continue vivendo bem no planeta Assim várias construções humanas acabam interferindo na natureza de tal maneira que quebram a harmonia com que a vida se estabeleceu na Terra Daí chegamos a duas conclusões a primeira é que individualmente somos frágeis perante a natureza a segunda é que coletivamente ao exibirmos uma conduta social irresponsável utilizando demais as máquinas a química e o conhecimento modernos acabamos por danificar o equilíbrio entre os elementos e os seres vivos do planeta Apenas o comportamento responsável das pessoas pode tornar possível o equilíbrio entre o planeta e o futuro da ciência Nesse sentido podemos dizer que independentemente de Deus nós somos responsáveis pelo planeta que habitamos 19 A cultura é essencial para a definição do ser humano Existem duas concepções básicas do que é a cultura A primeira acredita que cultura é a formação intelectual do ser humano A segunda pensa a cultura como forma de um povo agir numa determinada região geográfica construindo uma civilização Desde os gregos que a formação do ser humano vem sendo pensada como uma preparação para que ele aprenda determinados valores morais e um conhecimento prático que permita sua convivência com as outras pessoas Assim a palavra cultura acabou sendo sinônimo da quantidade de conhecimento que cada um consegue aprender Este tipo de cultura sempre foi considerado como uma capacidade de promover a diferença entre as pessoas Aqueles que aprendem muitos conhecimentos são considerados pessoas cultas Os outros que não conseguem aprender muito são considerados pessoas ignorantes portanto sem cultura Na segunda forma de pensar a cultura todos os seres humanos exibem algum grau de cultura na medida em que todos nós fazemos parte de uma civilização Aprendemos os elementos necessários para conviver em sociedade dentro de uma determinada região geográfica Assim mesmo o índio que não aprendeu Matemática tem a sua cultura própria Portanto seja da forma elitista que acredita que cultura é a acumulação de uma grande quantidade de conhecimentos ou da forma mais sociológica que crê que todo ser humano participa de uma cultura a cultura é a forma com que todos os seres humanos se diferenciam dos animais 24 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 110 As concepções filosóficas sobre a constituição do ser humano Ao longo dos séculos os filósofos tiveram ideias diferentes do que é o ser humano Na busca incessante por entender quem somos nós a Filosofia desenvolveu uma série de pensamentos muitas vezes antagônicos isto é pensamentos que combatiam uns aos outros para tentar definir o que constitui o ser humano Para a sabedoria popular um ser humano é simplesmente uma pessoa mas muitas vezes a Filosofia criou diferenças entre as pessoas Aristóteles por exemplo acreditava que os escravos não eram efetivamente seres humanos Vamos conhecer algumas das ideias oferecidas pelos filósofos a respeito do que é e como se constitui um ser humano 111 O corpo e a alma Toda vez que ouvimos a palavra alma imaginamos saber o que ela quer dizer Da mesma maneira sempre que nos referimos à palavra corpo imediatamente sabemos que temos um corpo Desde muito pequenos aprendemos o que é corpo e o que é alma Basta olharmos no espelho para vermos o nosso corpo contudo até hoje nenhum ser humano conseguiu ver a sua própria alma Acreditamos que a alma exista mas nunca ninguém foi capaz de vêla ou fotografála Por causa disso a Filosofia se preocupa há muitos séculos em dar uma explicação para o que é alma Muitos fundamentos descreveram a alma como uma substância Nesse sentido a alma seria alguma coisa parecida com a luz ou com a água Uma das característica da alma da forma que entendemos esta palavra e a utilizamos no dia a dia é que ela existe independentemente do corpo A maioria das filosofias tradicionais sempre pensou que a alma era o lugar onde as atividades espirituais do ser humano estavam fixadas Os nossos valores morais estariam de alguma maneira ligados à nossa alma Até hoje com toda a ciência ainda não conseguimos descobrir o que é a alma do ser humano Na Antiguidade diversos filósofos descreveram a alma de modos diferentes Anaxímenes acreditava que a alma é feita de ar Isso porque ele acreditava assim como um outro filósofo chamado Diógenes de Apolônia que o ar era o princípio de todas as coisas Para os seguidores de Pitágoras a alma era uma harmonia que podia ser construída a partir de números Por outro lado um filósofo chamado Heráclito que acreditava que o fogo era a origem de todas as coisas também julgava que a alma era feita de fogo Outra interessante teoria sobre a alma era a do filósofo Demócrito que supunha que a alma era feita de átomos que podiam entrar no corpo e assim movimentálo Foi Platão quem primeiro criou o conceito de alma que até hoje é aceito todo o corpo cujo movimento é imprimido fora inanimado todo corpo que se move por si a partir do seu interior é animado Essa é precisamente a natureza da alma Segundo ele a alma é a causa da vida e por isso é imortal já que constitui a sua própria essência Essa explicação que Platão deu da alma serviu de base para todos os demais filósofos Explicando melhor o que Platão falou a alma existe simplesmente por que ela dá vida a todos os seres vivos Ainda segundo Platão a alma não pode morrer porque ela só serve para fazer viver 25 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Aristóteles desenvolveu então uma teoria mais sofisticada a respeito da alma Segundo ele a alma é a substância do corpo Ela serve para fazer viver um corpo orgânico Isso porque o organismo enquanto instrumento tem a função de viver e de pensar e o que faz essa função é a alma Para ele a alma não é separável do corpo porque as atividades da alma não podem ser separadas das atividades do corpo Mas Aristóteles acreditava que existia uma parte da alma para além do próprio corpo Essa parte da alma permitia o funcionamento da mente Aristóteles também acreditava que a alma não podia existir fora do corpo e quando o corpo morria a alma também falecia Plotino um filósofo grego que morou em Roma acreditava que a alma era uma coisa divina e que não podia ser corrompida Assim para entender a alma era necessário fazer uma reflexão a respeito do que acontecia dentro do ser humano Dessa maneira Plotino sugeriu que existia dentro de nós a possibilidade de saber o que era certo e o que era errado criando portanto a noção de consciência Santo Agostinho que foi muito influenciado pelo pensamento de Platão ensinou aos cristãos que com o reconhecimento da espiritualidade podíamos ter acesso à nossa própria alma Quando refletimos a respeito de nós mesmos e confessamos para nós as nossas qualidades e também os nossos defeitos conseguimos entrar em contato com a nossa alma Isso que Santo Agostinho descreveu chamamos hoje em dia de consciência Para Santo Agostinho nada mais é importante do que conhecer a Deus e a alma Isso porque Deus estaria na alma de todos os homens Observação Santo Agostinho foi o primeiro grande filósofo da cristandade Nascido em uma família muito rica até os trinta anos ele gozou uma vida de prazeres Depois tornouse cristão por influência da mãe e se mudou para a Itália Lá estudou teologia com os grandes mestres da sua época em Roma e em Milão Depois voltou à sua terra onde escreveu sua obra filosófica de grande importância para a religião católica Porém durante a Idade Média os teóricos cristãos preferiram a noção de alma que Aristóteles tinha proposto mas eles mudaram uma coisa na ideia de Aristóteles consideraram que a alma é imortal e não morre com o corpo São Tomás de Aquino insistiu que alma é independente do corpo e por isso consegue sobreviver depois que o corpo morre O filósofo cristão denominado Ockham sugeriu que as experiências espirituais que nós temos decorrem de uma experiência interna que nós hoje em dia chamamos de reflexão Para o filósofo francês René Descartes essa experiência interna fazia com que o homem fosse uma coisa que pensa A substância dessa coisa é a alma Por outro lado a via de acesso para alma é o pensamento através da consciência Com esse modo de pensar Descartes mudou o entendimento humano a respeito da alma que deixou de ser uma substância corpórea e passou a ser uma percepção subjetiva da existência do ser humano 26 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Descartes revolucionou toda a Filosofia quando descobriu a forma filosófica de organizar o método científico Através da reflexão e análise sem preconceitos das partes mais simples de uma coisa ele percebeu que era possível examinar todas as partes e formular hipóteses racionais para o seu funcionamento Com base neste método Descartes estudou a Geometria a Biologia e a Medicina e seu método ainda é utilizado pelos pesquisadores modernos A partir de Descartes o conceito de consciência passou a superar o conceito de alma Para ele e também para o filósofo alemão Leibniz a forma da alma conhecer as coisas é revelada e testemunhada pela consciência Para o filósofo inglês Locke considerado o pai do liberalismo a reflexão é a mesma coisa que a experiência interna Assim a reflexão é uma das fontes do conhecimento o que permite o entendimento que o nosso espírito faz das ideias que recebe do exterior Segundo ele os atos do espírito são o pensamento a percepção a dúvida o conhecimento e a vontade Outro filósofo Hume escocês e empirista acreditava que todo o conhecimento do ser humano era constituído por impressões e por ideias Para o filósofo alemão Immanuel Kant o conhecimento só seria possível quando conseguíssemos perceber todas as qualidades e categorias que existem num objeto Assim é impossível que a consciência seja parte da alma Isso porque é impossível que o pensamento se torne parte de uma substância que seria a alma Dessa forma percebeuse que a alma estaria limitada à própria consciência A partir daí cada vez mais os filósofos preferiram substituir o termo alma pela a ideia de mente Hoje em dia continuamos a usar o termo alma e a noção de alma apenas quando estamos falando de religião Até hoje as religiões acreditam que os seres humanos existem porque Deus nos deu uma alma Ainda vaise acreditar por muito tempo na ideia alma enquanto ninguém descobrir qual a origem da vida Por outro lado toda a percepção dos seres vivos diz respeito ao conhecimento de seus corpos Para Aristóteles tudo o que pertence à natureza é constituído por corpos e grandezas Segundo ele corpo é o que tem extensão em qualquer direção e que é divisível em qualquer direção Aristóteles entendia qualquer direção como a altura a largura e a profundidade e sabia que todo corpo existe em três dimensões Essa definição de corpo foi aceita por muitos séculos Vários filósofos importantes como São Tomás de Aquino Descartes Espinosa e Hobbes apenas confirmaram de forma diferente a ideia original de Aristóteles Leibniz foi o primeiro a inovar o conceito de corpo Para ele existia o corpo matemático e o corpo físico O corpo físico é a matéria e tem a capacidade de agir e de sofrer uma ação Essa ideia evoluiu nas filosofias existencialista e instrumentalista ao ponto de considerarem que o corpo equivale a uma coisa Esta coisa é aquilo que os seres humanos utilizam para estar no mundo A concepção mais antiga do corpo é que ele é a prisão da alma Esse conceito original é de Platão e foi aceito por muitos séculos Segundo Platão o corpo poderia de alguma maneira demonstrar uma queda ou em outras palavras deixar de se comportar como um ser humano e passar a agir como um animal Para Aristóteles o corpo é um instrumento natural da alma São Tomás de Aquino acreditava que a finalidade do corpo humano é ter alma racional para suas operações A matéria do corpo existiria para permitir ao ser humano que ele executasse as ações necessárias para viver 27 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Para Descartes todo o calor e todos os movimentos que existem em nós pertencem ao corpo e não dependem absolutamente do pensamento Foi ele quem primeiro demonstrou que o corpo pode ser visto como uma máquina que se move por si Segundo ele o corpo podia ser entendido da mesma forma que um relógio Quando não estava em movimento o relógio continuava sendo um relógio Da mesma forma quando não tinha mais vida um corpo continuava sendo um corpo Foi essa visão cartesiana que permitiu os avanços da ciência principalmente da Medicina em relação ao conhecimento do corpo Se o corpo é uma espécie de máquina orgânica nada mais justo do que estudálo por partes Assim os médicos começaram a estudar o funcionamento do corpo a partir dos órgãos do seu interior Começouse a buscar as causas para os sintomas das doenças que o corpo apresentava Assim foi possível examinar o corpo sem se preocupar com a alma Observação Quando Descartes demonstrou que o corpo existia enquanto máquina orgânica completamente separado da alma é que a Igreja passou a permitir que se estudasse seu funcionamento A partir daí a Medicina deu um salto pois os conhecimentos adquiridos ao examinarse um corpo se tornaram ciência 112 O dualismo e o monismo A primeira vez que o termo dualismo foi utilizado serviu para descrever a doutrina de Zaratustra um filósofo persa que viveu 600 anos aC Segundo sua doutrina os dois princípios da vida o bem e o mal vivem numa luta constante entre si Mas o termo acabou ganhando um novo sentido na Filosofia para descrever uma ideia de Descartes Ele dividiu o nosso corpo em duas substâncias diferentes a corpórea e a espiritual Com o tempo a palavra dualismo também foi usada para indicar outras oposições que são percebidas pelo ser humano a primeira oposição foi proposta por Aristóteles que pensava que a matéria se opõe à forma Mas há também uma oposição entre a essência e a existência pensada pelos filósofos medievais e até hoje verificamos a oposição que existe entre a aparência e a realidade o que vemos na televisão e na internet não é a realidade O contrário do dualismo é o monismo Quem é a favor do monismo em princípio não acredita que o nosso corpo tenha duas substâncias diferentes Para os monistas não existe diferença entre a substância corpórea e a espiritual Ou seja não existe diferença entre o corpo e a mente Tudo é uma única coisa Os filósofos que acreditam no monismo podem ser tanto materialistas quanto idealistas Com o tempo os filósofos materialistas acabaram por monopolizar o termo monista assim outras formas de monismo recebem hoje em dia alguns adjetivos para indicar a sua forma de monismo Vários monistas acreditam não apenas na unidade da substância mas também numa qualidade especial da substância Então falamos de monismo idealista monismo da felicidade eudemonismo etc 28 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I E o que significa isso tudo Basicamente que existem duas maneiras de acreditar na forma em que o ser humano é composto e está no mundo Quando se pensa de uma forma dualista indicase uma qualidade para o corpo e outra para a mente Quando se pensa de forma monista acreditase que o corpo e a mente sempre trabalham como se fossem uma única unidade O dualista pode afirmar que se você está triste pode ficar doente O monista acredita que quando você está doente é porque tanto o seu corpo quanto a sua mente estão doentes ao mesmo tempo pelo mesmo motivo e pela mesma razão Observação Zaratustra fundou uma religião chamada masdeísmo ou parsismo que está baseada no dualismo Segundo ela o primeiro princípio é a oposição do bem contra o mal Todas as outras coisas que o homem faz são uma variação do bem ou do mal 113 As relações entre a racionalidade e o desejo Independentemente de acreditar que o ser humano é constituído de forma dualista ou monista a discussão do que é mais importante para as suas ações é se ele se comporta a partir do desejo ou da racionalidade A diferença aqui é saber se a gente faz as coisas porque pensa no que faz ou porque sentiu necessidade de fazer Os filósofos romanos admitiam que a filosofia racional era o que organizava a vida dos homens a partir do pensamento provido de razão Santo Agostinho acreditava que aquilo que era vivido com a razão era racional Por exemplo ele julgava que tomar banho era uma coisa racional Nesse sentido as coisas que fazemos para preservar a nossa saúde tais como escovar os dentes ou comer três refeições por dia são coisas racionais Por outro lado quem prefere o desejo acaba fazendo escolhas que são inteiramente emocionais Então por exemplo quem em vez de fazer três refeições por dia resolve passar o dia inteiro comendo balas doces e chocolates em lugar de se alimentar corretamente está se alimentando de acordo com seu desejo Para a Filosofia um sinônimo de desejo é o apetite Aristóteles acreditava que o desejo é o apetite do que é agradável Em outras palavras o desejo é a vontade de ter sempre mais daquilo que nos deixa contentes Por volta de 1800 anos depois de Aristóteles o filósofo Descartes sugeriu que o desejo é a agitação da alma causada pelos espíritos Os espíritos fazem a alma querer no futuro as coisas que ela acredita que são convenientes No fundo a explicação de Descartes é muito parecida com a de Aristóteles apenas um pouco mais complicada Já no século XX o filósofo alemão Heidegger sugeriu que o desejo é a vontade da possibilidade de alguma coisa acontecer Mas para ele tanto faz que essa coisa aconteça ou não porque de qualquer maneira nós sentimos o desejo de que ela aconteça 29 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Exemplo de aplicação A discussão entre a racionalidade e o desejo é importante porque em princípio toda a ação do homem depende da sua vontade mas a vontade acontece por causa da razão ou em função do desejo Sabemos que nada fazemos sem que alguma coisa nos estimule a fazer aquilo Muitas vezes não temos vontade de escovar os dentes Quando somos pequenos nossos pais nos obrigam a escovar os dentes e portanto a nossa vontade é estimulada por uma outra pessoa Isso em Filosofia é explicado como uma causa externa que estimula a nossa vontade Por outro lado se sentimos vontade de tomar sorvete ou de dar um mergulho na piscina fazemos isso porque queremos e não porque alguém nos obrigou Esse outro tipo de vontade é estimulado por uma causa interna Até hoje se discute qual o motivo de termos vontade Temos vontade de fazer alguma coisa porque sabemos que é a coisa certa a fazer ou simplesmente porque vamos ficar felizes 114 O que comanda o ser humano sua razão ou seus desejos Os filósofos sempre se perguntaram o que comanda as nossas decisões A questão é se as nossas decisões são determinadas por nós mesmos ou se fazemos escolhas obrigados por outras pessoas ou até mesmo por imposição da natureza Então os filósofos sempre trataram a questão das decisões como uma questão da escolha que fazemos entre uma coisa e outra Aristóteles acreditava que ao fazermos uma escolha estamos tratando de uma ação que só depende de nós mesmos Por outro lado o filósofo Espinosa acreditava que as escolhas partem sempre de uma determinação do corpo Já no século XX o filósofo Heidegger sugeriu que quando fazemos escolhas de alguma maneira pensamos naquilo que será o resultado da escolha que fizemos Portanto o resultado das nossas escolhas de alguma forma pode ser mais ou menos previsível Quando fazemos uma escolha utilizando a razão pensamos mais nas consequências das nossas escolhas Quando escolhemos alguma coisa por desejo pensamos apenas no prazer ou na felicidade que essa escolha vai nos proporcionar Segundo a Filosofia as escolhas feitas com a razão são ações com sabedoria Por outro lado as escolhas feitas a partir do desejo são escolhas individuais e podem ser egoístas 115 Por que a consciência é um aspecto fundamental do ser humano Em Filosofia existem duas formas completamente diferentes de pensar a consciência A primeira delas é a que Platão e Aristóteles utilizaram É praticamente a mesma coisa que todos nós entendemos por consciência Consciência é a possibilidade de dar atenção às nossas próprias ações e ao nosso modo de ser Exprimimos a nossa consciência através da linguagem Por outro lado existe uma outra ideia de consciência que até hoje tem validade no pensamento filosófico Ela seria a capacidade que nós temos de entender o que acontece dentro de nós na nossa 30 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I alma ou mente Nesse sentido a consciência seria uma atitude espiritual que estaria de acordo com o ensinamento de Sócrates conhecete a si mesmo Assim a consciência seria a maneira de descobrirmos dentro de nós os princípios e os valores morais De qualquer forma a consciência para toda filosofia é sempre expressa a partir da linguagem Mas apenas as filosofias dualistas que insistem numa diferença entre a vida interior e a vida exterior das pessoas é que conseguem determinar a necessidade da existência de uma consciência A única exceção filosófica de caráter monista é aquela proposta pelo materialismo na forma de consciência de classe Nesse caso o materialismo propõe que não existe uma consciência do indivíduo mas sim uma consciência social das pessoas que pertencem à mesma classe Plotino notou que havia duas operações diferentes a que damos o mesmo nome consciência A primeira é a percepção daquilo que acontece dentro de nós se estamos tristes por algum motivo se estamos alegres por outro motivo se sentimos saudade raiva etc A segunda operação é quando nos damos conta de alguma coisa que fizemos e que a nossa ação causou um dano a outra pessoa ou interferiu numa determinada situação Então quando uma criança bate em outra e percebe que esta chora a criança que bateu tem consciência do seu ato agressivo Por esse segundo motivo é que acreditamos a partir do pensamento de São Tomás de Aquino que ter consciência é conhecer o princípio moral dos nossos atos De uma forma geral foi Descartes quem formulou a ideia de que a consciência é a forma com que a pessoa acredita no seu próprio eu A consciência portanto é aquilo que permite o nosso entendimento do mundo a partir do entendimento de nós mesmos A forma moderna de entender a consciência foi elaborada por Kant ele afirmou que Tenho somente consciência imediata do que está em mim isto é a da minha representação das coisas externas e como ainda é preciso demonstrar que há ou não há algo de correspondente fora de mim preciso ter consciência da minha representação e também ter consciência empírica da minha existência KANT sd Esta formulação de Kant significa que ter consciência é uma operação que em primeiro lugar nos dá certeza de que existimos Em segundo lugar se fizermos um exame através dos nossos sentidos para saber se as outras coisas também existem conseguimos perceber essas coisas de uma determinada forma através da nossa consciência Como até hoje não descobrimos como o cérebro funciona acreditamos que a grande diferença entre nós e os animais é que por mais que os animais também tenham alguma consciência de estar no mundo eles não conseguem fazer julgamentos morais É por isso que muitas vezes a vida animal nos parece cruel Ainda acreditamos que a nossa grande diferença para os animais é que nós conseguimos distinguir o bem e o mal a partir da nossa consciência 31 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 116 Qual a relação entre a mente e o cérebro A discussão entre a relação da mente com o cérebro tomou diversas formas na história da Filosofia Em primeiro lugar a palavra mente não foi usada por todos os filósofos A maioria deles pensava que o cérebro era conduzido pelo intelecto ou pelo espírito Só de 300 anos para cá é que as pessoas acreditam que o espírito domina o corpo passando a chamar esse espírito de mente Isto aconteceu porque havia uma confusão entre os filósofos seria o espírito a mesma coisa que a alma ou não Platão e Aristóteles acreditavam que a faculdade de pensar vinha do intelecto Para eles o intelecto opera a atividade que nos faz pensar e portanto é aquilo que nos faz entender a ordem os limites e a medida das coisas Para Aristóteles inclusive o intelecto é o que permitia à alma raciocinar e entender o mundo Para Plotino o intelecto era aquilo que permitia o ser humano pensar Para São Tomás de Aquino o intelecto era aquilo que permitia conhecer a essência das coisas que era diferente do conhecimento que nós temos quando sentimos as coisas O filósofo Locke acreditava que intelecto é diferente de vontade Para ele a simples capacidade do ser humano pensar pode ser chamada de intelecto e a capacidade do ser humano de querer pode ser denominada vontade Ele acreditava que a capacidade de ter vontade e a capacidade de querer eram duas qualidades distintas da alma Para o filósofo alemão Leibniz o intelecto é a capacidade de distinguir as coisas e de refletir sobre elas Já Kant acreditava também que o intelecto é a capacidade de pensar Os filósofos alemães continuaram discutindo o que é o intelecto até que Hegel formulou a ideia de que o intelecto é a capacidade que temos de determinar o que é uma coisa e por que ela é diferente de outra coisa Segundo ele essa capacidade acontece através do pensamento Com o pensamento conseguimos determinar o que são as coisas Por causa disso hoje em dia acreditamos que o intelecto é a nossa capacidade de pensar com a razão Mesmo assim há quem considere três tipos diferentes de pensamento o pensamento a partir da intuição o pensamento a partir da necessidade das operações que precisamos fazer para que nosso corpo esteja bem no mundo e convivermos com as outras pessoas e o pensamento que se organiza na forma de intelecto que permite para nós o acesso à inteligência e ao entendimento Uma outra maneira de entender o intelecto é que ele permite o entendimento além da compreensão e do aprendizado Então começa a discussão se efetivamente é o intelecto que faz com que o nosso cérebro pense Durante muito tempo acreditouse que o pensamento era uma faculdade da alma Depois alma e espírito passaram a ser considerados a mesma coisa Então durante séculos discutiuse quais as qualidades do espírito que nos faziam entender as coisas Aristóteles imaginou que o intelecto ativo era a demonstração da existência de Deus Ele sugeriu que deveria haver um intelecto potencial que pertencia à alma humana e que permitia ao ser humano o aprendizado e a compreensão das coisas Com Plotino nasceu a ideia de que alma se servia do cérebro para manifestar a sua existência Foi Descartes quem primeiro sugeriu que os nervos do corpo humano enviavam as informações dos cinco sentidos visão audição olfato paladar e tato para o cérebro Este seria capaz de perceber os sentidos pois era dotado de um intelecto material 32 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Seguindo esta ideia de Descartes sugeriuse que estes conceitos que incluíam tanto o pensamento racional quanto as fantasias proporcionadas pelos sonhos e pela imaginação aconteciam no cérebro Por muito tempo imaginouse que o lugar de onde vinha a vontade do ser humano era o coração Por isso que até hoje se diz que quando alguém age sem pensar está agindo com o coração Só no século XX é que tivemos certeza de que o cérebro é o órgão do corpo humano que tem a capacidade de produzir o pensamento Como até hoje ninguém explicou de forma convincente o que é a alma acreditase que todo o pensamento é exclusivamente produzido pelo cérebro Assim percebeuse finalmente que a mente e a consciência são fenômenos que acontecem porque o cérebro tem a capacidade de pensar e refletir Hoje ainda estamos pesquisando a maneira com que o cérebro é capaz de pensar Depois de muito discutir a filosofia e a ciência chegaram a um acordo o cérebro é um órgão do corpo humano com o qual percebemos a existência da mente Nossa mente tem pensamentos e sonhos além de memória 117 Como o ser humano relaciona as características biológicas da natureza com os dados culturais Platão acreditava que era necessário organizar as opiniões que temos a respeito das coisas da natureza Se conseguíssemos organizar as opiniões a partir de um raciocínio que verificasse a relação causal entre as coisas estaríamos construindo a ciência Seguindo este mesmo conceito de ciência Aristóteles evoluiu para a ideia de que ciência é o conhecimento demonstrativo Para ele era necessário saber por que alguma coisa não pode ser diferente do que é Assim que Aristóteles percebeu que era preciso descobrir a essência das coisas ele ensinou que a melhor forma de fazermos isto é separando o que queremos conhecer em categorias Estas categorias são conjuntos de coisas semelhantes que podem ser relacionadas os peixes os insetos os répteis etc Um filósofo romano estoico chamado Sexto Empírico percebeu que a ciência é a compreensão segura certa e imutável de alguma coisa e é fundada na razão O filósofo medieval cristão chamado Dun Scot acreditava que também era necessário para a ciência demonstrar que ela funcionava na vida prática sem nenhuma necessidade da fé Noutras palavras o conhecimento científico devia ser comprovado através de demonstrações racionais no mundo dos homens Para Kant o conhecimento sistemático do mundo permitia entender o conhecimento múltiplo das coisas que existem a partir de uma única ideia Hegel evoluiu o pensamento de Kant na medida em que afirmou que a verdade só existe se for demonstrada por um sistema científico Dessa maneira primeiro através da divisão em categorias depois com a sistematização do conhecimento percebido a partir das categorias em que construiuse a noção moderna de ciências A partir do Renascimento as pesquisas biológicas principalmente com a dissecação do corpo humano passaram a fornecer cada vez mais evidências a respeito do funcionamento real dos seres vivos Foi necessário adaptar o pensamento filosófico para que se pudesse entender detalhadamente cada sistema descoberto na natureza 33 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Antigamente quando se estudava os seres vivos aquilo que não podia ser explicado era considerado uma qualidade da alma ou às vezes um motivo da alma Mas isso gerava muita discussão Ninguém sabia de fato se as plantas e os seres vivos tinham uma alma E caso tivessem uma esta era parecida com a alma humana Ao longo dos séculos fomos desenvolvendo maneiras de lidar com o que não conseguíamos entender Quando finalmente conseguimos elaborar a física moderna principalmente a partir do pensamento de Descartes e do físico inglês Isaac Newton passamos a separar cada vez mais as coisas que dizem respeito à natureza e as coisas que dizem respeito ao que acontece na mente humana Dessa forma as explicações míticas que existiam sobre a origem das coisas foram dando lugar às descobertas científicas do mundo moderno Aristóteles por exemplo acreditava que a origem das aves eram os pântanos pois neles existiam os fluidos necessários para criar aqueles organismos Depois eles se transformariam em aves Hoje em dia sabemos que todos os animais nascem a partir de células fecundadas que se dividem até formar um ser vivo Sabemos também que o que faz cada célula se especializar na feitura das partes do corpo de um ser vivo está indicado no DNA Mas este conhecimento é muito recente Há 200 anos acreditavase que a única grande ciência da humanidade era a Filosofia Hoje em dia o sabemos que precisamos entender a natureza do jeito que ela é e não da maneira que gostaríamos de pensar que ela fosse 118 O ser humano é dual No que diz respeito ao ser humano a maior questão do dualismo era saber se existe uma separação entre a subjetividade e a objetividade Essa questão dizia respeito a uma dúvida filosófica existe uma separação entre a sensação e o pensamento racional Tal dúvida aparecia cada vez que um filósofo pensava a respeito da condição humana Havia uma série de sentidos diferentes que o filósofo examinava por exemplo a sensação de tristeza e o estado de melancolia são a mesma coisa Tristeza e melancolia acabavam sendo interpretados como duas coisas diferentes que podiam atingir o corpo humano A rigor ninguém imaginava que todas as formas de sentimentos que criam diferentes sensações no corpo humano podiam ter origem no cérebro por causa do funcionamento da mente O que confundia os filósofos era a questão da origem da vida Na medida em que ninguém sabia como ela se formava durante séculos a Filosofia enganouse acreditando que a alma era a substância que permitia a vida existir A ideia da teoria da evolução formulada pelo cientista inglês Charles Darwin só aconteceria no século XIX Até mesmo o filósofo que permitiu o início do pensamento científico Descartes imaginava que havia um dualismo entre a substância pensante e a substância extensa ou seja o nosso corpo Ele acreditava que a liberdade é a lei que regia a substância espiritual e o mecanismo era a lei que regia a substância extensa Mas esse conceito a respeito do dualismo do corpo humano que separava a alma do corpo como duas substâncias diferentes acabou por facilitar a independência do corpo em relação à alma Isso foi muito importante porque ao tentar entender o corpo não estávamos mais tentando esclarecer o que era a alma Hoje pesquisadores do corpo humano podem estudálo melhor e desenvolver a ciência que conhecemos como Medicina Com essa separação entre corpo e alma o corpo humano pôde ser visto como uma 34 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I máquina biológica mas nem todo mundo concordou com Descartes Leibniz por exemplo desenvolveu a ideia de que o corpo vivo é um conjunto de mônadas as quais seriam substâncias espirituais agrupadas em torno da alma Outra solução foi proposta pelos filósofos de um movimento chamado romantismo uma corrente filosófica derivada do idealismo Hegel que foi um dos maiores filósofos românticos e idealistas recuperou uma antiga ideia de Platão e sugeriu que a alma era completamente formada e constituída como um sujeito singular O corpo seria então apenas a demonstração da existência de uma alma Muito antes de Hegel o filósofo Espinosa sugeriu que o corpo exprime a essência de Deus na forma de uma coisa extensa Portanto alma e corpo eram duas manifestações da mesma substância cuja origem era atribuída a Deus Essa concepção ainda é importante para nós pois de alguma maneira ela permite que acreditemos que a mente faz parte do corpo e as duas coisas funcionam a partir da mesma substância Ela permite também que acreditemos que podemos tratar as duas manifestações alma e corpo separadamente Assim essa ideia permitiu o nascimento dos estudos da psicologia Outra forma de pensar o que é a existência do ser humano e para o que ele foi desenvolvido foi pensada por um outro filósofo alemão chamado Husserl Ele acreditava que o corpo era uma manifestação da individualidade da mente toda vez que eu pensar que eu estou no mundo Em outras palavras o meu estar no mundo é que me dá certeza de que eu sou eu Isso é percebido e manifestado de uma forma individual para as outras pessoas e também para mim mesmo através da existência do meu corpo Por mais complicado que este raciocínio possa parecer isso permitiu que se percebesse a alma o espírito e o corpo como três instâncias de possibilidades diferentes do comportamento humano Hoje em dia dizemos que o corpo é um organismo biológico que de alguma maneira consegue pensar e formular diversos tipos de linguagem Em vez de separarmos a alma do espírito acreditamos que as duas coisas funcionam a partir da mente humana Assim podemos tratar do corpo separadamente da mente Mas também sabemos que uma série grande de doenças do corpo sofre a interferência da mente a qual está de alguma maneira envolvida na existência do próprio corpo A grande diferença da concepção moderna do dualismo entre mente e corpo é que hoje acreditamos que quando não há equilíbrio no corpo não deve haver equilíbrio na mente e viceversa De alguma maneira ainda não conseguimos integrar o funcionamento da mente ao funcionamento do corpo Sabemos tratar as doenças a partir de estudos da Química e da Biologia mas até hoje ainda não conseguimos tratar os problemas da mente de uma forma convincente com o que sabemos de Química e de Biologia 119 O psiquismo é separado do corpo Quando pensamos no psiquismo ou seja no funcionamento da mente muitas vezes acreditamos que o que acontece na mente não tem nada a ver com o que acontece no corpo Há milênios que os filósofos perceberam que existe uma ligação forte entre as duas coisas Percebemos essa união forte entre a mente e o corpo no momento em que sentimos emoções Uma das definições de emoção é a percepção da importância que determinada situação tem para sua vida para as suas necessidades ou mesmo para os seus interesses Em outras palavras uma emoção é quando eu percebo que amo alguém Outra é saber que nosso time ganhou o campeonato Também é emocionante quando comemos uma sobremesa deliciosa Enfim tudo isso são emoções 35 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Aristóteles dizia que emoção é toda a manifestação da alma acompanhada pelo prazer ou pela dor Dessa maneira as emoções podem ser consideradas reações imediatas de qualquer ser vivo a toda situação vivida no seu meio ambiente Um peixe fugiu de outro peixe maior e vivenciou uma emoção Uma égua acabou de dar à luz e experimentou uma emoção Nesse sentido qualquer ser vivo até mesmo uma planta consegue dar sinais de medo ou de coragem em relação ao ambiente em que vive Isso acaba influindo na maneira com que o ser vivo se comporta Para Platão todo ser vivo sente dor quando de alguma forma se sente ameaçado A dor é a manifestação da falta de harmonia do ser vivo com seu ambiente Por outro lado o prazer é simplesmente a sensação de harmonia com o ambiente Tanto para Platão quanto para Aristóteles as emoções acabavam servindo para demonstrar a dificuldade ou a facilidade com que as pessoas convivem no mundo A corrente filosófica estoica acreditava que as emoções não têm significado nem nenhuma função para o ser humano Para ela a própria natureza construiu todos os seres vivos de forma que eles consigam se preservar Isto é a natureza dotou os seres para se manterem vivos enquanto os animais utilizam o instinto para isso o homem usa a razão Os estoicos ainda acreditavam que só existiam quatro emoções fundamentais Havia o desejo de bens futuros e a alegria dos bens presentes O contrário disso portanto uma situação dualista era o temor dos males futuros e a aflição pelos males presentes Todas as outras emoções eram de alguma maneira derivadas dessas quatro emoções básicas Esse pensamento é importante porque até hoje os psicólogos examinam seus pacientes tentando descobrir qual dessas quatro emoções está causando uma manifestação de malestar De alguma maneira o sentimento errado decorrente de cada uma dessas emoções é considerado hoje em dia uma doença psicológica Se uma pessoa não deseja o bem futuro ela pode ser considerada depressiva Caso ela não tenha alegria pelos bens presentes pode estar em pânico Se não sente temor pelos males futuros pode ser considerada maníaca Caso não sinta aflição pelos males presentes é considerada esquizofrênica E se por acaso uma pessoa alterna muito na percepção errada das emoções é considerada bipolar Kant acreditava que todos os problemas que seres humanos tinham com as emoções podiam ser considerados doenças da alma Ele percebeu que as doenças da alma afetavam de alguma maneira o corpo humano Para ele antes que um ser humano consiga realmente ser governado pela razão ele é atormentado pelas emoções que promovem estímulos patológicos Isso quer dizer que as emoções promovem estímulos sensíveis mas o corpo não consegue conviver bem com as emoções que não consegue controlar A partir da descoberta da evolução por Darwin em 1855 outro filósofo cientista chamado Spencer escreveu um livro chamado Princípios da Psicologia Ele percebeu que todas as experiências vividas se dividem em duas classes as sensações que são produzidas pelos estímulos que nos chegam através dos sentidos e as emoções que são produzidas por um estímulo central na mente Segundo 36 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Spencer tanto as sensações quanto as emoções são na verdade mecanismos de adaptação ou de resposta da mente às coisas que nós vivenciamos no meio ambiente Nós enquanto seres vivos sempre respondemos àquilo que nos interessa e a àquilo que nos causa repúdio Então por exemplo se vemos uma pessoa que gostamos e somos estimulados por ela através da nossa visão e da audição da sua voz acabamos sentindo uma sensação de prazer que nos deixa feliz Por outro lado se vemos um animal que nos ameaça como um tigre mesmo que ele não tenha nos visto sabemos que aquele animal nos causa medo Esse temor faz com que tomemos uma atitude como por exemplo nos escondermos fugirmos ou até mesmo o ataquemos Então existe sempre um relacionamento conexo entre as coisas psíquicas e o nosso corpo De alguma maneira sabemos que precisamos de um corpo são para mantermos uma mente sã e viceversa 120 O conhecimento é uma modalidade de desejo Hoje em dia acreditamos que o conhecimento é uma técnica para verificarmos como sabemos que uma coisa existe Essa técnica permite a descrição o cálculo ou a previsão da coisa em questão Na verdade quando falamos de uma coisa falamos de qualquer coisa que de alguma maneira sabemos que existe Essa técnica também pressupõe que possamos repetir a experiência ou o cálculo que acaba descrevendo a tal coisa a partir de determinadas regras estabelecidas Por exemplo quando pensamos na largura no comprimento e na profundidade de uma parede podemos saber que além de conseguimos descrevêla ou desenhála podemos até mesmo construir outra parede a partir dos mesmos dados Esse tipo de pensamento é basicamente um pensamento científico extremamente moderno Há 200 anos ninguém tinha certeza absoluta de que o conhecimento era uma técnica As pessoas acreditavam nos mais diversos motivos que proporcionam o conhecimento ao ser humano O primeiro a declarar o seu amor ao conhecimento foi Platão Quando Platão sugeriu que a maioria dos homens são como prisioneiros acorrentados dentro de uma caverna que conseguem apenas ver as sombras projetadas das pessoas que passam pela entrada da caverna na parede do fundo o que ele dizia é que a ignorância é a falta do conhecimento real das coisas Então apenas quando um desses prisioneiros conseguisse se libertar das correntes saísse da caverna pela porta de entrada e visse finalmente como as coisas que antes eram apenas sombras agora eram objetos completos é que ele chegaria ao conhecimento real Conhecer alguma coisa equivalia a se libertar das correntes e da situação de prisioneiro da ignorância E como ninguém gosta de ser um prisioneiro acorrentado conhecer acaba sendo uma forma de se libertar e um desejo do ser humano Hoje em dia sabemos que é com a educação que aprendemos a técnica de tornar a aquisição de conhecimento uma ação sistematizada Sistematizar o aprendizado é o que facilita a nossa compreensão e o nosso estar no mundo O conhecimento é menos um desejo e mais efetivamente um esforço no sentido de percebermos a realidade do mundo o como ela é 37 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 121 Somos senhores de nossos desejos e sentimentos Quando Platão pensou seu projeto de psicologia ele na verdade decidiu que a alma tinha três partes a primeira era uma parte racional a segunda concupiscível e a terceira irascível Isso quer dizer que a alma fora dividida por Platão numa parte que pensa racionalmente outra que sente a partir das emoções e a terceira que funciona a partir dos instintos Quando Aristóteles pensou seu projeto de psicologia acreditava que na nossa alma havia três princípios o vegetativo o sensitivo e o intelectivo Para nós hoje em dia não faz muito sentido pensarmos com essas categorias aristotélicas É interessante verificar que nem Platão nem Aristóteles acreditavam que as nossas emoções surgem na mente Cada desejo e cada sentimento nasciam em partes diferentes da alma e até mesmo poderiam ser manifestação de duas ou três partes da alma combinadas Esses dois grandes pensadores já tinham percebido que os nossos desejos e sentimentos nem sempre são controlados pela nossa parcela racional Os seres humanos sempre tiveram a impressão de que alguns dos nossos desejos e sentimentos conseguem nos dominar de alguma forma Assim alguma das vontades que sentimos como por exemplo uma paixão incontrolada não conseguem ser dominadas pela nossa razão Kant foi o primeiro filósofo a perceber que os sentimentos do prazer e da dor e o poder de desejar organizam o ser humano A isso Kant chamou de faculdade de juízo De acordo com ele os sentimentos de dor e o poder de desejar conferem ao ser humano uma razão prática A partir dessa ideia de Kant o filósofo francês Augusto Comte fundou uma corrente filosófica denominada positivismo a qual acreditava que as mulheres conseguem perceber melhor os elementos afetivos do gênero humano Portanto a moral estaria mais baseada nos sentimentos do que na razão Comte julgava que as mulheres conseguem demonstrar o altruísmo que é a capacidade que nós temos de fazer o bem sem pensar a quem Nesse sentido prevalece até hoje no nosso senso a ideia do filósofo Pascal que disse O coração tem razões que a razão desconhece CHAUÍ 2000 p 70 O que ele estava querendo dizer é que as regras dos sentimentos independem das regras da razão Portanto a filosofia reconheceu há muito tempo que os valores decorrentes de sentimentos e dos desejos nascem de forma diferente dos valores decorrentes da razão 122 O que significa ser e estar consciente Costumamos usar as concepções de Platão e também de Aristóteles para entendermos o que é ser e estar consciente Estar consciente é perceber se estamos acordados ou se estamos dormindo se estamos bem ou se estamos mal se estamos sentindo alguma coisa se estamos tendo ideias ou simplesmente se estamos prestando atenção em alguma coisa Mas para filosofia estar consciente é uma forma de se ter acesso à espiritualidade do ser humano Essa é a forma de termos a capacidade de nos conhecermos e de fazermos um julgamento moral a respeito de nós mesmo 38 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 123 É mais fácil conhecer a si mesmo do que as coisas ou as outras pessoas Quem primeiro propôs que devemos conhecer a nós mesmos antes de tentarmos conhecer as coisas ou as pessoas foi Sócrates o professor de Platão Isso porque a capacidade que temos de julgar os nossos próprios atos e pensamentos deve ser exercitada antes que nós tenhamos algum tipo de juízo de valor sobre os atos e os pensamentos das outras pessoas Isso não quer dizer que seja fácil para nos conhecermos a nós mesmos Essa atitude de autoavaliação é basicamente um retorno para a possibilidade que existe para nós de investigarmos se o que estamos fazendo causa o bem ou causa o mal E precisamos também distinguir se estamos causando o bem ou o mal só para nós mesmos ou também aos outros Segundo Santo Agostinho nós temos memória inteligência e vontade Por causa disso a coisa mais acessível que nós conseguimos alcançar é a nossa própria mente com todas as suas capacidades e qualidades Assim na medida em que é possível conhecermos a nós mesmos seria mais fácil entendermos como as outras pessoas funcionam Por outro lado os estoicos acreditavam que isso só seria possível com o exercício da razão Apenas examinando a nós mesmos e as outras pessoas a partir de princípios racionais é que nós conseguiríamos conhecer a nós mesmos e as outras pessoas 124 A consciência nos engana O primeiro filósofo que realmente demonstrou que a consciência pode nos enganar foi Descartes Para ele o pensamento era todas as coisas que aconteciam dentro de nós das quais temos consciência Dessa maneira para Descartes pensar equivalia também a sentir a entender a querer e a imaginar Mas ele percebia também que se a gente diz Estou vendo aquela árvore ou Estão andando naquela rua em princípio isso não nos dá a certeza de que estamos acordados pois podemos estar sonhando Então mesmo a que gente queime o dedo no fogão ou que acredite que está se afogando nem sempre nós estamos realmente queimando o dedo no fogão ou nos afogando podemos estar tendo um pesadelo Mas se temos a consciência de estar pensando e por saber que estou pensando tenho a certeza de que estou vendo uma árvore ou estou andando numa rua neste momento tenho consciência de que penso e portanto que existo Enquanto estamos atentos à nossa existência como um sujeito pensante podemos ter certeza de que temos consciência Na medida em que temos essa certeza a partir daí podemos ter a convicção de que o mundo existe e nos cerca Portanto a consciência só pode nos enganar quando não temos certeza de que estamos pensando a respeito daquilo que estamos vivendo Isso acontece por exemplo quando consumimos bebida alcoólica em excesso pois perdemos a capacidade de pensar claramente Nesse momento é bem provável que sem o domínio claro do pensamento a nossa consciência possa nos enganar 39 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 125 É possível conhecerse a si mesmo sem se enganar Quem melhor avançou nessa ideia foi Kant Para tentar explicar a relação do homem comum através da consciência ele sugeriu que nós temos apenas consciência imediata do que está em nós e da nossa representação das coisas externas que estamos vendo e ouvindo imediatamente Nós ainda temos de demonstrar que existem coisas fora de nós Para tanto temos de ter uma consciência empírica da existência Em outras palavras temos de ter uma consciência a partir dos sentidos e da nossa existência Isso só pode ser determinado em relação a alguma coisa que mesmo estando ligada à minha existência está fora de mim Parece tudo muito complicado mas o que Kant estava querendo dizer é que temos através do tato e da visão o conhecimento de um sapato Na medida em que calçamos os sapatos percebemos que estamos colocando alguma coisa num corpo que eu acredito que é o meu corpo Então na medida em que sei que posso calçar um sapato que é exatamente do tamanho do meu pé percebo automaticamente que o meu pé existe e que está ligado no corpo Por fim sei que meu corpo está ligado à minha mente Portanto sei que eu posso me conhecer com a ajuda dos sentidos e ter consciência disso Por outro lado esta explicação pode eventualmente nos fazer acreditar que as coisas que estão longe de nós afastadas dos nossos sentidos também estariam afastadas da consciência Poderíamos eventualmente não acreditar que certas coisas que nos ameaçam ou até que nos fazem bem só vão começar a existir daqui a algum tempo Se isso fosse verdade seria impossível termos esperança em alguma coisa ou sentirmos fé Não há nada mais difícil que ser confrontado e obrigado a fazer uma escolha Sabemos que mesmo acreditando que nós nos conheçamos muito bem temos conhecimento de que podemos fazer escolhas erradas Por exemplo só depois que percebemos que por algum motivo nós escolhemos comer peixe no lugar de carne e em seguida nos damos conta de que estávamos com vontade de comer carne em vez de peixe Assim verificamos que a nossa escolha pode ter sido feita a partir de uma série de estímulos que num primeiro momento parecia correta Mas em seguida percebemos que os nossos sentidos nos enganaram e que de alguma maneira a nossa razão concordou com o engano dos sentidos Nessa hora quando os pequenos enganos das nossas escolhas nos deixam chateados com nós mesmos é que verificamos que por mais que acreditemos que conhecemos a nós mesmos ainda assim conseguimos nos enganar Mesmo quando prestamos muita atenção os nossos sentidos podem nos enganar Pensamos que vimos mas não vimos nada que ouvimos mas imaginamos que ouvimos Isso acontece com frequência 126 O que significa dizer que pensamos com nosso cérebro Hobbes escreveu um livro famoso chamado Leviatã Ele concluiu que a razão não é mais do que o cálculo isto é a razão é igual a adição e a subtração das percepções que temos das coisas que exprimimos através de nossos pensamentos De alguma maneira este pensamento de Hobbes até hoje é valido quando verificamos que um computador faz exatamente isso tanto para escrever como para exibir imagens e som É por isso que o nome antigo computador é cérebro eletrônico 40 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Sabemos que os computadores não são capazes de pensar por si próprios mas também sabemos que o nosso cérebro dispõe de uma série de circuitos elétricos que de alguma maneira consegue fazer com que nós consigamos refletir a respeito das coisas Além de refletir nós temos também a capacidade de ter novas ideias Então apesar de não sabermos ainda como o cérebro consegue pensar sabemos que o nosso pensamento nasce dentro do cérebro Sabemos também que muitas das ideias e pensamentos que nós temos nascem das informações que todo nosso corpo recebe do contato que faz com o meio ambiente Portanto mesmo quando usamos a razão e acreditamos que de alguma maneira estamos fazendo operações lógicas sabemos que o cérebro tem muito mais capacidade para perceber emoções e sentimentos e que são todas essas coisas em conjunto que acabam formando o pensamento Ninguém acredita mais que as ações sentimentais nascem do coração Também não encontramos nenhum outro órgão além do cérebro que nos faz pensar 127 A arte e a técnica Para Platão todo tipo de conhecimento devia ser considerado arte Para ele não existia uma distinção entre arte e ciência Poesia política e guerra eram artes A medicina era arte o respeito e a justiça eram artes Enfim tudo era dividido entre a arte judicativa e a arte imperativa A arte judicativa era simplesmente conhecer alguma coisa enquanto a arte imperativa era exercer uma atividade baseada no conhecimento Portanto para Platão tudo o que o ser humano fazia podia ser considerado arte Para Aristóteles a arte não podia ser equivalente à ciência A ciência segundo ele dizia respeito ao conhecimento que é necessário para entendermos alguma coisa quando esta coisa não pode ser diferente do que é Aristóteles pensava que a arte é aquilo que podia ser feito com uma ação e que resultava numa produção Então para ele a arquitetura era arte fazer poesia era arte mas a lógica não era arte A medicina também era arte mas a Física e a Matemática não eram Plotino por sua vez distinguiu as artes entre aquelas cuja finalidade é a fabricação de um objeto como por exemplo a Arquitetura e aquelas que ajudam a natureza como a medicina e agricultura Ele também acreditava que existiam artes práticas como a música São Tomás de Aquino estabeleceu uma distinção entre as artes liberais e as serviçais Segundo ele as artes liberais eram exercidas com a razão enquanto a servil designava os trabalhos exercidos com o corpo Estes trabalhos seriam servis porque o corpo é subordinado à mente e portanto serve a mente A palavra arte designava não apenas as artes liberais mas também as artes mecânicas ou em outras palavras os ofícios É por esse motivo que ainda chamamos as pessoas que lidam com os ofícios manuais de artesãos Os marceneiros e as costureiras são artesãos Quando Kant estudou as artes distinguiu de um lado a mecânica e de outro a estética A arte mecânica em princípio realizava as operações necessárias para a construção de um objeto como fabricar uma mesa A arte estética é a bela arte e tem como finalidade a representação da realidade Quanto mais benfeita a representação da realidade a beleza deve estimular a sensação de prazer 41 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Por outro lado depois que Kant definiu a arte desta maneira passamos a nos referir à arte mecânica como a técnica A técnica em princípio são todos os procedimentos que seguem uma norma e que regulam os comportamentos em todas as atividades Interessante é perceber que a palavra técnica hoje em dia significa aquilo que Platão chamava originalmente de arte Por outro lado as questões relativas às técnicas da arte hoje em dia são chamadas de estética Aristóteles acreditava que um modelo de uma coisa era resultado da simetria Até hoje percebemos que ele tinha razão Quanto mais simétrico é um objeto mais acreditamos que ele é belo O motivo disso é que quanto mais belo é um objeto mais facilmente e rapidamente conseguimos entender as suas formas É por isso que a beleza está ligada à ideia de simetria Nesse sentido a arte sempre será um ato de imitação da natureza Pitágoras já tinha percebido que as notas musicais equivalem a frações de números inteiros Quanto mais essas frações estão em harmonia quer dizer organizadas numa simetria bem calculada mais a música será bela A mesma coisa acaba funcionando para todos os outros sentidos Então tanto para o tato quanto para o paladar e o olfato tudo aquilo que gostamos é também aquilo que temos facilidade de compreender através dos sentidos As artes nada mais são do que a imitação da natureza a partir das técnicas de organizar as simetrias Pitágoras descobriu que as notas musicais são proporções matemáticas Ele esticou três arames numa tábua de madeira e percebeu que apertando cada arame numa posição determinada através do cálculo das frações isso produzia sons O violão funciona exatamente de acordo com a descoberta de Pitágoras De uma forma geral pensamos que a técnica permite a organização da civilização Cada civilização se organiza a partir da sua própria cultura com as técnicas importantes para sua existência Está claro que a cultura de uma civilização organiza as formas simbólicas e as linguagens que conferem o seu sentido Isso quer dizer que cada país elege um hino nacional e uma bandeira e diz tudo isso numa língua própria Assim podemos designar as pessoas que vivem neste país como cidadãos nacionais Na mistura entre a técnica e a cultura cada povo organiza o seu sistema educacional seu sistema político e a sua ciência Podemos também incluir aí as instituições econômicas e jurídicas O próprio conhecimento nada mais é do que uma técnica de verificação que possibilita a descrição o cálculo ou a previsão de qualquer coisa O direito ou seja o estudo das leis é uma técnica que permite a coexistência humana a partir do estabelecimento de um conjunto de regras A técnica permite a organização dos ofícios que possibilitam construir as coisas É a técnica que organiza o conhecimento prático Nesse sentido a própria ética pode ser entendida como uma técnica de conduta do ser humano Também a experiência é a técnica de verificação do funcionamento de alguma coisa A lógica é uma maneira de organizar o pensamento parecida com a Matemática Portanto a técnica e sua utilização acabam organizando as normas e as regras Quando lemos na nossa bandeira nacional as palavras Ordem e Progresso basicamente estamos lendo os pressupostos do positivismo para a organização da técnica Em outras palavras toda técnica para ser bemsucedida precisa da ordem E toda ordem técnica acaba tendo como resultado um aperfeiçoamento e esse aperfeiçoamento é 42 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I o progresso O próprio saber é uma técnica capaz de fornecer informações sobre um conjunto de coisas organizadas por categorias Então quando falamos no saber da Química dizemos sobre um conjunto de técnicas capazes de nos fazer entender o funcionamento dos elementos e de todas as substâncias que conhecemos Assim o saber só é possível a partir de técnicas de investigação e a análise nos dá respostas que podem ser comprovadas O próprio sentido da linguagem nada mais é do que uma técnica de expressar significados através de determinados signos Por exemplo expressamos as palavras a partir da técnica de organização das letras as quais por sua vez são uma técnica de indicar como devemos reproduzir os fonemas Podemos ver que existem técnicas que são simbólicas e permitem a cognição estética Por outro lado também existem modos do comportamento que organizam a moral com a política e a economia com a produção humana Segundo o filósofo inglês Francis Drake que viveu no começo do século XVII qualquer grupo humano que pretenda sobreviver precisa desenvolver um certo grau de técnicas para garantir o bemestar Foi com a técnica que o ser humano acabou agredindo a natureza e em alguns casos exaurindo os recursos naturais da Terra Por isso que hoje em dia estamos mais atentos aos problemas que as técnicas podem nos trazer Sabemos que não podemos usar as técnicas sem pensar nas consequências que elas trazem 128 O trabalho e a alienação Para a Filosofia o trabalho é a atividade humana que modifica as coisas da natureza e o meio ambiente para satisfazer as necessidades Basicamente o trabalho implica numa dependência do homem em relação à natureza tanto no que se refere à sua vida quanto aos seus interesses Todo trabalho humano depende sempre da utilização dos sentidos A leitura por exemplo requer a utilização da visão e do tato Cozinhar requer a utilização da visão do olfato do paladar e do tato para mexer a colher Todas as coisas da natureza incluindo aí seus elementos mais básicos são de alguma forma transformadas através do trabalho Estas outras coisas são chamadas de artificiais porque são fruto da transformação pela arte humana Hoje sabemos também que todo trabalho é fruto de um esforço que pode proporcionar sofrimento ou cansaço e isso pode ser uma representação do custo humano do trabalho No Velho Testamento no livro de Gênesis o trabalho é considerado uma maldição divina e decorrente do pecado original Para quem não se lembra o pecado original foi quando Adão e Eva comeram a maçã o que tinha sido proibido por Deus Por outro lado São Paulo escreveu quem não quer trabalhar não coma ABBAGNANO 2007 p 964 O sentido disso era que ninguém devia onerar os outros com o cansaço e o sofrimento do trabalho para conseguir sobreviver Tanto Santo Agostinho quanto São Tomás de Aquino acreditavam que o trabalho era uma obrigação imposta pela religiosidade A Utopia livro escrito pelo filósofo inglês Thomas More em 1516 também sugeria que todos os membros da cidade ideal tivessem a mesma obrigação de trabalhar Na obra Utopia é um lugar perfeito onde todos vivem em harmonia uns com os outros e com a natureza 43 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Saiba mais Para se aprofundar no conteúdo leia a obra ABBAGNANO N Dicionário de filosofia São Paulo Martins Fontes 2007 O pesquisador italiano Galileo Galilei reconhecia que era através das observações feitas pelos artesãos que faziam os trabalhos manuais que podíamos encontrar uma grande quantidade de observações científicas O filósofo suíço Rousseau quando escreveu sobre a educação pensou que o trabalho manual permitiria maior solidariedade social se fosse executado por todos nós Para os filósofos idealistas como por exemplo Fichte há uma relação entre o trabalho e a natureza do homem Segundo ele mesmo a ocupação mais simples e insignificante se estiver ligada à conservação e à livre atividade dos seres humanos deveria ser santificada O também alemão Hegel acreditava que o trabalho é a mediação entre o homem e seu mundo Ele pensou isso porque percebeu que o homem não consome de imediato o produto natural da Terra mas o elabora através da maneira de cozinhar Ele percebeu também que a satisfação das necessidades humanas só acontece através do trabalho O trabalho não apenas necessita de uma educação teórica mas também de uma educação prática É por causa desse pensamento de Hegel que acreditamos que o homem civilizado é educado e tem necessidade de trabalhar Hegel também pensou que através do trabalho o egoísmo de cada homem acaba se convertendo na satisfação das necessidades de todos os outros Ele também percebeu que como a nossa população aumenta crescem também as suas necessidades Por isso é muito importante a divisão do trabalho e a relevância da distinção de classes baseadas na divisão do trabalho Já naquela época ele percebia que a divisão do trabalho leva à substituição do homem pela máquina porque a máquina facilita muito o trabalho humano Por outro lado também a partir da utilização da máquina o trabalho do ser humano acaba ficando limitado à sua operação Hegel acreditava que a relação do trabalho com os homens era de ordem espiritual Quem percebeu que apesar de Hegel ter razão nas suas observações a relação do trabalho com o homem é na verdade natural ou material Quem disse isso foi Marx um filósofo alemão que viveu na Inglaterra Segundo ele os homens começaram a se distinguir dos animais quando produziram seus próprios meios de subsistência Esse progresso foi condicionado pela organização da sociedade humana Produzindo os seus meios de subsistência o ser humano produz diretamente a sua vida material Para entendermos melhor o que você acabou de ler vamos a um exemplo bem simples Marx percebeu que os seres humanos na Antiguidade resolveram beber leite O leite vinha dos outros animais mamíferos que tinham sido domesticados tais como a vaca e a cabra Mas toda vez que uma tribo precisava viajar ou quando chegava o inverno a produção de leite diminuía muito Com o tempo a forma de conservar o leite foi descoberta a partir de uma série de técnicas as quais pressupunham que a pessoa trabalhasse Portanto a fabricação do queijo nada mais era do que as técnicas de trabalho da conservação do leite Isso permitiu que nossos antepassados pudessem ter acesso ao leite transformado na forma de queijo Dessa maneira os seres humanos 44 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I produzem diretamente para sua vida material Para Marx a fabricação do queijo não pode ser entendida como fruto da vida espiritual como pensava Hegel Partindo da sua nova concepção do trabalho Marx então percebeu que o trabalho não é apenas um meio com que os homens promovem a sua subsistência Na verdade a constituição do ser humano depende do trabalho pois além de pensar e falar se não fosse o trabalho o ser humano não teria sobrevivido na natureza Portanto a noção de que o trabalho é uma condenação estava errada Para Marx o trabalho faz parte da própria natureza do ser humano Ele faz com que os indivíduos entrem em contato com as outras pessoas tanto para trocarem o fruto de seu trabalho como para colaborarem em novos trabalhos Portanto o trabalho é a base das relações entre as pessoas constituindo a estrutura mais autêntica da história e da sociedade Para ele existem duas qualidades diferentes no trabalho do ser humano o trabalho não alienado e o alienado Alienar significa dar ao outro Então o trabalho pode ser dado a outra pessoa ou mantido em poder próprio Em outras palavras uma família que fabrica queijos os mantêm em casa para consumo próprio Eventualmente os queijos podem ser vendidos ou trocados por outros alimentos para aquela família Caso uma pessoa dessa família vá trabalhar numa fábrica de queijos os queijos que ela fabricar não são para o consumo próprio da família O trabalho que a pessoa faz para a fábrica é trocado por dinheiro Muitas vezes a quantidade de dinheiro que esse trabalhador recebe do dono da fábrica não é suficiente para que a sua própria família tenha dinheiro para comprar o queijo que acabou de fabricar Em outras palavras o que acontece é que o trabalho desse trabalhador é dado para outra pessoa o patrão Marx chamou de alienação do trabalho o fato de o patrão não pagar ao trabalhador a quantidade de dinheiro suficiente para que ele compre queijo para sua família 129 O tempo e a transcendência Como tudo mais na Filosofia o tempo é entendido de forma diferente do conhecimento comum A primeira maneira da filosofia compreender o tempo é muito parecida com a nossa forma de entendêlo O tempo é uma forma de medir o movimento Nesse sentido tanto faz se é o movimento de uma pessoa ao subir uma escada ou o de um cavalo viajando entre uma cidade e outra Também pode ser o movimento da Terra girando em torno do sol Aquilo que permite a comparação de todos esses movimentos é a medida do tempo Uma segunda maneira de pensar no tempo foi proposta pelo filósofo Locke Ele percebeu que os pensamentos e as ideias não apenas determinam um tempo mas também acontecem de tempos em tempos Essa concepção de tempo foi descrita pelo filósofo Berkeley da seguinte maneira se eu tentar entender o tempo sem perceber que as minhas ideias são encadeadas por uma determinada ordem que é compartilhada por todos os seres não conseguirei nem entender nem explicar o que é o tempo Ele queria dizer que o tempo das ideias e dos pensamentos é diferente do tempo real do relógio O físico inglês Isaac Newton entendeu essa definição de tempo e com ela distinguiu o que é o tempo absoluto e o relativo O tempo absoluto é aquele que pode ser definido matematicamente e que podemos chamar de duração Já o relativo é a medida do movimento em relação a determinado ponto de observação 45 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Kant por sua vez acrescentou que o tempo organiza a causalidade O que ele queria dizer é que existe uma sucessão de coisas que acontecem ao longo do tempo e todas essas elas geram consequências Na prática isso significa que se esquentamos a água por algum tempo o resultado é que ela vai se transformar em vapor Por causa disso é que podemos medir o tempo porque ele propõe para nós uma realidade que não podemos negar e que experimentamos com os sentidos A isso Kant denominou realidade empírica Hegel percebeu que temos na nossa consciência uma ideia de tempo que é expressa a partir do nosso eu Isso significa que não apenas podemos medir o tempo mas também podemos ter uma intuição de quanto tempo leva para determinadas coisas acontecerem Essa outra ideia de tempo permite para nós o planejamento O prazo pode ser curto médio ou longo Em outras palavras estimamos quanto tempo pode levar um determinado acontecimento ou um determinado trabalho para começar e acabar Essas concepções de tempo estão fundamentadas na nossa percepção do tempo presente Se sentarmos na hora do almoço para comer e pensamos na hora que acordamos imediatamente pensamos no passado Se na hora do almoço pensamos na hora que vamos dormir instantaneamente pensamos no tempo futuro a partir do tempo presente que estamos vivendo Mas existe outra forma de pensar o tempo proposta por Heidegger no seu livro O Ser e o Tempo de 1927 O tempo é sempre uma coisa que acontece simultaneamente entre o movimento e a nossa vivência imediata Isso significa que o tempo sempre acontece agora Mas sempre que pensamos no tempo ou em alguma coisa que vai se realizar ao longo do tempo estamos pensando no futuro num tempo que ainda não existiu Isso só é possível porque quando pensamos numa coisa que irá acontecer daqui a dois dias temos a certeza de que neste momento sabemos que nós somos e existimos e portanto pensamos que daqui a dois dias ainda seremos e existiremos Nesse sentido vivemos sempre o presente porque somos e estamos sempre no tempo presente Como não podemos voltar ao passado toda vez que falamos de alguma coisa que já passou na verdade estamos falando de alguma coisa que pensamos agora Essa forma de pensar o tempo que Heidegger propôs demonstra que mesmo o tempo relativo não determina a sempre a ordem das coisas Se vemos passar um carro de bombeiro sabemos que há um incêndio mas não sabemos quando esse incêndio começou nem a sua proporção A única coisa que conhecemos é que há um incêndio e por causa disso os bombeiros estão indo na sua direção O tempo que o carro de bombeiros vai levar para chegar ao incêndio independe do tempo que levou para o fogo consumir o material que está queimando Apesar de as duas coisas estarem de alguma maneira conectadas cada uma delas tem o seu tempo próprio O carro de bombeiros tem a sua velocidade e o incêndio acontece também com uma velocidade própria Apesar de aparentemente as duas coisas acontecerem ao mesmo tempo cada uma tem um tempo em si Os dois tempos estão no presente o carro se move e o fogo queima Sempre que o bombeiro pensar no fogo este vai estar no futuro Depois que o bombeiro apagar o fogo caso ele volte a pensar no fogo ele estará no presente do bombeiro esteve sempre no presente e nunca no passado Essa forma de pensar no tempo é utilizada pelos computadores Quando ligamos um computador ele está sempre no presente Toda a informação guardada no computador está disponível no presente 46 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Mesmo que tenha sido feita há uma semana ela continua disponível no tempo presente enquanto tempo presente apesar da indicação de ter sido criada há sete dias atrás Para o computador não existe passado apenas o tempo presente organizado a partir de uma numeração Platão tinha sugerido que o bem enquanto princípio supremo de tudo é comparável ao sol que dá vida às coisas e as torna visíveis O bem não teria tempo de começar nem tempo de acabar Ele existe simplesmente Foi essa ideia de existir sempre de estar além do tempo além do ser e além da mente que permitiu o desenvolvimento da ideia de um deus onipresente Onipresente quer dizer o que sempre existiu e que sempre existirá Portanto alguma coisa que é onipresente transcende ou em outras palavras ultrapassa qualquer medida de tempo Por outro lado existe uma outra percepção da ideia de transcendência É a possibilidade de alguma coisa ser para além da existência Isso é o que pode permitir a ideia de que a alma é imortal Depois que o corpo morre a alma transcende para outro estado Nas religiões cristãs a alma iria para o paraíso ou para o inferno Nas religiões espíritas a alma continua existindo e vai para outro corpo Santo Agostinho usava a palavra transcendência e dizia que ela tinha também um outro sentido Para ele caso você não estivesse satisfeito com a sua própria forma de ser deveria transcender ou seja ultrapassar a sua forma de se comportar e de pensar para conseguir alcançar uma nova maneira de se comportar e de pensar Isso seria um movimento de transcender a si próprio Explicado de uma outra forma esse movimento de transcendência é que permitiria ao homem não apenas ter certeza de que ele está no mundo mas principalmente dele perceber o mundo através de uma nova forma de reflexão O ser humano é a verdade ao pensar na sua própria existência no mundo SANTO AGOSTINHO 1995 p 272 Esta segunda forma de transcendência não é portanto um movimento que ultrapassa o tempo mas principalmente uma ação que o modifica para permitir a percepção do ser humano em relação ao seu mundo Foi proposta por Heidegger e o filósofo existencialista francês Sartre não apenas concordou com essa explicação como ainda sugeriu que é através da consciência que o ser humano consegue perceber o seu estar no mundo Quando ele consegue perceber como está no mundo é porque realizou uma interpretação transcendente ao seu ser isto é sua consciência pensou em si mesmo e na forma como a sua própria pessoa se comporta no mundo É um tempo interno que reflete o tempo externo 2 QUERER PODER E AGIR 21 Os valores 211 Ser e dever ser O que primeiro devemos investigar é o que estamos significando quando usamos a palavra ser Ser pode ser usado como um predicativo quando dizemos que Sócrates é homem Mas ser também pode ser usado no sentido existencial quando dizemos simplesmente que Sócrates é Isto equivale a dizer que Sócrates existe São Tomás de Aquino dá um exemplo muito interessante desta distinção Ser tem dois significados num modo significa o ato de ser Sócrates é no outro significa a composição da proposição que o homem encontra ao juntar o predicado ao sujeito Sócrates é homem AQUINO 2011 47 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Quando pensamos neste significado predicativo na filosofia descobrimos que existem três diferentes possibilidades de entendimento a partir da inferência da identidade ou suposição e da relação Inerir significa pertencer Segundo a doutrina da inerência quando dizemos que Sócrates é homem queremos dizer que pertence à essência de Sócrates ser homem Em outras palavras este Sócrates ao qual nos referimos não poderia ser uma mulher A forma de entender a qualidade essencial de Sócrates segue o pensamento de Aristóteles quando ele determina que haja sempre uma relação necessária entre uma substância aqui no caso Sócrates e sua essência necessária neste caso ser homem Por outro lado quando dizemos que Sócrates é branco o que na verdade estamos significando é que existe um homem que se chama Sócrates e que este mesmo homem é branco É uma questão de confirmação da identidade Nesse caso podemos dizer que essa frase pode ser dividida em duas outras este homem é chamado Sócrates este homem é branco Isso quer dizer que em algum lugar existe um homem que é branco e ao mesmo tempo se chama Sócrates Neste momento estamos fazendo uma suposição que investiga a identidade de uma substância um homem que nós acreditamos que tenha a identidade de ser homem e de ser branco Com esse entendimento a partir dessa relação que foi defendida por Descartes no momento em que falo que Sócrates é homem faço uma relação entre aquilo que penso que Sócrates é com a qualidade que ele demonstra ter Em outras palavras antes mesmo de ter certeza que Sócrates é homem o meu juízo me indicou que eu acredito que Sócrates é um homem Sobre esse tipo de entendimento do ser Kant escreveu que Entendo por síntese no sentido mais amplo dessa palavra o ato de unir diversas representações com a sua multiplicidade num só conhecimento KANT 2013 O que Kant quis dizer é que no entendimento a partir da relação não é possível separar as diferentes qualidades que estou atribuindo a uma mesma substância É importante sabermos que nem mesmo uma coisa simples como ser é entendida pela Filosofia como uma única coisa Isso acontece porque ao examinar as diversas possibilidades de comportamento do ser humano os filósofos se deparam com uma grande quantidade de variações e por conta disso tentam utilizar as palavras de forma a entender melhor os motivos dessas variações de comportamento Por causa dessas diferentes concepções de ser Hegel sugeriu o conceito de dever ser Segundo ele poderia ser significa um determinado juízo neste caso uma determinada opinião que funciona como uma norma ideal a respeito do comportamento Portanto o comportamento deveria ser é resultado de um pensamento racional que organiza cada uma das nossas ações no mundo Mas até mesmo esse tipo simples de concepção de um pensamento é discutido na Filosofia Por um lado imaginase que o dever ser tem uma característica absoluta Isso quer dizer que não há nenhuma restrição nem limitação para que se chegue à ideia absoluta ou em outras palavras a uma conclusão daquilo que deve ser sem nenhuma possibilidade de que existam condições que modifiquem este entendimento Por exemplo quando dizemos que a água é líquida queremos falar que caso a substância H2O não estiver em estado líquido não é água 48 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I mais pode ser gelo ou pode ser vapor Por outro lado há também o entendimento de que o dever ser é apenas uma aproximação daquilo que queremos falar a respeito da realidade Nesse sentido dever ser é entendido como uma das possibilidades de uma coisa existir Portanto nesse caso o gelo deve ser água em estado sólido e o vapor deve ser água em estado gasoso Aquilo que parece ser um simples jogo de palavras acaba tendo consequências muito profundas na realidade Se formos pensar de uma maneira absoluta atribuímos a cada coisa uma determinada qualidade que ela deveria ter sempre Na segunda forma de pensar admitimos a possibilidade de que uma coisa possa existir de diversas maneiras As coisas que acontecem e que nós percebemos como por exemplo o Sol fornecer calor ou então o vento soprar forte são fatos aos quais nós atribuímos uma determinada qualificação que em Filosofia chamamos de valor Os valores na Matemática são expressos por números Sabemos que o número 100 tem um valor maior do que o número 1 Mas na Filosofia não podemos simplesmente montar uma tabela dizendo que a amizade tem maior valor do que a tristeza Não existe maneira de atribuirmos valores aos sentimentos e às sensações que sentimos de forma que sejam aceitos por todos por igual Então se dizemos que aquela árvore fica muito longe daqui para uma criança esta árvore pode parecer de fato longe Mas para um atleta a árvore pode estar a alguns segundos de distância e pode parecer para ele que a árvore está perto Por isso que em Filosofia discutimos o dever ser confrontando os fatos e os valores 212 O fato e o valor Quando dizemos que alguma coisa é um fato de filosofia queremos dizer que esta coisa existe na realidade Essa forma de entender os fatos foi expressa por Hume Em Filosofia a ideia de fato muitas vezes se aproxima da ideia de fenômeno Assim podemos dizer que a luz é um fato A luz é um fenômeno que existe na realidade Outra maneira de entendermos o fato é acreditando que todo fato é dado Quando pensamos num computador e dizemos que os computadores processam os dados estamos querendo dizer que o computador processa coisas que existem Então chegamos à conclusão que os dados são um fato ou numa linguagem mais simples que os dados existem de fato Mas a Filosofia positivista sugere que um fato só pode ser compreendido através da razão Nesse sentido quando eu digo que amo a minha família não estou falando de um fato porque neste caso estou falando a respeito de um sentimento Os filósofos modernos como Wittgenstein e Carnap acreditavam que os fatos são aquelas proposições lógicas que são verdadeiras Nesse sentido as imagens que vemos no computador e no telefone celular são fatos pois elas são decorrência de operações lógicas efetuadas através de uma programação A programação de um computador nada mais é do que uma extensa organização de proposições lógicas Os filósofos estoicos foram os primeiros que entenderam o valor como uma qualidade da ética Ética nada mais é do que uma técnica de escolha dos valores que devem conduzir o nosso comportamento Portanto os valores devem indicar as escolhas morais que fazemos 49 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Foi o filósofo Hobbes quem primeiro descreveu o valor da mesma forma que entendemos hoje em dia Para ele o valor de um homem assim como o de todas as coisas não é absoluto mas depende da necessidade e do juízo de outra pessoa Quando Nietzsche estudou a origem da moral ele percebeu que os valores e os juízos que as pessoas têm a respeito dos comportamentos das outras pessoas é que organizam a moral Então podemos dizer que os valores equivalem às regras nas quais acreditamos que os fatos devem ser Em outras palavras que os valores determinam a maneira com que as coisas devem existir na realidade Assim toda Filosofia se organiza a partir de uma série de regras que dizem como as coisas são de fato Cada filósofo acabou por desenvolver suas próprias ideias de como os fatos devem ser 213 Por que nós agimos de maneira valorativa Agimos de maneira valorativa porque nós julgamos os fatos de mesma espécie de forma diferente Quando sentimos que o clima nos é agradável como por exemplo num belo dia de sol acreditamos que esse dia é melhor do que um dia nublado e chuvoso que nos impede de sair para passear Então estamos julgando os dias de acordo com a nossa facilidade ou com a nossa dificuldade de passear Todas as coisas que nós percebemos através dos cinco sentidos acabam sendo valoradas de alguma maneira Geralmente acreditamos que as coisas mais agradáveis são melhores e as desagradáveis são piores Para a Filosofia isso cria um vício tudo que parece agradável aos sentidos é bom enquanto tudo que parece desagradável é mau Porém quando examinamos as coisas a partir da razão utilizando o raciocínio verificamos que algumas coisas agradáveis não são necessariamente ligadas ao bem Quando comemos demais isso pode parecer muito agradável mas não faz bem Por causa dessa diferença entre aquilo que parece bom mas não faz bem e as coisas que parecem más mas fazem o bem é que a Filosofia se preocupou em demonstrar a diferença das escolhas que fazemos com a razão e das escolhas que fazemos a partir das sensações e dos sentimentos 214 Qual a diferença entre dizer que algo é assim e que algo deve ser assim Por muito tempo se acreditou que os valores eram absolutos Pensavase que os valores eram imutáveis para a espécie humana Recentemente percebeuse que os valores são relativos à época em que vivemos Quando os homens viviam nas cavernas matar os animais era considerado uma coisa boa Hoje em dia acreditamos que não devemos matar os animais sem motivo justificado Atualmente sabemos que os valores de uma época não podem ser transpostos para outra época A maneira que percebemos os valores numa determinada cultura não é obrigatoriamente a mesma numa outra cultura Quando dizemos que uma coisa acontece mas deveria ocorrer de outra maneira estamos utilizando uma escala de valor que diz respeito às escolhas morais que fazemos para nós mesmos Pode ser que a nossa escolha moral seja compartilhada por toda a sociedade na qual vivemos Mas eventualmente pode ser que outras pessoas pensem de forma diferente do que nós pensamos 50 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Cada vez que ouvimos de alguém que alguma coisa deveria ser assim nós comparamos aquilo que a pessoa disse com aquilo que nós pensamos Muitas vezes é inútil debatermos com os outros a nossa maneira de ver as coisas Isso porque para nós uma coisa pode ser um fato mas para outra pessoa a percepção do mesmo fato é completamente diferente Os valores de uma sociedade ou de uma época são combinados pelas pessoas que vivem nesta sociedade ou época A isso se dá o nome de convenção 215 As convenções humanas são um prolongamento ou uma ruptura com a natureza Durante muito tempo se discutiu se a natureza se confundia com Deus ou se a natureza era uma coisa que existia em si Desde Platão existe a ideia de que um deus supremo criou todas as coisas Então durante toda a Idade Média a Filosofia escolástica entendeu que as coisas que não existiam na natureza não poderiam ser boas pois elas não derivavam de Deus Por muito tempo isso impediu o avanço da ciência pois a ciência era considerada contra a existência de Deus pois pretendia produzir alguma coisa que era artificial Artificial quer dizer o que é feito a partir de uma arte ou de uma técnica Por esse motivo é que na Idade Média a ciência quase não avançou No passado a maioria das sociedades se organizava a partir de uma religião com diferentes compreensões do mundo As religiões acabavam por fazer com que os homens brigassem entre si Todas as religiões sempre se acreditaram mais verdadeiras do que as outras Portanto tudo aquilo que era convencionado pelas regras de uma religião acabava sendo contra a convenção de outra religião Assim não foi possível desenvolver valores que organizassem de uma forma igual todos os juízos que os homens tinham a respeito dos fatos No passado os seres humanos não percebiam que toda forma de organizar a vida humana em sociedade é uma maneira de romper com a ordem da natureza pois as organizações culturais são humanas não naturais mas culturais Se os homens ainda vivessem no estado de natureza seriam apenas mais um tipo de animal Todas as filosofias que defenderam a ideia de que o comportamento humano é uma extensão de Deus e portanto da natureza cometeram o equívoco de acreditar que a cultura é uma coisa natural Na verdade a cultura foi construída pelos seres humanos Sabemos hoje que não existe uma só cultura mas diversas culturas e todas elas têm o seu motivo de existir 216 Juízos de fato e juízos de valor O primeiro a definir o que é juízo foi Aristóteles Ele acreditava que o juízo é uma das faculdades da alma dos animais que é produzido pelo pensamento e pelas sensações Ele acreditava que tínhamos a capacidade de julgar as qualidades sensíveis das coisas e atribuir a elas determinado valor Essa concepção de juízo ainda é a mesma que usamos hoje em dia Fazemos uma distinção entre os juízos de fato e juízos de valor O juízo de fato apenas descreve o fato Então se dizemos É dia estamos apenas afirmando que não é noite Isso é um juízo de fato 51 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Por outro lado se dizemos O dia está bonito estamos fazendo um julgamento a respeito da qualidade do dia e isso é um juízo de valor Para a Filosofia é muito importante fazermos essa distinção por uma questão lógica Se perguntamos para alguém se está de noite esperamos que a resposta seja apenas o juízo de fato Cabem aqui duas respostas Sim é noite ou Não é dia Mas quando uma pessoa responde para gente que Sim já está muito tarde ela está emitindo um juízo de valor Está comparando aquilo que é cedo e com aquilo que é tarde Mas para cada um de nós cedo ou tarde depende da hora que acordamos Então chegamos à conclusão de que os juízos de fato são aqueles em que não cabe uma posição subjetiva pessoal a respeito da compreensão do fato Por outro lado o juízo de valor será sempre questionado caso não concorde com a opinião de julgamento da outra pessoa Os juízos de fato são constatações de um fato Os juízos de valor são aquilo que pensamos sobre um fato 217 A esfera da moral é o lugar das ações e das escolhas humanas das suas normas e dos seus valores Quando falamos da esfera da moral nos referimos ao conjunto dos juízos de valores que adotamos para nossa vida Nesse sentido todos nós acreditamos que determinadas escolhas são boas e outras são más Portanto adotamos normas que de alguma forma determinam a regra pela qual julgamos as nossas ações e de todas as outras pessoas Essas regras costumam ser aprendidas por todos nós durante a infância Aprendemos com a nossa família a considerar determinadas coisas corretas e outras incorretas Como a nossa família participa de uma sociedade e como cada sociedade exibe uma determinada cultura os valores de nossa família costumam espelhar os valores da cultura da nossa sociedade Dessa maneira a esfera moral contém juízos de valor que são compartilhados pela nossa sociedade Mas em determinadas situações podemos eventualmente fazer julgamentos morais que fogem aos valores da nossa sociedade Isso acontece quando somos obrigados a fazer escolhas em situações inusitadas isto é situações que não acontecem no dia a dia Nessas situações que às vezes são chamadas de situaçõeslimite em muitas circunstâncias não conseguimos usar a razão e respondemos diretamente com os sentimentos com as emoções Por exemplo se estamos dentro de um apartamento que está pegando fogo devemos fugir para nos salvar ou devemos tentar salvar as outras pessoas que estão dentro dele A maioria das pessoas deve responder que depende da possibilidade de termos sucesso de salvarmos as outras pessoas Se houver uma possibilidade de salvarmos a nós mesmos e a mais alguém devemos então tentar salvar essa pessoa também Mas se eventualmente o salvamento da outra pessoa pode nos levar à morte certa é provável que tentemos nos salvar sozinhos Toda vez que a dúvida entre o que é certo e o que é errado surge de forma muito forte dentro de nós sentimos culpa Essa culpa decorre da dúvida entre se realmente agimos de acordo com o nosso juízo de valor ou instintivamente como um animal 52 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 218 Seguir a natureza pode ser uma regra moral Há uma grande confusão quando dizemos que devemos seguir a natureza Primeiro porque quando falamos de natureza abordamos uma quantidade grande de coisas ao mesmo tempo A natureza pode ser tudo que existe pode ser a nossa forma de ser ou pode simplesmente utilizar os instintos em determinada situação De acordo com o pensamento de Aristóteles devemos estar sempre em equilíbrio com a natureza Nesse caso ele sugeriu que devemos estar sempre em equilíbrio com tudo que existe Portanto para Aristóteles o equilíbrio com a natureza é encontrar uma justa medida para fazermos as escolhas morais A justa medida não significa o meio do caminho ou meiotermo Quer dizer principalmente raciocinarmos a cada situação para saber se estamos fazendo uma coisa que é boa para nós e para tudo o que existe ou se simplesmente estamos fazendo alguma coisa que é apenas boa para nós mesmos 219 A moral é uma questão de sentimento Agora que sabemos que a esfera moral é o conjunto de juízos de valor de um indivíduo de uma sociedade ou de uma cultura precisamos entender se esses juízos de valor nascem sempre de sentimentos ou de sensações daquilo que é certo e o que é errado Não cabe aqui discutir se são as normas que determinam a regra ou se são as regras que determinam as normas Tudo o que é normativo de alguma forma exibe uma técnica com maior ou menor conteúdo de racionalidade a qual deve ajudar o pensamento a fazer as escolhas Foi o filósofo francês Blaise Pascal quem primeiro separou os sentimentos do raciocínio Segundo ele aqueles que estavam acostumados a julgar com sentimento nada entendiam das coisas do raciocínio uma vez que queriam perceber tudo a partir do olhar e não estavam acostumados a buscar princípios para seus valores Por outro lado aqueles acostumados a raciocinar por princípios e valores nada entendiam das coisas do sentimento e certamente não é possível desenvolver princípios e valores apenas com o olhar Mas o filósofo suíço JeanJacques Rousseau sugeriu que a volta à natureza seria capaz de libertar os homens dos males produzidos pelos artificialismos sociais e de reconduzilos à bondade original Segundo ele isso seria uma volta ao primitivo sentimento natural que é o instinto que conduziria o homem para o bem Kant organizou a ideia de sentimento comum dos poderes ou faculdades da alma Para ele a alma tinha a possibilidade de raciocinar de exprimir o sentimento de prazer e dor e também o poder de desejar Kant acreditava que o respeito é um tipo de sentimento moral Segundo ele o respeito era o único sentimento produzido apenas pela razão Durante o século XIX aconteceu um movimento filosófico que influenciou as artes o Idealismo O termo idealista significa com um ideal Os idealistas acreditavam que através da experiência mística 53 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR e da fé era possível superar os limites da razão humana Segundo os idealistas o sentimento podia ser considerado a infinidade da consciência Em outras palavras a razão sempre experimentaria até conhecer a verdade mas os sentimentos nos dariam imediatamente a noção de consciência O mundo seria portanto a consciência dos valores Outra escola de Filosofia do século XIX chamada de Pragmatismo acreditava que a racionalidade também é um tipo de sentimento Até mesmo o positivista Augusto Comte acreditava que o maior atributo moral era o altruísmo que é um sentimento Quando as pessoas forem todas altruístas elas de alguma maneira terão maior qualidade de juízo moral do que raciocinando a respeito dos valores Isso porque o altruísmo é o sentimento de querer o bem do outro Durante todo o século XIX acreditouse que o espírito de uma pessoa tem a faculdade do conhecimento do sentimento e da vontade O conhecimento distinguia o que é verdadeiro e o que é falso o sentimento saberia o que belo e o que é feio e a vontade perceberia a diferença entre o bem e o mal Hoje em dia o senso comum costuma seguir as ideais do filósofo alemão Max Scheler Segundo ele o sentimento permite o acesso a um mundo de objetos que são tão reais quanto às coisas ou os fatos mas que não são nem coisas nem fatos e sim valores Então a relação entre o sentimento e o valor seria a mesma observada entre a representação de um objeto e o objeto em si Explicado de outra forma a relação entre um desenho do sol e o sol que vemos no céu permite que saibamos que o desenho é sua representação e a estrela no céu é a coisa em si Também a relação entre sentir a bondade e a bondade de fato é a representação de sermos bons em determinada situação onde deveríamos agir com bondade Heidegger concordou com Scheler e sugeriu que o sentimento é uma manifestação essencial do ser no mundo A partir de uma situação afetiva o homem se abre para perceber as coisas do mundo Essa percepção do mundo a partir do sentimento faria nos comportar com coragem ou com medo em relação à natureza 2110 Alguns exemplos das diversas posições filosóficas a respeito do bem e do mal Para a Filosofia a palavra bem muitas vezes pode ser substituída pela ideia de valor Por isso é que dizemos que um automóvel é um bem que um apartamento é um bem e que dividimos as coisas hoje em dia entre bens móveis e imóveis Um bem também é uma ação virtuosa um comportamento que nós aprovamos O resultado de alguma coisa benfeita é uma coisa boa podendo ser também uma coisa bela O bem é também uma grande meta do comportamento humano Ele é organizado a partir dos costumes que formam o conjunto dos bons juízos de valor os quais chamamos de moral Nesse sentido o bem moral é o objeto da ética Para a teoria metafísica o bem é a realidade perfeita ou suprema que só é encontrada em Deus De acordo com Platão o bem confere verdade aos objetos que podemos conhecer Platão comparou o bem ao sol que dá aos objetos não só a possibilidade de serem vistos como também de serem gerados de crescerem e de se alimentarem O bem seria também a fonte da verdade e do ser 54 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Para Plotino o bem seria a origem da realidade e o próprio Deus É dessa forma que a Filosofia medieval entendia o bem São Tomás de Aquino concorda com Plotino e vai além Para ele o bem permite a constituição daquilo que é perfeito e por ser perfeito também é apetecível e por ser apetecível também é bom Apetecível significa que é bom para os sentidos e desperta o apetite Todas as filosofias idealistas e espiritualistas identificam o bem como a realidade suprema e portanto com Deus O bem enquanto um valor moral seria a realidade espiritual na sua forma ideal Por outro lado para o Aristóteles o bem não é desejado por ser perfeição e realidade mas ao contrário é a perfeição e a realidade que nós desejamos Segundo ele nós desejamos um bem absoluto que é melhor do que um bem para alguém Isso quer dizer que na doutrina de Aristóteles é melhor desejar a justiça que é absoluta do que desejar que um homem seja justo porque isto é apenas um bem particular Seguindo a doutrina de Aristóteles os estoicos consideraram o bem como um objeto de escolha obrigatória Segundo eles o bem é um valor A maior qualidade do bem é ajudar e o bem maior seria a razão pois permitiria fazer as escolhas boas Esse tipo de visão aristotélica retorna na história da filosofia durante o Iluminismo Hobbes no seu livro Leviatã escreveu que O homem chama de bom o objeto de seu apetite ou de seu desejo de mau o objeto de seu ódio ou de sua aversão de vil o objeto de seu desprezo As palavras bom mau vil são sempre entendidas em relação a quem as emprega porque nada há de absoluto e simplesmente tal e não há nenhuma norma comum para o bem e para mal que derive da natureza das coisas HOBBES 2008 Espinosa concordou com Hobbes e escreveu que o bem e o mal não indicam nada positivo ou negativo que esteja nas coisas consideradas em si pois são modos de pensar Para ele as noções que formamos ao confrontar as coisas podem indicar que realmente uma mesma coisa pode ser ao mesmo tempo boa má e até indiferente Locke afirmou que o que chamamos de bem é aquilo que é capaz de produzir prazer em nós e denominamos mal o que é capaz de produzir sofrimento Leibniz sugeriu que o bem se divide em honesto agradável e útil e que no fundo deveria ser agradável por si mesmo Kant concordou com essas observações e acrescentou que o bem é aquilo que por intermédio da razão agrada pelo seu conceito puro Kant foi o primeiro a notar que um alimento agradável para ser considerado bom deveria também agradar a razão ou seja ter como objetivo também a nutrição e a saúde e portanto fazer o bem Para Kant o bem só existe em relação ao ser humano por conta do interesse que este tem por sua sobrevivência Exemplo de aplicação Escreva uma lista com tudo aquilo que você considera do bem Depois troque sua lista com uma colega e peça para elea escrever o mal que corresponde a cada bem Faça a mesma coisa com a lista delea 55 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 22 A universalidade e a relatividade dos valores 221 Universalismo A ideia de universalismo tem na Filosofia dois significados no sentido da religião significa uma doutrina que acredita que Deus quer salvar todos os homens assim sendo contrária à ideia de destino no sentido do universalismo tem sentido ético pois pressupõe uma doutrina contrária ao individualismo Esse tipo de doutrina universalista acredita que um indivíduo está sempre subordinado a uma comunidade seja o Estado a nação ou mesmo a humanidade 222 O que é diversidade cultural Na explicação de Aristóteles a diversidade é uma forma de diferença mas é uma diferença que inclui uma grande quantidade de coisas diferentes Os povos acabaram desenvolvendo formas diferentes de entendimento do mundo Assim também os filósofos de cada nação desenvolveram ideias que muitas vezes estavam influenciadas tanto pela língua que falavam quanto pelo lugar em que viviam A cultura de cada lugar permitiu o desenvolvimento da educação de uma forma diferente E por mais que no mundo ocidental a Igreja Católica tivesse sido a principal fonte de educação seguida mais tarde pelas igrejas protestantes foi apenas durante o Iluminismo que se conseguiu promover a ideia de cultura como um bem de todos A cultura nesse sentido deve ser compartilhada pelas pessoas para que seja possível o desenvolvimento e a formação de competências específicas que visam melhorar o sentido de colaboração numa sociedade Mesmo pequenos grupos dentro de uma sociedade acabam desenvolvendo formas muito próprias de entendimento das coisas e do mundo Pessoas de países diferentes quando conversam umas com as outras acabam demonstrando que este entendimento das coisas e do mundo pode ser muito diferente São essas diferenças de entendimento que nós chamamos de diversidade cultural 223 As noções de certo e errado são universais ou relativas aos costumes A virtude como capacidade de realizar uma determinada tarefa é um conceito platônico Assim como a função dos olhos é ver a possibilidade de ver é a virtude dos olhos A alma teria as suas próprias funções e capacidades e cumprilas seria a virtude da alma Por isso segundo Platão a diversidade das virtudes é determinada pela diversidade das funções que devem ser cumpridas pela alma ou pelo homem Quando a Filosofia discute a consciência fala também sobre o caráter da relação que a mente tem com ela mesma Segundo São Tomás de Aquino Nossa mente conhece a si mesma por si mesma enquanto conhece sua própria existência com efeito enquanto percebe sua própria atividade percebe sua própria existência AQUINO 2011 Este tipo de pensamento leva as pessoas a acreditar que por existir a consciência existe também a certeza do que é certo e do que é errado 56 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Todas as filosofias baseadas no pensamento de Platão e no cristianismo acreditam que existe uma relação do homem com ele mesmo que permite a cada um conhecer a verdade e a certeza Isso significa que todo ser humano teria a capacidade intrínseca de distinguir o que é certo do que é errado Mais recentemente no século XX adotouse a ideia relativista pensada pelo historiador alemão Oswald Spengler Ele verificou que as civilizações acabam construindo formas diferentes de cultura Ele sugeriu que a cultura de determinado povo é que faz surgir uma civilização E toda civilização acaba se esgotando com o tempo tal como um organismo vivo Então ficou bem claro que ao adotar esta ideia de diferentes culturas formando variadas civilizações existe uma diversidade cultural Percebeuse que por mais que o ser humano tenha consciência do que é certo e errado diferentes culturas e civilizações podem desenvolver leis de uma forma que elas consideram mais certas para um ato de conduta das pessoas que participam daquela civilização Mesmo assim todas as nações que participam da Organização das Nações Unidas deveriam respeitar o conceito dos direitos universais do ser humano Saiba mais Para se aprofundar mais no assunto acesse o link ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS Declaração Universal dos Direitos Humanos Biblioteca Virtual de Direitos Humanos sd Disponível em httpwwwdireitoshumanosuspbrindexphp DeclaraC3A7C3A3oUniversaldosDireitosHumanosdeclaracao universaldosdireitoshumanoshtml Acesso em 11 jul 2018 224 O que é o etnocentrismo Etnocentrismo é um conceito antropológico Antropológico faz referência ao estudo do homem da humanidade e de suas civilizações Quando uma pessoa ou um grupo de pessoas têm os mesmos hábitos e formas de se comportar elas costumam acreditar que as pessoas que não têm esses mesmos hábitos são inferiores Esse conceito de achar que a pessoa que faz as coisas de uma forma diferente é uma pessoa inferior é basicamente uma ideia etnocêntrica Claro que todos nós temos a tendência de acreditar que a nossa forma de ver o mundo e a nossa forma de fazer as coisas é a melhor que existe No entanto isso não é verdade Todos os agrupamentos humanos acabam desenvolvendo formas de fazer as coisas e de ver o mundo de acordo com a posição geográfica em que habitam o planeta Não podemos acreditar que um índio no meio da floresta vai ter os mesmos hábitos que um árabe andando de camelo pelo deserto A forma que cada um vai acreditar que é a certa vai depender diretamente do ambiente no qual vive 57 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR É claro que se um índio da floresta for passear no meio do deserto ou se o árabe for se meter no meio da floresta nenhum de seus conhecimentos será suficientemente adequado para eles se saírem bem Essa inadequação serve de base para o etnocentrismo Nós fazemos isso desse jeito e portanto essa maneira é a melhor Desde o século XVIII seguindo as ideais de Kant que esperamos que os homens se comportem a partir da razão Isso significa que precisamos raciocinar para ver se realmente a nossa forma de viver é melhor do que outra qualquer Significa também que devemos usar a razão para avaliar melhor os diferentes costumes de cada ser humano Exemplo de aplicação Quando alguém diz que outro país é melhor do que o Brasil esta pessoa está fazendo um julgamento etnocêntrico Podese condenar um costume de alguma cultura em nome da humanidade Com o Iluminismo nasceu a ideia de que a razão deveria imperar Um dos ideais mais fortes do Iluminismo era a possibilidade do governo do povo para o povo e pelo povo O primeiro país a fazer isso foram os EUA Pouco depois a França também promovia a Revolução Francesa instituindo regras apoiadas na razão Do século XVIII ao final do século XX percebeuse que as formas de relacionamento pessoal entre pais e filhos entre vizinhos entre pessoas do mesmo bairro não deveriam ser tão diferentes se fossem apoiadas na razão e não nos costumes Isso significa que depois da Segunda Guerra Mundial muitos países adotaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos Essa declaração visou reafirmar os princípios de conduta ética e de valores morais para todos os países que voluntariamente decidiram participar da Organização das Nações Unidas ONU 225 O que é relativismo cultural O relativismo cultural é o contrário do etnocentrismo Sua filosofia é respeitar os hábitos e os costumes das diferentes culturas e civilizações mas existe aí um problema devemos aceitar todos os hábitos e costumes das outras pessoas Mesmo alguns países que pertencem à ONU mantiveram alguns costumes e tradições baseados na religião Por exemplo existem países onde as mulheres acusadas de infidelidade são apedrejadas até a morte Em outros cortase a mão do ladrão como punição pelo roubo Há países ainda mais severos em que uma pessoa que cometeu um crime considerado grave é morta por fuzilamento com um tiro e a bala tem de ser paga pela sua família Hoje em dia a tendência é respeitar cada vez mais a Declaração Universal dos Direitos Humanos Por esse motivo que alguns costumes milenares de certos países são questionados por pessoas de culturas diferentes sendo considerados cruéis e desumanos Com a Internet é possível 58 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I fazer reclamações internacionais reunindo pessoas de muitos países para criticar os costumes de determinados lugares Eventualmente isso vem melhorando a situação das pessoas que são cruelmente tratadas nos seus próprios países por causa de tradições e costumes Tudo em nome do respeito ao ser humano 226 Quais são as diferenças entre as posições universalistas e as relativistas em relação aos valores A posição relativista em relação aos valores foi defendida primeiro pelos sofistas os quais eram pessoas com grande conhecimento a respeito da Filosofia e utilizados como uma espécie de advogados para defender as pessoas perante os tribunais Os sofistas não eram considerados filósofos porque eles distorciam o conhecimento e a verdade sempre a favor daqueles que os pagavam Para os sofistas a verdade seria sempre uma aceitação coletiva um consenso de um determinado ponto de vista Aquele que conseguisse explicar melhor a sua verdade conseguiria alcançar a justiça naquele momento Sócrates porém defendeu a que a virtude é que produz o conhecimento A ignorância é que fabrica as faltas morais Na Antropologia relativismo é o contrário de etnocentrismo Se por um lado no etnocentrismo as pessoas acreditam que aquilo que elas fazem é melhor no relativismo exagerase o outro lado acreditando que tudo o que todo mundo faz é muito bom Ora sabemos que existem muitas coisas que são feitas que acabam prejudicando todos os seres humanos Hoje temos conhecimento de que não podemos concordar com o desmatamento Mas durante séculos os povos desmataram as florestas e atualmente sentimos falta das áreas verdes Assim não podemos exagerar em nenhuma direção devemos sempre raciocinar para verificar se todas as pessoas estão sendo beneficiadas ou prejudicadas por uma determinada ação 227 Devemos falar em cultura ou em culturas Hoje em dia compreendemos que existem muitas culturas Não é mais possível pensarmos numa única cultura universal Por outro lado cada vez mais as culturas acabam conversando entre si Com essa troca cultural aprendemos coisas interessantes e inteligentes que nem conhecíamos na nossa cultura Sabemos que as diferenças culturais devem ser respeitadas principalmente se essas diferenças dizem respeito à religião Todas as religiões em princípio rezam a Deus e acreditam que o homem é bom Então devemos fazer diferença entre as coisas que são iguais para todas as culturas e as coisas que são diferentes para determinadas culturas e não devemos menosprezar a cultura de outra pessoa simplesmente porque ela é diferente da nossa 59 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 228 Há culturas superiores às outras As culturas não são propriamente superiores às outras Elas são adaptadas basicamente para resolver os problemas que surgem na região geográfica que habitam Nesse sentido podemos dizer que a cultura do índio é superior dentro da floresta pois ele sabe lidar melhor com a floresta do que nós A cultura do esquimó é superior para lidar melhor com o frio do Alasca do que a nossa cultura que não está acostumada com tanta neve e gelo Não existem realmente culturas superiores às outras Elas são adaptadas aos locais onde as pessoas vivem Por outro lado algumas culturas e civilizações permitem mais rapidamente o progresso da ciência Outras preferem manter as pessoas vivendo da mesma forma que elas viviam há 100 ou 200 anos atrás Há uma diferença do uso da razão nessas culturas A razão é que permite a pesquisa empírica e a divulgação dos resultados das pesquisas para que outras pessoas também possam avançar na busca pelo conhecimento Ainda não conhecemos muitas coisas nem mesmo do corpo humano Não sabemos por exemplo como o cérebro funciona e a origem de determinadas doenças como o câncer As culturas e civilizações que entram em contato com aquelas que fazem pesquisas científicas a partir da razão acabam sendo influenciadas por elas mas é difícil que o contrário aconteça Um exemplo disso é que hoje em dia os índios vão ao hospital e tomam remédios e outros brasileiros não escolhem a medicina indígena para curar os seus males 23 O bem e o mal Quando nos é perguntado qual a diferença entre o bem e o mal a primeira ideia que nos ocorre é extremamente aristotélica o bem e o mal em princípio são duas coisas do mesmo gênero que exibem a maior diferença entre si É parecido com a diferença entre calor e frio ou verdadeiro e falso No sentido mais geral a Filosofia metafísica sugere que o bem é a realidade perfeita ou suprema e é desejado como tal Há também uma teoria subjetivista segundo a qual o bem é o que é desejado ou que agrada Um modelo de todas as teorias metafísicas sobre o bem e o mal vem de Platão Para Platão o bem é o que confere a verdade aos objetos que podemos perceber e também dá ao homem o poder de conhecêlos Então o bem é a fonte de todo ser nos homens e fora dos homens Aqueles que seguiram as ideias de Platão os chamados neoplatônicos consideraram que a existência do mal condiciona a existência do bem Em outras palavras se não houvesse mentira não haveria a verdade Os estoicos pensavam que o mal não é exatamente mau pois é necessário para o equilíbrio do universo Mas esse equilíbrio acaba sendo a base para pensar que o mal equivale ao não ser Isso porque os estoicos imaginavam que tudo que existe é um bem e portanto tudo que é mau em princípio viria do mal e não existiria de fato 60 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Plotino desenvolveu este raciocínio de uma forma ainda mais complicada Segundo ele os seres vivos foram criados por Deus em Deus não existe o mal e nos seres criados por Deus também não existe o mal O mal seria uma qualidade da matéria e a matéria não é viva e portanto um não ser Ele escreveu que O Mal não consiste na deficiência parcial mas na deficiência total o que carece parcialmente de bem não é mau e pode até ser perfeito em seu gênero Mas quando há deficiência total como na matéria temse o verdadeiro Mal que não tem parte alguma de bem A matéria não tem sequer o ser que lhe possibilitaria participar do bem podese dizer que ela é apenas em sentido equívoco na verdade a matéria é o próprio não ser PLOTINO 2016 A identificação do mal como não ser foi adotado pela filosofia cristã Segundo Santo Agostinho nenhuma natureza é má e esse nome indica apenas a privação do bem Assim todas as coisas são boas e o mal não faz parte de nenhuma substância A formulação mais simples e completa a respeito do mal como não ser foi sugerida por São Tomás de Aquino Uma vez que bem é tudo o que é apetecível e uma vez que a cada natureza apetece seu ser e sua perfeição cumpre dizer que o ser e a perfeição de qualquer natureza são essencialmente bem Portanto não pode acontecer que Mal signifique algum ser alguma forma ou natureza concluise pois que significa apenas a ausência do bem AQUINO 2001 A confusão na definição do bem acontecia porque São Tomás de Aquino acreditava que todo o ente enquanto está atuando é perfeito e também perecível seria bom e faria parte do bem Para ele todo o bem de alguma maneira estaria relacionado à possibilidade de ser perecível ou seja de ser conhecido a partir dos sentidos Isso confere a todos os entes a realidade e o bem se configura como realidade suprema Ao longo dos séculos o mal foi entendido como uma não presença e o ser foi sempre entendido como a presença do bem Já na Idade Moderna Hegel sugeriu que o bem fosse equivalente à racionalidade e o mal seria a expressão da falta da vontade de ser racional Em 1909 o filósofo italiano Benedito Croce pensou que o mal quando real só existe no bem e quando se opõe ao bem o vence Portanto o mal não existiria enquanto fato positivo e quando se tornasse positivo já não seria um mal mas sim um bem que conteria a sombra do mal Quando Kant escreveu sobre religião ele sugeriu que a percepção do mal radical está no pecado original Segundo ele o homem teria adquirido o mal pessoal do qual não conseguiria se livrar A malícia seria a motivação das ações do mal enquanto mal A única forma de se livrar do mal seria aceitando os princípios morais A aceitação desses princípios não se opõe à sensibilidade mas muitas vezes levados pela astúcia de Satanás tenderíamos a aceitar a falta de princípios Esta outra maneira de pensar o mal não considera nem realidade nem irrealidade mas o objeto negativo do desejo e dos juízos de valores para ela os únicos objetos da razão prática são o bem e o mal 61 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Ao utilizar a razão prática os seres humanos deveriam perceber que o bem é uma coisa necessária para se desejar e o mal uma coisa necessária para se repelir sempre a partir da racionalidade Ao julgarmos o bem e o mal não haveria como abrir mão das possibilidades do desejo Então o bem e o mal funcionariam como adjetivos de um desejo e não existiriam em si O mal seria apenas um juízo negativo de valor e a expressão do desejo desprovido de racionalidade Eventualmente para Kant poderia existir um mal radical que faria a natureza humana transgredir as normas morais criando assim um desvalor na conduta dos seres humanos De alguma maneira até hoje concordamos com Kant quando falamos sobre o bem e o mal 231 O bem e o mal dependem da perspectiva de quem os define Há uma outra concepção metafísica do mal que o considera como um conflito interno do ser Quando ficamos expostos a uma luta entre os dois princípios de bem e de mal o domínio do ser dividese em dois campos opostos e dominados por princípios antagônicos Esta segunda concepção metafísica do mal o considera um conflito interno Este modelo de pensar nasceu com a concepção religiosa de Zaratustra um filósofo persa Esta solução para o mal resolve o problema de uma forma muito simples Muitos acreditam que o mal funciona exatamente dessa maneira Essa solução tem como consequência a ideia de que o bem e o mal são reais evitando a redução do mal ao nada que é muito pouco convincente aos nossos ouvidos A seita dos maniqueus acreditava nesta distinção pois entendia a dualidade do mundo Mas os cristãos sempre acreditaram que o bem e o mal estavam em Deus e não podiam ser entendidos como duas coisas separadas Isso porque eles não podiam aceitar que existe uma coisa do mesmo tamanho que Deus o Diabo que pudesse ser o causador de coisas opostas a Deus pois nada é do tamanho de Deus Os filósofos cristãos nunca admitiram esta separação dos dois princípios Quando Hegel aceitou essa solução modificoua no sentido de incluir ambos os princípios em Deus considerando o princípio do bem e o do mal unidos em Deus justamente em virtude de seu conflito Mas vários filósofos entre eles São Tomás de Aquino Descartes e Espinosa concordaram que o arrependimento era o reconhecimento angustiado da própria culpa Assim arrependerse de alguma coisa seria um princípio e o reconhecimento de ter agido mal e sem razão Segundo Espinosa toda vez que desejamos e queremos alguma coisa é porque nós a julgamos boa Então para Espinosa o bem e o mal não indicariam nada a respeito das coisas mas simplesmente os modos em que nós pensamos a respeito delas O bem e o mal indicariam a maneira que nós fazemos as nossas escolhas e o modo que pensamos a respeito das ações Nesse sentido qualquer coisa pode ser boa ou má ou até mesmo indiferente depende apenas da maneira que nós pensamos a respeito delas No século XIX o filósofo alemão Nietzsche pensou que um ser humano pode em princípio se relacionar com o mundo sem levar em consideração os princípios do bem e do mal Por causa disso ele percebeu que existe a amoralidade na possibilidade das escolhas pessoais o que tornaria esta pessoa um ser amoral 62 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I O Maniqueísmo foi uma doutrina do sacerdote persa Mani em latim Manichaeus que viveu no século III e proclamouse o Paracleto aquele que devia conduzir a doutrina cristã à perfeição Ela é uma mistura imaginosa de elementos gnósticos cristãos e orientais sobre as bases do dualismo da religião de Zoroastro Para eles existem dois princípios um do bem ou princípio da luz e outro do mal ou princípio das trevas Eles são representados por duas almas a corpórea que é a do mal e a luminosa que é a do bem Podese chegar ao predomínio da alma luminosa através de uma ascese particular que consiste em três comportamentos de abstenção de comer carne e manter conversas impuras da propriedade e do trabalho e com relação ao sexo O Maniqueísmo foi muito difundido no Oriente e no Ocidente e na Europa existiu até o século VII 232 É possível querer o mal Aristóteles foi o primeiro a pensar na possibilidade de fazermos o mal Isso pode acontecer no momento em que pensamos por analogia que é um procedimento que fazemos com o pensamento quando usamos o conhecimento que temos de outra coisa Veja esta frase de Aristóteles A probabilidade também aparece no procedimento por semelhança quando se diz o contrário do contrário por exemplo se é preciso fazer o bem aos amigos podese dizer por semelhança que é preciso fazer o mal aos inimigos ARISTÓTELES 2009 O próprio Aristóteles comentou que fazer um mal é tão diferente de fazer o bem que não há possibilidade de compararmos as duas coisas Portanto a analogia não é válida O primeiro a escrever a respeito de fazer o mal foi o italiano Maquiavel No seu livro O Príncipe Maquiavel sugeriu que para governar é necessário que se faça todo o mal de uma só vez e que o bem se administra aos pouquinhos Essa seria a maneira do príncipe ser querido pelo povo Atribuise a Maquiavel a ideia de que o fim justifica os meios mas Maquiavel nunca escreveu isso É apenas uma simplificação para descrever a sua maneira de pensar Na verdade foi o padre jesuíta Busenbaum na Alemanha quem escreveu sobre a ideia de quando o fim é lícito os meios também são lícitos Já no Idealismo Schelling afirmou que estando o bem e o mal mesmo como princípios inscritos em Deus para Ele não existe esta diferença Mas para os homens existe a separação entre o bem e o mal e isso gera conflito Querer o mal gera um conflito de princípios e portanto a escolha do mal gera a culpa Observação Hermann Busenbaum nasceu na Westfália em 1600 e morreu em Munster em 1668 na Alemanha Foi um jesuíta e teólogo moralista Alcançou fama como um mestre da casuística na Universidade de Colônia e seu nome cresceu em razão de seu célebre livro Medulla theologiae moralis facili ac perspicua methodo resolvens casus conscientiae 1645 Este manual foi muito popular e teve mais de 200 edições até 1776 Busenbaum também escreveu um livro sobre a vida ascética Lilium inter spinas 63 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 233 O belo e o feio Podemos ficar surpresos quando descobrimos que a ideia de belo e de beleza que nós temos hoje em dia só começou a existir a partir do século XVIII quando se começou a pensar na estética Esta surgiu quando se percebeu que nós todos temos um determinado gosto Ou seja apreciamos mais determinadas coisas do que de outras Geralmente isso está ligado a alguma apreensão de sentidos Nós gostamos de ver determinadas coisas de ouvir músicas que nos agradam ou mesmo de comer certos alimentos Mas a descoberta do belo teve um percurso filosófico Inicialmente o belo foi considerado por Platão como uma manifestação do bem e da verdade Aristóteles seguindo uma ideia de Pitágoras pensou que o belo era tudo aquilo que era simétrico A doutrina do belo como simetria significa que o belo é constituído pela ordem e a simetria confere uma grandeza capaz de ser percebida em seu conjunto por um só olhar Essas ideias sugerem também que o belo é tudo aquilo que acreditamos que exibe a qualidade da perfeição Seguindo a ideia de Aristóteles e influenciado pela doutrina cristã Plotino sugeriu que o belo é o bem proporcionado por Deus que dá beleza a todas as coisas O bem em seu estado maior viria de Deus e todas as coisas que Ele criou seriam belas Os estoicos acreditavam que no corpo existia uma harmonia de feições bem proporcionadas unida a um belo colorido denominada beleza Também para a alma a uniformidade e a coerência das opiniões e dos juízos unida à certa firmeza que é consequência da virtude chamase beleza Essa doutrina foi aceita por muito tempo e adotada pelos escolásticos e por muitos escritores e artistas do Iluminismo quando quiseram explicar o que procuravam fazer com a sua arte Kant unificou essas duas definições complementares de belo e insistiu naquilo que até hoje é considerado seu caráter fundamental isto é o desinteresse Consequentemente definia o belo como o que agrada universalmente e sem conceitos ABBAGNANO 2007 p 115 Ele insistiu na independência entre o prazer do belo e qualquer interesse tanto sensível quanto racional Cada um chama de agradável o que o satisfaz de belo o que lhe agrada de bom o que aprecia ou aprova aquilo a que confere um valor objetivo O prazer também vale para os animais irracionais a beleza só para os homens em sua qualidade de seres animais mas racionais e não só por serem racionais mas por serem ao mesmo tempo animais O bom tem valor para todo ser racional em geral KANT 2008 p14 Com a doutrina de Kant o conceito de belo foi reconhecido numa esfera específica e se transformou numa classe de valores fundamentais O belo o verdadeiro e o bem constituíramse no correspondente às três formas de atividade próprias do ser humano intelecto sentimento e vontade Assim Kant uniu a ideia de belo de Aristóteles e de Platão A ideia do belo como manifestação da verdade é forte no Idealismo Para Hegel O belo definese como a aparição sensível da ideia ABBAGNANO 2007 Isso significa que beleza e verdade são a mesma coisa 64 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I e que se distinguem só porque enquanto na verdade a ideia tem manifestação objetiva e universal no belo ela tem manifestação sensível Dessa maneira ele determinou que a estética e a ética se equivalem Em outras palavras quando vemos uma casa sabemos pela sua aparência se ela é boa de morar Quando olhamos uma pessoa sabemos por sua aparência qual o seu caráter 3 A LIBERDADE E O DETERMINISMO A ideia do determinismo nasceu para diferenciar aquilo que nós podemos determinar a partir de uma ação humana da antiga ideia de destino No passado a ideia de destino isto é a ideia de que a nossa vida estaria de alguma maneira já determinada foi aceita por várias crenças e religiões Mas o destino sempre estava atribuído à ideia de um deus Fosse um deus pagão ou o Deus das grandes religiões o destino sempre aparecia como uma forma de predeterminar a nossa vida À medida que os filósofos foram percebendo que a razão é o que permite ao ser humano fazer escolhas a partir de princípios morais foi necessária a adoção de um termo que explicasse as nossas opções pelas boas ações Essa nova forma de pensar chamou de determinismo as ações feitas por uma pessoa determinada a agir em busca do bem e através de princípios morais Kant notou que o determinismo seria na verdade um predeterminismo Isso significa que o motivo para uma ação está no momento em que pensamos como vamos atuar Kant sugeriu que existe uma dimensão universal do princípio de causalidade O que ele quis dizer com isso é que as nossas ações e todos os acontecimentos do mundo causam algum resultado o qual é chamado de efeito Portanto ele percebeu que a ideia do determinismo é a ideia de que tudo tem causa e efeito Um exemplo simples é que se saímos de casa em cima da hora o efeito deverá ser de chegarmos atrasados Alguns filósofos como o inglês Joseph Priestley em 1777 sugeriu que os motivos influenciam a vontade com a mesma certeza que a força da gravidade age sobre uma pedra Quando examinamos um comportamento verificamos que a pessoa só poderia ter agido daquela forma Voltando ao nosso exemplo de chegar atrasado isso quer dizer que ao examinarmos o motivo pelo qual alguém saiu em cima da hora vamos descobrir que havia razões imperiosas para o atraso A filosofia positivista do século XIX traz repetidamente este conceito Para eles havia um princípio absoluto na ciência que obrigava que se pensasse claramente quais os motivos de uma determinada experiência científica a fim de encontrar o resultado esperado Esse conceito está baseado na hipótese de que o funcionamento das coisas só pode ser constatado com pensamentos a priori que possam ser comprovados com as experiências científicas A ideia tanto no século XIX como hoje em dia é que ao reproduzir as mesmas condições em que foi feita uma experiência científica qualquer um possa chegar ao mesmo resultado Assim tanto na ciência experimental como na matemática seria possível alcançar sempre o mesmo resultado uma vez que se tivesse determinado as condições na qual a experiência tiver sido feita Esse tipo de pensamento está fundamentado na ideia de que uma vez controladas as condições de uma experiência é possível chegar sempre ao mesmo resultado No século XX com a descoberta da física 65 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR quântica e com a teoria da relatividade de Einstein percebeuse que em níveis atômicos ou espaciais nem sempre conseguimos observar alguma coisa sem influenciar o resultado Isso acontece porque quando estamos pesquisando o átomo e suas partículas ou a luz e os conceitos do universo cada vez que observamos um fenômeno de alguma maneira participamos desse fenômeno e interferimos nele Mas mesmo as pesquisas avançadas de hoje em dia sugerem que a possibilidade de um determinismo é restrita Podemos predeterminar alguns fatores nos novos campos da ciência mas teremos de deduzir outros fatores que ainda não conhecemos e que não podemos controlar Também quando estudamos as ciências humanas como por exemplo a sociologia e a antropologia não temos como verificar todas as variáveis que acabam determinando o efeito de um fenômeno Isso significa que não temos ainda como controlar as muitas variáveis que compõem um fenômeno social Se vamos estudar o trânsito de uma cidade grande podemos prever que em determinados dias algumas ruas estarão mais engarrafadas do que as outras Sabemos disso porque controlamos as evidências do trânsito mas se em determinados dias não acontecer os engarrafamentos que tínhamos previsto isso também é esperado Usando uma linguagem estatística costumase considerar essas diferenças como margem de erro Imaginavase que iria acontecer um engarrafamento mas a margem de erro mostrou que existem dias que isso não acontece Às vezes surge a confusão de que o determinismo impede a liberdade mas antes de concordar ou discordar dessa opinião vamos investigar o que significa liberdade Existem três concepções diferentes a respeito do significado de liberdade O primeiro significado quer dizer que liberdade é a ausência de condições e de limites O segundo diz respeito à possibilidade de autodeterminação do ser humano O terceiro faz menção à possibilidade de escolhas livres mas dentro de certos parâmetros Todas as discussões filosóficas a respeito de liberdade discutem a validade desses significados Aristóteles afirmou que voluntário é aquilo que é princípio de si mesmo Ele explicou isso dessa maneira Nas coisas em que a ação depende de nós a não ação também depende e nas coisas em que podemos dizer não também podemos dizer sim De tal forma que se realizar uma boa ação depende de nós também dependerá de nós não realizar má ação ARISTÓTELES 2009 p 1113 A conclusão é que o ser humano é o princípio de seus atos ARISTÓTELES 2009 p 1113 O filósofo romano Lucrécio entendeu que Podemos desviar nossos movimentos sem sermos determinados pelo tempo nem pelo lugar mas pelo que inspira nosso espírito pois sem dúvida a vontade é o princípio desses atos e através dela o movimento se expande por todos os membros ABBAGNANO 2007 p 606 Então o que essas frases explicam é que somos nós mesmos quem agimos por vontade própria isto é de modo voluntário e livre A noção de liberdade como autocausalidade ou autodeterminação também é o fundamento do conceito de liberdade como necessidade Os estoicos admitiam que eram livres as ações que têm em si mesmas a causa ou o princípio Só o sábio é livre e todos os malvados são escravos pois liberdade é autodeterminação enquanto escravidão é falta da autodeterminação ABBAGNANO 2007 p 606 66 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Epicteto consequentemente escreveu que eram livres as coisas que estão em nosso poder ou seja os atos do homem que têm princípio no próprio homem Esse conceito foi válido durante toda a Idade Média Orígenes foi o primeiro a defendêlo no mundo cristão Para ele a liberdade consiste não só em ter em si a causa dos próprios movimentos mas também em ser essa causa Esta definição que se aplica a todos os seres vivos privilegia o homem porque a causa dos movimentos humanos é aquilo que o próprio homem escolhe como móbil enquanto juiz e árbitro das circunstâncias externas Também Santo Agostinho concorda com essas definições de liberdade na medida em que declara que a alma se movimenta por si só para quem sente em si a vontade ABBAGNANO 2007 Para São Tomás de Aquino o livrearbítrio é a causa do movimento porque por ele o homem determinase a agir ABBAGNANO 2007 Acrescenta que para existir liberdade não é necessário que o homem seja a primeira causa de si mesmo pois como católico ele acreditava que a primeira causa é Deus mas Deus não impede a autocausalidade do homem isto é suas decisões pessoais Ainda segundo Abbagnano Duns Scot afirmou que a liberdade da nossa vontade consiste em poder decidirse por atos opostos seja depois seja no mesmo instante querendo dizer que podemos a qualquer hora decidir qualquer coisa ABBAGNANO 2007 Já para Leibniz a liberdade se conformaria pois a substância livre determinase por si mesma seguindo o motivo do bem que é percebido pela inteligência que a inclina sem necessitála Leibniz conseguiu resumir todas as condições da liberdade em poucas palavras ABBAGNANO 2007 Bergson afirma que o conceito de liberdade que ele acreditava era alguma coisa entre a noção de liberdade moral isto é da independência da pessoa perante tudo o que não é ela mesma ABBAGNANO 2007 p 609 e a noção de livrearbítrio segundo a qual aquilo que é livre depende de si mesmo assim como um efeito depende da causa que o determina necessariamente ABBAGNANO 2007 p 609 Sartre sugeriu que a liberdade é a escolha que o homem faz de seu próprio ser no mundo Mas exatamente por se tratar de uma escolha na medida em que é feita essa escolha geralmente indica outras tantas como possíveis A possibilidade dessas outras escolhas não é explicitada nem proposta mas é vivida no sentimento de injustificabilidade e expressa na absurdidade da minha escolha consequentemente do meu ser Assim minha liberdade devora a minha liberdade Sendo livre projeto o meu possível total mas com isso proponho que sou livre e que posso aniquilar esse meu primeiro projeto e relegálo ao passado SARTRE 2007 p 359 A doutrina de Sartre leva ao extremo o conceito de liberdade como autocausalidade eu faço o que eu quero como eu quero e na hora que eu quero O equivalente político da concepção de liberdade como autocausalidade é a noção de liberdade como ausência de condições ou de regras e recusa de obrigações Numa palavra anarquia Na maioria das vezes esse conceito é utilizado como instrumento de polêmica para negar a própria liberdade Platão foi o primeiro a fazer isso quando pretendeu demonstrar que da demasiada liberdade encontrada no regime democrático nascem a tirania e a escravidão Segundo ele em A República livro VIII a recusa constante de limites e restrições torna os cidadãos tão suscetíveis que tão logo se lhes proponha algo que pareça ameaçar sua liberdade eles se melindram rebelamse e terminam rindo das leis escritas e não escritas porque não querem de forma alguma submeterse a nenhum comando A liberdade pode ser entendida como a ausência de medida recusa de normas 67 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR O filósofo inglês Robert Filmer no século XVII acreditou estar expressando este significado quando escreveu a liberdade consiste em cada um fazer o que lhe aprouver em viver como quiser sem estar vinculado a lei nenhuma ABBAGNANO 2007 No século XIX foi proposta outra coerente noção de liberdade pelo filósofo alemão Max Stirner que defendia que o indivíduo que não tem causa fora de si é sua própria causa e causa de tudo Mas essa liberdade extrema raramente é defendida pois na maioria das vezes é proposta como polêmica para identificar o que seria a liberdade política A segunda concepção de liberdade a identifica com a necessidade A liberdade não é atribuída à parte mas ao todo Não há liberdade do indivíduo mas sim à ordem cósmica ou divina à substância ao absoluto ao Estado A origem dessa concepção está na explicação de liberdade dos estoicos para quem a liberdade consiste na autodeterminação e portanto só o sábio é livre Mas por que o sábio é livre Porque só ele vive em conformidade com a natureza só ele se conforma com a ordem do mundo e com o destino ABBAGNANO 2007 Essa ideia fica mais clara com a formulação de Espinosa dizse que é livre o que existe só pela necessidade de sua natureza e que é determinado a agir por si só enquanto é necessário ou coagido aquilo que é induzido a existir e a agir por uma outra coisa segundo uma razão exata e determinada SPINOZA 2009 p 7 Nesse sentido só Deus é livre pois só Ele age com base nas leis de sua natureza e sem ser obrigado por ninguém ao passo que o homem como qualquer outra coisa é determinado pela necessidade da natureza divina e pode julgarse livre somente enquanto ignora as causas de suas volições vontades e de seus desejos Contudo poderá tornarse livre se for guiado pela razão se agir e pensar como parte da Substância Infinita e reconhecer em si a necessidade universal dela Em outras palavras o ser humano tornase livre através do amor intelectual por Deus e este amor é idêntico ao amor com que Deus se ama Mas isso é muito abstrato e Hegel percebeu que precisamos comparar o conceito abstrato de liberdade enquanto uma possibilidade com a liberdade concreta A liberdade concreta seria a liberdade real ou como ele escreveu a própria realidade do espírito ou dos homens Essa liberdade real realidade mesma do homem é o Estado que exatamente por isso é considerado Deus real O Estado é a realidade da liberdade concreta Isso significa que é dentro das regras do Estado que é a situação em que o indivíduo tem liberdade e a usufrui Assim o Estado é o centro dos outros aspectos concretos da vida o direito a arte os costumes e o bemestar No Estado a liberdade é objetiva e a vontade universal se realiza por meio dos cidadãos através do sistema de votação Para Hegel as leis a moral e o Estado são a realidade e a satisfação da liberdade O arbítrio do indivíduo não seria a liberdade As duas primeiras concepções de liberdade têm o mesmo conceito inicial Mas a terceira noção de liberdade não entende a liberdade como uma medida de possibilidade de uma escolha motivada ou condicionada A liberdade não seria a autodeterminação absoluta mas uma questão em aberto qual a medida a condição ou a forma de escolha que pode garantir a liberdade É livre nesse sentido mas quem possui determinadas possibilidades Esta ideia também nasceu com Platão quando primeiro percebeu que deveria existir uma justa medida para a liberdade Ele ilustrou esse conceito como mito de Er Segundo esse mito do livro X de A República as almas antes de encarnar são levadas 68 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I a escolher o modelo de vida na qual vão reencarnar Para a virtude anuncia a parca Láquesis não existem padrões cada um terá mais ou menos conforme a honra ou a negligencia Cada um é autor de sua escolha a divindade está fora de questão Essa possibilidade de escolha não pode ser atribuída à divindade e é limitada pelas possibilidades objetivas pelos modelos de vida disponíveis e pela motivação pessoal Platão acreditava que a maior parte das almas escolhe de acordo com os costumes da vida anterior Com este mito Platão sugeriu que a liberdade é finita porque as escolhas são sempre limitadas Elas são limitadas pelas possibilidades objetivas que nunca são muitas Também a liberdade é limitada pela importância dos motivos da escolha e esse conceito de liberdade é uma forma de determinismo Com essa liberdade somos obrigados a admitir que a determinação do ser humano é decorrente das condições da sua vida mesmo sabendo que dentro destas condições as escolhas ainda são livres Isso quer dizer o seguinte se você é um aluno dentro de uma sala de aula de Matemática é livre para aprender fazer perguntas e calcular os resultados Pode até não fazer nada disso mas não pode por exemplo começar a cantar dentro da sala de aula A aula de Matemática predetermina as coisas que você pode escolher fazer e aquelas que você não pode escolher Hobbes colocou isso da seguinte forma não se pode não querer aquilo que se quer ou não seja não se pode não ter fome quando se tem fome ou não ter sede quando se tem sede mas é possível fazer ou não fazer aquilo que se quer fazer por exemplo podemos comer ou não comer quando temos fome Existe uma liberdade de fazer não uma liberdade de querer Também Locke percebeu que a liberdade existe no fato de se estar em condições de agir ou de não agir segundo se escolha ou se queira LOCKE 2006 p12 Locke demonstrou que essa liberdade na política consiste em cada um fazer o que bem entenda dentro das regras da lei natural A liberdade do homem em sociedade consiste em não estar sujeito a outro poder legislativo além do estabelecido por consenso no Estado nem ao domínio de outra vontade ou à limitação de outra lei além da que esse poder legislativo tiver estabelecido de acordo com a confiança nele depositada Portanto como vivemos em sociedade a liberdade de escolha está delimitada pelas leis estabelecidas pelo consenso dos cidadãos Então a liberdade política existe quando respeitamos as normas que limitam as possibilidades de escolha dos cidadãos mas para isso é necessário que os próprios cidadãos fiscalizem o estabelecimento dessas normas Este é o motivo do voto e das eleições numa democracia a manutenção das regras que permitem a manutenção da liberdade Kant utilizou este conceito de liberdade finita para definir a liberdade jurídica e política esta liberdade é a possibilidade de eu não obedecer a outras leis às quais eu possa dar meu consentimento Mas Kant imaginava uma coisa simples quando eu voto nos senadores e nos deputados estou concordando que eles vão garantir uma escolha de leis com a qual eu concordo também Esse tipo de determinismo controlado pelas regras do Estado foi percebido pelo norteamericano Dewey que seguia as ideais do pragmatismo 69 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Às vezes se afirma que se é possível demonstrar que a deliberação determina a escolha e é determinada pelo caráter e pelas condições é porque não existe liberdade É como dizer que uma flor não pode produzir fruto porque provém da raiz e do caule A questão não diz respeito aos antecedentes da deliberação da escolha mas às suas consequências Qual é sua característica Darnos o controle das possibilidades futuras que se abrem para nós Esse controle é o núcleo da nossa liberdade Sem ele somos empurrados de trás Com ele caminhamos na luz DEWEY 1980 p 48 A conclusão é que o conceito de liberdade absoluta defendida por Sartre e o conceito de determinismo como necessidade isto é é livre quem escolhe o caminho individual guiado apenas por suas convicções não funcionam bem na realidade No plano político não podemos concordar com o conceito de liberdade como o poder de fazer o que quiser Também não podemos conferir o poder absoluto ao Estado a um partido a uma raça ou a uma religião Assim como escreveu o filósofo contemporâneo italiano Nicolas Abbagnano a liberdade é uma questão de medida de condições e de limites e isso em qualquer campo desde o metafísico e psicológico até o econômico e político A liberdade humana não é uma escolha mas uma possibilidade de escolha ou seja uma escolha que se feita poderá ser sempre repetida em determinada situação Dessa forma podese dizer que a liberdade está presente em todas as atividades humanas organizadas e eficazes Um comportamento válido é aquele que pode ser empregado por qualquer um nas circunstâncias apropriadas Também as liberdades políticas são as possibilidades de escolha que o Estado assegura aos cidadãos O governo não é livre simplesmente por ter sido escolhido pelos cidadãos mas por permitir que os cidadãos exerçam continuamente a possibilidade de escolha através do voto Isto é por exemplo uma das bases da Constituição Federal do Brasil As chamadas instituições estratégicas da liberdade como a liberdade de pensamento de consciência de imprensa e de reunião têm o objetivo de garantir aos cidadãos possibilidades de escolha Portanto a liberdade no mundo moderno deve ser o resultado dos limites e das condições que numa situação determinada tornam efetiva e eficaz as possibilidades de escolha do ser humano 31 Por que fazemos as coisas que fazemos da forma que fazemos Justamente porque a liberdade pressupõe a possibilidade de escolhas fazemos as coisas que fazemos Temos a possibilidade de escolher o que a nossa vontade determina Quando atuamos desse jeito podemos estar nos comportando com racionalidade ou apenas guiados pelo desejo Mas como nos lembra Platão podemos estar fazendo escolhas apenas guiados pela tradição Quando seguimos a tradição sem pensar nos motivos para tal tradição existir e nos efeitos que esse tipo de conduta pode ocasionar acabamos aprendendo pouco a respeito da realidade do mundo Não que na tradição as escolhas sejam erradas mas se seguimos somente a tradição vamos estar o tempo todo seguindo propostas que não são as nossas e de certa forma estaremos escolhendo sem liberdade 70 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 32 Somos livres ou somos determinados por fatores como a genética o ambiente e o tempo Não podemos dizer que fatores como a genética ou o ambiente determinem a nossa liberdade Esses fenômenos acabam determinando as nossas possibilidades de escolha Porém devemos insistir em fazer escolhas a partir do exercício da razão Assim somos sempre livres para escolher aquilo que pensamos que queremos Mesmo quando as condições externas limitam as nossas escolhas não podemos abrir mão daquilo que julgamos correto de ser feito Por isso que o determinismo das nossas ações é muito relativo Sabemos que somos limitados a muitas coisas desde que nascemos Alguns são bons corredores outros são bons nadadores mas todos os atletas precisam respeitar determinadas regras para competir e muitas delas são iguais Por outro lado outros são bons em Matemática e em Física e outros ainda em Português ou Inglês Nem sempre aqueles que são bons nessas matérias são bons atletas também Então de alguma forma somos determinados a bons resultados em algumas coisas e noutras não Isso porém não impede que uma pessoa decida nadar Ela apenas não será o melhor nadador do mundo Da mesma maneira uma pessoa que nasceu longe da praia pode em determinado momento resolver aprender a surfar Ela vai ter a liberdade de se locomover até a praia e aprender o esporte Caso essa pessoa exerça a vontade de morar na praia ela pode vir a ter a possibilidade de aprender a surfar bem Com isso ela irá cumprir o seu desejo inicial mas tal ação não vai garantir que ela seja o melhor surfista do mundo Apenas com a liberdade de escolhas dentro das condições dadas ela terá a liberdade de realizar o seu desejo através de atos que espelham a sua vontade 33 A liberdade é a ausência de ameaças e limites Como vimos a liberdade não é simplesmente a ausência de ameaças e de limites Mesmo na ausência de ameaças ainda somos obrigados a pensar de forma racional a respeito daquilo que queremos fazer Por outro lado a ausência de limites permite maior variedade de escolhas Devemos abrir mão disso Quando vivemos em sociedade convivemos com limites Para que a liberdade possa existir em sociedade é necessário que todos os participantes dessa sociedade entrem num acordo através de um consenso A partir da forma que todos combinamos cooperar para a manutenção da sociedade são dados os limites nos quais as nossas escolhas e a nossa vontade podem se manifestar Esses limites tomam a forma de leis Numa sociedade democrática temos liberdade para utilizando a racionalidade escolher as pessoas que vão nos representar Dessa maneira temos também responsabilidade pelas escolhas que essas pessoas fazem Caso um senador ou um deputado vote a favor de uma lei que somos contra da próxima vez devemos votar em outra pessoa que faz aquilo que achamos correto 34 O que determina a liberdade humana A liberdade total de fazer qualquer coisa sem respeitar nada nem mesmo a nossa família ainda manteria o homem num estado animal É justamente a construção da sociedade a partir de uma reflexão cultural que permite que o ser humano estabeleça regras para a convivência social 71 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR É dentro da convivência social que podemos encontrar nossa segurança de sobreviver E apenas depois que garantimos essa segurança é que podemos fazer as escolhas pessoais Portanto é a existência da sociedade que permite que façamos escolhas a partir da liberdade de acreditar que algumas coisas são melhores do que as outras 35 Liberdade é a ausência de lei A liberdade enquanto ausência de lei é pensada pelo anarquismo O anarquismo é uma ideia política que acredita que todos os seres humanos são capazes de conviver sem a necessidade do Estado das leis e das regras sociais Na proposta anarquista seria possível a existência da sociedade apenas a partir do convívio entre as pessoas Segundo esses princípios todos nós temos consciência daquilo que é bom para todos e ao mesmo tempo que é bom para si mesmo não havendo necessidade de uma ética social estabelecida pelas leis As escolhas morais seriam suficientes para que todos soubessem conviver bem Mas a liberdade moderna é pensada a partir da ideia de que somos livres para participar das instituições democráticas que estruturam o Estado Nossa liberdade deve ser expressa dentro das regras que facilitam a existência da sociedade em que vivemos Nesse sentido podemos ter liberdade seguindo a lei 36 Uma pessoa que não é livre pode ser responsabilizada por seus atos Na nossa sociedade acreditamos que as pessoas que não são cidadãs não têm capacidade de perceber a importância das suas escolhas nem a relação dessas escolhas com as leis que são a garantia do respeito à ética na sociedade Geralmente acreditamos que até os 18 anos de idade os nossos cidadãos não têm esta capacidade de entendimento e portanto não podem ser responsabilizados por seus atos A mesma ideia de impossibilidade de responsabilidade por seus atos é atribuída àquelas pessoas que por um problema de doença mental ou que eventualmente estão numa idade avançada não conseguem mais pensar com clareza e não devem ser responsabilizadas por seus atos No Brasil isso fica mais claro quando vemos o Estatuto da Criança e do Adolescente e também o Estatuto do Idoso Acreditase que apesar de poderem entender a ideia de liberdade estes indivíduos de fato não são livres porque não participam completamente do conjunto da sociedade Alguns artigos importantes do Estatuto da Criança e do Adolescente Art 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente Art 2º Considerase criança para os efeitos desta Lei a pessoa até doze anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade 72 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Art 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei assegurandoselhes por lei ou por outros meios todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico mental moral espiritual e social em condições de liberdade e de dignidade Art 4º É dever da família da comunidade da sociedade em geral e do poder público assegurar com absoluta prioridade a efetivação dos direitos referentes à vida à saúde à alimentação à educação ao esporte ao lazer à profissionalização à cultura à dignidade ao respeito à liberdade e à convivência familiar e comunitária Art 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência discriminação exploração violência crueldade e opressão punido na forma da lei qualquer atentado por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais Art 6º Na interpretação desta Lei levarseão em conta os fins sociais a que ela se dirige as exigências do bem comum os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento Dos Direitos Fundamentais Do Direito à Vida e à Saúde Art 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso em condições dignas de existência Art 8º É assegurado à gestante através do Sistema Único de Saúde o atendimento pré e perinatal Art 11 É assegurado atendimento médico à criança e ao adolescente através do Sistema Único de Saúde garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção proteção e recuperação da saúde Art 13 Os casos de suspeita ou confirmação de maustratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade sem prejuízo de outras providências legais 73 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Parágrafo único As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude Incluído pela Lei nº 12010 de 2009 Do Direito à Liberdade ao Respeito e à Dignidade Art 15 A criança e o adolescente têm direito à liberdade ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis Art 16 O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos I ir vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários ressalvadas as restrições legais II opinião e expressão III crença e culto religioso IV brincar praticar esportes e divertirse V participar da vida familiar e comunitária sem discriminação VI participar da vida política na forma da lei VII buscar refúgio auxílio e orientação Art 17 O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física psíquica e moral da criança e do adolescente abrangendo a preservação da imagem da identidade da autonomia dos valores ideias e crenças dos espaços e objetos pessoais Art 18 É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente pondoos a salvo de qualquer tratamento desumano violento aterrorizante vexatório ou constrangedor BRASIL 1990 37 Os desejos e as paixões limitam nossa liberdade Os desejos não limitam inteiramente a nossa liberdade porém muitas vezes impedem que nós façamos escolhas racionais Por causa disso a percepção de que podemos raciocinar é efetivamente o momento em que estamos exercendo a liberdade nas nossas escolhas Então percebemos que a Filosofia admite que sob o domínio dos desejos e das paixões ainda podemos fazer uma escolha livre mas esta liberdade estará sempre sob suspeita na medida em que ela não foi pensada racionalmente mas sentida 74 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 38 Quem obedece a si mesmo é livre Se entendermos que a liberdade é fazer o que eu quero do jeito que eu quero e na hora que eu quero sim é livre Mas se entendermos que a liberdade é agirmos conforme determina a lei para que todos os demais tenham também o direito de fazerem as suas próprias escolhas então este tipo de comportamento é nocivo para a liberdade dos outros Seguindo a máxima de Herbert Spencer o filósofo positivista cada um tem a liberdade de fazer tudo o que quer desde que não infrinja a igual liberdade de qualquer outro Em outras palavras minha liberdade termina quando começa a de outra pessoa e essa ideia das liberdades de todos foi descrita por Locke como o direito natural das pessoas 39 Podemos ser ao mesmo tempo livres e apaixonados Podemos sentir paixão por uma pessoa por um time de futebol por uma posição política etc As paixões são sentimentos que nascem com os sentidos como gosto de ver ouvir sentir o tato ou o gosto de alguma coisa ou pessoa Isso demonstra que uma paixão decorre das sensações e não da razão A liberdade porém é fruto da reflexão do pensamento e segundo Kant apenas o respeito era um sentimento diferente pois exige reflexão E a liberdade tem muito a ver com o respeito com a ideia de que para sermos livres precisamos respeitar as demais pessoas Assim elas também vão nos respeitar e alcançaremos a nossa liberdade É por este motivo que existe a expressão preso por uma paixão pois significa que abrimos mão da nossa capacidade de raciocinar para agirmos apenas pelos desejos que nossa paixão nos proporciona 310 O agir ético é indissociável da relação consigo mesmo e com os outros Quando participamos da sociedade não temos a liberdade de fazer o que queremos na hora que queremos e do jeito que queremos Somos obrigados a respeitar as leis da sociedade Toda sociedade se organiza em torno de regras e a forma destas espelha a ética da sociedade Mas mesmo essas regras estão sujeitas ao entendimento moral Então algumas leis podem espelhar a ética da sociedade mas podem ser imorais Por exemplo algumas sociedades são contra a pena de morte outras são a favor Nos dois casos existe uma ética que justifica essas leis São éticas diferentes Mas podemos concordar que uma pessoa seja executada porque pensa de uma forma diferente da ética do Estado Em outras palavras podemos concordar moralmente que uma pessoa morra por causa apenas das suas ideias A maior parte dos países acredita que não que isso seria imoral Mas se por causa das suas ideias uma pessoa sai roubando e matando então as leis vão condenála por causa dos seus atos e das suas escolhas que a partir de uma vontade própria prejudicam as outras pessoas Isso também é imoral e por causa disso as leis preveem a prisão e em alguns países até mesmo a pena de morte Então a maioria das pessoas acaba concordando em se comportar de acordo com a legislação do país pois esta espelha a ética escolhida para reger o comportamento das pessoas dentro daquele Estado 75 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR 311 O sentimento da liberdade garante sua existência A garantia da existência de um ser humano nem sempre está ligada à sua liberdade Pense numa pessoa deficiente presa a uma cama por uma doença Essa pessoa pode ter a garantia de vida promovida pelas leis do Estado Assim é o determinismo ditado pela legislação que garante à pessoa o direito à vida 312 Somos livres mesmo dentro de uma prisão Como já vimos com Abbagnano a liberdade é uma questão de medida de condições e de limites Quem descumpriu a lei perde seus direitos dentro da sociedade Mas na medida em que a liberdade humana é uma possibilidade de escolhas mesmo dentro da prisão o ser humano ainda tem a possibilidade de escolher a forma de agir com tais regras Mesmo num ambiente restrito o ser humano ainda tem escolhas e estas conferem às pessoas um grau de liberdade 4 O INDIVÍDUO E A COMUNIDADE O CONFLITO A ideia de comunidade é diferente do conceito de sociedade A sociedade é pública é do mundo enquanto a comunidade são as pessoas a quem estamos ligados desde o nascimento em todas as circunstâncias Na sociedade existe a possibilidade de encontrarmos o bem e o mal mas não faz muito sentido falarmos de uma comunidade má Isso porque na comunidade vivemos todas as circunstâncias que acontecem na vida de acordo com o que ocorre com as pessoas Segundo Kant a ideia de comunidade nasce com uma ação de reciprocidade Nas suas palavras Todas as substâncias na medida em que podem ser percebidas no espaço como simultâneas estão entre si em ação recíproca universal KANT sd p 7 A partir do Idealismo o termo comunidade passou a indicar uma forma de vida social na qual encontramos um vínculo intrínseco e perfeito entre todos os seus membros O problema em Filosofia é que termos como comunidade acabam não tendo uma definição precisa mas à medida que este termo foi sendo utilizado por vários sociólogos o significado de comunidade foi sofrendo transformações Hoje em dia entendemos que uma comunidade se refere ao comportamento das pessoas numa relação social local Aquilo que diz respeito à relação social dentro da grande cidade ou no país é chamado de sociedade Por esse motivo que no Brasil acabamos denominando comunidade também a forma de viver e as relações sociais dos bairros mais pobres que até pouco tempo atrás chamávamos de favelas Já vimos aqui que a palavra indivíduo significa também um coletivo para pessoas de acordo com a definição que vimos em Hegel A comunidade são as relações pessoais dos indivíduos num determinado local e toda a comunidade é composta a partir das relações sociais dos indivíduos O significado disso é que numa comunidade vamos perceber que o espaço que limita o indivíduo não é apenas geográfico mas principalmente a esfera da liberdade que os indivíduos de um determinado local podem exercer para se relacionar uns com os outros Assim existe uma determinada relação direta entre a vontade de um indivíduo com a vontade de todos indivíduos para que possamos efetivamente perceber a formação de uma comunidade 76 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I 41 O que levou os homens a viverem em comunidade O que levou os homens a desenvolverem a comunidade foi a evolução da família A primeira forma de comunidade que existiu entre os seres humanos nasceu do reconhecimento de que nós não éramos simplesmente bandos de animais mas sim organizados a partir da colaboração entre um elemento masculino e um elemento feminino da nossa espécie Na medida em que fomos desenvolvendo as relações de família ao mesmo tempo fomos promovendo as regras de convivência entre os pais e filhos irmãos e primos tios e avós Com as regras de relacionamento da família antes mesmo de criarmos uma sociedade criamos o sentido de comunidade A primeira comunidade historicamente reconhecida foi a tribo Só muito mais tarde é que se percebeu que a junção de muitas tribos constituídas por parentes próximos e afastados poderia ser considerado um povo Sabemos hoje em dia que as regras de cooperação a partir das relações de afeto das pessoas de uma comunidade têm grande eficácia 42 A violência A ideia de Aristóteles a respeito da violência é que a violência é o contrário do movimento Segundo ele o movimento na natureza leva as coisas para os seus devidos lugares enquanto a violência deixa as coisas fora de lugar No sentido social violência é basicamente uma ação contra a ordem moral jurídica ou política de uma sociedade Atualmente fazse uma distinção entre o uso da força e a violência O uso da força seria a utilização dos mecanismos de polícia para o controle dos comportamentos A violência seria o uso da força a partir do indivíduo 43 O homem é um animal violento Desde sempre nós percebemos que o homem é um animal violento Esta violência pode ser observada primeiro na tentativa de controle da natureza Desde as primeiras civilizações que homem não se incomodou em agredir a natureza A ideia era que os animais se submetessem à sua vontade e que as florestas dessem lugar aos campos e plantações A grande civilização que dá origem à história ocidental é o Egito Antigo Quando estudamos essa civilização verificamos que não apenas o rio Nilo era desviado e canalizado para irrigar os campos mas que também muito desse trabalho era realizado por escravos A escravidão nada mais é do que uma violência contra a liberdade de autodeterminação do ser humano Nesse sentido percebemos que a violência humana não apenas se volta contra a natureza a fim de modificála mas também se volta contra o próprio ser humano a fim de que ele faça aquilo que em princípio não teria vontade de fazer 77 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR A violência também existe nas relações que são inteiramente controladas pelo desejo Essas relações muitas vezes extrapolam a racionalidade das pessoas É por isso que algumas pessoas matam por ciúmes e outras espancam seus filhos ou netos Há também a chamada violência social Nesse caso é a violência que existe entre as pessoas que possuem alguma coisa e as que nada têm Hoje sabemos que muitas pessoas nada possuem por conta de determinadas regras sociais que as impedem de acumular bens Portanto há então a violência que também impede que alguém tenha o direito de ter uma casa ou de estudar Por outro lado a criminalidade muitas vezes pode ser explicada a partir da violência social Assim as pessoas que são barradas de ter alguma coisa acabam agredindo os indivíduos proprietários de bens como casas automóveis ou dinheiro 44 O que significa dizer que o ser humano é um animal político A ideia que um homem é um animal político nasceu com Aristóteles Para os gregos a cultura permitiria a busca do homem por pensamentos nobres principalmente através da Filosofia O homem só podia se realizar através do conhecimento de si mesmo e de seu mundo portanto mediante a busca da verdade O homem também só podia se realizar na vida em comunidade A República de Platão é a expressão máxima da estreita ligação que os gregos estabeleciam entre a formação dos indivíduos e a vida da comunidade Daí a afirmação de Aristóteles de que o homem é por natureza um animal político que resume este significado ele vive na polis cidade em grego em comunidade na busca da verdade A natureza humana que era idealizada pelos gregos não é um dado mas o esforço de realização daquilo que chamamos de cultura O homem vive em comunidade e neste espaço da cidade ele desenvolve a cultura 45 O que são as esferas do indivíduo do social e do político Quando se fala das esferas falamos de um espaço que é ao mesmo tempo teórico e artificial Isso quer dizer que quando falamos da esfera de uma coisa não estamos nos referindo a um objeto geométrico como uma bola mas sim de um espaço abstrato que pode ser construído pelo pensamento através da racionalidade A esfera do indivíduo é tudo aquilo que diz respeito à pessoa São as relações pessoais que podem ser estimuladas pelos sentidos ou pelo raciocínio as suas relações sociais e mesmo as suas relações políticas A esfera da sociedade em princípio é tudo aquilo que diz respeito às interações sociais que diversos indivíduos têm no âmbito de seu local de moradia e de trabalho Na esfera social vamos encontrar uma variedade muito grande de atividades humanas que permitem aos indivíduos 78 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I um grande espaço de cooperação e colaboração Na esfera social é que são realizadas as ações práticas A maioria das profissões exerce sua atividade colaborando na manutenção e na expansão da esfera social Na esfera política é que construímos as regras para essa colaboração social É nessa esfera que a sociedade de indivíduos constrói a sua ética a partir da escolha da sua forma de governo e da sua lei Na esfera política construímos a noção de justiça e de direito Também nessa esfera limitamos a liberdade de escolha dos indivíduos Hoje a liberdade de escolha dos indivíduos está diretamente ligada à forma com que organizamos a esfera política Por outro lado é na esfera política que uma sociedade constrói a base do seu futuro através das metas que unem a vontade dos indivíduos e a vontade coletiva da sociedade 46 Qual o sentido do conflito nas relações humanas O conflito nada mais é do que duas opiniões diferentes sobre o mesmo fato mas existem vários tipos de conflito a começar pelo conflito interno O conflito interno é quando verificamos duas possibilidades de escolha para que exerçamos a nossa vontade sobre alguma coisa Bebemos água ou bebemos cerveja Isso é um exemplo prático de conflito interno Nesse caso o conflito diz respeito ao apetite Se decidirmos com os sentidos escolhemos apenas aquilo que nos dá mais vontade Se decidirmos com a razão pensamos nas consequências que beber cada um dos líquidos pode trazer O conflito surge justamente porque temos a percepção das consequências Quando não conhecemos as consequências uma escolha entre duas coisas gera uma dúvida mas não um conflito Mas quando sabemos que não podemos beber e dirigir é fácil decidir se bebemos cerveja ou água Quando duas pessoas emitem suas opiniões sobre a mesma coisa como por exemplo sobre um dia de sol muitas opiniões serão dadas a respeito das sensações dos sentidos em relação aquele dia Um pode dizer que detesta dias ensolarados outro pode acreditar que seu humor melhora nestes dias Todo conflito deveria ser mediado pela racionalidade A máxima que rege o conflito foi proposta por Voltaire Discordo completamente do que você diz mas defendo inteiramente seu direito de dizêlo VOLTAIRE 2008 p 94 Isso significa que todo mundo tem direito à opinião e que o direito e a liberdade de opinião devem ser respeitados 47 O fenômeno da violência é diferente do conflito A violência é diferente do conflito pois a violência é sempre decorrente da falta de diálogo O diálogo é a possibilidade de discutir as diferentes opiniões individuais Quanto mais as diferentes posições individuais são discutidas sejam elas derivadas do desejo ou da racionalidade mais possível é chegar a um acordo A incapacidade de discutir um conflito pode levar à violência mas nem sempre a violência é decorrente de um conflito Como já vimos a violência pode nascer simplesmente do indivíduo 79 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR A noção de conflito em Filosofia é diferente da concepção de conflito para o senso comum No senso comum chegamos a falar de conflito armado Ora um conflito armado é sempre uma demonstração de beligerância que é a possibilidade de começarmos uma batalha uma guerra Neste caso percebese que não houve de fato um diálogo As pessoas apenas resolveram brigar por suas opiniões e pontos de vista 48 O conflito é necessariamente ruim Um conflito em si não é nem bom nem ruim Tanto um conflito interno quanto um conflito entre duas pessoas deve servir para que as dúvidas sobre os sentimentos ou a razão sejam examinadas Mas para que um conflito não venha proporcionar a violência é necessário que uma pessoa entenda os motivos que fazem surgir o conflito Todo conflito traz dúvidas e dúvidas nem sempre podem ser esclarecidas pelas pessoas O debate sobre as dúvidas pode proporcionar o diálogo e é sempre bom falarmos sobre as nossas opiniões Às vezes reconhecemos que estávamos errados Outras vezes temos dificuldades em entender o que nos move Em todo caso o conflito que busca o diálogo pode ser utilizado para fazer nascer a razão e o consenso Nesse sentido o conflito é uma coisa boa pois fortalece a nossa capacidade de refletir sobre as nossas escolhas na vida 49 É possível viver sem conflito Na medida em que sabemos que a dúvida sempre vai aparecer no momento de fazermos escolhas podemos também prever que o conflito deverá estar sempre presente na vida Podemos ter conflitos internos toda vez que houver dúvidas a respeito de uma escolha Mas também na esfera social e principalmente na esfera política vamos ter conflitos porque sabemos que as opiniões de cada um dependem não apenas da cultura da pessoa mas principalmente dos interesses futuros dessa pessoa Assim como podemos prever que qualquer pessoa sempre terá conflitos sejam eles conflitos íntimos do indivíduo ou na sua vida social apenas aqueles seres humanos que se isolam completamente da sociedade não teriam conflitos com outras pessoas Mas mesmo essas pessoas isoladas do mundo poderão ter a qualquer momento um conflito pessoal íntimo 410 A violência é anterior à vida em sociedade De acordo com o pensador francês Montesquieu e do suíço Rousseau antes de existir a sociedade não podíamos falar em violência No estado de natureza o homem se comporta com as mesmas regras que os animais Sem a consciência de saber que pode raciocinar o homem no estado de natureza age exatamente de acordo com as leis da sobrevivência 80 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Esse tipo de pensamento traz a ideia de que o homem no estado de natureza assim como os animais segue estritamente as possibilidades dadas por Deus quando criou o mundo Nesse sentido não podemos dizer que o homem era mau Da mesma forma que um tigre mata para se alimentar o homem também matava para se alimentar A ideia de violência só pode acontecer na sociedade organizada pelos homens Em Filosofia não podemos falar que a natureza é violenta pois ela não tem a intenção de ser violenta O vulcão não pensa para começar uma erupção O vento não planeja um furacão A chuva não pensa numa inundação Nenhuma dessas manifestações é realmente fruto da violência Nós sentimos a força da natureza e a chamamos de violenta pois ela interrompe o nosso fluxo de vida mas não acontece de fato contra nós 411 A política é o espaço público da expressão e da articulação de conflito A política é o espaço público em cuja esfera é permitido que o conflito se torne público Nesse sentido o conflito é entendido como diferença de opiniões racionais A própria construção da esfera da política é feita a partir dos debates O debate é construído com ideias que divergem uma das outras e geram o conflito A articulação do conflito nada mais é do que a organização das ideias propostas durante os debates de opiniões diferentes As pessoas que não estão diretamente envolvidas no conflito conseguem perceber melhor os motivos e as justificativas que são expostas através dos conflitos e julgar as ideias pertinentes e impertinentes Isso significa que em princípio o espaço público é o espaço onde todos podem participar Deve sempre haver uma audiência participativa para avaliar os argumentos e a racionalidade dos conflitos Quando observamos duas pessoas expondo suas ideias acreditamos que uma delas tem mais razão do que a outra Essa decisão interna é uma escolha nossa e significa tomar partido Ou seja acreditamos que de alguma forma fazemos parte também daquela opinião Por esse motivo é que nascem os partidos políticos Na verdade partidos políticos devem reunir pessoas que de alguma forma compartilham das mesmas opiniões e portanto pretendem fazer escolhas iguais ou pelo menos muito parecidas na conduta das suas vidas 412 O que é o consenso Aristóteles se refere à opinião de todos como prova ou contraprova da verdade em Ética a Nicômaco diz explicitamente Aquilo em que todos consentem dizemos que assim é já que rejeitar semelhante crença significa renunciar ao que é mais digno de fé ARISTÓTELES 2009 O consenso seria então a opinião de todos Os estoicos insistiram no valor do consenso universal pois o consenso representa as noções comuns compartilhadas por todos naturalmente ou por efeito da educação 81 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Todavia só os ecléticos fizeram do consenso comum o critério da verdade Cícero escreveu que Em todos os assuntos o consenso de todas as gentes deve ser considerado lei natural ABBAGNANO 2007 p 196 A filosofia moderna que tem em Descartes o seu início fez uma crítica radical do saber comum Os filósofos modernos não acreditavam que o consenso comum é garantia de alguma coisa ou tem valor de verdade O recurso ao consenso comum muitas vezes constitui uma prova da existência de Deus Também serviu de fundamento à noção de direito natural Mas esses usos do consenso não modificam a substância da noção que é a tentativa de proteger da crítica os conhecimentos ou preconceitos considerados inteiramente válidos mas cuja efetiva universalidade é muito difícil provar 413 É possível lutar por direitos sem enfrentar o conflito de interesses Todo conflito de interesses nasce de opiniões diferentes e divergentes a respeito do mesmo fato Por isso é muito difícil que pessoas em posições diferentes com pontos de vistas próprios aceitem de forma pacífica outras opiniões Por esse motivo na esfera social e na esfera política muitas vezes as discussões se tornam acirradas quando se discutem os direitos Na medida em que nas assembleias democráticas cada indivíduo pode expressar a sua opinião livremente às vezes é quase impossível se chegar a um consenso Nesse caso surge um impasse De acordo com o grau de cultura e a qualidade da civilização de uma determinada sociedade é possível que o empecilho seja resolvido através de votação ou até mesmo da construção de novas ideias que acabam por contentar a todos Mas se por algum motivo as opiniões continuam muito divergentes pode acontecer que os sentimentos superem a razão e que as pessoas em vez de continuarem a discutir suas posições no conflito simplesmente partam para a agressão física Nesse caso podemos chegar a ter uma luta para a conquista da posição das opiniões através da violência Resumo Vimos nesta primeira unidade a diferença entre o que é natural pois decorre da natureza do que é cultural Do ponto de vista natural não somos muito diferentes dos outros seres vivos Vivemos para reproduzir e para garantir nossa espécie e nos adaptamos à natureza que forma nosso meio ambiente Nossa diferença para os demais seres vivos está na capacidade de desenvolvemos formas de linguagem com as quais conseguimos entender melhor as coisas da natureza Na medida em que entendemos melhor o que acontece e o que aparece na nossa frente conseguimos pensar sobre isso 82 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I Pensar várias vezes sobre uma coisa levando em consideração aspectos diferentes é o que se denomina de reflexão Um conjunto de reflexões forma uma filosofia Na medida em que pensamos nosso estar no mundo a partir de uma filosofia tentamos organizar nossa relação com a natureza e com as demais pessoas seguindo essas ideias Mas os seres humanos levaram séculos desenvolvendo filosofias e como consequência criaram a cultura e suas partes mais transformadoras que são a técnica e a ciência Antes mesmo de criarem a ciência conceberam a moral como forma de regular a convivência entre os seres humanos Mas as regras morais não foram disseminadas pelas filosofias mas pelas religiões Religiões são crença e assim como mitos não são feitas para serem questionadas Ou se acredita ou não se acredita Crenças foram a primeira forma de criar narrativas que determinaram formas de comportamento atitudes previsíveis nos seres humanos A previsibilidade sempre foi perseguida pelos seres humanos até para poderem estimar a única coisa certa para qualquer ser vivo que é a morte Quanto mais se conhece sobre si mesmo e sobre a natureza mais e melhor podemos esperar a morte Nesse sentido como hoje em dia conhecemos mais sobre a natureza e sobre o nosso organismo podemos criar aparelhos e remédios que nos fazem viver mais Na medida em que aprendemos mais sobre nós mesmos percebemos que as reflexões permitidas pela filosofia são instrumentos para que possamos compreender as diversas situações de sobrevivência dos seres humanos Assim moral ética liberdade lei comunidade política são alguns dos milhares de conceitos que adotamos para tentar entender por que cada um de nós assume determinados comportamentos Exercícios Questão 1 Conhecida também como gravura ou pintura rupestre a arte rupestre surgiu durante o Paleolítico Superior cerca de 40000 aC e simbolizava as manifestações artísticas dos povos antigos Em 1902 pesquisadores concordaram que esses achados representavam a arte na préhistória Basicamente eram representações gráficas através de desenhos símbolos e sinais em paredes tetos e outras superfícies de cavernas Esse tipo de arte é conhecido como a expressão artística mais antiga da história 83 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR Extrato de folhas sangue de animais e fragmentos de rochas eram utilizados para tingir na parede pinturas de seus próprios hábitos como a caça de animais acreditavam que a pintura de uma caça bemsucedida se refletiria na realidade danças lutas corporais e rituais Os costumes e a rotina do homem préhistórico eram reproduzidos nas cavernas de maneira individual ou coletiva até mesmo partos e relações sexuais eram registrados Há estudos que investigam a possibilidade dessa atividade ser dotada de um sentido especial para o homem primitivo pois a produção de arte rupestre se distanciava de suas aldeias A pintura rupestre não se limitava apenas a registros do cotidiano mas abrangia também aspectos religiosos da préhistória Círculos espirais cruzes e outros objetos geométricos eram pintados tornando a interpretação disso mais complexa e misteriosa Isso demonstra o desafio enfrentado por arqueólogos e paleontólogos envolvidos nas pesquisas a respeito Disponível em httphistoriadaarteinfoarte naprehistoriaarterupestrehtml Acesso em 15 jul 2018 Figura 1 Escrita rupestre I A pintura reproduzida na fotografia do enunciado da questão não representa nada para a nossa cultura e no máximo podemos tentar imaginar o que ela significaria para os habitantes daquele período histórico II As representações rupestres são manifestações da cultura de uma época histórica e mesmo que não consigamos entender o que elas exprimem é possível compreender que retratam momentos do cotidiano da vida daqueles grupos embora possam significar também momentos marcantes e especiais 84 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I III Os desenhos reproduzidos na fotografia representam a cultura de uma época e estudos sistematizados daquele período histórico poderão nos revelar mais sobre essa forma de manifestação cultural Isso é importante para a compreensão da história da humanidade IV Cada grupo social expressa seus valores por meio de sua arte e esses valores se restringem aos diferentes grupos não podem ser compreendidos pelos demais Assinale a alternativa correta A I somente B I e II C II e III D I e IV E IV somente Resposta correta alternativa C Análise das alternativas I Afirmativa incorreta Justificativa não é correto afirmar que a manifestação cultural de grupos sociais que viveram muitos anos antes que nós nos primórdios da história da humanidade não sejam relevantes para nós apenas porque ainda não conseguimos entender o que representam São parte do patrimônio cultural de toda a humanidade e exatamente por isso devem ser estudados pesquisados e observados com todo o cuidado para que possamos tentar revelar seu significado II Afirmativa correta Justificativa existe a possibilidade de que a arte rupestre simbolize momentos da vida cotidiana de grupos sociais que as fizeram Mas em razão do fato de serem colocadas em locais distantes das aldeias podem representar também momentos mais especiais em que ocorriam atividades diferentes daqueles normalmente praticadas no cotidiano Embora ainda não seja possível saber exatamente o que representavam essas manifestações culturais têm imenso valor para toda a humanidade porque simbolizam a expressão de seres humanos que viveram há milhares de anos atrás e deram início à história do ser humano no planeta Terra Esses desenhos são parte da cultura da humanidade e possuem enorme valor para toda a humanidade 85 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data FILOSOFIA INTERDISCIPLINAR III Afirmativa correta Justificativa o estudo sistematizado das diferentes manifestações culturais registradas na história da humanidade nos atualiza com o passado e exatamente por isso nos permite ampliar a compreensão da espécie humana de tudo o que ela tem construído como forma de manifestação cultural ao longo de sua longa trajetória histórica IV Afirmativa incorreta Justificativa todas as manifestações culturais dos diferentes grupos sociais existentes no planeta Terra são importantes porque representam o conjunto de descrições e explicações que cada grupo social dá para as coisas da natureza e para suas relações sociais Esse conhecimento diminui as diferenças entre os grupos sociais permite identificar valores comuns e construir pontes para estreitar laços entre os seres humanos de diferentes culturas e histórias Questão 2 A foto retrata a degradação em que vivem os moradores da chamada Cracolândia em São Paulo local em que dezenas de dependentes químicos vivem exclusivamente para obter drogas para consumo mesmo que para isso tenham que praticar roubos furtos ou prostituição Essa escolha não parece ser racional Para os filósofos Figura 2 Usuários de drogas são deslocados da praça Júlio Prestes para a praça em frente à estação Julio Prestesconhecida como praça do Cachimbo na região da Cracolândia A O resultado de nossas escolhas tem que ser sempre previsível do contrário não há racionalidade nas escolhas feita B Quando escolhemos algo apenas por desejo essa escolha tende a ser individualista egoístas e por isso nem sempre teremos bons resultados 86 Revisão Nome do revisor Diagramação Lucas Mansini data Unidade I C Nossas escolhas fazem parte das determinações de nosso corpo como afirmava o filósofo Espinosa e isso é exatamente o que acontece com os dependentes químicos que vivem em condições degradantes na Cracolândia em São Paulo D As decisões que cada pessoa toma para sua vida é uma ação que só depende dela como entendia o filósofo Aristóteles E As escolhas feitas com o uso da razão são sempre fruto de sabedoria ainda que nem sempre tenhamos resultados positivos com elas porque não temos o domínio de todas as variáveis possíveis Resolução desta questão na plataforma