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634 ISSN 16764285 634 Percepções de adolescentes grávidas sobre o papilomavírus humano estudo exploratório Ana Cristina Pereira de Jesus Costa¹ Dianne Rose Mesquita Almeida² Marcelino Santos Neto¹ Thiago Moura de Araújo3 Márcio Flávio Moura de Araújo3 Neiva Francenely Cunha Vieira4 1 Universidade Federal do Maranhão 2 Secretaria Municipal de Saúde de Chapadinha 3 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira 4 Universidade Federal do Ceará RESUMO Objetivo analisar a percepção de adolescentes grávidas em relação ao papilomavírus humano HPV Método estudo exploratório qualitativo realizado entre abril e maio de 2012 em área domiciliar de equipe da Estratégia Saúde da Família de ImperatrizMA Os dados foram obtidos por meio de entrevistas no domicílio com nove adolescentes grávidas Para os dados utilizouse a análise de conteúdo Resultados ficou perceptível que as concepções das adolescentes grávidas sobre o HPV ainda são confusas e errôneas pois elas atribuem características comuns às doenças sexualmente transmissíveis DST ao HPV não sabendo definir quais são suas características específicas Possuem total desconhecimento sobre as implicações que o vírus pode trazer durante a gestação Conclusão o HPV ainda é um assunto de muitas incertezas para as adolescentes no que diz respeito às questões que o envolvem sobretudo no período gestacional o que aumenta a vulnerabilidade de jovens grávidas em relação ao vírus Descritores Adolescente Gravidez Doenças Sexualmente Transmissíveis Enfermagem 635 INTRODUÇÃO Este estudo tem como proposta analisar a percepção de adolescentes grávidas em relação ao papilomavírus humano HPV Fundamenta se no fato de que a gestação na adolescência é considerada um real fator de risco para infecção pelo HPV visto que o vírus pode atingir gran des proporções decorrentes do aumento da vascularização no canal vaginal As alterações hormonais e imunológicas que ocorrem neste período também influenciam12 Para as adolescentes com HPV a gravidez é uma condição potencialmente grave uma vez que os vírus dos tipos 16 e 18 podem causar pa pilomas laríngeos em recémnascidos e crianças além de hemorragia associada ao parto vaginal e verrugas genitais que crescem rapidamente e acarretam obstrução mecânica do canal de parto no final da gestação2 O HPV é um agente infeccioso que ataca o sistema genital feminino manifestandose por meio de lesões conhecidas como condiloma acuminado verruga genital ou crista de galo É um DNA vírus não cultivável do grupo pavovírus que possui mais de 100 tipos Os de alto índice oncogênico quando associados a outros cofa tores como multiparidade precocidade da ati vidade sexual história de doenças sexualmente transmissíveis DST e os tipos virais conhecidos como o 16 18 31 33 35 39 45 46 51 52 58 59 e 68 presentes no organismo têm relação com o desenvolvimento das neoplasias intraepiteliais e do câncer invasor do colo uterino3 A prevalência desse vírus é alta e guarda uma relação estreita com o desenvolvimento do câncer cervical haja vista que mais de 90 das mulheres que apresentam câncer de colo do úte ro tiveram HPV A infecção pelo HPV atinge jovens no início da atividade sexual e em até 80 dos casos isto é transitório existindo maior prevalên cia em mulheres com idade inferior a 25 anos4 Durante a adolescência alguns aconte cimentos como a menarca e outras alterações biológicas responsáveis por uma série de even tos psicológicos que culminam na aquisição da identidade sexual vêm acontecendo precoce mente A desinformação sobre esses eventos biológicos leva a adolescente à exposição a inúmeros riscos físicos psíquicos e sociais e consequentemente às infecções por DST por desconhecimento do seu sistema reprodutor e das formas de transmissão5 A relação entre o conhecimento e o risco da infecção por HPV na adolescência considera o início e o histórico das atividades sexuais como fatores de grande influência na frequência de infecções por esse vírus O desconhecimento feminino no que diz respeito às formas de transmissão os sinais e sintomas desencadeados pelo HPV podem sugerir falhas nas estratégias preventivas dos serviços de saúde67 Dentre os fatores que facilitam a infecção pelo HPV em mulheres destacase o não uso do preservativo nas relações sexuais o que torna a gestante suscetível à possibilidade de adquirir a infecção7 No Brasil o preservativo ainda é pouco utilizado principalmente entre os adolescentes Dados do Ministério da Saúde apontam os índices de uso do preservativo em torno de 02 a 14 pela faixa etária de 15 a 19 anos4 A adolescência é uma fase em que a ativi dade biológica cervical está em nível máximo a replicação celular e as substâncias presentes no meio cervical facilitam a infecção pelo HPV5 É uma fase de intensas mudanças físicas sexuais psíquicas e sociais advindas da descarga dos hormônios sexuais acompanhada pela desco berta do corpo dos órgãos sexuais e conse quentemente da sexualidade Atrelado a isso estimase que no Brasil um milhão de nascidos vivos sejam filhos de mães com idade entre 10 e 19 anos o que corresponde a 20 do total 636 8 Dessa maneira o quantitativo de gestantes adolescentes é significativo Ao se levar em conta que durante a gravidez e na adolescência o uso do preservativo é baixo e que ele é fundamental para prevenção do HPV e DST uma estratégia eficaz de informação é a realização de trabalhos de prevenção voltados para a promoção da saúde com ações educativas nos serviços de saúde esclarecimento sobre as formas de transmissão diagnóstico tratamento do que se trata a doença o que a infecção pode causar no corpo da mulher e na criança9 Nessa perspectiva a parceira entre o Mi nistério da Saúde e o Ministério da Educação por meio do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas possibilita um conjunto de ações no ambiente escolar que visam à redução da vulnerabilidade dos adolescentes às DST à infecção pelo HIV e à gravidez precoce com ênfase na promoção da saúde por meio de ações educativas de prevenção e ampliação do acesso dessa população ao preservativo Assim é necessário repensar de que forma essas ações estão sendo implementadas nas escolas visto que a permanência desses atos pelos profissionais de saúde contribui significa tivamente para que a população adolescente se torne esclarecida sobre o HPV e possivelmente sensível a adotar comportamentos sexuais mais seguros e saudáveis10 Tornase fundamental tal abordagem diante das evidências da relação delicada en tre conhecimento sobre o HPV e a saúde das adolescentes grávidas da vigilância mundial quanto à magnitude do HPV e da restrição de pesquisas de enfermagem envolvendo essa temática Ademais no município de Imperatriz o segundo maior do estado do Maranhão até o momento não há registro de manuscritos publicados que tenham procurado conhecer as percepções de adolescentes grávidas acerca do HPV e suas repercussões gestacionais Além disso os estudos encontrados com essa temática são essencialmente quantitativos A relevância de pesquisas como esta se ali cerça na importância da prevenção da infecção pelo HPV para a saúde gestacional e na escassez de estudos em populações específicas tais como as adolescentes grávidas Dessa forma o estudo tem por objetivo analisar a percepção de ado lescentes grávidas em relação ao papilomavírus humano MÉTODO Tratase de um estudo exploratório com abordagem qualitativa realizado entre abril e maio de 2012 em área adstrita de uma Unidade Básica de Saúde UBS da Estratégia Saúde da Família ESF do Município de Imperatriz Inicialmente seriam entrevistadas 15 ado lescentes grávidas cadastradas na ESF do estudo No entanto considerando a recusa de quatro adolescentes e o fato de que duas entraram em trabalho de parto no período da pesquisa estas foram excluídas da pesquisa Assim as entrevistas foram realizadas apenas com nove adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos de idade grávidas e cadastradas na ESF da UBS participante do estudo Para a definição da faixa etária foi definido o conceito dado pela Organi zação Mundial de Saúde11 que considera a ado lescência a idade elegível do presente estudo Foi utilizada a técnica da entrevista semiestruturada realizada no domicílio das adolescentes e conduzida pela primeira auto ra mediante a utilização de questões abertas relativas ao objetivo da pesquisa proposta Em média as entrevistas previamente agendadas duraram de 45 minutos a 1 hora e foram gra vadas por meio de um gravador de voz MP3 após o consentimento das participantes e dos responsáveis legais das menores de idade O 637 agendamento das visitas domiciliares ficou a critério das adolescentes Durante a primeira visita houve a expla nação dos objetivos e metodologia do estudo seguida pela leitura e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido TCLE para o desenvolvimento do estudo Na sequência fezse o registro dos dados sociodemográficos obstétricos sexuais entre outros Nas demais três visitas os questionamentos das entrevistas e a interação pesquisadorpesquisadas conver giram no sentido de se conhecer as percepções das adolescentes grávidas sobre o HPV Para a análise dos dados considerouse o referencial da análise qualitativa de conteúdo12 seguindo os passos de identificação codificação e categorização Isso implica que o pesquisador deve procurar o significado de passagens espe cíficas e alocálas em categorias apropriadas Assim primeiramente houve a descrição das adolescentes seguida da transcrição dos dados coletados para uma leitura criteriosa e a organização dos depoimentos Nesse último passo observaramse a conformidade e seme lhança dos depoimentos os quais finalmente foram alocados em categorias temáticas Como princípio ético global a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão CEPHUUFMA sob o Protocolo 454510 RESULTADOS São apresentados em duas etapas a primei ra foi constituída pela caracterização das parti cipantes do estudo e a segunda pela descrição das falas resultantes das entrevistas na íntegra selecionandose dois temas O que é Papilo mavírus humano HPV e HPV e gravidez No primeiro e no segundo temas foi investigado o conhecimento das entrevistadas sobre o HPV e a relação com a gravidez respectivamente Caracterização das participantes do estudo As nove participantes do estudo apre sentam idade entre 13 e 19 anos Em relação ao nível de escolaridade uma possui o ensino fundamental incompleto duas possuem en sino fundamental completo quatro possuem ensino médio incompleto e duas possuem ensino médio completo Ressaltese que as três adolescentes que possuem ensino fundamental incompleto e completo são primíparas Quanto ao estado civil duas disseram ser casadas uma é solteira mas com namorado fixo e seis relataram união estável Entre as nove participantes ape nas uma trabalha sendo as demais estudantes Quando questionadas sobre a vida sexual relataram ter tido a primeira relação com idade em torno de 13 a 16 anos Quanto ao número de parceiros nas relações sexuais seis disseram ter tido somente um até o momento entretanto três relataram ter tido de dois a quatro parceiros No que diz respeito ao uso de anticoncep cionais quatro disseram nunca ter feito uso de nenhum tipo de anticoncepcional três já fizeram uso de anticoncepcional oral e duas disseram ter usado contraceptivo de emergência Sobre o uso do preservativo seis disseram utilizar o preservativo e três disseram não ter utilizado nas relações sexuais anteriores Entre as que não utilizaram apenas uma disse não ter adotado o preservativo em nenhuma das relações sexuais e entre as que utilizaram duas relataram o uso em todas as relações sexuais e seis em metade delas Durante o estudo como referido pelas adolescentes observase que algumas destas têm preferência pelo uso de contraceptivo oral em detrimento do uso regular do preservativo durante as relações sexuais por terem a concep ção de que somente utilizando o contraceptivo oral estão autoimunes aos riscos de contrair uma DST em especial o HPV Salientase que a adoles 638 cente que referiu não utilizar o preservativo nas relações sexuais possui união estável Em se tratando das DST todas as adoles centes possuem conhecimento simplificado relacionado às mesmas cinco relataram já ter apresentado alterações em seu aparelho genital e quatro nunca perceberam nenhuma alteração nos órgãos genitais do parceiro todas disseram nunca ter percebido nenhuma mudança Quan to a realizar tratamento anterior de alguma DST apenas uma referiu ter feito uma vez tratamento para tricomoníase No que tange à gestação duas estão no pri meiro trimestre da gravidez cinco no segundo trimestre e duas no terceiro sendo que destas cinco são primíparas quatro tiveram uma ou mais gravidezes anteriores duas tiveram aborto e duas possuem filhos vivos Em relação ao exame Papanicolau seis jo vens relataram têlo realizado e três afirmaram nunca ter feito Entre as seis que realizaram qua tro o fizeram nos últimos três meses e duas nos últimos oito meses Apenas duas não voltaram para buscar o resultado e quatro retornaram ao serviço de saúde para a entrega do resultado Quanto à frequência da realização desse exame apenas uma relatou realizar com tempo superior a 12 meses uma relatou fazer pela primeira vez e quatro relataram fazêlo entre seis e 12 meses O que é HPV Ao realizar as entrevistas observouse que a percepção das adolescentes grávidas sobre o HPV apresenta definições variadas direcionando características dessas doenças no geral como sendo do HPV demonstrando desconhecimento sobre o que seja de fato o vírus O HPV é uma infecção pouco abordada entre o público ado lescente em que o foco prioritário é dado às demais DST como se pode observar nas três falas abaixo Eu sei que é uma doença do corpo humano que atinge mulher e homem que é tipo uma infecção que tem que fazer o exame de prevenção Adoles cente 1 Para mim é uma doença que não é difícil de tratar não não é uma doença perigosa porque se tratar vou me curar mas se não tratar vira um câncer Adolescente 2 Eu já ouvi falar na escola Eu sei que é uma DST que se transmite através da relação sexual podendo causar feridas e verrugas no útero da mulher Adolescente 3 Acho que esse HPV deve ser algum tipo de DST Adolescente 4 Em alguns relatos também é visível que as percepções sobre o HPV apresentemse desconexas e com significados diferentes a real definição como se pode perceber a seguir HPV deve ser coceira e corrimento Eu acho que deve deixar a vagina da mulher ferida Adolescente 5 Não sei o que é HPV Causa uma doença é Adolescente 6 Eu sei que pega HPV pelo sangue Adolescente 7 A partir das falas dessas adolescentes observase que as suas percepções sobre o HPV ainda são errôneas pois elas atribuem caracte rísticas comuns às DST ao HPV não sabendo definir quais as características que são específi cas desses vírus 639 HPV e gestação Investigaramse ainda as implicações que o HPV pode trazer durante a gestação consideran do o fato de se que as adolescentes estavam no período gestacional Ressaltase que novamente observouse o total desconhecimento pelas adolescentes grávidas sobre as implicações para a gestante e o feto quando infectadas pelo HPV Esta situação pode ser verificada nas falas abaixo Não sabia nem que ele pegava na criança Adolescente 1 Essa doença eu não sei não nunca me falaram sobre isso O que é que causa Eu pensava que só atingia a mulher mas o bebê não Adolescente 2 Eu pensei que por causa do bebê eu não pegava essa doença Adolescente 9 Entre os métodos contraceptivos utilizados pelas entrevistadas o preservativo foi citado poucas vezes como forma de prevenção ao HPV Segundo as adolescentes o uso ainda está condicionado à prevenção somente da gravi dez levandoas a relatar concepções de que o mesmo seja desnecessário durante a gestação como método preventivo de DST Essa assertiva pode ser vislumbrada nos depoimentos abaixo Não uso Porque a gente usa preser vativo é para evitar a gravidez depois que eu engravidei não evita mais Eu usava mais era pra evitar a gravidez A maioria das pessoas nem se importa com as doenças Adolescente 8 Usei algumas vezes É porque às vezes a gente confia às vezes desconfia do parceiro e se estou grávida para que usar Adolescente 7 Usava mesmo porque tinha medo de ficar grávida mas depois que engra videi nunca mais usei Adolescente 5 As entrevistadas também relataram sobre os motivos que as impediram de utilizar o pre servativo em todas as relações sexuais sendo observada a ausência da prática de proteção às DST e à gravidez Elas utilizaram como justifica tivas a confiança conjugal de seus parceiros a insatisfação nas relações com preservativo ou ainda o esquecimento Essa situação é obser vada a seguir Muitas vezes não tinha a camisinha no momento e outras nós esquecemos de usar Adolescente 5 Não usei camisinha porque até o mo mento eu só transei com duas pessoas e os dois foram meus namorados Adolescente 6 Eu não usava preservativo às vezes porque sem o preservativo a relação é melhor e por confiança no meu espo so Adolescente 2 Nessa perspectiva observase que a atitude das adolescentes grávidas em optar por não uti lizar o preservativo sugere uma despreocupação com os riscos eminentes de adquirirem infecções durante as relações sexuais DISCUSSÃO Estudos envolvendo adolescentes grávidas detectaram que 53 das adolescentes que en 640 gravidam completam o ensino médio enquanto que esses dados correspondem a 95 entre as adolescentes que não engravidam Possuir me lhor escolaridade é considerado fator contribuin te para um nível de conhecimento mais apurado e uma estrutura familiar mais sólida em que os pais participam ativamente do crescimento e desenvolvimento dos seus filhos e favorecem a discussão sobre temas como gravidez e DST11 Isso diverge da situação encontrada entre a maioria das adolescentes grávidas do presente estudo As informações relatadas pelas participan tes acerca do estado civil refletem um pouco sobre sua iniciação sexual De acordo com o Ministério da Saúde os adolescentes brasilei ros têm iniciado a vida sexual precocemente e mantêm um maior número de parceiros 36 dos jovens entre 15 e 24 anos expuseram ter tido a primeira relação sexual antes dos 15 anos de idade enquanto que apenas 21 dos jovens entre 2529 anos tiveram a primeira relação nesta faixa12 Sendo a adolescência uma fase em que o indivíduo passa por mudanças especialmente relacionadas à maturação sexual em que há experimentação e variabilidade de parceiros quando acompanhada de fatores como o baixo nível socioeconômico a baixa escolaridade e o baixo conhecimento aponta para uma maior probabilidade ao acontecimento de atividade sexual precoce812 Destacase ainda conforme observado no presente estudo o surgimento de novas conformações de relacionamentos entre os adolescentes tal como a união estável A partir da Lei 9278 de 10 de maio de 1996 a união estável é reconhecida como entidade familiar entre um homem e uma mulher exer cida contínua e publicamente semelhante ao casamento quando os parceiros convivem de modo duradouro estabelecida com objetivo de constituição de família apresentandose como marido e mulher13 Mesmo diante de relacionamentos está veis geralmente no início da vida sexual os adolescentes quase sempre não fazem uso de métodos contraceptivos que os deixam pro tegidos de uma gravidez não planejada o que pode tornarse fator desencadeante também para a infecção por HPV e DST14 Estudos destacam que as DST são doen ças que manifestam poucos sintomas ou são inicialmente assintomáticas tornandose de difícil detecção No entanto podem trazer consequências secundárias severas que pre judicam a saúde reprodutiva e o bemestar da mulher ocasionam disfunção sexual infertili dade abortamento espontâneo malformação congênita nascimento de bebês prematuros e a morte caso não sejam adequadamente tratadas27 Logo o início precoce da vida sexual a multiplicidade de parceiros sexuais a não uti lização de contraceptivos entre outros fatores tornam as adolescentes suscetíveis à gravidez às DST e ao HPV15 Além disso destacase que significativa parcela dos adolescentes não é contemplada pelos serviços de saúde cola borando ainda mais para o desconhecimento sobre as DST16 A literatura tem demonstrado que o au mento da gravidez na adolescência em países em desenvolvimento tem relação íntima com a baixa escolaridade das mesmas entre outros fatores como a pobreza a desestruturação familiar e a falta de conhecimento17 Neste estudo verificase que quase a metade das entrevistadas teve mais de uma gravidez evidenciando a iniciação sexual precoce na adolescência Outras análises conduzidas513 apontam que mulheres que tiveram relações sexuais por volta dos 16 anos de idade apresentaram 641 risco dobrado de ter adquirido HPV e câncer cervical em relação a mulheres que tiveram relações sexuais após os 20 anos de idade A rápida mudança do epitélio cervical durante a puberdade reflete em áreas de transformação em que o processo neoplásico se inicia As células metaplásicas e colunares na ectocér vice têm maior preponderância nessa faixa etária tornando as adolescentes vulneráveis ao HPV Além dessa informação a proliferação do epitélio escamoso colunar da ectocérvice é visível na adolescência facilitando infecções pelo HPV mais do que o epitélio escamoso presente na cérvice uterina em mulheres adultas18 A presente pesquisa demonstra que mais da metade das adolescentes vêem o exame Papanicolau como importante para visualizar as condições do colo do útero identificando a presença ou ausência de alguma alteração nos órgãos genitais femininos como feridas eou verrugas genitais sugestivas do HPV o que torna importante a sua realização regular Desde 1998 Ministério da Saúde reco menda a realização do exame Papanicolaou na intenção de detectar precocemente o câncer cervical em mulheres que já iniciaram a vida sexual4 Ele consiste no esfregaço ou raspa do de células esfoliadas do epitélio cervical e vaginal tendo seu valor tanto para prevenção secundária quanto para diagnóstico pois pos sibilita a descoberta de lesões préneoplásicas e da doença em seus estágios iniciais Mesmo sendo um procedimento de baixo custo não está incorporado a todos os serviços de saúde tendo utilização reduzida e não disponível a toda população feminina15 Estimativas indicam que em torno de 40 das mulheres brasileiras com vida se xualmente ativa nunca realizaram o exame Papanicolau tendo como principais motivos a vergonha da exposição da genitália o descon forto emocional as dificuldades de acesso aos serviços de saúde e a falta de conhecimento sobre as finalidades do exame e sobre as DST4 Dados do Programa Nacional de DST do Ministério da Saúde afirmam que entre as DST virais a maior prevalência em mulheres gestantes corresponde ao HPV com 4049 A gestação é um fator facilitador no processo de aparecimento crescimento ou ressurgimento de lesões condilomatosas causadas pelo HPV Nas gestantes infectadas há maior frequência de complicações obstétricas18 O HPV genital denominado condiloma acuminado apresentase com lesões vege tantes úmidas isoladas ou agrupadas ou pápulas sésseis que lembram a verruga vulgar podendo adquirir aspecto de couveflor e surgir tanto interna como externamente na genitália feminina13 O DNA do vírus HPV de alto risco é de tectado na maioria dos espécimes de câncer do colo do útero sendo que cerca de quaren ta tipos de vírus têm sido encontrados em infecções na mucosa anogenital Esses tipos virais são considerados carcinogênicos para a cérvice uterina acometendo assim a saúde da mulher e sendo um dos fatores de mais alta morbimortalidade feminina613 O HPV tem prevalência de 15 a 40 na população geral e a infecção cervical por HPV atualmente representa a DST isolada mais frequente no mundo sendo extremamente comum em jovens19 Na gravidez há maior incidência do HPV e consequentemente ocasiona infecções no feto transmitido verticalmente da mãe para o filho fato que torna relevante discutir o HPV durante a gestação principalmente na ado lescência A transmissão vertical pode ocorrer pela via hematogênica por contaminação pela via ascendente ou no canal do parto o que pode resultar na papilomatose laríngea no 642 feto ou recémnascido15 A infecção por HPV é verificada em especial no segundo trimestre de gestação cuja explicação se dá pela dimi nuição da função do sistema de defesa imuno lógico devido aos altos níveis de estrógeno e progesterona que podem interferir no sistema regulatório da replicação viral12 Corroborando a estudo já mencionado a vulnerabilidade das adolescentes ao HPV está atribuída à maior exposição da zona de trans formação da cérvice durante a adolescência do que na vida adulta Logo é essencial o uso do preservativo em todas as relações sexuais independentemente de estar grávida ou não5 A prevenção da gravidez é considerada pelas adolescentes como principal motivo do uso do preservativo em relações sexuais Diante disso afloram questões preocupantes quanto à prevenção do HPV e DST já que a utilização do preservativo é dispensada nas re lações sexuais entre as adolescentes grávidas Logo a utilização esporádica eou dispensa do preservativo na gravidez está diretamente re lacionada ao baixo ou nenhum conhecimento que as adolescentes possuem acerca das fina lidades do preservativo também para prevenir DST sobretudo na gravidez1321 As percepções das adolescentes apresen tadas mostram que o uso descontínuo do pre servativo nas relações sexuais é considerado um grave problema uma vez que essa atitude contribui para a exposição ao HPV Ademais as adolescentes não se percebem vulneráveis e apresentam maior risco para infectaremse especialmente se não possuem conhecimento suficiente Em suas falas as jovens revelaram as suas experiências e expressaram a sua per cepção sobre o assunto A adolescência é uma fase que precisa de atenção especial pois além da iniciação sexual precoce o baixo conhecimento que possuem sobre as DST contribui para percepções equi vocadas sobre o risco pessoal de adquirilas considerando a ausência de práticas de prote ção como o não uso do preservativo816 Além disso no caso de ocorrerem infec ções por DST na adolescência a manifestação tardia dessas doenças repercute no grau de vulnerabilidade de possíveis contatos demonstrando uma situação preocupante e colocando os adolescentes como prioridade para estudos sobre as DSTHIV no Brasil e no mundo2022 CONCLUSÃO O estudo revelou que em relação a uma possível contaminação por HPV o conheci mento das adolescentes grávidas é deficitá rio Ademais somente algumas afirmaram fazer uso do preservativo e entre as que não o adotam justificam seu comportamento na fidelidade masculina no esquecimento e desconforto Além disso as entrevistadas relataram não saber sobre os efeitos do vírus HPV no feto e na criança Diante dos resultados obtidos podese ressaltar que o HPV é uma doença pouco co nhecida e embutida de definições variadas Isso faz com que as adolescentes se tornem um público suscetível por possuírem baixo conhecimento sobre as características que compõem o vírus e pelas nuances culturais que sustentam sua vulnerabilidade Diante disso é necessário um cuidado direcionado para o desenvolvimento de educação em saúde por meio de um processo educativo de forma contínua e adequada às necessidades das adolescentes grávidas conscientizandoas das verdades e inverdades no que diz respeito à saúde e à doença em especial a infecção pelo HPV 643 REFERÊNCIAS 1 Costa LA Goldenberg P Human papillomavirus HPV among youth a warning sign Saúde Soc 201322124961 2 Brasil Ministério da Saúde Manual técnico pré natal e puerpério Série direitos sexuais e direitos reprodutivos Caderno n 5 Secretaria de Atenção à Saúde Brasília 2006 3 Yinfeng J Huan G FeifeiL L Guangqi Z Haixin D Ling B et al Characterization of the highrisk human papillomavirus infection in Jining China Braz J Infect Dis 201317227576 4 Brandão VCRAB Lacerda HR Ximenes RAA Frequência de Papilomavírus Humano HPV e Chlamydia trachomatis em gestantes Epidemiol Serv Saúde 20101914350 5 Ministério da Saúde Br Instituto Nacional de Câncer INCA Câncer de colo do útero Rio de Janeiro INCA 2008 6 Cirino FMSB Nichiata LYI Borges ALV Knowledge attitude and practice in the prevention of cervical cancer and HPV in adolescents Esc Anna Nery Enferm 201014112634 7 Doerfler D Bernhaus A Kottmel A Sam C Koelle D Joura EA Human papillomavirus infection prior to coitarche Americ J Obstet Gynecology 20092005487 8 Perrotte N Gomez A Mason G Stroup D An as sessment of knowledge attitudes and behaviour regarding the human papillomavirus West Indian Med J 20126115863 9 Eleutério RMN Oliveira MAP Jacyntho CM Eleutério Jr J Freitas JR Identificação de DNA HPV em Adolescentes e Mulheres Jovens sem Coito Vaginal J brasil Doenças Sex Transmissíveis 2011232668 10 Brasil Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Área Técnica de Saúde da Mulher Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos uma prioridade do governoMinistério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Brasília Ministério da Saúde 2005 11 Organização Mundial de Saúde La Salud de los Jóvenes Un Reto y una Esperanza Geneva OMS 1995 12 Fernandes JV Meissner RV Carvalho MGF Fernan des TAAM Azevedo PRM Villa LL Prevalence of HPV infection by cervical cytologic status in Brazil Internat J Gynaecol Obstetrics 20091051214 13 Polit DF Beck CT Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem avaliação de evidências para a prática de enfermagem 7 ed São Paulo Art med2011 14 Urrutia MT Concha X Riquelme G Padilla O Knowledge and preventive behaviors related to cervical cancer and human papiloma virus in a group of Chilean adolescents Rev chil Infectol 201229660006 15 Ferreira MLSM Influence reasons that inhibit women from doing papanicolaou test Esc Anna Nery Enferm 200913237884 16 Oliveira WMA Barbosa MA Mendonça BOM Silva AA Santos LCF Nascimento LCD Adherence of women aged 18 to 50 years to a cervical smear test in the Family Health Strategy Rev Enf Refe rência 2012371522 17 Panobianco MS Lima ADF Oliveira ISB Gozzo TO Knowledge concerning hpv among adolescent Undergraduate nursing students Texto e contex to enferm 201322120107 18 Badano I Pedrozo RW Ruíz Díaz LS Galuppo JA Picconi MA Campos RH et al Human pa pillomavirus HPV detection and Papanicolaou cytology in lowresource women in Posadas city Misiones Argentina Rev argent microbiol 201143426367 19 Calabres MSO Rivas HG Leonett EH Rojas KJ Castellano RC Pilimur KS Knowledge of nursing students about human papillomavirus Rev obs tet ginecol Venezuela 200969317985 20 Reis AAS Monteiro CD Paula LB Santos RS Saddi VA Cruz AD Human papillomavirus and public health cervical cancer prevention Ciênc saúde coletiva 201015supl1105560 21 Parra WP Human papilloma virus in adolescents characteristics and management Rev Soc Chil Obstet Ginecol Infant Adolesc 2009161116 644 22 Brandão VCRAB Lacerda HR Ximenes RAA Frequency of Human Papillomavirus HPV and Chlamydia trachomatis in Pregnant Women Epidemiol Serv saúde 20101914350 Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors ICMJE 2013 a participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta análise ou interpretação dos dados b elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual c aprovação da versão submetida Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas Eximindo portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a materia em apreço Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses seja de ordem financeira ou de relacionamento que influencie a redação eou interpretação dos achados Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE cujo modelo está disponível em httpwww objnursinguffbrnormasDUDEfinal13062013pdf Recebido 3052014 Revisado 4122014 Aprovado 4122014