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Linguística
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ENI PUCCINELLI ORLANDI EDITORA UNICAMP FICHA CATALOGÁFICA ELABORADA PELO SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP DIRETÓRIO DE TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO Sumário Introdução Movimento mas também relação incerta entre mudança permanentemente cruzam indistintamente no silêncio Nem um sujeito tão visível nem um tão certo o que nos fecha a mão de significar do silêncio É chegado a nos fazer compreender de modo interessante que por exemplo a censura visita aqui por nós não como um dado que tem sede da consciência que um indivíduo tem de um sentido proibido mas como um fato produzido pela história Pensada através da noção de silêncio como veremos a própria noção de censura se alarga para compreender quaisquer processos de silenciamento que limitem o sujeito no percurso de sentidos Mas mostra ao mesmo tempo o fator corrosivo do silêncio que faz significar em outros lugares o que não vinga em um lugar determinado O sentido não para ele muda de caminho Silêncio que atravessa as palavras que existe entre elas ou que indica que o sentido pode sempre ser outro ou ainda que algo e mais importante nunca se diz todos esses modos de existir dos sentidos e do silêncio nos levam a colocar o silêncio e fundante Dese modo nesta nossa reflexão procuramos indicar as várias pistas pelas quais alcançamos esse princípio da significação o silêncio como fundador Paralelamente aprofundamos a análise dos modos de apgar sentidos de silenciar e de produzir o nãosentido onde isso mostra algo que é ameaça Assim quando dizemos que há silêncio nas palavras estamos dizendo que elas são atravessadas de silêncio elas produzem silêncio o silêncio fala por elas elas silenciam As palavras são cheias de sentidos a não dizer e além disso colocamos no silêncio muitas delas Mas há também um outro aspecto da reflexão sobre o silêncio que consideramos bastante relevante Tratase do fato de que pela exploração mesma da capacidade de compreender o silêncio com nossos procedimentos reflexivos fizemos um percurso pela análise de discurso nos mostra por sua vez a função e o alcance de alguns de seus conceitos assim como nos permite avaliar melhor seu espaço teórico e a história de seu desenvolvimento Isso se deve talvez ao fato de que procurando entender a materialidade simbólica específica do silêncio pudemos alargar a compreensão da nossa relação com as palavras Esse laço assim compre seja o imaginário do sujeito de sentido para a análise de discurso há mesmo que para isso seja preciso distinguir diferentes tipos de real segundo Pêcheux 1983 E nessa reiteração de imaginar o real que podemos apreender a especificidade da materialidade do silêncio sua padecalidade seu trabalho no processo de significação É a partir desse ponto de vista que gostaríamos de indicar algumas questões fundamentais para quem trabalha com o discursivo Não devemos por outro lado esquecer que embora as noções de imaginário real e simbólico estejam definidas como no campo da psicanálise o modo como a análise de discurso vai articular essas três noções é próprio de seu campo específico Essa especificidade está em que a articulação dessas três noções se dá na análise de discurso em relação à ideologia e à determinação histórica e não ao inconsciente como é o caso da psicanálise Isso produz um certo deslocamento no modo de pensar essas noções em suas posições relativas particularmente em relação ao que a análise de discurso trata no domínio do imaginário e dos efeitos da evidência produzidos pelos mecanismos ideológicos Tomando Pêcheux como referência básica para entender a análise de discurso da escola francesa podemos dizer que o que singulariza o pensamento desse autor estabelece consequentemente a sustentação fundamental da análise de discurso é o lugar particular que ele dá à língua de um lado em relação à ideologia que ele trata no domínio conceitual reflação a consideração da regularidade e do equivoco Não como observador acidental enfatizese que sob essa óptica de teoria tudo pudesse controlar mas em condição sófica corretamente estabelecida pelos sentidos no observador e no observador Palavras com palavras palavras com conexões palavras com coisas exterioridade lavras com poíse essas formas em pares que deixaram de se colocar em sua movimentação próprio modo de esse autor pensar o teoria do discurso Não obstante e algo fez como algo fixo nessa constante movimentação e sem dúvida o reconhecimento de que se tem necessidade da unidade para pensar a diferencia ou melhor há necessidade desse um na construção da relação com o múltiplo Não a unidade dada mais do fato da unidade ou seja a unidade construção imaginariamentente Aí está a grande contribuição da análise de discurso observar os modos de construção do imaginário necessário na produção dos sentidos Por não negar a eficácia material do imaginário ela torna visíveis os processos da construção desse um que ainda que imaginária é necessário e nos indica os modos de existência e de relação com o múltiplo pois como diz Pêcheux 1975 pp 8384 a forma unitárida é o meio essencial da divisão e da contradição Ou dito de outra maneira a diferencia precisa da construção imaginária da unidade Os que negam a eficácia do imaginário em real e reduzam seja ao irreal seja a um efeito psicológico individual de natureza poética Não vêem assim sua necessidade e sua eficácia Falar em efeitos de sentido é pois acentuar que está sempre em jogo na relação dos diferentes formações discursivas na relação entre diferentes sentidos Dá a presença do equivoco do semsentido do sentido outro e consequentemente do investimento em um sentido Ai se situa o trabalho do silêncio Essa relação entre os processos discursivos e a língua está na base da compreensão do imaginário como necessário Os processos discursivos se desenvolverem sobre a base dessa estrutura língua e não enquanto expressão de um puro pensamento de uma pura atividade cognitiva que utilizaria acidentalmente os sistemas linguísticos Essa relação entre língua e silêncio este por sua vez é o nãodizer visto no interior da linguagem Não é nada não é vazio sem história E o silêncio significativo Vale aliás a pena redizer nesta introdução o fato de que a relação silenciosa é complexa sem deixar de sublinhar ainda uma vez que no entanto em nossa reflexão o silêncio não é mero complemento de linguagem Ele tem significância própria E quando dizemos fundar estamos afirmando esse seu caráter necessário e próprio Fundar não significa aqui originário nem o lugar do sentido absoluto Nem tampouco que haveria no silêncio um sentido independente autosuficiente Precedente Essa possibilidade de movimento de deslocamento de palavras em presença e ausência levanos a fazer um paralelo que mostra no mesmo tempo uma relação fundamental entre a linguagem e o tempo Em latim o tempo marcado tempus tem uma relação com evo aevum que é o tempo contínuo O tempo e que marca o evo A definição do tempo providencial em São Tomás é numerosos momentos secundários ou seja o momento do movimento segundo o que vem antes e depois medievo evo médio Assim é que vemos a relação entre palavra e silêncio a palavra imprimese no conteúdo significativo do silêncio e o marca o segmento o distingue em sentidos discretos constituindo um tempo tempus no movimento contínuo aevum dos sentidos no silêncio Podemos enfim dizer que há um ritmo no significar que supõe o movimento entre silêncio e linguagem Estudando o discurso religioso tive de passar necessariamente pela questão do silêncio E para não estacionar no tão conhecido silêncio místico fiz um esforço de reflexão para pensar as outras formas de silêncio eu diria mesmo os outros silêncios No início é o silêncio A linguagem vem depois A linguagem por seu lado já é categorizada do silêncio É movimento periférico ruído O desejo de unicidade que atravessa o homem é função da sua relação com o simbólico sob o modo verbal A linguagem e conjunto significante da existência e é produzida pelo homem para domesticar a significação Essa diferença de natureza pode ser mais bem pensada se considerarmos a articulação entre gestosilêncio enquanto expressividade Também a espacialidade a relação com o corpo está orientada pela fala Quando alguém se pega em silêncio rearranjase muda a expressão os gestos Procura ter uma expressão que fala A legibilidade legibilidade pode se configurar como segregarizar unificar o sentido os seus sujeitos No mito a significação prescinde de explicação cabal de seus modos de significar Já na tragédia essa explicitação começa a alargar seu legado podemos pensar por exemplo no mito de Electra Podemos pensar por exemplo no mito de Electra Para os nossos tempos isso também começa a se desdobrar para a prosa Os Limites do Método e da Observação 40 AS FORMAS DO SILÊNCIO 42 AS FORMAS DO SILÊNCIO Pensar o silêncio e um esforço contra a hegemonia do formalismo A reflexão sobre a linguagem conduzida pelas diferentes formas da lingüística seja sob o modo do estruturalismo exclui o silêncio pelo menos tal como o estamos definindo Primordialmente pelo lugar anárquico que dá a significação e em seguida pelo compromisso com o objetivo abstrato pela sua reflexão não leva em conta a irracionalidade e o equívoco a desorganização tanto do sentido quanto do sujeito No estruturalismo a idéia de meta e de O como oposição não deixam lugar para o silêncio e preenchem tudo com o linguístico definido em sua totalidade O silêncio adquire o valor que lhe dita seu oposto não existe como tal O formalismo chomskiano nos seu intento aliás louvável de preencher o vazio teórico dos modelos behavioristas impede no entanto que se elabore uma teoria do fato da linguagem e tapa o buraco com uma teoria rarificada e de fluxo curto dominada por fórmulas Que fala da gramática mas não fala da língua O silêncio com seu caráter nãovisível legível obscuro contínuo nãocalculável está excluído Propomos pois a problematização de toda tentativa de sedimentarizar a noção de silêncio seja na forma da eclipse ao nível da frase das figuras Não podemos observar o silêncio por seus efeitos retóricos políticos e pelos muitos modos de construção da significação Quando se trata do silêncio nós não temos maras formas mas pistas tracos É por fissuras rupturas falhas que ele se mostra fugazmente é só de tempos em tempos que se volta para o homem Heidegger falando do Ser e do Ente 1969 Mesmo se o silêncio está sempre lá ele é efêmero em face do homem no que diz respeito à sua observação Assim sem teoria não se atinge o seu modo de existência e de funcionamento na significação Pensar o silêncio é problematizar as noções de linearidade literalidade completude Discursivamente o sentido se faz em todas as direções Conceitos discursivos como interdiscurso memória do dizer intertexto relação entre textos relação de sentidos o atestam A significação não se desenvolve sobre uma linha reta mensurável calculável segmentável Os sentidos são dispersos eles se desenvolvem em todas as direções e se fazem por diferentes matérias entre as quais se encontra o silêncio A materialidade do sentido não é indiferente aos processos de significação e a seus efeitos o silêncio significa de modo contínuo absoluto enquanto a linguagem verbal significa por unidades discretas formais Eis uma diferença que é preciso não apagar Por outro lado noções como as de índice e de eclipse são interessantes para observar a extensão do domínio conceptual da linearidade e da literalidade A inicia aparência na história da reflexão gramatical como acréscimo contingente e a elipse como falta necessária Quando tomamos o silêncio como fundante essa dissimetria paradoxal do ponto de vista da identificação explica o silêncio do assimétrico em relação ao dizer e o domínio do silêncio A inicia é evitada os gramáticos instruíram a importância do silêncio e o rejeitaram o dizer precisa da falta Quanto à completude já tivemos ocasião de observar em diversas ocasiões que a incompletude é fundamental no dizer É a incompletude que produz a possibilidade do múltiplo base da polissemia E é o silêncio que precede essa possibilidade A linguagem empurra o que é não é para o nada Mas o silêncio significa esse nada sem multiplicando em sentidos quanto mais falta mais silêncio se instala mais possibilidades de sentidos se apresentam Pensar o silêncio é colocar questões a proposito dos limites da dialética Pensar o silêncio nos limites da dialética pela relação com o Outro como uma relação contraditória Quando se pensa o sujeito em relação com o silêncio a opacidade do Outro se manifesta Assim pensar o silêncio é pensar a solidão do sujeito em face dos sentidos ou melhor é pensar a história solidária do sujeito em face dos sentidos É por isso que se pode fazer intervir as fissuras que se mostram diferentes do silêncio O Outro está presente mais no discurso do modo ambíguo presente e ausente E os modos de existência presença das personagens do discurso são significativos Pensar o silêncio como um limite ao diálogoismo é fazer a crítica a uma sua concepção behaviorista dominada pela função de informação e de tornos de fala assim como à esquematização da relação de significação entre os diferentes sujeitos e suas posições A intervenção do silêncio faz aparecer a falta de sintência entre os interlocutores A relação de interlocução não é bem comportada nem obedecendo a uma lógica previsível Ela é atravessada entre outros pela desorganização do silêncio O conceito de diálogo só é preciso por serem as unidades sendo segmentadas A dialogia tem sua realidade conceptual sustentada pela noção de língua graedadeira regra com seus erros próprios linearidade e de segmental A matéria significante do silêncio é de outra maneira a que opera pela discrição pela graedadeira deslocando assim a noção de partilha de completude e também a de dialogia A nãocompletude que é própria a todo processo discursivo vista na perspectiva da questão do silêncio fica então assim a o silêncio na constituição do sujeito rompe com a absolutização narcisista do eu esta seria a fixação do sujeito já que o apagamento é necessário para sua constituição o silêncio é parte constitutiva do processo de identidade pois o que há de espaço diferencial condição de movimento b o silêncio na constituição do sentido é que impede o nondito muito cheio produzindo o espaço em que se move a materialidade significante o nãodito necessário para o dito Pensar o silêncio em sua especificidade significativa é problematizar palavras como representação interpretação Lyotard 1983 p 30 propõe a distinção de quatro silêncios Segundo ele a frase que substitui o silêncio seria uma negativa O que é negado por ela seria uma das quatro intensidades que constroem um universo de frases o destinatário o referente o sentido o omissor Silêncio linguagem análise Do que acabamos de expor resulta que se a linguagem é categorização do silêncio isto é ela produz a representatividade dos sentidos as palavras representam já uma disciplina da significação slegam do silêncio à interdisciplinaridade trabalhando com os entremeios os reflexos indiretos os éticos A partir desses deslocamentos podemos pensar os seguintes modos de aproximação do silêncio a Trabalhar com a noção de completedade incompletude elaborado por exemplo a relação explícitaíncisa em face do enunciado canônico paradigmatico Além a própria definição de linguagem em Aristóteles remete à questão da completude e silêncio pois segundo ele dizer falou algo de algo De onde podemos esboçar três possibilidades pelo menos Dizer algo de tudo Educação Dizer tudo de algo Especialização Dizer tudo de tudo Formalismo O mito da exaustividade leva à abstração como condição do saber assim como é ilustro da opinião tência do método o silêncio uma vez que não é tangível empiricamente mostrará de forma paradoxal os limites dos métodos formais b Analisar as figuras produzindo um deslocamento no modo como se trabalha a Retórica Seria necessário trabalhar as figuras como sintomas da marginalização do silêncio dos processos de significação Os diferentes modos de considerar as formas do silêncio que citamos no início se mantêm Entre o silêncio que se pode apreender na Amazônia e o que nos ensina Mallarmé há claro uma grande distância a percorrer É isso que procuro compreender Às vezes em silêncio Para compreender esse silêncio é preciso referirse toda uma trama discursiva que foi construída pela ciência pela política social e pela religião a catequese ao longo de uma história de 500 anos Por seu lado esse silêncio pode ser compreendido como restrição do índio à toda tentativa de integração ele não falou do lugar em que se espera que ele fale Quer se trate de dominação ou de resistência é pela historicidade que se pode encontrar todo um processo discursivo marcado pela produção de sentidos que apagam o índio processo que o colocou no silêncio Nem por isso ele deixa de significar em nossa história O silêncio não é pois imediatamente visível e interpretável A historicidade inscrita no tecido textual que pode devolverlo tornálo apreensível compreensível Desse modo o trabalho como silêncio implica a consideração dessas suas características SILÊNCIO SUJEITO HISTÓRIA SIGNIFICANDO NAS MARGENS Não se trata aqui de falar do silêncio da imagem do silêncio da paisagem ou do mar Nós nos propomos a falar do silêncio que significa em si mesmo Com ou sem palavras esse silêncio rege os processos de significação Em suma com nossa reflexão estamos procurando dar ao silêncio um estatuto explicativo Essa concepção de silêncio modifica e torna mais complexa sua relação com a linguagem verbal como veremos No entanto uma observação importante é simples não traremos aqui o silêncio em sua concepção mística Essa concepção é frequentemente a dominante porque o silêncio é um tema que história está muito ligado ao sagrado às religiões Ele é considerado como um apoio à adoração ou como método que prepara alma para experiências pessoais Enciclopédia de Religião Ética de Hastings Assim ele foi praticado por pequenos e grandes grupos em quase todos os períodos da história religiosa no mundo todo Na Grécia o silêncio tinha um lugar importante nas sociedades pitagóricas e nos círculos orféticos Pitágoras exigia um mesmo três anos de silêncio como forma de iniciação na ordem religiosa Sócrates refere várias vezes a importância do silêncio como forma de conhecimento e comparandoo à fala afirma que o silêncio é bem mais decisivo que aquela Por outro lado é ressaltado que no Antigo Testamento haja várias referências ao silêncio enquanto no Novo há apenas raras menções Santo Agostinho em suas Confissões fala do silêncio quando refere sua estada em Óstia com sua mãe Os místicos os cristãos os neoplatônicos os persas os hindus os árabes os juízes na Idade Média fizeram largo uso do silêncio como meio de encontrar Deus Silêncio retiro transcendência não é disso que estamos falando mas da necessidade de se considerar o silêncio que torna possível toda significação todo dizer O silêncio não é desinteressante na presença O silêncio nas suas manifestações é um elemento místico Wittgenstein 1961 Poderíamos por outro lado relacionar silêncio e filosofia pois querer remeter a filosofia ao silêncio como o fazem as reflexões da existência deixa lugar para o silêncio fascinando diante do brilho sem falhas dos mundos tradicionais A J Juranville 1984 No entanto nosso interesse inclui sobre os processos de produção dos sentidos estabelecidos pelo silêncio e a história como ruptura chama para além do silêncio da filosofia idem É pois desse silêncio presente na constituição do sentido e do sujeito da linguagem de que nos ocupamos aqui Duas ordens de questões se impõem desde o início 1 Uma se refere diretamente ao sentido a Como se pode explicar a literalidade como unidade e permanência de um sentido b Como se pode explicar o fato de que para dizer x é preciso não dizer c Como se pode explicar o sentido da censura 2 Consequentemente procuramos mostrar como questões desse gênero que envolvem a reflexão sobre o silêncio e se refletem na concepção de sujeito do discurso Para o implícito assim definido o recorte que se faz entre o dito e o nãodito é o que se faz entre significação atestada e significação manifesta Ducrot idem o nãodito remete ao dito Não é assim que conhecemos o silêncio Ele não promete um dito ele se mantém como tal ele permanece silêncio significa A partir de sua referência necessária a dizer tal como se dá com o implícito o silêncio foi frequentemente concebido de forma relativanegativa significando por sua dependência das palavras apenas como contrapartido ao dito tendo uma função análoga ao dizer Além de produzir uma mudança de terreno definimos o silêncio em si atribuindolhe deste modo um valor positivo Podemos a partir de então aprender determinações significativas do nãodito que não foram ainda exploradas e que fazem parte do que consideramos como silêncio Essa mudança de terreno deriva do fato de termos considerado que o silêncio tem seus modos próprios de significar Em suma nós distinguimos silêncio e implícito sendo que o silêncio não tem uma relação de dependência com o dizer para significar o sentido do silêncio não deriva do sentido das palavras Essas observações se fazem necessárias porque é preciso considerar a relação fundamental das palavras com o silêncio sem no entanto reduzir este a um complemento da palavra Assim procuramos nos distanciar de algumas formas particulares de categorização do silêncio já fixadas O silêncio fundador O silêncio de que falamos aqui não é ausência de sons ou de palavras Tratase do silêncio fundadores um fundamento princípio de toda significação A hipótese de que partimos é que o silêncio é a própria condição da produção de sentido Assim ele aparece como o espaço diferencial da significação lugar que permite a linguagem significar O silêncio não é o vazio ou o semsentido ao contrário ele é o indício de uma instância significante Isso nos leva à compreensão do vazio da linguagem como um horizonte e não como falta Evidentemente não é do silêncio em sua qualidade física de que falamos aqui mas do silêncio como sentido como história silêncio humano como matéria significativa O silêncio de que falamos é o que instala o limiar do sentido O silêncio físico não nos interessa assim como para o linguista o ruído enquanto matéria física não se coloca como objeto de reflexão Segundo J de Bourbon Busset 1984 o silêncio não é ausência de palavras ele é o que há entre as palavras entre as notas da música entre as linhas entre os astros entre os seres Ele é o tecido intersticial que põe em relevo os signos que estes dão valor à própria natureza do silêncio que não dever ser concebido como um meio O silêncio diz o autor é o intervalo pleno de possíveis que separa duas palavras proferidas O silêncio é imunência O silêncio do sentido torna presente não só a iminência do nãodito que se pode dizer mas a invisibilidade da presença do sujeito e do enunciado Há injunções dos sentidos da linguagem em estar nos silêncios sejam estes feitos de palavras ou do silêncio Não se pode não significar Para o sujeito de linguagem o sentido já está sempre lá Considerando essa relação com a significação o sujeito tem assim uma necessária relação com o silêncio Com efeito a linguagem é passagem incessante das palavras ao silêncio e do silêncio às palavras Movimento permanente que caracteriza a significação é o que produz o sentido em sua pluralidade Determinado ao mesmo tempo pelo contexto e pelos contextos no plural esses deslocamentos inscritos na constituição dos sentidos tem uma relação particular com a subjetividade o sujeito desborda o silêncio em sua fala No discurso há sempre um projeto um futuro silêncios do sujeito pleno de sentidos O discurso se apresenta desse modo como o projeto o estado significante pelo qual o sujeito se lança em seu sentido em um movimento contínuo Para cumprir esse projeto o sujeito toma apoio no silêncio Também nessa perspectiva o sentido não tem origem P Henry 1988 não há sentido estados contínuos de significação O antes o estado anterior não é o nada mas ainda é silêncio enquanto horizonte de sentidos Além do silêncio fundadores tal como o consideramos anteriormente há a política do silêncio que por sua vez tem duas formas de existência ligadas a o silêncio constitutivo e b o silêncio local A relação ditonãodito pode ser contextualizada sóciohistoricamente em particular na relação ao que chamamos de poderdizer Pensando essa contextualização em relação ao silêncio fundador podemos compreender a historicidade discursiva da construção do poder disser atrelado pelo discurso Com efeito a política do silêncio se define pelo fato de que ao dizer já apagamos necessariamente outros sentidos possíveis mas indesejáveis em uma situação discursiva dada A diferença entre o silêncio fundador e a política do silêncio é que a política do silêncio produz um recorte entre o que se diz e o que não se diz enquanto o silêncio fundador não estabelece nenhuma divisão ele significa em por si mesmo Determinado pelo caráter fundar do silêncio o silêncio constitutivo pertence à própria ordem de produção do sentido e preside qualquer produção de linguagem Representa a política do silêncio como um efeito de discurso que instala o antímplícito se diz x para não deixar dizer y este sendo o sentido a se descartar do dito E o nãodito necessariamente excluído Por isso ao se apagarem os sentidos que se quer evitar sentidos que poderiam Silêncio e vozes sociais a Dominação e resistência Poderseia falar do modo como a censura funcionou do lado da opressão Mas isso não tem nenhum mistério proíbemse certas palavras para se proibirem certos sentidos No entanto há um aspecto interessante a observar em relação a esse mecanismo da censura Como no discurso o sujeito e o sentido se constituem ao mesmo tempo ao se proceder desse modo se proíbe ao sujeito ocupar certos lugares ou melhor proibise certas posições do sujeito A censura não é um fato circunscrito à consciência daquele que fala mas um fato discursivo que se produz nos limites das diferentes formas discursivas que estão em relação Assim concebida a censura pode ser compreendida como a interdição da inscrição do sujeito em informações discursivas determinadas Consequentemente a identidade do sujeito é imediatamente afetada enquanto sujeitododiscurso pois sabese Pêcheux 1975 a identidade resulta de processos de identificação segundo os quais o sujeito devese inscrever em uma e não em outra formação discursiva para que suas palavras tenham sentido Ao mudar de formação discursiva as palavras mudam de sentido Em uma conjuntura dada as formações discursivas determinam o que pode e deve ser dito Henry 1972 A censura estabelece um jogo de relações de força pelo qual ela configura de forma localizada o que dizível não deve não pode ser dito quando o sujeito fala A relação com o dizível pois modifica quando a censura intervém mais uma vez não se trata do dizível sóciohistóricoempírico definido pelas formações discursivas o dizer possível não se pode dizer o que é proibido o dizer devido Ou seja não se pode dizer o que se pode dizer Consideremos nessa perspectiva discursiva a textualidade Todo texto é tomado como parte do processo de interlocução Assim o domínio de cada um dos interlocutores é próprio e se não tem unidade senão no pelo texto O texto é unidade Consequentemente a significação se faz no espaço discursivo intervalo criado pelos nos interlocutores em um contexto sóciohistórico dado A esse domínio dividido da constituição da unidade textual e da unidade dos sentidos corresponde um domínio de incompletude do sujeito Assim como o texto não é esgotado em um espaço fechado o sujeito e o sentido também são caracterizados pela sua incompletude Como os processos discursivos se realizam necessariamente pelo sujeito mas não têm sua origem no sujeito ilusão do sujeito de estar na fonte do sen tido esquecimento nº 1 de Pêcheux 1975 ao falar o sujeito se divide as suas palavras são também as palavras dos outros Dessa contradição inerente à noção de sujeito e de sentido resulta uma relação particularmente dinâmica entre identidade e alteridade um movimento ambíguo que distingue separa e ao mesmo tempo integra liga demarcando o sujeito em sua relação com o outro No entanto como há um apagamento necessário para a constituição do sujeito isso constitui sua incompletude há também um desejo ou antes uma injunção à completude vocação totalizadora do sujeito que em sua relação com o apagamento desempenha um papel fundamental no processo de constituição do sujeito e do sentido A incompletude do sujeito pode ser compreendida como trabalho do silêncio O sujeito tende a ser completo e em sua demanda de completude é o silêncio significativo que trabalha sua relação com as diferentes formações discursivas fazendo funcionar a sua contradição constitutiva Sua relação com o silêncio é sua relação com a divisão e o múltiplo Discursivamente não há nem um sujeitoabsoluto nem sujeitocomplemento inteiramente determinado pelo fora Esse espaço da subjetividade na linguagem é um lugar tenso onde jogam os mecanismos discursivos da relação com a alteridade A incompletude é uma propriedade do sujeito e do sentido e o desejo de completude é que per O autoritarismo poderia ser considerado nessa perspectiva como uma espécie de nascente social já que decide per se procurar um lugar pode dizer por farar um sentido para todo seu discurso Sem os benefícios da metáfora do mito A partir de uma certa época muitas pessoas criarão suas autobiografias o que muitas vezes produzirá uma dinâmica de publicações autobiográficas Os efeitos discursivos produzidos por esse mecanismo são muito interessantes eles deslocam os limites do dizer não pela sua discussão direta mas por uma ação de limite das diferentes formas de enunciação Esse silêncio é a marca da presença do silêncio fundador em sua fala e que faz com que os outros sentidos apareçam O dizer pode ser concebido de várias maneiras Aqui não referimos sobre todo o jogo de formações discursivas o que se pode e se deve dizer adiante trabalharemos mais particularmente a definição do dito como discurso social Passamos então à consideração das formações discursivas Como sabemos elas não têm fronteiras categóricas O fechamento de uma formação discursiva diz Courtine 1982 est fondamentalement instable elle ne consiste pas en une limite tracé une fois pour toutes séparant un intérieur et un extérieur et son savoir mais insérant entre diverses formations discursives comme une frontière qui se déplace en fonction de la lutte idéologique Na relação do sujeito com as formações discursivas o silêncio fundador atua no seu nãofechamento criando espaço para seus deslocamentos Dessa modo o silêncio fundador que produziu um estado significativo para que o sujeito se inscreva no processo de significação mesmo na censura fazendo significar por outros jogos de linguagem o y que lhe foi proibido enunciations distintas e dispersas que formam em seu conjunto o domínio da memória Esse domínio constituí a exterioridade discursiva para o sujeito do discurso Além disso é preciso lembrar sempre Courtine 1982 que o sujeito não tem no interdiscurso nenhum lugar para si já que o não domínio da memória ressoa uma vez sem nome isto é anônimo O interdiscurso o dito não é sentido por exemplo o colonizado para x ou para y é sentido de colonização Destes efeitos referente sua objetividade No entanto é preciso entender esta relação de enunciável com o sujeito em sua duplicidade O que dispôs o sujeito é o que mesmo tempo tornouse seu dizer possível recorrendo ao jádito que o sujeito ressiginifica E se significa O interdiscurso é do nível de constituição do discurso sua verticalidade segundo Courtine 1982 da ordem do repetível É a instância do enunciado o mesmo O intradiscurso por sua vez é a formulação da enunciação o diferente no aqui e agora do sujeito Se pelos interdiscursos temos que o sujeito intervém no repetível no entanto é o interdiscurso que regula os deslocamentos de fronteiras da formação discursiva incorporando os elementos préconstruídos efeito do jádito Também nesses casos podemos dizer que o silêncio que trabalha os limites do jádito no interdiscurso Sem deixar de considerar que a relação silênciointerdiscurso é bastante complexa Com efeito é preciso observar que a noção de interdiscursividade poderia absorver e o silêncio pois este pode ser visto como coincidente com o jádito Nesse caso criarse a ilusão do que o silêncio não há de se dizer ou já dito Ou seja o silêncio seria o exílio do sujeito e seu desterro pois estaria habilido pelo jádito o pleno o efeito do O narrativamente a produção do efeito da literalidade essa mecanismo de apagamento do silêncio do sujeito a possibilidade de ele moverse O que se faz ver a literalidade como negação do sujeito A ilusão de seu sentido só pode ser aquilatar justamente na sua história ao sujeito Com nossa reflexão estamos propondo distinguilo a ilusório silêncio do jádito do outro silêncio o fundador que permite os múltiplos sentidos que tornam possível uma certa distância do sujeito em relação ao discurso E isso em duas direções em relação ao outro dizer ou da outra formação discursiva e em relação ao discurso social o consenso O silêncio intervém como parte da relação do sujeito com o dizer permitindo os múltiplos sentidos para tornar possível ao sujeito a elaboração de sua relação com os outros sentidos Há sabese Foucault 1971 uma dispersão do sujeito pela qual ele pode tomar diferentes posições Por outro lado a identidade do sujeito resulta de processos de identificação Com efeito o silêncio trabalha as diferenças inscritas nos processos de identificação Assim se se põe o silêncio como constitutivo de todo processo significativo a determinação histórica desses processos não se apresenta apenas como injunção e cela Em face da história o silêncio significa de várias maneiras a em relação ao futuro o projeto do discurso a multiplicidade de sentidos b em relação ao passado o jádito que retorna na forma do interdiscurso e que se reformula Enfim se se pensa o silêncio como constitutivo do conjunto o todo a dominante das formações discursivas produzindo tanto a polissemia o adizer quanto o jádito Isto é o silêncio trabalha nos limites do dizer o seu horizonte possível e o seu horizonte realizado Na relação do sujeito com as formações discursivas o silêncio fundador atua no seu nãofechamento criando espaço para seus deslocamentos Em suma é o silêncio fundador que produz um estado significativo para que o sujeito se inscreva no processo de significação mesmo na censura fazendo significar por outros jogos de linguagem o y que lhe foi proibido Considerações teóricometodológicas Contenução e efeitoleitor Quando se trata do político e sobretudo do político tal como ele se representa atualmente a questão da credibilidade se impõe trazendo em consequência o problema da relação entre verdade e falsidade na linguagem No quadro da análise de discurso essa questão mais aguda no escopo do discurso político é no entanto passível de ser tratada no âmbito da linguagem em geral É isso pela sua inserção no domínio da relação pensamentolanguagemundo ou no que Pecheux 1988 denomina esquecimento nº 2 do nível enunciativo esquecimento que produziu no sujeito a impressão da realidade do pensamento ilusão referencial impressão de que aqui ali ele diz só pode ser aqui ali Assim como o sentimento de unidade do sujeito também o conhecimento de unidade do sentido isto é a literalidade deriva dessa relação com o silêncio e com a incompletude Retornamos pois à importância do silêncio fundador pois é dele que torna toda significação possível Enquanto partimos da noção de imaginário atuando na Instância do silêncio o conteúdo aparece pois como permanente permitindo que se jogue com esse efeito discursive os dois referentes É assim que o interdiscurso na ilusão do conteúdo é trabalhado pelo silêncio Quando o interdiscurso apaga o silêncio fundacional enquanto tal fazendo com que o nãodito se sobreponha condição ao jádito ele produz a impressão de que o sentido não pode ser na origem senão um Meu objeto de reflexão neste capítulo é a censura Entretanto minha finalidade não é classificar dadas que caracterizam a censura Minha proposta é de compreender a censura enquanto fato de linguagem que separa a esfera pública e a esfera privada produzindo efeitos de sentido pela clivagem que a imposição de uma divisão entre sentidos permitidos e sentidos proibidos produz no sujeito Tomando em consideração esses aspectos da censura analiso ao mesmo tempo tanto a censura quanto a recusa de submeter a ela procurando ainda definir o modo como as diferentes formas de silêncio trabalharam os processos de produção de sentidos Por uma certa inadequação teórica alguns lingüistas adotados dos teorias imunitárias têm utilizado a expressão materialidade lingüística referindose à língua retomando assim uma expressão que mudou ao andar das decisões Gostaríamos de lembrar que os termos têm sua história e fazem parte de quadros teóricos específicos A análise Uma política de silêncio Já é bem conhecido o fato de que o poder se exerce acompanhado de um certo silêncio De Certeau 1980 É o silêncio da opressão O silêncio não fala ele significa É pois inútil traduzir o silêncio em palavras é possível no entanto compreender o sentido do silêncio por métodos de observação discursiva A censura tal como a definimos é a interdição da inscrição do sujeito em formações discursivas determinadas isto é proíbese o sujeito de ocupar certos lugares certas posições Se considerase o sujeito diversos níveis pelo conjunto de formações discursivas em suas relações a censura intervém a cada vez que se impede o sujeito de circular em certas regiões determinadas pelas suas diferentes possibilidades Como a identidade é um movimento afetase assim esse movimento Desse modo identificase que o sujeito na relação com o dizível identifiquese com certas regalias e dizer quais os quais ele se representa como socialmente responsável como autor Entretanto gostaríamos de insistir que a censura não é um fato da consciência individual do sujeito mas um fato discursivo que se passa nos limites das diferentes formações discursivas que estão em relação Tratase de um processo de identificação e diz respeito às relações do sujeito com o dizível Nessa perspectiva não há autocensura A censura sempre coloca um outro jogo Ela sempre se dá na relação do dizer e do não poder dizer do dizer de um e do dizer de outro É sempre em relação a um discurso outro que na censura terá a função do limite que um sujeito será visto autorizado a dizer Por exemplo mesmo não estando sob a ditadura há interdições que estão postas Em nenhum dos casos tratase de oposição entre sentido verdadeiro e sentido falso mas do sentido imposto e o sentido recusado sejam quais forem E pela relação do fraqueza está em um livro a função que supomos do discurso marcando os sentidos pela posição dos que os produzem que se instala o conjunto e não pela sinceridade ou falsidades dos que produzem Para tratar dessas questões precisamos dos conceitos de povo e de discurso social mação discursiva como arquivo Foucault como interdiscurso Pecheux Courtine Henry etc e como discurso social como abordamos e vê A noção de discurso social nos interess Nossa tarefa aqui é pois compreender os mecanismos da linguagem do silêncio Assim vamos deslocar a relação do discurso à reprodução Dito de outro modo tentaremos mostrar que na reprodução já Corpus as diferentes manifestações de resistência No momento em que a violência da ditadura era mais aguda e a censura já tinha instalado no cotidiano de todo brasileiro formas muito variadas de comunicação e de resistência se estabeleceram que estavam ligadas às atividades dos militantes efetivamente engajados na luta política de libertação nacional Mesmo essas formas pertenciam a um outro domínio mais particular de trabalho verbal seus efeitos se faziam sentir no jogo da indeterminação Por exemplo as pessoas per que a censura sublinha a dimensão política do sentido 4 Entre as formas cotidianas uma forma de resistência e de mobilização popular era sem dúvida a MPB Em vez de nos manifestarmos politicamente de modo categórico aprendemos a nos reunir isto é a juntar uma multidão em torno de grandes encontros musicais Nas praças nos estádios de futebol Cantar era uma forma de manifestação política popular Nesse contexto político tudo tinha um sentido particular os compositores os intérpretes de direito e de fato os lugares escolhidos A censura é um sintoma de que ali pode haver um outro sentido Na censura está a resistência Na proibição está o outro sentido É isso porque como disse a censura atinge a constituição da identidade do sujeito A identidade por seu lado sempre em movimento encontra suas formas de manifestação não primária em que situação particular de opressão Para ilustrar isto lembramos ainda três fra se compõe a relação com o político através da elaboração de distintas formas de espetáculo musical como por exemplo o ópera 3 refere fatos históricos do passado reinterpretados metaforizados 4 canta hinos nacionais CobradeVidro 5 canta mulheres em seus sentidos políticos Bárbara Ana de Amsterdam etc 6 usa formas discursivas diferentes como por exemplo a carta se vem de fora significa exílio e se dá aqui para fora significa censura e repressão 7 canta em outras línguas em espanhol Cuba em italiano e francês exílio em português de Portugal Revolução de Abril Se olharmos mais de perto encontramos construções linguísticas que nos apontam para esses deslocamentos especificando outros sentidos 1 substituição É fora da leifora do arsegura esse boi é proibido voar em que boi está por pessoa subversiva por exemplo outra Canta maispreparando a tintaenfiantando o prato em Fantasia A praça fica cada dia mais vazia em Chorinho e a relação de todas as outras canções que referem a praça do povo e não dos bancos de jardim Sentidos que migraram Uma vez estancando um processo de sentidos numa posição em sua relação com as formas discursivas o sentido emigra e se desloca para qualquer outro objeto simbólico possível Nesse modo de funcionamento a relação entre um e o plural aparece em sua relevância gócio dos sentidos se passa por transformações Dizer a ditadura vai acabar e dizer em música vai passar traz necessariamente diferentes efeitos de sentido pois esses enunciados significam diferentemente Gostaríamos de compreender a natureza da diferença que se produz nessas situações de linguagem Em outras palavras interessanos compreender o que essa diferença instaura na relação do brasileiro com sua história De um lado sabemos isso acerta uma particularidade o brasileiro por ter a censura explicitada na sua história política relacionase com o discuro político através dessa memória Memória al no sentido amplo mesmo os que não viveram a censura política explícita incorporam seus efeitos Não se trata de aprendizagem mas de filiação histórica inconsciente Pêcheux 1991 A censura conta na relação do brasileiro com o politico Por outro lado e não sabemos a justa extensão disto onde estão os sentidos de que não falamos e que tiveram que circular disfarçados por outros caminhos por processos de significação tortuosos O que eles perderam o que ganharam Como se alojaram nos amplos processos de significar Essas questões nos levam finalmente a outra 2 Como a história responde à censura O silenciamento tem uma materialidade histórica presente nos mecanismos de funcionamento dos discursos e em seus processos de significação Daí podemos concluir que a reprodução já há nãoreprodução a censura já está ou resitência na interdição de sentidos já estão os sentidos outros naquilo que não dito está o tralecimento do sentido que vira ser Assim nas várias formas e modos que a história pode exser Assim não há censura completamente eficaz os sentidos escapa e pegam a genta e seu modo Nossa finalidade com estas reflexões era mostrar a de um lado que a separação entre verdadeiro falso não é a constatação de uma evidência mas já é uma tomada de posição um efeito de discurso um gesto de interpretação b de outro quando pensamos na prática discursiva noções tais como a de estereótipo assim como a observação da linguagem cotidiana adquirem um estatuto outro que lhes dá um caráter mais complexo indicando aspectos de sua sistematicidade No entanto isso só é possível se somos capazes de atribuir um outro estatuto teórico ao silêncio e finalmente o que podemos compreender de censura observandoa no domínio político pode no entanto se alargar para a compreensão dos procedimentos de interdição que atravessam de múltiplas formas e permanência o cotidiano do sujeito na sua relação com os diferentes percursos de sentido nas distintas situações significativas de sua vida a apreensão do fato que chamamos migração dos sentidos proibidos para diferentes objetos simbólicos deve sem dúvida merecer especial atenção A partir de cinco restrições ao discurso se cairá em um contexto complexo linguísticohistóricoideológico dele não se apresenta somente como lugar de reprodução mas de resistência e transformação Finalmente tudo isso pode se remeter ao que disse Pêcheux 1983 a propósito da relação estruturaconhecimento Pela sua própria existência todo discurso marca a possibilidade de sua desestruturadoreestruturada dessas redes e trajetos todo discurso é índice potencial e uma agitação nas filiações sóciohistóricas de identificação na medida em que constituí no mesmo tempo um efeito dessas filiações e um trabalho de deslocamento em seu espaço O que em conclusão pode significar que quando a análise de discurso se despede de terreno já domesticado do conhecimento lingüístico que territorializa a noção de ambiguidade podemos nos dirigir para um terreno bem mais rico para os estudos da linguagem em que os deslocamentos as diferenças as contradições nos abrem a via do equivoco dos desligamentos das reversões dos sentidos dos sujeitos em uma palavra a via da linguagem concebida como polissêmica no sentido amplo espaço de jogo de sentidos onde o silêncio significa constitutivo de dizer que delimita e regula sendo o discurso sempre atravessado pelo outros discursos Assim que se cumpre a relação necessária do lingüístico com o ideológico os sentidos não têm donos ela tenha sentido Essa impressão do significar deriva do que se tem chamado interdiscursivo Isto é o domínio do saber discurso de uma manchete pode e deve sustentar a direcionalização de formulações feitas esquisitas e que vão constituindo uma história dos sentidos Toda falta resulta assim de um efeito de significado no jádito que por sua vez funciona quando às vezes que se poderiam identificar em cada formulação particular se apagam e trazem o sentido para o regime do anonimato e da universalidade Ilusão de que o sentido nasce ali não entre histórias e nãodito estabelecendo um recorte que reflete a posição do sujeito sua inscrição em uma formação disursiva e faz por necessidade histórica Ao dizer algo apagase necessariamente a possibilidade de que se diga outra coisa nenhuma do lugar O meioplágio se inscreve nesse mecanismo de silenciamento no entanto de modo particular ele joga com o princípio da autoria traçandoa indevidamente para si O enunciador que respeita e apaga toma o lugar do autor plagiador estaria ai procedendo silenciosamente e assim como para si mesmo Porque o desvio de que os sentidos se mostram em seus percursos e assim escondemse de mesmo por onde passam andam seus sentidos ou no caso a quantas anda sua produção intelectual Por esse mecanismo ele empaça as deficiências Mais do que isso ao silenciar a origem da ideia que trabalha da censura porque produz um mecanismo que desconhece que os sujeitos e os sentidos significam de outras maneiras Estanca assim o fluir histórico do sentido Com efeito o meioplágio ao elidir a historicidade censurando reduzindo o movimento dos sentidos acentua a impressão da realidade do pensamento ilusão referencial que produz o sentimento de que há uma relação natural entre palavras e coisas e a do sujeito como origem de seu dizer ilusão de que os sentidos nascem nele No fato discursivo que estamos analisando corresponde a isso a anopção do sujeito O desejo de que seu sentido não tenha história seja autosuficiente é absoluto Reflete assim localmente outra característica do jogo ideológico da construção dos sentidos a relação das diferentes formações discursivas é apagada pela dominância de um sentido o seu que atravessa esse conjunto e produz o efeito da unicidade da completude Creio que o que dissemos até aqui é suficiente para marcar o mecanismo de produção desses silencios e sua natureza que é da ordem pública dos sentidos e da censura Custaríamos agora a passar para uma interpretação desse que não deixasse de vêlo como fato discursivo produtivo seja como rejeição seja como deslocamento O que acabamos de dizer situa teoricamente como um subproduto do funcionamento discursivo o velho de interdiscurso apresentandose como uma consequência prática do princípio dialógico isto é nesse caso no domínio da censura do silenciamento Ainda que ilidindo acerca da autoria podemos dizer que esses procedimentos silenciosos não têm serventia para nos indispor com as regiões do já dito pelo fato mesmo de não reconhecêlo percebese institucionalmente Poderia ser uma forma do novo desrespeitosamente descolar o velho Mas de modo como funciona ele parece estar em uma forma do o velho se figurar no novo Nesse caso as palavras ao sofrerem essa forma de apropriação ricocheteiam nessas novas produções e atingem o autor em sua ressonância obrigandose a defenderlas encarecimento da autoria ou a abandonálas pela impressão do jámuitodito sem refletir De todo modo não produzem o movimento de sua contemporaneidade Ao se fingirem de novas soam para os que já as haviam dito como muito velhas Não fazem progredir a reflexão porque não produzem deslocamento Não estabelecem um lugar distinto não circulam pelas formações discursivas não percorrem outras posições O autor originário não sofre um impulso ao contrário arrisca ficar parado no mesmo Essa é uma forma de
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ENI PUCCINELLI ORLANDI EDITORA UNICAMP FICHA CATALOGÁFICA ELABORADA PELO SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP DIRETÓRIO DE TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO Sumário Introdução Movimento mas também relação incerta entre mudança permanentemente cruzam indistintamente no silêncio Nem um sujeito tão visível nem um tão certo o que nos fecha a mão de significar do silêncio É chegado a nos fazer compreender de modo interessante que por exemplo a censura visita aqui por nós não como um dado que tem sede da consciência que um indivíduo tem de um sentido proibido mas como um fato produzido pela história Pensada através da noção de silêncio como veremos a própria noção de censura se alarga para compreender quaisquer processos de silenciamento que limitem o sujeito no percurso de sentidos Mas mostra ao mesmo tempo o fator corrosivo do silêncio que faz significar em outros lugares o que não vinga em um lugar determinado O sentido não para ele muda de caminho Silêncio que atravessa as palavras que existe entre elas ou que indica que o sentido pode sempre ser outro ou ainda que algo e mais importante nunca se diz todos esses modos de existir dos sentidos e do silêncio nos levam a colocar o silêncio e fundante Dese modo nesta nossa reflexão procuramos indicar as várias pistas pelas quais alcançamos esse princípio da significação o silêncio como fundador Paralelamente aprofundamos a análise dos modos de apgar sentidos de silenciar e de produzir o nãosentido onde isso mostra algo que é ameaça Assim quando dizemos que há silêncio nas palavras estamos dizendo que elas são atravessadas de silêncio elas produzem silêncio o silêncio fala por elas elas silenciam As palavras são cheias de sentidos a não dizer e além disso colocamos no silêncio muitas delas Mas há também um outro aspecto da reflexão sobre o silêncio que consideramos bastante relevante Tratase do fato de que pela exploração mesma da capacidade de compreender o silêncio com nossos procedimentos reflexivos fizemos um percurso pela análise de discurso nos mostra por sua vez a função e o alcance de alguns de seus conceitos assim como nos permite avaliar melhor seu espaço teórico e a história de seu desenvolvimento Isso se deve talvez ao fato de que procurando entender a materialidade simbólica específica do silêncio pudemos alargar a compreensão da nossa relação com as palavras Esse laço assim compre seja o imaginário do sujeito de sentido para a análise de discurso há mesmo que para isso seja preciso distinguir diferentes tipos de real segundo Pêcheux 1983 E nessa reiteração de imaginar o real que podemos apreender a especificidade da materialidade do silêncio sua padecalidade seu trabalho no processo de significação É a partir desse ponto de vista que gostaríamos de indicar algumas questões fundamentais para quem trabalha com o discursivo Não devemos por outro lado esquecer que embora as noções de imaginário real e simbólico estejam definidas como no campo da psicanálise o modo como a análise de discurso vai articular essas três noções é próprio de seu campo específico Essa especificidade está em que a articulação dessas três noções se dá na análise de discurso em relação à ideologia e à determinação histórica e não ao inconsciente como é o caso da psicanálise Isso produz um certo deslocamento no modo de pensar essas noções em suas posições relativas particularmente em relação ao que a análise de discurso trata no domínio do imaginário e dos efeitos da evidência produzidos pelos mecanismos ideológicos Tomando Pêcheux como referência básica para entender a análise de discurso da escola francesa podemos dizer que o que singulariza o pensamento desse autor estabelece consequentemente a sustentação fundamental da análise de discurso é o lugar particular que ele dá à língua de um lado em relação à ideologia que ele trata no domínio conceitual reflação a consideração da regularidade e do equivoco Não como observador acidental enfatizese que sob essa óptica de teoria tudo pudesse controlar mas em condição sófica corretamente estabelecida pelos sentidos no observador e no observador Palavras com palavras palavras com conexões palavras com coisas exterioridade lavras com poíse essas formas em pares que deixaram de se colocar em sua movimentação próprio modo de esse autor pensar o teoria do discurso Não obstante e algo fez como algo fixo nessa constante movimentação e sem dúvida o reconhecimento de que se tem necessidade da unidade para pensar a diferencia ou melhor há necessidade desse um na construção da relação com o múltiplo Não a unidade dada mais do fato da unidade ou seja a unidade construção imaginariamentente Aí está a grande contribuição da análise de discurso observar os modos de construção do imaginário necessário na produção dos sentidos Por não negar a eficácia material do imaginário ela torna visíveis os processos da construção desse um que ainda que imaginária é necessário e nos indica os modos de existência e de relação com o múltiplo pois como diz Pêcheux 1975 pp 8384 a forma unitárida é o meio essencial da divisão e da contradição Ou dito de outra maneira a diferencia precisa da construção imaginária da unidade Os que negam a eficácia do imaginário em real e reduzam seja ao irreal seja a um efeito psicológico individual de natureza poética Não vêem assim sua necessidade e sua eficácia Falar em efeitos de sentido é pois acentuar que está sempre em jogo na relação dos diferentes formações discursivas na relação entre diferentes sentidos Dá a presença do equivoco do semsentido do sentido outro e consequentemente do investimento em um sentido Ai se situa o trabalho do silêncio Essa relação entre os processos discursivos e a língua está na base da compreensão do imaginário como necessário Os processos discursivos se desenvolverem sobre a base dessa estrutura língua e não enquanto expressão de um puro pensamento de uma pura atividade cognitiva que utilizaria acidentalmente os sistemas linguísticos Essa relação entre língua e silêncio este por sua vez é o nãodizer visto no interior da linguagem Não é nada não é vazio sem história E o silêncio significativo Vale aliás a pena redizer nesta introdução o fato de que a relação silenciosa é complexa sem deixar de sublinhar ainda uma vez que no entanto em nossa reflexão o silêncio não é mero complemento de linguagem Ele tem significância própria E quando dizemos fundar estamos afirmando esse seu caráter necessário e próprio Fundar não significa aqui originário nem o lugar do sentido absoluto Nem tampouco que haveria no silêncio um sentido independente autosuficiente Precedente Essa possibilidade de movimento de deslocamento de palavras em presença e ausência levanos a fazer um paralelo que mostra no mesmo tempo uma relação fundamental entre a linguagem e o tempo Em latim o tempo marcado tempus tem uma relação com evo aevum que é o tempo contínuo O tempo e que marca o evo A definição do tempo providencial em São Tomás é numerosos momentos secundários ou seja o momento do movimento segundo o que vem antes e depois medievo evo médio Assim é que vemos a relação entre palavra e silêncio a palavra imprimese no conteúdo significativo do silêncio e o marca o segmento o distingue em sentidos discretos constituindo um tempo tempus no movimento contínuo aevum dos sentidos no silêncio Podemos enfim dizer que há um ritmo no significar que supõe o movimento entre silêncio e linguagem Estudando o discurso religioso tive de passar necessariamente pela questão do silêncio E para não estacionar no tão conhecido silêncio místico fiz um esforço de reflexão para pensar as outras formas de silêncio eu diria mesmo os outros silêncios No início é o silêncio A linguagem vem depois A linguagem por seu lado já é categorizada do silêncio É movimento periférico ruído O desejo de unicidade que atravessa o homem é função da sua relação com o simbólico sob o modo verbal A linguagem e conjunto significante da existência e é produzida pelo homem para domesticar a significação Essa diferença de natureza pode ser mais bem pensada se considerarmos a articulação entre gestosilêncio enquanto expressividade Também a espacialidade a relação com o corpo está orientada pela fala Quando alguém se pega em silêncio rearranjase muda a expressão os gestos Procura ter uma expressão que fala A legibilidade legibilidade pode se configurar como segregarizar unificar o sentido os seus sujeitos No mito a significação prescinde de explicação cabal de seus modos de significar Já na tragédia essa explicitação começa a alargar seu legado podemos pensar por exemplo no mito de Electra Podemos pensar por exemplo no mito de Electra Para os nossos tempos isso também começa a se desdobrar para a prosa Os Limites do Método e da Observação 40 AS FORMAS DO SILÊNCIO 42 AS FORMAS DO SILÊNCIO Pensar o silêncio e um esforço contra a hegemonia do formalismo A reflexão sobre a linguagem conduzida pelas diferentes formas da lingüística seja sob o modo do estruturalismo exclui o silêncio pelo menos tal como o estamos definindo Primordialmente pelo lugar anárquico que dá a significação e em seguida pelo compromisso com o objetivo abstrato pela sua reflexão não leva em conta a irracionalidade e o equívoco a desorganização tanto do sentido quanto do sujeito No estruturalismo a idéia de meta e de O como oposição não deixam lugar para o silêncio e preenchem tudo com o linguístico definido em sua totalidade O silêncio adquire o valor que lhe dita seu oposto não existe como tal O formalismo chomskiano nos seu intento aliás louvável de preencher o vazio teórico dos modelos behavioristas impede no entanto que se elabore uma teoria do fato da linguagem e tapa o buraco com uma teoria rarificada e de fluxo curto dominada por fórmulas Que fala da gramática mas não fala da língua O silêncio com seu caráter nãovisível legível obscuro contínuo nãocalculável está excluído Propomos pois a problematização de toda tentativa de sedimentarizar a noção de silêncio seja na forma da eclipse ao nível da frase das figuras Não podemos observar o silêncio por seus efeitos retóricos políticos e pelos muitos modos de construção da significação Quando se trata do silêncio nós não temos maras formas mas pistas tracos É por fissuras rupturas falhas que ele se mostra fugazmente é só de tempos em tempos que se volta para o homem Heidegger falando do Ser e do Ente 1969 Mesmo se o silêncio está sempre lá ele é efêmero em face do homem no que diz respeito à sua observação Assim sem teoria não se atinge o seu modo de existência e de funcionamento na significação Pensar o silêncio é problematizar as noções de linearidade literalidade completude Discursivamente o sentido se faz em todas as direções Conceitos discursivos como interdiscurso memória do dizer intertexto relação entre textos relação de sentidos o atestam A significação não se desenvolve sobre uma linha reta mensurável calculável segmentável Os sentidos são dispersos eles se desenvolvem em todas as direções e se fazem por diferentes matérias entre as quais se encontra o silêncio A materialidade do sentido não é indiferente aos processos de significação e a seus efeitos o silêncio significa de modo contínuo absoluto enquanto a linguagem verbal significa por unidades discretas formais Eis uma diferença que é preciso não apagar Por outro lado noções como as de índice e de eclipse são interessantes para observar a extensão do domínio conceptual da linearidade e da literalidade A inicia aparência na história da reflexão gramatical como acréscimo contingente e a elipse como falta necessária Quando tomamos o silêncio como fundante essa dissimetria paradoxal do ponto de vista da identificação explica o silêncio do assimétrico em relação ao dizer e o domínio do silêncio A inicia é evitada os gramáticos instruíram a importância do silêncio e o rejeitaram o dizer precisa da falta Quanto à completude já tivemos ocasião de observar em diversas ocasiões que a incompletude é fundamental no dizer É a incompletude que produz a possibilidade do múltiplo base da polissemia E é o silêncio que precede essa possibilidade A linguagem empurra o que é não é para o nada Mas o silêncio significa esse nada sem multiplicando em sentidos quanto mais falta mais silêncio se instala mais possibilidades de sentidos se apresentam Pensar o silêncio é colocar questões a proposito dos limites da dialética Pensar o silêncio nos limites da dialética pela relação com o Outro como uma relação contraditória Quando se pensa o sujeito em relação com o silêncio a opacidade do Outro se manifesta Assim pensar o silêncio é pensar a solidão do sujeito em face dos sentidos ou melhor é pensar a história solidária do sujeito em face dos sentidos É por isso que se pode fazer intervir as fissuras que se mostram diferentes do silêncio O Outro está presente mais no discurso do modo ambíguo presente e ausente E os modos de existência presença das personagens do discurso são significativos Pensar o silêncio como um limite ao diálogoismo é fazer a crítica a uma sua concepção behaviorista dominada pela função de informação e de tornos de fala assim como à esquematização da relação de significação entre os diferentes sujeitos e suas posições A intervenção do silêncio faz aparecer a falta de sintência entre os interlocutores A relação de interlocução não é bem comportada nem obedecendo a uma lógica previsível Ela é atravessada entre outros pela desorganização do silêncio O conceito de diálogo só é preciso por serem as unidades sendo segmentadas A dialogia tem sua realidade conceptual sustentada pela noção de língua graedadeira regra com seus erros próprios linearidade e de segmental A matéria significante do silêncio é de outra maneira a que opera pela discrição pela graedadeira deslocando assim a noção de partilha de completude e também a de dialogia A nãocompletude que é própria a todo processo discursivo vista na perspectiva da questão do silêncio fica então assim a o silêncio na constituição do sujeito rompe com a absolutização narcisista do eu esta seria a fixação do sujeito já que o apagamento é necessário para sua constituição o silêncio é parte constitutiva do processo de identidade pois o que há de espaço diferencial condição de movimento b o silêncio na constituição do sentido é que impede o nondito muito cheio produzindo o espaço em que se move a materialidade significante o nãodito necessário para o dito Pensar o silêncio em sua especificidade significativa é problematizar palavras como representação interpretação Lyotard 1983 p 30 propõe a distinção de quatro silêncios Segundo ele a frase que substitui o silêncio seria uma negativa O que é negado por ela seria uma das quatro intensidades que constroem um universo de frases o destinatário o referente o sentido o omissor Silêncio linguagem análise Do que acabamos de expor resulta que se a linguagem é categorização do silêncio isto é ela produz a representatividade dos sentidos as palavras representam já uma disciplina da significação slegam do silêncio à interdisciplinaridade trabalhando com os entremeios os reflexos indiretos os éticos A partir desses deslocamentos podemos pensar os seguintes modos de aproximação do silêncio a Trabalhar com a noção de completedade incompletude elaborado por exemplo a relação explícitaíncisa em face do enunciado canônico paradigmatico Além a própria definição de linguagem em Aristóteles remete à questão da completude e silêncio pois segundo ele dizer falou algo de algo De onde podemos esboçar três possibilidades pelo menos Dizer algo de tudo Educação Dizer tudo de algo Especialização Dizer tudo de tudo Formalismo O mito da exaustividade leva à abstração como condição do saber assim como é ilustro da opinião tência do método o silêncio uma vez que não é tangível empiricamente mostrará de forma paradoxal os limites dos métodos formais b Analisar as figuras produzindo um deslocamento no modo como se trabalha a Retórica Seria necessário trabalhar as figuras como sintomas da marginalização do silêncio dos processos de significação Os diferentes modos de considerar as formas do silêncio que citamos no início se mantêm Entre o silêncio que se pode apreender na Amazônia e o que nos ensina Mallarmé há claro uma grande distância a percorrer É isso que procuro compreender Às vezes em silêncio Para compreender esse silêncio é preciso referirse toda uma trama discursiva que foi construída pela ciência pela política social e pela religião a catequese ao longo de uma história de 500 anos Por seu lado esse silêncio pode ser compreendido como restrição do índio à toda tentativa de integração ele não falou do lugar em que se espera que ele fale Quer se trate de dominação ou de resistência é pela historicidade que se pode encontrar todo um processo discursivo marcado pela produção de sentidos que apagam o índio processo que o colocou no silêncio Nem por isso ele deixa de significar em nossa história O silêncio não é pois imediatamente visível e interpretável A historicidade inscrita no tecido textual que pode devolverlo tornálo apreensível compreensível Desse modo o trabalho como silêncio implica a consideração dessas suas características SILÊNCIO SUJEITO HISTÓRIA SIGNIFICANDO NAS MARGENS Não se trata aqui de falar do silêncio da imagem do silêncio da paisagem ou do mar Nós nos propomos a falar do silêncio que significa em si mesmo Com ou sem palavras esse silêncio rege os processos de significação Em suma com nossa reflexão estamos procurando dar ao silêncio um estatuto explicativo Essa concepção de silêncio modifica e torna mais complexa sua relação com a linguagem verbal como veremos No entanto uma observação importante é simples não traremos aqui o silêncio em sua concepção mística Essa concepção é frequentemente a dominante porque o silêncio é um tema que história está muito ligado ao sagrado às religiões Ele é considerado como um apoio à adoração ou como método que prepara alma para experiências pessoais Enciclopédia de Religião Ética de Hastings Assim ele foi praticado por pequenos e grandes grupos em quase todos os períodos da história religiosa no mundo todo Na Grécia o silêncio tinha um lugar importante nas sociedades pitagóricas e nos círculos orféticos Pitágoras exigia um mesmo três anos de silêncio como forma de iniciação na ordem religiosa Sócrates refere várias vezes a importância do silêncio como forma de conhecimento e comparandoo à fala afirma que o silêncio é bem mais decisivo que aquela Por outro lado é ressaltado que no Antigo Testamento haja várias referências ao silêncio enquanto no Novo há apenas raras menções Santo Agostinho em suas Confissões fala do silêncio quando refere sua estada em Óstia com sua mãe Os místicos os cristãos os neoplatônicos os persas os hindus os árabes os juízes na Idade Média fizeram largo uso do silêncio como meio de encontrar Deus Silêncio retiro transcendência não é disso que estamos falando mas da necessidade de se considerar o silêncio que torna possível toda significação todo dizer O silêncio não é desinteressante na presença O silêncio nas suas manifestações é um elemento místico Wittgenstein 1961 Poderíamos por outro lado relacionar silêncio e filosofia pois querer remeter a filosofia ao silêncio como o fazem as reflexões da existência deixa lugar para o silêncio fascinando diante do brilho sem falhas dos mundos tradicionais A J Juranville 1984 No entanto nosso interesse inclui sobre os processos de produção dos sentidos estabelecidos pelo silêncio e a história como ruptura chama para além do silêncio da filosofia idem É pois desse silêncio presente na constituição do sentido e do sujeito da linguagem de que nos ocupamos aqui Duas ordens de questões se impõem desde o início 1 Uma se refere diretamente ao sentido a Como se pode explicar a literalidade como unidade e permanência de um sentido b Como se pode explicar o fato de que para dizer x é preciso não dizer c Como se pode explicar o sentido da censura 2 Consequentemente procuramos mostrar como questões desse gênero que envolvem a reflexão sobre o silêncio e se refletem na concepção de sujeito do discurso Para o implícito assim definido o recorte que se faz entre o dito e o nãodito é o que se faz entre significação atestada e significação manifesta Ducrot idem o nãodito remete ao dito Não é assim que conhecemos o silêncio Ele não promete um dito ele se mantém como tal ele permanece silêncio significa A partir de sua referência necessária a dizer tal como se dá com o implícito o silêncio foi frequentemente concebido de forma relativanegativa significando por sua dependência das palavras apenas como contrapartido ao dito tendo uma função análoga ao dizer Além de produzir uma mudança de terreno definimos o silêncio em si atribuindolhe deste modo um valor positivo Podemos a partir de então aprender determinações significativas do nãodito que não foram ainda exploradas e que fazem parte do que consideramos como silêncio Essa mudança de terreno deriva do fato de termos considerado que o silêncio tem seus modos próprios de significar Em suma nós distinguimos silêncio e implícito sendo que o silêncio não tem uma relação de dependência com o dizer para significar o sentido do silêncio não deriva do sentido das palavras Essas observações se fazem necessárias porque é preciso considerar a relação fundamental das palavras com o silêncio sem no entanto reduzir este a um complemento da palavra Assim procuramos nos distanciar de algumas formas particulares de categorização do silêncio já fixadas O silêncio fundador O silêncio de que falamos aqui não é ausência de sons ou de palavras Tratase do silêncio fundadores um fundamento princípio de toda significação A hipótese de que partimos é que o silêncio é a própria condição da produção de sentido Assim ele aparece como o espaço diferencial da significação lugar que permite a linguagem significar O silêncio não é o vazio ou o semsentido ao contrário ele é o indício de uma instância significante Isso nos leva à compreensão do vazio da linguagem como um horizonte e não como falta Evidentemente não é do silêncio em sua qualidade física de que falamos aqui mas do silêncio como sentido como história silêncio humano como matéria significativa O silêncio de que falamos é o que instala o limiar do sentido O silêncio físico não nos interessa assim como para o linguista o ruído enquanto matéria física não se coloca como objeto de reflexão Segundo J de Bourbon Busset 1984 o silêncio não é ausência de palavras ele é o que há entre as palavras entre as notas da música entre as linhas entre os astros entre os seres Ele é o tecido intersticial que põe em relevo os signos que estes dão valor à própria natureza do silêncio que não dever ser concebido como um meio O silêncio diz o autor é o intervalo pleno de possíveis que separa duas palavras proferidas O silêncio é imunência O silêncio do sentido torna presente não só a iminência do nãodito que se pode dizer mas a invisibilidade da presença do sujeito e do enunciado Há injunções dos sentidos da linguagem em estar nos silêncios sejam estes feitos de palavras ou do silêncio Não se pode não significar Para o sujeito de linguagem o sentido já está sempre lá Considerando essa relação com a significação o sujeito tem assim uma necessária relação com o silêncio Com efeito a linguagem é passagem incessante das palavras ao silêncio e do silêncio às palavras Movimento permanente que caracteriza a significação é o que produz o sentido em sua pluralidade Determinado ao mesmo tempo pelo contexto e pelos contextos no plural esses deslocamentos inscritos na constituição dos sentidos tem uma relação particular com a subjetividade o sujeito desborda o silêncio em sua fala No discurso há sempre um projeto um futuro silêncios do sujeito pleno de sentidos O discurso se apresenta desse modo como o projeto o estado significante pelo qual o sujeito se lança em seu sentido em um movimento contínuo Para cumprir esse projeto o sujeito toma apoio no silêncio Também nessa perspectiva o sentido não tem origem P Henry 1988 não há sentido estados contínuos de significação O antes o estado anterior não é o nada mas ainda é silêncio enquanto horizonte de sentidos Além do silêncio fundadores tal como o consideramos anteriormente há a política do silêncio que por sua vez tem duas formas de existência ligadas a o silêncio constitutivo e b o silêncio local A relação ditonãodito pode ser contextualizada sóciohistoricamente em particular na relação ao que chamamos de poderdizer Pensando essa contextualização em relação ao silêncio fundador podemos compreender a historicidade discursiva da construção do poder disser atrelado pelo discurso Com efeito a política do silêncio se define pelo fato de que ao dizer já apagamos necessariamente outros sentidos possíveis mas indesejáveis em uma situação discursiva dada A diferença entre o silêncio fundador e a política do silêncio é que a política do silêncio produz um recorte entre o que se diz e o que não se diz enquanto o silêncio fundador não estabelece nenhuma divisão ele significa em por si mesmo Determinado pelo caráter fundar do silêncio o silêncio constitutivo pertence à própria ordem de produção do sentido e preside qualquer produção de linguagem Representa a política do silêncio como um efeito de discurso que instala o antímplícito se diz x para não deixar dizer y este sendo o sentido a se descartar do dito E o nãodito necessariamente excluído Por isso ao se apagarem os sentidos que se quer evitar sentidos que poderiam Silêncio e vozes sociais a Dominação e resistência Poderseia falar do modo como a censura funcionou do lado da opressão Mas isso não tem nenhum mistério proíbemse certas palavras para se proibirem certos sentidos No entanto há um aspecto interessante a observar em relação a esse mecanismo da censura Como no discurso o sujeito e o sentido se constituem ao mesmo tempo ao se proceder desse modo se proíbe ao sujeito ocupar certos lugares ou melhor proibise certas posições do sujeito A censura não é um fato circunscrito à consciência daquele que fala mas um fato discursivo que se produz nos limites das diferentes formas discursivas que estão em relação Assim concebida a censura pode ser compreendida como a interdição da inscrição do sujeito em informações discursivas determinadas Consequentemente a identidade do sujeito é imediatamente afetada enquanto sujeitododiscurso pois sabese Pêcheux 1975 a identidade resulta de processos de identificação segundo os quais o sujeito devese inscrever em uma e não em outra formação discursiva para que suas palavras tenham sentido Ao mudar de formação discursiva as palavras mudam de sentido Em uma conjuntura dada as formações discursivas determinam o que pode e deve ser dito Henry 1972 A censura estabelece um jogo de relações de força pelo qual ela configura de forma localizada o que dizível não deve não pode ser dito quando o sujeito fala A relação com o dizível pois modifica quando a censura intervém mais uma vez não se trata do dizível sóciohistóricoempírico definido pelas formações discursivas o dizer possível não se pode dizer o que é proibido o dizer devido Ou seja não se pode dizer o que se pode dizer Consideremos nessa perspectiva discursiva a textualidade Todo texto é tomado como parte do processo de interlocução Assim o domínio de cada um dos interlocutores é próprio e se não tem unidade senão no pelo texto O texto é unidade Consequentemente a significação se faz no espaço discursivo intervalo criado pelos nos interlocutores em um contexto sóciohistórico dado A esse domínio dividido da constituição da unidade textual e da unidade dos sentidos corresponde um domínio de incompletude do sujeito Assim como o texto não é esgotado em um espaço fechado o sujeito e o sentido também são caracterizados pela sua incompletude Como os processos discursivos se realizam necessariamente pelo sujeito mas não têm sua origem no sujeito ilusão do sujeito de estar na fonte do sen tido esquecimento nº 1 de Pêcheux 1975 ao falar o sujeito se divide as suas palavras são também as palavras dos outros Dessa contradição inerente à noção de sujeito e de sentido resulta uma relação particularmente dinâmica entre identidade e alteridade um movimento ambíguo que distingue separa e ao mesmo tempo integra liga demarcando o sujeito em sua relação com o outro No entanto como há um apagamento necessário para a constituição do sujeito isso constitui sua incompletude há também um desejo ou antes uma injunção à completude vocação totalizadora do sujeito que em sua relação com o apagamento desempenha um papel fundamental no processo de constituição do sujeito e do sentido A incompletude do sujeito pode ser compreendida como trabalho do silêncio O sujeito tende a ser completo e em sua demanda de completude é o silêncio significativo que trabalha sua relação com as diferentes formações discursivas fazendo funcionar a sua contradição constitutiva Sua relação com o silêncio é sua relação com a divisão e o múltiplo Discursivamente não há nem um sujeitoabsoluto nem sujeitocomplemento inteiramente determinado pelo fora Esse espaço da subjetividade na linguagem é um lugar tenso onde jogam os mecanismos discursivos da relação com a alteridade A incompletude é uma propriedade do sujeito e do sentido e o desejo de completude é que per O autoritarismo poderia ser considerado nessa perspectiva como uma espécie de nascente social já que decide per se procurar um lugar pode dizer por farar um sentido para todo seu discurso Sem os benefícios da metáfora do mito A partir de uma certa época muitas pessoas criarão suas autobiografias o que muitas vezes produzirá uma dinâmica de publicações autobiográficas Os efeitos discursivos produzidos por esse mecanismo são muito interessantes eles deslocam os limites do dizer não pela sua discussão direta mas por uma ação de limite das diferentes formas de enunciação Esse silêncio é a marca da presença do silêncio fundador em sua fala e que faz com que os outros sentidos apareçam O dizer pode ser concebido de várias maneiras Aqui não referimos sobre todo o jogo de formações discursivas o que se pode e se deve dizer adiante trabalharemos mais particularmente a definição do dito como discurso social Passamos então à consideração das formações discursivas Como sabemos elas não têm fronteiras categóricas O fechamento de uma formação discursiva diz Courtine 1982 est fondamentalement instable elle ne consiste pas en une limite tracé une fois pour toutes séparant un intérieur et un extérieur et son savoir mais insérant entre diverses formations discursives comme une frontière qui se déplace en fonction de la lutte idéologique Na relação do sujeito com as formações discursivas o silêncio fundador atua no seu nãofechamento criando espaço para seus deslocamentos Dessa modo o silêncio fundador que produziu um estado significativo para que o sujeito se inscreva no processo de significação mesmo na censura fazendo significar por outros jogos de linguagem o y que lhe foi proibido enunciations distintas e dispersas que formam em seu conjunto o domínio da memória Esse domínio constituí a exterioridade discursiva para o sujeito do discurso Além disso é preciso lembrar sempre Courtine 1982 que o sujeito não tem no interdiscurso nenhum lugar para si já que o não domínio da memória ressoa uma vez sem nome isto é anônimo O interdiscurso o dito não é sentido por exemplo o colonizado para x ou para y é sentido de colonização Destes efeitos referente sua objetividade No entanto é preciso entender esta relação de enunciável com o sujeito em sua duplicidade O que dispôs o sujeito é o que mesmo tempo tornouse seu dizer possível recorrendo ao jádito que o sujeito ressiginifica E se significa O interdiscurso é do nível de constituição do discurso sua verticalidade segundo Courtine 1982 da ordem do repetível É a instância do enunciado o mesmo O intradiscurso por sua vez é a formulação da enunciação o diferente no aqui e agora do sujeito Se pelos interdiscursos temos que o sujeito intervém no repetível no entanto é o interdiscurso que regula os deslocamentos de fronteiras da formação discursiva incorporando os elementos préconstruídos efeito do jádito Também nesses casos podemos dizer que o silêncio que trabalha os limites do jádito no interdiscurso Sem deixar de considerar que a relação silênciointerdiscurso é bastante complexa Com efeito é preciso observar que a noção de interdiscursividade poderia absorver e o silêncio pois este pode ser visto como coincidente com o jádito Nesse caso criarse a ilusão do que o silêncio não há de se dizer ou já dito Ou seja o silêncio seria o exílio do sujeito e seu desterro pois estaria habilido pelo jádito o pleno o efeito do O narrativamente a produção do efeito da literalidade essa mecanismo de apagamento do silêncio do sujeito a possibilidade de ele moverse O que se faz ver a literalidade como negação do sujeito A ilusão de seu sentido só pode ser aquilatar justamente na sua história ao sujeito Com nossa reflexão estamos propondo distinguilo a ilusório silêncio do jádito do outro silêncio o fundador que permite os múltiplos sentidos que tornam possível uma certa distância do sujeito em relação ao discurso E isso em duas direções em relação ao outro dizer ou da outra formação discursiva e em relação ao discurso social o consenso O silêncio intervém como parte da relação do sujeito com o dizer permitindo os múltiplos sentidos para tornar possível ao sujeito a elaboração de sua relação com os outros sentidos Há sabese Foucault 1971 uma dispersão do sujeito pela qual ele pode tomar diferentes posições Por outro lado a identidade do sujeito resulta de processos de identificação Com efeito o silêncio trabalha as diferenças inscritas nos processos de identificação Assim se se põe o silêncio como constitutivo de todo processo significativo a determinação histórica desses processos não se apresenta apenas como injunção e cela Em face da história o silêncio significa de várias maneiras a em relação ao futuro o projeto do discurso a multiplicidade de sentidos b em relação ao passado o jádito que retorna na forma do interdiscurso e que se reformula Enfim se se pensa o silêncio como constitutivo do conjunto o todo a dominante das formações discursivas produzindo tanto a polissemia o adizer quanto o jádito Isto é o silêncio trabalha nos limites do dizer o seu horizonte possível e o seu horizonte realizado Na relação do sujeito com as formações discursivas o silêncio fundador atua no seu nãofechamento criando espaço para seus deslocamentos Em suma é o silêncio fundador que produz um estado significativo para que o sujeito se inscreva no processo de significação mesmo na censura fazendo significar por outros jogos de linguagem o y que lhe foi proibido Considerações teóricometodológicas Contenução e efeitoleitor Quando se trata do político e sobretudo do político tal como ele se representa atualmente a questão da credibilidade se impõe trazendo em consequência o problema da relação entre verdade e falsidade na linguagem No quadro da análise de discurso essa questão mais aguda no escopo do discurso político é no entanto passível de ser tratada no âmbito da linguagem em geral É isso pela sua inserção no domínio da relação pensamentolanguagemundo ou no que Pecheux 1988 denomina esquecimento nº 2 do nível enunciativo esquecimento que produziu no sujeito a impressão da realidade do pensamento ilusão referencial impressão de que aqui ali ele diz só pode ser aqui ali Assim como o sentimento de unidade do sujeito também o conhecimento de unidade do sentido isto é a literalidade deriva dessa relação com o silêncio e com a incompletude Retornamos pois à importância do silêncio fundador pois é dele que torna toda significação possível Enquanto partimos da noção de imaginário atuando na Instância do silêncio o conteúdo aparece pois como permanente permitindo que se jogue com esse efeito discursive os dois referentes É assim que o interdiscurso na ilusão do conteúdo é trabalhado pelo silêncio Quando o interdiscurso apaga o silêncio fundacional enquanto tal fazendo com que o nãodito se sobreponha condição ao jádito ele produz a impressão de que o sentido não pode ser na origem senão um Meu objeto de reflexão neste capítulo é a censura Entretanto minha finalidade não é classificar dadas que caracterizam a censura Minha proposta é de compreender a censura enquanto fato de linguagem que separa a esfera pública e a esfera privada produzindo efeitos de sentido pela clivagem que a imposição de uma divisão entre sentidos permitidos e sentidos proibidos produz no sujeito Tomando em consideração esses aspectos da censura analiso ao mesmo tempo tanto a censura quanto a recusa de submeter a ela procurando ainda definir o modo como as diferentes formas de silêncio trabalharam os processos de produção de sentidos Por uma certa inadequação teórica alguns lingüistas adotados dos teorias imunitárias têm utilizado a expressão materialidade lingüística referindose à língua retomando assim uma expressão que mudou ao andar das decisões Gostaríamos de lembrar que os termos têm sua história e fazem parte de quadros teóricos específicos A análise Uma política de silêncio Já é bem conhecido o fato de que o poder se exerce acompanhado de um certo silêncio De Certeau 1980 É o silêncio da opressão O silêncio não fala ele significa É pois inútil traduzir o silêncio em palavras é possível no entanto compreender o sentido do silêncio por métodos de observação discursiva A censura tal como a definimos é a interdição da inscrição do sujeito em formações discursivas determinadas isto é proíbese o sujeito de ocupar certos lugares certas posições Se considerase o sujeito diversos níveis pelo conjunto de formações discursivas em suas relações a censura intervém a cada vez que se impede o sujeito de circular em certas regiões determinadas pelas suas diferentes possibilidades Como a identidade é um movimento afetase assim esse movimento Desse modo identificase que o sujeito na relação com o dizível identifiquese com certas regalias e dizer quais os quais ele se representa como socialmente responsável como autor Entretanto gostaríamos de insistir que a censura não é um fato da consciência individual do sujeito mas um fato discursivo que se passa nos limites das diferentes formações discursivas que estão em relação Tratase de um processo de identificação e diz respeito às relações do sujeito com o dizível Nessa perspectiva não há autocensura A censura sempre coloca um outro jogo Ela sempre se dá na relação do dizer e do não poder dizer do dizer de um e do dizer de outro É sempre em relação a um discurso outro que na censura terá a função do limite que um sujeito será visto autorizado a dizer Por exemplo mesmo não estando sob a ditadura há interdições que estão postas Em nenhum dos casos tratase de oposição entre sentido verdadeiro e sentido falso mas do sentido imposto e o sentido recusado sejam quais forem E pela relação do fraqueza está em um livro a função que supomos do discurso marcando os sentidos pela posição dos que os produzem que se instala o conjunto e não pela sinceridade ou falsidades dos que produzem Para tratar dessas questões precisamos dos conceitos de povo e de discurso social mação discursiva como arquivo Foucault como interdiscurso Pecheux Courtine Henry etc e como discurso social como abordamos e vê A noção de discurso social nos interess Nossa tarefa aqui é pois compreender os mecanismos da linguagem do silêncio Assim vamos deslocar a relação do discurso à reprodução Dito de outro modo tentaremos mostrar que na reprodução já Corpus as diferentes manifestações de resistência No momento em que a violência da ditadura era mais aguda e a censura já tinha instalado no cotidiano de todo brasileiro formas muito variadas de comunicação e de resistência se estabeleceram que estavam ligadas às atividades dos militantes efetivamente engajados na luta política de libertação nacional Mesmo essas formas pertenciam a um outro domínio mais particular de trabalho verbal seus efeitos se faziam sentir no jogo da indeterminação Por exemplo as pessoas per que a censura sublinha a dimensão política do sentido 4 Entre as formas cotidianas uma forma de resistência e de mobilização popular era sem dúvida a MPB Em vez de nos manifestarmos politicamente de modo categórico aprendemos a nos reunir isto é a juntar uma multidão em torno de grandes encontros musicais Nas praças nos estádios de futebol Cantar era uma forma de manifestação política popular Nesse contexto político tudo tinha um sentido particular os compositores os intérpretes de direito e de fato os lugares escolhidos A censura é um sintoma de que ali pode haver um outro sentido Na censura está a resistência Na proibição está o outro sentido É isso porque como disse a censura atinge a constituição da identidade do sujeito A identidade por seu lado sempre em movimento encontra suas formas de manifestação não primária em que situação particular de opressão Para ilustrar isto lembramos ainda três fra se compõe a relação com o político através da elaboração de distintas formas de espetáculo musical como por exemplo o ópera 3 refere fatos históricos do passado reinterpretados metaforizados 4 canta hinos nacionais CobradeVidro 5 canta mulheres em seus sentidos políticos Bárbara Ana de Amsterdam etc 6 usa formas discursivas diferentes como por exemplo a carta se vem de fora significa exílio e se dá aqui para fora significa censura e repressão 7 canta em outras línguas em espanhol Cuba em italiano e francês exílio em português de Portugal Revolução de Abril Se olharmos mais de perto encontramos construções linguísticas que nos apontam para esses deslocamentos especificando outros sentidos 1 substituição É fora da leifora do arsegura esse boi é proibido voar em que boi está por pessoa subversiva por exemplo outra Canta maispreparando a tintaenfiantando o prato em Fantasia A praça fica cada dia mais vazia em Chorinho e a relação de todas as outras canções que referem a praça do povo e não dos bancos de jardim Sentidos que migraram Uma vez estancando um processo de sentidos numa posição em sua relação com as formas discursivas o sentido emigra e se desloca para qualquer outro objeto simbólico possível Nesse modo de funcionamento a relação entre um e o plural aparece em sua relevância gócio dos sentidos se passa por transformações Dizer a ditadura vai acabar e dizer em música vai passar traz necessariamente diferentes efeitos de sentido pois esses enunciados significam diferentemente Gostaríamos de compreender a natureza da diferença que se produz nessas situações de linguagem Em outras palavras interessanos compreender o que essa diferença instaura na relação do brasileiro com sua história De um lado sabemos isso acerta uma particularidade o brasileiro por ter a censura explicitada na sua história política relacionase com o discuro político através dessa memória Memória al no sentido amplo mesmo os que não viveram a censura política explícita incorporam seus efeitos Não se trata de aprendizagem mas de filiação histórica inconsciente Pêcheux 1991 A censura conta na relação do brasileiro com o politico Por outro lado e não sabemos a justa extensão disto onde estão os sentidos de que não falamos e que tiveram que circular disfarçados por outros caminhos por processos de significação tortuosos O que eles perderam o que ganharam Como se alojaram nos amplos processos de significar Essas questões nos levam finalmente a outra 2 Como a história responde à censura O silenciamento tem uma materialidade histórica presente nos mecanismos de funcionamento dos discursos e em seus processos de significação Daí podemos concluir que a reprodução já há nãoreprodução a censura já está ou resitência na interdição de sentidos já estão os sentidos outros naquilo que não dito está o tralecimento do sentido que vira ser Assim nas várias formas e modos que a história pode exser Assim não há censura completamente eficaz os sentidos escapa e pegam a genta e seu modo Nossa finalidade com estas reflexões era mostrar a de um lado que a separação entre verdadeiro falso não é a constatação de uma evidência mas já é uma tomada de posição um efeito de discurso um gesto de interpretação b de outro quando pensamos na prática discursiva noções tais como a de estereótipo assim como a observação da linguagem cotidiana adquirem um estatuto outro que lhes dá um caráter mais complexo indicando aspectos de sua sistematicidade No entanto isso só é possível se somos capazes de atribuir um outro estatuto teórico ao silêncio e finalmente o que podemos compreender de censura observandoa no domínio político pode no entanto se alargar para a compreensão dos procedimentos de interdição que atravessam de múltiplas formas e permanência o cotidiano do sujeito na sua relação com os diferentes percursos de sentido nas distintas situações significativas de sua vida a apreensão do fato que chamamos migração dos sentidos proibidos para diferentes objetos simbólicos deve sem dúvida merecer especial atenção A partir de cinco restrições ao discurso se cairá em um contexto complexo linguísticohistóricoideológico dele não se apresenta somente como lugar de reprodução mas de resistência e transformação Finalmente tudo isso pode se remeter ao que disse Pêcheux 1983 a propósito da relação estruturaconhecimento Pela sua própria existência todo discurso marca a possibilidade de sua desestruturadoreestruturada dessas redes e trajetos todo discurso é índice potencial e uma agitação nas filiações sóciohistóricas de identificação na medida em que constituí no mesmo tempo um efeito dessas filiações e um trabalho de deslocamento em seu espaço O que em conclusão pode significar que quando a análise de discurso se despede de terreno já domesticado do conhecimento lingüístico que territorializa a noção de ambiguidade podemos nos dirigir para um terreno bem mais rico para os estudos da linguagem em que os deslocamentos as diferenças as contradições nos abrem a via do equivoco dos desligamentos das reversões dos sentidos dos sujeitos em uma palavra a via da linguagem concebida como polissêmica no sentido amplo espaço de jogo de sentidos onde o silêncio significa constitutivo de dizer que delimita e regula sendo o discurso sempre atravessado pelo outros discursos Assim que se cumpre a relação necessária do lingüístico com o ideológico os sentidos não têm donos ela tenha sentido Essa impressão do significar deriva do que se tem chamado interdiscursivo Isto é o domínio do saber discurso de uma manchete pode e deve sustentar a direcionalização de formulações feitas esquisitas e que vão constituindo uma história dos sentidos Toda falta resulta assim de um efeito de significado no jádito que por sua vez funciona quando às vezes que se poderiam identificar em cada formulação particular se apagam e trazem o sentido para o regime do anonimato e da universalidade Ilusão de que o sentido nasce ali não entre histórias e nãodito estabelecendo um recorte que reflete a posição do sujeito sua inscrição em uma formação disursiva e faz por necessidade histórica Ao dizer algo apagase necessariamente a possibilidade de que se diga outra coisa nenhuma do lugar O meioplágio se inscreve nesse mecanismo de silenciamento no entanto de modo particular ele joga com o princípio da autoria traçandoa indevidamente para si O enunciador que respeita e apaga toma o lugar do autor plagiador estaria ai procedendo silenciosamente e assim como para si mesmo Porque o desvio de que os sentidos se mostram em seus percursos e assim escondemse de mesmo por onde passam andam seus sentidos ou no caso a quantas anda sua produção intelectual Por esse mecanismo ele empaça as deficiências Mais do que isso ao silenciar a origem da ideia que trabalha da censura porque produz um mecanismo que desconhece que os sujeitos e os sentidos significam de outras maneiras Estanca assim o fluir histórico do sentido Com efeito o meioplágio ao elidir a historicidade censurando reduzindo o movimento dos sentidos acentua a impressão da realidade do pensamento ilusão referencial que produz o sentimento de que há uma relação natural entre palavras e coisas e a do sujeito como origem de seu dizer ilusão de que os sentidos nascem nele No fato discursivo que estamos analisando corresponde a isso a anopção do sujeito O desejo de que seu sentido não tenha história seja autosuficiente é absoluto Reflete assim localmente outra característica do jogo ideológico da construção dos sentidos a relação das diferentes formações discursivas é apagada pela dominância de um sentido o seu que atravessa esse conjunto e produz o efeito da unicidade da completude Creio que o que dissemos até aqui é suficiente para marcar o mecanismo de produção desses silencios e sua natureza que é da ordem pública dos sentidos e da censura Custaríamos agora a passar para uma interpretação desse que não deixasse de vêlo como fato discursivo produtivo seja como rejeição seja como deslocamento O que acabamos de dizer situa teoricamente como um subproduto do funcionamento discursivo o velho de interdiscurso apresentandose como uma consequência prática do princípio dialógico isto é nesse caso no domínio da censura do silenciamento Ainda que ilidindo acerca da autoria podemos dizer que esses procedimentos silenciosos não têm serventia para nos indispor com as regiões do já dito pelo fato mesmo de não reconhecêlo percebese institucionalmente Poderia ser uma forma do novo desrespeitosamente descolar o velho Mas de modo como funciona ele parece estar em uma forma do o velho se figurar no novo Nesse caso as palavras ao sofrerem essa forma de apropriação ricocheteiam nessas novas produções e atingem o autor em sua ressonância obrigandose a defenderlas encarecimento da autoria ou a abandonálas pela impressão do jámuitodito sem refletir De todo modo não produzem o movimento de sua contemporaneidade Ao se fingirem de novas soam para os que já as haviam dito como muito velhas Não fazem progredir a reflexão porque não produzem deslocamento Não estabelecem um lugar distinto não circulam pelas formações discursivas não percorrem outras posições O autor originário não sofre um impulso ao contrário arrisca ficar parado no mesmo Essa é uma forma de