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O FENÔMENO E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA Prof Thomas Heimann NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A compreender o fenômeno religioso reconhecendo sua presença nas mais diversas áreas da cultura humana em uma perspectiva da integralidade do ser A analisar os principais elementos constitutivos de religiões e manifestações religiosas do mundo e da realidade brasileira A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relações sociais políticas econômicas e culturais INTRODUÇÃO O estudo de uma disciplina com o nome de Cultura Religiosa pode causar certa estranheza a alguns universitários A pergunta que surge é afinal a religião um assunto de foro tão íntimo e pessoal pode ser objeto de estudo científico e acadêmico Qual a relevância ou aplicabilidade disso para uma formação acadêmica e profissional em um mundo cada vez mais tecnicista racional e agnóstico que se torna a cada dia mais indiferente ao campo religioso Do ponto de vista científico não importa se todos os alunos da disciplina sejam completos ateus agnósticos ou até mesmo críticos da religião vendoa como um pensamento primitivo uma prática supersticiosa ou até um entrave ao avanço da ciência O fato é que independentemente da nossa atitude pessoal frente às crenças religiosas o fenômeno religioso é um dos principais fundamentos da sociedade estando presente em diferentes representações culturais dos diferentes povos e civilizações desde os tempos mais remotos da humanidade A estrutura deste capítulo passa pela definição de conceitos básicos no campo da religião pela demonstração concreta de sua presença nas diferentes representações culturais pela dialogicidade com outros campos do conhecimento humano e também por algumas reflexões acerca da experiência religiosa Portanto reconhecer que o fenômeno religioso se inscreve e demarca o processo civilizatório humano é um dos grandes desafios a que se propõe este capítulo introdutório Como afirma um dos grandes pesquisadores das ciências da religião se Deus não é objeto de investigação estritamente científica porém toda vivência religiosa envolve um ser humano e como experiência humana pode ser objeto de investigação científica BENKÖ 1981 p 14 O HOMO RELIGIOSUS A UNIVERSALIDADE DA RELIGIÃO O ser humano é um ser multidimensional composto por elementos físicos intelectivos afetivos volitivos lúdicos sociorrelacionais e também por elementos religiosos O homo religiosus como afirma a antropologia desenvolveu uma atividade religiosa desde a sua primeira aparição na cena da história todas as tribos e todas as populações de qualquer nível cultural cultivaram alguma forma de religião MONDIN 1980 p 218 A universalidade religiosa precisa ser compreendida em toda a sua diversidade Há muitas formas e expressões religiosas como o monoteísmo crença em um só deus politeísmo crença em vários deuses panteísmo Deus e o universo são idênticos dualismo duas forças opostas que regem o universo deísmo há um ser supremo mas que não interage com a criação teísmo um ser divino e pessoal que interage com a natureza e com as pessoas esoterismo a busca de conhecimentos ocultos através do espiritual místico ou sobrenatural feng shui astrologia numerologia etc entre outras podendo haver pequenas variações conceituais em cada uma delas Em uma abordagem histórica além das já conhecidas tradições religiosas como as mitologias grega e romana as religiões clássicas como Judaísmo Cristianismo Islamismo Budismo Hinduísmo as religiões antigas dos egípcios incas maias e astecas há também formas mais primitivas de expressões religiosas Uma das principais é o animismo Nessas antigas crenças o ser humano atribuía aos animais às plantas aos rios às montanhas às estrelas etc uma conotação espiritual Ou seja nos fenômenos e elementos da natureza habitavam e se expressavam espíritos e forças divinas que deveriam ser venerados e apaziguados especialmente diante de fenômenos climáticos celestes e geofísicos como secas terremotos furacões erupções de vulcões eclipses entre outros Muitas oferendas e sacrifícios inclusive de humanos foram realizados ao longo dos séculos na busca de agradar aos deuses ou de aplacar a sua suposta fúria contra algo ou alguém Do animismo derivouse outra prática religiosa o fetichismo que consistia em atribuir a objetos animados ou inanimados um poder mágico ou sobrenatural Esses objetos poderiam ser tanto produzidos pelos indivíduos como encontrados na natureza tais como pedras dentes ossos bonecos estatuetas correntes e pingentes passando a servir como amuletos protetores individuais Podemos relacionar o rico mundo das superstições ainda tão presente na sociedade de hoje como um exemplo atual de crença fetichista Em suma mesmo que estejamos hoje vivendo um processo crescente de secularização marcado pelo enfraquecimento do sagrado pela perda de interesse na vivência religiosa comunitária a religiosidade tem permanecido como uma constante do ser humano mesmo que não seja mais cultivada por todos os indivíduos da espécie MONDIN 1980 p 218 DEFININDO CONCEITOS RELIGIÃO FÉ E ESPIRITUALIDADE Religiosidade é um conceito complexo subjetivo e multifacetado Ele pode significar desde um conjunto de crenças regras e ritos compartilhados por uma comunidade até um sentimento misterioso de interioridade envolvendo algo místico e pessoal No sentido etimológico o termo latino religio pode advir de dois verbos O primeiro seria religere cujo sentido denota a atitude de estar atento refletir e observar dando a ideia de que a religião está ligada a um fenômeno que exige cuidado zelo e dedicação por parte daqueles que a praticam O segundo verbo seria religare ou seja religar unir novamente sinalizando para o retorno ou reparação de uma situação que foi rompida na tentativa de se ligar novamente a Deus ROOS 2008 p 859861 Ambas fazem sentido analisandose o que acontece na vivência religiosa dos crentes A título de exemplo citamos o relato judaicocristão que descreve a queda do ser humano em pecado Ali se rompia a relação perfeita entre Deus e o ser humano que justifica o conceito de reparação através da criação da religião ou seja uma mediação concreta para religarse novamente com o Criador Avançando no conceito qualquer definição de religião que não inclua como uma variávelchave a crença em seres sobrehumanos que possuem poder de auxiliar ou causar dano ao ser humano é contraintuitiva SPIRO In WIEBE 1998 p 19 Já outras definições dizem que a religião é um sentimento ou sensação de absoluta dependência ou que significa a relação entre o homem e o poder sobrehumano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente Essa relação se expressa em emoções especiais confiança medo conceitos crença e ações culto e ética GAARDER 2000 p 17 Essa última definição se aproxima de critérios mais objetivos ao caracterizar a religião como a um conjunto de crenças ou doutrinas b um conjunto de ritos ou cerimônias c um código de comportamento ético e moral a ser seguido d uma experiência relacional com um ser transcendente vivenciada em dimensão comunitária INFOGRÁFICO CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DE UMA RELIGIÃO Reforçase que religião implica uma relação em pelo menos dois sentidos vertical em direção ao ser transcendente e horizontal em direção a outras pessoas que compartilham das mesmas crenças Não há portanto religião de um indivíduo só Daí surge a diferenciação entre o conceito de religião e espiritualidade A espiritualidade diz respeito a uma característica humana que designa toda vivência que pode produzir mudança no interior do ser humano e redimensiona a sua forma de se relacionar consigo com os outros e com o cosmos Está relacionada com valores significados e busca de sentido que podem ser encontrados em diferentes lugares inclusive em si mesmo GIOVANETTI 2005 p 136 A forma mais usual de manifestação da espiritualidade é através da religiosidade ou seja ela se concretiza quando um indivíduo encontra em uma religião um conjunto de elementos que dão sentido para sua existência Nesse caminho surge o conceito de fé religiosa entendido pela experiência de se sentir chamado e confiar em algo ou alguém de cunho sagrado se relacionando com esse ser em uma postura de reverência confiança dependência e reciprocidade A religião também ocupa funções importantes Ela procura dar respostas para as grandes questões existenciais elaborando explicações para a origem sentido e destino de todos os seres vivos A religião também oferece consolo em momentos de sofrimento e alimenta a esperança de uma vida além morte aplacando a angústia humana diante da incômoda consciência de sua finitude Além de também ser um meio de preencher o vazio existencial a religião auxilia na construção de uma identidade pessoal e coletiva dando ao ser humano um sentimento de pertença a um grupo fator importante para a coesão social e saúde mental O FENÔMENO RELIGIOSO E SUAS REPRESENTAÇÕES NA CULTURA Retomando o que já afirmamos neste capítulo mesmo que não tenhamos qualquer crença religiosa o fato é de que ela está fortemente presente em diferentes dimensões da cultura e sociedade Quem gosta de olhar filmes e seriados independentemente do gênero irá se deparar com enredos permeados de religiosidade Muitos clássicos do cinema trazem a marca do religioso do sobrenatural e do místico Filmes épicos como Tróia Cruzadas BenHur A Paixão de Cristo Maria Madalena filmes de ação e aventura como a trilogia de Indiana Jones Senhor dos Anéis Crônicas de Nárnia A Múmia Harry Potter 2012 Thor etc filmes policiais de terror e de suspense como O Exorcista O Chamado Ouija O Jogo dos Espíritos Seven Os Sete Pecados Capitais dramas como Ghost Amor Além da Vida Cidade dos Anjos até mesmo grandes comédias como Mudança de Hábito O Todo Poderoso Ghostbusters a lista é enorme Das séries podemos citar Supernatural Lúcifer Ghost Hunters etc Também muitas telenovelas abordaram temas religiosos como Roque Santeiro A Padroeira Porto dos Milagres Almas Gêmeas Babel Eterna Magia entre outras Já quem gosta da literatura além da Bíblia ser o maior bestseller mundial vamos encontrar clássicos como Código da Vinci Anjos e Demônios e Inferno de Dan Brown O Monge e o Executivo A Cabana Comer Rezar Amar além de muitos livros esotéricos e de linha espiritualista um dos poucos segmentos que ainda crescem no mundo editorial Já no campo das artes nomes como Leonardo Da Vinci Rafael Michelângelo e Aleijadinho são reconhecidos por suas obras com temática religiosa Na própria música desde autores sacros como Bach Mozart e Beethoven como inúmeras bandas de rock passando por cantores e compositores nacionais além de todo movimento de música Gospel trazem conteúdos religiosos em suas letras e composições O campo do turismo é outro elemento importante que se relaciona com a religião Países e cidades têm como fonte de renda o elemento da fé e religiosidade A Capela Sistina no Vaticano as pirâmides do Egito e de Cuzco no Peru o Monte Olimpo na Grécia e a cidade suspensa de Machu Picchu o monumento de Stonehenge na Inglaterra a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro as peregrinações a cidades santas como Jerusalém e Meca os santuários de Aparecida do Norte os templos budistas espalhados pelo mundo são apenas alguns dos exemplos de lugares turísticos Já no contexto econômico e financeiro além do turismo a religião movimenta a economia em diversos setores Festas como o Natal Páscoa São João Sírio de Nazaré Navegantes além de promoverem feriados em nosso calendário também movimentam a economia gerando empregos e renda A venda de produtos religiosos e esotéricos contratos comerciais em que questões religiosas precisam ser observadas ex abate de animais para exportação a países islâmicos e até mesmo frases religiosas nas notas de dólar e real mostram essa íntima relação entre religião e a economia A própria indústria alimentar tem se preocupado com questões religiosas visto que muitas religiões possuem regras e restrições alimentares que são impostas a seus fiéis No esporte talvez até muitos dos leitores possam darse conta de que praticam ritos religiosos surfistas fazem o sinal da cruz antes de entrar no mar jogadores entram em campo com o pé direito atletas apontam para o alto e agradecem a Deus diante de conquistas treinadores usam a mesma roupa com que obtiveram um título etc Crenças superstições e trabalhos religiosos são comuns no meio esportivo O campo educacional também sofreu e ainda sofre influência das religiões Muitas instituições de ensino privadas estão ligadas a grupos religiosos tradicionais como católicos metodistas presbiterianos luteranos batistas e adventistas Entre as dez mais importantes universidades do mundo seis delas tiveram mantenedoras religiosas em sua origem tais como Harvard Cambridge Oxford Princeton Yale e Columbia No Brasil os grupos religiosos também estão vinculados a universidades como ULBRA UMESP Mackenzie UNISINOS PUC etc No campo da linguagem o uso de expressões religiosas é comum mesmo por quem não é religioso tais como Deus me livre cruz credo meu Deus do céu graças a Deus A linguagem religiosa também é expressa em nomes próprios como João José Maria Ângelo etc Estados brasileiros como Espírito Santo São Paulo Santa Catarina além de centenas de municípios pelo mundo possuem nomes religiosos São Francisco San Diego Los Angeles San Petersburgo Salvador Bom Jesus Santa Maria Aparecida do Norte Santa Cruz Santa Rosa etc Por último dentro dessa perspectiva da relação da religião com elementos culturais o campo político não pode ficar de fora com ambos por vezes fundindose em um poder unificado Nos antigos impérios egípcio romano maia japonês só a título de exemplo os governantes eram quase todos divinizados o que legitimava o seu poder absoluto sobre o povo Por toda a Idade Média a religião cristã esteve muito atrelada às questões políticas sendo o papado romano um importante centro de poder assim como foram e continuam sendo os Estados Islâmicos no Oriente Médio Até mesmo guerras foram travadas sob um suposto pretexto religioso tais como as inúmeras Cruzadas em prol da conquista da Terra Santa ou as guerras entre hindus e muçulmanos na região da Kashemira conflitos entre Índia e Paquistão Nos dias atuais é comum vermos grupos religiosos buscando espaços e fazendo lobby em decisões políticas que envolvem a sociedade civil além de continuarem as tensões políticoreligiosas em diversas partes do mundo incluindo perseguições a determinados grupos minoritários Esses e outros exemplos demonstram o quanto o fenômeno religioso é parte constitutiva da sociedade e está profundamente imbricado em diferentes dimensões da cultura humana Tal como afirmam Reblin e Sinner não é possível entender a experiência religiosa distante da vida social como se esta independesse daquela assim como não é possível conceber uma sociedade sem uma vida religiosa Religião e sociedade se interconectam se emaranham e por vezes se fundem e se confundem na própria amálgama que é a vida humana 2012 Prefácio O FENÔMENO RELIGIOSO E SUAS INTERRELAÇÕES COM AS CIÊNCIAS Um outro importante elemento no estudo do fenômeno religioso é a sua interrelação com as diferentes ciências Talvez por perceberem a relevância histórica e cultural da religião e sua enorme influência no comportamento individual e social da humanidade diversos campos do conhecimento foram reunidos em uma área chamada de Ciências da Religião Fazem parte dela a Filosofia da Religião Psicologia da Religião Sociologia da Religião Antropologia da Religião Direito Religioso e História das Religiões para citarmos apenas algumas além do crescente interesse pelo campo da Espiritualidade e Saúde Temas de cunho existencial como a origem do mal ou do sofrimento o sentido da vida e da morte a metafísica a autotranscendência e espiritualidade humana o campo da moralidade e da ética a discussão entre fé e razão são alguns dos eixos da Filosofia da Religião auxiliando os indivíduos a promoverem uma reflexão crítica sobre o campo religioso Já a Antropologia da Religião procura demonstrar que as diferentes expressões religiosas são criação do próprio ser humano Busca estudar e analisar as estruturas sociais enfocando temas como mitos ritos tabus xamanismo e outras formas de representações religiosas inscritas nos diferentes povos A Psicologia da Religião por sua vez vai analisar os fenômenos religiosos a partir das funções psíquicas e afetivoemocionais dos indivíduos e grupos Sigmund Freud pai da Psicanálise debruçouse sobre as estruturas e crenças religiosas considerando a religião como uma grande produtora de neuroses em uma tensão constante entre os conceitos de desejo e culpa Já Carl Gustav Jung outro importante teórico da Psicologia é autor de livros como Psicologia e Religião Resposta a Jó Psicologia e Religião Oriental entre outros vendo a religião como uma dimensão importante para obtenção do equilíbrio mental Pelo viés da psicologia da religião fenômenos religiosos como visões incorporações obsessões ou até possessões são interpretados como sintomas de possíveis transtornos mentais tais como alucinações e dissociações de personalidade Também o fanatismo religioso é objeto de estudo da psicologia da religião na busca de compreender que processos mentais atuam quando fiéis comportam se de forma irracional a exemplo do suicídio coletivo incitado pelo Reverendo Jim Jones nas Guianas em 1978 ou dos seguidores de David Koresh em Waco Texas no ano de 1993 A Sociologia da Religião é outra área que cresce em interesse acadêmico Émile Durkheim a partir da clássica obra As formas elementares de vida religiosa 1912 cria um modelo interpretativo que divide o mundo em duas categorias denominadas de sagrado e profano Para Durkheim a religião é eminentemente coletiva e possui a função precípua de manter a coesão social Já Max Weber procurou explicar a origem da racionalidade ocidental escrevendo a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo 1904 05 um dos maiores clássicos da sociologia até hoje Por fim o sociólogo contemporâneo Peter Berger procura demonstrar que a religião representa o ponto máximo no processo coletivo de elaboração de um sentido para a vida no mundo além de identificar as raízes do processo de secularização e desencantamento do mundo no qual mostra o porquê as religiões tradicionais vêm perdendo seu poder e monopólio na sociedade FERREIRA 2008 p 859861 Um outro campo de crescente interesse na relação entre ciência e religião é a área da espiritualidade e saúde É fato histórico a íntima associação existente entre medicina e religião nas origens da maioria dos povos e culturas Deuses ou o mundo sagrado atuando em curas é um elemento presente desde a antiguidade Esculápio era o deus da cura na mitologia grega Imhotept o deus médico egípcio Nas escrituras judaicas e cristãs lemos Eu sou o Deus que te cura Êxodo 1626 Jesus Cristo também ganhou notoriedade histórica por curar muitos doentes conforme relatos dos evangelhos bíblicos Para o médico Alex Botsaris a medicina antes de ser ciência é um produto da cultura humana Como a arte de curar ela está presente desde as civilizações mais rudimentares no momento em que surgiu a necessidade de alguém assumir a tarefa de curar as pessoas auxiliandoas a lidar com a dor com a incapacidade física bem como frente à angústia suscitadas pela doença e morte Dessa forma criaramse os primeiros sistemas médicos que nas culturas mais antigas estavam ligados aos sacerdotes e líderes religiosos como xamãs pajés druidas feiticeiros e curandeiros que exerciam tanto as funções de religiosos como as de médicocurandeiro BOTSARIS 2001 p 57 Os fenômenos da doença e da cura portanto foram monopólio por muitos séculos de religiosos e sacerdotes Isso é chamado de Teurgia literalmente traduzido como trabalho de Deus A Teurgia envolvia cânticos ritos preces e outras formas de ligação com as forças divinas sagradas e sobrenaturais que operariam diretamente por esses meios na cura dos indivíduos Em uma correlação com a contemporaneidade para Landmann o carisma e o poder quase divinizado dos médicos na atualidade têm seu nascedouro justamente em uma concepção religiosa ou mágica LANDMANN 1984 p 1415 Porém a descoberta de técnicas experimentais de pesquisa no século XVII encaminhou uma aproximação aos fenômenos do mundo físico e biológico distinguindo as novas práticas médicas da visão religiosa e teológica PAIVA 2000 p 13 Aos poucos as novas descobertas levaram à desapropriação da religião como lugar de cura e cuidado físico passando a ser quase uma exclusividade da ciência médica Gadamer afirma que o médico faz questão de se afastar da figura de curandeiro de tantas culturas revestido pelo segredo das forças mágicas arrogando ser um homem da ciência isto é que conhece o motivo pelo qual uma determinada técnica de cura tem êxito bem como entendendo a relação de causa e efeito Porém isso não significa que os seus pacientes se satisfaçam com essa explicação ou seja a esperança de cura quase mágica associada ao poder do conhecimento que o médico detém é uma fantasia constante a circular na relação médicopaciente mesmo que os médicos procurem evitála a qualquer custo GADAMER 2006 p 40 Na perspectiva dos benefícios da espiritualidade para a saúde integral do ser humano Dal Farra referese a um conjunto de estudos que têm demonstrado o impacto da espiritualidade sobre diversos parâmetros de saúde que podem ser inclusive mensurados de forma metodologicamente eficiente Diversas publicações científicas têm mostrado evidências de que o envolvimento religioso está favoravelmente associado a indicadores de bemestar psicológico incluindo a satisfação na vida a felicidade menor frequência de depressão e de utilização de drogas de abuso etc DAL FARRA 2010 p 589 Elementos da fé e espiritualidade representam um ponto importante a ser considerado nas questões de saúde coletiva como podemos observar nos dados analisados por Jeff Levin do National Institute for Healthcare Research dos Estados Unidos que resumem os resultados obtidos nas pesquisas sobre espiritualidade e fé em relação à saúde em um amplo conjunto de aspectos conforme descreve Dal Farra 2010 p 5912 Princípio 1 A afiliação religiosa e a participação como membro de uma congregação religiosa beneficiam a saúde ao promover comportamentos e estilos de vida saudáveis Princípio 2 A frequência regular a uma congregação religiosa beneficia a saúde ao oferecer um apoio que ameniza os efeitos do estresse e do isolamento Princípio 3 A participação no culto e na prece beneficia a saúde graças aos efeitos fisiológicos das emoções positivas Princípio 4 As crenças religiosas beneficiam a saúde pela sua semelhança com as crenças e com estilos de personalidade que promovem a saúde Princípio 5 A fé pura e simples beneficia a saúde ao inspirar pensamentos de esperança e de otimismo e expectativas positivas Pesquisa realizada com pacientes terminais demonstrou que o conforto espiritual não apenas aumenta a esperança de vida dos pacientes como diminui os índices de depressão de ideias suicidas e de desejo de morte breve DAL FARRA 2010 p 5912 Posto esses elementos que colocam a religião como um objeto da ciência passível de ser descrito e analisado sob a perspectiva acadêmicocientífico passamos agora a analisar o conceito de experiência religiosa A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA Você já teve alguma experiência religiosa Curiosamente muitos alunos respondem negativamente a esse questionamento Talvez porque a ideia implícita seja de que uma experiência religiosa precise ser um evento algo grandioso tais como revelações proféticas aparições de seres divinos ou angelicais falar em línguas sonhos premonitórios presenciar espíritos atuando em sessões mediúnicas ver demônios sendo expulsos em cultos de libertação ter recebido uma cura espiritual ou ter vivido uma experiência miraculosa Dentro da subjetividade que caracteriza as experiências religiosas podemos afirmar que elas podem ser muito mais simples do que as listadas acima Meditar ou fazer uma prece em momentos de angústia e em seguida entrar em um estado de paz e tranquilidade sentindo a presença de Deus ou ainda experiências de conversão onde o fiel acredita que Deus o chamou para viver uma nova vida em uma mudança visível de sua forma de pensar sentir e agir também são experiências espirituaisreligiosas Tais experiências são interpretadas como mediações da esfera do sagrado ou do mundo sobrenatural somente a partir da fé pois a ciência procura sempre encontrar razões lógicas humanas e científicas para todas elas Portanto a interpretação das experiências religiosas sempre varia de sentido dependendo das ideologias convicções argumentos e crenças pessoais de quem as vivencia estuda e analisa Vamos dar um exemplo dessa variação interpretativa para algumas religiões neopentecostais demônios podem possuir pessoas para os cultos afrobrasileiros entidades espirituais ocupam ou incorporam nos fiéis para religiões espiritualistas espíritos desencarnados podem orientar obsediar ou subjugar indivíduos para a psiquiatria tais fenômenos podem ser transtornos dissociativos para a psicologia podem advir de um elemento de indução e sugestionabilidade de líderes religiosos O fato é que não há como negar a existência da experiência ou do fenômeno mesmo que suas interpretações sejam tão distintas Por essa pluralidade de sentidos precisamos desenvolver uma atitude de respeito para com as diferentes experiências religiosas Para quem as vivencia elas são reais modificando muitas vezes sua maneira de enxergar o mundo de se relacionar consigo mesmo com Deus e com as outras pessoas Nas experiências religiosas portanto as dimensões intelectuais emocionais espirituais sóciorelacionais e até físicas se inter relacionam Elas se mostram no cumprimento de regras morais na realização de ritos tradicionais como batismos casamentos crismas funerais preces e rezas nas expressões cúlticas como músicas cantos e danças no uso de símbolos ou gestos religiosos O certo é que todas as experiências podem variar em intensidade indo de um mero formalismo religioso motivado pela tradição até uma experiência interior profunda autêntica e mística onde se sente a presença do sagrado e do divino na própria vida Finalizando esse capítulo o estudo da Antropologia parece confirmar sem negar as reconhecidas diferenças entre as religiões que há uma tendência na busca do ser humano pelo sagrado e transcendente ou seja a ideia de Deus parece estar presente no inconsciente coletivo da humanidade Podem mudar as formas de expressão a linguagem utilizada os relatos dos mitos os tipos de ritos mas o que não vai se alterar é que por trás de todas essas diferenças existe o estabelecimento de uma estrutura religiosa comum com a qual a humanidade se relaciona A verdade é que independentemente do que cremos em que ou quem cremos ou como cremos nós humanos efetivamente cremos em algo Nem mesmo ateus e agnósticos escapam disso pois como diz o filósofo Max Scheler os que não são religiosos podem substituir os deuses por outras formas de ídolos seja a ciência ou diferentes formas de ideologias REFERÊNCIAS BENKÖ A Psicologia da religião São Paulo Ed Loyola 1981 BOTSARIS Alexandros Spyros Sem anestesia o desabafo de um médico os bastidores de uma medicina cada vez mais distante e cruel Rio de Janeiro Objetiva 2001 DAL FARRA Rossano GEREMIA César Educação em saúde e espiritualidade proposições metodológicas Revista Brasileira de Educação Médica 34 4 587597 2010 DICIONÁRIO BRASILEIRO DE TEOLOGIA BORTOLLETO FILHO Fernando Org São Paulo ASTE 2008 FERREIRA Valdinei Aparecido Verbete Sociologia da Religião p 859861 ROOS Jonas Verbete Religião p859861 GAARDER Jostein O livro das religiões São Paulo Companhia das Letras 2000 GADAMER HansGeorg O caráter oculto da saúde Petrópolis Vozes 2006 GIOVANETTI José Paulo Psicologia e espiritualidade Em AMATUZZI Mauro Martins Org Psicologia e espiritualidade São Paulo Paulus 2005 p 129145 LANDMANN Jayme A outra face da medicina Rio de Janeiro Salamandra 1984 MONDIN Battista O homem quem é ele elementos de antropologia filosófica São Paulo Edições Paulinas 1980 PAIVA Geraldo José de A religião dos cientistas uma leitura psicológica São Paulo Edições Loyola 2000 REBLIN Iuri A SINNER Rudolf Von Religião e sociedade desafios contemporâneos São Leopoldo SinodalEST 2012 Prefácio WIEBE Donald Religião e Verdade rumo a um paradigma alternativo para o estudo da religião São Leopoldo Sinodal 1998 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Rogério Lopes Revisão ortográfica Igor Campos Dutra Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados ESPIRITUALIDADE E CONTEMPORANEID ADE Prof Thomas Heimann NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relações sociais políticas econômicas e culturais A participar da reflexão a respeito dos valores humanos sociais éticos e espirituais A construir a partir de valores éticos e religiosos princípios norteadores de sustentabilidade e cidadania A atuar eticamente frente a diferentes situações no campo pessoal social e profissional A mediar conflitos no campo da ética e religiosidade a partir dos princípios de respeito diálogo e tolerância INTRODUÇÃO Nesse segundo capítulo teremos duas abordagens temáticas que vão transversalizar o campo da religião e espiritualidade em sua relação com a sociedade contemporânea A primeira parte do capítulo irá abordar alguns conceitos importantes para compreendermos diversos fenômenos atuais no campo religioso e relacional Conceitos como globalização fundamentalismo tolerância e secularização são tratados a partir do fenômeno da Globalização ao passo que os conceitos de trânsito sincretismo e mercado religioso estarão mais relacionados à religiosidade latino americana e brasileira A segunda abordagem temática do capítulo parte para um assunto que transcende especificidades culturais enfocando um fenômeno de cunho mais ontológico e existencial que diz respeito a cada ser humano na relação intra e interpessoal a culpa e o perdão A abordagem dessa temática é interdisciplinar pois envolve elementos não apenas da religiosidade mas também elementos filosóficos antropológicos psicológicos e teológicos com diferentes possibilidades interpretativas Que esses temas nos auxiliem a refletir sobre nossos pensamentos valores crenças e posturas cotidianas nos diferentes âmbitos da convivência humana FUNDAMENTALISMOS TOLERÂNCIA E FENÔMENOS RELIGIOSOS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO Um dos conceitos marcantes do século XXI é o da Globalização O mundo globalizado através dos meios de comunicação em especial a internet permite a interação e conexão entre pessoas em quaisquer partes do mundo De certa forma tornaramse tênues as linhas que demarcam nações territórios culturas e jurisdições Vivemos todos em uma espécie de aldeia global A Globalização não é portanto um fenômeno apenas da área da comunicação mas mundial das relações sociais econômicas culturais religiosas enfim das relações humanas Hall 2011 descreve que o processo de Globalização ao interconectar as pessoas em diversas partes do mundo cria um novo modelo de identidade no qual se deve levar em conta não mais os modelos de uma sociedade organizada entre fronteiras mas uma sociedade híbrida multifacetada transcultural em seus usos costumes tradições e concepções da realidade Afirma Hall as identidades nacionais estão em declínio mas novas identidades híbridas estão tomando o seu lugar 2011 p 69 Na relação com a religiosidade esse hibridismo retrata uma realidade muito presente em nosso país o sincretismo religioso Nele se constrói uma identidade religiosa híbrida resultado da fusão ou interpenetração de diferentes religiões seitas filosofias personagens crenças e visões de mundo numa mescla harmonizada de diferenças Para Araújo o sincretismo ocorre quando dois ou mais sistemas religiosos se combinam de modo que ambos deixam de existir como tais e produzem um sistema religioso original 2008 p930 A Umbanda que combina elementos das religiões africanas indígenas kardecistas e também elementos do catolicismo popular é um claro exemplo de sincretismo Além disso indivíduos que alternam idas a missas ou cultos frequentam esporadicamente centros espíritas tomam passes em um terreiro meditam num centro budista fazem terapia de Reiki consultam cartomantes etc com idas e vindas nesses diferentes contextos também demonstram uma atitude religiosa sincrética fruto de uma globalização e indiferenciação religiosa marcas da religiosidade brasileira O próprio trânsito religioso outra característica marcante de nossa religiosidade demonstra a diluição gradativa de referências identitárias que vivemos na contemporaneidade Isso é enfatizado pela socióloga da religião HervieuLéger que chama esse movimento de religiosidade à la carte marcada pela mudança fluidez e mobilidade de indivíduos entre as diversas opções religiosas existentes no seu contexto social HERVIEULÉGER 2005 p 28 Esse trânsito pode ser contínuo implicando novas experimentações religiosas motivadas por curiosidade modismos ou por necessidades pessoais com a possibilidade de sucessivos retornos à religião de origem Almeida e Montero acrescentam outra explicação para o trânsito religioso relacionandoo com o processo de mercantilização dos bens de salvação pelas diferentes instituições que oferecem cura sucesso e prosperidade aos adeptos numa espécie de mercado religioso 2001 p92 Diferentemente da Europa onde o movimento de secularização é cada vez mais visível com a religião perdendo sua força poder e relevância tanto para indivíduos quanto grupos implicando a diminuição significativa do envolvimento religioso no Brasil a força da religião ainda se faz muito presente na sociedade Apesar das mudanças nas formas de expressão religiosa ainda há forte influência da religiosidade na vida da maioria das pessoas No Brasil ainda consegue se encher estádios em cerimônias religiosas e cruzadas pela fé Vamos ver esse paradoxo a partir das imagens abaixo Clique aqui e assista ao vídeo sobre a secularização crescente na Europa templos religiosos se transformam em bares livrarias e outros estabelecimentos comerciais Já na relação com os Fundamentalismos a Globalização introduz algumas questões para reflexão é possível afirmar que a formação de uma identidade híbrida realmente está em processo na sociedade atual Em pleno século XXI podese afirmar que as diversas culturas com seus princípios com suas normas e valores com suas tradições com sua religiosidade estão convivendo harmonicamente O que dizer então das frequentes notícias que veiculam intolerâncias preconceitos radicalismos seja em relação à etnicidade a grupos minoritários os indígenas por exemplo a gênero ou mesmo em questões ligadas à religiosidade As questões da intolerância e do preconceito estão ligadas essencialmente ao Fundamentalismo que embora não seja algo novo reaparece ou globalizase no século XXI Podese afirmar que atitudes fundamentalistas muitas vezes têm corroborado práticas e atitudes discriminatórias para com aqueles que por assim dizer não se adequam a um padrão estabelecido pela sociedade ou por determinado grupo social O teólogo Leonardo Boff assim conceitua o Fundamentalismo Não é uma doutrina Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina É assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar do seu espírito e de sua inserção no processo sempre cambiante da história que obriga a contínuas interpretações e atualizações exatamente para manter sua verdade essencial O fundamentalismo representa a atitude daquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista BOFF 2002 p 25 O Fundamentalismo portanto se caracteriza basicamente pela ideia de que existe apenas uma verdade expressa na opinião do próprio fundamentalista e que outras ideias não podem ser consideradas respeitadas sequer devendo existir BOFF 2002 Nesse sentido precisamos admitir que os fundamentalismos nossos de cada dia estão muito mais perto de cada um de nós do que supomos Convivemos e até compactuamos com posturas fundamentalistas em diferentes áreas da vida A polarização crescente das discussões nas redes sociais por exemplo seja no campo das ideologias políticas religiosas morais científicas e até futebolísticas revelam o quanto os indivíduos estão imersos na onda dos radicalismos e fundamentalismos na sociedade atual marcados pela intolerância e agressividade das relações cotidianas Num olhar históricosocial identificamos exemplos clássicos de fundamentalismo Na Idade Média os tribunais da Santa Inquisição assumiram posições radicais condenando todos os que se posicionavam contra os preceitos da Igreja Também ideologias políticas como o Fascismo e Nazismo são reputadas como exemplos de fundamentalismos com efeitos nocivos à sociedade O Nazismo de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial ao afirmar a existência de uma raça superior às demais e a necessidade de extermínio das ditas raças inferiores numa posição de eugenismo extremo fez a humanidade presenciar os horrores dos campos de concentração onde milhares de judeus e outros grupos minoritários foram exterminados pelos nazistas De forma mais recente o atentado do grupo fundamentalista islâmico alQaeda em 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas do World Trade Center matando cerca de três mil pessoas mostra a relação entre o fundamentalismo e a violência Como vai dizer Odalia muitas vezes atitudes violentas são justificadas sob o argumento do pensar diferente O uso da violência se torna algo corriqueiro banal assumindo contornos de normalidade ao dizer que o ato violento se insinua como um ato natural cuja essência passa desapercebida ODALIA 2004 p 23 Com relação ao fundamentalismo religioso nele os indivíduos e grupos se apresentam como únicos detentores da verdade não permitindo outras compreensões do Sagrado e do Divino que não seja aquela considerada pelo fiel Esse pensamento pode levar à discriminação à intolerância ao desrespeito ao semelhante e em muitos casos até mesmo a atos de violência como já aconteceu no cenário social e religioso brasileiro É óbvio e claro que cada ser humano pode e deve eleger as suas ideias a respeito do Divino e do Transcendental O que está em discussão é o respeito à diversidade de pensamento seja ele religioso ideológico ou moral Aqui se mostra a importância de conhecermos o conceito de tolerância tal como propugnado por Gaarder Tolerância ou seja respeito pelas pessoas que têm pontos de vista diferentes do nosso é uma palavrachave no estudo das religiões Não significa necessariamente o desaparecimento das diferenças e das contradições Uma atitude tolerante pode perfeitamente coexistir com uma sólida fé e com a tentativa de converter os outros Porém a tolerância não é compatível com atitudes como zombar das opiniões alheias ou se utilizar da força e de ameaças A tolerância não limita o direito de fazer propaganda mas exige que esta seja feita com respeito pela opinião dos outros GAARDER 2004 p 145 Clique aqui e assista ao vídeo de Karen Armstrong sobre a intolerância e fundamentalismo religioso Cabe ao ser humano no respeito ao seu semelhante perceber as diversas religiões e culturas existentes compreender as diversas formas de religiosidade e de pensamento numa sociedade plural e caminhar para uma convivência ética onde possa dar testemunho do que crê sem desrespeitar quem pensa diferente Passamos agora a uma outra questão contemporânea que também está vinculada à promoção de uma cultura de paz e de resgate de relacionamentos mais saudáveis o tema da culpa e perdão CULPA E PERDÃO UMA QUESTÃO EXISTENCIAL Numa reportagem de capa da revista Veja 2002 intitulada Culpa por que esse sentimento se tornou um dos tormentos da vida moderna a revista aborda um tema de grande relevância não só para o campo da religião mas para toda vida relacional o sentimento de culpa A reportagem procura apontar para as culpas cotidianas de cada um que parecem não ser uma questão de escolha pessoal mas sim uma realidade inexorável aos indivíduos que vivem na sociedade moderna competição no emprego optar por filhos ou carreira o desempenho sexual comer demais a ditadura da beleza o insucesso financeiro são apenas algumas dentre as diversas culpas listadas Poderíamos perguntar se é possível um sujeito saudável psiquicamente olhar para o seu passado e dizer que nunca sentiu algum tipo de culpa Estudiosos do comportamento humano confirmam que a ausência completa de culpa é um dos indicativos para um possível diagnóstico de psicopatia e sociopatia Visto sob esse ângulo a culpa parece fazer parte da dimensão humana sendo uma questão inclusive civilizatória que nos permite viver em coletividade abarcando a dimensão da alteridade ou seja a capacidade de nos colocar no lugar do outro na relação interpessoal O fato de ser universal não tira da culpa o seu caráter pessoal particular e subjetivo Há elementos familiares religiosos sociais e culturais na sua constituição ou seja o que para determinados indivíduos grupos sociedades ou culturas poderia ser considerado um ato culposo para outros poderá ser um costume normal ou uma prática natural Com relação às fontes da culpa ela pode ser de origem interna ou externa As culpas externas são atribuídas ou impostas aos indivíduos pelos costumes tradições regras e leis dos mais diferentes âmbitos civis religiosos sociais profissionais e mesmo pessoais Quando uma regra ou lei é violada o transgressor se torna culpado perante ela mesmo que ele não se sinta culpado internamente o que denominamos de culpa objetiva COLLINS 2004 p158 Já a culpa subjetiva é o sentimento pouco confortável de pesar remorso vergonha e autocondenação que surge com frequência quando fazemos e pensamos algo que sentimos estar errado ou quando deixamos de fazer algo que julgamos que deveria ter sido feito 2004 p 158 A culpa subjetiva portanto está intimamente associada aos sentimentos humanos no sentido de provocar algum tipo de sofrimento psíquico remetendonos à segunda fonte da culpa essa de caráter interno a nossa própria consciência É possível afirmar que o ser humano é dotado de uma capacidade inata uma voz interior que lhe dá uma intuição íntima e pessoal do que é certo ou errado O curioso é que a culpa subjetiva pode brotar no indivíduo mesmo quando não há uma culpa objetiva ou exterior imposta a ele ou seja posso me sentir culpado por algo que objetivamente não foi provocado por mim exemplo a culpa de ter sido o único sobrevivente de uma tragédia ou acidente Isso nos leva a uma outra reflexão Afinal o sentimento de culpa é um aspecto positivo ou negativo na vida das pessoas e da própria sociedade Por mais paradoxal que possa parecer a culpa pode cumprir funções positivas e construtivas para a vida relacional Ela nos auxilia na prevenção de atos ilícitos ou prejudiciais pois antes mesmo de violar uma regra a culpa antecipatória já pode se fazer presente no indivíduo Uma segunda função é o ato da reflexão pois após cometer um ato que a sua consciência apontou como má a culpa surge e pode levar o indivíduo a uma autoanálise crítica das suas próprias ações A reparação no sentido de pedir perdão e restituir concretamente a quem lesamos também é um aspecto positivo da culpa Por último a culpa pode levar o indivíduo a não mais cometer um ato que sua consciência julgou ilícito e o fez sofrer gerando uma mudança positiva de comportamento Olhando para as funções positivas elencadas podese afirmar que um indivíduo que não sinta nenhuma culpa diante de algumas atitudes e decisões pessoais pode tornarse uma ameaça para si e para a sociedade A ausência da culpa que parece indicar a inoperância da consciência moral faz com que o indivíduo perca a noção dos limites e da liberdade do outro tornandoo um indivíduo perigoso socialmente Quanto aos aspectos negativos da culpa esses são mais fáceis de serem percebidos A culpa pode cobrar um alto preço do indivíduo como provocar crises de ansiedade angústia preocupação insônia mau humor baixa autoestima melancolia depressão e inclusive levar um indivíduo a cometer o suicídio Doenças como úlceras gastrites impotência frigidez enxaquecas entre outras também podem ter um forte componente emocional ligado às culpas individuais Culpas reprimidas e não resolvidas se tornam potencialmente sintomas neuróticos A culpa também pode ser utilizada negativamente como forma de manipular e chantagear pessoas Relacionamentos pautados sobre o sentimento de culpa são nocivos pois geram sentimentos como pena comiseração rancor indiferença criando um ambiente não saudável e de sofrimento aos envolvidos INFOGRÁFICO Um outro elemento que merece destaque nesse assunto que estamos tratando é a relação existente entre a culpa e pagamento Para o psiquiatra suíço Paul Tournier a culpa traz como consequência quase inevitável uma ideia de pagamento como se houvesse uma atitude psicológica enraizada no coração humano que nos diz que Tudo deve ser pago 1985 p200 Esse sentimento de dívida constante está presente em muitos atos religiosos Como diz Tournier 1985 p 201 basta lembrar as multidões inumeráveis de fiéis hindus que mergulham nas águas do rio Ganges a fim de serem lavados de suas culpas e até nas ofertas votivas e no ouro que cobrem as estátuas de Buda Igualmente são inúmeros os penitentes e peregrinos de todas as religiões que impõem a si mesmos sacrifícios práticas ascéticas privarse de qualquer forma de prazer ou duras jornadas como formas de pagamento seja por culpas cometidas ou até por graças alcançadas Tais pessoas parecem ter uma necessidade interna de pagar de expiar as suas culpas Porém essa ideia de pagamento não fica circunscrita ao mundo religioso O ser humano também busca pagar suas culpas do cotidiano Uma falha leve com a namorada por exemplo pode ser paga com um buquê de flores e um convite para jantar Um castigo imposto injustamente a um filho pode ser compensado com um presente e assim por diante A típica frase Essa ele me paga muitas vezes repetida por nós em inúmeros e variados contextos e situações expressa o que estamos aqui afirmando Todas as faltas erros delitos e pecados parecem exigir um pagamento cujo preço geralmente será proporcional ao tamanho do erro Na prática da confissão católica por exemplo a penitência que é atribuída pelo sacerdote ao fiel normalmente será proporcional à gravidade do seu pecado Os pagamentos podem ser inclusive inconscientes A psicanálise afirma que muitas doenças nervosas e físicas e até mesmo acidentes bem como frustrações na vida profissional podem ser tentativas de expiação da culpa que é totalmente inconsciente Seriam formas de punição que o sofredor administra a si mesmo e continua repetindo indefinidamente como uma espécie de fatalidade inexorável TOURNIER 1985 p 201 CULPA E RELIGIÃO Já vimos que muitas religiões também têm na culpa um de seus aspectos fundantes sendo por vezes até utilizada como instrumento de domínio das igrejas sobre os fiéis Como diz Tournier 1985 p 202 para apagar o passado de culpas e pecados uma expiação pagamento deve ser feita sendo esse o sentido de quase todos os ritos e sacrifícios praticados nas diferentes religiões Esperase que eles garantam a libertação da culpa descartando o débito que deu origem a ela Isso pode ser percebido desde as práticas primitivas de aplacar a ira dos deuses por oferendas e sacrifícios quando acreditavase que alguém havia cometido um delito grave contra os deuses Nas religiões orientais o conceito da transmigração das almas e da lei do carma trazem implícita a ideia de que para evoluir espiritualmente o indivíduo precisa pagar as suas faltas através de ações positivas negação de determinadas práticas ou realização de diferentes rituais Em religiões espiritualistas afrobrasileiras e mesmo em muitas denominações cristãs também está presente o conceito da teologia retributiva ou seja de que dificuldades doenças sofrimentos e tragédias seriam uma forma de pagamento por erros más ações ou pecados cometidos doutrina também conhecida como lei do retorno Por um longo tempo o cristianismo também se estruturou sobre a prática do pagamento por culpas e pecados cometidos Na Idade Média era comum a venda de indulgências que nada mais eram do que uma compra do perdão e da salvação eternas Além disso havia a veneração de relíquias sagradas encomendas de missas pagas realização de votos e promessas práticas de autoflagelo tudo como forma de expiar as suas culpas pagar as dívidas com Deus e ganhar algum mérito pessoal diante Dele Não é essa proposta porém que um cristianismo comprometido com os evangelhos bíblicos e com o ensino e obra de Jesus Cristo oferece aos seres humanos A igreja cristã tem o compromisso de proclamar a salvação a graça e o perdão de Deus à humanidade oprimida pela culpa a salvação conquistada em Cristo por Cristo e através de Cristo Essa salvação não tem preço não pode ser comprada por ninguém até porque para o cristianismo sacrifícios expiatórios ou esforço moral não são suficientes para pagar a dívida com Deus Na realidade o cristão não precisa pagar nada pois Cristo já pagou em seu lugar Como lembra Tournier é Deus mesmo quem paga Deus mesmo pagou o preço de uma vez por todas o preço mais caro que ele poderia pagar a sua própria morte em Jesus Cristo na cruz A obliteração destruiçãoeliminação de nossa culpa é livre para nós porque Deus pagou o preço Jesus Cristo veio para salvar o que estava perdido Mt 1811 TOURNIER 1985 p 2123 Em síntese a libertação total da culpa a salvação não é mais uma ideia remota de perfeição para sempre inacessível mas passa a ser personificada numa pessoa Jesus Cristo que veio como presente de amor e misericórdia dado por Deus à humanidade TOURNIER 1985 p 214 Essa é uma possibilidade que racionalmente é vista como loucura para aqueles que não creem tal como diz o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 118 O PERDÃO COMO ATO LIBERTADOR O grande ápice do nosso capítulo é a palavra perdão De nada adianta falar de culpas se não abrimos a possibilidade de refletir sobre o perdão Numa dimensão humana das relações interpessoais poderíamos afirmar que o perdão é uma das mais importantes ferramentas terapêuticas existentes nesta vida Numa sociedade cada vez mais pautada pela violência intolerância orgulho e individualismo a arte de perdoar se torna um dos grandes desafios humanos a ponto de esse ser um dos pedidos que Jesus inseriu na oração do Pai Nosso ensinando aos seus discípulos perdoa as nossas dívidas ofensas assim como nós perdoamos aos nossos devedores a quem nos tem ofendido Mateus 612 Jesus ensina e encarna o perdão intercedendo até mesmo em favor daqueles que o açoitaram crucificaram e o conduziram à morte dizendo Pai perdoalhes porque não sabem o que fazem Lucas 2334 O psicólogo americano Dr Frederic Luskin autor do livro O poder do perdão criador do Projeto do Perdão da Universidade de Stanford faz uma relação entre o bemestar trazido pelo perdão e a saúde do ser humano Luskin afirma que guardar ressentimentos culpar os outros ou apegarse às mágoas estimulam o organismo a liberar na corrente sanguínea as mesmas substâncias químicas associadas ao stress que prejudicam o corpo Outro estudo de Luskin indicou que as pessoas mais inclinadas ao perdão sofriam menos enfermidades e tinham menos doenças crônicas diagnosticadas TARANTINO 2003 Portanto perdoar e pedir perdão são ações promotoras da saúde na dimensão emocional física e espiritual Sabemos porém que isso não é fácil Mais do que ações o ato de perdoar e pedir perdão acabam sendo um longo processo que precisa ser buscado e aprimorado em nossa vida Numa perspectiva psicológica o perdão sempre acontece no interior do indivíduo sendo uma decisão íntima e pessoal Por isso é que perdoar e reconciliar são conceitos diferentes O perdoar é uma relação consigo mesmo já o reconciliar envolve a relação com o outro que nos feriu Podemos perdoar mesmo quando não houver reconciliação até porque por vezes ela é impossível de ser efetivada concretamente Porém quem não consegue perdoar acaba por fazer um pacto com o agressor no qual só vai aumentar sua própria dor e sofrimento ficando prisioneiro dela Por isso é que se diz que perdoar é libertar se pois quem perdoa rompe os laços com o mal feito a si eliminando o poder e domínio daquele que cometeu a ofensa Já numa perspectiva religiosa cristã o primeiro passo para aprendermos a perdoar e a recebermos o perdão é confiar que as nossas culpas e os nossos erros já foram todos pagos por Deus através da morte de Jesus Cristo O reconhecimento dos nossos erros que leve a um verdadeiro e sincero arrependimento que nos motive a viver de forma correta e a ter uma disposição interna constante em perdoar aos outros num compartilhamento mútuo e recíproco do perdão que nos é oferecido por Deus em Cristo Jesus é aquilo que o próprio Jesus ensina nos evangelhos Nada mais de auto sacrifícios penitências ou sofrimentos auto impingidos Culpa e perdão Questões existenciais que permanecerão atuando afligindo e ressoando nos corações humanos enquanto o indivíduo viver mas cuja resolução está mais próxima do nosso alcance do que podemos imaginar Dentre tantas possibilidades na visão cristã a resposta está na pessoa que se tornou a encarnação viva do amor da paz do consolo e do perdão chamada Jesus Cristo Crer e apoderarse desse perdão é a ferramenta terapêutica por excelência fonte de vida e alegria da qual todos sem exceção podem fazer uso REFERÊNCIAS ARAÚJO João Dias Sincretismo In Dicionário Brasileiro de Teologia Fernando Bortolleto Filho Org São Paulo ASTE 2008 p9301 BOFF Leonardo Fundamentalismo a globalização e o futuro da humanidade Rio de Janeiro Sextante 2002 COLLINS Gary R Aconselhamento cristão Edição Século 21 São Paulo Vida Nova 2004 GAARDER Jostein HELLERN Victor NOTAKER Henry O livro das religiões São Paulo Companhia das Letras 2000 HERVIEULÉGER D O peregrino e o convertido a religião em movimento Lisboa Gradiva 2005 HALL Stuart A identidade cultural na pósmodernidade 11 ed Rio de Janeiro DPA 2011 ODALIA Nilo O que é violência 6 ed São Paulo Brasiliense 2004 TARANTINO Mônica Perdoar é humano Revista Isto É 8 de janeiro de 2003 edição n1736 TOURNIER Paul Culpa e graça uma análise do sentimento de culpa e o ensino do evangelho São Paulo ABU 1985 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Marcelo Germano Revisão ortográfica Ane Arduin Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados A RELIGIÃO NO MUNDO Prof Mario Rafael Yudi Fukue NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A compreender o fenômeno religioso como uma dimensão antropológica constituinte das civilizações A conhecer as principais formas religiosas e as principais religiões do mundo ocidental e oriental A reconhecer os principais fatos da história das religiões bem como suas consequências A demonstrar consciência da diversidade respeitando o ser humano em suas diferenças geracionais religiosas de acesso credo gênero classes sociais escolhas sexuais e das pessoas com deficiência A analisar a importância dos valores éticos morais e espirituais na formação integral do ser humano INTRODUÇÃO Quem sou eu Como foi que tudo veio a existir Por que existe tanto sofrimento Existe um propósito no Universo Se Deus existe como faço para ser salvo O que acontece depois da morte essas são algumas questões presentes em todas as culturas humanas São questões existenciais pois lidam com a existência humana Elas formam a base de todas as religiões e por conseguinte de toda a cultura humana Conforme Gaardner não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo de religião 2013 p 11 As culturas dos povos foram moldadas conforme as respostas que suas religiões ofereciam às questões existenciais Por exemplo o conceito de Direitos Humanos tem profundas raízes na tradição bíblica especialmente no visão do ser humano como criado à imagem de Deus Outro exemplo é a preferência de hindus pela culinária vegetariana por razões religiosas pois acreditam que todos os animais carregam um atman grosso modo uma alma imortal Além da capacidade de moldar culturas os conceitos religiosos de um povo também influenciam a forma como indivíduos fazem suas escolhas cotidianas Por exemplo um judeu ou adventista não trabalham depois do pôr do sol da sextafeira que para eles marca o início do sábado dia de santificar a Deus e se dedicar ao descanso Outro exemplo é o pastor Dietrich Bonhoeffer que por razões religiosas se opôs ao regime nazista e chegou a afirmar Jesus Cristo e não homem algum ou o Estado é o nosso único Salvador Declaração de Bremen Em um mundo cada vez mais interconectado você certamente trabalhará com pessoas de diversas etnias e de variadas tradições religiosas Mesmo aqueles que não professam nenhuma crença específica são filhos e filhas de culturas marcadamente religiosas Por todas essas razões conhecer as grandes religiões do mundo é útil para desenvolver competências que ajudarão você a melhor se relacionar com todas as pessoas especialmente com aquelas que agem creem e pensam diferentemente de você Além disso esse conhecimento ajudará você a compreender melhor suas próprias questões existenciais Neste capítulo começaremos nossa jornada no Oriente e conheceremos a tradição dos hindus na Índia os ensinos de Sidarta Buda e a pregação da simplicidade e da ordem por parte de Confúcio e Lao Tsé Depois iremos ao Oriente Médio e estudaremos as religiões abraâmicas que moldaram a sociedade ocidental o Judaísmo e o Islamismo Para saber mais Direitos humanos o que a igreja tem a ver com isso Dietrich Bonhoeffer uma biografia RELIGIÕES DO ORIENTE Vamos encontrar nesta seção quatro grandes religiões Hinduísmo Budismo Confucionismo e Taoísmo De cada uma podemos tirar lições transmitidas por séculos e vividas por seguidores que buscavam sentido para a vida entre essas religiões e filosofias HINDUÍSMO O Hinduísmo não tem fundador nem credo fixo Na verdade o Hinduísmo é o conjunto de religiões que se originam das interações entre o povo nativo do vale do rio Indo e os povos indoeuropeus que chegaram na região 4 mil anos atrás A religião que surge dessas interações de povos sustenta uma visão cíclica da história A cada final de ciclo o Deus Shiva dança sobre o mundo até reduzilo a pedaços Depois o deus Brahman recria o mundo novamente Um hindu crê que depois da morte sua alma renasce numa nova criatura humana ou animal O que determina a próxima existência é o carma que aponta para o movimento de ação e reação o que você faz nesta vida determinaria sua próxima existência Veja que a visão cíclica também está presente na forma como o Hinduísmo explica o sofrimento e a libertação dele A esse ciclo de nascimento morte e renascimento dáse o nome de Samsara a roda da vida Para se libertar da Samsara o hindu deve dedicarse a ações nobres O que determina a próxima existência é o carma que aponta para o movimento de ação e reação o que você faz nesta vida determinaria sua próxima existência Também há no conceito de carma a ideia de ordem natural das coisas da existência que deve ser aceita para que o indivíduo aprenda e evolua As Castas Desde tempos imemoriais sempre houve quatro varnas cor em sânscrito De acordo com o RigVeda textos sagrados hindus as varnas se originam do sacrifício do deus Purusha da boca nasceram os brâmanes classe sacerdotal de seus braços vieram os guerreiros de suas pernas surgiram os agricultores e artesãos e de seus pés os servos Havia também os dalits intocáveis que teriam nascido do pó das unhas de Purusha A base religiosa desse sistema é a noção de impureza e pureza Castas baixas ocupam trabalhos impuros para ajudar as castas altas a se manterem puras que por sua vez realizam rituais religiosos em favor de todas as castas Para reencarnar em uma casta superior o indivíduo deve usar suas existências para melhorar seu carma Apesar de abolido pela Constituição indiana de 1947 o sistema de castas continua tendo um papel importante na sociedade indiana Preconceito Não é bem assim que os indianos pensam Quer saber mais sobre as castas Clique aqui Da vaca ao conceito de ahimsa resistência pela nãoviolência A vaca é um animal sagrado na Índia e é considerada mais pura do que um brâmane Para os hindus a vaca e todos os outros animais possuem atman alma e por essa razão não podem ser mortos Isso transformou muitos hindus em vegetarianos e conforme Gaarder 2013 p 48 abriu caminho para o ideal da não violência que ficou mais tarde conhecido com a luta de Gandhi pela independência da Índia Mahatma Gandhi ensina a ahimsa a resistência pela não violência Conheça mais de suas ideias neste link Como se libertar do carma Três vias de Salvação No Hinduísmo védico o ciclo do carma e reencarnação era visto como positivo Mais tarde a reencarnação foi vista como um círculo vicioso do qual seria necessário se libertar No período védico tardio de 1000 aC a 500 aC os escritos Upanishads introduziram a noção de Brahman a força divina que permeia todo o universo Assim três novas formas de se libertar do carma foram sendo gradualmente formados Via do sacrifício o hindu deve realizar corretamente os rituais religiosos além de seguir o caminho do ascetismo Via do Conhecimento conforme os Upanishads o ser humano alcança a libertação por meio da compreensão plena da unidade entre o atman alma e Brahman Via da Devoção nesta via ensinase que a libertação por meio do bhakti isto é a fé e devoção a Deus realizando os rituais sem pensar em recompensas O hindu empenhase em se libertar do carma e da reencarnação e atingir o moksha que é a união final do atman alma com o Brahman No moksha não haverá mais individualidade pois todos estarão dissolvidos no Brahman Três deuses Até o momento você já ouvir falar sobre Shiva o deus destruidor e Brahman o deus criador que permeia todo o universo mas o Hinduísmo também tem um terceiro grande deus Vishnu o deus sustentador Brahman conhecido como o Deus criador Senhor da Sabedoria cultuado pelos sacerdotes Todos nascem dele Vishnu o deus mantenedor da criação Shiva deus renovador senhor da vida e da morte o deus dos iogues retratado como um asceta traz a doença e a morte mas também a cura O hindu comum não dirige suas orações aos três grandes deuses mas aos milhares de divindades locais Quase todas as aldeias têm a sua própria divindade local Além disso há uma infinidade de deusas Segundo Gaarder 2013 p 48 Alguns adotam a teoria de que essa abundância de deusas não passa da expressão de uma grande e poderosa divindade feminina a Rainha do Universo ou DeusaMãe A importância das deusas na religião indiana é visível pela escolha da Mãe Índia Bhárata Mata ou Bharthamata como a divindade nacional do atual Estado da Índia BUDISMO O Budismo teve início com o príncipe Siddartha que cresceu em meio à fortuna e ao luxo Aos 29 anos ele teria tido o primeiro contato com um velho um doente e um cadáver Ao mesmo tempo ele teria visto um alegre asceta Dessa comparação ele concluiu que a vida de conforto não concede plenitude à existência Siddatha renuncia à vida do palácio e parte para uma vida de ascetismo que não lhe traz resultados Tendo experimentado os dois extremos conforto e ascetismo Siddartha conclui que nenhum deles levavam ao nirvana Por isso propôs o caminho do meio da meditação pelo qual chegou à iluminação bodhi Pela meditação ele percebe que todo o sofrimento do mundo é causado pelo desejo Assim é apenas suprimindo o desejo que se pode escapar de outras encarnações No Sermão de Benares Siddartha apresenta as quatro verdades que guiam o ser humano na superação do sofrimento Tudo é sofrimento O apego aos elementos dessa existência nos leva ao sofrimento tudo aquilo que amamos não dura para sempre Tudo é maya ilusão Desejo é a causa do sofrimento Se tudo é ilusão não há razão para se apegar ao que quer que seja pois sofremos sempre que perdemos o ser ou o objeto a que somos apegados Quando o desejo cessa começa o nirvana Abandonar o desejo e conhecer a transitoriedade da vida é a saída do carma e o início do Nirvana Uma pessoa alcança o Nirvana pelo caminho das oito vias 1 entendimento justo conhecer o caminho que conduz à cessação do sofrimento 2 resolução justa não prejudicar ou matar qualquer ser vivo 3 palavra justa absterse da mentira calúnia e injúria 4 conduta justa absterse de tirar a vida de roubar e praticar a luxúria 5 sustento de vida justo absterse das armas álcool tóxicos e de qualquer atividade ilícita 6 esforço justo a vontade necessária para estancar as más qualidades que afloram à mente 7 pensamento justo ter consciência do seu próprio corpo dos sentimentos e das atividades da mente 8 meditação justa a serenidade interna é desenvolvida através da prática de meditação que em última análise conduz ao nirvana Tipos de Budismo Depois da morte de Siddartha o Budismo se dividiu em duas tendências o Theravada a escola dos antigos predominante no sul da Ásia e o Mahayana grande veículo predominante na China Coréias e Japão O Budismo Theravada enfatiza a salvação por meio de ascetismo e meditação Não há deuses E nem mesmo Buda seria capaz de iluminar alguém Cada indivíduo deve imitar o exemplo de buda até atingir o Nirvana Nessa linha de Budismo o nirvana só é possível para monges Conheça mais do Budismo Theravada e Mahayana assistindo o vídeo O Budismo Mahayana por seu turno ensina que todas as pessoas podem alcançar o nirvana A famosa escola Zen Budista por exemplo enfatiza a visão direta de Buda por meio de um estudo e contemplação de si mesmo Na prática zen a iluminação também pode ocorrer nas atividades rotineiras Por esse motivo no Japão atividades como fazer arranjo de flores ikebana tomar chá poesia haicai e lutar bushidô passaram a ter importância ritualística Assista A esse vídeo e compreenda a diferença entre as escolas budistas CONFUCIONISMO E TAOÍSMO Com seu PIB de 127 trilhões de dólares 2017 a China é segunda maior potência econômica Provavelmente hoje ou no futuro próximo seu trabalho e relações terão algum ponto de contato com o maior país da Ásia Por isso conhecer as religiões que formaram a cultura e religiosidade chinesa são importantes Confucionismo Confúcio nasceu em 551 aC em uma China devastada pelas guerras civis Depois de tentar reformar o país pela via política se estabelece como professor particular A filosofia de Confúcio não dedica muita atenção às grandes perguntas existenciais mas à vida diária e a busca por harmonia Ele está mais preocupado com uma visão política pragmática do que com o destino da alma após a morte Ele teria dito quando não se compreende nem sequer a vida como se pode compreender a morte Ensinos Confúcio buscava o tao a harmonia predominante do Universo que só pode ser alcançada com conhecimento e compreensão Nesse ponto o estudo da tradição era capaz de ensinar ao ser humano as regras éticas corretas as celebrações rituais corretas e seu lugar correto na sociedade Para Confúcio os conceitos de uma atitude correta em todas as esferas são piedade filial respeito e reverência Outro ponto do ensino de Confúcio é a simplicidade como base da harmonia Por isso um mundo em paz começa com honra do indivíduo Para ele se um indivíduo possui honra terá caráter Se tem caráter seu lar terá harmonia Se há harmonia na família o país estará em paz E países em paz produzem um mundo harmonioso Quer mudar o mundo Comece com seu quarto O Confucionismo conquistou as classes dominantes tornandose praticamente uma religião estatal que influencia a forma chinesa de pensar até hoje O coração do povo simples não foi conquistado por Confúcio mas por Lao Tsé fundador do Taoísmo Taoísmo A origem do taoísmo é apresentada com o nome de um homem chamado LaoTsé o grande e velho mestre Teria sido contemporâneo de Confúcio O Livro Sagrado e seus conceitos Uma boa ideia do início do taoísmo como conta a tradição é o que lemos no texto de Huston Smith 2001 p 194 que assim coloca Laotsé recolheuse durante três dias e retornou com um magro volume de 5000 caracteres intitulado Tao Te King ou O Caminho e o seu Poder Um livrinho de apenas 25 páginas e 81 capítulos No Tao Te King tudo gira em torno do Tao que literalmente significa caminho Esse caminho pode ser entendido de três maneiras 1 Tao é o caminho da realidade última 2 Tao é o caminho do Universo o poder propulsor de toda a natureza o princípio ordenador por trás da vida 3 O Tao referese ao caminho da vida humana quando ela se harmoniza com o Tao do Universo YINYANG Uma das principais características do taoísmo é a sua noção da relatividade de todos os valores e como ideia correlata a identidade dos opostos Nesse aspecto o taoísmo está ligado ao tradicional símbolo chinês do yinyang Essa polaridade resume todas as oposições básicas da vida bemmal ativopassivo etc Mas as metades embora estejam em tensão se contemplam e se equilibram com a outra A vida não se dobra sobre si mesma e chega completando o círculo à percepção de que tudo é um e tudo está bem SMITH 2001 p 210 O conceito de Tao e YingYang está presente na realidade brasileira especialmente em práticas vindas da China tais como terapias chinesas do DoIn Acupuntura e Reiki FengShui harmonização de ambientes artes marciais como Kung Fu Quer conhecer mais desse conceito Leia neste link e assista esse vídeo RELIGIÕES ABRAÂMICAS O que Cristianismo Judaísmo e Islamismo têm em comum Seus seguidores adoram somente um Deus Senhor e Criador de tudo As três religiões possuem origem no patriarca Abraão por isso também são chamadas de religiões abraâmicas Neste capítulo estudaremos o Judaísmo e o Islamismo JUDAÍSMO O Judaísmo possui muitas narrativas que são compartilhadas pelo Cristianismo e Islamismo O Monoteísmo das religiões abraâmicas reconhece Elohim como o Deus único o criador do mundo e de suas criaturas Toda vida depende dele e tudo o que é bom flui dele É um deus pessoal que tem preocupação com as coisas que criou e nelas intervém O nome pessoal de Elohim é representado pelas letras IHVH que significa eu sou o que sou em hebraico Assim conforme o relato de Gênesis Deus criou o universo e fez o ser humano à sua imagem e semelhança Tudo na mais perfeita ordem pois viu Deus que tudo era bom Gênesis 131 Perceba que na tradição abraâmica o ser humano está acima das outras coisas criadas O conceito de imagem de Deus serviu de base na criação dos Direitos Humanos que prevê direitos inalienáveis do ser humano como liberdade e direito à vida Além disso o ser humano é considerado o parceiro de Elohim na cuidado e preservação da Criação Por isso no Judaísmo a ética ecológica brota do relacionamento com Deus Com a desobediência pecado de Adão e Eva o primeiro casal a humanidade abandona o relacionamento com Deus Essa distância e rebeldia contra Deus seria a causa do sofrimento humano Visto que o ser humano é incapaz de alcançar a Deus e pagar seus pecados o próprio Deus promete abençoar todas as famílias por meio de Abraão e seus descendentes Abraão foi chamado por Deus Elohim da distante Ur dos Caldeus cidade situada na região da Mesopotâmia para ocupar a Terra de Canaã situada nas proximidades do Mar Mediterrâneo Deus cumpre sua promessa e concede inúmeros filhos a Abraão Um deles é Isaque que vem a ser pai de Jacó também chamado de Israel termo que designa todos os descendentes de Jacó O povo de Israel consideravase o povo escolhido não como uma superioridade étnica mas como resultado da Aliança de Deus com Abraão Assim Israel considera sua missão a redenção dos povos e reconciliação de toda humanidade com Elohim Libertação do Egito e os 10 Mandamentos Um evento importante na história do povo de Israel é a libertação da escravidão do Egito Após anos de escravidão Deus envia Moisés ao Egito para libertar os israelitas Confira essa história a partir de Gênesis capítulo 25 e a história da Libertação da Escravidão do Egito nos capítulos iniciais do livro de Êxodo neste link Durante a fuga do Egito após a épica travessia do Mar Vermelho Moisés recebe da parte de Deus a Lei ou os dez mandamentos ou decálogo fonte da ética judaica KWASNIEWSKI 2008 p 551 Você pode conhecer os 10 Mandamentos neste link O Reino de Israel e o Messias Por volta do ano 1000 aC o povo de Israel passa a ser governado por monarquias Destaques para o rei Davi que unifica as 12 tribos de Israel e também para o rei Salomão que constrói o famoso Templo de Jerusalém no século X aC Depois do reinado de Salomão Israel se divide em dois reinos Israel norte e Judá sul No período monárquico tardio Israel e Judá são palco da veneração a outros deuses aliada à injustiça social Deus levanta profetas para denunciar a infidelidade do povo e a opressão dos pobres pelos ricos Um exemplo foi o profeta Amós que viveu por volta de 750 aC Desde os primórdios Israel consideravase o povo que traria paz e redenção ao mundo A partir dos profetas a esperança por um reino de paz centralizase na vinda de um messias o Ungido que seria descendente do rei Davi Muitos israelitas passaram a acreditar que esse Messias traria de volta o período de glória e poder dos tempos do reinado de Davi mas a esperança messiânica mudou ao longo da história Quer saber mais sobre o Messias Clique aqui Diáspora e Perseguição Em 722 aC os assírios devastaram Israel e em 587 aC Judá cai sob domínio babilônico Os habitantes de Judá tiveram a permissão de voltar a sua terra em 539 aC Daí em diante passaram a se tornar conhecidos como judeus A partir do século IV aC a região de Judá é conquistada pelo Império Romano e em 70 dC Jerusalém é destruída pelos romanos o que leva o povo judeu a se dispersar pelo mundo O povo judeu se dispersa pelo mundo de novo Ao longo da história os judeus enfrentaram diversas perseguições Já em 1492 por exemplo os judeus foram expulsos da Espanha E entre 1933 e 1945 o avanço nazista na Europa comete o maior genocídio judeu da história com 6 milhões de judeus mortos no holocausto Em 1948 a ONU cria o atual Estado de Israel No entanto a convivência com os povos da região não é pacífica O Oriente Médio vê de um lado israelenses com seus aliados ocidentais e de outro lado palestinos com seus aliados em sua maioria países árabes e muçulmanos Por causa do holocausto para muitos judeus de linha reformista o messias não será mais uma pessoa mas apenas uma era de paz futura Os escritos sagrados O chamado cânone judaico reconhece 24 livros divididos em três grupos Torah a Lei de Moisés Nevim os Profetas os livros históricos e proféticos Ketuvim os Escritos os demais livros O judeus obedecem ao Talmude texto baseado em tradição oral e usado pelos rabinos como orientação aos fiéis em situações concretas KUCHENBECKER 2005 O Sábado e a principais festas judaicas Shabat sábado o shabat dura do pôr do sol de sextafeira até o pôr do sol de sábado É uma lembrança do descanso de Elohim após a Criação Rosh háshaná AnoNovo celebrado em setembro ou outubro rememora Elohim como criador e rei e convida o povo à autoanálise e ao arrependimento Culmina no Yom Kippur Dia do Perdão Pessach Páscoa relembra a libertação da escravidão e fuga do Egito É ponto central o fato de Deus ter poupado a vida dos primogênitos daqueles que pintaram os batentes de suas portas com o sangue de cordeiros sacrificados Quer conhecer mais sobre a diferença entre o Judaísmo e o Cristianismo Clique aqui Para acessar o link você deverá estar logado em sua conta Google da Ulbra ISLAMISMO O Islamismo é a religião que mais se expande no mundo e abarca 15 da população mundial GAARDER 1998 Islã em língua árabe significa submissão O muçulmano aquele que segue o Islã submete sua vida à Alá e tem Mohammed Maomé como o grande profeta O Islamismo é classificado como uma religião revelada pois Maomé o último e mais importante dos profetas teria recebido revelações por meio do anjo Gabriel que dariam origem ao sagrado livro Corão do árabe al qurrãn que significa leitura Por meio deste livro sagrado o muçulmano aprende a se submeter a Alá o Deus onipotente e Criador de todas as coisas Etimologicamente a palavra Alah se relaciona com a palavra hebraica el que é utilizada na Bíblia para nomear o Deus dos hebreus Conforme a fé islâmica Alá criou o ser humano e deulhe uma posição privilegiada no Universo O ser humano seria uma criatura divina perfeita e possuidora de uma alma imortal boa por natureza Não há a noção de um pecado herdado mas o muçulmano combate o pecado pela submissão à vontade de Alá Basicamente cinco pilares são essenciais numa existência de submissão a Alá 1 Confissão de Fé Monoteísta Alá como Deus único e Maomé como o seu grande profeta 2 Realização de cinco orações diárias voltadas para Meca 3 Você deve viver em generosidade para com os pobres 4 Jejum durante o mês de ramadã e abstinência total de carne de porco e álcool e 5 Peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida Caso uma pessoa não tenha condições financeiras de ir a Meca pode cooperar com o envio de uma pessoa que a representa na peregrinação Você deve estar se perguntando Por que Meca Meca era a principal cidade árabe desde os tempos de Maomé O profeta inicia as pregações nessa cidade mas os poderosos se opuseram à pregação monoteísta pois ela ofendia o tradicional politeísmo dos árabes Assim em 622 Maomé sai de Meca e vai para Medina Esse episódio é conhecido como hégira partida LUCCHESI 2002 Na década seguinte ele conquista Meca por meios militares e diplomáticos O conjunto das atividades desenvolvidas por Maomé com vistas ao retorno a Meca é conhecido como jihad A fé islâmica ressignificou o centro de peregrinação politeísta de Meca Antigo artefato politeísta Maomé ensina que a Kaaba de Meca foi erigida por Adão destruída no Dilúvio e reconstruída por Abraão e Ismael o antepassado dos árabes A partir daí a Kaaba se torna o local mais sagrado do Islamismo Fonte Pixabay A morte e Salvação Influenciado pelo Cristianismo e pela cultura grega o Islamismo ensina que existem dois destinos após a morte 1 o muçulmano vai ao paraíso desfrutar dos seus deleites e contemplar o rosto de Alá e 2 a alma do infiel vai ao inferno O muçulmano aguarda o dia do juízo e o retorno de Jesus que virá para proclamar o Islão como religião oficial Nesse dia todos serão julgados e receberão o pagamento de suas ações O cisma no Islã após Maomé Antes de sua morte em 632 Maomé conseguiu unificar a península arábica fazendo do Islamismo um fator de união e identidade mais forte do que os antigos laços familiares e tribais No entanto após a morte de Maomé o movimento se divide Em um primeiro momento a liderança do movimento califado foi assumida pelos parentes de Maomé Os três primeiros califas eram parentes de Maomé O quarto califa Ali era genro de Maomé e foi assassinado por seus adversários Os seguidores de Ali eram identificados como xiitas do árabe Shiat Ali que significa o partido de Ali e julgavam que o califado só poderia ser exercido por um descendente do profeta Por sua vez o partido sunita julgava que a liderança poderia ser exercida por qualquer homem reconhecido pela Umma comunidade islâmica como califa Hoje os xiitas se concentram no Irã e Iraque enquanto que sunitas são majoritários no restante do Oriente Médio Ao ler a palavra califado você deve estar se perguntando E o Estado Islâmico Clique aquii e leia mais sobre isso Para acessar o link você deverá estar logado em sua conta Google da Ulbra ISLAMISMO NO BRASIL E NO MUNDO Em nosso país a religião islâmica chegou inicialmente por meio dos escravos vindos da África Mais tarde houve uma grande confluência migratória de árabes para o Brasil contribuindo para a expansão da religião A primeira mesquita no Brasil foi fundada em 1929 em São Paulo Atualmente existem aproximadamente 35167 muçulmanos no Brasil de acordo com o último censo IBGE enquanto que a população mundial de adeptos ultrapassa 17 bilhões de pessoas INFOGRÁFICO REFERÊNCIAS FLOR Douglas Moacir Judaísmo e Islamismo in Cultura Religiosa Canoas ULBRA 2017 Religiões Orientais in Cultura Religiosa Canoas ULBRA 2017 GAARDER Jostein HELLERN Victor NOTAKER Henry O Livro das Religiões São Paulo Companhia das Letras 2013 KUCHENBECKER Valter Org O Homem e o Sagrado Canoas Ulbra 2005 KWASNIEWSKI Guershon Judaísmo in Dicionário Brasileiro de Teologia São Paulo ASTE 2008 LUCCHESI Marco coord Caminhos do Islã Rio de Janeiro Record 2002 SMITH Huston As religiões no mundo nossas grandes tradições de sabedoria São Paulo Cultrix 2001 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Marcelo Germano Rogério Lopes Revisão ortográfica Ane Arduin Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados CRISTIANISMO E CULTURA OCIDENTAL Prof Maximiliano Wolfgramm Silva NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A reconhecer a presença do fenômeno religioso nas mais diversas áreas da cultura ocidental com foco no cristianismo A avaliar a influência do cristianismo no estabelecimento de relações sociais políticas econômicas e culturais A identificar conhecer e refletir acerca de elementos e princípios da tradição cristã presentes no mundo ocidental em uma perspectiva da identidade confessional da instituição INTRODUÇÃO Em uma das disciplinas cursadas no doutorado identificamos mais de 20 definições diferentes para a palavra cultura Obviamente elas apresentavam inúmeros elementos comuns mas também características distintas Analisadas a partir de uma certa perspectiva cada definição cumpria um papel sustentar a argumentação do seu proponente Nessa tentativa específicos elementos do conceito costumam ser destacados de maneira que uma tese possa ser mais bem articulada A definição apresentada neste capítulo não é diferente Zoltán Kövecses define cultura como um conjunto de entendimentos compartilhados Alguém pode argumentar que essa definição é demasiadamente limitada por entre outras coisas não enfatizar objetos reais que participam da cultura No entanto a definição se torna mais abrangente à medida que compreendemos que ela também inclui os entendimentos compartilhados que as pessoas têm em conexão com aqueles objetos reais Esses entendimentos compartilhados lidam com as concepções das pessoas com a forma como elas entendem a si seu mundo sua realidade Esses entendimentos formam sistemas conceituais que governam a maneira como funcionamos na vida cotidiana São essencialmente nossos processos mentais e os sentimentos e emoções desencadeados por esses processos que definem a maneira como interagimos com todos os entes que compõem a realidade de nossa existência o que inclui a nós mesmos Inúmeros são os elementos que compõem o conjunto de entendimentos compartilhados que caracterizam a cultura brasileira a qual integra o conjunto mais amplo que caracteriza a cultura ocidental Os processos históricos que constituíram essas culturas são diversos e complexos e podem ser compreendidos a partir de perspectivas diversas O objetivo deste capítulo é abordar nossa constituição cultural com ênfase em seu elemento religioso com foco no Cristianismo Tal ênfase se justifica pelo profundo impacto que a religiosidade cristã também com suas raízes judaicas tem tido nos últimos dois mil anos do hemisfério ocidental Assim nosso estudo incluirá um passeio histórico por este período que em seus complexos movimentos deu origem ao mundo ocidental Neste passeio diversos entendimentos caracteristicamente cristãos serão destacados em seu impacto na história e cultura ocidentais Que este passeio seja rico de experiências e aprendizados para você Este capítulo considerará o período histórico compreendido entre a vida e obra de Jesus de Nazaré e os movimentos reformatórios do século XVI Os últimos cinco séculos de nossa história serão tratados no capítulo capítulo 5 o qual trará um foco mais específico sobre a religiosidade brasileira O CRISTIANISMO E A CULTURA OCIDENTAL UMA CULTURA JUDAICOCRISTÃ O cristianismo surge de dentro do judaísmo Reconhece como sagrado o texto da Torah e consequentemente partilha inúmeras percepções de mundo com a fé testemunhada pelos judeus Por isso muitos percebem o pensamento ocidental como sendo caracteristicamente judaicocristão A Criação de Adão de Michelangelo Fonte Wikimedia Um tema central na fé judaica e também na fé cristã é a crença em um Deus Criador Não se tem por objetivo aqui entrar no velho embate entre evolucionismo e criacionismo mas ressaltar o impacto que a percepção criacionista filosoficamente falando teve sobre a história do ocidente Pensar a realidade a partir de um Criador estabelece uma clara distinção entre Deus e todo o universo Mais do que isso implica a compreensão da realidade que molda nossa maneira de interagir com o mundo e de entender nosso papel na história deste mundo Karl Löwith filósofo alemão falecido em meados do século passado desenvolve uma interessante tese sobre esse tema Ele argumenta que existem duas visões da história do mundo uma cíclica e outra linear O calendário Maia que causou inúmeras especulações apocalípticas em 2012 apresenta essa visão cíclica de realidade Fonte Wikimedia De acordo com sua tese a visão cíclica se origina em uma compreensão da história da humanidade como um reflexo da realidade cíclica percebida na natureza no universo A maneira como os corpos celestes se movem as diferentes estações do ano a reprodução dos seres vivos todos esses elementos apontavam para uma realidade que não tinha fim mas que se repetia de alguma maneira Nas civilizações não influenciadas pelo pensamento cristão ainda se pode ver esse entendimento cíclico da história Um exemplo é a relação entre Brahman Vishnu e Shiva uma expressão da compreensão hinduísta da realidade alicerçada nos conceitos de carma e reencarnação A outra visão é linear Nela é marcante a ideia de uma história que segue a partir de um ponto inicial Nessa visão entendese a realidade com base em eventos passados quando Deus estava atuando diretamente na história do universo crença na Criação e na Encarnação de Deus em Jesus por exemplo e prevêse eventos que acontecerão no final dos tempos visão escatológica Isso confere a essa visão uma característica futurista de uma história que ainda vai alcançar seu clímax De acordo com Löwith essa visão tem suas raízes na tradição judaica e cristã e é essencialmente diferente da visão cíclica A cultura ocidental está profundamente conectada às ideias judaico cristãs e essa é a razão pela qual mesmo os entendimentos seculares da história apontam para algum traço progressivo na história humana o que é uma consequência dessa visão linear Isso leva a uma compreensão de que a humanidade está progredindo para um objetivo final ou pelo menos em direção a um mundo melhor Tal perspectiva pode ser percebida em pensadores como Georg Hegel que constrói sua filosofia a partir de um Deus que se realiza através da história vendo o cristianismo e o hegelianismo como o estágio final do processo Outro exemplo é Karl Marx o qual via no proletariado o instrumento para alcançar o objetivo de uma transformação mundial nas relações socioeconômicas Podemos ainda citar Auguste Comte o qual inebriado pelo positivismo reflete sobre como a superioridade intelectual e moral pode ser alcançada pela humanidade para melhorar sua própria existência O fato é que esses pensadores entre outros usam conceitos ideias linguagem originados no mundo judaicocristão e isso evidencia uma profunda conexão entre o cristianismo e o pensamento ocidental Essa tese sustenta que mesmo que a humanidade não seja capaz de alcançar um estado de perfeição ela caminhará nessa direção Esse senso de futuro de mudança de status de algo a ser alcançado originase da perspectiva judaica e cristã Nele o futuro é o verdadeiro foco da história No ocidente esse esquema teleológico ou escatológico tornou possível que a história se tornasse universal dando a ela um significado existencial JESUS VIDA E OBRA A historicidade de Jesus No século passado uma enorme especulação dominava as conversas ao redor da pergunta Jesus realmente existiu Em círculos mais céticos sua história era encarada como um grande mito religioso e os relatos de sua vida como contos fantasiosos recitados por pessoas ingênuas No entanto as pesquisas recentes têm demonstrado que há consenso em um ponto Jesus existiu Se por um lado ainda há discussão sobre os milagres que marcaram sua história de vida a comunidade científica hoje não nega que há quase dois mil anos surgiu na região da palestina um homem que impactando profundamente a vida de centenas de pessoas deu origem a um movimento religioso que transformou a história do ocidente de tal maneira que a dividimos em antes e depois de Cristo Nesta disciplina tratamos o texto bíblico como saber e herança religiosa reconhecendo o valor dado a ele por cristãos em todo o mundo Não nos ateremos aqui aos detalhes da história de Jesus registrados no Novo Testamento A leitura de um dos evangelhos como o de Mateus ou uma sessão de cinema são boas opções para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre o registro que temos de sua vida Buscaremos resumidamente extrair daquele registro temáticas que norteiem nossa percepção da fé que é elemento estruturante da história e cultura ocidentais Algumas opções sugeridas são Jesus a História do Nascimento 2006 direção de Catherine Hardwicke O Filho de Deus 2014 direção de Christopher Spencer A Paixão de Cristo 2004 direção de Mel Gibson ou A Maior História de Todos os tempos 1965 direção de George Stevens Ensinamentos Na época de Jesus havia vários rabis Eram como professores mestres procurados por aquelas pessoas que desejavam aprender de sua sabedoria Mesmo pelos seus opositores Jesus foi reconhecido como rabi Partindo da realidade dos alunos ele transmitia mensagens transformadoras Grande exemplo disso são suas famosas parábolas Com certeza uma das mais conhecidas e significativas dessas parábolas é a do Filho Pródigo a qual muitos preferem chamar de A Parábola do Pai Amoroso Por quê Leia o texto de Lucas 15 através deste link e tente responder você mesmo Além disso busque compreender que grande verdade transcendente Jesus ensina através dessa parábola Uma dica um conceito central na interpretação dessa parábola é a palavra amor Parábola é uma comparação Nela fazse uso de personagens objetos lugares situações do cotidiano das pessoas e a partir destes são feitas comparações que transmitem mensagens transcendentes Jesus transmitia mensagens transformadoras Na verdade o conceito de amor pode ser usado para resumir os ensinamentos de Jesus Aqui mais uma vez percebemos a influência do cristianismo no pensamento ocidental Enquanto outras culturas destacam outros princípios para o viver humano a cultura japonesa marcadamente influenciada pelo Xintoísmo aponta para a honra como valor mais nobre por exemplo no ocidente o amor é reconhecido como o bem supremo na vida e nas relações humanas Diante disso tornase significativo refletirmos um pouco sobre o que o amor significa em um sentido bíblicocristão Comumente usamos a palavra amor para falar de paixão ou desejo sexual Outras vezes compreendemos amor como o mais nobre de todos os sentimentos No entanto o amor ensinado por Jesus está acima de desejos físicos e sentimentalismos Ele se concretiza em uma postura em uma atitude diante da vida Tal compreensão nos ajuda a entender melhor palavras bíblicas como Amem os seus inimigos Mateus 544 Para Jesus o amor ultrapassa qualquer sentimento desconfortável coloca o interesse do semelhante acima de sensações e desejos pessoais e age para o bem das pessoas Portanto no cristianismo não podemos desvencilhar a palavra amor de ação O amor não pode ficar no nível das ideias sentimentos ou desejos Para alcançar a sua essência ele precisa manifestarse em ações Assim percebemos em Jesus um mestre que ensinava através de palavras e através de exemplos atitudes Ele não ficou apenas dizendo Ama teu próximo ele mesmo foi prova irrevogável desse amor Como ele mesmo disse Ninguém tem mais amor por seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles João 1513 Encarnando a compreensão divina de amor o testemunho de vida de Jesus tornase referencial existencial e ético para os seus seguidores inspirando milhões de pessoas até os dias de hoje Suas palavras são Eu lhes dou este novo mandamento amem uns aos outros Assim como eu os amei amem também uns aos outros João 1334 DE PERSEGUIDA À RELIGIÃO OFICIAL DO IMPÉRIO A expansão Na primeira metade do século I o Império Romano vivia um período de relativa prosperidade A cultura era dominada pelo helenismo e a religião apresentava diversas formas de politeísmo Havia segurança na maioria das estradas que ligavam o Império e era grande a atividade nos portos O período ficou conhecido como Pax Romana Dentro dessa realidade os judeus eram um povo que ainda mantinha em grande parte traços distintos Em geral seus costumes e religiosidade os diferenciavam do restante do Império Muitos deles estavam espalhados pelo mundo de então como consequência da diáspora Foi nessa realidade que o Cristianismo do Novo Testamento floresceu A antiga moeda com duas mãos entrelaçadas representa a busca romana por harmonia e paz no império A imagem foi largamente utilizada durante o período da Pax Romana Fonte Wikipedia A mensagem cristã era transmitida de boca em boca através de pessoas que impactadas pela história da ressurreição de Jesus comprometiam suas vidas com a causa do Mestre judeu Seus seguidores se espalharam pelo mundo romano e cada novo convertido tornavase um multiplicador dos ensinamentos de Jesus Entre os inúmeros missionários destacase a figura de Paulo Com sua vida dando uma volta de 180 graus tornase o mais importante divulgador da mensagem sobre Jesus no mundo não judeu Sua incontestável convicção de fé alcançou o centro do Império Roma Com o passar do tempo o Cristianismo avançava cada vez mais Pessoas consideradas inimigas do estado romano muitas vezes eram condenados à tortura ou morte sendo jogados em arenas com feras selvagens Esses condenados eram chamados de bestiários Fonte Wikimedia Alguns por questões religiosas outros por questões políticas percebiam na mensagem de Jesus e no número de seus seguidores uma ameaça em potencial Isso ocorreu tanto entre líderes judeus como entre líderes romanos Nero imperador romano ao acusar os cristãos pelo incêndio na capital do império 18 a 19 de julho de 64 deu origem a um longo período de intolerância O Cristianismo foi declarado uma religião fora da lei Seus seguidores eram passíveis de prisão tortura confisco de bens e morte A intolerância alastrouse por três séculos Nesse período houve momentos de calmaria e tranquilidade para os cristãos Em outros momentos líderes romanos promoveram verdadeiros derramamentos de sangue como é o caso de Décio e Diocleciano No entanto como registrou o historiador Tertuliano o sangue dos mártires era uma semente de cristãos Quanto mais eram perseguidos mais aumentava o número daqueles dos que seguiam a Jesus Cristo De perseguidos a perseguidores Não era mais possível fugir de um fato o Cristianismo era uma realidade irreversível Nações inteiras dentro do império já haviam sido convertidas Foi então que uma mistura de convicção religiosa e interesses políticos causou uma reviravolta na situação do Cristianismo Galério iniciou oficialmente o processo de mudança Em 311 ele promulgou um Édito de Tolerância dando fim à perseguição iniciada por Diocleciano Em 313 no ocidente Constantino fez do Cristianismo uma religião lícita através do Édito de Milão Em 380 Teodósio tornou o Cristianismo a religião oficial do Império Romano através do Édito de Tessalônica De marginais os cristãos passaram a dominar o cenário religioso de então Agora pense De que maneira essa mudança foi positiva e de que maneira ela foi negativa para o Cristianismo Positivamente talvez alguns possam apontar para a liberdade de culto bem como para o apoio do Estado para a atividade missionária No entanto desde o início essa perigosa mistura mostrouse perniciosa tanto para o estado quanto para a religião que se fortalecia politicamente O decreto de Teodósio foi imediatamente seguido por intolerância e perseguição com atitudes extremistas contra aqueles que professavam outra fé O poder crescente dos líderes da igreja ofuscou sua visão de maneira que não mais enxergavam os ensinamentos mais básicos deixados pelo Mestre Jesus A atual separação entre clero e laicato ainda marcante em algumas denominações cristãs era desconhecida no chamado cristianismo primitivo Aqueles que exerciam funções sacerdotais eram respeitados pelo seu ofício mas estavam tão perto de Deus como qualquer outra pessoa poderia estar Com o passar do tempo as diferenças entre clero e laicato foram sendo intensificadas Tal diferença foi reforçada quando os bispos de algumas cidades do Império começaram a assumir um grau de importância maior Isso aconteceu especialmente com aquelas cidades por onde um dos doze apóstolos havia passado Esses bispados assumiram primazia entre os demais Pastoreando a cidade tida tradicionalmente como o local da morte dos grandes apóstolos Pedro e Paulo a qual também representava a glória do Império o Bispo de Roma gozava de posição especial Não demorou para que se defendesse a submissão de outras comunidades cristãs ao bispo de Roma que mais tarde veio a ser conhecido como Papa Cada vez mais o clero colocavase em uma posição de ascensão poder e dominação Regiam sobre as consciências das pessoas devido a distorcidas compreensões da mensagem de Cristo e obviamente ao desejo natural do ser humano de manter e ampliar o poder adquirido O papado de Roma impunha suas convicções muitas vezes baseadas em simples ignorância científica eou teológica pela força da espada Um grande exemplo disso é a Inquisição Inicialmente criada para orientar e instruir transformouse em um braço de julgamento e cruel condenação da época Retrato da inquisição Fonte Wikimedia Disputas de poder ocorreram por todo Império e foram intensificadas nas disputas entre o Bispo de Constantinopla e o de Roma Além da questão cultural marcante diferença entre os dois grupos de cristãos vários desentendimentos provocaram uma crescente divisão entre o oriente e o ocidente A Controvérsia Iconoclasta movimento no Império Bizantino que se opôs à veneração de ícones e imagens religiosas foi apenas o estopim que impulsionou a oficialização da separação através da bula de excomunhão no qual o Bispo de Roma expulsava da Igreja o Bispo de Constantinopla e viceversa Ocorria a primeira grande divisão dentro da Igreja Cristã conhecida como o Cisma de 1054 Formamse então as Igrejas Ortodoxas Orientais e a Igreja Católica Apostólica Romana Devido à sua influência sobre o mundo ocidental esta última será o foco de nossos estudos AS REFORMAS PROTESTANTES DO SÉC XVI A Igreja Cristã na Idade Média Mil e quinhentos anos depois de seus primeiros passos na Palestina a Igreja Cristã havia mudado muito No processo de massificação que seguiu o reinado de Teodósio ser cristão passou a não depender mais de uma convicção pessoal mas de uma nova ordem política e social O Cristianismo estava dividido entre Oriente e Ocidente Nesse mesmo período viviase na Europa as consequências da exploração marítima do renascimento do grande comércio e da invenção da imprensa O mundo estava mudando e tudo isso despertou um grito de mudança dentro da própria igreja Adaptando uma prensa usada para extrair o suco de uvas Gutenberg criou um aparelho que fazendo uso de tipos móveis agilizava em muito a cópia de textos escritos A partir daí ideias se proliferaram com facilidade Vozes dissidentes se manifestaram através dos escritos de João Wycliffe professor de Oxford que viveu no século XIV e é considerado o precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa Ele inspirou João Hus que entre outras coisas defendia a ideia de que qualquer um poderia se comunicar com Deus sem mediação sacerdotal Seus ensinamentos considerados heréticos o levaram para a fogueira Mais tarde também se destacaram os movimentos reformistas liderados por João Calvino e Ulrico Zuínglio O pensamento desenvolvido por eles impactou muito a teologia evangélica que se seguiu Apesar de sua importância iremos focar nossa atenção no movimento reformatório liderado por Martinho Lutero especialmente considerando seu profundo impacto nas estruturas religiosa social e política do ocidente e sua conexão com a tradição da Ulbra Maximilian Karl William Weber mais conhecido como Max Weber escreveu a clássica obra A Ética Protestante e o Espírito Capitalista onde argumenta que a religião foi uma das causas para que as culturas oriental e ocidental se desenvolvessem de forma diversa Sua tese coloca o protestantismo como um dos elementos essenciais para o nascimento do capitalismo A Reforma Luterana No início do século XVI o papa Leão X sentia a necessidade de firmar a autoridade e poder de Roma Percebia a Igreja Romana enfraquecida e via na construção da Catedral de São Pedro um movimento importante naquela direção Para tanto precisava de recursos financeiros o que motivou a prática da venda de indulgências Assista ao documentário Os caminhos de Lutero Nele Rogério Enachev nos faz conhecer através de um tour pela Alemanha dos dias de hoje elementos importantes da Reforma Luterana Naquela época ensinavase que a Igreja Romana possuía um tesouro de méritos boas ações conquistado através da vida piedosa de Jesus Maria os Santos Apóstolos entre outros Esse tesouro poderia ser transferido para os fiéis da igreja através de uma Carta de Indulgências compensando com as boas ações dos santos o castigo que deveria vir como consequência dos pecados cometidos A lógica aqui presente está associada ao Sacramento da Penitência e pode representar um conceito difícil para quem não está familiarizado com a teologia romana No entanto grosso modo a venda dessas Cartas de Indulgência consistia em venda de perdão dos pecados ou melhor dizendo isenção do mal que cada um deveria sofrer como consequência do pecado Era possível comprar indulgências até mesmo para entes queridos já falecidos garantindo a saída destes do purgatório Essa cultura surgiu durante o período medieval com forte influência do pensamento religioso que se afastou da Bíblia João Tetzel pregador dominicano inquisidor foi o grande promulgador de indulgências na Alemanha na época de Lutero Fonte Wikimedia Você sabe qual é a base conceitual do logo da ulbra Clicando aqui você terá acesso ao texto que explica um pouco sua origem É importante afirmar que o objetivo de Lutero nunca foi o de dividir a Igreja Cristã Percebemos isso no próprio nome do movimento Reforma Protestante Luterana Reformar não é construir algo novo é fazer o que temos em mãos voltar a ser o que era antes Lutero queria que a Igreja voltasse ao caminho do perdão gratuito ensinado por Cristo e à liberdade conquistada por Ele No entanto se muitos apoiaram suas propostas de mudança tantos outros não concordaram com as ideias defendidas por Lutero Da mesma maneira como era indesejada a separação tornouse inevitável Os desdobramentos desse movimento para a sociedade ocidental são profundos e não temos como articulálos na mesma dimensão com que impactaram nosso mundo Em uma sociedade impregnada pelo religioso mudanças dessa ordem atingiram a vida como um todo De maneira resumida podemos dizer que a Reforma alterou a organização política da Europa enfraquecendo o poder da Igreja Romana e consequentemente fortalecendo o poder da nobreza e contribuindo para a criação dos estadosnação Em sua doutrina dos dois reinos o pensamento de Lutero lançou as bases filosóficas para o que hoje chamamos de distinção entre igreja e estado Além disso fortaleceu ideais humanistas os quais valorizando virtudes e capacidades humanas abriram caminho para a revolução cultural e científica que caracterizam o iluminismo Na economia trouxe uma certa sacralidade para as profissões lícitas e valorizando também as bênçãos materiais dadas por Deus para o benefício das pessoas deu origem a uma nova relação da pessoa religiosa com os bens materiais Elevou a educação formal à posição de elemento essencial para o desenvolvido das sociedades defendendo que lugar de crianças meninos e meninas era na escola Isso porque Lutero que por toda sua vida foi professor universitário sabia por experiência própria do poder transformador do conhecimento na vida dos indivíduos Não é sem razão que países impactados diretamente pela Reforma se tornaram referência em educação para o mundo Universidades que são famosas em todo mundo tiveram sua fundação intimamente ligada a empreendimentos educacionais de protestantes Para uma maior aprofundamento sobre a relação entre Lutero e Educação acesse este link Como parte das celebrações dos 500 Anos da Reforma Protestante em 2017 a Universidade Luterana do Brasil produziu o documentário A Reforma Luterana através da Arte o qual analisou obras de arte produzidas pelos artistas alemães Lucas Cranach e Albert Dührer sobre Martinho Lutero e sua obra Também em 2017 a Revista Ultimato publicou o texto A influência da Reforma na história da pintura Clique aqui para acessar destacando elementos de uma palestra ministrada pelo pintor espanhol Miguel Angel Oyarbide Em suma o texto traça uma linha histórica que conecta expressões artísticas contemporâneas ao movimento da Reforma Protestante Nessas poucas páginas fizemos uma viagem panorâmica pelos primeiros quinze séculos da história da igreja cristã No próximo capítulo trataremos dos últimos cinco séculos mas com um olhar voltado para a história brasileira INFOGRÁFICO Linha do Tempo REFERÊNCIAS BLOMBERG Craig L The Historical Reliability of the Gospels Credo Courses 2007 BUSS Paulo W Org Reforma Luterana Ontem e Hoje Porto Alegre Editora Concórdia 2019 DREHER Martin Norberto A Igreja no Império Romano São Leopoldo Sinodal 2001 A Igreja no Mundo Medieval São Leopoldo Sinodal 2001 De Luder a Lutero Uma Biografia São Leopoldo Sinodal 2014 GONZALES Justo L Uma História Ilustrada do Cristianismo São Paulo Vida Nova 19802005 v 15 HÄNGGLUND Bengt História da Teologia 7 ed Porto Alegre Concórdia 2003 LÖWITH Karl Meaning in History Chicago Phoenix Books 1949 MAIER Paul L Jesus Verdade ou Mito São Paulo CPTN 2007 MEIER John P A Marginal Jew Rethinking the Historical Jesus New York Doubleday 1994 WALKER Williston História da Igreja Cristã São Paulo Aste 2001 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Rogério Lopes Revisão ortográfica Igor Campos Dutra Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados RELIGIOSIDADE BRASILEIRA Prof Maximiliano Wolfgramm Silva NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A conhecer os principais elementos constitutivos da religiosidade brasileira A compreender a influência das diferentes religiões no estabelecimento das relações sociais políticas econômicas e culturais A identificar conhecer e refletir acerca de elementos e princípios da tradição cristã presentes no mundo ocidental marcadamente no Brasil em uma perspectiva da identidade confessional da instituição INTRODUÇÃO Neste capítulo fazemos um corte histórico específico o qual tem início em 1500 e segue até os dias de hoje Além disso diferentemente do capítulo anterior que tratava do Cristianismo em uma perspectiva mais universal temos aqui um foco territorial que considera a história do Brasil Entre outras coisas isso significa que não abordaremos a religiosidade dos povos indígenas da Terra brasilis termo comumente utilizado para se referir ao período anterior à chegada dos colonizadores portugueses ao que hoje chamamos de Brasil A construção histórica não se deterá em um encadeamento de datas personagens e eventos mais salientará elementos que contribuam para a construção de uma compreensão panorâmica da história e das características atuais da religiosidade brasileira DEUS AINDA É BRASILEIRO O Papa Francisco é conhecido por seu carisma simplicidade e bom humor Para os brasileiros isso foi evidenciado pouco tempo depois que ele assumiu o pontificado Ciente da rivalidade que tem caracterizado a relação entre brasileiros e argentinos ele falou a um repórter Vocês querem tudo Vocês já têm um Deus brasileiro queriam um Papa brasileiro também1 Papa Francisco Fonte Wikimedia Deus é brasileiro Essa frase dita tantas vezes e em tantos contextos por muito de nós fala de uma característica ainda essencial da cultura brasileira somos um povo religioso Mesmo que mudanças significativas tenham sido percebidas nas últimas décadas o fato é que conforme dados do censo do IBGE mais de 90 dos brasileiros acreditam na existência de Deus ou acreditam em uma dimensão transcendente de nossa existência2 Ainda que a mesma pesquisa indique que 868 de nossa população se declara cristã é possível dizer que diversidade é uma das características religiosas desta nação Isso se dá pelo crescimento da religiosidade afrobrasileira pela difusão de doutrinas como o espiritismo kardecista pela maior popularização de crenças e práticas orientais mas também pela diversidade presente dentro do próprio cristianismo Este jeito de ser religioso se deve a diferentes processos históricos os quais normalmente têm origem no sincretismo em seus diferentes níveis ou em processos de caracterização identitária Sobre esses processos queremos falar brevemente O censo de 2010 indicou significativa mudança no quadro religioso brasileiro Destacase um significativo crescimento no número de evangélicos e pela primeira vez queda no número de católicos Acesse este link para maiores detalhes Fonte Revista VEJA IBGE O CATOLICISMO PORTUGUÊS NO BRASIL COLONIAL Quando os portugueses aportaram em terras brasileiras eles trouxeram consigo a fé oficial de Portugal Uma compreensão mais ampla do espírito dessa presença considera os desdobramentos da Reforma Protestante sobre o catolicismo os quais foram expressos através do concílio de Trento Esse concílio ocorrido na cidade de Trento no norte da Itália entre 1545 e 1563 foi em grande parte uma reação do catolicismo romano aos movimentos reformatórios que estavam tomando conta da Europa e entre outras coisas enfraquecendo o domínio do Papa O concílio fortaleceu a relação entre o papado romano e as coroas de Espanha e Portugal solidificando um tratado conhecido como Padroado Esse tratado garantia a autonomia daqueles países para indicar bispos católicos bem como estruturar a presença da igreja em seus territórios Por outro lado as coroas portuguesa e espanhola garantiam a defesa e se comprometiam com a expansão da fé católicoromana em todo o mundo Tal tratado delineou as características religiosas da presença europeia no Brasil Imagem da primeira missa celebrada no Brasil de Vitor Meireles Poucos dias depois da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil Henrique de Coimbra celebra a primeira missa em solo brasileiro Fonte Wikimedia Clique aqui para saber mais Ao refletir sobre o clássico Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre Rogério Souza destaca uma interessante característica do português do século XVI a miscibilidade O termo se refere à capacidade ou condição de misturar elementos de uma forma homogênea De acordo com Souza essa característica do português quinhentista se deve à posição geográfica de Portugal uma nação localizada entre dois mundos o europeu e o africano cuja história é marcada por domínios e influências distintos Em sua tese essa condição formou no povo português um espírito mais tolerante onde o catolicismo estava mais aberto a elementos pagãos3 Essa característica cultural portuguesa contribuiu para o sincretismo presente em solo brasileiro As religiosidades indígenas e africanas que interagiram com o catolicismo português apresentavam grande diversidade em sua estrutura Os ritos crenças espíritos e deuses indígenas eram tão diversos quanto eram os povos que ocupavam a terra brasilis Os africanos escravizados e trazidos forçadamente ao Brasil cuja cultura era marcada pela diversidade dos povos e tribos que compunham o mosaico africano trouxeram sua compreensão religiosa aberta várias divindades e seus respectivos rituais Com todos esses elementos trabalhando juntos ao mesmo tempo em que a colônia se tornou marcadamente católica sua religiosidade era composta de variados elementos Não se afirma aqui que o catolicismo no Brasil colonial permitia uma livre expressão de manifestações religiosas diversas da romana mas sim uma maior tolerância quanto a uma expressão mais sincrética de religiosidade popular A REFORMA PROTESTANTE CHEGOU AO BRASIL Tendo criado uma tradição teológica distinta do catolicismo o protestantismo é uma importantíssima manifestação da fé cristã Sua presença em solo brasileiro no entanto é tardia Mesmo que haja registros da chegada de um luterano em terras brasileiras em 1532 foi somente no século XIX que um número mais expressivo de europeus protestantes aportou no Brasil em sua maioria fugindo de crises econômicas e políticas e buscando melhores condições de vida na américa Quando se pensa na história do protestantismo no Brasil eles são normalmente organizados em dois grupos o protestantismo de imigração e o protestantismo de conversão ou expansão Quando os protestantes chegaram ao Brasil ele ainda era um país oficialmente católico o que cerceava a liberdade de expressão de fés que diferiam da católicoromana mesmo que também fossem cristãs Casamentos realizados por comunidades protestantes não eram reconhecidos e seus locais de culto não podiam ter aparência externa de prédios religiosos de igreja No início a liderança espiritual desses grupos ficava a cargo de leigos escolhidos dentre os próprios imigrantes Com o passar do tempo pastores de outros países como Alemanha e Estados Unidos foram enviados ao Brasil passando a atender às comunidades protestantes aqui instaladas Entre outras coisas as condições de vida e vivência religiosa encontradas no Brasil contribuíram para que essas comunidades religiosas tivessem um estilo mais voltado para si mesmas o que os caracterizou como fechados conforme defendem autores como Cândido Camargo Historiadora revela que a primeira igreja evangélica do Brasil foi criada por índios da tribo potiguara convertidos por holandeses em Pernambuco Fonte Wikimedia Clique aqui para saber mais Também vieram ao Brasil cristãos de tradição protestante oriundos dos Estados Unidos os quais tinham como objetivo a adaptação à cultura brasileira e o crescimento da fé cristã protestante em nosso território Eles já traziam em sua bagagem a experiência com movimentos de renovação e avivamento ocorridos nos Estados Unidos os quais haviam trazido características próprias a esses grupos de protestantes Eles eram em sua maioria de origem batista presbiteriana metodista e episcopal Estavam mais abertos à cultura do país e buscavam trazer para a fé cristã protestante o maior número de pessoas possível OS MOVIMENTOS PENTECOSTAL E NEOPENTECOSTAL O pentecostalismo surge nos Estados Unidos e chega ao Brasil no início do século XX Caracterizase por celebrações fervorosas que buscam evidenciar de maneira externa visível a presença do Espírito Santo em cada crente Logo no início seus cultos traziam uma grande ênfase na glossolalia também conhecida como o dom de falar em línguas estranhas Tal prática era percebida como um sinal visível da presença de Deus Espírito Santo na vida das pessoas A ênfase nos dons do Espírito e na glossolalia remetiam esse movimento ao evento bíblico conhecido como o Dia de Pentecostes Assim ele passou a ser conhecido como pentecostalismo O Pentecostes era uma festa judaica que ocorria 50 dias após a festa da Páscoa celebrando as colheitas De acordo com o Novo Testamento nessa festa 50 dias depois da ressurreição de Jesus o Espírito Santo desceu sobre os discípulos em forma de línguas de fogo trazendo entre outras coisas o dom de anunciar a mensagem de Jesus em várias línguas Fonte Wikimedia Se espalhando por todo Brasil especialmente a partir do trabalho da Igreja Assembleia de Deus que teve origem no estado do Pará o pentecostalismo se diversificou grandemente atraindo inúmeros adeptos Essa diversificação deu origem ao movimento neopentecostal que mantendo a ênfase nos dons do Espírito Santo desenvolveu um discurso mais voltado para a cura Além disso as pregações de seus líderes apontam para a mudança no status socioeconômico de uma pessoa como uma evidenciação da presença de Deus em sua vida o que dá origem à chamada teologia da prosperidade A Igreja Universal do Reino de Deus se torna a grande representante desse movimento fortalecido por inúmeras outras denominações que acabaram surgindo como a Igreja Internacional da Graça de Deus Renascer em Cristo e Igreja Mundial do Poder de Deus É a partir daí que surgem figuras de reconhecimento nacional como Edir Macedo R R Soares e Valdemiro Santiago Foram os movimentos pentecostais e neopentecostais que provocaram profunda mudança no cenário religioso brasileiro A mesma é evidenciada entre outras coisas pelo censo de 2010 que pela primeira vez registrou uma queda no número absoluto de católicos no Brasil apontando que mais de 27 da população brasileira se identifica como pertencendo à tradição evangélica O ativismo desse grupo também pode ser percebido na política brasileira em seus diferentes níveis com especial atenção para o congresso nacional e a bancada evangélica a qual tem trazido para a pauta de Brasília demandas características dos evangélicos brasileiros No artigo O Pentecostalismo no Brasil uma reflexão sobre novas classificações a antropóloga Mariana Picolloto apresenta os frutos de um estudo etnográfico nos faz conhecer um pouco mais da evolução do pentecostalismo no Brasil Clique aqui para acessar o artigo CULTOS AFROBRASILEIROS Durantes os séculos XVI XVII e XVIII o mundo viveu a maior migração forçada de pessoas de sua história também conhecida como diáspora africana Apesar de os números não serem precisos acreditase que mais de 10 milhões de africanos das mais diversas tribos e nações foram capturados e trazidos para as américas A maior parte deles aportou no Brasil e aqui foram escravizados Obviamente essas pessoas trouxeram consigo sua identidade religiosa e cultural e no meio de inúmeras adversidades buscavam achar seu caminho em uma terra estranha e inóspita Como o catolicismo era a religião oficial do país os africanos aqui trazidos deveriam se adaptar à fé de seus senhores Mesmo que tenham ocorrido inúmeras conversões em grande parte as expressões cristãs dessas pessoas eram externalidades que buscavam satisfazer os olhares atentos dos europeus Número significativo de escravos e seus descendentes no entanto mantiveram várias características de suas culturas africanas Aqui entra outro elemento que precisa ser considerado a diversidade cultural africana As milhões de pessoas aqui trazidas provinham de diversos grupos na África com tradições religiosas distintas apesar de conectadas por elementos semelhantes como o animismo Assim ao compor sua vivência religiosa essas pessoas precisaram lidar com o catolicismo romano com o contato com povos indígenas e com a diversidade da própria culturaafricana Iemanjá considerada a Orixá mais popular em terras brasileiras para o povo Egba é a divindade da fertilidade associada a rios e desembocaduras No Novo Mundo através de um processo de assimilação de diferentes culturas promovido pela diáspora africana passou a ser associada também aos mares Está marcadamente presente em nossa cultura através da arte e de ritos que se espalham por todo o país Em grande parte representa o arquétipo materno dentro dos cultos afro Para os povos aqui trazidos sua religiosidade também se transformou em um elemento de resistência Foi através dela que eles puderam manter várias características de sua cultura não somente aquelas ligadas à sua espiritualidade mas também à suas línguas e culinária por exemplo Apesar de ter estado sempre presente na história do Brasil desde o início da escravização africana foi somente no séc XIX que as religiões afrobrasileiras começaram a se organizar Mesmo assim existe ainda grande diversidade religiosa dentro dos cultos afrobrasileiros No entanto podemos destacar duas principais vertentes o Candomblé e a Umbanda O primeiro tem suas raízes em quatro nações africanas Kêtu Fan Jejê e Angola que creem na pluralidade de divindades conhecidas como orixás Essas entidades são ligadas a elementos da natureza o que aponta para o animismo que marca essa manifestação religiosa Apesar dos orixás serem correlacionados a figuras católicas o que é uma consequência de processos sincréticos existe no Candomblé uma busca por suas raízes africanas Esta busca procura aproximálo cada vez mais de suas origens préescravatura Na Umbanda temos um sincretismo bem mais evidente unindo nessa manifestação elementos da cultura religiosa africana europeia e indígena bem como elementos do espiritismo kardecista Alguns o consideram como sendo uma religião genuinamente brasileira Uma das características que une esses grupos é a diversidade assim nem tudo que é observado em uma comunidade será necessariamente observado em outras ESPIRITISMO KARDECISTA O espiritismo kardecista teve origem na França no séc XIX com Leon Hippolyte Denizard Rivail mais conhecido como Allan Kardec Kardec seria na verdade um espírito iluminado que revelou através de Leon a doutrina espírita O espiritismo kardecista apresentase como um movimento científico filosófico e religioso que busca através da racionalidade evidenciar a existência de uma realidade que transcende a matéria Em suas afirmações mais essenciais faz uso de conceitos provindos de religiões diversas como reencarnação carma e caridade Afirma que nossa essência é espiritual e que através das inúmeras vidas que vivemos encarnações aperfeiçoamos o nosso espírito através das situações que vivenciamos carma em busca da plena caridade amor desprendido Nesse processo cíclico de evolução espiritual nossa alma enquanto faísca divina se aproxima cada vez mais da plena realidade transcendente Em nenhum lugar do mundo as ideias de Leon Rivail encontram solo tão fértil quanto no Brasil Acreditase que isso se deve em grande parte ao espírito sincrético que tem caracterizado a religiosidade brasileira ao longo da história conforme já afirmamos anteriormente SHEILAISMO SOBRE NOVAS FORMAS DE RELIGIOSIDADE Vivemos hoje no Brasil fenômenos que também estão presentes em todo o mundo ocidental A globalização tem trazido o diferente cada vez para mais perto de nós Se antes o hinduísmo era uma realidade distante muitas vezes resumido a um tópico curioso para conversas descompromissadas hoje recebo em minha casa um amigo indiano Ele por convicções religiosas entende que a vaca é um animal sagrado por apontar para a realidade maior que é Brahman Isso levanta para mim questões bem práticas como por exemplo o que vou oferecer para o jantar A aldeia global na qual vivemos demanda conversas sobre tolerância e diversidade religiosa Isso fortalece uma atitude pluralista na qual as diferentes manifestações religiosas são cada vez mais valorizadas pelo que elas são Ao mesmo tempo vivemos uma época de afirmação identitária Inseguros no meio de tanta diversidade e sentindose ameaçados no meios da liquidez que caracteriza a contemporaneidade muitos grupos vivem um processo de autoafirmação através do qual salientam suas características identitárias se distinguido de outros movimentos religiosos Somase a isso a ênfase contemporânea na autonomia de cada indivíduo a qual tende a enfraquecer figuras de autoridade externas inclusive religiosas e fortalecer perspectivas individuais de vida e mundo Tudo isso se alinha a uma ideologia de mercado que entende o capitalismo não apenas como a forma através da qual trocamos bens e serviços mas também como um conjunto de significados que estrutura a vida a partir da perspectiva do mercado Nesse cenário também as manifestações religiosas competem entre si buscando atrair a atenção e a fidelidade das pessoas Isso também tem contribuído para uma diversidade cada vez maior dos bens simbólicos e religiosos disponíveis no mercado brasileiro A Revista ISTOÉ publicou um artigo cujas pesquisas indicam o aumento da migração religiosa entre os brasileiros Clique aqui para acessar o artigo Tudo isso acaba facilitando o trânsito religioso onde as pessoas se movem de uma tradição religiosa para a outra com relativa liberdade de consciência buscando respostas para os mais diversos questionamentos e demandas pessoais Mais do que isso muitas pessoas acabam se sentindo confortáveis vivendo as experiências de distintas tradições religiosas ao mesmo tempo como que numa dupla cidadania da fé Assim se torna cada vez mais comum conhecermos católicos que fazem oferendas a orixás ou kardecistas que encontram em Lutero inspiração para sua evolução espiritual Todos esses elementos trabalhando juntos abrem espaço para formas individualizadas de religiosidade como é o caso de Sheila Larson Entrevistada em uma pesquisa sobre religiosidade ela afirmou Eu acredito em Deus Eu não sou uma fanática religiosa Não me lembro da última vez que fui à igreja Minha fé me tem acompanhado por um longo caminho Ela se chama sheilaismo Apenas minha própria voz4 De certa maneira esse conjunto de elementos da religiosidade brasileira caminham juntos com o grande paradigma religioso da atualidade o pluralismo de princípio Nele o reconhecimento do direito do outro de ser outro se torna um princípio moral A diversidade de vivências religiosas é tão grande quanto o número de indivíduos Como tudo na vida isso traz oportunidade e desafios para esta e as futuras gerações INFOGRÁFICO REFERÊNCIAS 1 Vocês têm Deus brasileiro também querem um Papa Portal G1 acessado em 12 out2019 2 Censo 2010 Portal do IBGE Acessado em 12 out2019 3 Robério Américo do Carmo Souza O Hibridismo na Construção da Religiosidade Repensando a Contribuição de Gilberto Freyre para o Debate Angelus Novus no 3 Julho 2012 291309 292 4 Robert N Bellah et al Habits of the Heart Individualism and Commitment in American Life Los Angeles University of California 2008 220 ANDRADE Maristela Oliveira de A Religiosidade Brasileira O Pluralismo Religioso a Diversidade de Crenças e o Processo Sincrético In CAOS Revista Eletrônica de Ciências Sociais 14 Setembro 2009 106118 BELLAH Robert N et al Habits of the Heart Individualism and Commitment in American Life Los Angeles University of California 2008 CARDOSO Fernando Henrique Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional São Paulo Paz e Terra 1991 DAVIS David Brion The Problem of Slavery in Western Culture NY Oxford 1988 KUCHENBECKER Valter coord O Homem e o Sagrado A Religiosidade Através dos Tempos Canoas ULBRA 2006 MARQUESE Rafael de Bivar Marquese A Dinâmica da Escravidão no Brasil Novos Estudos CEBRAP 74 2006 httpdxdoiorg101590S010133002006000100007 Acesso 20 jun2019 MATTOSO Kátia de Queirós Ser Escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1990 RIBEIRO Claudio de Oliveira Um Olhar sobre o Atual Cenário Religioso Brasileiro Possibilidades e Limites para o Pluralismo In Estudos da Religião no 2 Julho 2013 5371 SILVA Vagner Gonçalves da Religião e Identidade Cultural Negra Católicos Afrobrasileiros e Pentecostais In Cadernos de Campo 20 2011 295303 STEYER Walter O Os Imigrantes Alemães no Rio Grande do Sul e o Luteranismo Porto Alegre Singular 1999 WULFHORST Ingo Discernindo os Espíritos O Desafio do Espiritismo e da Religiosidade Afrobrasileira São Leopoldo Sinodal 1996 Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Marcelo Germano Rogério Lopes Revisão ortográfica Ane Arduin Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados REFLEXÕES SOBRE ÉTICA E MORAL Prof Mario Rafael Yudi Fukue NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A participar da reflexão a respeito dos valores humanos sociais éticos e espirituais A construir a partir de valores éticos e religiosos princípios norteadores de sustentabilidade e cidadania A mediar conflitos no campo da ética e religiosidade a partir dos princípios de respeito diálogo e tolerância A atuar eticamente frente a diferentes situações no campo pessoal social e profissional INTRODUÇÃO A humanidade é a única espécie ética no planeta pois somente o ser humano tem a capacidade de avaliar e julgar suas ações buscando saber se são boas ou más certas ou erradas justas ou injustas Cortella escreve Só é possível falar em ética quando falamos em seres humanos porque ética pressupõe a capacidade de decidir julgar avaliar com autonomia Portanto pressupõe liberdade Cortella Mario Sergio Qual é a tua obra Editora Vozes Edição do Kindle pos 1043 Na verdade se você prestar atenção está fazendo escolhas o tempo todo a vida inteira Você escolheu ler esse capítulo Você decidiu estudar o seu atual curso de graduação No Brasil você pode decidir com quem vai se relacionar casar onde trabalhar etc Nesse capítulo vamos compreender que todo ser humano possui um sistema de valores que o ajuda a tomar decisões Por exemplo você escolheu passar o Natal com seu família ao invés de viajar com os amigos pois na sua escala de valores a família está acima dos amigos Mas talvez sua melhor amiga prefira viajar com os amigos pois para ela pelo menos naquele momento os amigos são mais importantes do que a família Além das escolhas cotidianas o ser humano também enfrenta várias escolhas difíceis ao longo da vida São os angustiantes dilemas No mundo da chamada pósmodernidade o que se experimenta é o vazio e a incerteza Para a maioria das pessoas não existem mais valores fixos ou absolutos Vivemos uma época caracterizada pela pluralidade de valores de crenças de pensamentos fazendo com que indivíduos de uma mesma sociedade sejam orientados em suas decisões por princípios muito diferentes Essa convivência em meio a tantas visões diferentes nem sempre é amistosa ou fácil de ser obtida Se somarmos a isso o impacto tecnológico sobre nossas vidas percebemos que a crise ética é maior do que imaginamos Temos condições de fazer coisas que nossos antepassados nunca sonharam fazer A tecnologia aumentou em muito o alcance das decisões do ser humano mas também aumentou o dilema ético quando se busca refletir sobre as consequências e possíveis limites para essas incríveis potencialidades Programação genética manipulação de embriões desligar os aparelhos que mantêm viva uma pessoa numa UTI uso sustentável dos recursos naturais sem prejudicar a economia O que fazer ou não fazer ou fazer diferente Existe certo e errado Quem tem a palavra final É desse contexto plural que este capítulo procura tratar refletindo sobre alguns conceitos e teorias no campo da moral e da ética O capítulo irá propor também a ética cristã como o referencial ideal capaz de nortear a existência humana na tentativa de se atingir o grande objetivo da ética a busca do bem comum ÉTICA E MORAL As palavras ética e moral embora usadas muitas vezes como sinônimos possuem significados distintos Apesar de não haver consenso sobre a exata diferença entre os dois conceitos para fins de aprendizagem podemos estabelecer a seguinte conceituação A ética trata dos princípios e valores que orientam a conduta de uma pessoa A moral é a prática dessa conduta ética A ética trata dos princípios e a moral da prática baseada nesses princípios Por exemplo você pode ter um princípio ético de preservar a vida humana E no diaadia você aplica esse princípio na prática moral ao ajudar uma pessoa em necessidade No text to extract Os latinos tinham uma expressão para eu que era ego E usavam duas para falar de não eu uma é alter que significa o outro mas usavam também alius para indicar o estranho Palavras em português que vêm de alius alienado alheio alien alienígena Nos filmes de faroeste mais antigos o nome que se dava para quem não era daquele lugar era forasteiro estrangeiro Aliás em inglês se usa isso até hoje stranger ou foreigner Aquele que não é daqui aquele que não é como nós aquele que é talvez menos Visão de alteridade é a capacidade de ver o outro como outro e não como estranho Há pessoas que só conseguem olhar o outro como estranho e não como outro Cortella 2002 kindle pos 1172 O objetivo do estudo da ética é ver o outro como um outro igual a nós não como um estranho Em suma uma questão que tentamos responder quando estudamos ética é Quais são os princípios que determinam as minhas ações e as ações do outro Em outras palavras Como você toma decisões Por que tomamos decisões diferentes Basicamente três fatores são determinantes para a formação ética de uma pessoa Valores Consciência e Responsabilidade VALORES O ser humano toma decisões com base em sua escala de valores Por exemplo o presidente de um país escolhe enviar seus soldados à guerra pois na escala de valores dele defender a pátria está acima do não arriscar a vida dos soldados Outro exemplo é o pastor Bonhoeffer que transgride leis para ajudar judeus a escaparem da Alemanha nazista pois na escala de valores dele ajudar o próximo estava acima de obedecer às leis do governo A escala de valores também é usada em decisões cotidianas mesmo que de forma automática ou inconsciente Por exemplo você escolheu ler este capítulo porque nesse momento estudar ética é mais importante do que assistir Netflix Parece simples né No entanto problemas acontecem quando a escala de valores de uns contrariam as escalas de outros A discussão dos princípios ou valores que orientam nossas escolhas morais acaba assim se tornando uma discussão também dos limites de nossas ações enquanto indivíduos e como grupo ou sociedade A ética se propõe a buscar por meio do diálogo a identificação desses limites para que as atitudes ou escolhas individuais não oprimam o bem comum e também para que o contrário não aconteça ou seja as atitudes ou escolhas coletivas ou da sociedade não oprimam o indivíduo Há também um problema individual que acontece quando você contraria o seu sistema de valores Mas isso é um assunto extra que você poderá ver no final desse conteúdo CONSCIÊNCIA A consciência desempenha um papel importante no sentido de coibir ou incentivar a tomada de determinada decisão a partir de algum valor Consciência é a capacidade que temos de reagir ao certo ou ao errado a partir daqueles que são os nossos valores mais importantes Um ditado popular bastante conhecido diz que podemos fugir de tudo menos de nossa consciência Podemos perguntar então de onde vem a consciência Há pelo menos três respostas a essa questão uma que afirma que o ser humano já nasce tendo consciência outra que diz ser ela imposta pelo ambiente externo ou seja o ser humano e consequentemente sua consciência é moldado ao longo do tempo pelas condições culturais externas uma última ainda considera que o ser humano já nasce com consciência mas ela também recebe informações e influência externas sofrendo modificações ao longo do tempo De qualquer forma a consciência sempre será uma instância psíquica interna e singular a cada indivíduo mesmo que possamos também admitir a existência de uma consciência social ou coletiva Elas não são excludentes mas interagem entre si RESPONSABILIDADE Na escolha ética e na prática moral temos a responsabilidade de ver o outro como um outro igual a nós não como um estranho Somos responsáveis pelas nossas escolhas por isso precisamos analisar e considerar as consequências benéficas ou maléficas de nossas decisões e atitudes Muitas vezes nossa tendência é cobrar responsabilidade dos outros ao mesmo tempo em que nos esquivamos de próprias responsabilidades É comum também pessoas transferirem a culpa de algo para outros Por exemplo alguns justificam a sonegação de impostos apontando para a corrupção que há no governo Se eles roubam milhões eu também posso sonegar uns milhares dizem É a filosofia do todo mundo faz Mas nossas mães acredito já apontaram a falácia desse pensamento ao dizerem você não é todo mundo Pare de culpar os outros pelos seus erros O perigo que corremos é o da diluição da responsabilidade em que nem o indivíduo e nem a sociedade assumem a responsabilidade pelo que está acontecendo Quando isso acontece as pessoas buscam seus próprios interesses sem considerar os outros ÉTICA RELIGIOSA Vimos que a forma como organizamos nossa escala de valores ajuda a determinar nossas escolhas Mas como uma pessoa constrói sua escala de valores Basicamente nossos valores são provenientes de nossa família amigos cultura e religião Por essa razão é importante também estudar a ética religiosa cujos princípios não partem de reflexões filosóficas mas têm como fundamento as doutrinas principais de uma determinada religião Como qualquer reflexão ética seu ponto de partida é a liberdade do ser humano em fazer ou não fazer algo Mas em geral a ética religiosa entende essa liberdade como algo limitado não apenas pelo chamado bem comum mas por um comprometimento com a vontade ou orientação revelada pelas divindades veneradas pela religião Outra característica comum na ética religiosa é a crença de que as consequências da conduta moral da pessoa não se limitam a essa vida ou situação presente mas podem ter implicações maiores que vão além da vida terrena É interessante perceber que a maior parte das religiões tem o amor ao próximo como atitude desejável em seus sistemas de valores Veja o vídeo A Regra de Ouro nas Tradições Religiosas Intolerância fundamentalismo e radicalismo são totalmente contrários à regra de ouro Um fiel pode discordar dos ensinos doutrinários de outro grupo religioso mas isso jamais deveria leválo às atitudes de ódio ÉTICA CRISTÃ Jesus amplia a regra de ouro e ensina também o amor aos inimigos algo possível somente a partir do próprio amor de Deus em nós Conforme escreve João Nós amamos porque Deus nos amou primeiro Veja o vídeo Jesus ensina a amar os inimigos A chave para se compreender a ética cristã é o próprio amor de Deus que se revela nos seguintes pontos a dança da Criação queda em pecado e a redenção da humanidade DANÇA DA CRIAÇÃO Na teologia cristã a Trindade mutuamente se relaciona em amor mesmo antes da Criação do mundo Como fruto desse amor trinitário e divino o Deus Triúno cria o Universo e o ser humano Isso significa que teologicamente falando o ser humano foi criado para se relacionar com Deus e uns com os outros Em outras palavras estamos no mundo para amar e ser amado QUEDA EM PECADO HUMANIDADE DECIDE DANÇAR SOZINHA Numa humanidade perfeita não haveria dilemas éticos pois a humanidade seria totalmente pautada pelo amor a Deus e ao próximo No entanto conforme a teologia cristã a humanidade se rebelou contra Deus voltandose a si mesma a seus próprios interesses Nesse momento o ser humano passa a olhar o próximo não como um outro mas como um estranho O pecado original de Michelangelo Fonte Wikimedia A incapacidade humana de se relacionar em amor perfeito com Deus e com o próximo revela nossa imperfeição e fracassos mostrando que todos nós seres humanos fomos afetados pela queda em pecado Para a fé cristã apesar da queda em pecado a consciência humana continua minimamente conectada com a lei natural escrita por Deus no coração do ser humano desde a concepção Nesse sentido todo ser humano já nasce com a capacidade de identificar se certas atitudes são corretas ou não tornando o ser humano responsável diante de Deus por seus atos REDENÇÃO EM CRISTO Se por um lado a perspectiva ética cristã tem como um de seus princípios o fracasso humano em viver e agir de maneira correta de acordo com o plano original de Deus por outro lado a ética cristã também tem como princípio a fé na restauração ainda que incompleta aqui neste mundo dessa capacidade de tentar viver de acordo com o plano do Criador de se buscar um comportamento que reflita o amor a Deus aos outros seres humanos e a toda a criação Fonte Pxhere E essa restauração não é resultado de nenhum esforço ou exercício ético humano mas é uma iniciativa e ação do próprio Criador A fé cristã aponta para Cristo como redentor da humanidade Conforme o apóstolo Paulo ensina Jesus o Filho de Deus esvaziase e assume a forma humana para morrer na cruz em lugar de toda a humanidade Por meio da morte de Jesus o ser humano é reintegrado à dança da Trindade FÉ ATIVA NO AMOR Assim a partir de amor de Deus revelado em Cristo o ser humano apesar de continuar imperfeito é capacitado a amar a Deus e a amar ao próximo assumindo atitudes éticas pautadas no amor Essas atitudes são descritas nos Dez Mandamentos como orientações para a vida humana movida pelo amor a Deus Os primeiros três mandamentos tratam da relação entre indivíduo e Deus Os demais mandamentos refletem sobre a relação entre os seres humanos Vamos ao texto dos mandamentos OS 10 MANDAMENTOS I Eu sou o Senhor teu Deus Não terás outros deuses diante de mim Na fé cristã a confiança em Deus acima de tudo é a motivação para seguir os demais mandamentos II Não tomarás o nome do Senhor teu Deus porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu nome em vão Neste mandamento Deus proíbe o uso de seu nome para amaldiçoar jurar praticar mentira mentir ou enganar Mas ao contrário podemos invocálo em todas as necessidades além de orar louvar e agradecer III Santificarás o dia de descanso Nestes mandamentos somos convidados à não desprezar a pregação e a palavra de Deus na consideração santa exaltar e ouvir e de estudola Depois de tratar da relação entre indivíduo e Deus os Mandamentos seguintes lidam com o relacionamento entre os seres humanos em geral IV Honrarás a teu pai e a tua mãe para que te vás bem e vives muito tempo sobre a terra Significa não desprezar nem iritar pais e superiores mas honrálos ajudar e melhorar e conservar seus bens e seu meio de vida V Não matarás Significa não causar dano ou mal algum ao corpo do próximo mas ajudálo em todas as necessidades corporais A ética cristã estabelece que todo ser humano deve ser respeitado como pessoa amada por Deus e que todo pessoa amiga ou inimiga é nosso próximo Amálo provisoriamente o cuidado com ele Isto significa não apenas proteger os inocentes mas agir de modo efetivo a fim de tentar garantir o bemestar de todos VI Não cometerás adultério Significa viver uma vida castamente e decente em palavras e ações amando e honrando aquelaa quem você resolveu unir sua vida VII Não furtarás Significa não tomar do próximo o seu dinheiro ou bens nem se apoderar deles por meio de mercadorias falsasdeliciosas ou negócios fraudulentos mas ajudálo a melhorar e conservar seus bens e seu modo de vida Espiritualidade do próximo também significa apenas zelar pela sua felicidade mas também ser seu bemestar afetivo emocional material incluindo as necessidades básicas do ser humano VIII Não dirás falso testemunho contra o teu próximo Não podemos mentir nem trair caluniar ou difamar o próximo mas falar bem dele e interpretar tudo da melhor maneira IX e X Não cobiçarás Significa que não devemos adquirir com astúcia a herança ou a casa do próximo nem se apoderar dela sob a aparência de direito mas ajudálo e servir para que possa conservar suas propriedades Também significa atuar apartar desviar a atenção de algo que faz parte da vida do próximo ou lhe pertença mas auxiliar para que os ele mantenha ÉTICA CRISTÃ APLICADA Os cristãos estão cientes de que hoje grande parte da população senão a maioria dentro de suas liberdades individuais não faz parte do cristianismo Ainda assim os cristãos entendem que seus princípios éticos baseados no amor a Deus e ao próximo podem contribuir na busca do chamado bem comum A seguir apresentamos alguns apontamentos que de forma resumida procuram na discussão de alguns temas importantes apontar a ação desejada pela ética cristã RESPONSABILIDADE SOCIAL A ética cristã prescreve que por amor a pessoa cristã procura exercer sua responsabilidade em quatro esferas 1 para com sua própria vida cuidando de sua própria saúde física e mental grato a Deus pelo dom da vida que recebeu 2 na família provendo o necessário para o bemestar de todos os seus familiares tendo por base o cuidado a compreensão o perdão a confiança e o respeito na maneira de se relacionar com o cônjuge com os filhos e todos os demais integrantes da família 3 no seu trabalho vivendo de maneira honesta e buscando por meio de sua profissão ou atividade promover não apenas o seu sustento mas o bem do próximo também 4 na sociedade buscando contribuir de todas as formas para que seres humanos amados por Deus em primeiro lugar mas desprovidos de recursos para uma vida minimamente digna possam ser atendidos em suas necessidades básicas A sacralidade da vida Vimos anteriormente que conforme a fé cristã Deus Triúno criou o ser humano para participar do relacionamento de amor com a Trindade Nessa dança da Trindade o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus Sendo assim a dignidade da pessoa humana está intrinsecamente ligada à imagem de Deus Isso significa que que nenhum ser humano pode ser tratado como coisa não pode ser objetificado Ninguém deveria usar um ser humano como um meio para conseguir atingir um objetivo pois seres humanos possuem valores e fins em si mesmos A ética cristã propõe sermos corresponsáveis uns pelos outros sejam eles quem quer que sejam não importando seu estágio de desenvolvimento suas capacidades ou utilidades seu potencial ou qualquer outro critério que não seja a de que a vida humana seja enxergada na perspectiva de que ela pertence em primeiro lugar a Deus que a nós concede a dádiva de vivêla Clicando nos links abaixo você pode ver como a ética cristã lida com os seguintes assuntos BIOÉTICA ABORTO EUTANÁSIA PENA DE MORTE SUSTENTABILIDADE INFOGRÁFICO TEORIAS ÉTICAS BÁSICAS CONSEQUENCIALISMO Ações são certas por causa de suas consequências ie os meios justificam os fins UTILITARISMO Ações são certas para alcançar o maior bem em maior quantidade Jeremy Bentham 17481832 John Stuart Mill 18061873 Peter Singer 1946 TELEOLOGIA Ações são certas em razão de alcançarem o propósito do agente NATURALISMO Ações são certas conforme se alinharem com a ordem natural do mundo Aristóteles 380322 AC DEONTOLOGIA Ações são certas nelas e por elas mesmas TEORIA DO COMANDO DIVINO Ações são certas se Deus as ordena Immanuel Kant 17241804 ÉTICA DAS AÇÕES Pensando sobre o fazer vs ÉTICAS DO AGENTE Pensando sobre o ser EMOTIVISMO Viver corretamente é uma expressão de emoção mais do que a razão Charles Stevenson 19081979 EMOTIVISMO POSITIVO INTUICIONISMO Viver corretamente é instintivo ie moralidade é universalmente acessível WDRoss 18771971 VIRTUDE Viver corretamente é derivado do caráter moral do agente Aristóteles 384322 AC ESTOICISMO GEM Anscombe 19132001 Alasdair MacIntyre 1929 Stanley Hauerwas 1940 REFERÊNCIAS CORTELLA Mário Sérgio Qual é tua obra São Paulo Vozes 2015 FORELL George Ética da decisão São Leopoldo Sinodal 1988 MEILAENDER Gilbert Bioética um guia para os cristãos São Paulo Vida Nova 1997 NEDEL José Ética aplicada pontos e contrapontos São Leopoldo Ed UNISINOS 2004 GOLDIM José Roberto Org Bioética Espiritualidade Porto Alegre EDIPUCRS 2007 WARTH Martim Carlos A ética de cada dia Canoas Ed ULBRA 2002 WESTPHAL Euler Carlos Bioética São Leopoldo Sinodal 2006 VALLS Álvaro LM O que é ética 2 ed São Paulo Brasiliense 1987 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Lucas Dias Luiz Ilustrações Rogério Lopes Revisão ortográfica Ane Arduin Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados
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O FENÔMENO E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA Prof Thomas Heimann NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A compreender o fenômeno religioso reconhecendo sua presença nas mais diversas áreas da cultura humana em uma perspectiva da integralidade do ser A analisar os principais elementos constitutivos de religiões e manifestações religiosas do mundo e da realidade brasileira A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relações sociais políticas econômicas e culturais INTRODUÇÃO O estudo de uma disciplina com o nome de Cultura Religiosa pode causar certa estranheza a alguns universitários A pergunta que surge é afinal a religião um assunto de foro tão íntimo e pessoal pode ser objeto de estudo científico e acadêmico Qual a relevância ou aplicabilidade disso para uma formação acadêmica e profissional em um mundo cada vez mais tecnicista racional e agnóstico que se torna a cada dia mais indiferente ao campo religioso Do ponto de vista científico não importa se todos os alunos da disciplina sejam completos ateus agnósticos ou até mesmo críticos da religião vendoa como um pensamento primitivo uma prática supersticiosa ou até um entrave ao avanço da ciência O fato é que independentemente da nossa atitude pessoal frente às crenças religiosas o fenômeno religioso é um dos principais fundamentos da sociedade estando presente em diferentes representações culturais dos diferentes povos e civilizações desde os tempos mais remotos da humanidade A estrutura deste capítulo passa pela definição de conceitos básicos no campo da religião pela demonstração concreta de sua presença nas diferentes representações culturais pela dialogicidade com outros campos do conhecimento humano e também por algumas reflexões acerca da experiência religiosa Portanto reconhecer que o fenômeno religioso se inscreve e demarca o processo civilizatório humano é um dos grandes desafios a que se propõe este capítulo introdutório Como afirma um dos grandes pesquisadores das ciências da religião se Deus não é objeto de investigação estritamente científica porém toda vivência religiosa envolve um ser humano e como experiência humana pode ser objeto de investigação científica BENKÖ 1981 p 14 O HOMO RELIGIOSUS A UNIVERSALIDADE DA RELIGIÃO O ser humano é um ser multidimensional composto por elementos físicos intelectivos afetivos volitivos lúdicos sociorrelacionais e também por elementos religiosos O homo religiosus como afirma a antropologia desenvolveu uma atividade religiosa desde a sua primeira aparição na cena da história todas as tribos e todas as populações de qualquer nível cultural cultivaram alguma forma de religião MONDIN 1980 p 218 A universalidade religiosa precisa ser compreendida em toda a sua diversidade Há muitas formas e expressões religiosas como o monoteísmo crença em um só deus politeísmo crença em vários deuses panteísmo Deus e o universo são idênticos dualismo duas forças opostas que regem o universo deísmo há um ser supremo mas que não interage com a criação teísmo um ser divino e pessoal que interage com a natureza e com as pessoas esoterismo a busca de conhecimentos ocultos através do espiritual místico ou sobrenatural feng shui astrologia numerologia etc entre outras podendo haver pequenas variações conceituais em cada uma delas Em uma abordagem histórica além das já conhecidas tradições religiosas como as mitologias grega e romana as religiões clássicas como Judaísmo Cristianismo Islamismo Budismo Hinduísmo as religiões antigas dos egípcios incas maias e astecas há também formas mais primitivas de expressões religiosas Uma das principais é o animismo Nessas antigas crenças o ser humano atribuía aos animais às plantas aos rios às montanhas às estrelas etc uma conotação espiritual Ou seja nos fenômenos e elementos da natureza habitavam e se expressavam espíritos e forças divinas que deveriam ser venerados e apaziguados especialmente diante de fenômenos climáticos celestes e geofísicos como secas terremotos furacões erupções de vulcões eclipses entre outros Muitas oferendas e sacrifícios inclusive de humanos foram realizados ao longo dos séculos na busca de agradar aos deuses ou de aplacar a sua suposta fúria contra algo ou alguém Do animismo derivouse outra prática religiosa o fetichismo que consistia em atribuir a objetos animados ou inanimados um poder mágico ou sobrenatural Esses objetos poderiam ser tanto produzidos pelos indivíduos como encontrados na natureza tais como pedras dentes ossos bonecos estatuetas correntes e pingentes passando a servir como amuletos protetores individuais Podemos relacionar o rico mundo das superstições ainda tão presente na sociedade de hoje como um exemplo atual de crença fetichista Em suma mesmo que estejamos hoje vivendo um processo crescente de secularização marcado pelo enfraquecimento do sagrado pela perda de interesse na vivência religiosa comunitária a religiosidade tem permanecido como uma constante do ser humano mesmo que não seja mais cultivada por todos os indivíduos da espécie MONDIN 1980 p 218 DEFININDO CONCEITOS RELIGIÃO FÉ E ESPIRITUALIDADE Religiosidade é um conceito complexo subjetivo e multifacetado Ele pode significar desde um conjunto de crenças regras e ritos compartilhados por uma comunidade até um sentimento misterioso de interioridade envolvendo algo místico e pessoal No sentido etimológico o termo latino religio pode advir de dois verbos O primeiro seria religere cujo sentido denota a atitude de estar atento refletir e observar dando a ideia de que a religião está ligada a um fenômeno que exige cuidado zelo e dedicação por parte daqueles que a praticam O segundo verbo seria religare ou seja religar unir novamente sinalizando para o retorno ou reparação de uma situação que foi rompida na tentativa de se ligar novamente a Deus ROOS 2008 p 859861 Ambas fazem sentido analisandose o que acontece na vivência religiosa dos crentes A título de exemplo citamos o relato judaicocristão que descreve a queda do ser humano em pecado Ali se rompia a relação perfeita entre Deus e o ser humano que justifica o conceito de reparação através da criação da religião ou seja uma mediação concreta para religarse novamente com o Criador Avançando no conceito qualquer definição de religião que não inclua como uma variávelchave a crença em seres sobrehumanos que possuem poder de auxiliar ou causar dano ao ser humano é contraintuitiva SPIRO In WIEBE 1998 p 19 Já outras definições dizem que a religião é um sentimento ou sensação de absoluta dependência ou que significa a relação entre o homem e o poder sobrehumano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente Essa relação se expressa em emoções especiais confiança medo conceitos crença e ações culto e ética GAARDER 2000 p 17 Essa última definição se aproxima de critérios mais objetivos ao caracterizar a religião como a um conjunto de crenças ou doutrinas b um conjunto de ritos ou cerimônias c um código de comportamento ético e moral a ser seguido d uma experiência relacional com um ser transcendente vivenciada em dimensão comunitária INFOGRÁFICO CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DE UMA RELIGIÃO Reforçase que religião implica uma relação em pelo menos dois sentidos vertical em direção ao ser transcendente e horizontal em direção a outras pessoas que compartilham das mesmas crenças Não há portanto religião de um indivíduo só Daí surge a diferenciação entre o conceito de religião e espiritualidade A espiritualidade diz respeito a uma característica humana que designa toda vivência que pode produzir mudança no interior do ser humano e redimensiona a sua forma de se relacionar consigo com os outros e com o cosmos Está relacionada com valores significados e busca de sentido que podem ser encontrados em diferentes lugares inclusive em si mesmo GIOVANETTI 2005 p 136 A forma mais usual de manifestação da espiritualidade é através da religiosidade ou seja ela se concretiza quando um indivíduo encontra em uma religião um conjunto de elementos que dão sentido para sua existência Nesse caminho surge o conceito de fé religiosa entendido pela experiência de se sentir chamado e confiar em algo ou alguém de cunho sagrado se relacionando com esse ser em uma postura de reverência confiança dependência e reciprocidade A religião também ocupa funções importantes Ela procura dar respostas para as grandes questões existenciais elaborando explicações para a origem sentido e destino de todos os seres vivos A religião também oferece consolo em momentos de sofrimento e alimenta a esperança de uma vida além morte aplacando a angústia humana diante da incômoda consciência de sua finitude Além de também ser um meio de preencher o vazio existencial a religião auxilia na construção de uma identidade pessoal e coletiva dando ao ser humano um sentimento de pertença a um grupo fator importante para a coesão social e saúde mental O FENÔMENO RELIGIOSO E SUAS REPRESENTAÇÕES NA CULTURA Retomando o que já afirmamos neste capítulo mesmo que não tenhamos qualquer crença religiosa o fato é de que ela está fortemente presente em diferentes dimensões da cultura e sociedade Quem gosta de olhar filmes e seriados independentemente do gênero irá se deparar com enredos permeados de religiosidade Muitos clássicos do cinema trazem a marca do religioso do sobrenatural e do místico Filmes épicos como Tróia Cruzadas BenHur A Paixão de Cristo Maria Madalena filmes de ação e aventura como a trilogia de Indiana Jones Senhor dos Anéis Crônicas de Nárnia A Múmia Harry Potter 2012 Thor etc filmes policiais de terror e de suspense como O Exorcista O Chamado Ouija O Jogo dos Espíritos Seven Os Sete Pecados Capitais dramas como Ghost Amor Além da Vida Cidade dos Anjos até mesmo grandes comédias como Mudança de Hábito O Todo Poderoso Ghostbusters a lista é enorme Das séries podemos citar Supernatural Lúcifer Ghost Hunters etc Também muitas telenovelas abordaram temas religiosos como Roque Santeiro A Padroeira Porto dos Milagres Almas Gêmeas Babel Eterna Magia entre outras Já quem gosta da literatura além da Bíblia ser o maior bestseller mundial vamos encontrar clássicos como Código da Vinci Anjos e Demônios e Inferno de Dan Brown O Monge e o Executivo A Cabana Comer Rezar Amar além de muitos livros esotéricos e de linha espiritualista um dos poucos segmentos que ainda crescem no mundo editorial Já no campo das artes nomes como Leonardo Da Vinci Rafael Michelângelo e Aleijadinho são reconhecidos por suas obras com temática religiosa Na própria música desde autores sacros como Bach Mozart e Beethoven como inúmeras bandas de rock passando por cantores e compositores nacionais além de todo movimento de música Gospel trazem conteúdos religiosos em suas letras e composições O campo do turismo é outro elemento importante que se relaciona com a religião Países e cidades têm como fonte de renda o elemento da fé e religiosidade A Capela Sistina no Vaticano as pirâmides do Egito e de Cuzco no Peru o Monte Olimpo na Grécia e a cidade suspensa de Machu Picchu o monumento de Stonehenge na Inglaterra a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro as peregrinações a cidades santas como Jerusalém e Meca os santuários de Aparecida do Norte os templos budistas espalhados pelo mundo são apenas alguns dos exemplos de lugares turísticos Já no contexto econômico e financeiro além do turismo a religião movimenta a economia em diversos setores Festas como o Natal Páscoa São João Sírio de Nazaré Navegantes além de promoverem feriados em nosso calendário também movimentam a economia gerando empregos e renda A venda de produtos religiosos e esotéricos contratos comerciais em que questões religiosas precisam ser observadas ex abate de animais para exportação a países islâmicos e até mesmo frases religiosas nas notas de dólar e real mostram essa íntima relação entre religião e a economia A própria indústria alimentar tem se preocupado com questões religiosas visto que muitas religiões possuem regras e restrições alimentares que são impostas a seus fiéis No esporte talvez até muitos dos leitores possam darse conta de que praticam ritos religiosos surfistas fazem o sinal da cruz antes de entrar no mar jogadores entram em campo com o pé direito atletas apontam para o alto e agradecem a Deus diante de conquistas treinadores usam a mesma roupa com que obtiveram um título etc Crenças superstições e trabalhos religiosos são comuns no meio esportivo O campo educacional também sofreu e ainda sofre influência das religiões Muitas instituições de ensino privadas estão ligadas a grupos religiosos tradicionais como católicos metodistas presbiterianos luteranos batistas e adventistas Entre as dez mais importantes universidades do mundo seis delas tiveram mantenedoras religiosas em sua origem tais como Harvard Cambridge Oxford Princeton Yale e Columbia No Brasil os grupos religiosos também estão vinculados a universidades como ULBRA UMESP Mackenzie UNISINOS PUC etc No campo da linguagem o uso de expressões religiosas é comum mesmo por quem não é religioso tais como Deus me livre cruz credo meu Deus do céu graças a Deus A linguagem religiosa também é expressa em nomes próprios como João José Maria Ângelo etc Estados brasileiros como Espírito Santo São Paulo Santa Catarina além de centenas de municípios pelo mundo possuem nomes religiosos São Francisco San Diego Los Angeles San Petersburgo Salvador Bom Jesus Santa Maria Aparecida do Norte Santa Cruz Santa Rosa etc Por último dentro dessa perspectiva da relação da religião com elementos culturais o campo político não pode ficar de fora com ambos por vezes fundindose em um poder unificado Nos antigos impérios egípcio romano maia japonês só a título de exemplo os governantes eram quase todos divinizados o que legitimava o seu poder absoluto sobre o povo Por toda a Idade Média a religião cristã esteve muito atrelada às questões políticas sendo o papado romano um importante centro de poder assim como foram e continuam sendo os Estados Islâmicos no Oriente Médio Até mesmo guerras foram travadas sob um suposto pretexto religioso tais como as inúmeras Cruzadas em prol da conquista da Terra Santa ou as guerras entre hindus e muçulmanos na região da Kashemira conflitos entre Índia e Paquistão Nos dias atuais é comum vermos grupos religiosos buscando espaços e fazendo lobby em decisões políticas que envolvem a sociedade civil além de continuarem as tensões políticoreligiosas em diversas partes do mundo incluindo perseguições a determinados grupos minoritários Esses e outros exemplos demonstram o quanto o fenômeno religioso é parte constitutiva da sociedade e está profundamente imbricado em diferentes dimensões da cultura humana Tal como afirmam Reblin e Sinner não é possível entender a experiência religiosa distante da vida social como se esta independesse daquela assim como não é possível conceber uma sociedade sem uma vida religiosa Religião e sociedade se interconectam se emaranham e por vezes se fundem e se confundem na própria amálgama que é a vida humana 2012 Prefácio O FENÔMENO RELIGIOSO E SUAS INTERRELAÇÕES COM AS CIÊNCIAS Um outro importante elemento no estudo do fenômeno religioso é a sua interrelação com as diferentes ciências Talvez por perceberem a relevância histórica e cultural da religião e sua enorme influência no comportamento individual e social da humanidade diversos campos do conhecimento foram reunidos em uma área chamada de Ciências da Religião Fazem parte dela a Filosofia da Religião Psicologia da Religião Sociologia da Religião Antropologia da Religião Direito Religioso e História das Religiões para citarmos apenas algumas além do crescente interesse pelo campo da Espiritualidade e Saúde Temas de cunho existencial como a origem do mal ou do sofrimento o sentido da vida e da morte a metafísica a autotranscendência e espiritualidade humana o campo da moralidade e da ética a discussão entre fé e razão são alguns dos eixos da Filosofia da Religião auxiliando os indivíduos a promoverem uma reflexão crítica sobre o campo religioso Já a Antropologia da Religião procura demonstrar que as diferentes expressões religiosas são criação do próprio ser humano Busca estudar e analisar as estruturas sociais enfocando temas como mitos ritos tabus xamanismo e outras formas de representações religiosas inscritas nos diferentes povos A Psicologia da Religião por sua vez vai analisar os fenômenos religiosos a partir das funções psíquicas e afetivoemocionais dos indivíduos e grupos Sigmund Freud pai da Psicanálise debruçouse sobre as estruturas e crenças religiosas considerando a religião como uma grande produtora de neuroses em uma tensão constante entre os conceitos de desejo e culpa Já Carl Gustav Jung outro importante teórico da Psicologia é autor de livros como Psicologia e Religião Resposta a Jó Psicologia e Religião Oriental entre outros vendo a religião como uma dimensão importante para obtenção do equilíbrio mental Pelo viés da psicologia da religião fenômenos religiosos como visões incorporações obsessões ou até possessões são interpretados como sintomas de possíveis transtornos mentais tais como alucinações e dissociações de personalidade Também o fanatismo religioso é objeto de estudo da psicologia da religião na busca de compreender que processos mentais atuam quando fiéis comportam se de forma irracional a exemplo do suicídio coletivo incitado pelo Reverendo Jim Jones nas Guianas em 1978 ou dos seguidores de David Koresh em Waco Texas no ano de 1993 A Sociologia da Religião é outra área que cresce em interesse acadêmico Émile Durkheim a partir da clássica obra As formas elementares de vida religiosa 1912 cria um modelo interpretativo que divide o mundo em duas categorias denominadas de sagrado e profano Para Durkheim a religião é eminentemente coletiva e possui a função precípua de manter a coesão social Já Max Weber procurou explicar a origem da racionalidade ocidental escrevendo a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo 1904 05 um dos maiores clássicos da sociologia até hoje Por fim o sociólogo contemporâneo Peter Berger procura demonstrar que a religião representa o ponto máximo no processo coletivo de elaboração de um sentido para a vida no mundo além de identificar as raízes do processo de secularização e desencantamento do mundo no qual mostra o porquê as religiões tradicionais vêm perdendo seu poder e monopólio na sociedade FERREIRA 2008 p 859861 Um outro campo de crescente interesse na relação entre ciência e religião é a área da espiritualidade e saúde É fato histórico a íntima associação existente entre medicina e religião nas origens da maioria dos povos e culturas Deuses ou o mundo sagrado atuando em curas é um elemento presente desde a antiguidade Esculápio era o deus da cura na mitologia grega Imhotept o deus médico egípcio Nas escrituras judaicas e cristãs lemos Eu sou o Deus que te cura Êxodo 1626 Jesus Cristo também ganhou notoriedade histórica por curar muitos doentes conforme relatos dos evangelhos bíblicos Para o médico Alex Botsaris a medicina antes de ser ciência é um produto da cultura humana Como a arte de curar ela está presente desde as civilizações mais rudimentares no momento em que surgiu a necessidade de alguém assumir a tarefa de curar as pessoas auxiliandoas a lidar com a dor com a incapacidade física bem como frente à angústia suscitadas pela doença e morte Dessa forma criaramse os primeiros sistemas médicos que nas culturas mais antigas estavam ligados aos sacerdotes e líderes religiosos como xamãs pajés druidas feiticeiros e curandeiros que exerciam tanto as funções de religiosos como as de médicocurandeiro BOTSARIS 2001 p 57 Os fenômenos da doença e da cura portanto foram monopólio por muitos séculos de religiosos e sacerdotes Isso é chamado de Teurgia literalmente traduzido como trabalho de Deus A Teurgia envolvia cânticos ritos preces e outras formas de ligação com as forças divinas sagradas e sobrenaturais que operariam diretamente por esses meios na cura dos indivíduos Em uma correlação com a contemporaneidade para Landmann o carisma e o poder quase divinizado dos médicos na atualidade têm seu nascedouro justamente em uma concepção religiosa ou mágica LANDMANN 1984 p 1415 Porém a descoberta de técnicas experimentais de pesquisa no século XVII encaminhou uma aproximação aos fenômenos do mundo físico e biológico distinguindo as novas práticas médicas da visão religiosa e teológica PAIVA 2000 p 13 Aos poucos as novas descobertas levaram à desapropriação da religião como lugar de cura e cuidado físico passando a ser quase uma exclusividade da ciência médica Gadamer afirma que o médico faz questão de se afastar da figura de curandeiro de tantas culturas revestido pelo segredo das forças mágicas arrogando ser um homem da ciência isto é que conhece o motivo pelo qual uma determinada técnica de cura tem êxito bem como entendendo a relação de causa e efeito Porém isso não significa que os seus pacientes se satisfaçam com essa explicação ou seja a esperança de cura quase mágica associada ao poder do conhecimento que o médico detém é uma fantasia constante a circular na relação médicopaciente mesmo que os médicos procurem evitála a qualquer custo GADAMER 2006 p 40 Na perspectiva dos benefícios da espiritualidade para a saúde integral do ser humano Dal Farra referese a um conjunto de estudos que têm demonstrado o impacto da espiritualidade sobre diversos parâmetros de saúde que podem ser inclusive mensurados de forma metodologicamente eficiente Diversas publicações científicas têm mostrado evidências de que o envolvimento religioso está favoravelmente associado a indicadores de bemestar psicológico incluindo a satisfação na vida a felicidade menor frequência de depressão e de utilização de drogas de abuso etc DAL FARRA 2010 p 589 Elementos da fé e espiritualidade representam um ponto importante a ser considerado nas questões de saúde coletiva como podemos observar nos dados analisados por Jeff Levin do National Institute for Healthcare Research dos Estados Unidos que resumem os resultados obtidos nas pesquisas sobre espiritualidade e fé em relação à saúde em um amplo conjunto de aspectos conforme descreve Dal Farra 2010 p 5912 Princípio 1 A afiliação religiosa e a participação como membro de uma congregação religiosa beneficiam a saúde ao promover comportamentos e estilos de vida saudáveis Princípio 2 A frequência regular a uma congregação religiosa beneficia a saúde ao oferecer um apoio que ameniza os efeitos do estresse e do isolamento Princípio 3 A participação no culto e na prece beneficia a saúde graças aos efeitos fisiológicos das emoções positivas Princípio 4 As crenças religiosas beneficiam a saúde pela sua semelhança com as crenças e com estilos de personalidade que promovem a saúde Princípio 5 A fé pura e simples beneficia a saúde ao inspirar pensamentos de esperança e de otimismo e expectativas positivas Pesquisa realizada com pacientes terminais demonstrou que o conforto espiritual não apenas aumenta a esperança de vida dos pacientes como diminui os índices de depressão de ideias suicidas e de desejo de morte breve DAL FARRA 2010 p 5912 Posto esses elementos que colocam a religião como um objeto da ciência passível de ser descrito e analisado sob a perspectiva acadêmicocientífico passamos agora a analisar o conceito de experiência religiosa A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA Você já teve alguma experiência religiosa Curiosamente muitos alunos respondem negativamente a esse questionamento Talvez porque a ideia implícita seja de que uma experiência religiosa precise ser um evento algo grandioso tais como revelações proféticas aparições de seres divinos ou angelicais falar em línguas sonhos premonitórios presenciar espíritos atuando em sessões mediúnicas ver demônios sendo expulsos em cultos de libertação ter recebido uma cura espiritual ou ter vivido uma experiência miraculosa Dentro da subjetividade que caracteriza as experiências religiosas podemos afirmar que elas podem ser muito mais simples do que as listadas acima Meditar ou fazer uma prece em momentos de angústia e em seguida entrar em um estado de paz e tranquilidade sentindo a presença de Deus ou ainda experiências de conversão onde o fiel acredita que Deus o chamou para viver uma nova vida em uma mudança visível de sua forma de pensar sentir e agir também são experiências espirituaisreligiosas Tais experiências são interpretadas como mediações da esfera do sagrado ou do mundo sobrenatural somente a partir da fé pois a ciência procura sempre encontrar razões lógicas humanas e científicas para todas elas Portanto a interpretação das experiências religiosas sempre varia de sentido dependendo das ideologias convicções argumentos e crenças pessoais de quem as vivencia estuda e analisa Vamos dar um exemplo dessa variação interpretativa para algumas religiões neopentecostais demônios podem possuir pessoas para os cultos afrobrasileiros entidades espirituais ocupam ou incorporam nos fiéis para religiões espiritualistas espíritos desencarnados podem orientar obsediar ou subjugar indivíduos para a psiquiatria tais fenômenos podem ser transtornos dissociativos para a psicologia podem advir de um elemento de indução e sugestionabilidade de líderes religiosos O fato é que não há como negar a existência da experiência ou do fenômeno mesmo que suas interpretações sejam tão distintas Por essa pluralidade de sentidos precisamos desenvolver uma atitude de respeito para com as diferentes experiências religiosas Para quem as vivencia elas são reais modificando muitas vezes sua maneira de enxergar o mundo de se relacionar consigo mesmo com Deus e com as outras pessoas Nas experiências religiosas portanto as dimensões intelectuais emocionais espirituais sóciorelacionais e até físicas se inter relacionam Elas se mostram no cumprimento de regras morais na realização de ritos tradicionais como batismos casamentos crismas funerais preces e rezas nas expressões cúlticas como músicas cantos e danças no uso de símbolos ou gestos religiosos O certo é que todas as experiências podem variar em intensidade indo de um mero formalismo religioso motivado pela tradição até uma experiência interior profunda autêntica e mística onde se sente a presença do sagrado e do divino na própria vida Finalizando esse capítulo o estudo da Antropologia parece confirmar sem negar as reconhecidas diferenças entre as religiões que há uma tendência na busca do ser humano pelo sagrado e transcendente ou seja a ideia de Deus parece estar presente no inconsciente coletivo da humanidade Podem mudar as formas de expressão a linguagem utilizada os relatos dos mitos os tipos de ritos mas o que não vai se alterar é que por trás de todas essas diferenças existe o estabelecimento de uma estrutura religiosa comum com a qual a humanidade se relaciona A verdade é que independentemente do que cremos em que ou quem cremos ou como cremos nós humanos efetivamente cremos em algo Nem mesmo ateus e agnósticos escapam disso pois como diz o filósofo Max Scheler os que não são religiosos podem substituir os deuses por outras formas de ídolos seja a ciência ou diferentes formas de ideologias REFERÊNCIAS BENKÖ A Psicologia da religião São Paulo Ed Loyola 1981 BOTSARIS Alexandros Spyros Sem anestesia o desabafo de um médico os bastidores de uma medicina cada vez mais distante e cruel Rio de Janeiro Objetiva 2001 DAL FARRA Rossano GEREMIA César Educação em saúde e espiritualidade proposições metodológicas Revista Brasileira de Educação Médica 34 4 587597 2010 DICIONÁRIO BRASILEIRO DE TEOLOGIA BORTOLLETO FILHO Fernando Org São Paulo ASTE 2008 FERREIRA Valdinei Aparecido Verbete Sociologia da Religião p 859861 ROOS Jonas Verbete Religião p859861 GAARDER Jostein O livro das religiões São Paulo Companhia das Letras 2000 GADAMER HansGeorg O caráter oculto da saúde Petrópolis Vozes 2006 GIOVANETTI José Paulo Psicologia e espiritualidade Em AMATUZZI Mauro Martins Org Psicologia e espiritualidade São Paulo Paulus 2005 p 129145 LANDMANN Jayme A outra face da medicina Rio de Janeiro Salamandra 1984 MONDIN Battista O homem quem é ele elementos de antropologia filosófica São Paulo Edições Paulinas 1980 PAIVA Geraldo José de A religião dos cientistas uma leitura psicológica São Paulo Edições Loyola 2000 REBLIN Iuri A SINNER Rudolf Von Religião e sociedade desafios contemporâneos São Leopoldo SinodalEST 2012 Prefácio WIEBE Donald Religião e Verdade rumo a um paradigma alternativo para o estudo da religião São Leopoldo Sinodal 1998 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Rogério Lopes Revisão ortográfica Igor Campos Dutra Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados ESPIRITUALIDADE E CONTEMPORANEID ADE Prof Thomas Heimann NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relações sociais políticas econômicas e culturais A participar da reflexão a respeito dos valores humanos sociais éticos e espirituais A construir a partir de valores éticos e religiosos princípios norteadores de sustentabilidade e cidadania A atuar eticamente frente a diferentes situações no campo pessoal social e profissional A mediar conflitos no campo da ética e religiosidade a partir dos princípios de respeito diálogo e tolerância INTRODUÇÃO Nesse segundo capítulo teremos duas abordagens temáticas que vão transversalizar o campo da religião e espiritualidade em sua relação com a sociedade contemporânea A primeira parte do capítulo irá abordar alguns conceitos importantes para compreendermos diversos fenômenos atuais no campo religioso e relacional Conceitos como globalização fundamentalismo tolerância e secularização são tratados a partir do fenômeno da Globalização ao passo que os conceitos de trânsito sincretismo e mercado religioso estarão mais relacionados à religiosidade latino americana e brasileira A segunda abordagem temática do capítulo parte para um assunto que transcende especificidades culturais enfocando um fenômeno de cunho mais ontológico e existencial que diz respeito a cada ser humano na relação intra e interpessoal a culpa e o perdão A abordagem dessa temática é interdisciplinar pois envolve elementos não apenas da religiosidade mas também elementos filosóficos antropológicos psicológicos e teológicos com diferentes possibilidades interpretativas Que esses temas nos auxiliem a refletir sobre nossos pensamentos valores crenças e posturas cotidianas nos diferentes âmbitos da convivência humana FUNDAMENTALISMOS TOLERÂNCIA E FENÔMENOS RELIGIOSOS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO Um dos conceitos marcantes do século XXI é o da Globalização O mundo globalizado através dos meios de comunicação em especial a internet permite a interação e conexão entre pessoas em quaisquer partes do mundo De certa forma tornaramse tênues as linhas que demarcam nações territórios culturas e jurisdições Vivemos todos em uma espécie de aldeia global A Globalização não é portanto um fenômeno apenas da área da comunicação mas mundial das relações sociais econômicas culturais religiosas enfim das relações humanas Hall 2011 descreve que o processo de Globalização ao interconectar as pessoas em diversas partes do mundo cria um novo modelo de identidade no qual se deve levar em conta não mais os modelos de uma sociedade organizada entre fronteiras mas uma sociedade híbrida multifacetada transcultural em seus usos costumes tradições e concepções da realidade Afirma Hall as identidades nacionais estão em declínio mas novas identidades híbridas estão tomando o seu lugar 2011 p 69 Na relação com a religiosidade esse hibridismo retrata uma realidade muito presente em nosso país o sincretismo religioso Nele se constrói uma identidade religiosa híbrida resultado da fusão ou interpenetração de diferentes religiões seitas filosofias personagens crenças e visões de mundo numa mescla harmonizada de diferenças Para Araújo o sincretismo ocorre quando dois ou mais sistemas religiosos se combinam de modo que ambos deixam de existir como tais e produzem um sistema religioso original 2008 p930 A Umbanda que combina elementos das religiões africanas indígenas kardecistas e também elementos do catolicismo popular é um claro exemplo de sincretismo Além disso indivíduos que alternam idas a missas ou cultos frequentam esporadicamente centros espíritas tomam passes em um terreiro meditam num centro budista fazem terapia de Reiki consultam cartomantes etc com idas e vindas nesses diferentes contextos também demonstram uma atitude religiosa sincrética fruto de uma globalização e indiferenciação religiosa marcas da religiosidade brasileira O próprio trânsito religioso outra característica marcante de nossa religiosidade demonstra a diluição gradativa de referências identitárias que vivemos na contemporaneidade Isso é enfatizado pela socióloga da religião HervieuLéger que chama esse movimento de religiosidade à la carte marcada pela mudança fluidez e mobilidade de indivíduos entre as diversas opções religiosas existentes no seu contexto social HERVIEULÉGER 2005 p 28 Esse trânsito pode ser contínuo implicando novas experimentações religiosas motivadas por curiosidade modismos ou por necessidades pessoais com a possibilidade de sucessivos retornos à religião de origem Almeida e Montero acrescentam outra explicação para o trânsito religioso relacionandoo com o processo de mercantilização dos bens de salvação pelas diferentes instituições que oferecem cura sucesso e prosperidade aos adeptos numa espécie de mercado religioso 2001 p92 Diferentemente da Europa onde o movimento de secularização é cada vez mais visível com a religião perdendo sua força poder e relevância tanto para indivíduos quanto grupos implicando a diminuição significativa do envolvimento religioso no Brasil a força da religião ainda se faz muito presente na sociedade Apesar das mudanças nas formas de expressão religiosa ainda há forte influência da religiosidade na vida da maioria das pessoas No Brasil ainda consegue se encher estádios em cerimônias religiosas e cruzadas pela fé Vamos ver esse paradoxo a partir das imagens abaixo Clique aqui e assista ao vídeo sobre a secularização crescente na Europa templos religiosos se transformam em bares livrarias e outros estabelecimentos comerciais Já na relação com os Fundamentalismos a Globalização introduz algumas questões para reflexão é possível afirmar que a formação de uma identidade híbrida realmente está em processo na sociedade atual Em pleno século XXI podese afirmar que as diversas culturas com seus princípios com suas normas e valores com suas tradições com sua religiosidade estão convivendo harmonicamente O que dizer então das frequentes notícias que veiculam intolerâncias preconceitos radicalismos seja em relação à etnicidade a grupos minoritários os indígenas por exemplo a gênero ou mesmo em questões ligadas à religiosidade As questões da intolerância e do preconceito estão ligadas essencialmente ao Fundamentalismo que embora não seja algo novo reaparece ou globalizase no século XXI Podese afirmar que atitudes fundamentalistas muitas vezes têm corroborado práticas e atitudes discriminatórias para com aqueles que por assim dizer não se adequam a um padrão estabelecido pela sociedade ou por determinado grupo social O teólogo Leonardo Boff assim conceitua o Fundamentalismo Não é uma doutrina Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina É assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar do seu espírito e de sua inserção no processo sempre cambiante da história que obriga a contínuas interpretações e atualizações exatamente para manter sua verdade essencial O fundamentalismo representa a atitude daquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista BOFF 2002 p 25 O Fundamentalismo portanto se caracteriza basicamente pela ideia de que existe apenas uma verdade expressa na opinião do próprio fundamentalista e que outras ideias não podem ser consideradas respeitadas sequer devendo existir BOFF 2002 Nesse sentido precisamos admitir que os fundamentalismos nossos de cada dia estão muito mais perto de cada um de nós do que supomos Convivemos e até compactuamos com posturas fundamentalistas em diferentes áreas da vida A polarização crescente das discussões nas redes sociais por exemplo seja no campo das ideologias políticas religiosas morais científicas e até futebolísticas revelam o quanto os indivíduos estão imersos na onda dos radicalismos e fundamentalismos na sociedade atual marcados pela intolerância e agressividade das relações cotidianas Num olhar históricosocial identificamos exemplos clássicos de fundamentalismo Na Idade Média os tribunais da Santa Inquisição assumiram posições radicais condenando todos os que se posicionavam contra os preceitos da Igreja Também ideologias políticas como o Fascismo e Nazismo são reputadas como exemplos de fundamentalismos com efeitos nocivos à sociedade O Nazismo de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial ao afirmar a existência de uma raça superior às demais e a necessidade de extermínio das ditas raças inferiores numa posição de eugenismo extremo fez a humanidade presenciar os horrores dos campos de concentração onde milhares de judeus e outros grupos minoritários foram exterminados pelos nazistas De forma mais recente o atentado do grupo fundamentalista islâmico alQaeda em 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas do World Trade Center matando cerca de três mil pessoas mostra a relação entre o fundamentalismo e a violência Como vai dizer Odalia muitas vezes atitudes violentas são justificadas sob o argumento do pensar diferente O uso da violência se torna algo corriqueiro banal assumindo contornos de normalidade ao dizer que o ato violento se insinua como um ato natural cuja essência passa desapercebida ODALIA 2004 p 23 Com relação ao fundamentalismo religioso nele os indivíduos e grupos se apresentam como únicos detentores da verdade não permitindo outras compreensões do Sagrado e do Divino que não seja aquela considerada pelo fiel Esse pensamento pode levar à discriminação à intolerância ao desrespeito ao semelhante e em muitos casos até mesmo a atos de violência como já aconteceu no cenário social e religioso brasileiro É óbvio e claro que cada ser humano pode e deve eleger as suas ideias a respeito do Divino e do Transcendental O que está em discussão é o respeito à diversidade de pensamento seja ele religioso ideológico ou moral Aqui se mostra a importância de conhecermos o conceito de tolerância tal como propugnado por Gaarder Tolerância ou seja respeito pelas pessoas que têm pontos de vista diferentes do nosso é uma palavrachave no estudo das religiões Não significa necessariamente o desaparecimento das diferenças e das contradições Uma atitude tolerante pode perfeitamente coexistir com uma sólida fé e com a tentativa de converter os outros Porém a tolerância não é compatível com atitudes como zombar das opiniões alheias ou se utilizar da força e de ameaças A tolerância não limita o direito de fazer propaganda mas exige que esta seja feita com respeito pela opinião dos outros GAARDER 2004 p 145 Clique aqui e assista ao vídeo de Karen Armstrong sobre a intolerância e fundamentalismo religioso Cabe ao ser humano no respeito ao seu semelhante perceber as diversas religiões e culturas existentes compreender as diversas formas de religiosidade e de pensamento numa sociedade plural e caminhar para uma convivência ética onde possa dar testemunho do que crê sem desrespeitar quem pensa diferente Passamos agora a uma outra questão contemporânea que também está vinculada à promoção de uma cultura de paz e de resgate de relacionamentos mais saudáveis o tema da culpa e perdão CULPA E PERDÃO UMA QUESTÃO EXISTENCIAL Numa reportagem de capa da revista Veja 2002 intitulada Culpa por que esse sentimento se tornou um dos tormentos da vida moderna a revista aborda um tema de grande relevância não só para o campo da religião mas para toda vida relacional o sentimento de culpa A reportagem procura apontar para as culpas cotidianas de cada um que parecem não ser uma questão de escolha pessoal mas sim uma realidade inexorável aos indivíduos que vivem na sociedade moderna competição no emprego optar por filhos ou carreira o desempenho sexual comer demais a ditadura da beleza o insucesso financeiro são apenas algumas dentre as diversas culpas listadas Poderíamos perguntar se é possível um sujeito saudável psiquicamente olhar para o seu passado e dizer que nunca sentiu algum tipo de culpa Estudiosos do comportamento humano confirmam que a ausência completa de culpa é um dos indicativos para um possível diagnóstico de psicopatia e sociopatia Visto sob esse ângulo a culpa parece fazer parte da dimensão humana sendo uma questão inclusive civilizatória que nos permite viver em coletividade abarcando a dimensão da alteridade ou seja a capacidade de nos colocar no lugar do outro na relação interpessoal O fato de ser universal não tira da culpa o seu caráter pessoal particular e subjetivo Há elementos familiares religiosos sociais e culturais na sua constituição ou seja o que para determinados indivíduos grupos sociedades ou culturas poderia ser considerado um ato culposo para outros poderá ser um costume normal ou uma prática natural Com relação às fontes da culpa ela pode ser de origem interna ou externa As culpas externas são atribuídas ou impostas aos indivíduos pelos costumes tradições regras e leis dos mais diferentes âmbitos civis religiosos sociais profissionais e mesmo pessoais Quando uma regra ou lei é violada o transgressor se torna culpado perante ela mesmo que ele não se sinta culpado internamente o que denominamos de culpa objetiva COLLINS 2004 p158 Já a culpa subjetiva é o sentimento pouco confortável de pesar remorso vergonha e autocondenação que surge com frequência quando fazemos e pensamos algo que sentimos estar errado ou quando deixamos de fazer algo que julgamos que deveria ter sido feito 2004 p 158 A culpa subjetiva portanto está intimamente associada aos sentimentos humanos no sentido de provocar algum tipo de sofrimento psíquico remetendonos à segunda fonte da culpa essa de caráter interno a nossa própria consciência É possível afirmar que o ser humano é dotado de uma capacidade inata uma voz interior que lhe dá uma intuição íntima e pessoal do que é certo ou errado O curioso é que a culpa subjetiva pode brotar no indivíduo mesmo quando não há uma culpa objetiva ou exterior imposta a ele ou seja posso me sentir culpado por algo que objetivamente não foi provocado por mim exemplo a culpa de ter sido o único sobrevivente de uma tragédia ou acidente Isso nos leva a uma outra reflexão Afinal o sentimento de culpa é um aspecto positivo ou negativo na vida das pessoas e da própria sociedade Por mais paradoxal que possa parecer a culpa pode cumprir funções positivas e construtivas para a vida relacional Ela nos auxilia na prevenção de atos ilícitos ou prejudiciais pois antes mesmo de violar uma regra a culpa antecipatória já pode se fazer presente no indivíduo Uma segunda função é o ato da reflexão pois após cometer um ato que a sua consciência apontou como má a culpa surge e pode levar o indivíduo a uma autoanálise crítica das suas próprias ações A reparação no sentido de pedir perdão e restituir concretamente a quem lesamos também é um aspecto positivo da culpa Por último a culpa pode levar o indivíduo a não mais cometer um ato que sua consciência julgou ilícito e o fez sofrer gerando uma mudança positiva de comportamento Olhando para as funções positivas elencadas podese afirmar que um indivíduo que não sinta nenhuma culpa diante de algumas atitudes e decisões pessoais pode tornarse uma ameaça para si e para a sociedade A ausência da culpa que parece indicar a inoperância da consciência moral faz com que o indivíduo perca a noção dos limites e da liberdade do outro tornandoo um indivíduo perigoso socialmente Quanto aos aspectos negativos da culpa esses são mais fáceis de serem percebidos A culpa pode cobrar um alto preço do indivíduo como provocar crises de ansiedade angústia preocupação insônia mau humor baixa autoestima melancolia depressão e inclusive levar um indivíduo a cometer o suicídio Doenças como úlceras gastrites impotência frigidez enxaquecas entre outras também podem ter um forte componente emocional ligado às culpas individuais Culpas reprimidas e não resolvidas se tornam potencialmente sintomas neuróticos A culpa também pode ser utilizada negativamente como forma de manipular e chantagear pessoas Relacionamentos pautados sobre o sentimento de culpa são nocivos pois geram sentimentos como pena comiseração rancor indiferença criando um ambiente não saudável e de sofrimento aos envolvidos INFOGRÁFICO Um outro elemento que merece destaque nesse assunto que estamos tratando é a relação existente entre a culpa e pagamento Para o psiquiatra suíço Paul Tournier a culpa traz como consequência quase inevitável uma ideia de pagamento como se houvesse uma atitude psicológica enraizada no coração humano que nos diz que Tudo deve ser pago 1985 p200 Esse sentimento de dívida constante está presente em muitos atos religiosos Como diz Tournier 1985 p 201 basta lembrar as multidões inumeráveis de fiéis hindus que mergulham nas águas do rio Ganges a fim de serem lavados de suas culpas e até nas ofertas votivas e no ouro que cobrem as estátuas de Buda Igualmente são inúmeros os penitentes e peregrinos de todas as religiões que impõem a si mesmos sacrifícios práticas ascéticas privarse de qualquer forma de prazer ou duras jornadas como formas de pagamento seja por culpas cometidas ou até por graças alcançadas Tais pessoas parecem ter uma necessidade interna de pagar de expiar as suas culpas Porém essa ideia de pagamento não fica circunscrita ao mundo religioso O ser humano também busca pagar suas culpas do cotidiano Uma falha leve com a namorada por exemplo pode ser paga com um buquê de flores e um convite para jantar Um castigo imposto injustamente a um filho pode ser compensado com um presente e assim por diante A típica frase Essa ele me paga muitas vezes repetida por nós em inúmeros e variados contextos e situações expressa o que estamos aqui afirmando Todas as faltas erros delitos e pecados parecem exigir um pagamento cujo preço geralmente será proporcional ao tamanho do erro Na prática da confissão católica por exemplo a penitência que é atribuída pelo sacerdote ao fiel normalmente será proporcional à gravidade do seu pecado Os pagamentos podem ser inclusive inconscientes A psicanálise afirma que muitas doenças nervosas e físicas e até mesmo acidentes bem como frustrações na vida profissional podem ser tentativas de expiação da culpa que é totalmente inconsciente Seriam formas de punição que o sofredor administra a si mesmo e continua repetindo indefinidamente como uma espécie de fatalidade inexorável TOURNIER 1985 p 201 CULPA E RELIGIÃO Já vimos que muitas religiões também têm na culpa um de seus aspectos fundantes sendo por vezes até utilizada como instrumento de domínio das igrejas sobre os fiéis Como diz Tournier 1985 p 202 para apagar o passado de culpas e pecados uma expiação pagamento deve ser feita sendo esse o sentido de quase todos os ritos e sacrifícios praticados nas diferentes religiões Esperase que eles garantam a libertação da culpa descartando o débito que deu origem a ela Isso pode ser percebido desde as práticas primitivas de aplacar a ira dos deuses por oferendas e sacrifícios quando acreditavase que alguém havia cometido um delito grave contra os deuses Nas religiões orientais o conceito da transmigração das almas e da lei do carma trazem implícita a ideia de que para evoluir espiritualmente o indivíduo precisa pagar as suas faltas através de ações positivas negação de determinadas práticas ou realização de diferentes rituais Em religiões espiritualistas afrobrasileiras e mesmo em muitas denominações cristãs também está presente o conceito da teologia retributiva ou seja de que dificuldades doenças sofrimentos e tragédias seriam uma forma de pagamento por erros más ações ou pecados cometidos doutrina também conhecida como lei do retorno Por um longo tempo o cristianismo também se estruturou sobre a prática do pagamento por culpas e pecados cometidos Na Idade Média era comum a venda de indulgências que nada mais eram do que uma compra do perdão e da salvação eternas Além disso havia a veneração de relíquias sagradas encomendas de missas pagas realização de votos e promessas práticas de autoflagelo tudo como forma de expiar as suas culpas pagar as dívidas com Deus e ganhar algum mérito pessoal diante Dele Não é essa proposta porém que um cristianismo comprometido com os evangelhos bíblicos e com o ensino e obra de Jesus Cristo oferece aos seres humanos A igreja cristã tem o compromisso de proclamar a salvação a graça e o perdão de Deus à humanidade oprimida pela culpa a salvação conquistada em Cristo por Cristo e através de Cristo Essa salvação não tem preço não pode ser comprada por ninguém até porque para o cristianismo sacrifícios expiatórios ou esforço moral não são suficientes para pagar a dívida com Deus Na realidade o cristão não precisa pagar nada pois Cristo já pagou em seu lugar Como lembra Tournier é Deus mesmo quem paga Deus mesmo pagou o preço de uma vez por todas o preço mais caro que ele poderia pagar a sua própria morte em Jesus Cristo na cruz A obliteração destruiçãoeliminação de nossa culpa é livre para nós porque Deus pagou o preço Jesus Cristo veio para salvar o que estava perdido Mt 1811 TOURNIER 1985 p 2123 Em síntese a libertação total da culpa a salvação não é mais uma ideia remota de perfeição para sempre inacessível mas passa a ser personificada numa pessoa Jesus Cristo que veio como presente de amor e misericórdia dado por Deus à humanidade TOURNIER 1985 p 214 Essa é uma possibilidade que racionalmente é vista como loucura para aqueles que não creem tal como diz o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 118 O PERDÃO COMO ATO LIBERTADOR O grande ápice do nosso capítulo é a palavra perdão De nada adianta falar de culpas se não abrimos a possibilidade de refletir sobre o perdão Numa dimensão humana das relações interpessoais poderíamos afirmar que o perdão é uma das mais importantes ferramentas terapêuticas existentes nesta vida Numa sociedade cada vez mais pautada pela violência intolerância orgulho e individualismo a arte de perdoar se torna um dos grandes desafios humanos a ponto de esse ser um dos pedidos que Jesus inseriu na oração do Pai Nosso ensinando aos seus discípulos perdoa as nossas dívidas ofensas assim como nós perdoamos aos nossos devedores a quem nos tem ofendido Mateus 612 Jesus ensina e encarna o perdão intercedendo até mesmo em favor daqueles que o açoitaram crucificaram e o conduziram à morte dizendo Pai perdoalhes porque não sabem o que fazem Lucas 2334 O psicólogo americano Dr Frederic Luskin autor do livro O poder do perdão criador do Projeto do Perdão da Universidade de Stanford faz uma relação entre o bemestar trazido pelo perdão e a saúde do ser humano Luskin afirma que guardar ressentimentos culpar os outros ou apegarse às mágoas estimulam o organismo a liberar na corrente sanguínea as mesmas substâncias químicas associadas ao stress que prejudicam o corpo Outro estudo de Luskin indicou que as pessoas mais inclinadas ao perdão sofriam menos enfermidades e tinham menos doenças crônicas diagnosticadas TARANTINO 2003 Portanto perdoar e pedir perdão são ações promotoras da saúde na dimensão emocional física e espiritual Sabemos porém que isso não é fácil Mais do que ações o ato de perdoar e pedir perdão acabam sendo um longo processo que precisa ser buscado e aprimorado em nossa vida Numa perspectiva psicológica o perdão sempre acontece no interior do indivíduo sendo uma decisão íntima e pessoal Por isso é que perdoar e reconciliar são conceitos diferentes O perdoar é uma relação consigo mesmo já o reconciliar envolve a relação com o outro que nos feriu Podemos perdoar mesmo quando não houver reconciliação até porque por vezes ela é impossível de ser efetivada concretamente Porém quem não consegue perdoar acaba por fazer um pacto com o agressor no qual só vai aumentar sua própria dor e sofrimento ficando prisioneiro dela Por isso é que se diz que perdoar é libertar se pois quem perdoa rompe os laços com o mal feito a si eliminando o poder e domínio daquele que cometeu a ofensa Já numa perspectiva religiosa cristã o primeiro passo para aprendermos a perdoar e a recebermos o perdão é confiar que as nossas culpas e os nossos erros já foram todos pagos por Deus através da morte de Jesus Cristo O reconhecimento dos nossos erros que leve a um verdadeiro e sincero arrependimento que nos motive a viver de forma correta e a ter uma disposição interna constante em perdoar aos outros num compartilhamento mútuo e recíproco do perdão que nos é oferecido por Deus em Cristo Jesus é aquilo que o próprio Jesus ensina nos evangelhos Nada mais de auto sacrifícios penitências ou sofrimentos auto impingidos Culpa e perdão Questões existenciais que permanecerão atuando afligindo e ressoando nos corações humanos enquanto o indivíduo viver mas cuja resolução está mais próxima do nosso alcance do que podemos imaginar Dentre tantas possibilidades na visão cristã a resposta está na pessoa que se tornou a encarnação viva do amor da paz do consolo e do perdão chamada Jesus Cristo Crer e apoderarse desse perdão é a ferramenta terapêutica por excelência fonte de vida e alegria da qual todos sem exceção podem fazer uso REFERÊNCIAS ARAÚJO João Dias Sincretismo In Dicionário Brasileiro de Teologia Fernando Bortolleto Filho Org São Paulo ASTE 2008 p9301 BOFF Leonardo Fundamentalismo a globalização e o futuro da humanidade Rio de Janeiro Sextante 2002 COLLINS Gary R Aconselhamento cristão Edição Século 21 São Paulo Vida Nova 2004 GAARDER Jostein HELLERN Victor NOTAKER Henry O livro das religiões São Paulo Companhia das Letras 2000 HERVIEULÉGER D O peregrino e o convertido a religião em movimento Lisboa Gradiva 2005 HALL Stuart A identidade cultural na pósmodernidade 11 ed Rio de Janeiro DPA 2011 ODALIA Nilo O que é violência 6 ed São Paulo Brasiliense 2004 TARANTINO Mônica Perdoar é humano Revista Isto É 8 de janeiro de 2003 edição n1736 TOURNIER Paul Culpa e graça uma análise do sentimento de culpa e o ensino do evangelho São Paulo ABU 1985 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Marcelo Germano Revisão ortográfica Ane Arduin Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados A RELIGIÃO NO MUNDO Prof Mario Rafael Yudi Fukue NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A compreender o fenômeno religioso como uma dimensão antropológica constituinte das civilizações A conhecer as principais formas religiosas e as principais religiões do mundo ocidental e oriental A reconhecer os principais fatos da história das religiões bem como suas consequências A demonstrar consciência da diversidade respeitando o ser humano em suas diferenças geracionais religiosas de acesso credo gênero classes sociais escolhas sexuais e das pessoas com deficiência A analisar a importância dos valores éticos morais e espirituais na formação integral do ser humano INTRODUÇÃO Quem sou eu Como foi que tudo veio a existir Por que existe tanto sofrimento Existe um propósito no Universo Se Deus existe como faço para ser salvo O que acontece depois da morte essas são algumas questões presentes em todas as culturas humanas São questões existenciais pois lidam com a existência humana Elas formam a base de todas as religiões e por conseguinte de toda a cultura humana Conforme Gaardner não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo de religião 2013 p 11 As culturas dos povos foram moldadas conforme as respostas que suas religiões ofereciam às questões existenciais Por exemplo o conceito de Direitos Humanos tem profundas raízes na tradição bíblica especialmente no visão do ser humano como criado à imagem de Deus Outro exemplo é a preferência de hindus pela culinária vegetariana por razões religiosas pois acreditam que todos os animais carregam um atman grosso modo uma alma imortal Além da capacidade de moldar culturas os conceitos religiosos de um povo também influenciam a forma como indivíduos fazem suas escolhas cotidianas Por exemplo um judeu ou adventista não trabalham depois do pôr do sol da sextafeira que para eles marca o início do sábado dia de santificar a Deus e se dedicar ao descanso Outro exemplo é o pastor Dietrich Bonhoeffer que por razões religiosas se opôs ao regime nazista e chegou a afirmar Jesus Cristo e não homem algum ou o Estado é o nosso único Salvador Declaração de Bremen Em um mundo cada vez mais interconectado você certamente trabalhará com pessoas de diversas etnias e de variadas tradições religiosas Mesmo aqueles que não professam nenhuma crença específica são filhos e filhas de culturas marcadamente religiosas Por todas essas razões conhecer as grandes religiões do mundo é útil para desenvolver competências que ajudarão você a melhor se relacionar com todas as pessoas especialmente com aquelas que agem creem e pensam diferentemente de você Além disso esse conhecimento ajudará você a compreender melhor suas próprias questões existenciais Neste capítulo começaremos nossa jornada no Oriente e conheceremos a tradição dos hindus na Índia os ensinos de Sidarta Buda e a pregação da simplicidade e da ordem por parte de Confúcio e Lao Tsé Depois iremos ao Oriente Médio e estudaremos as religiões abraâmicas que moldaram a sociedade ocidental o Judaísmo e o Islamismo Para saber mais Direitos humanos o que a igreja tem a ver com isso Dietrich Bonhoeffer uma biografia RELIGIÕES DO ORIENTE Vamos encontrar nesta seção quatro grandes religiões Hinduísmo Budismo Confucionismo e Taoísmo De cada uma podemos tirar lições transmitidas por séculos e vividas por seguidores que buscavam sentido para a vida entre essas religiões e filosofias HINDUÍSMO O Hinduísmo não tem fundador nem credo fixo Na verdade o Hinduísmo é o conjunto de religiões que se originam das interações entre o povo nativo do vale do rio Indo e os povos indoeuropeus que chegaram na região 4 mil anos atrás A religião que surge dessas interações de povos sustenta uma visão cíclica da história A cada final de ciclo o Deus Shiva dança sobre o mundo até reduzilo a pedaços Depois o deus Brahman recria o mundo novamente Um hindu crê que depois da morte sua alma renasce numa nova criatura humana ou animal O que determina a próxima existência é o carma que aponta para o movimento de ação e reação o que você faz nesta vida determinaria sua próxima existência Veja que a visão cíclica também está presente na forma como o Hinduísmo explica o sofrimento e a libertação dele A esse ciclo de nascimento morte e renascimento dáse o nome de Samsara a roda da vida Para se libertar da Samsara o hindu deve dedicarse a ações nobres O que determina a próxima existência é o carma que aponta para o movimento de ação e reação o que você faz nesta vida determinaria sua próxima existência Também há no conceito de carma a ideia de ordem natural das coisas da existência que deve ser aceita para que o indivíduo aprenda e evolua As Castas Desde tempos imemoriais sempre houve quatro varnas cor em sânscrito De acordo com o RigVeda textos sagrados hindus as varnas se originam do sacrifício do deus Purusha da boca nasceram os brâmanes classe sacerdotal de seus braços vieram os guerreiros de suas pernas surgiram os agricultores e artesãos e de seus pés os servos Havia também os dalits intocáveis que teriam nascido do pó das unhas de Purusha A base religiosa desse sistema é a noção de impureza e pureza Castas baixas ocupam trabalhos impuros para ajudar as castas altas a se manterem puras que por sua vez realizam rituais religiosos em favor de todas as castas Para reencarnar em uma casta superior o indivíduo deve usar suas existências para melhorar seu carma Apesar de abolido pela Constituição indiana de 1947 o sistema de castas continua tendo um papel importante na sociedade indiana Preconceito Não é bem assim que os indianos pensam Quer saber mais sobre as castas Clique aqui Da vaca ao conceito de ahimsa resistência pela nãoviolência A vaca é um animal sagrado na Índia e é considerada mais pura do que um brâmane Para os hindus a vaca e todos os outros animais possuem atman alma e por essa razão não podem ser mortos Isso transformou muitos hindus em vegetarianos e conforme Gaarder 2013 p 48 abriu caminho para o ideal da não violência que ficou mais tarde conhecido com a luta de Gandhi pela independência da Índia Mahatma Gandhi ensina a ahimsa a resistência pela não violência Conheça mais de suas ideias neste link Como se libertar do carma Três vias de Salvação No Hinduísmo védico o ciclo do carma e reencarnação era visto como positivo Mais tarde a reencarnação foi vista como um círculo vicioso do qual seria necessário se libertar No período védico tardio de 1000 aC a 500 aC os escritos Upanishads introduziram a noção de Brahman a força divina que permeia todo o universo Assim três novas formas de se libertar do carma foram sendo gradualmente formados Via do sacrifício o hindu deve realizar corretamente os rituais religiosos além de seguir o caminho do ascetismo Via do Conhecimento conforme os Upanishads o ser humano alcança a libertação por meio da compreensão plena da unidade entre o atman alma e Brahman Via da Devoção nesta via ensinase que a libertação por meio do bhakti isto é a fé e devoção a Deus realizando os rituais sem pensar em recompensas O hindu empenhase em se libertar do carma e da reencarnação e atingir o moksha que é a união final do atman alma com o Brahman No moksha não haverá mais individualidade pois todos estarão dissolvidos no Brahman Três deuses Até o momento você já ouvir falar sobre Shiva o deus destruidor e Brahman o deus criador que permeia todo o universo mas o Hinduísmo também tem um terceiro grande deus Vishnu o deus sustentador Brahman conhecido como o Deus criador Senhor da Sabedoria cultuado pelos sacerdotes Todos nascem dele Vishnu o deus mantenedor da criação Shiva deus renovador senhor da vida e da morte o deus dos iogues retratado como um asceta traz a doença e a morte mas também a cura O hindu comum não dirige suas orações aos três grandes deuses mas aos milhares de divindades locais Quase todas as aldeias têm a sua própria divindade local Além disso há uma infinidade de deusas Segundo Gaarder 2013 p 48 Alguns adotam a teoria de que essa abundância de deusas não passa da expressão de uma grande e poderosa divindade feminina a Rainha do Universo ou DeusaMãe A importância das deusas na religião indiana é visível pela escolha da Mãe Índia Bhárata Mata ou Bharthamata como a divindade nacional do atual Estado da Índia BUDISMO O Budismo teve início com o príncipe Siddartha que cresceu em meio à fortuna e ao luxo Aos 29 anos ele teria tido o primeiro contato com um velho um doente e um cadáver Ao mesmo tempo ele teria visto um alegre asceta Dessa comparação ele concluiu que a vida de conforto não concede plenitude à existência Siddatha renuncia à vida do palácio e parte para uma vida de ascetismo que não lhe traz resultados Tendo experimentado os dois extremos conforto e ascetismo Siddartha conclui que nenhum deles levavam ao nirvana Por isso propôs o caminho do meio da meditação pelo qual chegou à iluminação bodhi Pela meditação ele percebe que todo o sofrimento do mundo é causado pelo desejo Assim é apenas suprimindo o desejo que se pode escapar de outras encarnações No Sermão de Benares Siddartha apresenta as quatro verdades que guiam o ser humano na superação do sofrimento Tudo é sofrimento O apego aos elementos dessa existência nos leva ao sofrimento tudo aquilo que amamos não dura para sempre Tudo é maya ilusão Desejo é a causa do sofrimento Se tudo é ilusão não há razão para se apegar ao que quer que seja pois sofremos sempre que perdemos o ser ou o objeto a que somos apegados Quando o desejo cessa começa o nirvana Abandonar o desejo e conhecer a transitoriedade da vida é a saída do carma e o início do Nirvana Uma pessoa alcança o Nirvana pelo caminho das oito vias 1 entendimento justo conhecer o caminho que conduz à cessação do sofrimento 2 resolução justa não prejudicar ou matar qualquer ser vivo 3 palavra justa absterse da mentira calúnia e injúria 4 conduta justa absterse de tirar a vida de roubar e praticar a luxúria 5 sustento de vida justo absterse das armas álcool tóxicos e de qualquer atividade ilícita 6 esforço justo a vontade necessária para estancar as más qualidades que afloram à mente 7 pensamento justo ter consciência do seu próprio corpo dos sentimentos e das atividades da mente 8 meditação justa a serenidade interna é desenvolvida através da prática de meditação que em última análise conduz ao nirvana Tipos de Budismo Depois da morte de Siddartha o Budismo se dividiu em duas tendências o Theravada a escola dos antigos predominante no sul da Ásia e o Mahayana grande veículo predominante na China Coréias e Japão O Budismo Theravada enfatiza a salvação por meio de ascetismo e meditação Não há deuses E nem mesmo Buda seria capaz de iluminar alguém Cada indivíduo deve imitar o exemplo de buda até atingir o Nirvana Nessa linha de Budismo o nirvana só é possível para monges Conheça mais do Budismo Theravada e Mahayana assistindo o vídeo O Budismo Mahayana por seu turno ensina que todas as pessoas podem alcançar o nirvana A famosa escola Zen Budista por exemplo enfatiza a visão direta de Buda por meio de um estudo e contemplação de si mesmo Na prática zen a iluminação também pode ocorrer nas atividades rotineiras Por esse motivo no Japão atividades como fazer arranjo de flores ikebana tomar chá poesia haicai e lutar bushidô passaram a ter importância ritualística Assista A esse vídeo e compreenda a diferença entre as escolas budistas CONFUCIONISMO E TAOÍSMO Com seu PIB de 127 trilhões de dólares 2017 a China é segunda maior potência econômica Provavelmente hoje ou no futuro próximo seu trabalho e relações terão algum ponto de contato com o maior país da Ásia Por isso conhecer as religiões que formaram a cultura e religiosidade chinesa são importantes Confucionismo Confúcio nasceu em 551 aC em uma China devastada pelas guerras civis Depois de tentar reformar o país pela via política se estabelece como professor particular A filosofia de Confúcio não dedica muita atenção às grandes perguntas existenciais mas à vida diária e a busca por harmonia Ele está mais preocupado com uma visão política pragmática do que com o destino da alma após a morte Ele teria dito quando não se compreende nem sequer a vida como se pode compreender a morte Ensinos Confúcio buscava o tao a harmonia predominante do Universo que só pode ser alcançada com conhecimento e compreensão Nesse ponto o estudo da tradição era capaz de ensinar ao ser humano as regras éticas corretas as celebrações rituais corretas e seu lugar correto na sociedade Para Confúcio os conceitos de uma atitude correta em todas as esferas são piedade filial respeito e reverência Outro ponto do ensino de Confúcio é a simplicidade como base da harmonia Por isso um mundo em paz começa com honra do indivíduo Para ele se um indivíduo possui honra terá caráter Se tem caráter seu lar terá harmonia Se há harmonia na família o país estará em paz E países em paz produzem um mundo harmonioso Quer mudar o mundo Comece com seu quarto O Confucionismo conquistou as classes dominantes tornandose praticamente uma religião estatal que influencia a forma chinesa de pensar até hoje O coração do povo simples não foi conquistado por Confúcio mas por Lao Tsé fundador do Taoísmo Taoísmo A origem do taoísmo é apresentada com o nome de um homem chamado LaoTsé o grande e velho mestre Teria sido contemporâneo de Confúcio O Livro Sagrado e seus conceitos Uma boa ideia do início do taoísmo como conta a tradição é o que lemos no texto de Huston Smith 2001 p 194 que assim coloca Laotsé recolheuse durante três dias e retornou com um magro volume de 5000 caracteres intitulado Tao Te King ou O Caminho e o seu Poder Um livrinho de apenas 25 páginas e 81 capítulos No Tao Te King tudo gira em torno do Tao que literalmente significa caminho Esse caminho pode ser entendido de três maneiras 1 Tao é o caminho da realidade última 2 Tao é o caminho do Universo o poder propulsor de toda a natureza o princípio ordenador por trás da vida 3 O Tao referese ao caminho da vida humana quando ela se harmoniza com o Tao do Universo YINYANG Uma das principais características do taoísmo é a sua noção da relatividade de todos os valores e como ideia correlata a identidade dos opostos Nesse aspecto o taoísmo está ligado ao tradicional símbolo chinês do yinyang Essa polaridade resume todas as oposições básicas da vida bemmal ativopassivo etc Mas as metades embora estejam em tensão se contemplam e se equilibram com a outra A vida não se dobra sobre si mesma e chega completando o círculo à percepção de que tudo é um e tudo está bem SMITH 2001 p 210 O conceito de Tao e YingYang está presente na realidade brasileira especialmente em práticas vindas da China tais como terapias chinesas do DoIn Acupuntura e Reiki FengShui harmonização de ambientes artes marciais como Kung Fu Quer conhecer mais desse conceito Leia neste link e assista esse vídeo RELIGIÕES ABRAÂMICAS O que Cristianismo Judaísmo e Islamismo têm em comum Seus seguidores adoram somente um Deus Senhor e Criador de tudo As três religiões possuem origem no patriarca Abraão por isso também são chamadas de religiões abraâmicas Neste capítulo estudaremos o Judaísmo e o Islamismo JUDAÍSMO O Judaísmo possui muitas narrativas que são compartilhadas pelo Cristianismo e Islamismo O Monoteísmo das religiões abraâmicas reconhece Elohim como o Deus único o criador do mundo e de suas criaturas Toda vida depende dele e tudo o que é bom flui dele É um deus pessoal que tem preocupação com as coisas que criou e nelas intervém O nome pessoal de Elohim é representado pelas letras IHVH que significa eu sou o que sou em hebraico Assim conforme o relato de Gênesis Deus criou o universo e fez o ser humano à sua imagem e semelhança Tudo na mais perfeita ordem pois viu Deus que tudo era bom Gênesis 131 Perceba que na tradição abraâmica o ser humano está acima das outras coisas criadas O conceito de imagem de Deus serviu de base na criação dos Direitos Humanos que prevê direitos inalienáveis do ser humano como liberdade e direito à vida Além disso o ser humano é considerado o parceiro de Elohim na cuidado e preservação da Criação Por isso no Judaísmo a ética ecológica brota do relacionamento com Deus Com a desobediência pecado de Adão e Eva o primeiro casal a humanidade abandona o relacionamento com Deus Essa distância e rebeldia contra Deus seria a causa do sofrimento humano Visto que o ser humano é incapaz de alcançar a Deus e pagar seus pecados o próprio Deus promete abençoar todas as famílias por meio de Abraão e seus descendentes Abraão foi chamado por Deus Elohim da distante Ur dos Caldeus cidade situada na região da Mesopotâmia para ocupar a Terra de Canaã situada nas proximidades do Mar Mediterrâneo Deus cumpre sua promessa e concede inúmeros filhos a Abraão Um deles é Isaque que vem a ser pai de Jacó também chamado de Israel termo que designa todos os descendentes de Jacó O povo de Israel consideravase o povo escolhido não como uma superioridade étnica mas como resultado da Aliança de Deus com Abraão Assim Israel considera sua missão a redenção dos povos e reconciliação de toda humanidade com Elohim Libertação do Egito e os 10 Mandamentos Um evento importante na história do povo de Israel é a libertação da escravidão do Egito Após anos de escravidão Deus envia Moisés ao Egito para libertar os israelitas Confira essa história a partir de Gênesis capítulo 25 e a história da Libertação da Escravidão do Egito nos capítulos iniciais do livro de Êxodo neste link Durante a fuga do Egito após a épica travessia do Mar Vermelho Moisés recebe da parte de Deus a Lei ou os dez mandamentos ou decálogo fonte da ética judaica KWASNIEWSKI 2008 p 551 Você pode conhecer os 10 Mandamentos neste link O Reino de Israel e o Messias Por volta do ano 1000 aC o povo de Israel passa a ser governado por monarquias Destaques para o rei Davi que unifica as 12 tribos de Israel e também para o rei Salomão que constrói o famoso Templo de Jerusalém no século X aC Depois do reinado de Salomão Israel se divide em dois reinos Israel norte e Judá sul No período monárquico tardio Israel e Judá são palco da veneração a outros deuses aliada à injustiça social Deus levanta profetas para denunciar a infidelidade do povo e a opressão dos pobres pelos ricos Um exemplo foi o profeta Amós que viveu por volta de 750 aC Desde os primórdios Israel consideravase o povo que traria paz e redenção ao mundo A partir dos profetas a esperança por um reino de paz centralizase na vinda de um messias o Ungido que seria descendente do rei Davi Muitos israelitas passaram a acreditar que esse Messias traria de volta o período de glória e poder dos tempos do reinado de Davi mas a esperança messiânica mudou ao longo da história Quer saber mais sobre o Messias Clique aqui Diáspora e Perseguição Em 722 aC os assírios devastaram Israel e em 587 aC Judá cai sob domínio babilônico Os habitantes de Judá tiveram a permissão de voltar a sua terra em 539 aC Daí em diante passaram a se tornar conhecidos como judeus A partir do século IV aC a região de Judá é conquistada pelo Império Romano e em 70 dC Jerusalém é destruída pelos romanos o que leva o povo judeu a se dispersar pelo mundo O povo judeu se dispersa pelo mundo de novo Ao longo da história os judeus enfrentaram diversas perseguições Já em 1492 por exemplo os judeus foram expulsos da Espanha E entre 1933 e 1945 o avanço nazista na Europa comete o maior genocídio judeu da história com 6 milhões de judeus mortos no holocausto Em 1948 a ONU cria o atual Estado de Israel No entanto a convivência com os povos da região não é pacífica O Oriente Médio vê de um lado israelenses com seus aliados ocidentais e de outro lado palestinos com seus aliados em sua maioria países árabes e muçulmanos Por causa do holocausto para muitos judeus de linha reformista o messias não será mais uma pessoa mas apenas uma era de paz futura Os escritos sagrados O chamado cânone judaico reconhece 24 livros divididos em três grupos Torah a Lei de Moisés Nevim os Profetas os livros históricos e proféticos Ketuvim os Escritos os demais livros O judeus obedecem ao Talmude texto baseado em tradição oral e usado pelos rabinos como orientação aos fiéis em situações concretas KUCHENBECKER 2005 O Sábado e a principais festas judaicas Shabat sábado o shabat dura do pôr do sol de sextafeira até o pôr do sol de sábado É uma lembrança do descanso de Elohim após a Criação Rosh háshaná AnoNovo celebrado em setembro ou outubro rememora Elohim como criador e rei e convida o povo à autoanálise e ao arrependimento Culmina no Yom Kippur Dia do Perdão Pessach Páscoa relembra a libertação da escravidão e fuga do Egito É ponto central o fato de Deus ter poupado a vida dos primogênitos daqueles que pintaram os batentes de suas portas com o sangue de cordeiros sacrificados Quer conhecer mais sobre a diferença entre o Judaísmo e o Cristianismo Clique aqui Para acessar o link você deverá estar logado em sua conta Google da Ulbra ISLAMISMO O Islamismo é a religião que mais se expande no mundo e abarca 15 da população mundial GAARDER 1998 Islã em língua árabe significa submissão O muçulmano aquele que segue o Islã submete sua vida à Alá e tem Mohammed Maomé como o grande profeta O Islamismo é classificado como uma religião revelada pois Maomé o último e mais importante dos profetas teria recebido revelações por meio do anjo Gabriel que dariam origem ao sagrado livro Corão do árabe al qurrãn que significa leitura Por meio deste livro sagrado o muçulmano aprende a se submeter a Alá o Deus onipotente e Criador de todas as coisas Etimologicamente a palavra Alah se relaciona com a palavra hebraica el que é utilizada na Bíblia para nomear o Deus dos hebreus Conforme a fé islâmica Alá criou o ser humano e deulhe uma posição privilegiada no Universo O ser humano seria uma criatura divina perfeita e possuidora de uma alma imortal boa por natureza Não há a noção de um pecado herdado mas o muçulmano combate o pecado pela submissão à vontade de Alá Basicamente cinco pilares são essenciais numa existência de submissão a Alá 1 Confissão de Fé Monoteísta Alá como Deus único e Maomé como o seu grande profeta 2 Realização de cinco orações diárias voltadas para Meca 3 Você deve viver em generosidade para com os pobres 4 Jejum durante o mês de ramadã e abstinência total de carne de porco e álcool e 5 Peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida Caso uma pessoa não tenha condições financeiras de ir a Meca pode cooperar com o envio de uma pessoa que a representa na peregrinação Você deve estar se perguntando Por que Meca Meca era a principal cidade árabe desde os tempos de Maomé O profeta inicia as pregações nessa cidade mas os poderosos se opuseram à pregação monoteísta pois ela ofendia o tradicional politeísmo dos árabes Assim em 622 Maomé sai de Meca e vai para Medina Esse episódio é conhecido como hégira partida LUCCHESI 2002 Na década seguinte ele conquista Meca por meios militares e diplomáticos O conjunto das atividades desenvolvidas por Maomé com vistas ao retorno a Meca é conhecido como jihad A fé islâmica ressignificou o centro de peregrinação politeísta de Meca Antigo artefato politeísta Maomé ensina que a Kaaba de Meca foi erigida por Adão destruída no Dilúvio e reconstruída por Abraão e Ismael o antepassado dos árabes A partir daí a Kaaba se torna o local mais sagrado do Islamismo Fonte Pixabay A morte e Salvação Influenciado pelo Cristianismo e pela cultura grega o Islamismo ensina que existem dois destinos após a morte 1 o muçulmano vai ao paraíso desfrutar dos seus deleites e contemplar o rosto de Alá e 2 a alma do infiel vai ao inferno O muçulmano aguarda o dia do juízo e o retorno de Jesus que virá para proclamar o Islão como religião oficial Nesse dia todos serão julgados e receberão o pagamento de suas ações O cisma no Islã após Maomé Antes de sua morte em 632 Maomé conseguiu unificar a península arábica fazendo do Islamismo um fator de união e identidade mais forte do que os antigos laços familiares e tribais No entanto após a morte de Maomé o movimento se divide Em um primeiro momento a liderança do movimento califado foi assumida pelos parentes de Maomé Os três primeiros califas eram parentes de Maomé O quarto califa Ali era genro de Maomé e foi assassinado por seus adversários Os seguidores de Ali eram identificados como xiitas do árabe Shiat Ali que significa o partido de Ali e julgavam que o califado só poderia ser exercido por um descendente do profeta Por sua vez o partido sunita julgava que a liderança poderia ser exercida por qualquer homem reconhecido pela Umma comunidade islâmica como califa Hoje os xiitas se concentram no Irã e Iraque enquanto que sunitas são majoritários no restante do Oriente Médio Ao ler a palavra califado você deve estar se perguntando E o Estado Islâmico Clique aquii e leia mais sobre isso Para acessar o link você deverá estar logado em sua conta Google da Ulbra ISLAMISMO NO BRASIL E NO MUNDO Em nosso país a religião islâmica chegou inicialmente por meio dos escravos vindos da África Mais tarde houve uma grande confluência migratória de árabes para o Brasil contribuindo para a expansão da religião A primeira mesquita no Brasil foi fundada em 1929 em São Paulo Atualmente existem aproximadamente 35167 muçulmanos no Brasil de acordo com o último censo IBGE enquanto que a população mundial de adeptos ultrapassa 17 bilhões de pessoas INFOGRÁFICO REFERÊNCIAS FLOR Douglas Moacir Judaísmo e Islamismo in Cultura Religiosa Canoas ULBRA 2017 Religiões Orientais in Cultura Religiosa Canoas ULBRA 2017 GAARDER Jostein HELLERN Victor NOTAKER Henry O Livro das Religiões São Paulo Companhia das Letras 2013 KUCHENBECKER Valter Org O Homem e o Sagrado Canoas Ulbra 2005 KWASNIEWSKI Guershon Judaísmo in Dicionário Brasileiro de Teologia São Paulo ASTE 2008 LUCCHESI Marco coord Caminhos do Islã Rio de Janeiro Record 2002 SMITH Huston As religiões no mundo nossas grandes tradições de sabedoria São Paulo Cultrix 2001 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Marcelo Germano Rogério Lopes Revisão ortográfica Ane Arduin Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados CRISTIANISMO E CULTURA OCIDENTAL Prof Maximiliano Wolfgramm Silva NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A reconhecer a presença do fenômeno religioso nas mais diversas áreas da cultura ocidental com foco no cristianismo A avaliar a influência do cristianismo no estabelecimento de relações sociais políticas econômicas e culturais A identificar conhecer e refletir acerca de elementos e princípios da tradição cristã presentes no mundo ocidental em uma perspectiva da identidade confessional da instituição INTRODUÇÃO Em uma das disciplinas cursadas no doutorado identificamos mais de 20 definições diferentes para a palavra cultura Obviamente elas apresentavam inúmeros elementos comuns mas também características distintas Analisadas a partir de uma certa perspectiva cada definição cumpria um papel sustentar a argumentação do seu proponente Nessa tentativa específicos elementos do conceito costumam ser destacados de maneira que uma tese possa ser mais bem articulada A definição apresentada neste capítulo não é diferente Zoltán Kövecses define cultura como um conjunto de entendimentos compartilhados Alguém pode argumentar que essa definição é demasiadamente limitada por entre outras coisas não enfatizar objetos reais que participam da cultura No entanto a definição se torna mais abrangente à medida que compreendemos que ela também inclui os entendimentos compartilhados que as pessoas têm em conexão com aqueles objetos reais Esses entendimentos compartilhados lidam com as concepções das pessoas com a forma como elas entendem a si seu mundo sua realidade Esses entendimentos formam sistemas conceituais que governam a maneira como funcionamos na vida cotidiana São essencialmente nossos processos mentais e os sentimentos e emoções desencadeados por esses processos que definem a maneira como interagimos com todos os entes que compõem a realidade de nossa existência o que inclui a nós mesmos Inúmeros são os elementos que compõem o conjunto de entendimentos compartilhados que caracterizam a cultura brasileira a qual integra o conjunto mais amplo que caracteriza a cultura ocidental Os processos históricos que constituíram essas culturas são diversos e complexos e podem ser compreendidos a partir de perspectivas diversas O objetivo deste capítulo é abordar nossa constituição cultural com ênfase em seu elemento religioso com foco no Cristianismo Tal ênfase se justifica pelo profundo impacto que a religiosidade cristã também com suas raízes judaicas tem tido nos últimos dois mil anos do hemisfério ocidental Assim nosso estudo incluirá um passeio histórico por este período que em seus complexos movimentos deu origem ao mundo ocidental Neste passeio diversos entendimentos caracteristicamente cristãos serão destacados em seu impacto na história e cultura ocidentais Que este passeio seja rico de experiências e aprendizados para você Este capítulo considerará o período histórico compreendido entre a vida e obra de Jesus de Nazaré e os movimentos reformatórios do século XVI Os últimos cinco séculos de nossa história serão tratados no capítulo capítulo 5 o qual trará um foco mais específico sobre a religiosidade brasileira O CRISTIANISMO E A CULTURA OCIDENTAL UMA CULTURA JUDAICOCRISTÃ O cristianismo surge de dentro do judaísmo Reconhece como sagrado o texto da Torah e consequentemente partilha inúmeras percepções de mundo com a fé testemunhada pelos judeus Por isso muitos percebem o pensamento ocidental como sendo caracteristicamente judaicocristão A Criação de Adão de Michelangelo Fonte Wikimedia Um tema central na fé judaica e também na fé cristã é a crença em um Deus Criador Não se tem por objetivo aqui entrar no velho embate entre evolucionismo e criacionismo mas ressaltar o impacto que a percepção criacionista filosoficamente falando teve sobre a história do ocidente Pensar a realidade a partir de um Criador estabelece uma clara distinção entre Deus e todo o universo Mais do que isso implica a compreensão da realidade que molda nossa maneira de interagir com o mundo e de entender nosso papel na história deste mundo Karl Löwith filósofo alemão falecido em meados do século passado desenvolve uma interessante tese sobre esse tema Ele argumenta que existem duas visões da história do mundo uma cíclica e outra linear O calendário Maia que causou inúmeras especulações apocalípticas em 2012 apresenta essa visão cíclica de realidade Fonte Wikimedia De acordo com sua tese a visão cíclica se origina em uma compreensão da história da humanidade como um reflexo da realidade cíclica percebida na natureza no universo A maneira como os corpos celestes se movem as diferentes estações do ano a reprodução dos seres vivos todos esses elementos apontavam para uma realidade que não tinha fim mas que se repetia de alguma maneira Nas civilizações não influenciadas pelo pensamento cristão ainda se pode ver esse entendimento cíclico da história Um exemplo é a relação entre Brahman Vishnu e Shiva uma expressão da compreensão hinduísta da realidade alicerçada nos conceitos de carma e reencarnação A outra visão é linear Nela é marcante a ideia de uma história que segue a partir de um ponto inicial Nessa visão entendese a realidade com base em eventos passados quando Deus estava atuando diretamente na história do universo crença na Criação e na Encarnação de Deus em Jesus por exemplo e prevêse eventos que acontecerão no final dos tempos visão escatológica Isso confere a essa visão uma característica futurista de uma história que ainda vai alcançar seu clímax De acordo com Löwith essa visão tem suas raízes na tradição judaica e cristã e é essencialmente diferente da visão cíclica A cultura ocidental está profundamente conectada às ideias judaico cristãs e essa é a razão pela qual mesmo os entendimentos seculares da história apontam para algum traço progressivo na história humana o que é uma consequência dessa visão linear Isso leva a uma compreensão de que a humanidade está progredindo para um objetivo final ou pelo menos em direção a um mundo melhor Tal perspectiva pode ser percebida em pensadores como Georg Hegel que constrói sua filosofia a partir de um Deus que se realiza através da história vendo o cristianismo e o hegelianismo como o estágio final do processo Outro exemplo é Karl Marx o qual via no proletariado o instrumento para alcançar o objetivo de uma transformação mundial nas relações socioeconômicas Podemos ainda citar Auguste Comte o qual inebriado pelo positivismo reflete sobre como a superioridade intelectual e moral pode ser alcançada pela humanidade para melhorar sua própria existência O fato é que esses pensadores entre outros usam conceitos ideias linguagem originados no mundo judaicocristão e isso evidencia uma profunda conexão entre o cristianismo e o pensamento ocidental Essa tese sustenta que mesmo que a humanidade não seja capaz de alcançar um estado de perfeição ela caminhará nessa direção Esse senso de futuro de mudança de status de algo a ser alcançado originase da perspectiva judaica e cristã Nele o futuro é o verdadeiro foco da história No ocidente esse esquema teleológico ou escatológico tornou possível que a história se tornasse universal dando a ela um significado existencial JESUS VIDA E OBRA A historicidade de Jesus No século passado uma enorme especulação dominava as conversas ao redor da pergunta Jesus realmente existiu Em círculos mais céticos sua história era encarada como um grande mito religioso e os relatos de sua vida como contos fantasiosos recitados por pessoas ingênuas No entanto as pesquisas recentes têm demonstrado que há consenso em um ponto Jesus existiu Se por um lado ainda há discussão sobre os milagres que marcaram sua história de vida a comunidade científica hoje não nega que há quase dois mil anos surgiu na região da palestina um homem que impactando profundamente a vida de centenas de pessoas deu origem a um movimento religioso que transformou a história do ocidente de tal maneira que a dividimos em antes e depois de Cristo Nesta disciplina tratamos o texto bíblico como saber e herança religiosa reconhecendo o valor dado a ele por cristãos em todo o mundo Não nos ateremos aqui aos detalhes da história de Jesus registrados no Novo Testamento A leitura de um dos evangelhos como o de Mateus ou uma sessão de cinema são boas opções para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre o registro que temos de sua vida Buscaremos resumidamente extrair daquele registro temáticas que norteiem nossa percepção da fé que é elemento estruturante da história e cultura ocidentais Algumas opções sugeridas são Jesus a História do Nascimento 2006 direção de Catherine Hardwicke O Filho de Deus 2014 direção de Christopher Spencer A Paixão de Cristo 2004 direção de Mel Gibson ou A Maior História de Todos os tempos 1965 direção de George Stevens Ensinamentos Na época de Jesus havia vários rabis Eram como professores mestres procurados por aquelas pessoas que desejavam aprender de sua sabedoria Mesmo pelos seus opositores Jesus foi reconhecido como rabi Partindo da realidade dos alunos ele transmitia mensagens transformadoras Grande exemplo disso são suas famosas parábolas Com certeza uma das mais conhecidas e significativas dessas parábolas é a do Filho Pródigo a qual muitos preferem chamar de A Parábola do Pai Amoroso Por quê Leia o texto de Lucas 15 através deste link e tente responder você mesmo Além disso busque compreender que grande verdade transcendente Jesus ensina através dessa parábola Uma dica um conceito central na interpretação dessa parábola é a palavra amor Parábola é uma comparação Nela fazse uso de personagens objetos lugares situações do cotidiano das pessoas e a partir destes são feitas comparações que transmitem mensagens transcendentes Jesus transmitia mensagens transformadoras Na verdade o conceito de amor pode ser usado para resumir os ensinamentos de Jesus Aqui mais uma vez percebemos a influência do cristianismo no pensamento ocidental Enquanto outras culturas destacam outros princípios para o viver humano a cultura japonesa marcadamente influenciada pelo Xintoísmo aponta para a honra como valor mais nobre por exemplo no ocidente o amor é reconhecido como o bem supremo na vida e nas relações humanas Diante disso tornase significativo refletirmos um pouco sobre o que o amor significa em um sentido bíblicocristão Comumente usamos a palavra amor para falar de paixão ou desejo sexual Outras vezes compreendemos amor como o mais nobre de todos os sentimentos No entanto o amor ensinado por Jesus está acima de desejos físicos e sentimentalismos Ele se concretiza em uma postura em uma atitude diante da vida Tal compreensão nos ajuda a entender melhor palavras bíblicas como Amem os seus inimigos Mateus 544 Para Jesus o amor ultrapassa qualquer sentimento desconfortável coloca o interesse do semelhante acima de sensações e desejos pessoais e age para o bem das pessoas Portanto no cristianismo não podemos desvencilhar a palavra amor de ação O amor não pode ficar no nível das ideias sentimentos ou desejos Para alcançar a sua essência ele precisa manifestarse em ações Assim percebemos em Jesus um mestre que ensinava através de palavras e através de exemplos atitudes Ele não ficou apenas dizendo Ama teu próximo ele mesmo foi prova irrevogável desse amor Como ele mesmo disse Ninguém tem mais amor por seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles João 1513 Encarnando a compreensão divina de amor o testemunho de vida de Jesus tornase referencial existencial e ético para os seus seguidores inspirando milhões de pessoas até os dias de hoje Suas palavras são Eu lhes dou este novo mandamento amem uns aos outros Assim como eu os amei amem também uns aos outros João 1334 DE PERSEGUIDA À RELIGIÃO OFICIAL DO IMPÉRIO A expansão Na primeira metade do século I o Império Romano vivia um período de relativa prosperidade A cultura era dominada pelo helenismo e a religião apresentava diversas formas de politeísmo Havia segurança na maioria das estradas que ligavam o Império e era grande a atividade nos portos O período ficou conhecido como Pax Romana Dentro dessa realidade os judeus eram um povo que ainda mantinha em grande parte traços distintos Em geral seus costumes e religiosidade os diferenciavam do restante do Império Muitos deles estavam espalhados pelo mundo de então como consequência da diáspora Foi nessa realidade que o Cristianismo do Novo Testamento floresceu A antiga moeda com duas mãos entrelaçadas representa a busca romana por harmonia e paz no império A imagem foi largamente utilizada durante o período da Pax Romana Fonte Wikipedia A mensagem cristã era transmitida de boca em boca através de pessoas que impactadas pela história da ressurreição de Jesus comprometiam suas vidas com a causa do Mestre judeu Seus seguidores se espalharam pelo mundo romano e cada novo convertido tornavase um multiplicador dos ensinamentos de Jesus Entre os inúmeros missionários destacase a figura de Paulo Com sua vida dando uma volta de 180 graus tornase o mais importante divulgador da mensagem sobre Jesus no mundo não judeu Sua incontestável convicção de fé alcançou o centro do Império Roma Com o passar do tempo o Cristianismo avançava cada vez mais Pessoas consideradas inimigas do estado romano muitas vezes eram condenados à tortura ou morte sendo jogados em arenas com feras selvagens Esses condenados eram chamados de bestiários Fonte Wikimedia Alguns por questões religiosas outros por questões políticas percebiam na mensagem de Jesus e no número de seus seguidores uma ameaça em potencial Isso ocorreu tanto entre líderes judeus como entre líderes romanos Nero imperador romano ao acusar os cristãos pelo incêndio na capital do império 18 a 19 de julho de 64 deu origem a um longo período de intolerância O Cristianismo foi declarado uma religião fora da lei Seus seguidores eram passíveis de prisão tortura confisco de bens e morte A intolerância alastrouse por três séculos Nesse período houve momentos de calmaria e tranquilidade para os cristãos Em outros momentos líderes romanos promoveram verdadeiros derramamentos de sangue como é o caso de Décio e Diocleciano No entanto como registrou o historiador Tertuliano o sangue dos mártires era uma semente de cristãos Quanto mais eram perseguidos mais aumentava o número daqueles dos que seguiam a Jesus Cristo De perseguidos a perseguidores Não era mais possível fugir de um fato o Cristianismo era uma realidade irreversível Nações inteiras dentro do império já haviam sido convertidas Foi então que uma mistura de convicção religiosa e interesses políticos causou uma reviravolta na situação do Cristianismo Galério iniciou oficialmente o processo de mudança Em 311 ele promulgou um Édito de Tolerância dando fim à perseguição iniciada por Diocleciano Em 313 no ocidente Constantino fez do Cristianismo uma religião lícita através do Édito de Milão Em 380 Teodósio tornou o Cristianismo a religião oficial do Império Romano através do Édito de Tessalônica De marginais os cristãos passaram a dominar o cenário religioso de então Agora pense De que maneira essa mudança foi positiva e de que maneira ela foi negativa para o Cristianismo Positivamente talvez alguns possam apontar para a liberdade de culto bem como para o apoio do Estado para a atividade missionária No entanto desde o início essa perigosa mistura mostrouse perniciosa tanto para o estado quanto para a religião que se fortalecia politicamente O decreto de Teodósio foi imediatamente seguido por intolerância e perseguição com atitudes extremistas contra aqueles que professavam outra fé O poder crescente dos líderes da igreja ofuscou sua visão de maneira que não mais enxergavam os ensinamentos mais básicos deixados pelo Mestre Jesus A atual separação entre clero e laicato ainda marcante em algumas denominações cristãs era desconhecida no chamado cristianismo primitivo Aqueles que exerciam funções sacerdotais eram respeitados pelo seu ofício mas estavam tão perto de Deus como qualquer outra pessoa poderia estar Com o passar do tempo as diferenças entre clero e laicato foram sendo intensificadas Tal diferença foi reforçada quando os bispos de algumas cidades do Império começaram a assumir um grau de importância maior Isso aconteceu especialmente com aquelas cidades por onde um dos doze apóstolos havia passado Esses bispados assumiram primazia entre os demais Pastoreando a cidade tida tradicionalmente como o local da morte dos grandes apóstolos Pedro e Paulo a qual também representava a glória do Império o Bispo de Roma gozava de posição especial Não demorou para que se defendesse a submissão de outras comunidades cristãs ao bispo de Roma que mais tarde veio a ser conhecido como Papa Cada vez mais o clero colocavase em uma posição de ascensão poder e dominação Regiam sobre as consciências das pessoas devido a distorcidas compreensões da mensagem de Cristo e obviamente ao desejo natural do ser humano de manter e ampliar o poder adquirido O papado de Roma impunha suas convicções muitas vezes baseadas em simples ignorância científica eou teológica pela força da espada Um grande exemplo disso é a Inquisição Inicialmente criada para orientar e instruir transformouse em um braço de julgamento e cruel condenação da época Retrato da inquisição Fonte Wikimedia Disputas de poder ocorreram por todo Império e foram intensificadas nas disputas entre o Bispo de Constantinopla e o de Roma Além da questão cultural marcante diferença entre os dois grupos de cristãos vários desentendimentos provocaram uma crescente divisão entre o oriente e o ocidente A Controvérsia Iconoclasta movimento no Império Bizantino que se opôs à veneração de ícones e imagens religiosas foi apenas o estopim que impulsionou a oficialização da separação através da bula de excomunhão no qual o Bispo de Roma expulsava da Igreja o Bispo de Constantinopla e viceversa Ocorria a primeira grande divisão dentro da Igreja Cristã conhecida como o Cisma de 1054 Formamse então as Igrejas Ortodoxas Orientais e a Igreja Católica Apostólica Romana Devido à sua influência sobre o mundo ocidental esta última será o foco de nossos estudos AS REFORMAS PROTESTANTES DO SÉC XVI A Igreja Cristã na Idade Média Mil e quinhentos anos depois de seus primeiros passos na Palestina a Igreja Cristã havia mudado muito No processo de massificação que seguiu o reinado de Teodósio ser cristão passou a não depender mais de uma convicção pessoal mas de uma nova ordem política e social O Cristianismo estava dividido entre Oriente e Ocidente Nesse mesmo período viviase na Europa as consequências da exploração marítima do renascimento do grande comércio e da invenção da imprensa O mundo estava mudando e tudo isso despertou um grito de mudança dentro da própria igreja Adaptando uma prensa usada para extrair o suco de uvas Gutenberg criou um aparelho que fazendo uso de tipos móveis agilizava em muito a cópia de textos escritos A partir daí ideias se proliferaram com facilidade Vozes dissidentes se manifestaram através dos escritos de João Wycliffe professor de Oxford que viveu no século XIV e é considerado o precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa Ele inspirou João Hus que entre outras coisas defendia a ideia de que qualquer um poderia se comunicar com Deus sem mediação sacerdotal Seus ensinamentos considerados heréticos o levaram para a fogueira Mais tarde também se destacaram os movimentos reformistas liderados por João Calvino e Ulrico Zuínglio O pensamento desenvolvido por eles impactou muito a teologia evangélica que se seguiu Apesar de sua importância iremos focar nossa atenção no movimento reformatório liderado por Martinho Lutero especialmente considerando seu profundo impacto nas estruturas religiosa social e política do ocidente e sua conexão com a tradição da Ulbra Maximilian Karl William Weber mais conhecido como Max Weber escreveu a clássica obra A Ética Protestante e o Espírito Capitalista onde argumenta que a religião foi uma das causas para que as culturas oriental e ocidental se desenvolvessem de forma diversa Sua tese coloca o protestantismo como um dos elementos essenciais para o nascimento do capitalismo A Reforma Luterana No início do século XVI o papa Leão X sentia a necessidade de firmar a autoridade e poder de Roma Percebia a Igreja Romana enfraquecida e via na construção da Catedral de São Pedro um movimento importante naquela direção Para tanto precisava de recursos financeiros o que motivou a prática da venda de indulgências Assista ao documentário Os caminhos de Lutero Nele Rogério Enachev nos faz conhecer através de um tour pela Alemanha dos dias de hoje elementos importantes da Reforma Luterana Naquela época ensinavase que a Igreja Romana possuía um tesouro de méritos boas ações conquistado através da vida piedosa de Jesus Maria os Santos Apóstolos entre outros Esse tesouro poderia ser transferido para os fiéis da igreja através de uma Carta de Indulgências compensando com as boas ações dos santos o castigo que deveria vir como consequência dos pecados cometidos A lógica aqui presente está associada ao Sacramento da Penitência e pode representar um conceito difícil para quem não está familiarizado com a teologia romana No entanto grosso modo a venda dessas Cartas de Indulgência consistia em venda de perdão dos pecados ou melhor dizendo isenção do mal que cada um deveria sofrer como consequência do pecado Era possível comprar indulgências até mesmo para entes queridos já falecidos garantindo a saída destes do purgatório Essa cultura surgiu durante o período medieval com forte influência do pensamento religioso que se afastou da Bíblia João Tetzel pregador dominicano inquisidor foi o grande promulgador de indulgências na Alemanha na época de Lutero Fonte Wikimedia Você sabe qual é a base conceitual do logo da ulbra Clicando aqui você terá acesso ao texto que explica um pouco sua origem É importante afirmar que o objetivo de Lutero nunca foi o de dividir a Igreja Cristã Percebemos isso no próprio nome do movimento Reforma Protestante Luterana Reformar não é construir algo novo é fazer o que temos em mãos voltar a ser o que era antes Lutero queria que a Igreja voltasse ao caminho do perdão gratuito ensinado por Cristo e à liberdade conquistada por Ele No entanto se muitos apoiaram suas propostas de mudança tantos outros não concordaram com as ideias defendidas por Lutero Da mesma maneira como era indesejada a separação tornouse inevitável Os desdobramentos desse movimento para a sociedade ocidental são profundos e não temos como articulálos na mesma dimensão com que impactaram nosso mundo Em uma sociedade impregnada pelo religioso mudanças dessa ordem atingiram a vida como um todo De maneira resumida podemos dizer que a Reforma alterou a organização política da Europa enfraquecendo o poder da Igreja Romana e consequentemente fortalecendo o poder da nobreza e contribuindo para a criação dos estadosnação Em sua doutrina dos dois reinos o pensamento de Lutero lançou as bases filosóficas para o que hoje chamamos de distinção entre igreja e estado Além disso fortaleceu ideais humanistas os quais valorizando virtudes e capacidades humanas abriram caminho para a revolução cultural e científica que caracterizam o iluminismo Na economia trouxe uma certa sacralidade para as profissões lícitas e valorizando também as bênçãos materiais dadas por Deus para o benefício das pessoas deu origem a uma nova relação da pessoa religiosa com os bens materiais Elevou a educação formal à posição de elemento essencial para o desenvolvido das sociedades defendendo que lugar de crianças meninos e meninas era na escola Isso porque Lutero que por toda sua vida foi professor universitário sabia por experiência própria do poder transformador do conhecimento na vida dos indivíduos Não é sem razão que países impactados diretamente pela Reforma se tornaram referência em educação para o mundo Universidades que são famosas em todo mundo tiveram sua fundação intimamente ligada a empreendimentos educacionais de protestantes Para uma maior aprofundamento sobre a relação entre Lutero e Educação acesse este link Como parte das celebrações dos 500 Anos da Reforma Protestante em 2017 a Universidade Luterana do Brasil produziu o documentário A Reforma Luterana através da Arte o qual analisou obras de arte produzidas pelos artistas alemães Lucas Cranach e Albert Dührer sobre Martinho Lutero e sua obra Também em 2017 a Revista Ultimato publicou o texto A influência da Reforma na história da pintura Clique aqui para acessar destacando elementos de uma palestra ministrada pelo pintor espanhol Miguel Angel Oyarbide Em suma o texto traça uma linha histórica que conecta expressões artísticas contemporâneas ao movimento da Reforma Protestante Nessas poucas páginas fizemos uma viagem panorâmica pelos primeiros quinze séculos da história da igreja cristã No próximo capítulo trataremos dos últimos cinco séculos mas com um olhar voltado para a história brasileira INFOGRÁFICO Linha do Tempo REFERÊNCIAS BLOMBERG Craig L The Historical Reliability of the Gospels Credo Courses 2007 BUSS Paulo W Org Reforma Luterana Ontem e Hoje Porto Alegre Editora Concórdia 2019 DREHER Martin Norberto A Igreja no Império Romano São Leopoldo Sinodal 2001 A Igreja no Mundo Medieval São Leopoldo Sinodal 2001 De Luder a Lutero Uma Biografia São Leopoldo Sinodal 2014 GONZALES Justo L Uma História Ilustrada do Cristianismo São Paulo Vida Nova 19802005 v 15 HÄNGGLUND Bengt História da Teologia 7 ed Porto Alegre Concórdia 2003 LÖWITH Karl Meaning in History Chicago Phoenix Books 1949 MAIER Paul L Jesus Verdade ou Mito São Paulo CPTN 2007 MEIER John P A Marginal Jew Rethinking the Historical Jesus New York Doubleday 1994 WALKER Williston História da Igreja Cristã São Paulo Aste 2001 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Rogério Lopes Revisão ortográfica Igor Campos Dutra Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados RELIGIOSIDADE BRASILEIRA Prof Maximiliano Wolfgramm Silva NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A conhecer os principais elementos constitutivos da religiosidade brasileira A compreender a influência das diferentes religiões no estabelecimento das relações sociais políticas econômicas e culturais A identificar conhecer e refletir acerca de elementos e princípios da tradição cristã presentes no mundo ocidental marcadamente no Brasil em uma perspectiva da identidade confessional da instituição INTRODUÇÃO Neste capítulo fazemos um corte histórico específico o qual tem início em 1500 e segue até os dias de hoje Além disso diferentemente do capítulo anterior que tratava do Cristianismo em uma perspectiva mais universal temos aqui um foco territorial que considera a história do Brasil Entre outras coisas isso significa que não abordaremos a religiosidade dos povos indígenas da Terra brasilis termo comumente utilizado para se referir ao período anterior à chegada dos colonizadores portugueses ao que hoje chamamos de Brasil A construção histórica não se deterá em um encadeamento de datas personagens e eventos mais salientará elementos que contribuam para a construção de uma compreensão panorâmica da história e das características atuais da religiosidade brasileira DEUS AINDA É BRASILEIRO O Papa Francisco é conhecido por seu carisma simplicidade e bom humor Para os brasileiros isso foi evidenciado pouco tempo depois que ele assumiu o pontificado Ciente da rivalidade que tem caracterizado a relação entre brasileiros e argentinos ele falou a um repórter Vocês querem tudo Vocês já têm um Deus brasileiro queriam um Papa brasileiro também1 Papa Francisco Fonte Wikimedia Deus é brasileiro Essa frase dita tantas vezes e em tantos contextos por muito de nós fala de uma característica ainda essencial da cultura brasileira somos um povo religioso Mesmo que mudanças significativas tenham sido percebidas nas últimas décadas o fato é que conforme dados do censo do IBGE mais de 90 dos brasileiros acreditam na existência de Deus ou acreditam em uma dimensão transcendente de nossa existência2 Ainda que a mesma pesquisa indique que 868 de nossa população se declara cristã é possível dizer que diversidade é uma das características religiosas desta nação Isso se dá pelo crescimento da religiosidade afrobrasileira pela difusão de doutrinas como o espiritismo kardecista pela maior popularização de crenças e práticas orientais mas também pela diversidade presente dentro do próprio cristianismo Este jeito de ser religioso se deve a diferentes processos históricos os quais normalmente têm origem no sincretismo em seus diferentes níveis ou em processos de caracterização identitária Sobre esses processos queremos falar brevemente O censo de 2010 indicou significativa mudança no quadro religioso brasileiro Destacase um significativo crescimento no número de evangélicos e pela primeira vez queda no número de católicos Acesse este link para maiores detalhes Fonte Revista VEJA IBGE O CATOLICISMO PORTUGUÊS NO BRASIL COLONIAL Quando os portugueses aportaram em terras brasileiras eles trouxeram consigo a fé oficial de Portugal Uma compreensão mais ampla do espírito dessa presença considera os desdobramentos da Reforma Protestante sobre o catolicismo os quais foram expressos através do concílio de Trento Esse concílio ocorrido na cidade de Trento no norte da Itália entre 1545 e 1563 foi em grande parte uma reação do catolicismo romano aos movimentos reformatórios que estavam tomando conta da Europa e entre outras coisas enfraquecendo o domínio do Papa O concílio fortaleceu a relação entre o papado romano e as coroas de Espanha e Portugal solidificando um tratado conhecido como Padroado Esse tratado garantia a autonomia daqueles países para indicar bispos católicos bem como estruturar a presença da igreja em seus territórios Por outro lado as coroas portuguesa e espanhola garantiam a defesa e se comprometiam com a expansão da fé católicoromana em todo o mundo Tal tratado delineou as características religiosas da presença europeia no Brasil Imagem da primeira missa celebrada no Brasil de Vitor Meireles Poucos dias depois da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil Henrique de Coimbra celebra a primeira missa em solo brasileiro Fonte Wikimedia Clique aqui para saber mais Ao refletir sobre o clássico Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre Rogério Souza destaca uma interessante característica do português do século XVI a miscibilidade O termo se refere à capacidade ou condição de misturar elementos de uma forma homogênea De acordo com Souza essa característica do português quinhentista se deve à posição geográfica de Portugal uma nação localizada entre dois mundos o europeu e o africano cuja história é marcada por domínios e influências distintos Em sua tese essa condição formou no povo português um espírito mais tolerante onde o catolicismo estava mais aberto a elementos pagãos3 Essa característica cultural portuguesa contribuiu para o sincretismo presente em solo brasileiro As religiosidades indígenas e africanas que interagiram com o catolicismo português apresentavam grande diversidade em sua estrutura Os ritos crenças espíritos e deuses indígenas eram tão diversos quanto eram os povos que ocupavam a terra brasilis Os africanos escravizados e trazidos forçadamente ao Brasil cuja cultura era marcada pela diversidade dos povos e tribos que compunham o mosaico africano trouxeram sua compreensão religiosa aberta várias divindades e seus respectivos rituais Com todos esses elementos trabalhando juntos ao mesmo tempo em que a colônia se tornou marcadamente católica sua religiosidade era composta de variados elementos Não se afirma aqui que o catolicismo no Brasil colonial permitia uma livre expressão de manifestações religiosas diversas da romana mas sim uma maior tolerância quanto a uma expressão mais sincrética de religiosidade popular A REFORMA PROTESTANTE CHEGOU AO BRASIL Tendo criado uma tradição teológica distinta do catolicismo o protestantismo é uma importantíssima manifestação da fé cristã Sua presença em solo brasileiro no entanto é tardia Mesmo que haja registros da chegada de um luterano em terras brasileiras em 1532 foi somente no século XIX que um número mais expressivo de europeus protestantes aportou no Brasil em sua maioria fugindo de crises econômicas e políticas e buscando melhores condições de vida na américa Quando se pensa na história do protestantismo no Brasil eles são normalmente organizados em dois grupos o protestantismo de imigração e o protestantismo de conversão ou expansão Quando os protestantes chegaram ao Brasil ele ainda era um país oficialmente católico o que cerceava a liberdade de expressão de fés que diferiam da católicoromana mesmo que também fossem cristãs Casamentos realizados por comunidades protestantes não eram reconhecidos e seus locais de culto não podiam ter aparência externa de prédios religiosos de igreja No início a liderança espiritual desses grupos ficava a cargo de leigos escolhidos dentre os próprios imigrantes Com o passar do tempo pastores de outros países como Alemanha e Estados Unidos foram enviados ao Brasil passando a atender às comunidades protestantes aqui instaladas Entre outras coisas as condições de vida e vivência religiosa encontradas no Brasil contribuíram para que essas comunidades religiosas tivessem um estilo mais voltado para si mesmas o que os caracterizou como fechados conforme defendem autores como Cândido Camargo Historiadora revela que a primeira igreja evangélica do Brasil foi criada por índios da tribo potiguara convertidos por holandeses em Pernambuco Fonte Wikimedia Clique aqui para saber mais Também vieram ao Brasil cristãos de tradição protestante oriundos dos Estados Unidos os quais tinham como objetivo a adaptação à cultura brasileira e o crescimento da fé cristã protestante em nosso território Eles já traziam em sua bagagem a experiência com movimentos de renovação e avivamento ocorridos nos Estados Unidos os quais haviam trazido características próprias a esses grupos de protestantes Eles eram em sua maioria de origem batista presbiteriana metodista e episcopal Estavam mais abertos à cultura do país e buscavam trazer para a fé cristã protestante o maior número de pessoas possível OS MOVIMENTOS PENTECOSTAL E NEOPENTECOSTAL O pentecostalismo surge nos Estados Unidos e chega ao Brasil no início do século XX Caracterizase por celebrações fervorosas que buscam evidenciar de maneira externa visível a presença do Espírito Santo em cada crente Logo no início seus cultos traziam uma grande ênfase na glossolalia também conhecida como o dom de falar em línguas estranhas Tal prática era percebida como um sinal visível da presença de Deus Espírito Santo na vida das pessoas A ênfase nos dons do Espírito e na glossolalia remetiam esse movimento ao evento bíblico conhecido como o Dia de Pentecostes Assim ele passou a ser conhecido como pentecostalismo O Pentecostes era uma festa judaica que ocorria 50 dias após a festa da Páscoa celebrando as colheitas De acordo com o Novo Testamento nessa festa 50 dias depois da ressurreição de Jesus o Espírito Santo desceu sobre os discípulos em forma de línguas de fogo trazendo entre outras coisas o dom de anunciar a mensagem de Jesus em várias línguas Fonte Wikimedia Se espalhando por todo Brasil especialmente a partir do trabalho da Igreja Assembleia de Deus que teve origem no estado do Pará o pentecostalismo se diversificou grandemente atraindo inúmeros adeptos Essa diversificação deu origem ao movimento neopentecostal que mantendo a ênfase nos dons do Espírito Santo desenvolveu um discurso mais voltado para a cura Além disso as pregações de seus líderes apontam para a mudança no status socioeconômico de uma pessoa como uma evidenciação da presença de Deus em sua vida o que dá origem à chamada teologia da prosperidade A Igreja Universal do Reino de Deus se torna a grande representante desse movimento fortalecido por inúmeras outras denominações que acabaram surgindo como a Igreja Internacional da Graça de Deus Renascer em Cristo e Igreja Mundial do Poder de Deus É a partir daí que surgem figuras de reconhecimento nacional como Edir Macedo R R Soares e Valdemiro Santiago Foram os movimentos pentecostais e neopentecostais que provocaram profunda mudança no cenário religioso brasileiro A mesma é evidenciada entre outras coisas pelo censo de 2010 que pela primeira vez registrou uma queda no número absoluto de católicos no Brasil apontando que mais de 27 da população brasileira se identifica como pertencendo à tradição evangélica O ativismo desse grupo também pode ser percebido na política brasileira em seus diferentes níveis com especial atenção para o congresso nacional e a bancada evangélica a qual tem trazido para a pauta de Brasília demandas características dos evangélicos brasileiros No artigo O Pentecostalismo no Brasil uma reflexão sobre novas classificações a antropóloga Mariana Picolloto apresenta os frutos de um estudo etnográfico nos faz conhecer um pouco mais da evolução do pentecostalismo no Brasil Clique aqui para acessar o artigo CULTOS AFROBRASILEIROS Durantes os séculos XVI XVII e XVIII o mundo viveu a maior migração forçada de pessoas de sua história também conhecida como diáspora africana Apesar de os números não serem precisos acreditase que mais de 10 milhões de africanos das mais diversas tribos e nações foram capturados e trazidos para as américas A maior parte deles aportou no Brasil e aqui foram escravizados Obviamente essas pessoas trouxeram consigo sua identidade religiosa e cultural e no meio de inúmeras adversidades buscavam achar seu caminho em uma terra estranha e inóspita Como o catolicismo era a religião oficial do país os africanos aqui trazidos deveriam se adaptar à fé de seus senhores Mesmo que tenham ocorrido inúmeras conversões em grande parte as expressões cristãs dessas pessoas eram externalidades que buscavam satisfazer os olhares atentos dos europeus Número significativo de escravos e seus descendentes no entanto mantiveram várias características de suas culturas africanas Aqui entra outro elemento que precisa ser considerado a diversidade cultural africana As milhões de pessoas aqui trazidas provinham de diversos grupos na África com tradições religiosas distintas apesar de conectadas por elementos semelhantes como o animismo Assim ao compor sua vivência religiosa essas pessoas precisaram lidar com o catolicismo romano com o contato com povos indígenas e com a diversidade da própria culturaafricana Iemanjá considerada a Orixá mais popular em terras brasileiras para o povo Egba é a divindade da fertilidade associada a rios e desembocaduras No Novo Mundo através de um processo de assimilação de diferentes culturas promovido pela diáspora africana passou a ser associada também aos mares Está marcadamente presente em nossa cultura através da arte e de ritos que se espalham por todo o país Em grande parte representa o arquétipo materno dentro dos cultos afro Para os povos aqui trazidos sua religiosidade também se transformou em um elemento de resistência Foi através dela que eles puderam manter várias características de sua cultura não somente aquelas ligadas à sua espiritualidade mas também à suas línguas e culinária por exemplo Apesar de ter estado sempre presente na história do Brasil desde o início da escravização africana foi somente no séc XIX que as religiões afrobrasileiras começaram a se organizar Mesmo assim existe ainda grande diversidade religiosa dentro dos cultos afrobrasileiros No entanto podemos destacar duas principais vertentes o Candomblé e a Umbanda O primeiro tem suas raízes em quatro nações africanas Kêtu Fan Jejê e Angola que creem na pluralidade de divindades conhecidas como orixás Essas entidades são ligadas a elementos da natureza o que aponta para o animismo que marca essa manifestação religiosa Apesar dos orixás serem correlacionados a figuras católicas o que é uma consequência de processos sincréticos existe no Candomblé uma busca por suas raízes africanas Esta busca procura aproximálo cada vez mais de suas origens préescravatura Na Umbanda temos um sincretismo bem mais evidente unindo nessa manifestação elementos da cultura religiosa africana europeia e indígena bem como elementos do espiritismo kardecista Alguns o consideram como sendo uma religião genuinamente brasileira Uma das características que une esses grupos é a diversidade assim nem tudo que é observado em uma comunidade será necessariamente observado em outras ESPIRITISMO KARDECISTA O espiritismo kardecista teve origem na França no séc XIX com Leon Hippolyte Denizard Rivail mais conhecido como Allan Kardec Kardec seria na verdade um espírito iluminado que revelou através de Leon a doutrina espírita O espiritismo kardecista apresentase como um movimento científico filosófico e religioso que busca através da racionalidade evidenciar a existência de uma realidade que transcende a matéria Em suas afirmações mais essenciais faz uso de conceitos provindos de religiões diversas como reencarnação carma e caridade Afirma que nossa essência é espiritual e que através das inúmeras vidas que vivemos encarnações aperfeiçoamos o nosso espírito através das situações que vivenciamos carma em busca da plena caridade amor desprendido Nesse processo cíclico de evolução espiritual nossa alma enquanto faísca divina se aproxima cada vez mais da plena realidade transcendente Em nenhum lugar do mundo as ideias de Leon Rivail encontram solo tão fértil quanto no Brasil Acreditase que isso se deve em grande parte ao espírito sincrético que tem caracterizado a religiosidade brasileira ao longo da história conforme já afirmamos anteriormente SHEILAISMO SOBRE NOVAS FORMAS DE RELIGIOSIDADE Vivemos hoje no Brasil fenômenos que também estão presentes em todo o mundo ocidental A globalização tem trazido o diferente cada vez para mais perto de nós Se antes o hinduísmo era uma realidade distante muitas vezes resumido a um tópico curioso para conversas descompromissadas hoje recebo em minha casa um amigo indiano Ele por convicções religiosas entende que a vaca é um animal sagrado por apontar para a realidade maior que é Brahman Isso levanta para mim questões bem práticas como por exemplo o que vou oferecer para o jantar A aldeia global na qual vivemos demanda conversas sobre tolerância e diversidade religiosa Isso fortalece uma atitude pluralista na qual as diferentes manifestações religiosas são cada vez mais valorizadas pelo que elas são Ao mesmo tempo vivemos uma época de afirmação identitária Inseguros no meio de tanta diversidade e sentindose ameaçados no meios da liquidez que caracteriza a contemporaneidade muitos grupos vivem um processo de autoafirmação através do qual salientam suas características identitárias se distinguido de outros movimentos religiosos Somase a isso a ênfase contemporânea na autonomia de cada indivíduo a qual tende a enfraquecer figuras de autoridade externas inclusive religiosas e fortalecer perspectivas individuais de vida e mundo Tudo isso se alinha a uma ideologia de mercado que entende o capitalismo não apenas como a forma através da qual trocamos bens e serviços mas também como um conjunto de significados que estrutura a vida a partir da perspectiva do mercado Nesse cenário também as manifestações religiosas competem entre si buscando atrair a atenção e a fidelidade das pessoas Isso também tem contribuído para uma diversidade cada vez maior dos bens simbólicos e religiosos disponíveis no mercado brasileiro A Revista ISTOÉ publicou um artigo cujas pesquisas indicam o aumento da migração religiosa entre os brasileiros Clique aqui para acessar o artigo Tudo isso acaba facilitando o trânsito religioso onde as pessoas se movem de uma tradição religiosa para a outra com relativa liberdade de consciência buscando respostas para os mais diversos questionamentos e demandas pessoais Mais do que isso muitas pessoas acabam se sentindo confortáveis vivendo as experiências de distintas tradições religiosas ao mesmo tempo como que numa dupla cidadania da fé Assim se torna cada vez mais comum conhecermos católicos que fazem oferendas a orixás ou kardecistas que encontram em Lutero inspiração para sua evolução espiritual Todos esses elementos trabalhando juntos abrem espaço para formas individualizadas de religiosidade como é o caso de Sheila Larson Entrevistada em uma pesquisa sobre religiosidade ela afirmou Eu acredito em Deus Eu não sou uma fanática religiosa Não me lembro da última vez que fui à igreja Minha fé me tem acompanhado por um longo caminho Ela se chama sheilaismo Apenas minha própria voz4 De certa maneira esse conjunto de elementos da religiosidade brasileira caminham juntos com o grande paradigma religioso da atualidade o pluralismo de princípio Nele o reconhecimento do direito do outro de ser outro se torna um princípio moral A diversidade de vivências religiosas é tão grande quanto o número de indivíduos Como tudo na vida isso traz oportunidade e desafios para esta e as futuras gerações INFOGRÁFICO REFERÊNCIAS 1 Vocês têm Deus brasileiro também querem um Papa Portal G1 acessado em 12 out2019 2 Censo 2010 Portal do IBGE Acessado em 12 out2019 3 Robério Américo do Carmo Souza O Hibridismo na Construção da Religiosidade Repensando a Contribuição de Gilberto Freyre para o Debate Angelus Novus no 3 Julho 2012 291309 292 4 Robert N Bellah et al Habits of the Heart Individualism and Commitment in American Life Los Angeles University of California 2008 220 ANDRADE Maristela Oliveira de A Religiosidade Brasileira O Pluralismo Religioso a Diversidade de Crenças e o Processo Sincrético In CAOS Revista Eletrônica de Ciências Sociais 14 Setembro 2009 106118 BELLAH Robert N et al Habits of the Heart Individualism and Commitment in American Life Los Angeles University of California 2008 CARDOSO Fernando Henrique Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional São Paulo Paz e Terra 1991 DAVIS David Brion The Problem of Slavery in Western Culture NY Oxford 1988 KUCHENBECKER Valter coord O Homem e o Sagrado A Religiosidade Através dos Tempos Canoas ULBRA 2006 MARQUESE Rafael de Bivar Marquese A Dinâmica da Escravidão no Brasil Novos Estudos CEBRAP 74 2006 httpdxdoiorg101590S010133002006000100007 Acesso 20 jun2019 MATTOSO Kátia de Queirós Ser Escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1990 RIBEIRO Claudio de Oliveira Um Olhar sobre o Atual Cenário Religioso Brasileiro Possibilidades e Limites para o Pluralismo In Estudos da Religião no 2 Julho 2013 5371 SILVA Vagner Gonçalves da Religião e Identidade Cultural Negra Católicos Afrobrasileiros e Pentecostais In Cadernos de Campo 20 2011 295303 STEYER Walter O Os Imigrantes Alemães no Rio Grande do Sul e o Luteranismo Porto Alegre Singular 1999 WULFHORST Ingo Discernindo os Espíritos O Desafio do Espiritismo e da Religiosidade Afrobrasileira São Leopoldo Sinodal 1996 Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Ilustrações Marcelo Germano Rogério Lopes Revisão ortográfica Ane Arduin Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados REFLEXÕES SOBRE ÉTICA E MORAL Prof Mario Rafael Yudi Fukue NESTE CAPÍTULO VOCÊ VAI APRENDER A participar da reflexão a respeito dos valores humanos sociais éticos e espirituais A construir a partir de valores éticos e religiosos princípios norteadores de sustentabilidade e cidadania A mediar conflitos no campo da ética e religiosidade a partir dos princípios de respeito diálogo e tolerância A atuar eticamente frente a diferentes situações no campo pessoal social e profissional INTRODUÇÃO A humanidade é a única espécie ética no planeta pois somente o ser humano tem a capacidade de avaliar e julgar suas ações buscando saber se são boas ou más certas ou erradas justas ou injustas Cortella escreve Só é possível falar em ética quando falamos em seres humanos porque ética pressupõe a capacidade de decidir julgar avaliar com autonomia Portanto pressupõe liberdade Cortella Mario Sergio Qual é a tua obra Editora Vozes Edição do Kindle pos 1043 Na verdade se você prestar atenção está fazendo escolhas o tempo todo a vida inteira Você escolheu ler esse capítulo Você decidiu estudar o seu atual curso de graduação No Brasil você pode decidir com quem vai se relacionar casar onde trabalhar etc Nesse capítulo vamos compreender que todo ser humano possui um sistema de valores que o ajuda a tomar decisões Por exemplo você escolheu passar o Natal com seu família ao invés de viajar com os amigos pois na sua escala de valores a família está acima dos amigos Mas talvez sua melhor amiga prefira viajar com os amigos pois para ela pelo menos naquele momento os amigos são mais importantes do que a família Além das escolhas cotidianas o ser humano também enfrenta várias escolhas difíceis ao longo da vida São os angustiantes dilemas No mundo da chamada pósmodernidade o que se experimenta é o vazio e a incerteza Para a maioria das pessoas não existem mais valores fixos ou absolutos Vivemos uma época caracterizada pela pluralidade de valores de crenças de pensamentos fazendo com que indivíduos de uma mesma sociedade sejam orientados em suas decisões por princípios muito diferentes Essa convivência em meio a tantas visões diferentes nem sempre é amistosa ou fácil de ser obtida Se somarmos a isso o impacto tecnológico sobre nossas vidas percebemos que a crise ética é maior do que imaginamos Temos condições de fazer coisas que nossos antepassados nunca sonharam fazer A tecnologia aumentou em muito o alcance das decisões do ser humano mas também aumentou o dilema ético quando se busca refletir sobre as consequências e possíveis limites para essas incríveis potencialidades Programação genética manipulação de embriões desligar os aparelhos que mantêm viva uma pessoa numa UTI uso sustentável dos recursos naturais sem prejudicar a economia O que fazer ou não fazer ou fazer diferente Existe certo e errado Quem tem a palavra final É desse contexto plural que este capítulo procura tratar refletindo sobre alguns conceitos e teorias no campo da moral e da ética O capítulo irá propor também a ética cristã como o referencial ideal capaz de nortear a existência humana na tentativa de se atingir o grande objetivo da ética a busca do bem comum ÉTICA E MORAL As palavras ética e moral embora usadas muitas vezes como sinônimos possuem significados distintos Apesar de não haver consenso sobre a exata diferença entre os dois conceitos para fins de aprendizagem podemos estabelecer a seguinte conceituação A ética trata dos princípios e valores que orientam a conduta de uma pessoa A moral é a prática dessa conduta ética A ética trata dos princípios e a moral da prática baseada nesses princípios Por exemplo você pode ter um princípio ético de preservar a vida humana E no diaadia você aplica esse princípio na prática moral ao ajudar uma pessoa em necessidade No text to extract Os latinos tinham uma expressão para eu que era ego E usavam duas para falar de não eu uma é alter que significa o outro mas usavam também alius para indicar o estranho Palavras em português que vêm de alius alienado alheio alien alienígena Nos filmes de faroeste mais antigos o nome que se dava para quem não era daquele lugar era forasteiro estrangeiro Aliás em inglês se usa isso até hoje stranger ou foreigner Aquele que não é daqui aquele que não é como nós aquele que é talvez menos Visão de alteridade é a capacidade de ver o outro como outro e não como estranho Há pessoas que só conseguem olhar o outro como estranho e não como outro Cortella 2002 kindle pos 1172 O objetivo do estudo da ética é ver o outro como um outro igual a nós não como um estranho Em suma uma questão que tentamos responder quando estudamos ética é Quais são os princípios que determinam as minhas ações e as ações do outro Em outras palavras Como você toma decisões Por que tomamos decisões diferentes Basicamente três fatores são determinantes para a formação ética de uma pessoa Valores Consciência e Responsabilidade VALORES O ser humano toma decisões com base em sua escala de valores Por exemplo o presidente de um país escolhe enviar seus soldados à guerra pois na escala de valores dele defender a pátria está acima do não arriscar a vida dos soldados Outro exemplo é o pastor Bonhoeffer que transgride leis para ajudar judeus a escaparem da Alemanha nazista pois na escala de valores dele ajudar o próximo estava acima de obedecer às leis do governo A escala de valores também é usada em decisões cotidianas mesmo que de forma automática ou inconsciente Por exemplo você escolheu ler este capítulo porque nesse momento estudar ética é mais importante do que assistir Netflix Parece simples né No entanto problemas acontecem quando a escala de valores de uns contrariam as escalas de outros A discussão dos princípios ou valores que orientam nossas escolhas morais acaba assim se tornando uma discussão também dos limites de nossas ações enquanto indivíduos e como grupo ou sociedade A ética se propõe a buscar por meio do diálogo a identificação desses limites para que as atitudes ou escolhas individuais não oprimam o bem comum e também para que o contrário não aconteça ou seja as atitudes ou escolhas coletivas ou da sociedade não oprimam o indivíduo Há também um problema individual que acontece quando você contraria o seu sistema de valores Mas isso é um assunto extra que você poderá ver no final desse conteúdo CONSCIÊNCIA A consciência desempenha um papel importante no sentido de coibir ou incentivar a tomada de determinada decisão a partir de algum valor Consciência é a capacidade que temos de reagir ao certo ou ao errado a partir daqueles que são os nossos valores mais importantes Um ditado popular bastante conhecido diz que podemos fugir de tudo menos de nossa consciência Podemos perguntar então de onde vem a consciência Há pelo menos três respostas a essa questão uma que afirma que o ser humano já nasce tendo consciência outra que diz ser ela imposta pelo ambiente externo ou seja o ser humano e consequentemente sua consciência é moldado ao longo do tempo pelas condições culturais externas uma última ainda considera que o ser humano já nasce com consciência mas ela também recebe informações e influência externas sofrendo modificações ao longo do tempo De qualquer forma a consciência sempre será uma instância psíquica interna e singular a cada indivíduo mesmo que possamos também admitir a existência de uma consciência social ou coletiva Elas não são excludentes mas interagem entre si RESPONSABILIDADE Na escolha ética e na prática moral temos a responsabilidade de ver o outro como um outro igual a nós não como um estranho Somos responsáveis pelas nossas escolhas por isso precisamos analisar e considerar as consequências benéficas ou maléficas de nossas decisões e atitudes Muitas vezes nossa tendência é cobrar responsabilidade dos outros ao mesmo tempo em que nos esquivamos de próprias responsabilidades É comum também pessoas transferirem a culpa de algo para outros Por exemplo alguns justificam a sonegação de impostos apontando para a corrupção que há no governo Se eles roubam milhões eu também posso sonegar uns milhares dizem É a filosofia do todo mundo faz Mas nossas mães acredito já apontaram a falácia desse pensamento ao dizerem você não é todo mundo Pare de culpar os outros pelos seus erros O perigo que corremos é o da diluição da responsabilidade em que nem o indivíduo e nem a sociedade assumem a responsabilidade pelo que está acontecendo Quando isso acontece as pessoas buscam seus próprios interesses sem considerar os outros ÉTICA RELIGIOSA Vimos que a forma como organizamos nossa escala de valores ajuda a determinar nossas escolhas Mas como uma pessoa constrói sua escala de valores Basicamente nossos valores são provenientes de nossa família amigos cultura e religião Por essa razão é importante também estudar a ética religiosa cujos princípios não partem de reflexões filosóficas mas têm como fundamento as doutrinas principais de uma determinada religião Como qualquer reflexão ética seu ponto de partida é a liberdade do ser humano em fazer ou não fazer algo Mas em geral a ética religiosa entende essa liberdade como algo limitado não apenas pelo chamado bem comum mas por um comprometimento com a vontade ou orientação revelada pelas divindades veneradas pela religião Outra característica comum na ética religiosa é a crença de que as consequências da conduta moral da pessoa não se limitam a essa vida ou situação presente mas podem ter implicações maiores que vão além da vida terrena É interessante perceber que a maior parte das religiões tem o amor ao próximo como atitude desejável em seus sistemas de valores Veja o vídeo A Regra de Ouro nas Tradições Religiosas Intolerância fundamentalismo e radicalismo são totalmente contrários à regra de ouro Um fiel pode discordar dos ensinos doutrinários de outro grupo religioso mas isso jamais deveria leválo às atitudes de ódio ÉTICA CRISTÃ Jesus amplia a regra de ouro e ensina também o amor aos inimigos algo possível somente a partir do próprio amor de Deus em nós Conforme escreve João Nós amamos porque Deus nos amou primeiro Veja o vídeo Jesus ensina a amar os inimigos A chave para se compreender a ética cristã é o próprio amor de Deus que se revela nos seguintes pontos a dança da Criação queda em pecado e a redenção da humanidade DANÇA DA CRIAÇÃO Na teologia cristã a Trindade mutuamente se relaciona em amor mesmo antes da Criação do mundo Como fruto desse amor trinitário e divino o Deus Triúno cria o Universo e o ser humano Isso significa que teologicamente falando o ser humano foi criado para se relacionar com Deus e uns com os outros Em outras palavras estamos no mundo para amar e ser amado QUEDA EM PECADO HUMANIDADE DECIDE DANÇAR SOZINHA Numa humanidade perfeita não haveria dilemas éticos pois a humanidade seria totalmente pautada pelo amor a Deus e ao próximo No entanto conforme a teologia cristã a humanidade se rebelou contra Deus voltandose a si mesma a seus próprios interesses Nesse momento o ser humano passa a olhar o próximo não como um outro mas como um estranho O pecado original de Michelangelo Fonte Wikimedia A incapacidade humana de se relacionar em amor perfeito com Deus e com o próximo revela nossa imperfeição e fracassos mostrando que todos nós seres humanos fomos afetados pela queda em pecado Para a fé cristã apesar da queda em pecado a consciência humana continua minimamente conectada com a lei natural escrita por Deus no coração do ser humano desde a concepção Nesse sentido todo ser humano já nasce com a capacidade de identificar se certas atitudes são corretas ou não tornando o ser humano responsável diante de Deus por seus atos REDENÇÃO EM CRISTO Se por um lado a perspectiva ética cristã tem como um de seus princípios o fracasso humano em viver e agir de maneira correta de acordo com o plano original de Deus por outro lado a ética cristã também tem como princípio a fé na restauração ainda que incompleta aqui neste mundo dessa capacidade de tentar viver de acordo com o plano do Criador de se buscar um comportamento que reflita o amor a Deus aos outros seres humanos e a toda a criação Fonte Pxhere E essa restauração não é resultado de nenhum esforço ou exercício ético humano mas é uma iniciativa e ação do próprio Criador A fé cristã aponta para Cristo como redentor da humanidade Conforme o apóstolo Paulo ensina Jesus o Filho de Deus esvaziase e assume a forma humana para morrer na cruz em lugar de toda a humanidade Por meio da morte de Jesus o ser humano é reintegrado à dança da Trindade FÉ ATIVA NO AMOR Assim a partir de amor de Deus revelado em Cristo o ser humano apesar de continuar imperfeito é capacitado a amar a Deus e a amar ao próximo assumindo atitudes éticas pautadas no amor Essas atitudes são descritas nos Dez Mandamentos como orientações para a vida humana movida pelo amor a Deus Os primeiros três mandamentos tratam da relação entre indivíduo e Deus Os demais mandamentos refletem sobre a relação entre os seres humanos Vamos ao texto dos mandamentos OS 10 MANDAMENTOS I Eu sou o Senhor teu Deus Não terás outros deuses diante de mim Na fé cristã a confiança em Deus acima de tudo é a motivação para seguir os demais mandamentos II Não tomarás o nome do Senhor teu Deus porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu nome em vão Neste mandamento Deus proíbe o uso de seu nome para amaldiçoar jurar praticar mentira mentir ou enganar Mas ao contrário podemos invocálo em todas as necessidades além de orar louvar e agradecer III Santificarás o dia de descanso Nestes mandamentos somos convidados à não desprezar a pregação e a palavra de Deus na consideração santa exaltar e ouvir e de estudola Depois de tratar da relação entre indivíduo e Deus os Mandamentos seguintes lidam com o relacionamento entre os seres humanos em geral IV Honrarás a teu pai e a tua mãe para que te vás bem e vives muito tempo sobre a terra Significa não desprezar nem iritar pais e superiores mas honrálos ajudar e melhorar e conservar seus bens e seu meio de vida V Não matarás Significa não causar dano ou mal algum ao corpo do próximo mas ajudálo em todas as necessidades corporais A ética cristã estabelece que todo ser humano deve ser respeitado como pessoa amada por Deus e que todo pessoa amiga ou inimiga é nosso próximo Amálo provisoriamente o cuidado com ele Isto significa não apenas proteger os inocentes mas agir de modo efetivo a fim de tentar garantir o bemestar de todos VI Não cometerás adultério Significa viver uma vida castamente e decente em palavras e ações amando e honrando aquelaa quem você resolveu unir sua vida VII Não furtarás Significa não tomar do próximo o seu dinheiro ou bens nem se apoderar deles por meio de mercadorias falsasdeliciosas ou negócios fraudulentos mas ajudálo a melhorar e conservar seus bens e seu modo de vida Espiritualidade do próximo também significa apenas zelar pela sua felicidade mas também ser seu bemestar afetivo emocional material incluindo as necessidades básicas do ser humano VIII Não dirás falso testemunho contra o teu próximo Não podemos mentir nem trair caluniar ou difamar o próximo mas falar bem dele e interpretar tudo da melhor maneira IX e X Não cobiçarás Significa que não devemos adquirir com astúcia a herança ou a casa do próximo nem se apoderar dela sob a aparência de direito mas ajudálo e servir para que possa conservar suas propriedades Também significa atuar apartar desviar a atenção de algo que faz parte da vida do próximo ou lhe pertença mas auxiliar para que os ele mantenha ÉTICA CRISTÃ APLICADA Os cristãos estão cientes de que hoje grande parte da população senão a maioria dentro de suas liberdades individuais não faz parte do cristianismo Ainda assim os cristãos entendem que seus princípios éticos baseados no amor a Deus e ao próximo podem contribuir na busca do chamado bem comum A seguir apresentamos alguns apontamentos que de forma resumida procuram na discussão de alguns temas importantes apontar a ação desejada pela ética cristã RESPONSABILIDADE SOCIAL A ética cristã prescreve que por amor a pessoa cristã procura exercer sua responsabilidade em quatro esferas 1 para com sua própria vida cuidando de sua própria saúde física e mental grato a Deus pelo dom da vida que recebeu 2 na família provendo o necessário para o bemestar de todos os seus familiares tendo por base o cuidado a compreensão o perdão a confiança e o respeito na maneira de se relacionar com o cônjuge com os filhos e todos os demais integrantes da família 3 no seu trabalho vivendo de maneira honesta e buscando por meio de sua profissão ou atividade promover não apenas o seu sustento mas o bem do próximo também 4 na sociedade buscando contribuir de todas as formas para que seres humanos amados por Deus em primeiro lugar mas desprovidos de recursos para uma vida minimamente digna possam ser atendidos em suas necessidades básicas A sacralidade da vida Vimos anteriormente que conforme a fé cristã Deus Triúno criou o ser humano para participar do relacionamento de amor com a Trindade Nessa dança da Trindade o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus Sendo assim a dignidade da pessoa humana está intrinsecamente ligada à imagem de Deus Isso significa que que nenhum ser humano pode ser tratado como coisa não pode ser objetificado Ninguém deveria usar um ser humano como um meio para conseguir atingir um objetivo pois seres humanos possuem valores e fins em si mesmos A ética cristã propõe sermos corresponsáveis uns pelos outros sejam eles quem quer que sejam não importando seu estágio de desenvolvimento suas capacidades ou utilidades seu potencial ou qualquer outro critério que não seja a de que a vida humana seja enxergada na perspectiva de que ela pertence em primeiro lugar a Deus que a nós concede a dádiva de vivêla Clicando nos links abaixo você pode ver como a ética cristã lida com os seguintes assuntos BIOÉTICA ABORTO EUTANÁSIA PENA DE MORTE SUSTENTABILIDADE INFOGRÁFICO TEORIAS ÉTICAS BÁSICAS CONSEQUENCIALISMO Ações são certas por causa de suas consequências ie os meios justificam os fins UTILITARISMO Ações são certas para alcançar o maior bem em maior quantidade Jeremy Bentham 17481832 John Stuart Mill 18061873 Peter Singer 1946 TELEOLOGIA Ações são certas em razão de alcançarem o propósito do agente NATURALISMO Ações são certas conforme se alinharem com a ordem natural do mundo Aristóteles 380322 AC DEONTOLOGIA Ações são certas nelas e por elas mesmas TEORIA DO COMANDO DIVINO Ações são certas se Deus as ordena Immanuel Kant 17241804 ÉTICA DAS AÇÕES Pensando sobre o fazer vs ÉTICAS DO AGENTE Pensando sobre o ser EMOTIVISMO Viver corretamente é uma expressão de emoção mais do que a razão Charles Stevenson 19081979 EMOTIVISMO POSITIVO INTUICIONISMO Viver corretamente é instintivo ie moralidade é universalmente acessível WDRoss 18771971 VIRTUDE Viver corretamente é derivado do caráter moral do agente Aristóteles 384322 AC ESTOICISMO GEM Anscombe 19132001 Alasdair MacIntyre 1929 Stanley Hauerwas 1940 REFERÊNCIAS CORTELLA Mário Sérgio Qual é tua obra São Paulo Vozes 2015 FORELL George Ética da decisão São Leopoldo Sinodal 1988 MEILAENDER Gilbert Bioética um guia para os cristãos São Paulo Vida Nova 1997 NEDEL José Ética aplicada pontos e contrapontos São Leopoldo Ed UNISINOS 2004 GOLDIM José Roberto Org Bioética Espiritualidade Porto Alegre EDIPUCRS 2007 WARTH Martim Carlos A ética de cada dia Canoas Ed ULBRA 2002 WESTPHAL Euler Carlos Bioética São Leopoldo Sinodal 2006 VALLS Álvaro LM O que é ética 2 ed São Paulo Brasiliense 1987 CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica Claudiane Ramos Furtado Design Luiz Specht Diagramação Marcelo Ferreira Lucas Dias Luiz Ilustrações Rogério Lopes Revisão ortográfica Ane Arduin Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais NATE ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados